História Incompleta - Novo capítulo

- Eu sei, mas o Marcos quer que você veja como ele tá indo bem no surf, vem ver!

- Ah, eu...

- Vai amiga! - Eu incentivei. - A gente vai daqui a pouco, né Bi? - Falei mirando-a, ela assentiu.

- Então, tá. - Jade cedeu. - Mas me solta, que eu sei andar sozinha! - Disse e Pedro bufou me lançando um olhar entediado, logo os dois estavam se afastando.

- Marcos? - Bianca disse risonha. - O Pedro é doido!

- É, eu adoro esse jeito brincalhão dele. - Falei e ela sorriu. - Mas eu sei que ele vai reclamar muito porque a Jade deve estar falando um monte no ouvido dele.

- Ué, mas não foi ele que veio buscar ela?

- Porque eu pedi. - Falei e vi um ar de compreensão passar por seus olhos.

- Entendi. - Ela falou. - A gente precisa mesmo conversar. - Disse me encarando agora mais séria, eu devolvi o olhar. Nós nos encaravamos apreensivas e de repente um silêncio incômodo se fez presente.

Eu sabia que havia muito a ser dito, nós passamos meses afastadas, tivemos uma briga feia e não há como negar o quanto nosso desentendimento nos afetou emocionalmente, porém, nós não sabíamos por onde começar.

Quando eu achava que estava pronta pra falar, não conseguia, e Bianca parecia estar tendo a mesma dificuldade, pois sempre que abria a boca para dizer algo voltava a fechá-la e nada dizia. Toda aquela hesitação estava me incomodando e eu voltei então a sentir aquele frio na barriga, o mesmo que senti quando nos encontramos hoje cedo e temi que tudo continuasse na mesma.

Porém, eu sabia que não podia deixar o medo me dominar, pois sabia que tinha muito em jogo, eu não podia recuar agora. Os meninos se esforçaram muito para promover esse encontro, e pra nós também não foi fácil chegar até aqui. Eu não queria decepcioná-los e também não queria decepcionar a mim mesma, então eu decidi que falaria.

- Bianca... - Falei e ela voltou a me encarar rapidamente.

Sua expressão de alívio por eu ter dito algo chegava a ser engraçada, e eu não pude evitar sorrir, porém me repreendi e tentei conter o riso por pensar que ela poderia se sentir desconfortável, mas ela também riu e foi então que aconteceu algo bem estranho. Nós nos olhamos e começamos a rir, rir não, gargalhar. Pois é, nós caímos na risada e não conseguíamos parar, por mais que tentássemos nos conter.

Permanecemos alguns minutos assim, e eu acabei por me deitar, colocando as mãos sobre minha barriga, que já doía. Ela me seguiu, e aos poucos, as risadas foram cessando, eu a encarei.

- Sabe que de todas as vezes em que eu imaginei que teríamos essa conversa. - Eu comecei, chamando sua atenção, ela se virou pra mim, ainda tentando controlar o riso. - Eu jamais imaginei que começariamos assim.

- Na verdade, eu acho que nós só começamos desse jeito porque não sabíamos ao certo como começar. - Ela disse e eu concordei limpando o cantinho dos meus olhos que haviam lacrimejado por conta das risadas. - Ficamos tão nervosas, que tivemos uma crise de riso.

- Minha mãe sempre diz que é melhor rir do que chorar, então... - Dei de ombros. - Acho que começamos bem, mesmo parecendo duas loucas.

- Verdade. - Ela concordou. - Rir sempre alivia qualquer tensão. Mas agora nós vamos ter que voltar a falar sério, afinal, ainda precisamos ter essa conversa, né? - Disse sentando-se, e voltou a adotar uma expressão séria.

- Eu sei, Bianca. - Afirmei. - Acho que já adiamos isso o bastante, agora é a hora de esclarecer tudo. - Disse e ela assentiu.

- Eu me lembro bem daquela noite, K. - Falou após um breve silêncio, eu a mirei atenta. - Quando a minha mãe chegou no meu quarto dizendo que você tava me esperando na sala, eu fiquei super feliz porque pensei que enfim eu ia poder te contar sobre o meu encontro com o João. - Disse e sorriu pequeno. - Eu não imaginava que você já sabia de tudo, então passei o dia inteiro tentando falar contigo. Eu queria muito dividir aquilo com você, eu estava bem confusa.

- Já eu, passei o dia inteiro te ignorando porque sabia que não conseguiria falar sobre qualquer coisa com você naquele momento. Eu sabia que existia uma grande possibilidade de você estar me odiando quando a noite chegasse, e isso me assustava. - Confessei. - Aliás, esse era um dos meus maiores medo, e se concretizou durante bastante tempo, né? - Disse e ela assentiu.

- Eu senti sim, decepção, raiva, ódio... Um misto de sentimentos. Sentimentos ruins, que eu jamais pensei que pudesse sentir, ainda mais sendo direcionados a vocês, que eram pessoas tão importantes pra mim. - Ela falou, e então se corrigiu. - Que são importantes. - Falou e eu sorri, ela sorriu junto. - O mais engraçado é que eu pensei que aquela seria apenas uma noite qualquer, uma daquelas que a gente conversava um pouco, daí você ficava pro jantar, depois pra dormir e a gente ficava fofocando a madrugada inteira, lembra? - Eu assenti ainda sorrindo, lembrando de como era bom quando fazíamos isso, e então vi sua expressão mudar. - Mas aí, eu desci e vi que você não estava sozinha. Vi você e o Pedro juntos, e por mais estranho que aquilo me parecesse no momento, eu não podia imaginar que aquele era só um início de uma das piores noites da minha vida.

- Aquela noite também não foi fácil pra mim, Bianca. Aliás, toda aquela semana foi bem difícil, e eu realmente só consegui levar aquilo adiante por conta do apoio da Jade, do João e principalmente do Pedro. - Sorri levemente lembrando o quanto ele tinha sido cuidadoso comigo. - Ele insistiu pra ir comigo, não queria que eu fosse te enfrentar sozinha, porque já esperávamos que você reagisse mal. Nós sabíamos que não seria fácil, assim como de fato não foi.

- Mas não tinha como eu reagir de outro jeito, Karina! - Afirmou veemente e eu sabia que ela estava certa. - Eu sofri muito no meu término com o Pedro, e me doía demais saber que ele estava bem, estava seguindo a vida e já tinha alguém, assim, tão rápido enquanto eu ainda me sentia tão ligada a ele! - Disse e então respirou fundo se acalmando. - Você estava comigo, você viu o quanto foi difícil pra mim, e acho que justamente por isso me doeu tanto saber que estavam juntos.

- Bianca, eu sei, tá? Eu me coloquei no seu lugar diversas vezes, e eu sei que com certeza também teria uma reação parecida com a sua. - Afirmei a encarando seriamente, ela assentiu. - Mas você também me magoou. - Disse e ela baixou o olhar. - Você me julgou muito mal, achou que estivesse agindo de má-fé, enquanto na verdade, eu pensei em desistir várias vezes do meu namoro por sua causa!

- Karina, eu estava com muita raiva. - Ela disse e então me encarou. - Naquele momento eu não podia julgar nada, e eu confesso que não considerei nenhuma das suas explicações aquele dia. Foi muita informação pra mim, muitas descobertas, e depois de saber aquilo tudo eu não tinha cabeça pra nada. - Disse e então suspirou, e de repente, um sorriso genuíno susrgiu em seus lábios. - Mas hoje eu quero escutar. Agora eu estou pronta pra te ouvir de verdade. O que você tem a me dizer? - Perguntou, e eu sorri por conta de sua atitude, mas então suspirei por saber que a conversa ficaria ainda mais séria a partir de agora.

- Primeiro de tudo, é importante que saiba que eu não sabia que o Pedro era seu namorado. - Falei séria. - Eu o conheci por acaso, e eu confesso que fiquei atraída por ele, mas como nao ficar? Ele é lindo! - Disse e sorri, ela também sorriu. - Mas naquele noite não aconteceu nada entre nós, e eu sequer te conhecia.

- Tudo bem, essa parte eu já entendi, pode ficar tranquila. - Disse e eu assenti.

- A gente se encontrou no colégio no dia seguinte, e acabou rolando um beijo.

- Ah, eu sei. - Ela disse. - Na educação física, não é? - Assenti.

- Pedro não me contou que tinha namorada, e eu também tinha chegado há pouco tempo, não tinha como saber. - Reforcei, ela sorriu.

- E foi por isso que depois do beijo você deu uma joelhada nele? - Ela perguntou, sorri lembrando das nossas provocações.

- Não. - Neguei. - Na verdade, foi porque... - Parei de falar ao perceber uma coisa. - Como sabe disso? - Perguntei, ela sorriu.

- João. - Respondeu dando de ombros, assenti.

- Bati nele porque ele mereceu. - Respondi por fim. - E eu só te conheci depois da aula, e só soube quem era o seu namorado no dia seguinte. - Completei.

- Tá, eu me lembro que você disse que brigou com ele por causa disso, porque pensou que ele tinha te usado pra se vingar da noite em que eu fiquei com o Lírio, não foi?

- Isso! - Confirmei. - Eu fiquei mal Bi, e o pior é que eu sequer sabia o porquê de me sentir tão culpada, se na verdade mal, nos conhecíamos. - Confessei. - Mas o Pedro falou que não era nada disso. Ele me procurou depois que vocês terminaram e disse que eu não tinha que me sentir assim, afinal, foi ele quem errou. Ele conseguiu me convencer, mas eu ainda estava chatiado por conta da mentira dele.

- Você não sabia, então você não me traiu nesse aspecto, ele sim. - Disse e eu assenti.

- Ele foi bastante insistente, disse que estava mesmo interessado em mim, e eu também já estava gostando dele, então resolvi dar uma chance. - Sorri contando.

- Mas namorar, namorar, foi só depois, né? O Cobra me disse que vocês só começaram a namorar no dia da festa na casa do Duca. - Falou e eu assenti. - Ele também me falou que você ficou mal antes disso... Por que?

- Eu me apeguei muito rápido a você e a sua família, Bianca. - Comecei a explicar. - Por muito tempo fomos só eu e minha mãe, e com a doença, eu sentia cada vez mais medo de ficar só. - Disse sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos, ela percebeu minha fragilidade e pegou minha mão, sorri por conta disso. - Mas então, quando chegamos aqui, sua família nos acolheu e eu senti pela primeira vez que fazia parte de um lugar. Tia Dandara foi maravilhosa acompanhando minha mãe no tratamento, você foi super legal comigo, o Cobra e o Gael também, e depois eu ainda descobri que minha mãe é sua madrinha... Tudo isso me deixou muito apegada a vocês, foi o mais perto que eu cheguei de fazer parte de uma família, sabe? Eu não queria perder isso. - Falei limpando uma lágrima que havia rolado, ela assentiu me mirando atentamente. - Mas ao mesmo tempo que eu já sentia que tinha uma ligação com vocês, eu também me sentia ligada ao Pedro. O que eu sentia por ele crescia a cada dia e com ele parecia acontecer o mesmo, mas ele ficava inseguro por conta da minha resistência. Pedro queria que eu parasse de hesitar, queria que nos envolvessemos de verdade, mas eu sabia que se escolhesse avançar na minha relação com ele, estaria correndo um grande risco de perder nossa amizade de vez, e ele também sabia que era difícil pra mim, então me deu um prazo para que eu decidisse.

- Acho que agora é a hora em que eu tento me colocar no seu lugar. - Ela falou. - Nossa amizade era recente, mas era importante pra você, porém, o que você sentia pelo Pedro também era importante. - Disse e eu assenti. - Então, você decidiu priorizar esse sentimento e escolheu ele. - Assenti novamente, ela suspirou. - Talvez eu tivesse feito o mesmo. - Confessou.

- Mas antes de eu tomar essa decisão, eu tive que me preocupar com muitas questões, eu tinha muitas dúvidas. Uma delas era se eu realmente não estava atrapalhado que você e Pedro tivessem uma segunda chance.

- Sério? - Perguntou e eu assenti. - Mas se você tinha certeza de que ele gostava de você, porque ficou pensando na nossa possível reconciliação?

-  Porque e ouvia você falar o quanto vocês se amavam, o quanto eram felizes juntos, o quanto você queria tentar de novo... E de tanto ouvir o quanto vocês eram um casal perfeito, eu comecei a me questionar se o melhor não era vocês voltarem realmente. - Disse e então suspirei. - Mas então a Jade, que conhecia vocês, que acompanhava o namoro e tudo, me falou que eu tinha que seguir o meu coração e ficar com o Pedro porque não tinha chance alguma de vocês voltarem. Essa reconciliação era só uma ilusão que você tinha criado pra tentar sofrer menos, porém, isso só te fez mal.

- Ela tava certa. - Bianca afirmou. - Agora eu percebo que nossa relação estava muito desgastada, não era mais a mesma há muito tempo, mas eu não queria acreditar, não queria abrir mão dele. Eu percebia que ele estava distante, mas acreditava que era só uma fase, que logo ficaríamos bem, mas isso não aconteceu. Ele também estava insatisfeito, e acho que mesmo que não tivesse acontecido aquele deslize meu com o Lírio, nós teríamos terminado. - Ela admitiu. - O que eu sentia por ele não era mais amor, era apego. Eu não queria desapegar, não queria sair da minha zona de conforto, por isso lutei tanto a favor dessa relação. - Completou e eu a encarei suspresa por suas palavras. - Mas mesmo entendendo isso agora, ainda é difícil entender o porquê de a Jade ter apoiado tanto vocês, afinal, ela era minha amiga primeiro!

- Eu sei, mas você conhece a Jade. - Falei e ela suspirou. - Eu também me afeiçoei a ela rapidamente, ela foi minha confidente, e sabia o quanto você era importante pra mim, e o quanto eu gostava do Pedro também. E além do mais, ela também queria te ajudar, Bianca.

- É, eu lembro bem quando ela começou a fazer campanha pra eu esquecer logo o Pedro.

-  Porque ela sabia sobre nós, então sabia que o Pedro não estava mais interessado em você. Ela só queria te ajudar a superar. - Falei e ela assentiu.

- E quando foi que vocês começaram com aquele plano infalível para me aproximar do João? - Perguntou curiosa, sorri.

- O Cobra descobriu sobre o nosso namoro muito rápido, e mesmo que a Jade tenha o convencido de não contar nada pra você, eu sabia que não podia esconder por muito tempo. - Comecei a explicar, ela me escutava atenta. - O João já tinha confessado ao Pedro os sentimentos dele por você, e como o Pê apoiou, o João não tinha mais desculpa pra não tentar, porém, ele não tinha coragem de chegar em você, ainda mais depois do que aconteceu na festa, e tudo só piorou quando vocês se esbarraram e ele derrubou suco em você. - Falei e sorri ao lembrar o quanto ela ficou irritada. - Sério, você parecia estar com ódio do coitado!

- Ah, eu já estava irritada pelo fora que ele me deu. - Disse dando de ombros. - O suco foi só uma desculpa pra eu poder xingar ele em paz. - Falou sorridente. -E eu também não tinha como saber que ele gostava de mim.

- Pois é, e por conta desse impasse eu tive a ideia de escrever as cartas, e fui totalmente apoiada pela Jade e pela Tomtom. - Falei e ela se espantou por conta da participação da mais nova. - E então após a confirmação do João, surgiu a "Operação Joanca"!

- Operação Joanca? - Disse rindo, eu assenti.

- A gente realmente achou que seria mais fácil contar pra você se você estivesse envolvida com alguém, e o João era o cara perfeito! - Falei e ela concordou num meio sorriso. - O plano até que tava dando certo, você recebeu a primeira carta e ficou toda boba, já queria saber da próxima e a gente só estava esperando vocês se acertarem pra te contar tudo, mas aí a Bárbara apareceu, teve toda aquela confusão com o Cobra e a Jade, e então nossos plano teve que ficar um pouco de lado.

- Aquela Ruiva desgraçada só serve pra estragar as coisas! - Falou e eu concordei. - Ah, e a propósito, eu gostei muito do que você fez na cara dela. Ficou até mais agradável de olhar. - Disse e eu ri. - Pena que já voltou ao normal.

- A Jade ficou mal, você brigou com o Cobra, ele saiu de casa... - Voltei a contar. - O clima tava meio pesado pra romance. Mas aí, os meses passaram, a Jade melhorou, retomanos nosso plano.

- E por que você não me contou sobre você e o Pedro nesse meio-tempo? - Perguntou, eu suspirei.

- Eu tive medo, Bianca. Você já estava brigada com o Cobra, e eu sabia que você também romperia comigo e com a Jade, eu não queria que se diatanciasse de todos nós.

- Mas no fim, foi isso o que aconteceu. - Falou cabisbaixa. - Esse seu medo não adiantou de nada.

- Eu sei que eu fui covarde. - Falei pegando sua mão com cautela, ela me encarou. - Eu fui adiando, adiando, e achei que com o tempo ficaria mais fácil, mas me enganei. Tudo só ficou mais difícil, porque nossa amizade foi ficando maior e acho que por isso eu fui postergando isso até o limite.

- E qual foi o limite? - Perguntou me encarando seriamente, suspirei.

- A Bárbara. - Falei de uma vez, ela franziu o cenho.

- O que aquela desgraçada tem a ver com isso?

- Você lembra que teve um dia que eu passei mal e acabei desmaiando? - Ela assentiu. - Nesse dia, eu tava com o Pedro na biblioteca, a gente costumava se encontrar lá e passávamos o intervalo todo juntos, mas nesse dia ele teve que sair mais cedo porque tinha um jogo. Eu resolvi ficar mais um pouco na biblioteca só pra despistar, e então a Bárbara apareceu. - Disse e então suspirei. - Ela veio toda sorrateira, cheia de melindres, mas eu sabia que ela não estava ali por acaso, e no fim ela jogou na minha cara que sabia sobre mim e o Pedro.

- Então você me contou porque ela te ameaçou? - Perguntou e eu neguei.

- Ela não me ameaçou. - Expliquei. - Você sabe que ela não gosta muito de você, e...

- É recíproco. - Bianca me cortou, eu assenti.

- Ela disse que não te contaria porque via algum tipo de vantagem nisso, como se eu estar com o Pedro fosse bom pra ela de algum modo, como se fosse um tipo de vingança. - Ela franziu o cenho. - A Bárbara achava que melhor do que te contar, era deixar você continuar a ser enganada. Ela achava que eu fazia de propósito, só pra te sacanear, então disse que não te contaria por enquanto. - Expliquei e ela assentiu.

- Ela achava engraçado que eu estivesse sendo feita de trouxa. - Bianca disse irritada, suspirei e ela percebeu meu desconforto. - Ela pensou mais ou menos como eu quando descobri, achou que você fosse uma falsa.

- Mas ela tava errada. - Eu assegurei. - Eu jamais faria nada pra te magoar, principal de propósito. Pra você ter uma ideia, só de pensar que alguém poderia usar meu namoro pra te magoar, eu fiquei mal, e até desmaiei. - Falei e ela assentiu em meio a um suspiro. - Depois disso, eu decidi que não podia ficar nas mãos dela. Eu não podia correr o risco de você ficar sabendo por ela, porque sabia que ela distorceria tudo e sua reação seria ainda pior.

- E então, armaram meu encontro com o João.

- Na verdade, nós só adiantamos o seu encontro, porque eu e Pedro já tinhamos decidido te contar após isso. Nós sabíamos que o João não teria chance se tentasse se aproximar depois disso, e ele te esperou por tanto tempo... - Falei e ela sorriu. - Achamos que ele merecia uma chance.

- Eu fiquei surpresa, eu juro que nunca cogitei a hipótese de ser ele o meu admirador, mas quando eu descobri, eu gostei. - Disse ainda sorrindo. - Ele foi tão sincero, falou dos sentimentos com tanta intensidade... - Ela suspirou. - Eu realmente achei que podíamos ter algo, mas aí, o dia seguinte veio, e junto dele vieram todas as revelações e eu fiquei perdida. Não só em relação ao João, mas em relação a tudo. - Falou baixando o olhar.

- Eu sei que a partir desse dia tudo só piorou pra você, e eu sinto muito por isso. - Afirmei sincera. - Você passou por uma fase muito difícil, e pior, se isolou de todos e quis enfrentar tudo sozinha... Você foi muito forte, sabia? - Falei e ela sorriu.

- Acho que nós duas fomos fortes. - Ela corrigiu. - Você também sofreu, você mesma admitiu, mas também foi corajosa por não ter desistido de mim, mesmo com toda a minha revolta.

- Eu confesso que me senti aliviada por me livrar desse segredo, foi bom poder parar de fingir, mesmo sabendo das consequências. E além mais, não dava para continuar a namorar escondido, não só por conta de estarmos mentindo pra você, mas também por nós. O Pedro já estava me cobrando havia um tempo, e eu também estava querendo um namoro decente, mas eu acho que nós acabamos pecando no entusiasmo.

- Cê tá falando daquele dia em que eu quebrei o celular da Sol, né? - Perguntou e eu assenti. - Ai que vergonha! Eu exagerei, não devia ter feito aquilo.

- A gente que não devia ter se beijado na sua frente. - Eu falei. - Você tinha descoberto há muito pouco tempo, não deu tempo pra você digerir a situação. Você estava muito frágil e querendo ou não o beijo soou como provocação, mas eu juro que não foi. O pessoal que se empolgou, e o Pê acabou se empolgando junto. - Ela assentiu compreensiva. - Eu fiquei muito preocupada quando te vi sair daquele jeito, então fomos atrás de você, mas acabamos discutindo novamente, e só piorou porque você também brigou com seu pai, discutiu com sua mãe e também estava brigada com o Cobra.

- É, eu me senti muito sozinha mesmo. - Confessou baixinho, seus olhos marejaram e ela desviou olhar. - Eu fiquei muito confusa, Karina. Eu não conseguia entender como vocês se diziam ser meus amigos se tinha mentido e me enganado. Eu me senti traída, parecia que tudo o que eu acredita tinha perdido o sentido... - Uma lágrima rolou por seu rosto, ela a limpou rapidamente. - Foi horrível.

- A gente percebeu seu afastamento, e isso só nos preocupou ainda mais. - Falei chegando ainda mais perto dela. Na verdade eu queria abraça-la, mas não sabia se podia ainda. - Mas você não queria aproximação, nem com a gente nem com ninguém.

- Eu não conseguia confiar. - Disse enquanto mais lágrimas banhavam seu rosto. - Em ninguém. - Afirmou e então morreu o lábio reprimindo um soluço. Vê-la daquele jeito, tão fragil, me fez imaginar o quão difícil foi passar por aquele momento de decepção sozinha, e pensar nisso fez meu coração doer e as lágrimas também chegaram aos meus olhos. - Eu pensava que se vocês que eram meus amigos, tinha sido capazes de me trair daquele jeito, os outros fariam ainda pior! Então decidi que o melhor era ficar mesmo sozinha. Pelo menos assim eu não corria o risco de me magoar. - Completou com um meio sorriso triste, suspirei.

- Ah Bianca, me desculpa! - Pedi já não me contendo e a abracei. - Eu juro que não queria fazer você se sentir tão mal. - Disse agora sentindo as lágrimas molharem meu rosto. - Me desculpa, por favor! Fazer você sofrer nunca foi a minha intenção e me doeu muito ficar longe de você. - Suspirei. - Eu senti tanto sua falta!

- Eu também senti a sua. - Ela confessou ainda abraçada a mim. - E eu me amaldiçoava por isso todos os dias. - Disse e então me encarou. - Eu me recusava a sentir saudades de vocês, mas a verdade é que são muito especiais na minha vida, e agora que estou com o João, percebi uma coisa. Eu não posso mudar meus sentimentos. Ninguém pode, por isso João me esperou por tanto tempo, por isso você escolheu ir adiante na sua relação com o Pedro, e por isso também, não importa quanto tempo passe, vocês sempre serão especiais pra mim. - Completou e eu sorri.

- Então você me desculpa? - Perguntei ansiosa, ela suspirou.

- Sim. - Disse e eu a abracei novamente. - Eu entendi que não fez para me magoar, então eu desculpo.

Eu estava tão feliz por ouví-la dizer aquilo que só sabia sorrir. Mas então ela me encarou mais séria e disse:

- Mas acontece que mesmo sem querer, você me magoou. - Falou, eu fiquei tensa. - Não dá pra esquecer, Karina. Eu me decepcionei com vocês, e essa decepção vai ser uma marca que eu sempre vou carregar, mas a amizade de vocês também me marcou e é por isso que eu quero tentar. - Ela pegou minha mão, eu a encarei. - Você me disse hoje mais cedo que estava diaposta a reconstruír o que perdemos, e eu fiquei te devendo uma resposta, né? - Assenti ainda ansiosa. - Eu quero. Eu quero reconstruir nossa amizade mesmo sabendo que vai ser difícil, eu quero. - Reafirmou e eu voltei a abraçá-la.

- Nós vamos conseguir. - Afirmei. - É só ter cautela e paciência, e... - Ouvi vozes e sorri ao ver de onde, ou melhor, de quem eram. - Eles vão nos ajudar.

- Hey, vocês disseram que iam encontrar a gente, por que não foram? - Jade questionou assim que nos alcançou, sorrimos.

- Desculpa, tentei segurar ela ao máximo, mas não deu, esquentadinha. - Pedro se desculpou, Jade franziu o cenho.

- Me segurar por quê, guitarrista? - Perguntou desconfiada e então nos encarou. - Vocês andaram chorando? - Perguntou analisando nossos rostos, os meninos fizeram o mesmo. - O que aconteceu?

- Tá tudo bem, Bianquinha? - João perguntou, Bianca assentiu se levantando, fiz o mesmo enquanto recebia um olhar preocupado do Pedro.

- Gente, tá tudo bem? - Max perguntou confuso.

- Tá tudo bem? - Jade refez a pergunta revezando o olhar entre nós duas.

Mirei Bianca, ela sorriu pegando minha mão.

- Sim. - Dissemos juntas.

Aquela palavra tão pequena nunca significou tanto, e todos sabiam o peso que ela tinha.

Jade sorriu e nos abraçou, os meninos se juntaram a nós e logo estávamos num barulhento abraço coletivo. Todos eufóricos comemoravam, e no meio daqueles malucos, eu só conseguia pensar no quão sortuda eu sou por tê-los como amigos. Eu só podia agradecer por eles serem tão maravilhosos e, principalmente, por ter conseguido uma nova chance na minha amizade com a Bianca.

Eu sabia que não seria fácil, afinal, por mais que tenhamos bons sentimentos uma pela outra, nos magoamos muito, e como ela disse, temos marcas disso. Mas com calma, vamos reescrever essa história, e eu estava feliz e muito ansiosa pois estávamos prestes a escrever o primeiro capítulo.

Pov Pedro

Minhas perspectivas sobre o dia de hoje foram mais do que superadas. João, assim como eu, temia que nossa tentativa fosse um completo fracasso e que nossas namoradas saíssem ainda mais magoadas disso tudo, porém - e ainda bem - não foi o que aconteceu. Elas estavam realmente dispostas a tentar, deixaram isso claro desde o início e só precisavam de um tempo a sós para esclarecer as coisas.

Karina me pediu ajuda com isso, e como eu sou incapaz de negar algum pedido da minha esquentadinha, fiz o que ela pediu. Tirei a Jade de perto das duas, fiz o possível para distraí-la, o que não foi fácil, mas no fim, fui recompensado.

Só de vê-la feliz com as amigas, estampando aquele sorriso lindo, eu já ficava satisfeito. Minha esquentadinha estava radiante, e mais linda ainda sob o sol e em frente ao mar e nos divertimos muito junto aos nossos amigos.

- Cara, você viu o quanto elas estavam felizes? - João perguntou quando chegamos em casa.

Já era final de tarde, tínhamos chegado há pouco tempo e assim como nossas namoradas, éramos só sorrisos.

- Claro que vi, Johnny! - Afirmei pulando na minha cama. - Eu não sei o que elas conversaram, mas foi essencial para esse novo passo na amizade delas.

- Com certeza. - Ele concordou. - A Bianca nunca esteve tão feliz, eu sei que ela sentia muita falta das meninas, essa reaproximação vai fazer muito bem pra ela. Se a minha Bianquinha tá feliz, eu também tô. - Falou e eu ri.

- Quem diria, hein mano? Você finalmente namorando a Bianca, eu com a minha esquentadinha, sem precisar esconder de ninguém, e melhor, a Bianca sabe, aceitou e após todo aquele pesadelo as duas estão de bem!

- Finalmente, podemos ficar em paz com nossas namoradas.

- É, temos um descanso por enquanto.

- Por enquanto?

- Ah João, você sabe que ainda temos coisas a resolver, tipo, as nossas namoradas são irmãs, lembra? - João grunhiu em descontentamento por eu tê-lo lembrado disso. - Elas não sabem, e vai ser um baque quando descobrirem

- Não vamos pensar nisso agora. - Ele falou. - Vamos aproveitar a calmaria, Pedro. - Falou e eu ri.

- Vamos aproveitar a calmaria, João. - Concordei.

[...]

Como nós tínhamos passado o dia inteiro fora de casa, tivemos que trabalhar no restaurante a noite, mas isso não foi problem, princialmente pra mim. Eu sabia que ao final da noite eu iria pra casa da minha namorada, a encontraria toda linda me esperando, e receberia muitos beijos da minha esquentadinha.

Eu já estava a caminho da casa dela quando recebi aquela mensagem.

" Cara, me ajuda, eu tô surtando e só tenho você pra desabafar. Tô no QG, e só o saco não tá dando conta. Preciso conversar. "

A mensagem era do Cobra, e mesmo sem saber o porquê de ele estar assim eu já sabia que a minha ideia de noite tranquila ia ter no mínimo um desvio se eu fosse até lá .

" O q aconteceu?"

" Eu briguei com meu pai, quase joguei na cara dele que eu sei de tudo sobre a K, eu só me controlei pq a Bi tava lá. "

Puta que pariu, agora eu tinha certeza que minha noite ia ter um grande desvio.

Mandei uma mensagem pra Karina dizendo que eu ia me atrasar um pouco, e logo depois mandei uma pro Cobra avisando que já estava indo.

Pelo visto, aquele papo de calmaria que eu tive com o João ia ter que ficar pra depois.