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História Indesejada - Passado


Escrita por: MilkWriter

Notas do Autor


Olá!
Essa será uma Two-Shot!
Espero que gostem!
.
Pode conter erros.

Capítulo 1 - Passado


Indesejada

 

 

Eu traí o meu marido e não estou arrependida.

Contar essa história não implica nenhuma intenção de compreensão, compaixão ou qualquer sentimento que de alguma maneira me livre do peso social de ser uma adúltera. Quero apenas que vejam como as coisas funcionam quando você provoca a mulher errada.

 

Sem dúvidas, eu era uma das garotas mais visadas da escola, tanto pelos meninos quanto pelas meninas. Com dezesseis anos de idade, era difícil encontrar algo na vida que eu não tivesse feito. Não, isso não me enchia de orgulho, nem na época, nem agora. Contudo, na mente deles era excitante levar uma menina como eu para a cama.

Eu não tinha ciência de todos os boatos, mas um dos mais interessantes era o que eu tinha perdido a virgindade aos treze anos em uma orgia, na qual e fiquei tanto com homens quanto com mulheres.

Especularam sobre uma tatuagem que eu tinha ganhado de presente de um dos caras mais velhos com quem dormi.

Em pleno século XXI, diziam que eu era uma bruxa.

Desde a terceira série, eu era baliza na escola, então minha flexibilidade não era novidade para ninguém. Usaram até isso para inventar posições sexuais mirabolantes que eu havia usado para dar para não sei quem.

Diziam que eu fazia abortos pelo menos quatro vezes ao ano.

Quase fui expulsa da escola por um boato de que eu fui a grande traficante da escola para as gerações de 89, 90 e 91.

A maioria achava que eu morava sozinha.

Alguns diziam que eu morava com várias mulheres mais velhas, todas prostitutas, e que eu era pupila delas.

Havia muitos outros boatos, mas não quero entediar vocês. O que precisam saber é que não, eu não era santa, contudo esses boatos eram cruéis e fantasiosos demais para que eu ao menos desse bola. Um dos motivos que alimentou tantas lendas injustificadas em cima do meu nome foi o fato de eu não me alterar nenhum pouco com essas histórias. Aos dezesseis anos eu só devia satisfações aos meus pais e eles sabiam de tudo o que eu não fazia, eles sabendo do que era mentira, para mim, bastava.

Eu não tinha amigos, apenas colegas e “seguidores”, se é que assim posso chamar aquelas pessoas, então não havia quem de fato soubesse das verdades ou mentiras da minha vida. E se soubesse, não poderiam me chamar de mentirosa já que eu nunca afirmava nem negava nada.

Falando de fatos, eu havia perdido o meu bv aos quatorze anos. Foi horrível e foi com um dos babacas que espalham os boatos incabíveis, Suigetsu. Ele nem poderia sonhar que foi com ele meu primeiro beijo ou o seu ego ficaria mais inflado do que já era. Foi meu primeiro beijo e eu estava bem mais segura do que ele. Na época eu já era conhecida pela baliza, pela participação constates nos projetos da escola, pelo icônico cabelo rosa e pela bunda que, naquela fase, estava no auge do seu crescimento.

Suigetsu foi horrível. Estava com bafo e bateu os dentes nos meus mais vezes do que eu consegui contar. Foi nojento. Minha sorte era que estávamos escondidos. No mesmo dia fiz questão de corrigir o erro com um garoto mais velho como ele, da mesma sala, o Gaara. Com ele consegui o que eu queria, um beijo decente. A escola toda viu. Teve fotos, assovios, vaias, colegas dos dois lados zoando e um Suigetsu bravo no fundo da cena. Depois que Gaara e eu nos separamos, olhei direto para o garoto magrelo de cabelo platinado, fitei seus olhos raivosos e falei sem emitir som algum: “é assim que se faz”. Ele ficou possesso e começou a sua onda de ataques contra a minha moral.

Infelizmente para ele, o efeito era contrário. Não importava o absurdo que ele afirmasse que eu tinha feito, todo mundo achava legal (coisa de adolescente idiota), e minha fama ia se consolidando.

Passei a considerar Gaara o meu primeiro beijo. Quem perguntava, eu dizia que era ele, mas ninguém acreditava, então não fazia diferença para mim. Fiquei com Gaara mais algumas vezes até começar a aparecer novos pretendentes.

Eu tinha muitos “amigos”. Amigos entre aspas por não exercerem esse papel. Ninguém confiava em ninguém, ninguém ajudava ninguém e ninguém era amigo de ninguém. Éramos uma espécie de grupo que os professores denominaram de Pelotudos. O grupo era composto por pessoas de praticamente todos os anos. Eu era uma das mais novas, oitava série, junto com a Tenten, a Karin, o Naruto e o Sasuke; Temari, Shikamaru, Lee, Neji, Hinata, Ino, Chouji, Kiba, Suigetsu, Deidara e Gaara eram do ensino médio.

Juntos não fazíamos nada de muito útil, apenas compartilhávamos o intervalo das aulas e saíamos juntos aos fins de semana. Com exceção de Sasuke, Hinata e eu, todos sempre saiam juntos, seja para um parque, para o cinema, para uma matinê, para a casa de alguém... Todos iam.

Meus pais demoraram de entregar as chaves da minha liberdade, porém quando o fizeram, eu abusei. Dias de sexta, sábado e domingo não era recomendável me esperar estar em casa antes das onze. Para uma “criança” de quatorze anos era bem tarde, entretanto, todas as broncas do meu pai valeram a pena.

Sexta, filme de terror na casa do Chouji: fiquei com o Shikamaru.

Sábado, matinê de eletrônica e hip-hop: fiquei com Gaara, Deidara e Temari.

Domingo, Lee me chamou para tomar um sorvete e disse que me amava: fiquei com ele.

Sexta, vinho e catuaba na pista de skate do parque: fiquei com o Kiba.

Sábado, festa de aniversário do Sasuke (sucos batizados): fiquei com o Deidara, com o Neji, com o Shikamaru; no fim da noite eu estava muito bêbada e dei um beijo rápido no Chouji que estava chorando por não ter pegado ninguém.

Domingo, acordei na casa da Temari com uma puta ressaca: fiquei com a Temari.

Sexta, sarau na escola e eu era organizadora: fiquei com o Kiba.

Sábado, cinema, Kiba pegou a poltrona do meu lado: fiquei com o Kiba.

Domingo, vinho na pista de skate do parque, Deidara me roubou um beijo, Kiba me chamou de puta: fiquei com Shikamaru.

Eu-não-estava-nem-aí.

Eu já era “mal falada” na escola por razão nenhuma, então dei motivos para falarem.

Os meninos eram os maiores mulherengos. Sasuke tinha uma pasta na bolsa só para guardar cartinhas de admiradoras secretas; o celular no Deidara não parava de tocar nenhum minuto; Neji havia engravidado uma menina da oitava série (ele sendo do segundo ano); para onde eu olhasse, não importava a hora, Gaara tinha uma menina embaixo do braço; Temari não fazia desfeita de nada nem ninguém; mas eu era a “puta”. A mais famosa da escola por coisas ruins, e ainda assim, eu me espantava se não recebesse pelo menos um sms por dia com um garoto pedindo para ficar comigo.

Quando Tenten começou a gostar do Neji, e Shikamaru a gostar de Temari, e Ino a gostar de Gaara e Lee a gostar de mim, os Pelotudos começaram a se desmanchar e tudo desmoronou para o meu lado, afinal, eu estava indireta ou diretamente ligada a todos os rolos ali. Com exceção de Naruto, Sasuke e as meninas (excluindo a Temari), todos tinham um passado comigo e isso incomodava-os.

Aparentemente, só eu levava a sério o lance de “é só um beijo e nada mais”.

Naturalmente, acabei me afastando e fui afastada.

Durante o primeiro ano que surgiu o boato de que eu era traficante, o que intensificou meu “isolamento”. As pessoas que se aproximavam de mim só o faziam para saber se eu realmente tinha drogas. Aqueles amigos não existiam mais.

Conheci uns caras mais velhos, amigos de primos, familiares, vizinhos. Gente da barra pesada. Com um metro e setenta, busto e quadril de mulher de vinte, eu conseguia entrar fácil em bares, baladas, clubes e shows. Foi a época mais pesada da minha vida. Pesada: semi-sexo em banheiros imundos ou em escadas de emergência, cigarro, maconha, narguilé, álcool, muito álcool, balinhas, dissoluções, lança e pó.

Envolvi-me com o meu primo Sasori. Pior decisão, pior até que o pó. Sete anos mais velho, ruivo, bonitão, experiente, fornecedor de tudo o que eu gostava. O maldito quase tirou minha virgindade e me deixou na sarjeta. Meu colapso chegou ao auge nessa época. O homem me deixou mais miserável que cracuda em abstinência. Amor foi a droga mais potente que ele me ofereceu. O start do colapso da minha vida.

Na escola era diferente. Mesmo sem falar com ninguém além dos professores pelo período de nove meses, eu ainda conseguia ser o assunto mais comentado, seja pelos cigarros fumados em frente à escola, seja pelo suco na garrafa de água com mais vodka do que água e fruta, seja pelo cabelo rosa desbotado e raiz aparente. Eu era um trapo e ainda assim adorada. Foi aí que comecei a entender os valores invertidos da sociedade. Talvez Suigetsu conseguisse se vingar de mim dizendo coisas boas ao meu respeito, embora não houvesse nada, embora ninguém acreditasse. Eu vesti a personagem que o maldito criara para se vingar de mim.

Só que aos dezesseis anos eu mudei, tive que mudar. Quase repeti de ano na escola e isso desencadeou uma série de exageros de atenção para mim, foi quando iniciei o tratamento psicológico e psiquiátrico por conta do álcool. Fiquei completamente sozinha. Meu lance com o Sasori, meu primo, destruiu a união da minha família e meu pai me odiava. Foi um ano difícil.

Um dia Naruto tocou no meu ombro e perguntou como eu estava, porque há meses não nos falávamos e eu havia emagrecido bastante. Eu sorri. Tinha tanto tempo que eu não sorria que meu lábio rachou em vários pontos, se eu passasse a língua ali, eu só encontraria sangue e aspereza, mas não quis fazer isso, continuei sorrindo e encarando o louro a minha frente, sempre gentil, engraçado e honesto. De todos os Pelotudos, ele deveria ser o menino de ouro. Um dos únicos que eu não beijara antes.

Resolvi esse problema. Dei-lhe um selinho e deixei em seus lábios um pouco do meu sangue.

— É assim que você resolve tudo, Sakura? Você beija para resolver seus problemas?

— Não — respondi depois de ponderar por que ele estava bravo. — Eu costumava fumar e beber bastante, porém estou limpa há um bom tempo e ainda não encontrei outra válvula de escape.

— Daí você me beija sem nem saber se eu queria o mesmo? — suspirei entediada.

— Você quer me beijar, Naruto?

Estávamos no meio da sala de aula. A surpresa de todos ao me ouvirem falar era tangível. Todos encararam Naruto e eu assim que ouviram isso. Naruto, claramente desconfortável, se afastou de mim e tentou concentrar-se em seu caderno, algo impossível com quarenta alunos nos olhando e cochichando a respeito do que havia acontecido. Eu estava acostumada com os olhares, cochichos, fofocas e especulações, não me abalava de forma alguma, agora Naruto parecia ser mais vulnerável a isso.

Aos poucos, comecei a dar mais atenção a ele, a reparar e a querer estar perto dele, mas eu não sabia como fazer isso sem levar um fora logo de cara. Resolvi contar à maior fofoqueira da escola, Karin, que eu estava gostando do Naruto. Não era verdade, eu sequer tinha certeza disso, mas só queria saber como essa história ia chegar no ouvido dele e como ele reagiria.

— O que te disseram? — indaguei ao Naruto novamente, mal acreditando no que ouvia.

— Que há tempos você gosta de mim, por isso se afastou de todo mundo porque descobriu que a Hinata também gosta de mim e você jamais competiria com ela porque ela jamais teria chances contra você, e disseram que você só tomou iniciativa agora porque viu que a Hinata é uma monga e nunca vai se abrir para mim como você irá. Literalmente, acrescentaram. Disseram que você tem transado com outros caras pensando em mim e não aguenta mais minha lerdeza.

— Ual — exclamei. — Eu só disse: “acho que to gostando do Naruto”.

— Bom, eu vim falar com você porque as pessoas estão falando e...

— Você está incomodado. Eu imagino.

— Você... Você realmente não se importa com o que dizem?

— É tudo mentira. — Naruto pareceu surpreso. — Aparentemente é divertido inventar histórias e espalhá-las para difamar alguém.

— Então não devo acreditar em tudo o que ouvi sobre você?

— Em tudo, não. Talvez tenha algumas verdades.

— Você é lésbica?

— Não.

— Você tem uma tatuagem de pimenta na virilha?

— Não tenho tatuagens, ainda tenho dezesseis anos.

— Você foi internada por overdose?

— Não, mas faço tratamento para parar de beber.

— Sério? — afirmei. — Você tem problemas com bebidas?

— Verbos no passado, por favor.

— Ah, sim. Desculpa. — Coçou a parte de trás da cabeça.

— Mais alguma pergunta?

— Muitas — exclamou.

— Agora eu tenho que ir para casa, meu pai está me dando horário para chegar.

— Talvez uma última pergunta, tudo bem?

— Tá legal.

— Você perdeu a virgindade em uma orgia uns anos atrás?

Não tinha motivos para rir, mas eu ri. Gargalhei. Naruto me fitou meio sem graça, sem entender muita coisa. Aquele era um boato antigo e sem nexo.

Eu respirei por algum tempo, recuperando e fôlego e propus:

— Se prometer ser legal comigo e me levar para tomar um açaí, eu te respondo sim ou não e como foi.

— Como foi? Então é verdade?

— Calma-

— Você vai me contar detalhes? — perguntou animado. Talvez ele fosse mesmo tão idiota quanto os outros.

— Você vai pagar o açaí?

— Amanhã? — ponderou.

— Depois da escola.

— Acho que sim... — respondeu pensativo.

— Sim ou não, Naruto. Não tenho tempo a perder com mais um babaca aqui — respondi impaciente.

— Eu não sou mais um babaca!

— Então me prove.

Bem, ele me provou.

Começamos a nos encontrar com frequência e conversar sobre mim. Quase nunca sobre ele ou outras coisas. Minhas respostas eram vagas, porém isso não parecia incomodá-lo, só o instigava mais. Quase caiu para trás quando eu disse que ainda era virgem e que há quase um não eu não beijava ninguém. Contei do desastre do meu primo e me abri mais com ele do que com qualquer pessoa em toda a minha vida.

Apaixonei-me. Logo de cara, estava louca por ele. Felizmente, ele também se encantou por mim.

Quando começaram a ver que Naruto não era meu ficante, mas meu namorado, os boatos maldosos e perseguições começaram a diminuir naturalmente. Retomei minhas notas na escola, parei definitivamente com todos os tipos de droga, retoquei a raiz do meu cabelo e voltei a sorrir. Voltei até para os Pelotudos que passaram a me respeitar independente do meu passado com eles. Neste caso, leia “respeitar” como “ignorar nosso passado porque eu estava com um cara legal agora de quem eles gostavam muito”.

Nos formamos, e as tais amizades continuaram, e meu namoro evoluiu. Fui pedida em noivado e em seguida casei, como geralmente acontece, depois de quatro anos, aqui estou.

Sinto-me a Sakura do hiato de drogas e amizades. Me sinto morta.

Naruto era um bom marido e um péssimo amante. Assim que abriu as portas da minha sexualidade, não soube como conter minha libido. Ele não dava conta, nunca deu, e por anos e anos eu tentei ser paciente, até tudo piorar drasticamente depois do casamento.

Todo esse grande resumo da minha adolescência foi só para mostrar quando e como comecei a me envolver com os caras, quando comecei a sair e a experimentar coisas novas, eu sempre gostei disso, sempre gostei de bagunça, som alto, tumulto, beijo, tesão, segredos. O Naruto foi uma droga que me manteve entorpecida por um longo tempo, mas eu já não gostava mais dessa droga, não bastava mais. Queria ser aquela Sakura da raiz aparente de novo, a Sakura da jaqueta jeans surrada roubada do guarda-roupa de uma tia para entrar no The Wall¹ sem parecer tão infantil em um casaco esportivo.

Entediada. Era como eu me sentia.

Sexo era algo praticamente inexistente, mesmo sendo a única coisa legal que fazíamos. Naruto não queria ter filhos, Deus me livre se tivéssemos, não seria um filho, seria um cadeado unindo para sempre nós dois. Doa a quem doer, doa ao Naruto, e eu espero que doa mesmo, porém eu me arrependia amargamente de ter colocado aquela aliança no meu dedo.

No ápice da insatisfação, decidi fazer uma última investidas fora no dia dos namorados, o tiro de salvação do nosso casamento. Comprei velas aromáticas, decorações de coração, um novo jogo de cama de seda, uma lingerie preta, óleos estimulantes e um vinho caro.

Naruto chegou, ligou o vídeo game, abriu uma cerveja e jogou-se no sofá.

Respirei fundo, contei até dez e fui até a sala vestida somente com a lingerie rendada.

— Vamos transar — informei-o parando na sua frente, entre o sofá e a tv.

— Depois. — Fez sinal para eu sair da frente.

— Faz duas semanas — tentei justificar algo injustificável, afinal éramos um casal e sexo devia ser algo comum e recorrente.

— Não exagera.

— Treze dias.

— Sério que você conta? — Naruto me encarou, parecia irritado com uma mulher na frente do seu vídeo game.

Resolvi ser mais paciente. Fui para a cozinha, sequei o maldito vinho sozinha, tomei coragem, voltei para a sala e o encarei. Ele nem piscou, continuava concentrado no jogo.

Que broxa idiota.

Caminhei até ele, sentei sobre sua coxa, beijei toda a extensão do seu pescoço e sussurrei coisas em seu ouvido. Ele deu pausa no jogo e me encarou nervoso.

— Você não está vendo que eu tô jogando? Qual o seu problema? — exclamou com rispidez.

— Hoje é dia dos namorados.

— Foda-se! Eu vou te atrapalhar quando você está fazendo algo?

— Cara, para de gritar, eu só queria fazer algo especial com você. — Saí de cima dele.

— Especial para quem? Só para você mesmo. Eu disse que não quero e você tem que me respeitar. Eu trabalho a semana toda e só quero chegar em casa e jogar meu vídeo game em paz.

— Talvez você devesse ter se casado com o seu vídeo game — retruquei caminhando de volta para a cozinha.

— Olha as merdas que você tá falando! Eu fiz o favor de casar com você e é assim que você me agradece? Mandando eu me casar com o vídeo game?

— O que disse? — Estanquei na cozinha chocada com o que acabara de ouvir.

— Que você é ingrata e tá me atrapalhando jogar.

— Você fez um favor em se casar comigo, é isso? — indaguei caminhando calmamente de volta ao sofá onde ele estava sentado da mesma maneira. Ele ignorou, voltou a se concentrar no jogo. — Você acha que eu não encontraria nada melhor do que você?

— Sakura, quem ia ficar com você? — indagou-me com sinceridade no olhar. Encarou-me dos pés à cabeça e voltou-se ao jogo. A expressão em seus olhos era indescritível e doía só de lembrar.

Na sala, atrás de mim, havia um espelho vertical. Voltei-me para ele e fitei meu próprio corpo sob a lingerie preta. Eu estava linda. Eu era linda. Aquele olhar que eu recebi dele não fazia sentido nenhum.

— Se pedir desculpas e transar comigo agora, eu esqueço o que você disse. — voltei-me para ele.

— Pelo amor de Deus, Sakura! Ainda está falando? Eu disse que to jogando!

— Última chance. — Engoli um seco, porque eu sabia que era alimentada por orgulho, e previamente já tinha decidido que o dia dos namorados seria decisivo para ele e para mim. Contudo, Naruto não devia me conhecer, não parecia sentir-se ameaçado.

Fiquei um bom tempo em pé esperando uma resposta, nem isso eu tive.

Ele estava me tratando como a puta do ensino médio, não como sua esposa. Eu percebi isso quando ele dissera aquilo, que me fez um favor.

Coloquei um vestido decotado da cor vermelho sangue por cima da lingerie e um salto e fui para sala. Naruto não desviou o olhar para mim nenhum minuto. Tirei minha aliança e deixei na mesa de centro, ao lado da cerveja que ele bebia.

Ele nem percebeu.

Caminhei até a porta e destranquei a fechadura.

— Aonde vai?

— Sair.

— Você não pode sair assim.

— Me assista.

Saí trancando a porta por fora, levando não só minha chave comigo, mas a dele também.

Há meses eu não tinha mais paciência para o Naruto, há meses. Eu não amava nada além do pênis dele, que aliás, nem era grande coisa e nem fazia maravilhas. Sexo era minha válvula de escape daquele casamento horrível, e era uma droga que eu mal usava.

Quando me olhei no espelho e reparei que o problema não estava em mim, percebi que não precisava passar por aquilo. Mulher nenhuma precisa implorar por sexo com o seu companheiro, não precisa fingir ser quem não é para manter boa aparência, não precisa agradar o homem privando-se do que gosta, vivendo uma vida pacata só para não ter um estado civil de divórcio.

Eu, Sakura Haruno, havia tentado ser a recatada do lar, boazinha e puritana, bebendo casualmente, transando praticamente para fins reprodutivos, e como não havia esse interesse, praticamente sendo privada de sexo; havia mudado quem eu era para manter as aparências em um casamento horroroso.

Peguei um uber para um bar do centro da cidade, chegando lá, paguei um pouco a mais a entrada para ficar em um ambiente mais reservado. Infelizmente, só havia mulheres.

Eu não tinha problema com gênero, pelo menos não antes de começar a namorar o Naruto. Contudo, naquela noite, eu tinha intensões ruins com o sexo masculino. Mesmo estando “desesperada”, eu não escolheria qualquer um. Os dois que estavam naquele espaço não me despertaram interesse, e mesmo se o tivesse, havia muitas mulheres com quem competir.

O vinho que eu tinha secado começava a fazer efeito rapidamente. Eu comecei a assistir um filme na minha cabeça com todos os momentos bons e ruins ao lado do Naruto para ver se me arrependia e voltava para casa, mas eu só conseguia pensar em quão idiota e machista ele era. Ridículo. Eu tinha vergonha dele muitas vezes e decidi que não queria sentir mais isso.

— Você está muito pensativa — comentou um homem.

Eu estava deprimida demais para virar e ver quem era, mesmo estando louca por um pau. Pensava que não saberia mesmo quem ele era, então não precisava constatar nada.

— Só lamentando como meu marido é um idiota de pinto murcho — respondi balançando a caipirinha no copo já consumido pela metade. Pude ouvir uma longa risada, ainda assim não reparei de quem se tratava. — Há uns sete anos, estar em um lugar como esse me enchia de deleite. Hoje parece tão entediante — comentei.

— Não é um lugar legal para vir sozinha — respondeu.

— Você parece-me familiar, mas estou com muita preguiça de olhar para trás e ver quem é. — Ele riu novamente. — Eu não vim para cá com boas intenções, então se sentar-se ao meu lado, terá que resolver o meu “problema”.

— Se eu me sentar ao seu lado terei que me submeter a resolver o seu problema com um idiota de pinto murcho?

— Sua voz parece-me muito familiar... Estou com medo de me arrepender dessa proposta.

— Não garanto resolver o problema do seu marido, se eu sentar aí do seu lado vou resolver só o seu — disse mais próximo, sussurrando na minha nuca.

Todos os pelos do meu corpo ficaram eriçados.

— Fica por sua conta e risco, então — respondi.

No mesmo instante, lá estava ele ao meu lado. Lindo, muito lindo mesmo, parecia renovado, esculpido do barro e avivado pelos deuses, lindo demais, demais até para mim que estava bem apresentável no auge da minha juventude.

— Você não costumava falar muito na escola, por isso não reconheci você logo de cara — justifiquei-me.

— Sempre quis te perguntar uma coisa... — Ele começou.

— Não, não perdi a virgindade em uma orgia. Perdi a virgindade com o Naruto e ele gozou depois de enfiar o pinto em mim doze vezes. Fiquei bem decepcionada — acrescentei terminando de beber a caipirinha enquanto ele ria.

— Você está um pouco bêbada...

— Estou bastante bêbada, não precisa ser gentil. Tinha bebido uma garrafa de vinho antes de chegar aqui.

— Nesse caso, você devia estar dormindo agora, ou pelo menos passando mal.

— Depois que descobri que Engov funciona, nunca mais passei esse tipo de sufoco.

— É? E quanto mais pretende beber?

— Depende. Ainda consigo conversar de maneira lúcida, não sei se consigo andar porque não tentei ainda desde a hora que sentei aqui. Queria que algum cara se aproximasse de mim na intensão de me levar para a casa dele porque eu estou bêbada e sou um alvo fácil para uma fornicação. Acho que vou parar de beber quando esse momento chegar.

— Isso pode ser classificado com um estupro.

— Não me importo. Se eu não sair da seca hoje, eu que vou estuprar alguém.

— Como assim? Seu relacionamento está tão difícil com o Naruto?

— Não quero falar dele. — Ficamos um tempo em silêncio até eu encarar o Sasuke por um tempo mais prolongado. — Você não quer ser esse cara? — convidei-o antes.

— Bom, fizemos um acordo antes, lembra? — Piscou para mim bebendo algo que eu não soube identificar.

— É mesmo. O que estamos fazendo aqui ainda? — Ele riu.

— Estou brincando! Vamos conversar, faz muito tempo que não nos vemos.

— Sasuke, não temos o que conversar, não éramos amigos. — Ele pareceu um pouco surpreso. — Não me leva a mal, mas só quero uma foda hoje.

— Bom, acho que é a primeira vez que uma mulher diz isso para mim de forma tão...

— Vulgar?

— Direta. — Encarou-me. — Nós não éramos amigos, porém Naruto e eu éramos. Ainda somos.

— Você é solteiro?

— Sim.

— Você está no seu direito.

— Eu sou contra essas coisas, Sakura.

— Sexo?

— Traição.

— Vai ser só uma vez. Não garanto que será rápido, se for eu vou ficar bravíssima com você. Mas vai ser só uma vez e não precisamos nos ver nem se falar novamente.

 — É meio embaraçoso dispensar uma mulher a fim de sexo. Geralmente o papel é invertido — comentou coçando a barba rala.

— Eu pago o motel.

— Não é essa a questão — riu bebericando o drink novamente.

Peguei a mão dele e coloquei discretamente no interior da minha coxa. Literalmente entre as minhas coxas, distante da minha intimidade.

— Dá para sentir? — indaguei sentindo os dedos dele acariciando minha pele. — Molhado, não?

A essa altura, a expressão dele mudara totalmente, sua boca estava entreaberta, seu corpo mais inclinado na minha direção.

— Há duas semanas eu não sei o que é sexo. Desde que perdi minha virgindade com o seu amigo, eu não sei o que é gozar sem ser com masturbação. Você submeteu-se a resolver o meu problema e eu quero que faça isso agora — disse em um tom baixo o encarando.

Sasuke deu um sorriso torto, muito safado, e pegou a minha mão livre para leva-la sobre o volume da sua calça.

— Agora que me convenceu , tenho que dizer que estou de pau duro desde que te vi entrar aqui.

Nossa sorte era que a área VIP não estava lotada e não tinha ninguém prestando atenção em nós dois, nem mesmo o barman.

— Se você fosse minha mulher eu ia te comer três vezes por dia e você iria gozar em todas elas — sussurrou no meu ouvido.

— Sendo assim, eu sou sua mulher a partir de agora — encarei-o talvez dez vezes mais promiscua do que ele.

A conta foi paga, saímos do bar e fomos para o estacionamento.

Estava deserto.

Para um vinho e uma caipirinha, eu estava muito bem. Andava atrás do Sasuke no mesmo ritmo acelerado, equilibrando-me no salto agulha. Ele olhava para os lados como se estivesse com medo de ser visto, como se Naruto fosse aparecer ali. Naruto estava trancado dentro de casa e eu não acreditava que ele fosse se esforçar para sair.

— Entra. — Ele abriu a porta de trás do carro. Achei estranho, mas entrei, sentei e esperei por ele.

Assim que ele fechou a porta, ele avançou e me beijou com uma intensidade que eu não sentia há anos. Eu devolvi com o mesmo vigor o mesmo tesão, e antes mesmo que ele movesse suas mãos para zonas mais erógenas do meu corpo que não fosse meu cabelo e minha nuca, eu mesma acelerei mais ainda as coisas, agarrei seu pênis por cima da calça e fiz uma leve pressão. Eu gemido rouco e contido que ele emitiu foi impagável. Com uma mão só eu desabotoei sua calça e abaixei o zíper, com a outra eu massageava seu couro cabeludo e puxava seu cabelo enquanto ele beijava meu pescoço e meu colo.

Não tive muito tempo para pensar que oficialmente estava traindo o meu marido. Eu pensava em outros homens quando estava com ele, mas naquele momento era real. E olha que vingança deliciosa, era com aquele que já foi o amigo mais íntimo dele. Não senti culpa quando recebi o primeiro beijo, muito menos quando Sasuke preencheu minha vagina com seus dedos. Se houve um sentimento além da luxuria, este foi de raiva por ter perdido tanto tempo com o Naruto.

— Não íamos para um motel? — indaguei em um breve momento de lucidez, afastando aqueles pensamento irrelevantes.

— Eu quero que você chegue lá mais molhada ainda — respondeu-me simplesmente descendo os beijos pelo meu corpo, por cima mesmo do vestido, até parar em cima da minha calcinha.

Sasuke não fez rodeios: agarrou minhas coxas e eu logo soube que ele não sairia dali tão cedo.

Eu não o libertaria de mim tão cedo.

 

 

Continua


Notas Finais


¹: The Wall é uma famosa cafeteria e bar em São Paulo na região do Bixiga. Lá tem muitos shows de bandas de rock e a cerveja é barata.


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