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História Incógnito VKook - Taekook - Um broche


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores-amores!
Quando disse que iria compensá-los, estava sendo sincera.
Para provar meu amor aí vai mais um capítulo de Incógnito (e ainda teve um de Hipnosis ontem) somando mais de 8k de palavras que eu escrevi em menos de uma semana. UFA!

Espero que gostem,
Boa leitura!

Capítulo 6 - Um broche


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Um broche

Um broche.

Sua desculpa para ir até onde o garoto incógnito se escondia era a mais esfarrapada possível. Percebera alguns dias antes que um dos broches de sua mochila havia sido perdido, um pequeno broche preto de um Death Note. Com certeza não estaria perto da estátua da Virgem Maria, e o mais provável é que ele tivesse caído dentro de casa, mas não conseguira pensar em nada melhor. Iria até lá sob a justificativa de procurar pelo objeto.

Estava determinado a convidá-lo para dar um passeio. Toda aquela coisa do Manifesto Infantista, onde ele admitia querer fazer coisas consideradas infantis, acrescentado do desejo de atirar a arma no sonho, havia dado a Jeongguk uma ótima ideia. Levaria Taehyung ao lugar que ele mais gostava no mundo, já que o garoto o havia levado à biblioteca. Seria uma retribuição justa.

Decidiu que, se tivesse a oportunidade, o levaria ao Pixel Palace.

Era o lugar onde passava a maior parte de suas tardes e fins de semana. Gostava de se abstrair do mundo e ficar lá, só jogando vídeo games de realidade virtual, se divertindo com personagens e missões. Não fazia ideia se Taehyung já havia ido a uma lan house interativa antes, mas pensou que ele gostaria do lugar. Mesmo sem entender muito bem o porquê, Jeongguk queria agradá-lo.

Seu fim de semana havia sido bastante atípico, ao ponto de seus pais chegarem a estranhar. Mal tinha pisado fora de casa e passara o tempo todo lendo, dividindo seu tempo entre o diário de couro e O Grande Gatsby.

- Desde quando você lê alguma coisa que não sejam quadrinhos? – Sua mãe perguntou na noite de domingo, enquanto Jeongguk lia o livro de Fitzgerald sentado no sofá da sala.

- É para a escola. 

Não queria se aprofundar demais no assunto. Sua mãe costumava ser bastante enxerida.

- Ainda mais estranho. – Ela comentou com o semblante desconfiado – Foi esse livro que você pegou na biblioteca?

- Sim.

Foi propositalmente seco. Não podia dar margem para que sua mãe perguntasse ainda mais, ou o interrogatório não pararia nunca.

- Com Kim Taehyung. – Ela disse, finalmente fazendo com que Jeongguk levantasse os olhos do livro e a encarasse com o semblante surpreso. Como assim ela se lembrava do nome? Que bisbilhoteira!

- O que tem ele?

Tentou manter um tom desinteressado e casual, mas seu coração começou a palpitar acelerado. Será que ela poderia ter encontrado o diário? Não é possível, e mesmo que fosse ela não teria como saber a quem ele pertencia. Por que estava tão interessada?

- Parece ser uma boa influência. Quando vai trazê-lo aqui?

Jeongguk suspirou profundamente, sua paciência chegando ao fim. Queria que ela desistisse logo ou pelo menos mudasse de assunto, mas era inútil. Sua mãe continuaria insistindo na ideia até que ele se retirasse ou acabasse respondendo-a de forma mal educada.

Fechou o livro, decidido que sair dali era a melhor opção.

- Se eu trouxer sei que você vai fazer um inquérito. Então, nunca.

Subiu os degraus até seu quarto, à procura de um pouco de paz. Não entendia por que sua mãe tinha que fazer isso toda santa vez. Como não conseguia notar que era incomodativa?

Deixou O Grande Gatsby de lado na mesa de cabeceira e alcançou o familiar caderno puído ao se jogar na cama. O livro até que não era ruim, mas o diário era muito mais interessante.

Tinha lido bastante durante o fim de semana e descobrira uma infinidade de coisas sobre o garoto incógnito.

Ele tem compulsão em ficar limpando as unhas.

Ele tem uma irmã mais nova.

Ele tem uma antiga coleção de selos, que havia pertencido ao seu avô, e parecia trata-la como um verdadeiro tesouro.

Ele toca saxofone.

Ele gosta de poesia, muito, e eventualmente escrevia alguma frase solta, avulsa, algumas vezes sem nenhuma referência ou autor. Talvez algumas fossem de autoria própria, cogitou.

“Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura”

Jeongguk reconheceu a frase e teve certeza que já havia a ouvido antes. Mas não fazia ideia de onde, então resolveu deixar o assunto para lá. Depois pesquisaria na internet.

De todos os relatos, os que se referiam ao alma ruim eram os únicos que realmente incomodavam. Taehyung costumava escrever sobre assuntos leves e lhes dava sempre um tom divertido, raramente reclamava ou falava sobre algo que não gostava. Parecia o tipo de pessoa que prefere muito mais falar das coisas que ama, e Taehyung amava um monte de coisas.

Mas esse tal de alma ruim conseguia atingi-lo, mesmo que o castanho não admitisse diretamente.

E não era para menos. Conforme Jeongguk se empenhava em sua leitura, as brincadeiras e gozações ficavam cada vez mais exageradas.

Querido Diário,

Hoje o alma ruim resolveu que seria muito engraçado desenhar um disco-voador na porta do meu armário. Bem embaixo ele escreveu: “Volte para o planeta de onde você veio”.

O pior é que não tem como eu provar que foi ele quem fez isso, mas eu tenho certeza absoluta. Se eu falar com a direção ninguém vai fazer nada, e se o alma ruim descobrir que eu contei, capaz de piorar ainda mais a minha vida.

Ainda tive que limpar a droga do armário.

Completamente desnecessário. Jeongguk não conseguia entender o porquê de aquele garoto atazanar tanto Taehyung, que não havia feito nada de errado.

Era só pura maldade mesmo.

Querido Diário,

Eu estava distraído andando pelo corredor e o alma ruim beliscou com força a minha bunda. Depois se virou e me perguntou se eu tinha gostado, com um tom de voz muito nojento e malicioso.

Claro que eu não gostei! Doeu.

Que moleque escroto! Jeongguk estava tão ansioso para rever Taehyung quanto estava para descobrir logo quem era esse tal de alma ruim e dar um jeito nele de uma vez por todas. Como poderiam ter pessoas tão más a esse ponto? E pior, estavam bem ao lado, estudando no mesmo colégio que ele e Jeongguk nunca havia notado. Perguntou-se em que mundo esteve vivendo todo esse tempo e sentiu raiva de si mesmo, do seu egocentrismo.

Basta.

Estava cansado e apenas ler os relatos do garoto incógnito e não ajudá-lo. O desejo de proteger Taehyung era tão intenso que Jeongguk desistiu de arrumar uma desculpa melhor que a do broche perdido para ir até a estátua da Virgem Maria atrás dele. Apesar de pensar bastante sobre o assunto durante o fim de semana, não conseguira encontrar um motivo decente pelo qual ele estaria por aqueles cantos do pátio sozinho. Mas que seja. No dia seguinte iria até lá.

Programou o despertador para vinte minutos mais cedo do que de costume e fechou os olhos, forçando-se a dormir. Não foi uma tarefa fácil. Estava com tanto ódio que podia sentir o sangue fervendo dentro das veias.

~x~

Era aula de matemática e Jeongguk não estava com o melhor dos humores. Sempre detestara a matéria, e as aulas da manhã configuravam uma tortura sem fim. O professor passara um exercício no quadro, mas a quantidade de números e letras parecia muito maior do que o habitual, e o moreno não fazia a menor ideia de como responder a tal equação. Não sabia nem por onde começar.

Tentou copiar a equação no caderno, mas teve a impressão de que os números não paravam quietos no lugar e dançavam no quadro negro. Não devia ter dormido o suficiente, sua vista estava provavelmente cansada.

- Sr. Jeon. – Ouviu a voz ríspida do professor chamar-lhe a atenção – Poderia vir até o quadro e solucionar o problema?

Sentiu o corpo todo tremer e entrar em estado de alerta. Levantou-se da cadeira devagar, tentando ignorar a tensão e pensar em uma forma de escapar daquela cilada. Talvez se chegasse perto do quadro pudesse ver melhor os números e responder a questão, pensou. Mas conforme foi se aproximando a frente da sala, sentiu os olhares dos outros estudantes sobre si, o que só serviu para deixá-lo ainda mais desnorteado. Devia realmente estar com a vista muito cansada, já que o quadro negro parecia não passar de um grande borrão de rabiscos.

Pegou o giz e não soube o que fazer. Ficou imóvel, paralisado em frente à turma, e logo pôde ouvir as risadas baixas e debochadas dos colegas.

- Sr. Jeon, o senhor não sabe? – Insistiu o professor, e Jeongguk permaneceu calado enquanto as risadinhas e cochichos aumentavam de volume atrás de si. – Talvez devêssemos voltá-lo para o ensino fundamental, quem sabe assim você consiga acompanhar a turma.

Os outros alunos deixaram de se segurar e a turma explodiu em gargalhadas. Resignado, Jeongguk retornou ao seu lugar com a cabeça baixa e os olhos marejados. Nunca havia se sentido tão pequeno antes em toda a sua vida.

Só quero que acabe logo, pensou.

Bateu o sinal do intervalo. Soltou um suspiro aliviado ao sair da sala de aula, sentindo-se como se tivesse escapado de uma prisão.

Enfim, passou.

Dirigiu-se até o refeitório e se sentou a mesa habitual com Jimin e Songyi. Ainda estava se sentindo muito mal, e pensou que uma conversa divertida com seus amigos mais próximos fosse afastar aquela sensação horrível do peito.

- Nossa, o seu nariz é realmente enorme! - Songyi apontou para ele, antes mesmo que Jeongguk tivesse a chance de cumprimenta-los. – Sinceramente, você deveria cogitar dar um jeito nisso. Nós não somos obrigados a ficar olhando para esse narigão todo santo dia.

A ruiva encarava-o com uma expressão indignada no rosto, e Jeongguk não conseguiu responde-la. A surpresa tinha sido tão grande que ele continuou calado, com as sobrancelhas arqueadas e os lábios entreabertos. Por que ela fora tão má? Songyi podia ser bem rude às vezes, mas jamais a um nível tão impiedoso.

Entretanto, não tinha como argumentar contra ela. O moreno também detestava o próprio nariz.

- Talvez o namorado dele goste.

Mal pôde acreditar ao ouvir a voz aguda de Jimin proferindo tais palavras. Jeongguk olhou-o abismado, incapaz de dizer qualquer coisa, sentindo o estômago revirar e um enjoo agoniante. Jimin apenas encarou o amigo e riu zombeteiro, no que Songyi acompanhou-o com uma gargalhada divertida.

Estava prestes a se defender quando escutou o ruído metálico da cadeira sendo movida ao seu lado. Jeongguk virou o rosto e deu de cara com Kim Taehyung, os olhos castanhos brilhando em sua direção exatamente como ele se lembrava de tê-los visto enquanto o garoto falava sobre os livros na biblioteca.

Mas agora eles brilhavam para si.

Taehyung esticou o braço e envolveu os ombros do mais novo como se fosse a coisa mais natural do mundo a se fazer, e o coração de Jeongguk disparou acelerado no peito.

Por que ele está agindo assim? Ele nem deveria estar aqui.

O refeitório todo ficou imerso em um silêncio assustador. Jeongguk notou todos os olhares em sua direção, julgando-o, enquanto o garoto incógnito ainda lhe abraçava em torno do pescoço.

- Que bonitinhos! – Songyi caçoou com um sorriso travesso brincando nos lábios – Viados!

Todos dispararam a gritar e rir, as gargalhadas tornando-se tão altas que Jeongguk começou a sentir-se zonzo. Pequeno, indefeso, impotente.

- Olha pras suas mãos, Jeongguk. – Taehyung sussurrou contra o seu ouvido, aquela voz penetrante já trazendo um mínimo de alívio, mesmo que não fosse o suficiente.

Levantou as mãos na altura dos olhos, sendo preenchido por um misto de surpresa e horror. Cada uma de suas mãos devia ter mais do que uma dezena de dedos! Então ele se lembrou.

- Sonho. – Concluiu, ainda entorpecido pelos berros e risadas dos estudantes. Encarou Taehyung e este lhe sorriu de forma reconfortante.

- E é seu.

- Eu não quero estar aqui.

- Você não está.

De novo, silêncio. Taehyung abriu um sorriso amplo e retangular, tão característico dele, e Jeongguk sentiu a brisa fresca soprando contra sua nuca.

Estavam no campo de grama do colégio, sobre uma toalha enorme de piquenique, sozinhos.

Jeongguk se permitiu sorrir aliviado, toda angústia se desvaindo tão rápido que foi como se nunca tivesse existido.

- Não sou tão criativo quanto você. – Comentou, lembrando-se da descrição no diário que incluía chuva de donuts, labradores e uma bóia de unicórnio.

Taehyung negou com a cabeça.

- Que nada, está perfeito.

Mesmo que em sonhos, Jeongguk tinha algo que precisava dizer. Aproveitaria a oportunidade para tirar aquele peso incômodo do peito.

- Sinto muito por estar lendo seu diário.

- Eu quem devia pedir desculpas! Te dei um pesadelo horrível.

- Você não deveria ter que passar por isso.

Taehyung apenas sorriu e deu de ombros. Ele abaixou a cabeça, encarando a toalha de piquenique, os cabelos castanhos caindo sobre a testa, e Jeongguk notou suas bochechas tomarem um tom róseo e adorável.

Um som agudo e irritante interrompeu o silêncio confortável, e Jeongguk imaginou que algum alarme de carro devia ter sido disparado ali por perto.

Como se pudesse ler seus pensamentos, Taehyung mais uma vez sussurrou ao seu ouvido.

- É o despertador, Jeongguk. Bom dia.

Então, plantou lhe um beijo na bochecha.

~x~

Abriu os olhos, assustado, e sentou-se de súbito na cama. Levou a ponta dos dedos até a bochecha e sentiu a pele formigando, como se realmente tivesse acabado de ser beijada.

Mas que sonho mais louco! Pesadelo, na verdade. Não lembrava de ter se sentido tão mal nem quando sonhava com assassinos e monstros. Ainda podia se lembrar da sensação, vívida, de ser humilhado e julgado pelas outras pessoas. Como diabos Kim Taehyung dizia no diário não se importar com as provocações? Era simplesmente horrível!

Pela primeira vez sentiu na pele o que o garoto incógnito relatava com tanta frequência em suas confissões. Não recordava tão claramente o sonho, mas grande parte de como havia se sentido continuavam a apertar-lhe o peito.

Lembrava-se do que havia dito para Taehyung.

“Você não deveria ter que passar por isso.”

E se dependesse de Jeongguk, ele não passaria por nada disso. Por nem mais um dia. O sonho só servira para deixá-lo ainda mais determinado.

Iria até a Virgem Maria no horário de almoço, e levantou-se a fim de preparar um sanduíche e levá-lo consigo. Não sabia se seria convidado a se juntar a Taehyung durante o intervalo, mas não queria correr o risco de precisar declinar a oferta porque precisava comprar seu almoço no refeitório.

Se fosse convidado, Jeongguk aceitaria.

Conforme o dia foi passando, aos poucos recuperou partes perdidas do pesadelo da noite anterior. Ao entrar na sala e dar de cara com a amiga Songyi, quase pôde ouvir sua voz no fundo da própria mente – “Viados!”. A aula de matemática também não foi das melhores. O olhar ríspido e severo do professor o fez lembrar a sensação angustiante de não conseguir resolver o problema em frente à classe, e as risadas maldosas ressoaram nos seus ouvidos.

Precisava tirar isso da cabeça, mas não conseguia. Só em pensar que Taehyung passava por esse tipo de abuso todos os dias fazia com que seus punhos automaticamente se fechassem com força e mais uma vez não conseguiu se concentrar nas aulas. Na verdade, desde que o diário aparecera em sua vida não tinha estudado nada, salvo pela leitura do Grande Gatsby – que só havia feito por causa do garoto incógnito.

Todo aquele interesse já estava começando a incomodar. Não tinha parado em momento algum para pensar sobre o assunto, mas depois da conversa com Jimin e da forma com que o amigo havia descoberto sobre Taehyung, Jeongguk percebeu que talvez estivesse passando um pouco dos limites. Começou a notar que não conseguia se concentrar em mais nada, a não ser que tivesse relação com o Incógnito.

Convenceu-se que seu interesse estava ligado diretamente aos abusos do alma ruim sobre o castanho. Assim que se tornasse próximo dele e pudesse protegê-lo, aquilo ia passar. Taehyung se tornaria só um amigo comum.

Ele faria a mesma coisa por Songyi ou Jimin, se fosse necessário.

Quando as aulas finalmente terminaram e o sinal do intervalo tocou, Jeongguk sentiu-se aflito. Ainda estava determinado a ir até a estátua da Virgem Maria, mas seu corpo foi tomado pelo nervosismo e ele sentiu as mãos suando. Sua timidez e popularidade sempre fizeram dele alguém que não precisava se aproximar inicialmente dos outros – muito menos daquela forma planejada – e a situação provocou-lhe um forte frio na barriga. Balançou a cabeça e tentou afastar esses pensamentos bobos. Estava sofrendo por antecipação.

Respirou fundo, ainda sentado em sua carteira, até que todos os colegas saíssem da sala. A ansiedade não combinava consigo, experimentara o sentimento poucas vezes. Não saber como as coisas iriam se desenrolar a partir dali era algo novo e incômodo. Não tinha praticamente nada planejado. Não fazia ideia de como agiria ou do que iria dizer.

Só esperava que não fosse constrangedor demais. Nem para si mesmo, nem para Taehyung.

Xingou baixo ao ver sua amiga ruiva aguardando-o ao lado da porta, com os braços cruzados e um ar de impaciência. Por que ela não podia simplesmente ir ao refeitório sem ele?

- Preciso fazer uma coisa. – Avisou, torcendo para que ela não perguntasse o que seria.

Cheon Songyi revirou os olhos.

- Que seja. – Deu-se por vencida, virando-lhe as costas e saindo da sala.

Sua coragem já não era inconstante como nos dias anteriores. Por mais que não pudesse controlar os próximos eventos, Jeongguk estava decidido a não fugir deles. Colocou a mochila verde militar nas costas e andou a passos lentos para fora do edifício, até o pátio.

Sentia-se corajoso, sim, porém hesitante. Eram sensações estranhas para se ter ao mesmo tempo, e tentou ignorar os sintomas estranhos. Seu estômago se revirava, o coração batia na garganta e as mãos não paravam de suar.

Pensou que tais sintomas eram apenas consequência por estar completamente fora de sua zona de conforto e obrigou-se a ir em frente, mesmo que seus olhos fitassem apenas o próprio par de tênis. Resolveu não pensar mais sobre o desconforto que o agoniava e concentrou-se em tentar acreditar na desculpa ruim que havia inventado.

Meu broche sumiu, estou procurando.

Têm meses que não passo nem perto da estátua da Virgem Maria.

Sacodiu a cabeça, que teimava em tentar desmentir a própria desculpa.

Talvez uma pomba tenha pego e largado por lá, nunca se sabe.

Jeongguk, procure o broche. – Repetiu em sua mente.

Quando menos percebeu já estava a menos de vinte passos do autor do diário, o caderno velho e surrado que – exatamente uma semana antes – Jeongguk havia encontrado não muito longe dali, sob a chuva.

Mirou o chão de cimento, obrigando-se a acreditar que seu broche poderia estar em qualquer lugar por ali, mesmo sabendo que não o encontraria. Uma voz feminina e divertida gradativamente ressoou mais alta em seus ouvidos, conforme ia caminhando a passos lentos para mais perto e – apesar de em estado de alerta – Jeongguk fingiu estar distraído demais para prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse o cinza monótono do chão.

- Psiu! – Ouviu a voz exclamar. Soube de imediato que era com ele, mas manteve sua atuação desatenta – Ei, garoto!

O coração parecia querer saltar boca a fora e Jeongguk engoliu em seco, tentando controlá-lo, antes de erguer a cabeça e encarar o trio com um olhar forçosamente desentendido.

Era a primeira vez que via o trio tão descrito no diário: Incógnito, Lua e Ray. Reconheceu as garotas de imediato, e não foi difícil diferenciar as duas. Taehyung pode ter passado despercebido durante anos, mas o mesmo não se aplicava às suas companhias.

A menina que o chamara era Han Hyeyeon. Ela estudava na sala de Jimin, e Jeongguk sabia quem era apesar de nunca terem se falado. Hyeyeon usava os cabelos negros muito curtos, num corte tipicamente masculino, e calças ao invés da saia de uniforme. Sempre andava por aí com uma máquina fotográfica, tirando fotos de todo mundo para o anuário escolar ou o jornaleco do colégio. Já a vira em várias competições de luta das quais havia participado. Ela era Ray.

A Ray é uma dessas pessoas que não liga nadinha para a opinião alheia e sai falando com todo mundo sem pedir permissão nem nada.

Estava contando com isso, com que a tal Ray o abordasse caso aparecesse por ali. Mas não fazia ideia de que seria Han Hyeyeon, a garota cuja fama ultrapassava o próprio ano e havia chegado ao colégio inteiro. A garota-que-queria-ser-um-garoto, como chamavam, e que não dá desculpas para ser quem é.

Então Jeongguk encarou a outra – Lua. Não sabia seu nome, mas também já ouvira falar dela várias vezes, sob o pseudônimo de a-garota-transferida-da-Inglaterra.

E ela é tão bonita, nossa! Deixa a gente até meio desconcertado, ela é bonita pra valer.

Era tão bonita quanto a descrição de Taehyung sobre ela, com sua pele bem clara e longos cabelos castanhos. Ela tinha gigantescos olhos azuis e uma fama não lá muito boa. Já ouvira histórias absurdas, envolvendo desde drogas psicodélicas até boatos de que ela já havia sido presa na Inglaterra. Os garotos diziam que ela já tinha ido “até o fim” com mais de dez caras.

E Kim Taehyung. O garoto incógnito, autor do diário que tanto lhe instigara e dono de uma personalidade e carisma inigualáveis. Tão bonito quanto todas as outras vezes que o havia visto. Ele não o encarava. Olhava para baixo, sentado de pernas cruzadas sobre o cimento, aquela aura que reluzia ao seu redor tão presente que Jeongguk sentiu um arrepio na espinha. Teve um dejá vù de seu sonho ao ver a cena.

- Perdeu alguma coisa? – Han Hyeyeon perguntou, interrompendo os devaneios do mais novo. Não disse a frase de forma rude, mas solícita, como se estivesse oferecendo ajuda.

Jeongguk pensou que devia estar com cara de tacho – de novo. Devia ser essa a imagem que Taehyung tinha dele, um garoto alto com cara de tacho.

- Hm, é... Perdi um broche. – Taehyung finalmente levantou a cabeça em sua direção, encarando-o com as sobrancelhas erguidas. O olhar dele invadiu-o sem permissão e Jeongguk se sentiu obrigado a desviar os olhos, preferindo fitar a boca rósea ou a pintinha na ponta do nariz. Estava mais tenso que o esperado, bem mais do que da primeira vez que o vira. – Ah. Oi Taehyung.

As duas garotas desviaram o olhar de si até o castanho, e o analisaram como se ele realmente fosse um alien. Não entendeu por que.

- Oi Jeongguk.

Hyeyeon continuava alternando seu olhar entre os dois garotos de forma nada discreta.

- Vocês se conhecem? – Ela perguntou, e Jeongguk pensou que era tão direta quanto sua descrição no papel.

Abriu a boca para responder, mas Taehyung foi mais rápido.

- Não muito.

Sentiu uma fisgada de desapontamento. Não era isso que ele pretendia falar e não esperava que o castanho respondesse dessa forma simples e seca. Lembrou-se do garoto no ponto de ônibus, que falava demais e desculpava-se pela tagarelice em seguida. O garoto com os olhos brilhantes e o sorriso retangular.

Mas ele estava sério agora.

- Ahn, tá. – Hyeyeon deu de ombros – E como é esse broche?

- É um Death Note. – Respondeu simplesmente, desencorajado pela reação do garoto incógnito.  Talvez devesse ter ficado na sua e ido almoçar na mesa de costume. As coisas não estavam indo como gostaria.

- Uá! Mesmo? – Hyeyeon, entretanto, não notou nada disso e pareceu entusiasmada – Eu adoro Death Note. É de que tamanho?

- Pequeno. – Afastou os dedos, demonstrando aproximadamente quanto media o objeto.

- Ah, uma pena, eu não vi! Vocês viram? – Ela virou-se para os outros dois – Death Note é um caderninho preto e na capa-

- Eu sei o que é. – Taehyung interrompeu.

- Sabe? – Hyeyeon ergueu uma sobrancelha, numa expressão descrente – Eu vivo te recomendando isso, não acredito que você assistiu e nem me contou!

Taehyung deu de ombros.

Por mais que tivesse inibido, Jeongguk gostou de descobrir que ele e o garoto incógnito tinham algo em comum. Talvez não fossem tão diferentes assim, no fim das contas. Era bom saber que teriam algo sobre o que conversar sem que ele próprio precisasse ler todos os livros da biblioteca municipal.

- Ainda não terminei o anime. – Taehyung justificou-se, e logo depois desviou o olhar para Jeongguk – Não vi seu broche. Desculpe.

A mania de se desculpar por qualquer coisa continua a mesma – pensou.

- Anda, anda, senta! Tá me dando um nervoso do caramba ver você aí de pé. Almoça com a gente, estamos precisando ouvir umas histórias novas. Depois você procura.

Han Hyeyeon era ainda mais atirada do que havia imaginado. Taehyung não exagerava em suas descrições.

Sentiu-se incerto. A tal da Lua parecia não dar a mínima para se Jeongguk ia ou ficava, e apenas o observava com o rosto inexpressivo, sem dizer uma palavra. Mas não soube discernir se era ou não bem-vindo pelo castanho e teve medo de que a situação ficasse estranha entre os dois.

Para sua surpresa, Taehyung afastou-se para o lado, abrindo espaço para que ele se sentasse na roda, num convite silencioso. Aquele gesto tão pequeno e discreto automaticamente fez com que Jeongguk recobrasse parte de sua confiança. Não estava se sentindo tão confortável quanto gostaria, mas também não estava disposto a simplesmente desistir e ir embora.

Retirou a mochila verde militar das costas e sentou-se entre o garoto incógnito e Hyeyeon.

- Tem razão. Posso procurar depois.

- Boa escolha. Jeongguk, certo? Eu sou Han Hyeyeon e aquela é Elizabeth Lutterback, mas ela prefere que chame de Liz. O Tae você já conhece. – Ela deu tapinhas em suas costas de um jeito exagerado e Jeongguk não conseguiu segurar o riso. – Com as devidas apresentações feitas, vamos comer. Eu estou morrendo de fome, sério, acho que poderia cair dura a qualquer momento.

Pelo canto do olho, pôde ver Taehyung sorrindo de lábios cerrados.


Notas Finais


E aí, gostaram?
Não se esqueçam de comentar, eu me esforcei esse fim de semana para terminar esse capítulo para vocês, que merecem muito já que não me abandonaram depois desse tempão sem atualizações <3
sério, amor eterno por vocês, maravilhosos!
Vamos ser migos <33
twitter @ btsnoona_
curiouscat / btsnoona
instagram @ larissalair

Não sei quando vem o próximo, mas já adianto que comecei a escrevê-lo e acho que vocês vão A-M-A-R!
Espero que saia em breve <3

Beijocas amoras,
~BtsNoona


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