História Incontrolável - Agenda negra (parte 2)

Não pode ser! Deve haver algum erro aqui, algum engano ou equivoco... Isso não pode ter acontecido realmente. Meu deus, Jungkook...
Jimin continuava a ler as outras páginas freneticamente, boquiaberto, sem conseguir acreditar no que os seus olhos insistiam em lhe mostrar. 
" Olá, amigo

        desculpe por não ter escrito ontem. Hoje fomos fazer um passeio em família e fiquei de mãos dadas com o papai do inicio ao fim. Ele não desgrudava de mim nem por um momento, disse que compraria sorvete para mim se eu continuasse sendo um garoto bonzinho. Fizemos um agradável piquenique, sorrimos e brincamos um pouco. Minha mãe havia preparado alguns sanduíches de atum, me deliciei em seu sabor único, porque apenas minha mãe faz um sanduíche como aquele. 
Depois que comemos, minha mãe havia sugerido que voltássemos para casa pois a Yoona já estava cansada, mas papai disse que elas poderiam ir porque nós aproveitaríamos mais nossa tarde. Ela não protestou nem nada, nossa casa era perto dali. Tive medo quando o ouvi dizer isso e quando vi minha mãe concordar com um sorriso amável no rosto. Pensei naquela noite em que ele entrou aqui no quarto e me tocou daquela maneira esquisita, mas ele estava tão contente e feliz que parecia que havia esquecido tudo completamente. 
Mamãe ainda estava indo embora quando papai me convidou para visitar um velho amigo dele. Eu assenti e ele sorriu em resposta. Pegamos o metrô e, quando descemos, andamos por uma rua bem longa. Paramos em frente de uma casa enorme, talvez duas ou três da nossa! Papai sorriu e me guiou para dentro. 
Um senhor idoso e barbudo veio nos cumprimentar, ele me ofereceu doces e papai fez que sim. Comi tantos que minha barriga estava enorme! Eles conversavam algo baixinho, mas eu não conseguia escutar nada. Então eu vi meu pai recebendo alguma coisa embrulhado em um pacote.
- Muito bem garotinho, quer mais doce?
Falei que não e ele acariciou minha cabeça, logo depois retirou com um guardanapo creme de chocolate da minha boca.
- Quer brincar? -seus dentes eram muito amarelos quando ele sorriu.
- De que?
- É uma coisa bem divertida, mas não posso contar...
- O que é? 
- Não sei se te conto...
- Mas eu quero brincar!
Meu pai surge por trás dele, pensei que ele iria me repreender mas só pegou um dos meus doces.
- É surpresa!
Fico irritado com ele, por que simplesmente não diz?!
- Fale de uma vez!
- Tudo bem. - ele acende um cigarro. - Tem algo para você no quarto. Suba a escada e vire á direita.
Eu fui. O quarto era muito grande, a luz do sol clareava tudo por dentro, deixando os móveis dourados brilhantes. Mas não havia nada lá, nenhuma surpresa. Eu andei para perto da cama e vi algo embrulhado, bem escondido perto do travesseiro. Abri e vi uma fantasia de coelho. 
- Gosta de coelhos? - O amigo do papai perguntou, entrando no quarto.
- Um pouco. - Joguei a roupa para o lado.
- Não gostou da surpresa? - Ele se agacha um pouco para ficar da altura do meu rosto.
- Achei que era uma bola de futebol.
- Você gosta de futebol? 
- Sim!
- Então vamos fazer um trato: você veste essa fantasia e depois eu compro uma bola para você, certo?
Sorri e corri para o banheiro para vestir a roupa. Ela coube perfeitamente em mim. Fiquei sorrindo quando me vi no espelho, eu estava ridículo! 
Saí do banheiro, senti a maciez do tecido em minha pele, era tão bom. 
Mas eu tive medo quando o vi.
O amigo do papai estava sem roupas e sentado na cama, ele tinha o mesmo olhar que papai tinha quando havia entrado no meu quarto naquela noite. 
- Chegue mais perto. - Ele disse.
Eu não queria me aproximar dele, só queria sair dali. Mas a porta estava fechada. 
- Não tenha medo.
Senti vontade de chorar enquanto caminhava até ele. Por que o papai não não estava ali? Por que ele não estava interferindo? 
- Ficou muito bom em você. - Ele me toca e eu começo a soluçar baixinho. - Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Apenas pense em sua bola de futebol.
Então ele fez exatamente o que papai fez naquele dia. A dor passou mais rápido desta vez, mas ainda dói um pouco.
Depois disso fomos nós três tomar sorvete e ele comprou uma bola para mim, agora posso brincar com meus amigos!
Irei dormir agora, amanhã irei colar aqui a foto da bola que ganhei.
                                                                                                                                                                        Com amor, Jungkook.

Jimin toca com a ponta dos dedos a cola endurecida no papel, sentindo os pedaços da foto que ali havia ainda colados na folha. 
Ele não sabia o que sentir ou pensar naquele momento, estava estasiado com o que acabara de descobrir à repeito daquele homem até então desconhecido para ele, o seu vizinho.
O que ele faria agora para ajudá-lo? Como fingiria na sua frente que não sabia de nada que estava escrito naquela agenda? 
Ele só queria abraçar o Jungkook agora, dizer-lhe que tudo já passou, que está tudo bem. Passou para a próxima página, sentindo uma forte tristeza se acumular dentro de si.
 - Jungkook... - Piscou algumas vezes, as lágrimas se formando em seus olhos.
- O que você está fazendo? 
Jimin sente seu corpo inteiro gelar enquanto esconde a agenda atrás de si o mais rápido possível, torcendo para que seus movimentos tenham sido rápidos o suficiente.

- O que você está fazendo? - Repete Hoseok, coçando os olhos.
- Nada de mais. - Dá de ombros.
Hoseok aponta para o objeto atrás dele.
- Isso por acaso é seu? 
Jimin retira a agenda de detrás de si, olhando-a com desdém.
- Oh, isso é apenas uma velharia que achei por aqui.
- Velharia, é? - Hoseok pega um copo e enche com água da torneira, bebendo logo em seguida. - Só tome cuidado com as coisas dele, esse cara é louco. 
Jimin solta um fraco sorriso.
- Talvez.
- Hum, o que há escrito aí? - Hoseok indica a agenda com os olhos. - São as diversas formas que há para torturar alguém? 
- Deixe de ser bobo!... Por falar nisso, - Jimin se levanta, caminhando em sua direção  - Como está suas costas? 
-Hum? Ah, acho que está tudo bem.
Jimin toca em sua pele, retirando dele um xingamento involuntário. 
- Está doendo? 
Hoseok assente, abaixando a cabeça enquanto sente os leves e delicados toques de Jimin. 
- Não se preocupe com isso, vai passar.
- Não, irei cuidar de você. Espere um pouco, vou ver se tem algo no banheiro. 
Jimin vai para o quarto de inicio, verificando se Jungkook ainda dormia. Pôs a agenda atrás das outras coisas com o máximo de cuidado possível, soltando o ar aliviado ao vê-lo dormir. Estava prestes á dá meia volta e sair do quarto, mas sua mão bate sem querer nos cadernos empilhados, derrubando todos com um baque surdo no chão. 
- Droga, droga, droga!
Jimin apanha-os com agilidade, sentindo seu coração acelerar ao ver a agenda negra também jogada no chão, escancarada. Dá outra olhada furtiva para a cama, mas se assusta ao ver os olhos frios de Jungkook em sua direção. Jimin para o que está fazendo, ficando imóvel á sua frente, percebendo o peito de Jungkook se mover com bastante rapidez. 
- F-Foi um acidente... - Jimin diz, ainda ajoelhado no chão.
- QUEM TE AUTORIZOU Á MEXER NAS MINHAS COISAS? - Jungkook vocifera, saindo da cama rapidamente e acertando o rosto de Jimin em cheio com um soco, fazendo-o cair para trás. 
- Me desculpe! Eu não li nad-
- Ler? - Jungkook franze o cenho por um momento logo depois seu rosto se transforma completamente e a fúria toma conta de seus olhos. 
Ele lhe acerta outro forte soco no rosto, ficando em cima de Jimin enquanto lhe dava outros socos. 
Jimin sente sua cabeça girar, sente o gosto metálico de sangue na boca. Pensa em chamar por Hoseok, pedir ajudar, gritar qualquer coisa, mas foi a escuridão quem chegou mais rápido.