História Inexistência Etérea - Capítulo Único

Mais uma noite se passa. Ou um dia se inicia?

Dirijo-me ao banheiro como de costume, pego a água da torneira, encharco meu rosto para disfarçar os resquícios de sono e finalmente me ponho face a face com a superfície das reflexões enigmáticas.

“Por que ainda durmo?”

Plic.

“Por que ainda acordo?”

Plic.

“Por que ainda vivo?”

A cada gota que se choca com a pia depois de escorrer pelo meu rosto surge um questionamento que sempre leva a lugar nenhum, repetindo-se constantemente à cada novo dia e somando-se à melancolia inerente ao meu ser. O sabor amargo que perdura na língua depois de uma noite mista de breves intervalos entre insônia e descanso ganha uma doçura exótica.

As olheiras ilustram ao redor das janelas de vidros embaçados, que se olhar profundamente é possível enxergar através delas, embora meu corpo não seja mais do que um mero sarcófago, aprisionando os restos mortais de minha alma que um dia fora inteira. Ou talvez nem isso, possivelmente só o eco sentimentalista tenha sobrado.

“Quando é que isso irá acabar?” penso após um suspiro demorado.

Afinal tudo que importa é o mesmo: nada.

Porque o silêncio baila com o vazio numa mente desolada.