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História Incontrolável - Capítulo 11


Escrita por: LarryLove

Capítulo 11 - Capítulo 11


Harry despertou lentamente e se espreguiçou antes de puxar o cobertor com mais força contra seu corpo nu... Ao abrir os olhos, ele viu pela janela que havia parado de chover e o sol já aparecia por entre algumas nuvens. Rolando preguiçosamente na cama, ele percebeu que era a primeira vez em muito tempo que acordava sem nem sinal de uma ressaca depois de ter ido a uma festa, mas então ele sentiu um perfume diferente do seu ainda presente nos travesseiros e lençóis, um perfume que o fez sorrir... Louis... Pensar nele e se lembrar de tudo o que aconteceu ali naquela cama fez Harry gemer baixinho e sorrir ainda mais.

Ainda com preguiça, mas um pouco mais desperto, Harry se levantou e procurou o celular, vendo então que já passava de meio-dia e que ele também já tinha recebido algumas mensagens, alguns colegas perguntando por que ele saiu da festa mais cedo ontem e uma do Zayn avisando que passaria por ali mais tarde, uma pontada de frustração lhe atingiu por nenhuma daquelas mensagens serem do Louis, mas provavelmente ele ainda estava dormindo ou tinha acabado de acordar também, já que os dois foram dormir tão tarde.

Harry não conseguia compreender porque Louis estava sempre tão presente em seus pensamentos desde que se conheceram, mas ele já havia percebido que, depois da noite passada, isso só se intensificaria... A atração que ele sentia pelo Louis, a vontade de estar por perto, de tocar, beijar ou mesmo de só passar um tempo conversando e rindo era algo relativamente novo para Harry, ele já havia se relacionado com alguns garotos antes, teve até mesmo um namoro mais sério por quase um ano, mas com Louis era tudo tão intenso, tão novo... E também tão bom que Harry resolveu parar de tentar compreender ou racionalizar tudo aquilo e apenas seguir em frente, deixando as coisas acontecerem.

Depois de ir ao banheiro e de se vestir, Harry foi até a geladeira procurando algo para comer, mas bufou ao constatar que não havia muita coisa por ali e, como já estava na hora do almoço, decidiu que o melhor seria sair para comer fora, até porque ele precisava mesmo ir buscar a sua moto na oficina.

Sem pensar muito, acabou por escolher a lanchonete dos pais do Liam para ir almoçar, até porque não haviam tantas opções assim em Holmes Chapel e porque ele não resistia ao hambúrguer de lá, o lugar não ficava muito longe de sua casa, tudo ali era por perto, então ele foi caminhando calmamente, comeria primeiro e depois buscaria a moto, esperava que ela já estivesse prontinha e sem nenhum dos arranhões que o merdinha do Gabe havia deixado, Harry ainda se irritava ao pensar naquela briga e esperava não encontrar o idiota nem tão cedo.

Harry sabia que sempre, desde novo, teve um temperamento um pouco explosivo para certas situações, tinha plena consciência de que às vezes saía um pouco do controle e também sabia quando e porque aquilo havia piorado.

Algumas pessoas o cumprimentava enquanto ele passava pelas calçadas, afinal de contas todos se conheciam por ali, umas sorriam e outras eram mais antipáticas por conta da fama que ele carregava, mas as pessoas que realmente o incomodavam, e o irritavam, eram as que o olhavam com pena... Desde os quinze anos, desde o terrível dia em que perdeu a mãe, ele era seguido por alguns desses olhares quando saía de casa, e isso sempre o incomodava porque o fazia se lembrar, como se ele precisasse de mais motivos para se lembrar, da perda da pessoa mais importante da sua vida, quando recebia esses olhares ele voltava a se sentir o garotinho indefeso que se sentiu ao perdê-la e ele odiava esse sentimento... Quatro anos haviam passado e às vezes parecia ter sido uma eternidade, mas outras vezes parecia ter sido ontem!

Fazendo o melhor para ignorar todos ao redor, Harry continuou a caminhar para a lanchonete, mas se desviou do caminho ao passar perto de uma pracinha e ser chamado por alguns colegas que estavam em um dos bancos de madeira do local.

-Começaram cedo hoje! – ele riu ao chegar mais perto deles e ver que os três dividiam uma garrafa de vodka.

-É para curar a ressaca de ontem. – Victor, um dos garotos do grupo, e um dos que viviam tentando conquistar o interesse de Harry, sorriu. –Quer um pouco?

-Não, valeu, mas estou indo comer alguma coisa. – Harry colocou as mãos nos bolsos da jaqueta de couro que vestia.

-Quer companhia? – Victor insinuou e os outros três reviraram os olhos enquanto Harry só ria porque já estava acostumado com aquilo, por mais que já tivesse dito várias vezes que não iria rolar nada entre eles.

Victor era bonito, os cabelos negros combinando com os olhos escuros e brilhantes, era quase da altura de Harry e também era divertido, mas Harry nunca teve vontade de ir além da amizade com ele antes e agora, depois do Louis ter aparecido, aquela vontade era ainda mais inexistente.

-Acho que ele já deve ter companhia, Victor! – Kate, a única garota ali no momento, sorriu com diversão para Harry. –Te vimos se agarrando com o tal do Louis ontem!

-Sério que você está pegando logo o filho do Mark? – Joe jogou fora o cigarro que estava fumando e pegou a garrafa, dando um longo gole.

-Ele nem é grande coisa... – Victor resmungou antes que Harry pudesse dizer algo.

-Fala sério, ele é bem gostosinho. – Kate retrucou.

-Ei! – Harry resmungou, fazendo-a rir.

-Ciumento, Harry? – Joe arqueou uma sobrancelha, a verdade é que todos estavam curiosos com aquele envolvimento do Harry justamente com o filho do Mark.

-Acho que vocês já beberam muito. – Harry revirou os olhos para eles e começou a se afastar.

-Espera, vai rolar alguma coisa mais tarde? – Victor gritou.

-Não faço a mínima ideia! – Harry deu de ombros enquanto acenava para eles e voltava a caminhar para a lanchonete.

Aqueles três, assim como alguns outros, eram pessoas com quem Harry gostava de passar o tempo, de se divertir e aprontar por aí, mas ele nem sabia se podia mesmo considerá-los como amigos de verdade, Zayn era o único que o conhecia verdadeiramente, que esteve ao seu lado em cada momento, os bons e ruins. Ainda com esses pensamentos o acompanhando, Harry chegou na lanchonete e entrou, estava bem movimentada, mas ele conseguiu um lugar no balcão e se sentou enquanto olhava ao redor, não viu Liam, nem mesmo o Zayn, que vivia por ali atrás do Payne, e, principalmente, não viu Louis, que ele admitia que estivesse com uma esperança de que encontrasse, já que Louis tinha ficado tão próximo de Liam e Niall.

-E aí, Harry! – Niall apareceu repentinamente, estava de óculos escuros e um pouco desanimado, o que era um bom indicativo do quanto farreou na noite passada. –Vai querer o quê?

Harry sorriu, o jeito do Niall sempre o divertia, e fez o pedido de sempre, ainda olhando ao redor.

-Louis não apareceu por aqui hoje. – Niall falou despreocupadamente e Harry o encarou.

-Eu não perguntei pelo Louis...

-Ah, desculpe, achei que fosse por ele que os seus olhos estavam procurando ao redor. – Niall riu. –Já trago o seu pedido.

Harry resmungou enquanto o outro se afastava, mas a verdade era que Niall estava completamente certo, então ele decidiu parar de bobeira e fazer logo o que estava louco para fazer desde que acordou, mas assim que pegou o celular uma mensagem chegou, lhe fazendo sorrir largamente.

Louis: Teve mais algum sonho interessante comigo?

A simples mensagem fez um arrepio gostoso percorrer o corpo de Harry porque ele não estava mentindo quando falou sobre ter tido alguns sonhos pra lá de safados com Louis!

Mas em vez de responder a mensagem, ele resolveu ligar de uma vez.

-Você ficou mesmo interessado nos meus sonhos, hein?! – ele disse assim que Louis o atendeu.

-Admito que fiquei. – Louis gargalhou do outro lado da linha. –Você está na sua casa? Eu acabei acordando tarde e ainda estou com preguiça na cama.

-Vim comer alguma coisa na lanchonete e depois vou buscar minha moto. – Harry respondeu.

Ele ouviu a respiração tranquila de Louis e imaginou como ele deveria estar lindo ainda enrolando para levantar da cama, os cabelos bagunçados, ainda sonolento, talvez com um daqueles sorrisos maravilhosos naqueles lábios que o deixavam maluco.

-A noite de ontem foi incrível. – Louis sussurrou, um tom de voz levemente malicioso, e Harry reprimiu um gemido.

-Foi sim, nós precisamos repetir em breve. – Harry sussurrou de volta.

-E nós vamos. – Louis disse, mas em seguida Harry ouviu alguns barulhos abafados do outro lado da linha. –Merda, meu pai está chamando para o almoço, preciso ir.

-Ele vai ficar em casa o dia todo hoje? – Harry resmungou.

-Não sei. – Louis suspirou pesadamente. –Nos falamos mais tarde e combinados algo, tudo bem?

-Ok. – Harry se rendeu. –Até mais, gostoso!

Ele ouviu a gargalhada de Louis antes da ligação ser encerrada e sabia que estava sorrindo como um idiota, mas nem se importou, era bom sorrir assim, Louis o fazia se sentir leve, como há tempos ele não se sentia!

  ****

Ao sair da lanchonete, Harry foi direto até a oficina e ficou aliviado ao ver que sua moto estava novinha em folha, ele tinha esquecido de levar o capacete, mas montou nela mesmo assim e resolveu andar um pouco pela cidade, já estava com saudade da adrenalina gostosa que sentia sempre que acelerava com sua moto pelas ruas quase sempre vazias... Mas enquanto virava uma esquina, ele se deu conta de em que rua estava passando e suspirou pesadamente, acelerando um pouco mais e tentando não olhar para a casa branca que já tinha sido o seu lar em um tempo não tão distante assim... Só que mesmo acelerando e não olhando, ele não conseguiu impedir que as lembranças viessem, essas lembranças nunca precisavam de muito para voltar, elas estavam sempre à espreita, prontas para virem à tona... Os olhos bondosos da mãe, o sorriso carinhoso, o cheiro reconfortante do perfume dela... Era uma enxurrada de lembranças e sentimentos, e quanto mais elas vinham mais rápido sua moto avançava pelas ruas.

Sempre foram só Harry e Anne, durante uma época de sua vida o menino sentia falta de ter um pai e perguntava por ele, principalmente por ver os pais dos coleguinhas sempre presentes, mas depois de um tempo essa fase passou e ele parou com as perguntas, Anne era tudo o que ele tinha e era tudo o que ele precisava, o amor dela era mais do que suficiente para fazê-lo se sentir feliz e amado... E ele também a amava intensamente, além de tudo, ela era a sua melhor amiga. Harry nunca foi muito fácil, apesar de ter um coração enorme, o comportamento às vezes não era dos melhores, mas Anne o compreendia e mesmo quando o colocava de castigo ou lhe dava sermões era tudo feito com tanto amor que ele nunca conseguia sequer ficar irritado com ela.

Anne era o porto seguro de Harry, era a mãe, o pai, a melhor amiga, e então, de uma hora para a outra, como num piscar de olhos e num estalar de dedos, ela foi tirada bruscamente dele... Um problema no coração, justamente ela que tinha o coração mais bondoso do mundo... Ele tinha lhe dado boa noite, ela tinha beijado o seu rosto e dito que o amava, ele dormiu profundamente... E na manhã seguinte ela não acordou mais! Essas eram as piores lembranças, Harry ainda achava que era capaz de ouvir os próprios gritos enquanto tentava fazer a mãe acordar, ele não conseguia entender o que estava acontecendo, não queria acreditar naquilo... Mas foi real, a realidade mais cruel e terrível do mundo.

A casa pela qual ele tinha acabado de passar, onde viveu a vida toda, lhe trazia boas lembranças e foi difícil vendê-la e sair de lá, mas era ainda mais difícil olhar todos os dias para o antigo quarto da mãe e para aquela cama onde ele a encontrou morta.

Harry acelerou um pouco mais a moto, sentindo o vento contra o rosto e os cabelos, e tentou mandar para longe aquelas lembranças, tinha sido tão ruim depois da morte da mãe, foi como se uma nuvem negra tivesse pairado em sua vida depois daquela manhã cruel, ele tinha só quinze anos e se sentiu tão terrivelmente sozinho... Teve a tia, a irmã de Anne, que veio e cuidou dele o máximo possível mesmo que não fossem muito próximos, e teve Zayn e a família dele... Mas mesmo assim ele se sentiu, e ainda sentia, tão terrivelmente sozinho... As festas, as corridas, as noites bebendo e as brigas pareceram ser uma boa maneira de extravasar toda aquela dor e solidão por um tempo, mas mesmo depois de quatro anos, ainda pareciam ser o melhor jeito de ele conseguir lidar com tudo aquilo, então continuava e se metia em problemas por isso, mas não se importava porque era o seu jeito de se sentir um pouco vivo e...

Uma buzina soando alta e brusca despertou Harry de uma vez daqueles pensamentos e ele se assustou ao perceber que por muito pouco não tinha batido de frente com um carro, o seu coração batia loucamente, ele ouviu os xingamentos do motorista, se obrigou a desacelerar e seguiu em frente, pensando que ao menos o susto tinha servido para livrá-lo daquele pequeno transe de lembranças dolorosas, mas então ele se deu conta de que já tinha se afastado muito e decidiu voltar para casa, talvez Joe, Victor e Kate ainda estivessem rodando pela cidade e ele poderia encontrá-los para passar o tempo, também poderia ligar para o Zayn ou... Bem, aquela terceira opção se mostrou de forma clara quando, logo depois, ele passou bem em frente da casa de Mark Tomlinson.

Louis estava sentado na varanda, distraído com um dos livros que tinha comprado no sebo dias atrás, e ele estava tão imerso na história que levou um tremendo susto ao ouvir o barulho da moto de Harry parando bruscamente na calçada em sua frente.

Por alguns instantes, que mais pareceram longos minutos, os dois apenas se olharam... Harry se surpreendeu, mas também se sentiu aliviado ao notar que a mera visão de Louis em sua frente foi mais do que o suficiente para afastar aquela sensação ruim de antes e para levar as lembranças difíceis embora, pelo menos por enquanto, e quando Louis se levantou e sorriu para ele... Uau, foi como se Harry pudesse voltar a respirar normalmente de novo.

-O que você está fazendo aqui? – Louis se apressou para se aproximar dele, que desceu da moto. –Meu pai está em casa, seu louco!

-Ele disse que não me queria dentro da casa dele, não falou nada sobre a calçada, né?! – Harry arqueou uma sobrancelha.

-Espertinho! – Louis revirou os olhos. –Para sua sorte, ele foi dormir depois do almoço e...

Mas Louis não continuou a falar porque Harry envolveu a cintura dele e o puxou para um beijo que fez os dois gemerem baixinho.

Louis tinha deixado o livro na varanda, então se agarrou com força contra Harry, embrenhando os dedos nos cabelos dele e puxando-os ao mesmo tempo em que sua língua invadia a boca do Styles e tornava o beijo mais profundo e gostoso. Harry, sem resistir, deixou as mãos deslizarem pela bunda de Louis e a apertou, lembranças da noite passada fazendo com que ele ficasse excitado.

Quando o beijo terminou, Harry já se sentia infinitamente melhor.

-Eu já estava com saudade dessa sua boca! – Harry grunhiu antes de dar mais um beijo em Louis.

-Só da boca? – ele riu, provocando ao se recostar contra o corpo do maior e descer uma mão para o peito dele.

-Vai provocando para ver... – Harry deu mais um apertão na bunda dele e Louis alisou a jaqueta de couro que o Styles vestia.

-Você fica uma delícia com essa jaqueta. – murmurou em um tom apreciativo.

-Podemos ir para a minha casa e eu posso te foder usando só essa jaqueta. – Harry riu ao ver a expressão de Louis e riu ainda mais ao ser estapeado de leve pelo outro... Merda, era bom poder rir livremente assim depois de, minutos antes, estar afundado em momentos tão ruins do passado.

-Não comece a falar essas coisas porque eu vou acabar ficando duro aqui e não posso ir para a sua casa hoje. – Louis resmungou enquanto ficava na ponta dos pés para beijar o maxilar de Harry.

-E por que não pode?

-Prometi ao meu pai que sairia com ele daqui a pouco, assim que ele acordar, ele quer me mostrar um pouco da cidade, me levar para jantar e me apresentar alguns amigos, coisas que não fizemos ainda desde que cheguei. – Louis murmurou a resposta. –Mas amanhã posso ser todo seu.

-Todo meu?

-Isso mesmo. – Louis riu. –Se você se comportar, posso até dormir na sua casa.

-Tudo bem, acho que consigo me comportar por um tempinho. – Harry o beijou de novo, ele não resistia aos lábios tão tentadores de Louis. –E vou planejar algo bacana pra gente fazer.

-Ok, vai ser divertido... – Louis começou a dizer, mas parou ao, enfim, perceber algo. –Espera, você está sem capacete?

-Fui buscar a moto na oficina e esqueci. – Harry deu de ombros.

-Isso é perigoso, Harry! E é burrice, você...

-Ei, eu vou devagar. – Harry o interrompeu, deixando de lado a parte em que ele quase havia se envolvido em um acidente apenas minutos atrás.

-Mesmo assim é perigoso. – Louis suspirou. –Eu me preocupo com você!

-Sério? – Harry sabia que Zayn se preocupava com ele, e os pais do Malik também, sabia que até podia contar com a tia em alguma emergência e tinha alguns amigos de Anne na cidade que também se preocupavam com ele, mas ouvir aquilo de Louis despertou algo novo dentro dele.

-Claro, sei que faz pouco tempo que nos conhecemos, mas... Bem, eu gosto de você. – Louis sorriu de um jeito tímido, era a primeira vez que Harry via aquele sorriso nele, e isso o fez sorrir de volta.

-Eu também gosto de você. – Harry retrucou tão repentinamente que até ele mesmo se surpreendeu, mas ele realmente gostava de Louis, gostava muito, e não era só o sexo, ou os beijos gostosos, era mais...

-Bom, até porque seria estranho se não gostássemos pelo menos um pouco um do outro depois de tudo o que fizemos ontem... – Louis falou tudo rapidamente, se sentindo estranhamente nervoso e tímido, mas Harry apenas continuou a sorrir e o beijou novamente.

Eles perdiam um pouco da noção de tudo quando estavam se beijando daquele jeito, mas Louis conseguiu reunir forças para se afastar minimamente de Harry.

-É melhor você ir, o meu pai pode acordar a qualquer momento e, como eu quero muito ir dormir na sua casa amanhã, é melhor não arriscarmos de deixá-lo irritado, né?! – ele conseguiu dizer.

-Tudo bem, você tem razão. – Harry se rendeu, mesmo sem vontade. –Nos vemos amanhã.

-Eu te ligo depois para combinarmos certinho. – Louis voltou a ficar na ponta dos pés para roubar mais um beijo de Harry e se afastou com um sorriso radiante. –E é bom você estar usando um capacete da próxima vez que eu te ver nessa moto, hein!

-Eu gosto desse seu lado mandão. – Harry piscou com malícia enquanto subia de volta na moto e o sorriso de Louis ficou ainda maior e mais bonito.

Um sorriso que acompanhou Harry pelo restante do caminho até a casa dele, um caminho percorrido bem mais tranquilamente!

   ****

Horas mais tarde, Harry estava sentindo um tédio terrível enquanto tentava, em vão, encontrar algo bom para ver na televisão, então foi para a internet, mas não adiantou muito... Ele não estava tão acostumado a ficar muito tempo em casa sem fazer nada, mas também não sentia vontade alguma de preparar uma festa, alguma corrida ou qualquer das coisas que tanto lhe divertiam... A verdade era que tudo o que ele queria no momento era poder ter Louis na sua cama de novo, mas teria que esperar até o dia seguinte para isso.

Se sentindo frustrado, ele foi até a geladeira pegar alguma bebida, mas uma batida na porta o interrompeu no meio do caminho.

-Que cara estranha é essa? – foi a primeira coisa que Zayn disse quando Harry abriu a porta e deu de cara com o melhor amigo do outro lado.

-A única que tenho. – Harry revirou os olhos enquanto Zayn entrava e ia até o sofá, se jogando nele com a intimidade que só um melhor amigo possuía.

-Pensei que você estaria com um humor melhor depois de ter saído mais cedo da festa com o Louis ontem. – Zayn o olhou curioso.

-Eu só estava me sentindo um pouco entediado. – Harry voltou com duas garrafas de cerveja e deu uma para o Zayn. –Mas a noite foi mesmo maravilhosa!

-Sério? – Zayn se sentou imediatamente, um sorriso sacana surgindo nos lábios.

-Muito sério, mas nem se anima muito porque não vou contar detalhes nenhum!

-Você nunca se negou a contar detalhes antes!

-Para tudo tem uma primeira vez na vida. – Harry riu.

-Louis parece ser um cara bacana. – Zayn comentou enquanto olhava o amigo com atenção.

-E ele é mesmo. – Harry confirmou distraidamente e não percebeu o sorriso de entendimento e satisfação que Zayn deu.

Os dois então beberam mais um pouco e conversaram os infinitos assuntos que sempre surgiam quando estavam juntos, até Zayn tocar em um que fez Harry começar a se sentir desconfortável porque sabia o que viria a seguir.

-Os pais do Liam me pediram para grafitar a fachada da lanchonete, eles querem fazer uma pequena reforma lá na frente.

-É uma boa ideia, vai ficar bacana. – Harry disse enquanto se ajeitava melhor no sofá, fixando os olhos na tela da televisão.

-Andei pensando que seria bom se você fosse me ajudar e...

-Não, você sabe que não.

-Harry... – Zayn deixou um suspiro resignado escapar. –Você não acha que já está na hora? Aliás, que já passou da hora de...

-Eu não quero, Zayn!

-Você é tão teimoso!

-E você, melhor do que ninguém, sabe muito bem que não é só teimosia... Eu simplesmente não consigo. – dessa vez a voz de Harry saiu só um murmúrio e Zayn se sentiu um pouco culpado, então se levantou e foi sentar no sofá ao lado do amigo.

-Eu só quero o seu bem, cara.

-Eu sei. – Harry assentiu, mas não tirou os olhos da televisão.

Zayn pensou em deixar o assunto pra lá, falar sobre qualquer outra coisa, mas decidiu tentar só mais um pouco, talvez de outro jeito.

-Meus pais andam me enchendo o saco, dizem que já estou com quase vinte anos e preciso decidir de uma vez o que fazer da vida e parar de arrumar problemas por aqui, essas merdas todas. – Zayn disse e como Harry não falou nada, ele continuou. –Liam está pensando em ir para a faculdade no próximo ano, ele quer ser professor, e eu... Bem, talvez eu vá para a faculdade de artes, acho pode ser bom para mim.

-É claro que vai ser bom, você é um artista incrível, Zayn. – Harry murmurou. –E esse sempre foi o seu sonho...

-O nosso sonho! – Zayn corrigiu, mas Harry voltou a se calar. –Você diz que eu sou um artista incrível, mas os seus desenhos e as suas pinturas eram coisa de outro mundo, essas suas mãos são mágicas.

-Não tem nada de mágico aqui. – Harry fechou as mãos ao redor da garrafa de cerveja e deu mais um gole.

-Você podia pelo menos tentar mais uma vez, talvez agora consiga e aí nós podemos ir juntos para a faculdade.

-Eu não quero falar sobre isso agora, pode ser? – Harry disse, tentando não soar tão rude, mas não conseguindo.

-Você nunca quer falar sobre as coisas importantes, Harry! – Zayn também estava tentando não soar irritado porque ele entendia o sofrimento do amigo, mas queria ajudar e era difícil quando o outro não permitia.

Harry inclinou a cabeça contra o encosto do sofá e fechou os olhos por alguns instantes, toda a leveza que o encontro com Louis havia lhe dado parecia algo muito distante agora, seu dia estava sendo como uma montanha-russa de sentimentos e de pensamentos, mas geralmente era assim mesmo, então ele meio que foi se acostumando.

-As coisas ainda estão lá no quarto? – Zayn sussurrou.

-Eu não vou falar sobre isso. – Harry insistiu com firmeza e depois de alguns instantes ouviu Zayn respirando fundo.

Ele entendia a intenção do Malik e era grato por isso, mas aquele era um assunto sempre tão delicado, algo que ele preferia simplesmente guardar bem no fundo de si mesmo, trancar por trás da porta do quarto no fim do corredor, e deixar para lá pelo máximo de tempo possível... Porque, dentre todas as coisas que lhe faziam lembrar da mãe e da dor horrível que era não tê-la mais por perto, aquela era a mais forte.

Anne era uma artista maravilhosa, uma pintora tão incrível que Harry nunca conseguiu entender porque os quadros pintados por ela não estavam em alguma galeria de arte, mas parecia que ela preferia assim. A maioria das lembranças de infância de Harry, e essas eram as melhores, as que ele amava reviver, eram rodeadas por quadros, pincéis e tintas, ele cresceu no meio de tudo isso, cresceu vendo a mãe imersa em suas pinturas, então não foi muita surpresa quando, ainda muito novo, ele percebeu que também amava pintar... Ele estava sempre rabiscando pelos cantos, os seus cadernos do colégio tinham mais desenhos do que matérias, Zayn, seu melhor amigo, também compartilhava daquela paixão e eles até mesmo grafitavam juntos pela cidade... As telas usadas por Anne passaram a ser usadas por ele também e ela amava compartilhar aquele talento com o filho, era algo deles, um momento só dos dois... Então quando ela partiu tão repentinamente, toda aquela magia que envolvia os desenhos e as pinturas para Harry também partiu junto.

E não é como se Harry não tivesse tentado... Ah, ele tentou sim... Logo depois da morte da mãe, depois de enterrar a pessoa que era todo o mundo para ele, o menino se trancou no quarto e buscou um dos seus inúmeros blocos de desenho, aquilo era sempre um refúgio para ele, mas daquela vez simplesmente não conseguiu... Suas mãos tremiam tanto que as linhas, antes fluidas e firmes, saíram tortas e estranhas, ele tentou e tentou, mas a cada vez, a cada dia que tentava, se sentia ainda mais travado e então desistiu. Harry sabia que aquele talento não tinha sumido, que ainda estava ali em algum canto dentro dele, Zayn sugeriu que ele fizesse terapia, que talvez isso ajudasse, mas ele recusou porque, no fundo, parecia sem sentido voltar a pintar quando não tinha mais a mãe para compartilhar aquele momento mágico com ele.

Mas também era verdade que ele e Zayn sempre falavam sobre ir fazer faculdade de artes juntos e ele suspeitava que o amigo só não tivesse ido ainda para ficar ali com ele, o que era bem injusto.

-Vai para a faculdade com o Liam no próximo ano. – Harry quebrou o silêncio depois do que pareceu ser um longo tempo.

-Não vai ser a mesma coisa sem você. – Zayn disse.

-Não fique muito sentimental. – Harry tentou amenizar o clima. –Você é um artista bom pra cacete, Zayn... Não precisa ficar preso aqui em Holmes Chapel por minha causa, eu já sei me cuidar.

-Não sabe porra nenhuma. – Zayn revirou os olhos, mas se recostou contra o amigo e deitou a cabeça no ombro dele. –Mas me responda, você ainda guarda as coisas ali no quarto?

-Sim, eu guardo. – Harry assentiu e pensou em todas as telas enfiadas lá dentro daquele cômodo no fim do corredor, as pintadas, as em branco, as da mãe, as dele e as que os dois fizeram juntos, todos os blocos de desenhos, os pincéis e as tintas que já deviam ter estragado depois de tanto tempo sem uso.

-Então me promete que, qualquer dia desses, você vai tentar de novo? – Zayn pediu baixinho. –Só mais uma vez, faz tempo que você sequer tenta, não é?!

Sim, fazia mesmo um bom tempo, ele não negava que todas as vezes que via Zayn desenhando algo sentia um pequeno comichão de desejo para tentar outra vez, mas ele nunca mais havia de fato tentado.

-Harry?

-Sim. – Harry murmurou ainda mais baixo. –Talvez... Qualquer dia desses.

Zayn ergueu o rosto do ombro dele e o olhou surpreso, aquela resposta nunca tinha sido dada antes, era sempre um não curto e grosso.

-Sabe, talvez você possa pedir para o Louis posar para você... Posar nu... Acho que isso pode ser um bom incentivo. – Zayn arriscou para amenizar um pouco a situação e viu um pequeno sorriso surgindo no canto da boca de Harry.

-Acho que seria meio difícil me concentrar. – Harry sacudiu a cabeça e Zayn sentiu como ele voltava a relaxar depois do Louis ser mencionado.

-O Liam já posou nu para mim várias vezes. – continuou.

-Sério? – Harry agora estava olhando de novo para ele.

-Sim, eu até te mostraria os desenhos, mas sou meio ciumento!

-Como se eu fosse ficar de olho no seu namorado. – Harry revirou os olhos. –Aliás, está mais do que na hora de vocês dois assumirem um compromisso, não acha? Principalmente se estão até pensando em ir para a faculdade juntos.

-Não preciso rotular nada. – Zayn deu de ombros. –Sabemos o que sentimentos um pelo outro e isso basta.

-Pode ser, mas acho que talvez o Liam fique feliz de ser pedido em namoro... Só converse com ele sobre isso, você nunca gostou de rotular nada, sempre teve um pouco de medinho de compromisso, mas entre vocês é diferente, qualquer um pode ver que vocês se amam. – Harry se sentiu melhor em mudar o foco da conversa para os assuntos do amigo, tudo o que foi dito antes ainda estava rondando em sua mente, mas ele deixaria para pensar sobre aquilo depois, quando estivesse sozinho.

-Não tenho medinho de compromisso... – Zayn resmungou, mas no fundo sabia que Harry tinha um pouco de razão. –Merda, por que estamos tendo conversas tão sérias hoje?

-Sei lá, você que começou. – Harry retrucou e os dois riram.

-O Liam tem um compromisso em família essa noite e eu não estou nem um pouco a fim de ir para casa, podemos chamar o pessoal e fazer algo, o que acha? – Zayn sugeriu.

-Pode ser, o Louis está ocupado com o pai também e eu estava meio desanimado, mas também não quero ficar sem fazer nada. – Harry disse e se levantou. –Vou no banheiro, liga pro pessoal e organiza alguma coisa aí.

Enquanto Zayn fazia as ligações, Harry foi ao banheiro, mas antes de entrar, ele seguiu até a porta no fim do corredor e parou por um instante na frente dela... Ele sequer se lembrava da última vez em que havia entrado ali, mas sabia que, quando se mudou, tinha colocado todas aquelas coisas trancafiadas naquele quarto em vez de simplesmente se desfazer delas porque, lá no fundo, tinha esperança de algum dia conseguir voltar a abrir aquela porta... O dia ainda não havia chegado, mas talvez estivesse mais perto do que ele imaginava.


Notas Finais


Oii :)
Sei que muitos de vocês estavam curiosos por um capítulo pela perspectiva do Harry, então espero que tenham gostado, deu para conhecê-lo um pouco melhor, né?! A partir de agora, outros assim virão tbm ;)
Só tenho a agradecer por todo o apoio que vocês estão me dando com essa fic, muuito obrigada de coração a cada um <3
Semana que vem, provavelmente no domingo de novo, eu volto com mais um capítulo <3
Beijos


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