História Indesejada - Investigando sentimentos -Parte 2

Deixei Henry para trás sem entender o que estava acontecendo.

—Com licença – falei tirando meu tênis e entrando no apartamento de Matt.

Sherlock veio correndo em minha direção e eu o peguei no colo e apertei até não aguentar mais.

—Você vai matar ele.  –Matt reclamou.

O apartamento não era muito grande, mas ainda assim era incrível, tinha uma decoração espetacular, era impecável.

—Incrível. –falei olhando em volta – Sua família vive aqui?

Matt deu uma risada.

—Não, só eu.

—Só você? Nesse apartamento incrível? Ah, você é mais novo que eu e já tem um apartamento, que inveja. Vou ter que trabalhar muito até ter o meu.  –disse me sentando no sofá com Sherlock em meu colo.

—Ouvi dizer que você não participou da competição. –ele falou pegando umas sacolas que estavam no balcão da cozinha e colocando-as sobre a mesa de centro.

—Nope. O que é isso? –perguntei colocando Sherlock de lado e me sentando no chão.

—Eu comprei para o Sherlock, queria te mostrar. –falou virando os conteúdos da sacola sobre a mesa.

—Então era por isso que você queria que eu viesse?

Ele sorriu sem me responder e se colocou de pé.

—Vou me trocar porque ainda estou de uniforme, já volto. –disse e desapareceu em um dos quartos.

Sobre a mesa havia petiscos, brinquedos e roupinhas para o Sherlock.

—Você não precisava comprar todas essas coisas Matt... Eu vou te pagar... –disse vendo Matt retornar do quarto.

—Não se preocupe, eu comprei porque gosto do Sherlock. Quer me ajudar a dar um banho nele?

—Sério? –perguntei me colocando de pé.

—Claro, te chamei para me ajudar. –disse enquanto pegava Sherlock que estava passeando pelo apartamento até o momento.

Colocamos Sherlock na banheira, foi literalmente uma luta pra conseguir fazê-lo ficar parado e quando conseguimos finalmente passar shampoo nele... Ele fugiu...

Corri atrás de Sherlock escorregando pela cerâmica, ele entrou em um dos quartos, tomei fôlego e empurrei a porta, havia tecidos para todos os lados e alguns desenhos nas paredes, Sherlock estava em cima da cama fazendo cocô.

—Tá de brincadeira! – Matt lamentou atrás de mim quando viu a cena.

De volta ao banheiro terminamos de enxaguar Sherlock, meu cabelo estava cheio de espuma, o cabelo de Matt estava molhado e colado em sua testa. Nos olhamos e rimos da situação em que nos encontrávamos, Sherlock pulou da banheira e se sacudiu nos deixando encharcados antes de sair do banheiro.

—Sabia que aqueles garotos iam ficar te enchendo o saco. –Matt falou com um pedaço de pizza na boca.

Estávamos agora sentados no chão da sala comendo pizza, eu me troquei em roupas secas que Matt me emprestou... Ficaram um pouco grandes em mim, mas dá para o gasto.

—Eles não são tão ruins. –falei bebendo um gole do meu refrigerante.

Matt deu um tapa na minha testa.

—Isso é porque você é boa demais.

—Sim, tem razão.

—Claro que eu tenho, você está preocupada se Henry gosta da menina pelo bem dela e não porque você está com ciúme... Que tipo de pessoa... –ele olhou para mim com pena.

—EU! EU SOU UMA OTÁRIA MÁXIMA. –gritei enquanto batia em meu peito.

—Você não gosta de Henry nem um pouco?

—Henry é meu amigo Matt, e também, eu não posso me dar ao luxo de gostar dele de outra forma. –respondi apoiando meu queixo na minha mão.

—E por que não?

—Porque eu não sou a pessoa certa para o Henry, a família dele tem uma empresa, tem dinheiro, enfim... Ele merece coisa melhor. –falei e então fiz uma breve pausa.

—O que foi que você pareceu pensativa aí? –Matt deixou sua pizza de lado e me encarou curiosamente.

—Eu ouvi algo parecido assim antes... Não, esquece. –balancei a cabeça e retomei ao pensamento anterior – E também, se ele gosta de mim porque não me respondeu sobre o beijo da Stela?

—Sobre isso... Eu também acho estranho, mas se você pensar melhor, você disse que essa Stela era sua amiga não é? Talvez Henry quisesse esconder isso de você.

—Esconder o beijo? Mas eu vi.

—Mas ele sabia que você tinha visto?

Balancei a cabeça negativamente.

—Quando falei do beijo ele parecia bem surpreso. –falei.

—Eu acho que ele não queria te contar pra você não ficar desse jeito que está agora, ele parece te conhecer bem.

—Desse jeito como?

—Desse jeito dando para trás porque sabe que sua “amiga” gosta dele e você não quer magoá-la.

—Ah...

—Ele gosta de você, ele parece ser uma boa pessoa. Você sempre coloca os outros como prioridade, mas se esquece de levar em conta os sentimentos deles. Você está...

—Ignorando os sentimentos do Henry e fazendo o que acho que é melhor para ele. –falei surpresa com minha própria resposta.

—Exato. –Matt disse juntando as mãos. –Mas mudando de assunto, isso é para o Sherlock. –Matt disse colocando um colar em minhas mãos.

O colar tinha uma pequena chave pendurada e na chave estava gravado “221B”.

—Agora com a chave do 221B ele é o Sherlock Holmes. –ele disse sorrindo para mim.

Fechei minha mão em volta da chave.

—Obrigada! –agradeci contente e corri para colocá-lo no Sherlock.

Sherlock correu feliz pelo apartamento com seu novo colar.

—Eu preciso ir agora. –falei correndo para a porta da frente e calçando meu tênis.

—Elizabeth, –Matt me chamou –Você não pode controlar os sentimentos das pessoas, as pessoas se magoam, é normal. Você não pode desviar o caminho da sua vida só para proteger alguém.

Assim que fechei a porta do apartamento do Matt meu celular vibrou com uma mensagem, tirei meu celular do bolso para lê-la... Não era apenas uma mensagem...

“Está tudo bem?”

“Você tem evitado falar comigo esses dias, aconteceu alguma coisa?”

“Eu preciso falar com você...”

“Elizy?”

Essas mensagens foram enviadas de manhã e considerando o ocorrido agora Henry deve pensar que estou brava com ele.

Me espreguicei e fechei os olhos com bastante força. Ah, eu me esqueci de ler a nova mensagem.

“Quando você vai sair?”

Parei na escada olhando a tela do celular.

Quando eu vou sair? Como assim?

Continuei descendo a escada ainda incomodada com a mensagem.

De repente um pensamento surgiu em minha cabeça... Mas, não, sem chance...

Me apressei em descer o restante da escada e avistei um conhecido sentado em um dos degraus.

—Henry?

Andamos pela calçada a certa distância um do outro.

—Me desculpe por ter seguido vocês. –Henry falou e eu ergui a cabeça para vê-lo caminhar em minha frente.

—Ah, sem problemas, eu só fiquei meio surpresa...

—Sobre a outra noite... Você pode esquecer o que eu fiz com você? –perguntou enquanto seguia com sua caminhada.

Meu coração se apertou por um segundo, engoli em seco antes de respondê-lo.

—Claro. –falei, minha voz saiu fraca.

—Mas o que eu falei ainda está de pé. Eu vou fazer de tudo pra te ajudar. –disse e se virou para mim – Amigos são para isso, não é? –deu um sorriso, mas pela primeira vez seu sorriso não estava caloroso como sempre esteve.

Alguma coisa não estava certa.

—Me chamaram para ir ao estúdio amanhã fazer alguns testes, enfim, eu queria que você fosse comigo já que você é a responsável por mim agora. –ele falou mantendo o sorriso em seu rosto.

—Eu? Em um estúdio? –perguntei animada com a ideia.

—É... O que acha? –perguntou se aproximando.

—Eu adorei! Claro que vou! Mas eu posso? Não vão brigar com você?

—Claro que não vão brigar, eu quero você presente em todos os lugares comigo.

Dei um sorriso de orelha a orelha. Meu celular vibrou no bolso do moletom do Matt.

Franzi a testa quando li o conteúdo

“Contei para o professor que você matou aula para namorar. Até.”

Esse demônio.

—Aconteceu alguma coisa? –meu amigo perguntou me observando de perto.

—Ah, não, é só um demônio bagunçando a minha vida. –respondi sorrindo nervosa.

Meu amigo balançou a cabeça e então puxou a barra da blusa me olhando cuidadosamente.

—Estava usando isso antes? –ele perguntou segurando a roupa.

Um pingo de suor escorreu em minhas costas, eu não tinha feito nada de errado mas me sentia culpada.

—Sim. –menti descaradamente.

Ele olhou para mim desconfiado e então começou a andar.

—Vamos embora. –ele disse e eu corri para alcançá-lo.

As coisas pareciam ter voltado ao normal, o clima tenso de poucos minutos atrás havia se dissipado, mas ainda assim meu coração batia pesadamente.