História Inevitável - Capítulo Único

As pessoas são feitas simplesmente de momentos. Momentos em que foram alguém, em que amaram e foram amadas. Momentos esses que acabam. Que caem no esquecimento. No relento.  É inevitável.

As pessoas são simplesmente um grão perante toda a areia da praia. Uma gota perante o mar bravo do mês de outubro. Uma melodia cantada por muitos pássaros. Uma gota de sangue perante todo o corpo humano.

Se pensar por esse ângulo, somos nada. Somos apenas almas vagando em uma única direção em que o objetivo certo é a morte. Caminhamos tão devastadoramente, sistematicamente, apressadamente, em procura da felicidade, quando sempre soubemos que nosso destino é certo. Que nosso destino é o chão gelado, sujo e repleto de vermes que se alimentam de cada pedacinho nosso.

Somos nada. Absolutamente nada. Existimos por apenas uma fração de segundo e então tudo acaba.

E a parte mais difícil é saber que tudo isso é mentira. É entender que a sua fração de segundo acabou, mas a minha não.

A pior parte é saber que seus momentos acabaram, mas os meus continuam acontecendo. Sem você.

A pior parte é que você não caiu no meu esquecimento. É que você continua aqui, mesmo não estando aqui.

Eu vejo você entre o ar que escapa dentre as nuvens brancas de algodão. Entre o vento que bate na minha janela. Entre as gotas de chuva que escorrem nos vidros.

Eu vejo você em outros sorrisos. Em outros olhos. Em outros lugares.

Eu vejo você no som da mais bela música. Na chama do fogo que me aquece a noite. Na minha própria sombra.

E isso é o pior.

Saber que ainda estou aqui, mesmo com a sua ausência.