História Inevitável - Oito

-Ariana-
 

Eram sete horas da manha de uma quarta feira, e eu lamentava ter que acordar tão cedo, porém me levantei e coloquei uma roupa adequada, já que não saía de casa sem estar aceitável. Sai sem comer nada, pois estava na expectativa de pegar um cappuccino no café, e então o fiz, tirando também um cigarro do bolso e o esgotando antes mesmo de chegar à escola.
Cheguei e fui direto à sala de aula, me sentando no lugar de sempre, onde podia admirar Vênus e olhar todos da sala.
Era estranho como por ela eu sentia algo que jamais havia sentido com qualquer outra pessoa na vida, eu a queria por perto e seu beijo era muito mais do que apenas um beijo de uma garota bonita, era sedutor, e me fazia desejar mais. Mas mais do que isso, não desejava seus lábios, desejava ELA. E isso com certeza me assustava muito.
Sempre fui de brincar, nunca de me entregar. Sempre procurei beijos e calor, e não alguém que ficasse comigo em noites frias, debaixo de um cobertor, como em cenas românticas, não queria ficar com alguém o resto da minha vida, pois essa eternidade toda me assustava.
Eu sempre vivi sozinha, e isso nunca me incomodou, eu gostava da minha liberdade e achava a solidão algo muito mais bonito do que ter alguém que te limita. Eu sei, vocês vão dizer que é porque nunca amei, como todos sempre dizem. De fato, pode ser, mas não me vejo ao lado de alguém para todo o sempre.
Mas com Vênus é diferente, eu não me importaria de passar todos os dias acordando com ela, e beijando aqueles deliciosos lábios avermelhados; porém, com toda certeza, eu jamais diria isso à ela. Pensei em me afastar, quando, ontem a noite, vi o poder que ela tinha sobre mim, porém joguei a idéia fora logo que ela veio pra cima de mim novamente.
Eu não conseguia me manter longe.
Então o sinal toca, e chega todos eles. Todos do grupo das maravilhas de Vênus. Não dava pra ver marcas em seu corpo, com certeza tirou com algo para que Benjamin não visse, mas dava pra ver em seus olhos o nervosismo. Ela me olha, e eu encaro os olhos cor mel da garota, ela arquea uma sobrancelha e eu sorrio, depois Benjamin a puxa e eu me viro.
Benjamin me conhecia, e ele tinha um certo medo, e eu não o culpo.
O conheci na sétima série, e ele era apaixonado por uma garota, e a garota era apaixonada por mim. Eu tinha medo de magoá-lo, mas eu também gostava dela. Um dia saímos, e eu convidei uma outra garota, na intenção de Alice (A menina que formava o tal triangulo) entendesse o recado, mas não funcionou, ela pensou que era uma companhia pro Ben. Então no fim da noite, quando estávamos todos meio zonzos, a menina me beijou, e Benjamin se magoou, pois ele não fazia idéia da tal paixonite dela por mim. Ele foi embora, e eu soltei a garota pra ir atrás dele, mas de nada adiantou e a menina ficou magoada comigo. No fim, ele me culpa, por ter ficado com ela sabendo que ele a queria, sem realmente ser apaixonada por ela. Ele me culpou por ter o privilégio de tê-la comigo, e magoá-la por não querer ficar. E no fim, nós acabamos com toda a amizade.
Eu não o culpo, pois acredito que ter o coração partido deve ser uma dor muito grande, a paixão nos faz fazer coisas impensáveis, ter medos absurdos e pensamentos precipitados.
A questão é que tenho medo de tal sentimento. E não sei se quero senti-lo.
Quando o sinal bate, não me mexo, e espero até que todos tenham saído da sala, menos Vênus, ela sempre se atrasava para guardar suas coisas e falava para os amigos e namorado irem antes. Percebi isso no decorrer dos dias.
-Vênus? –Chamo.
-Oi? –Ela diz com uma voz que não mostrava emoção alguma. Era difícil para mim, não sabia ao certo o que ela queria ou sentia. Ela nunca demonstrava emoções, suas expressões não condiziam com o que ela dizia, e sua voz quase sempre saia sem animo algum.
-Conseguiu resolver as coisas?
-Que coisas?
-Benjamin.
-Ah! Bom, Arthemis me ajud...
-Pera, que?
-Arthemis me ajudou.
-Então você ta me dizendo que contou?
-Achei que quem devia temer algo era eu. Aliás, eu que sou a comprometida.
-Digamos que eu não saio muito bem, até porque eu seria a mina que rouba a namorada do amigo de novo.
-De novo?
-Deixa quieto.
-Começou, agora fala.
-Ta achando que manda é garota?
-To mesmo.
-Eu explico depois,Benjamin vai sentir sua falta e vai sobrar pra mim.
-Ok. E relaxa, Arthemis é de confiança. –Ela diz enquanto pisca pra mim e sai da sala, e por Deus, aquela cintura me hipnotizada demais. (Principalmente observando de costas)

***

Já era tarde e eu estava em casa jogada na cama, não tinha vontade de nada naquele dia, então decidi que iria dormir, mas a campainha toca e lamento ter que levantar.
Quando chego próxima da porta grito:
-QUEM É?
-É a Vênus. –Então me assusto, pois não me lembro de tê-la chamado.
-Oi? –Digo quando abro a porta.
-Você tem que me contar a situação com o Benjamin.
-Porra Vênus, não dava pra esperar?
-Minha ansiedade não me permitiu.
-Entra aí logo vai.- Então ela entra e me espera pra seguir até o quarto, e eu posso inalar seu perfume forte de perto quando ela me abraça inesperadamente.-Você ta bem? –Questiono.
-Eu to ótima.
-A ultima vez que disse isso desmaiou, então vou repetir a pergunta. Você t...
-Eu to bem cacete!
-Ah, você ta bem mesmo.
-Agora fala.
-Vou fazer um café, você quer?
-Fala.
-Vou levar como um sim, vou La.
-Fala. –Ela diz me agarrando pela blusa.
-Karalho ein.
-Fala.
-Espera porra!
-Não. Fala.
-Tá, ta, eu falo.
-AEEEEEEE! -Ela comemora.
-Bom, então... – E então conto toda a história de como magoei a mina do Ben, e ela fica sem reação.
-Então é por isso que não se falam muito?
-Ele ta tentando se aproximar de mim de novo, porque sabe que me sinto culpada, pra mim não “Roubar você também”.
-Error
-Vai se foder!
-Calma, to brincando. Até porque a culpa não foi sua.
-Me sinto mal.
-Eu também me sinto. –Então ela me abraça, e por um instante penso em me soltar dali, não gosto de parecer fraca ou coisa do tipo. Mas ali eu me sentia tão bem, que foi impossível sair.