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História Incógnito VKook - Taekook - Uma besteira


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores-amores! Me perdoem pela demora, por favor! Acabei de apertar "enviar capítulo" e a porcaria da internet caiu, então estou tendo que reescrever as notas iniciais/finais.
Bom, trancos e barrancos à parte, finalmente estou atualizando. Espero que o horário não atrapalhe a noite de sono de ninguém. Eu ia deixar pra amanhã, mas ando meio jururu e sei que os comentários de vocês vão me animar <3 Estou com saudades!
Dê play na playlist de Incógnito (link nas notas finais) ou coloque aí uma música bem soft e fluffy de sua preferência :)
Sem mais delongas,

Boa leitura!

Capítulo 22 - Uma besteira


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Uma besteira

Uma besteira.

Podia não ser nada mais que isso. Ainda assim, se era necessária ou não, Jeongguk teria que descobrir por conta própria.

A pequena pulga atrás da orelha se tornou incômoda demais para que simplesmente ficasse parado sem tomar uma atitude. Cenas confusas do passado começaram a povoar a mente ansiosa, e mais perguntas surgiram, sem resposta. Se aquilo era mesmo verdade, se o autor do diário realmente nutrisse daquele sentimento ainda antes do ponto de ônibus e da biblioteca, antes que Jeongguk tivesse se deparado com o caderno de couro no chão sob a garoa, se ele realmente, desde o início, sabia… Bem, isso mudava tudo.

Mudava tudo e explicava muito. Os sorrisos tímidos e inseguros de quando começaram aquela amizade inesperada, as expressões misteriosas de dúvida, a resistência dele sempre que sugeria carregá-lo nas costas, o motivo por nunca ter se afastado quando – de forma irresponsável e impulsiva – Jeongguk alcançava suas mãos e as cobria com as próprias, entrelaçando e embolando os dedos nos dele.

E as frases que ele soltava, às vezes, aleatórias.

“Acho que ainda não tinha tanta certeza sobre você”

“Não pensei que você pudesse gostar desse tipo de coisa”

Lembrava-se claramente da voz de Taehyung, entoando suas pré-concepções a respeito de si. Caso o palpite de Jimin estivesse mesmo certo, então essas frases ganhavam um sentido inteiramente novo. A pulga atrás da orelha incomodava demais, e Jeongguk decidiu que não dava pra conviver com essa dúvida.

Tinha que saber.

Se era besteira, mito, imaginação fértil ou ilusão e paranóia – tinha que saber. Nem que fosse para o bem da própria saúde! Mal conseguia comer, já não dormia direto há três noites, e a falta de sono definitivamente contribuiu para que ficasse ainda mais inconsequente que o habitual. Jeongguk tinha se tornado um neurótico, analisando os pontos e vírgulas do incógnito, cada sorriso sincero ou não, cada movimento inconsciente das sobrancelhas espessas e castanhas. Por fim de nada adiantava e Taehyung apenas continuava mais e mais incógnito do que antes. Agora, essa pulga. Essa maldita pulga. Por mais que os vestígios da pouca lógica que lhe restava insistissem para que colocasse a cabeça no lugar e bolasse um plano – gritavam para que tentasse dormir e esfriar a cabeça antes de fazer uma besteira irreversível, imploravam para que planejasse cada passo até provar essa suposição tentadora – a parte ilógica e impulsiva tomou todo poder sobre o corpo e mandou a lógica à merda.

Taehyung gosta de mim, era só o que pensava.

Como seria possível pensar em qualquer outra coisa?

- Taehyung gosta de mim. – Finalmente disse em voz alta, deixando cada sílaba penetrar nos poros, acordando a mente insana e o corpo inerte para aquela revelação esperançosa e libertadora.

- Bom, eu acho que sim… – Jimin interferiu, completamente alheio ao momento de epifania do melhor amigo, como se estivesse ponderando sobre algo banal. – Mas e aí, o que você vai fazer, hein? Você tá com cara de quem acabou de ganhar na loteria... Se um zumbi ganhasse na loteria.

Jeongguk ainda sentia os músculos das bochechas doendo de tanto sorrir, e encarou a careta do melhor amigo. Ele estava certo. Sim, era um zumbi. Não dormia há dias. E, sim, havia ganho na loteria.

Só precisava ir buscar seu prêmio.

- Eu tenho que ir. – Levantou-se de súbito, mais acordado do que jamais esteve, e alcançou a mochila verde militar, jogando-a nas costas.

- Guk, você está me assustando. Onde é que você vai? – Jimin hesitou por um segundo, tempo suficiente para que arregalasse os olhos pequenos, as sobrancelhas arqueadas numa expressão de surpresa e medo. – Pra casa, né?

As palavras soaram como uma súplica.

- Não. – Respondeu, sincero, o sorriso insistente ainda largo no rosto. – Não vou pra casa.

- Oh, merda. – Xingou baixinho.

- A gente se vê amanhã, hyung! Obrigado.

Ao cruzar a porta ainda pôde ouvir a voz fina de Jimin lhe gritando um último conselho.

- Espero que você saiba o que está fazendo!

Mas Jeongguk não fazia ideia.

~x~

Não conseguia manter-se parado no lugar, e os pés bateram feito doidos, ressoando contra o piso do ônibus num barulho inquietante. Tentou respirar fundo, recuperar o fôlego, mas parecia impossível. O que diabos estava prestes a fazer? Ia de encontro a todos os maiores medos, contidos naquela conhecida casa amarela, e não tinha nenhum plano na manga. Também, a cabeça estava cansada e atordoada, incapaz de traçar os movimentos ou bolar alguma justificativa lógica para ir até lá. Aquela possibilidade tentadora tinha o afastado tanto da realidade que Jeongguk não tinha nem avisado sua mãe que voltaria mais tarde para casa.

Céus, nem ao menos sabia que horas eram!

Puxou o celular do bolso e apertou os olhos fechados com força ao dar de cara com a tela apagada. Merda, tinha ficado tão desnorteado que não se lembrara de ligar o aparelho depois de seu desentendimento com Jimin no intervalo. Durante as últimas aulas não quis mais saber de Taehyung, estressado e confuso, corpo e mente clamando por descanso. Aquele incidente do fim de semana, que tanto o fez sentir raiva de si mesmo e da própria obscenidade, parecia ter evaporado de vez agora, insignificante se comparado à revelação aterradora de que sim, existia uma possibilidade, viva e palpável, de que o garoto incógnito pudesse gostar de si. Gostar mesmo, não só como amigo, mas da mesma forma que Jeongguk gostava dele.

E tinha ignorado suas mensagens. As mensagens que Taehyung fizera questão de mencionar mais cedo no ponto de ônibus, com aquela expressão dura, os olhos nublados, num rosto enigmático que nunca havia visto. E a voz firme, séria.

“Você não visualizou minhas mensagens hoje.”

Sentiu que podia ter um acesso de desespero enquanto aguardava o celular ligar e amaldiçoou a própria burrice por ter se esquecido daquele detalhe tão importante. Devia ter algo ali, no aparelho que esteve ao alcance das mãos o tempo todo, algo que podia mudar seus planos e fazer com que desse meia volta e fosse para casa.

Ou algo para incentivá-lo a ir em frente naquela ideia irresponsável de confrontar Taehyung.

Decidido, o polegar foi até a conversa com o garoto incógnito. Catorze mensagens. Prendeu o ar sem querer ao iniciar sua leitura.

Taehyung hyung:

(12:10) Você não vem, né?

(12:10) Imaginei...

(12:52) Jeongguk, você está distante

(12:52) Desde sábado

(12:55) Primeiro achei que estava cansado mesmo e precisava ver seus amigos

(12:55) Mas aí você foi estranho por mensagens e depois sumiu de novo...

(13:08) Deu pra entender que você tá me evitando…

(13:08) E eu não tô bravo, sério

(13:08) Nem surpreso

(13:10) Acho até que demorou demais pra acontecer

(13:36) Mas queria dizer que se você quiser conversar sobre alguma coisa

(13:36) Qualquer coisa

(13:36) Tudo bem...

(15:11) E se não quiser, tudo bem também

O coração pulsava transtornado na garganta e Jeongguk precisou respirar fundo para conter a ânsia de vômito. Pelas mensagens, concluiu que tinha deixado bem clara a forma como vinha evitando Taehyung, desde sábado, e era óbvio que ele tinha ficado chateado. Isso explicava o olhar melancólico e a conversa desconfortável no ponto de ônibus, como a companhia de Jeongguk não havia sido natural e agradável mas, pelo contrário, um incômodo.

Julgou-se um imbecil por ter feito com que ele se sentisse assim, largado de canto, e as mensagens apenas confirmaram o destino que suas pernas frouxas deviam seguir. Precisava logo falar com ele de uma vez e esclarecer aqueles mal entendidos. Não estava evitando Taehyung por querer ficar longe dele. Era o extremo oposto.

Estava o evitando porque queria ficar perto. Perto até demais, bem mais do que sua lógica ingênua poderia compreender e aceitar.

Leu as mensagens uma, duas, três vezes, com a ânsia de desvendar suas entrelinhas e carregado por sua paranóia em interpretar pontos e vírgulas. De todas, detestou mais a frase “Acho até que demorou demais pra acontecer”, que só serviu para dar a Jeongguk a certeza de que ele não tinha entendido coisa nenhuma! Mesmo depois de ter confidenciado seus aborrecimentos com o alma ruim, ele continuava com aquela pré-concepção errônea de que Jeongguk iria eventualmente se afastar, de que não se importava de verdade. Chegava a dar raiva. Tudo o que queria era o bem de Taehyung, cuidar dele, mas o garoto parecia não conseguir aceitar essa verdade tão crua e simples.

Ia ter que falar pra ele, com todas as letras. Já que demonstrar por ações não parecia ser o suficiente.

Todas as mensagens tinham sido enviadas antes do encontro desconcertante no ponto de ônibus, menos a última. Sentiu o estômago embrulhar. A última mensagem soou como um suspiro desistente, como se Taehyung estivesse conformado que aquele era o fim.

Mas, para Jeongguk, ainda nem tinha começado.

Saltou do ônibus, ansioso, ávido, indomável. Estava decidido e não via outra solução. A impulsividade, aquele traço tão claro de sua personalidade, se uniu à falta de sono, ao estresse e cegou Jeongguk para qualquer outra alternativa que não fosse encarar seus medos e confessar seus desejos. E tinha que ser agora.

Sentiu que não andava, mas nadava. Como se águas invisíveis o impedissem de finalmente chegar ao destino almejado, e foi obrigado a manter o ar preso nos pulmões ou iria se afogar. Decerto, se afogaria. A força despendida para nadar até ele era grande e pensou que não poderia suportar muito mais. Estava demorando a chegar.

Apertou o passo ao vislumbrar a casa amarela, e foi quase como se pudesse sentir a presença cada vez mais próxima: sua lufada de oxigênio. Sem vacilar, alcançou o portão branco, aberto, e se aproximou da porta de madeira, e tocou a campainha, e abriram a porta.

Era Hani.

A menina olhou-o dos pés a cabeça, desconfiada. Ergueu uma das sobrancelhas castanhas numa expressão inquisidora.

- Você correu uma maratona?

Jeongguk tentou controlar a respiração pesada e parar de ofegar, mas era impossível.

Só me deixe entrar.

- Seu irmão está aí?

Então, por um milagre ou piedade dos deuses, Hani exibiu um sorriso.

- No terraço. – Disse, e abriu espaço para que entrasse em casa, no que Jeongguk suspirou aliviado e o fez prontamente, com um sorriso agradecido e frouxo.

- Obrigado, Hani.

Mas a expressão indiferente já tinha retornado ao seu rosto de boneca, e ela deu de ombros, fechando a porta e jogando-se no sofá da sala sem nem mais uma palavra.

Sem tempo a perder cogitando as reações esquisitas da menina, Jeongguk tirou os tênis brancos na porta de entrada e os deixou ao lado dos conhecidos all stars pretos que descansavam num canto.

Apesar de tímido e angustiado, subiu cada degrau com determinação. Cada degrau era um passo para mais perto do garoto que tanto atormentava seus pensamentos, que provocava as inquietantes borboletas, e nem fazia ideia de sua visita repentina. Mesmo que o esforço físico fosse mínimo, a falta de ar era maior do que jamais sentira antes, ainda afogado pelas águas turvas, e ofegou, a respiração alta e pesada, o coração retumbando como bumbo numa música descoordenada. Degrau após degrau, apesar das pernas trêmulas darem sinal de desistência, apesar do cansaço implorar aos músculos que parasse. Não podia parar.

Enfim, o topo. Atravessou o corredor até o final, sem olhar para os lados, e alcançou a porta de correr que dava acesso ao terraço. O frio doía nos ossos, o paletó do uniforme escolar era inútil contra a brisa gélida, mas Jeongguk agradeceu sinceramente pelas mil agulhas de gelo que penetraram seu rosto, aliviando o fogo nas bochechas e refrescando o suor de sua testa molhada. Por dentro, pegava fogo. O céu nublado já dava sinais de querer escurecer, o sol escondido por um mar de nuvens cinzentas. Fechou a porta atrás de si e tremeu ao olhar para o lado, o tablado de madeira onde haviam observado as estrelas, deitados lado a lado, de mãos dadas, e Taehyung. Sentado de pernas cruzadas, os ombros cobertos com uma manta vermelha e grandes fones de ouvido protegendo as orelhas do frio.

Ele não o viu. Estava com os olhos perdidos para além do muro de cimento, através do horizonte, nas mil casinhas pequeninas que se espalhavam pela paisagem nublada. Jeongguk precisou parar por um segundo e se manteve no lugar, tremendo de frio, os olhos escuros vidrados na figura fascinante de Kim Taehyung, imóvel como uma obra de arte.

Inspirou fundo. Os pés saíram do lugar, direcionando o corpo gelado, passo a passo, os últimos metros de asfixia até que finalmente encontrasse seu destino.

O cabelo dele estava gelado e macio. Jeongguk não conseguiu conter a vontade de tocá-lo, e embrenhou os dedos sem aviso prévio, no que Taehyung virou o pescoço de súbito, cravando-lhe o olhar arregalado, brilhante, confuso. Não eram nada como os olhos opacos de mais cedo. Agora, flamejavam em tons quentes de castanho e laranja, como olhos de raposa, atentos, e Jeongguk sentiu o peito ferver em chamas. Ele nem piscava, analisando-o com tal minúcia, como se pudesse ver através de si, ler sua mente, e cada nervo do corpo vibrou, consumido por aquele olhar transgressor.

E Taehyung foi, mais do que nunca, incógnito.

- Jeongguk.

Engoliu em seco ao ouvir a voz grave. Observou Taehyung desviar os olhos para tirar os fones dos ouvidos e aproveitou a oportunidade longe de sua mira. Sentou-se junto dele sobre o tablado, temendo ficar imóvel de novo, com medo de ser aprisionado em suas galáxias.

- Hyung, eu preciso te falar uma coisa. – Cuspiu de uma vez, antes que pudesse mudar de ideia. Encolheu-se de frio, o paletó do uniforme completamente inútil contra a temperatura baixa demais. – É importante.

Taehyung o analisou de novo, as sobrancelhas franzidas numa expressão que Jeongguk não pôde decifrar.

- Você quer que eu pegue um casaco?

- Não, não precisa.

Não tinha tempo. Sentia como se cada segundo contasse, como se tivesse passado a vida inteira se preparando para aquele momento. O coração batia tão conturbado que Jeongguk pensou que não ia aguentar nem mais um minuto daquilo. O pássaro azul deixou sua gaiola, se libertou de sua prisão no peito e agora não tinha mais como voltar atrás. Precisava voar.

Notou o olhar preocupado dele sobre si, e pensou que sua tensão e ansiedade deviam estar extremamente óbvias. Taehyung se virou, ficando face a face, denunciando a minúscula pintinha no lábio inferior, aquela que sempre fazia Jeongguk estremecer. Ele se moveu mais para perto, ainda de pernas cruzadas, e ambos seus joelhos se encostaram, provocando um frio na barriga tão intenso que chegou a doer. Então, esticou o cobertor dos ombros magros até que alcançasse os seus, dando uma volta completa ao redor dos dois, abraçando-os naquela manta vermelha, em sua bolha aquecida, e Jeongguk pensou que o mundo fora daquele cobertor podia desaparecer e estaria tudo bem.

- Não quero que você fique doente por minha causa outra vez. – Taehyung justificou, cruzando os braços e os comprimindo contra o peito, como se formasse uma barreira entre a pouca distância que os separava.

- Não foi culpa sua, eu peguei chuva porque quis. Fiz de propósito.

- Você queria ficar doente?

- Não… Eu queria me molhar.

Ficaram em silêncio. Jeongguk queria falar, mas as palavras permaneceram engasgadas. O ar parecia tão denso que ardia ao entrar nos pulmões e Taehyung desviou os olhos para os próprios pés, cobertos com meias brancas.

- Você leu minhas mensagens?

- Li.

- Hm… – Ele afirmou com um aceno de cabeça, a expressão ilegível, e Jeongguk temeu estar fazendo uma grande burrada irreversível, mas não via outra saída. – Você quer conversar?

Não.

Quero me confessar.

- Aham. – Suspirou, falho, e a ânsia que vinha nutrindo até ali perdeu-se na visão assustadora e mágica de Taehyung, dos seus olhos cintilantes, demandando respostas.

- Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou, as sobrancelhas franzidas.

Sim, hyung. Aconteceram um milhão de coisas.

Não foi capaz de responder e apenas confirmou com a cabeça, engolindo em seco, a mandíbula travada com força.

Fale, Jeongguk. Abra a boca.

Se declare.

Taehyung continuou em silêncio, como se esperasse pela explicação. Jeongguk não fazia ideia do que responder, de como explicar aquele turbilhão de sentimentos novos sem soar completamente idiota por ele. Eu gosto de você, era tudo o que sua mente débil conseguia formular, e se manteve calado, esticando aquele silêncio doloroso por tempo demais, apesar de estar impaciente.

Então, uma luz lhe surgiu na cabeça, atestando o óbvio: não ia ter que explicar nada.

Taehyung já sabe.

- Você sabe o que aconteceu. – Murmurou, hesitante, os olhos presos nas próprias mãos, temendo a reação que ele teria. – Você sabe, não sabe?

Ele não disse nada. Droga, por que estava tão calado? Só fazia aumentar aquela aflição louca, as pontadas na boca do estômago. Queria que ele acabasse logo com aquilo.

Espiou por entre a franja negra e o viu com as sobrancelhas arqueadas, os olhos baixos focados nas meias brancas. Ele sabia, sim.

- É por isso que está me evitando? – Finalmente disse, bem baixinho.

- É, hyung. – Confirmou num só fôlego, reunindo toda a coragem dentro de si. Só queria que passasse. A tensão estranha no ar, os silêncios desconfortáveis, o barulho incessante do coração afoito pulsando nos ouvidos, o deixando inquieto. Precisava dizer logo. – Pra não correr o risco de fazer uma besteira.

- Ah. Sei… Hm, eu entendo. – Disse, e Jeongguk achou que sua voz soou falha. Levantou o olhar até ele e encarou sua expressão melancólica, mordendo as bochechas por dentro da boca.  – Então você veio aqui porque-

- Quero descobrir se é mesmo besteira.

Tremeu ao vê-lo levantar a cabeça de súbito, lábios entreabertos e olhos questionadores, numa pergunta muda. Como podia ser tão bonito, assim, até mesmo quando o medo e a dúvida lhe transbordavam pelos olhos? Jeongguk viu nele mais do que apenas receio ou curiosidade, mas a legítima prova que precisava, de que ele se sentia do mesmo jeito. Podia sentir a ansiedade em sua respiração entrecortada inundando o pequeno casulo da manta vermelha, e foi atraído por aquela aura feito ímã, se aproximando sem ao menos perceber, atordoado pelo cheiro adocicado da pele dele, cada milímetro mais perto, mais inebriante.

Sorriu frouxo ao ver Taehyung fechar os olhos.

- Posso? – Perguntou debilmente, mesmo que as pálpebras fechadas fossem toda a permissão que poderia querer. O coração estava prestes a explodir em fagulhas ávidas, aguardando pela resposta que já havia sido dada.

- Aham. – A voz dele oscilou, tímida, e Jeongguk se inclinou para ainda mais perto, olhos abertos, focado primeiro nos cílios escuros e compridos para depois desviar até a boca que o esperava, para a pintinha castanha que tanto povoava cada canto de sua mente ansiosa.

Foi o tempo de recuperar o ar, tomar uma golada imensa de fôlego para que logo em seguida o perdesse por completo de novo, a respiração escapando-lhe pelo nariz num sopro tolo de alívio quando seus lábios pequenos e pedintes finalmente cobriram os de Taehyung.

Fechou os olhos e afogou-se outra vez. Era frio, macio, denso e doce. Jeongguk sentiu o corpo todo formigar e precisou conter um sorriso de satisfação, por um milésimo de segundo preocupado em como ele poderia reagir, se ia se afastar, se aquele momento ínfimo e eterno se esgotaria antes mesmo de ter começado. Mas no instante seguinte a correnteza intensa o levou para longe, ao sentir o lábio inferior ser capturado entre os de Taehyung, num movimento corajoso e inesperado, extraordinário, que esgotou de vez o juízo e o fez flutuar.

Enfim, vazio. Depois de semanas sem conseguir parar de pensar, a mente livrou-se de todos os vínculos com a realidade e mergulhou no sabor doce de baunilha, na textura suave, na sensação entorpecente de completude. A mão se levantou, por conta própria, e encontrou o caminho desconhecido até a pele quente e dourada da nuca dele, os dedos desbravando entre a maciez dos fios de cabelo, delicadamente o trazendo para mais perto. E ao por fim provar de seu hálito morno, quando Taehyung, atrevido, demandou passagem com a língua, Jeongguk inspirou o ar frio de uma só vez, audivelmente e sem se importar se ele escutaria seus suspiros falhos. Preencheu os pulmões de ternura, firmou os dedos trêmulos entre os fios castanhos e derreteu no paladar doce e tóxico da besteira avassaladora que era beijar Taehyung.

Manteve os olhos apertados e as sobrancelhas franzidas, cem por cento concentrado e completamente perdido, entregue à anestesia mágica de tê-lo tão perto, todo, toque, cheiro e beijo. Podia sentir a respiração quente e descompassada dele acariciando seu rosto, os narizes gelados se afagando e, de vez em quando, dava pra ouvir Taehyung ronronar, bem baixinho, como um gato manhoso. Testaram um ao outro, as línguas deslizando lentamente, curiosas, e Jeongguk se esqueceu das técnicas, sequer se lembrou que já tinha feito aquilo antes, e experimentou do gosto de Taehyung como se beijasse pela primeira vez.

Sua mão soltou os cabelos macios e deslizou sobre a pele dele, nuca, pescoço e clavículas, até se afastar de vez. Os lábios se separaram, hesitantes. Abriu os olhos devagar, como quem acorda de um sonho bom, e vislumbrou os cílios escuros dele, suas pálpebras ainda fechadas, dando a certeza de que não tinha sido ilusão nenhuma. Antes mesmo que ele abrisse os olhos, Jeongguk quis beijá-lo de novo. Teve de se conter. Era um pouco assustador, aqueles sintomas todos de uma vez só, e a realização do que havia acabado de acontecer demorou a penetrar a mente atordoada. Beijou mesmo outro garoto?

Então, Taehyung abriu os olhos e foi como olhar pelo telescópio outra vez. Talvez até mais encantador, na verdade, as esferas castanhas se expandindo em mais uma de suas expressões indecifráveis. Como era fascinante observá-lo assim, tão, tão de perto. A boca dele pendeu entreaberta, descrente, e suas sobrancelhas se levantaram em surpresa. Jeongguk riu frouxo, repentinamente nervoso, sem saber como agir. Fechou os punhos numa tentativa tola de impedir que suas mãos voltassem para ele sem permissão, e apesar da sensação aquecida ter abandonado os lábios, eles ainda formigavam o sabor dele.

A tarde terminava de cair, nublada, em tons pálidos de azul. Taehyung o observou com olhos desfocados por um instante fugaz, para em seguida desviar o olhar até as próprias mãos, que apertavam um dos calcanhares de pernas cruzadas, sobre a meia branca. Jeongguk sorriu como tolo, incapaz de piscar. Os cabelos castanhos, caindo sobre a testa, escondiam parcialmente o rosto mas deixavam à mostra o suficiente para denunciar as bochechas rosadas, o nariz vermelho, e a língua incerta que, suavemente, passeou sobre os lábios.

- Isso foi… – Jeongguk não encontrou palavras suficientes para descrever e pausou no meio da frase, ainda atordoado, os lábios anestesiados com baunilha.

- Estranho? – Ele sugeriu num sussurro e Jeongguk precisou de uns segundos para ligar aquela palavra ao seu significado.

Sim, foi definitivamente estranho. A forma como os músculos tinham derretido, o calafrio incessante na espinha. Como os lábios de Taehyung pareceram nada menos que perfeitos, pressionados contra os seus, o gosto doce que sabia que ele teria.

Definitivamente estranho.

- É. – Respondeu, incapaz de formular uma frase mais lógica.

Notou Taehyung arregalar os olhos castanhos, ainda encarando as próprias mãos, e a visão provocou uma risada frouxa e sonhadora.

Ele acha que eu não gostei?

Estava errado. Jeongguk gostou sim, muito.

Afinal, estranho nem sempre era uma coisa ruim, como tinha aprendido.

Deixou o sorriso se espalhar pelo rosto, os dentes sobressalentes aparecendo, enquanto observava o olhar decepcionado de seu hyung.

Se ele estava decepcionado com aquela possibilidade, então deve ter gostado também. A conclusão arrancou um sorriso completo e Jeongguk nem percebeu quando a língua ávida disparou, precipitada, ignorando o bom senso e confessando seus desejos.

- Posso fazer de novo?

- Hãn?

Ele levantou o rosto em sua direção, olhos castanhos cintilando suas incontáveis estrelas, e Jeongguk desistiu de controlar os impulsos. Queria mais, e já não fazia sentido negar suas vontades. Tinha certeza que estava estampado na própria cara.

Alcançou uma das mãos geladas de Taehyung, entrelaçou seus dedos nos dele e mandou a sensatez à merda.

- Podemos fazer isso outra vez? – Perguntou, alto e claro, certo de que nunca esteve tão vermelho na vida.

- O quê? – Ele praticamente sussurrou, alternando o olhar entre o rosto de Jeongguk e suas mãos juntas. – Então você gostou?

Riu bobo ao observá-lo, expressão atônita, os olhos brilhando esperançosos. O que tinha para não gostar? Taehyung era adorável.

- Ainda tenho que descobrir algo pra não gostar sobre você. – Deixou escapar, envergonhado e aliviado. – Além da sua mania de se desculpar por qualquer coisa.

- Ah. – Ele soltou uma risada frouxa, dissipando minimamente a tensão estranha que ainda se instalava no ar. Então, ficou em silêncio por mais alguns segundos, os olhos perdidos nas mãos entrelaçadas e um sorriso tênue de lábios cerrados se revelou no rosto bonito. – Sabe, Jeongguk-ah… Você não tem que pedir.

A frase soou como um pedido. O coração aflito e ansioso pulsou tão rápido que Jeongguk pensou que fosse explodir e sair do peito, libertando de vez o pássaro azul. Sabia exatamente ao que ele estava se referindo, aos tolos e inexperientes questionamentos por permissão para que pudesse beijá-lo, a primeira e uma possível segunda vez. E se não precisava pedir, era porque ele queria também. Se tinha sua permissão permanente, então aquele seria só o segundo beijo e muito provavelmente não o último.

Merda. Estava arruinado. Ganhara passe livre para os lábios de Taehyung, e como consequência todos os seus argumentos para resistir caíram por terra, inúteis. Não ia conseguir manter as mãos longe dele depois dessa.

Não precisou reunir coragem. Os lábios encontraram o caminho por conta própria, ainda tímidos e comportados, mas não mais inseguros, na certeza de que seja lá o que estivesse acontecendo consigo, era recíproco. Se estava insano, ele também.

A mão de Taehyung pousou em seu rosto como uma pedra de gelo, os dedos compridos delicadamente acariciando a sua bochecha, suscitando arrepios. Sem que pudesse impedir, um som áspero e rouco escapuliu do fundo da garganta, como um rosnado baixo, e Taehyung riu contra seu hálito de forma encantadora para logo em seguida prender seu lábio inferior entre os dentes – sem força alguma, como se tivesse medo – e arrastá-los numa lentidão cruel até enfim se afastar de vez.

Foi curto demais. Taehyung nem ao menos lhe deu a oportunidade de provar sua língua doce, e Jeongguk ainda ficou estático por uns segundos, os olhos fechados na esperança de que ele fosse voltar. O vento congelante soprou contra seu rosto quente, fazendo com que batesse os dentes de frio, e abriu os olhos num impulso, contorcendo o nariz.

Taehyung soltou uma risada soprada.

- Quando mexe o nariz assim, parece um coelho.

“Imagina só, um menino tão fofo quanto um coelho?”

Calou-se. A mera lembrança de uma passagem do diário fez o estômago revirar, inquieto. A frase abusada veio sem permissão e trouxe consigo culpa, uma sensação crescente e incômoda, comprimindo o peito.

Taehyung nunca o perdoaria quando soubesse.

Se soubesse.

Seria tão errado assim? Esconder a verdade para sempre, enterrar o motivo primordial que o levara a se aproximar do garoto incógnito?

Era tarde demais agora. Foi-se o tempo de lhe confidenciar a posse do caderno de couro preto. Antes, talvez ainda pudesse contar com alguma compaixão, com o perdão dele. Mas não depois de tê-lo beijado. Ia parecer que tinha tirado proveito da situação, usado o conteúdo do diário contra ele – para o conquistar, ou iludir. E, mesmo com a certeza de que suas motivações não foram maldosas, seria incapaz de contar a ele. Porque perdeu-se no hálito doce de Taehyung e não podia deixá-lo ir.

- Ei? O que foi? – Ouviu-o chamar sua atenção, num tom descontraído. – Já se arrependeu?

A voz grave e macia o trouxe de volta, mas não foi capaz de dissipar o medo. Notou ele acenar a mão livre em frente ao seu rosto e foi bruscamente removido de seus devaneios angustiantes e teletransportado para a realidade.

Aquela esquisita realidade em que tinha beijado o autor do diário.

Focou os olhos nele. Taehyung estava com as sobrancelhas franzidas, o rosto todo vermelho, lábios roxos de frio. Jeongguk libertou seus dedos entrelaçados e, num impulso, jogou os braços ao redor de seu pescoço, rezando numa oração silenciosa.

Que ele nunca descubra.

Sentiu o garoto estremecer entre os braços, o queixo afiado batendo contra a pele de seu pescoço. Apertou-o contra si, se assegurando que ele estava realmente ali, consigo, e não iria embora. Sentiu calafrios quando os braços de Taehyung contornaram sua cintura, e as mãos dele agarraram o tecido do paletó nas suas costas.

- Hyung, eu gosto de você. Foi isso o que vim dizer. Eu gosto de você, e já tem um tempo.

O nariz gelado dele afundou-se na curva de seu pescoço e Jeongguk ouviu a voz abafada ressoar baixa contra sua pele, a boca dele logo abaixo de sua orelha.

- Eu também. 


Notas Finais


Ah, Jeonggukie... Essa insônia não está te fazendo muito bem. Ou está? hahaha
Repetindo o que já havia escrito por aqui antes do wifi me trollar (ai, que raiva) eu não preciso nem dizer que estou muito, mas muito ansiosa para ler os comentários de vocês e saber o que acharam do capítulo.

Obrigada a todos que me acompanharam nessa longa, longa jornada de mais de 100k de palavras. hahaha espero que não desistam de mim, apesar dos atrasos, porque ainda temos um belo caminho pela frente! Vocês me dão muita força, mesmo, e são a recompensa por todo o esforço <3 Me sinto útil graças a vocês, muito obrigada mesmo.
Então, não se esqueçam de comentar! Eu estou me tremendo toda já, e sei que não vou dormir essa noite mas com certeza vou acordar feliz amanhã hahaha.

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amo vocês!
Beijocas amoras,

~BtsNoona


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