Luke e Harper chegaram a casa dos pais dele animados. O que eles esperavam tanto finalmente tinha acontecido: ela havia se mudado de vez para o galpão, deixando seus pais e as regras deles para poder seguir sua vida.
- Ah, até que enfim - disse Liz quando viu os dois entrando.
- Nós nem demoramos, saímos assim que desligamos o telefone - disse o loiro.
- Eu tenho minhas dúvidas, mas vamos deixar isso pra lá- disse Ben fazendo eles rirem e levando um leve tapinha de Kyara como quem diz: deixa eles.
- Como vocês estão? - perguntou Andrew cumprimentando os dois.
- Agora muito bem - disse Harper com um sorriso.
- E vão nos contar como tudo aconteceu? - perguntou Kyara.
- Vamos - disseram os dois juntos.
Eles contaram tudo o que havia acontecido na noite anterior. Mas não era como se lamentassem pelo que tinha acontecido, pelo contrário, era nítido no sorriso deles, na forma de falar e como seus olhos brilhavam quando um olhava para o outro se lembrando do que tinha acontecido, que eles estavam felizes por finalmente poderem viver o amor da forma deles. Por mais que as coisas não devessem ser assim, para Harper, continuar na casa de seus pais significava deixar a chance de ser feliz ir embora depois de lutar tanto.
- Seus pais devem estar furiosos - disse Liz com um tom de lamento em sua voz.
- Nós sabíamos que eles ficariam, de qualquer modo, se a Harper não fizesse o que eles queriam eles não iam se conformar - disse Andrew - só não queríamos que as coisas tivessem chegado a esse ponto.
- Esse conflito não acabou aqui - disse Ben para eles - espero que vocês se lembrem disso.
- Sim nós sabemos - disse a garota - eu ainda estou preocupada por causa da faculdade. Eu sei que meus pais são influentes e tenho medo que eles façam alguma coisa, mas eu não poderia ficar parada esperando que eles fizessem algo que eu não ia poder mudar.
- Nós entendemos - disse Kyara - quanto mais tempo você demorasse pra sair, a chance deles de planejar algo para afastar vocês dois, seria cada vez maior.
- A nossa preocupação era que eles tentassem tirar ela daqui a força - disse Luke.
- Mas não sabemos o que eles vão fazer agora - disse Liz.
- Eu não acho que eles venham me procurar - disse Harper - eles não se dariam ao trabalho. É bem mais fácil falar que eu sou a filha rebelde que fugiu de casa e me deserdar.
- Ainda assim Harper, o mundo dá voltas e não sabemos o que pode acontecer amanhã - Kyara tentava argumentar com eles.
- O que me preocupa é que eles usem os contatos que eles têm para fazer alguma coisa.
- Seus país conhecem muita gente mas não sabemos o que outras pessoas fariam para ajudar eles - disse Ben.
- Acho que aqui não entram os favores - disse Luke - e sim o pagamento.
- Isso sim é preocupante - disse Liz.
- Seus avós não sabem, não é? - perguntou Andrew.
- Não como tudo aconteceu. Sabiam apenas que nós iriamos morar juntos.
- O que acha que eles vão fazer quando descobrirem?
- Isso vai causar uma guerra entre eles - Harper sabia que isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde.
- Não acha que seus avós vem atrás de você? - Liz parecia preocupada.
- Com certeza eles vem, mas queria ter a chance de contar tudo antes. Do mesmo jeito que fizemos quando Luke pediu a permissão deles.
- Luke fez o que? - Ben perguntou escondendo o riso.
- Eu pedi - disse o loiro de forma calma.
- Tudo bem, eu quero detalhes dessa historia - disse Kyara rindo.
- Não tem detalhes - ele riu - Eles me convidaram no dia que saíram com a Harper sem os pais dela saberem, eu aproveitei a oportunidade e falei com eles da forma certa, pedindo a permissão deles.
- Nós contamos o que estávamos planejando fazer e eles apoiaram, mas ainda não sabem como tudo o que aconteceu.
- Eles não sabem sobre o bebê? - Liz perguntou.
- Não - disse a garota cabisbaixa - acho que isso iria piorar tudo naquele momento. Com toda certeza meus avós iriam surtar.
- Iriam mesmo.
- Por mais que eu ache que eles devam saber, isso não pode ser dito assim.
- Sabemos que você vai contar para eles, é um direito deles saber como tudo aconteceu.
Liz entendia, assim como os outros naquele momento, que se Harper tivesse contato tudo o que havia acontecido antes, talvez ela não teria conseguido sair da casa dos pais, ninguém sabe o que eles poderiam ter feito.
- Eu fiquei com medo - disse a garota - medo do que pudesse ter acontecido. Minha mãe disse que eu ter perdido meu filho foi uma benção que o destino estava me dando. Vai saber o que ela poderia querer fazer comigo e com ele caso ele ainda estivesse aqui. E pior, ela não se importou com nada do que aconteceu depois, não se importou comigo e ainda se aproveitou da situação pra dizer que eu estava errada e que eles estavam fazendo o que era certo pra que eu fosse "feliz". Meus avós vão surtar quando descobrirem isso e eu tenho medo pela saúde deles.
- Vocês está certa - disse Andrew - vocês vão precisar prepare eles para o que vem por aí. E se prepararem para quando seus pais descobrirem que vocês contaram.
- Eu espero que eles entendam a demora - disse ela pensativa - não só por mim, mas por eles também.
- Sim - disse Liz - você não está se preocupando apenas com vocês, mas como seus avós iriam reagir a tudo isso.
- Minha avó faz jus ao nome que tem, ela parece uma leoa quando defende o que acredita. Sempre foi contra a forma com que os meus pais me criaram e sempre fez de tudo para que eu continuasse sendo a mesma Harper.
- Aconteceram muitas coisas que seus avós não sabem - disse Kyara.
- Mesmo que eles te apóiem e entendam tudo o que aconteceu, eles precisam saber de tudo e como as coisas chegaram a esse ponto - disse Liz.
- Você já pensou em contar tudo isso para eles? - perguntou Ben.
- Já mas pretendo fazer isso quando as aulas começarem, porque já tinha combinado com eles.
Harper realmente queria poder compartilhar com os avós tudo o que estava sentindo, contar que eles poderiam ter sido bisavós caso ela não tivesse perdido o bebê de forma cruel. Mas ela se preocupava com o que poderia acontecer quando eles descobrissem como as coisas tinha acontecido.
- Seus avós vão ficar felizes por te verem feliz, mas ao mesmo tempo... - Luke preferiu não terminar a frase.
- Eles vão ficar furiosos quando descobrirem que eu perdi meu filho por causa da minha mãe.
- Espero que eles se mantenham calmos - disse Kyara com um leve tom de preocupação em sua voz.
- A minha vó vai ficar louca da vida, eu conheço ela. Mas meu vô ele é mais calculista, não vai agir pela emoção. Ele sempre viu o que meus pais faziam e nunca deixou, mas nunca bateu de frente com eles porque sabia que isso só iria piorar.
- Seu avô conhece bem o filho que tem - disse Andrew.
Paul não conhecia apenas o filho que tinha, mas a neta também. Harper nunca foi de dar trabalho, só não queria seguir os passos de seus pais e ter a mesma vida que eles, e isso não era ser rebelde, era ter vontade própria.
- Meus avós vão saber lidar com isso, eu sei que vão. Eu só não sei quanto isso vai acontecer.
*****
Algumas semanas já haviam passado desde que Harper tinha ido morar com Luke. Em poucos dias suas aulas começariam e ao mesmo tempo que ela estava animada também estava pensativa se deveria ou não encontrar os avós para conversar.
- Eu desisto - disse a garota se sentando no sofá ao lado de Luke - desisto até de pensar.
O loiro a encarou por um breve momento tentando entender o que estava acontecendo com ela e então lembrou do dilema.
- Afinal, do que exatamente você está desistindo?
- Acho que de contar para os meus avós tudo o que aconteceu.
- Eles vão entender que você precisou digerir isso antes de contar pra eles.
- Eu esperava que já tivesse digerido tudo isso quando eu mudasse pra cá.
- Talvez fosse mais fácil - disse ele abraçando ela - mas não de uma hora pra outra.
- As vezes fico pensando se as coisas tivessem acontecido de uma forma diferente.
- Nunca saberemos o que poderia ter acontecido. Talvez tivesse sido mais complicado.
- As vezes eu queria entender porque tudo tem que ser tão difícil, tão complicado.
- Porque se fosse fácil não teria graça.
- Você está quase falando que se as coisas fossem fáceis eu ficaria entediada.
- Eu sei que ficaria. Mas as coisas sempre acontecem quando tem que acontecer.
Luke estava certo, por mais que eles tentassem, planejassem e torcessem muito para que as coisas acontecem da forma como eles queriam, a verdade é que quase nunca acontecia. Mas no momento certo as coisas começavam a se encaixar é o caminho deles era traçado não de forma convencional, mas da forma que tinha que acontecer.
- Eu sei - disse ela pensativa - eu sei...
Harper deu um suspiro e se aconchegou nos braços do garoto. Mesmo que ela tivesse finalmente conseguido sair da casa de seus pais, as coisas não mudariam da noite para o dia. Os machucados que foram feitos ainda precisavam cicatrizar.
- Sabe - disse Luke tirando a namorada de seus pensamentos - você não precisa contar o que aconteceu agora, pode falar com eles e dizer que está bem. Quando você se sentir pronta para falar sobre o que aconteceu, nós marcamos com eles. Seus avós te conhecem, eles confiam em você.
- Eu espero que isso não demore muito.
- Isso não é você que decide - disse o loiro fazendo cócegas nela - e a faculdade? Está animada?
- Estou - disse ela mudando completamente a feição - mas ainda não separei meus materiais - disse ela se lembrando de algo importante que teria que fazer - eu ja venho.
Harper deixou Luke e foi organizar seus materiais, limpou os estojos e os pincéis. Mesmo que ela não percebesse, o tempo que ela gastava fazendo aquilo que amava, ajudava a cicatrizar aquela grande ferida. Por momento toda a angustia de reviver a perda de seu filho ao contar o que aconteceu para seus avós, deu lugar a expectativa de novas experiências e ao começo de sua caminhada pra se tornar uma artista cada vez melhor. Luke a observava na cama lendo as instruções da faculdade para os calouros, tão concentrada que não viu o loiro parado analisando cada detalhe dela. Era como se aos poucos a felicidade voltasse a invadir Harper, a fortalecendo para enfrentar qualquer coisa, e superar o que já havia acontecido. Mesmo que de forma sutil a esperança estava voltando a andar com eles e Luke não tinha dúvidas de que tinha escolhido a garota certa.
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