História Inconsequente - O mundo parece mais leve

- Hoje nos mudamos.... - ChanYeol murmurou assim que o final das aulas chegou. Já faziam alguns dias que eu estava morando na casa de seus pais e desde então nada demais havia acontecido, nenhuma briga, nenhum olhar torto, absolutamente nada. Todo comumente normal.

Exceto em minha cabeça, a todo momento eu repudiava o feto em minha barriga, cada movimento que o bebê fazia, eu tinha um desespero e uma vontade absurda de esfaquear até que não houvesse mais vida em meu ventre. 

Eu não suportava a ideia de ter um filho, nem mesmo quando estava tudo rolando perfeitamente bem ao meu redor. Ninguém nos julgava, todos ofereciam ajuda, já até mesmo havíamos ganhado presentes para nossa casa nova que eu nem fazia ideia de como era, só sabia que existia por insistência de ChanYeol em dizer que estava animado para nossa vida de casal sozinhos.

ChanYeol era o único que ficava todo feliz e bobo com a família forçada que estávamos fazendo, chegava a ser irônico como eu pude pensar que ele não queria nada comigo quando se exibia todo quando andava de mãos dadas comigo e dizia que eu teria que passar minha vida toda olhando para ele agora, mesmo que eu não quisesse mais ele ou não o amasse da mesma forma.

- Hm, quando chegarmos, eu te ajudo com as coisas. – Eu não sabia o que faltava para a mudança, não participei de nada daquilo, era tudo com ChanYeol e seus pais enquanto eu dormia o dia todo.

- Não, depois do almoço vamos ao médico ver como está nosso bebê. – Sussurrou enquanto descíamos as escadas e tudo o que passava em minha mente era que agora meu tênis podia desamarrar e me fazer rolar escada abaixo. Se tivesse sorte, quem sabe eu não morreria também?

- Tá... – Respondi seco, finalizando a conversa ali, mas pelo suspiro que ele deu, já sabia que estava chateado com a minha falta de ânimo para “UHU, VAMOS SABER O SEXO DO FETO”.

Mas o assunto acabou ali e aquilo, por ora, me deixou feliz.

X

Um dos principais pontos para eu odiar ainda mais minha gravidez, eram as malditas azias, não importa o que eu como, saudável ou não, elas sempre apareciam e me faziam querer morrer por tamanho o inferno em meu estômago, e não era só uma coisinha boba que passava com antiácido, eu vivia constantemente colocando tudo o que havia comigo para fora e aquele era um dos momentos que isso acontecia.

ChanYeol me segurava pelos ombros e tirava meu cabelo da testa, não me deixando ir ao chão por conta da tontura que sempre me atacava ao vomitar. Ele sempre estava ali, do meu lado, me ajudando, cuidando de mim de todas as formas possíveis, sem nunca reclamar e sempre deixando um beijo na ponta do meu nariz para dizer que me amava em seguida.

Aquilo era uma das poucas coisas que ele fazia que sempre me deixava feliz, mas também estava começando a me sufocar, porque me sentia um bibelô que poderia quebrar a qualquer momento.

- Eu estou bem... – Murmurei após respirar fundo, eu não queria ser grosso com ele, não quando ele parecia tão animado em entrar naquela sala de ultrassonografia. – Vamos.

- Ok... – É, ele realmente estava muito chateado comigo e aquilo me dava vontade de chorar. Malditos hormônios.

Mas ignorei e me deixei ser levado para o consultório, nada do que eu ouvi era novo ou que eu já não soubesse pelas pesquisas na internet, por isso nem prestei atenção nas várias coisas que o médico dizia, e ele já percebeu isso, por isso não demorou muito a me mandar vestir uma camisola toda aberta, que mostrava toda a minha bunda e barriga, e me mandar deitar numa maca pequena demais para o meu gosto.

Fez todo o procedimento padrão, sem nenhuma anormalidade até então, exceto quando o médico nos colocou para ouvir o coração do bebê e o sorriso que até então estava em seu rosto rapidamente tomou uma carranca séria e preocupada.

- Alguma coisa errada? – ChanYeol indagou preocupado enquanto apertava minha mão, sua expressão antes feliz estava completamente contorcida em choro e tristeza, mesmo me sentindo mal por ele, eu queria que aquele bebê estivesse morto, mas mesmo com alguma complicação, era completamente indiferente a tudo.

- Aparentemente ele tem alguma má formação no coração. Teremos que fazer mais exames e ter certeza que não é uma gravidez de risco. – E pela seriedade do com que falava, era muito grave, mas só estava tentando acalmar ChanYeol. – Mas enquanto não descobrimos, querem saber o sexo do bebê?

ChanYeol olhou para mim como se perguntasse se que queria saber, mas na verdade eu não estava nem um pouco interessado, então, apenas acenei positivamente com a cabeça, assim ele ficava ao menos um pouco feliz com alguma notícia boa.

- Vocês esperam uma linda menininha. Podem pintar as paredes e prepararem as coisas, ela chega em 3 meses. – Praticamente tinha os olhos brilhando ao falar aquilo, e ChanYeol então, parecia literalmente brilhar com a notícia, fiquei feliz por um único momento, porque antes de tudo, em um futuro, eu queria ter uma única filha menina para paparicar e mimar, e aquele foi o único motivo para uma lágrima solitária descer por meu rosto.

- Vamos preparar tudo... – Chan sussurrou todo feliz, logo pegando o celular e ligando para SeHun para dar a notícia de que seria pai de uma menina.

- Aproveitando que ele está ocupado, eu vou falar com o senhor, que parece o mais sensato aqui e vai se abalar menos com a notícia. A filha de vocês possui uma deficiência cardíaca grave, e nos primeiros meses, ela vai precisar de todo o cuidado do mundo, assim como o senhor, então, quero fazer a recomendação de repouso total, uma mudança na alimentação e que tome muito cuidado com o seu humor, qualquer mínimo stress pode ser letal para os dois...

E mais uma coisa entrava para a lista de coisas que eu odiava por estar gravido. Por causa dessa merda de gravidez, eu podia morrer por simplesmente ficar triste com a porra de vida que estava levando.

- Eu não sou nem um pouco sensato, fale com ele... – Murmurei sem nenhuma intenção de ser grosso, mas saiu de forma involuntária, assim como as lágrimas que seguiram quando ele começou a explicar a situação para ChanYeol, me aconselhando também um psicólogo, por achar que eu estava extremamente deprimido.

Apenas isolei minha mente quando começaram a falar daquilo, era só aquele feto sair da minha barriga logo que eu ficaria bem, não tem depressão nenhuma, eu só não estou feliz com essa vida e com essa gravidez.

Continuei trancado em meu mundo quando fizeram o restante dos exames, respondendo de modo automático apenas o que me era perguntado, sempre tentando conter o choro que insistia em brotar de maneira silenciosa em meus olhos. E ao final de tudo, a única coisa que eu queria era ir pra casa dormir, e por ironia do destino, era para o apartamento novo, no qual eu não fazia ideia de como era.

- Baek... podemos conversar? – Indagou assim que saímos do hospital, seu tom de voz era calmo e ele realmente parecia preocupado comigo. – Você não está bem, não é?

- Podemos fazer isso em casa? Não quero desabafar na rua... vou acabar chorando além da conta e estou com dor nos pés... – Sem nem mesmo expor o que eu estava sentindo, já estava chorando de forma audível, como se tivesse falado tudo o que me incomodava e me deixava tão mal durante esses dias todos e seu abraço que veio logo em seguida me fez ter certeza de que eu estava em cacos, a beira de virar pó.

Tão longe de ser o BaekHyun que fui um dia por causa de uma pessoa que nem havia pedido para nascer, e pior, eu a repudiava com todas as minhas forças mesmo sabendo que ela precisaria de mim para tudo por um longo período de tempo.

Se antes eu já estava me sentindo mal, agora eu me sentia o pior tipo de pessoa do mundo. E ainda assim, tinha o amor da minha vida me abraçando e disposto a me ouvir.

- Eu sou um monstro...

Foi a única coisa que consegui dizer entre as lágrimas.

- Você não é um monstro, é uma pessoa incrível que está passando por um momento ruim, hm? – Me abraçou com força quando notou meu estado e eu estava precisando daquilo como nunca. – E eu vou te lembrar disso todos os dias, hm? Ou se esqueceu que agora somos praticamente casados? Igualzinho quando a gente começou a namorar e dizia que iria fazer.

Dei um pequeno sorriso com aquilo, era fato que a gente fazia planos de casamento quando começamos a namorar, a ideia de uma cozinha toda colorida, um quarto cheio de pontinhos brilhantes no teto e uma luz negra para fazer tudo brilhar mais ainda, ter uma coleção de jogos de todos os tipos e uma rede de casal na varanda para poder observar as estrelas enquanto estávamos juntos. Me lembrar daquilo fez uma pequena onda de felicidade tomar conta de mim.

- E se você quer saber, a nossa rede já está lá. Eu te prometo que vou manter todas as minhas promessas, a de estar do seu lado e de ser a pessoa que você escolheu para andar com você. Eu te amo, BaekHyun e juro pela minha vida que vou fazer o possível e o impossível para ver você sorrir de novo, exatamente como está fazendo agora...

Senti seu carinho em minha bochecha e meu sorriso apenas aumentou... ChanYeol era um sonho, tão perfeito que parecia não ser real, parecia ser apenas mais um dos escapes que eu geralmente usava quando era criança e meus pais brigavam comigo.

Parecia apenas um ser imaginário que minha mente perturbada criou para fugir daquela realidade horrível.

Mas não era, seu toque era real demais e seu sorriso sincero demais para minha mente criar. Felizmente, ele era real e estava ali, do meu lado, sorrindo para mim e pronto para me beijar...

- Nunca se esqueça que eu te amo, hm?

E depois daquilo, deixou um beijo suave em meus lábios que fez o mundo parecer menos pesado para mim....