História Incontrolável - Monstro

Hoseok escuta alguns gritos e o som de um baque surdo vindo do quarto, ele corre, escancarando a porta do quarto. 
A cena que viu ao entrar fez seu sangue ferver: Jungkook estava em cima de Jimin dando-lhe fortes socos no rosto, Jimin, por sua vez, estava inconsciente, estirado grosseiramente no chão. Seu rosto já estava começando a ficar inchado e com outra coloração, escorria sangue do seu supercílio, nariz e boca.
- QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! - Hoseok afasta Jungkook de qualquer forma de cima do corpo inerte de Jimin. Olha Jungkook com o rosto vermelho e os olhos arregalados. - ENLOUQUECEU? 
Jungkook se encolhe na parede, abraçando seus joelhos.
- Jimin! Jimin! - Hoseok tenta acordá-lo hesitando em tocar no seu corpo, com medo de machucá-lo ainda mais. - Jimin...
Vê-lo daquela maneira, sem reação, sangrando e com hematomas formando no rosto lentamente, Hoseok não conseguiu segurar sua fúria ao perceber o causador daquele estrago do seu lado.
- Por quê você fez isso com ele? - Perguntou pausadamente, com lágrimas molhando seu rosto sem que ele percebesse.
Jungkook nada respondeu, mantendo seu olhar distante. Parecia que todo o brilho do olhar lhe havia fugido, deixando-o desnudo aos olhos dos outros. Hoseok caminha lentamente ao seu encontro, tentando controlar a respiração. 
- Por que. Você. Fez isso. Com ele? - Repete, segurando seu cabelo.
Jungkook não muda a expressão quando seu cabelo é puxado com força para cima, o fazendo ficar em pé. 
- Por que?! - Hoseok lhe soca o rosto, arrancando um pouco de sangue do seu nariz. 
O corpo de Jungkook tenta cair para o lado, mas Hoseok agarra seu cabelo com mais força, mantendo-o de pé.
- RESPONDA! - Hoseok dá outro soco, dessa vez deixando seu corpo escorregar pela parede.
Passa as mãos pelo cabelo e olha novamente para Jimin, enxugando as lágrimas de seu rosto. 
- Ele não te fez NADA. - Volta-se para Jungkook, chutando suas costelas. - Seu idiota de merda! Filho da puta!
- Ahh... - Jungkook envolve seu corpo com os braços, se encolhendo em posição fetal. 
- COVARDE IMUNDO! - Hoseok cospe nele, voltando sua atenção para Jimin. - Jimin... Eu vou te tirar daqui. 
Segura o corpo de Jimin com delicadeza, o pondo apoiado em seus ombros. Levanta com um pouco de dificuldade, mas continua o segurando  firme. Chuta um caderno chamuscado de sangue do caminho, percebendo logo depois que era a mesma agenda que vira momentos antes nas mãos do Jimin.
- Nunca mais se aproxime dele, - olha uma última vez para Jungkook antes de sair do quarto arrastando Jimin consigo - seu verme! 

- Ai... Ai! AII! - Jimin tenta afastar Hoseok, mas ele segura suas mãos com força e continua passando o pano umedecido com água morna em seu rosto.
- Fique quieto! Já estou acabando. - Retira o algodão de seu nariz. - Ao menos o sangue já estancou...
Hoseok finaliza colocando dois pontos falsos em seu supercílio e um bandeide em seu queixo.
- Pronto. - Sorri de leve, contemplando seu trabalho.
- Não sabia que você tinha habilidades em medicina. - Jimin resmunga, olhando para o seu rosto inchado no espelho. - Acho que isso não vai sarar tão rápido... 
- Não quero que você chegue perto dele novamente, entendeu?
- Isso está muito feio... - Jimin toca de leve no inchaço em sua pálpebra. - Parece uma bunda.
- Entendeu? - Hoseok o vira, o olhando fixamente.
- S-Sim. - Ele abaixa a cabeça. 
- Ótimo. - Hoseok acaricia seu cabelo. - Vou á farmácia comprar alguns remédios para tentar diminuir o inchaço e aliviar as dores. Qualquer coisa me liga, está bem?
- Não vai á faculdade? 
- Não com você nesse estado. 
- Obrigado por sua preocupação, mas não precisa. Eu estou bem, não quero que perca aula por minha culpa. - Jimin toca em seu ombro. - Eu realmente quero te agradecer por está cuidando de mim.
- Isso não é nada. - Hoseok sorri, desconsertado. - E sobre as aulas, o Namjoon pode me passar a matéria depois. - Ele se afasta, caminhando em direção á porta. - Bom, vou á farmácia e não demoro. Enquanto isso descanse um pouco. 
- Hoseok! 
- Sim? - Ele se vira, arqueando as sobrancelhas.
- Obrigado.
Ele sorri, atravessando a porta. 
- Como isso dói... - Jimin se olha novamente no espelho, fazendo expressão de dor. - Essa dor de cabeça insuportável... Ahh!
Desce as escadas devagar, levando em conta que qualquer movimento brusco fazia sua cabeça latejar.
Foi para a cozinha e começou a preparar um café, cortar algumas frutas em cubinhos e fazer torradas ao lembrar que tinha pasta de amendoim na geladeira. 
Já tudo pronto e posto em cima da mesa, Jimin suspira, olhando a casa do seu vizinho pela janela, pensando no que ele estava pretendo quando o machucou daquela maneira. Não estava com raiva dele, constatou isso com certa estranheza, só sentia pena e... medo. Ele chegou longe de mais em suas agressões físicas e saiba lá Deus o que teria acontecido se Hoseok não tivesse interferido. 
Mas como estaria o “acordo” agora? Será que tudo havia acabado, então? O pesadelo havia chegado ao fim? Jimin não teria coragem de vê-lo depois do que houve á pouco. Ou talvez sim, ele já não sabia mais o que se passava dentro de sua mente. Ele só queria nesse exato momento, ser uma mosquinha e espiar o quê Jungkook estaria fazendo agora.

A dor física que sentia em meu corpo não era nada comparado ao rever novamente aquela agenda ou saber que alguém sabia da existência daquela agenda ou que ele á leu... E se ele realmente á leu? Ou se apenas tivesse realmente caído por acidente e ele for inocente? Não sei o que pensar sobre isso, eu não sei o que fazer a respeito.
Quando o vi ali, olhando para a agenda aberta, nunca tive tanto medo na minha vida. Medo de que ele descobrisse a existência dos fantasmas que me rodeiam, medo de sua repudia, ou talvez apenas o medo. 
Medo. 
É essa a minha definição. 
Tenho uma aparência forte, confiante e até destemida, mas não passo de um garoto medroso que se escondia atrás do armário quando criança e... Meu pai...
Eu não quero pensar nisso! Não quero! E essas lágrimas? Por quê estão caindo? Não ás quero aqui! Não quero ninguém aqui!
Quando estava batendo nele, eu não o via exatamente. Via o rosto do meu pai, sorrindo para mim, com aqueles olhos amendoados que me perseguiam á noite. Via o seu amigo, Lee Do Hyun, um cafetão miserável que gostava mesmo era de garotos novos chupando as bolas dele, depois de certo tempo ele me trocou por outro garoto mais novo. Também vi o rosto dele, Dr. Bryan, um dos meus antigos psicólogos. Ele de longe era o pior de todos. Ele... Ele não tinha piedade alguma. Aquele sorriso amarelado ainda afeta meus sonhos á noite. Depois de mais alguns segundos eu vi meu próprio rosto, ferido... sangrando... chorando...
Não sei o que poderia ter feito se Hoseok não tivesse impedido. Jimin não teve culpa... Ele não tem culpa do que aconteceu. É apenas passado, não é? Já passou. 
O que eu vejo no espelho agora? 
Eu não vejo ninguém. Não sou eu quem está no reflexo.
Isso não sou eu. 
Este corpo não sou eu.
Eu não existo.
Deixei de existir no momento exato em que meu pai entrou naquele quarto. Ainda posso ver os seus olhos brilhando em minha direção. A sua voz excitada sussurrando palavras impróprias e consoladoras em meu ouvido enquanto eu era fodido como uma vadia sem escrúpulos, sem levar em consideração de que eu era apenas uma criança...
E agora, o que eu vejo no espelho?
Vejo o reflexo de um monstro faminto atrás de um boneco de fantoche inerte, sorrindo com a mistura dos sorrisos maliciosos que me atormentaram nas consultas, com os olhos de quem esperava um suspiro de prazer meu durante á noite e os toques leves de quem dava uma bola de futebol se fosse um garoto bonzinho.
Sinto eles perto de mim, como se nunca tivessem ido embora do meu lado. 
O que realmente vejo no espelho?
Vejo o monstro se apoderar do boneco, dando-lhe vida e mobilidade. O faz acordar de seu sono profundo e ele começa a dançar alegremente. Mesmo sem música ele dança, arrancando sorrisos e aplausos do seu público imaginário.
Queria não ter feito o Jimin sofrer dessa forma. Se ele leu ou não essa agenda, não importa, suas páginas nunca mais serão vistas. Essa fumaça as levará para o lugar de onde elas nunca deveriam ter saído: para o meu antigo quarto, naquela noite de chuva fresca... Ela irá com o vento, sendo guiada pela mesma música que o boneco dança. 
O que eu vejo no espelho?
Eu vejo um monstro.
Sem aplausos. Sem dança. Sem música.