Após dias e dias empolgado com a produção de novas músicas, eu me sentia preenchido de uma certeza que tornou meu sorriso frouxo. Era sentir que eu estava fazendo oque nasci para fazer. E a cada hora isso me confirmava mais, o apoio que recebia, como nunca antes, e então comecei a sentir que algo estava estranho em mim, que nunca sentira antes aquela certeza.
É seguro ter certeza? Eu posso me sentir assim? E me veio um bloqueio criativo, no qual eu sentia as coisas, e vias as coisas, e as deixava passar. Assistindo-as apenas. Existindo ali.
O céu. Ele amanheceu fechado, cheio de nuvens e eu me enxerguei nele. Era como se nós estivéssemos farto de tantas nuvens. São muitas incertezas, são muito mais sonhos não realizados do que vividos, é muita covardia, é uma vida. Muito mais que as incertezas e os medos, os receios e a pressão que me preenchiam, a maior parte do meu nublado vinha da minha insatisfação de viver somente uma vida.
E não só, mas uma vida com limitados sonhos.
Passo a mão na cabeça, soltando lentamente um suspiro. Sinto sinais do meu coração apertando, e coloco a mão direita no peito. "se acalme, por favor, se acalme" sussurro.
Lembro de uma poesia que li sobre estar presente, se sentir presente, viver no agora. O que me chamara a atenção foi um verso que falava sobre viver pequenas vidas de 24h, e eu ainda estou pensando sobre isso, me soou como um lembrete, um convite, uma pequena certeza.
Olho distante para o ambiente, estamos com alguns dias de folga até o próximo show do tour, e me decido de prontidão ir ver o céu durante a noite. Observo os membros empolgados, se dedicando; Hoseok focado na sua mixtape acabou por perder peso. Preciso puxar sua orelha depois. Yoongi observador, parecia sentir de longe o que estava passando por minha mente, mas eu ignorei, e ele se concentrou em Hobi. A maknae line se preparava para ir jogar Overwatch, e quando passei os olhos por eles, Jeon sorriu para mim, e depois voltou sua atenção para os outros. Cadê o Jin? Meu coração dá um pulo sem que eu perceba. Hoje não. Não posso vê-lo.
Não é como se eu fosse chorar, afirmo para meu coração entender, apenas estou me sentido entorpecido, como se tivesse colaso no tempo, onde parei e estou me perguntando que porra disso tudo faz sentido, se precisa fazer, se vai dar tempo, se vale a pena, o que acontecerá com os sonhos que eu não viver.
Caminho até meu quarto de hotel, e me jogo cama. Solto um suspiro involuntário Encaro os equipamentos na mesa, e não sinto vontade de produzir, de escrever. Antes de fechar os olhos, tenho a vista do teto uma última vez, e me permito dormir mesmo com meu peito pesando tanto.
Acordo com um barulho que me conforta assim que me dou conta do que é. Chuva. Levanto, e passo as mãos no rosto, tomando coragem. E vou até a saída do hotel, decidido, sem olhar para os lados, sem óculos escuros, e quando sinto a brisa gelada, eu corro. Não avisei ninguém, não me dei conta se alguém viu, eu não sei para onde estou indo, eu só quero que as nuvens me deixem ver o azul do céu. Meu azul.
Minhas pernas se contraem em dor, e eu paro, exausto. Não ouvia nada além da chuva. Até passos de corrida começarem a aumentar atrás de mim. Olho sobre os ombros, e me viro lentamente, vendo uma figura se aproximando, arfante.
-Hyung ...
-Oh meu D.. O que você tem na cabeça Jeongguk ? -Assim que ele se aproxima, o puxo para debaixo de um toldo de uma loja de donuts, já fechada.
-Hyung, por que você .. -ele arfavava mais do que eu, como se não tivesse sido somente a corrida que o cansara. - correu daquela forma?
Antes de responder, o observo, abismado pelo seu impeto de me seguir, em meio a chuva, por se preocupar. Eu só precisava da chuva, precisava ver as nuvens choverem e limparem o céu, precisava ver o azul escuro, as estrelas distantes. E acabei preocupando meu maknae.
-Eu .. ah .. -Coço a nuca, sem jeito, e ele me observa preocupado, um olhar que transbordava carinho. - Há dias em que a gente não sente que é infinito o suficiente para... -Respiro pesadamente, e meu corpo reage àquelas palavras como se eu tivesse acabado de correr, e minha respiração descompassa. -suportar todas as nossas nuvens. -Desvio o olhar para chuva. Como meu corpo sentia falta das pequenas agulhas em minha pele.
-Hyung ... apesar das nuvens, o céu ainda é azul. -Ele se aproximou um pouco. - E esses dias passam.- Seu olhar sobre mim é como o de alguém que quer salvar outro que está na beira de um edifício. Caralho Jeon, você cresceu tão rápido, não se preocupe dessa forma, não me faça sentir como uma criança.
-E as nuvens chovem. -Ele se aproximou mais ainda, colocando suas mãos em meus ombros. Ele deu mais um passo, e me senti apreensivo. E ele aproximou seu rosto do meu, me encarando até fechar seus olhos, pousando suas mãos nas minhas bochechas, segurando meu rosto.
-Jeon -Ele soprou, e eu fechei os olhos por reflexo. Ele soprou novamente, e então abriu os olhos, com um sorriso. Ele sabia que eu estava bem, ele me via através das nuvens.
-Hyung, estou soprando suas nuvens para longe, para que você possa ver o azul do céu logo.
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