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História Inexoravelmente - Capítulo único - it's a shame that we're not soul mates


Escrita por: beeyorklund

Notas do Autor


wild nothing - live in dreams.mp3

não, não especifiquei o gênero do interlocutor

boa leitura

Capítulo 1 - Capítulo único - it's a shame that we're not soul mates


 

  Eu sinto sua falta. 

 Tudo o que você deixou foi seu cheiro em minhas roupas, bitucas de cigarro na varanda e memórias de tudo o que fomos e poderíamos ter sido. (Reconstruí acontecimentos inexistentes e notei que os sujeitos não poderiam ser a gente. Estavam sorrindo demais.)

  Não sei ao certo como te dizer como as coisas estão desde que você decidiu ir. Posso começar dizendo que tento me mover o mínimo possível, para que meu corpo não doa muito. Todo dia é só um dia e sorrisos me irritam. Os meus soam cínicos.

   Eu não sei. Você diz que gosta tanto de mim, e para você o fim parecer ser tão fácil. Também deveria ser para mim, só que talvez depois de tanto tempo com apenas minha companhia, eu tenha me acostumado com a de outro alguém. Devo tê-la apreciado demais ou de menos. Talvez seja porque ao seu lado eu não sentia um grito preso na minha garganta enquanto me encontrava num oceano de pessoas. Ou pode ser culpa dos seus olhos, que sempre tiraram minha lucidez de modo encantador. Quem não sentiria falta de estar fora de órbita de uma maneira tão doce?

   Eu poderia dizer que não me importo, mas não sei mentir tão bem quanto certa pessoa. Eu não poderia fingir que há algo ou alguém que me dá mais entusiasmo e angústia que você.

      O engraçado é que a minha única certeza sempre foi que iríamos ter um fim. Era extremamente previsível. Não adianta dizer que não era. Mas! Mesmo se ignorássemos isso e continuássemos, mesmo se deixássemos tudo continuar a nos consumir lentamente, até que nos deteriorássemos e nosso amor — ou apenas o meu, pois tenho fortes dúvidas quanto a sua parte — virasse apenas cinzas e memórias desgostosas, eu nunca estaria pronto para o nosso último adeus. Eu nunca conseguiria te odiar. Eu te disse que faço tudo errado. Eu sinto tudo errado. Eu sou todo errado.

 Parece que agora sou só eu, como nos velhos tempos, e isso não é nada animador, pois eu me lembro de como isso fazia eu me sentir, e pior: lembro-me de como é me sentir acompanhado por você. Você continuará vagando por minha mente por quase todos os instantes. Eu me agarrarei às nossas lembranças como um garotinho assustado se agarra à perna de sua mãe.

 

   Eu queria que você estivesse se sentindo como eu. Queria que estivesse pior, porque foi você que devolveu minha paz e que a levou embora. E que irônico desejar sofrimento para quem eu amo tanto, ao mesmo tempo em que quero chorar só de pensar em toda a decepção que devo ter lhe causado (pois sou uma decepção para meus familiares, amigos, professores e, consequentemente, para você). Eu quero ser aquele que modela suas cicatrizes e então as beija sutilmente.

 

   Acredito que você não faça a mínima ideia de todo o seu significado para mim (deve ser o motivo por estar me obrigando a viver sem respirar sua vida, que se tornou meu combustível), entretanto tentarei brevemente te dizer tudo o que nunca disse, fazendo um resumo do que era minha vida antes de você e do que ela é depois: era um rabisco de sentimentos desconexos e acontecimentos supérfluos; não havia lugar para qual as linhas pudessem fugir. Não havia ao menos a vontade de fugir para algum lugar. Agora eu sinto vontade de vomitar, as linhas vão diretamente para você e há uma confusão de cores por toda a página. No final, eu sou sempre um ser inadequado, mergulhado em emoções inóspitas e decadentes.

 (Eu juro que não estou sendo irônico, por mais que essa ideia me divirta. Você fez algo: fez com que eu me sentisse num mundo novo; fez com que chorar fosse derramar poesia; e, por fim, foi embora junto com todo o sentido que havia atribuído ao meu rabisco).

 

  Você partiu, e eu não consegui decifrar nenhum dos enigmas sempre carregados em seu olhar, assim como você ignorou os meus.

  Você me causou as mais inexplicavelmente dolorosas e preciosas sensações, meu amor, entretanto, sempre houve uma barreira entre nós. Não demorei muito para notar que, embora sua mão estivesse entrelaçada a minha e você falasse calmamente sobre seu dia cansativo ou sobre os pequenos — e quase inexistentes — momentos bons dele, seu olhar costumava estar longe. Eu notei todos os lampejos sombrios que passaram por seu rosto em nossos momentos de silêncio e a cada ‘’tudo bem?’’ perguntado. Eu notei que ao passar do tempo você foi parando de falar e parando de ocultar a escassez de cadência e harmonia em seu ser. Eu tentei estar lá, mas você escondeu suas mãos e eu fui fraco o suficiente para não pegá-las de um jeito ou de outro.

  Diferentemente do seu corpo, não pude adentrar em seus pensamentos e emoções nem em meus sonhos sacanas. Não pude ver através de toda a densidade de seu olhar clamando por socorro. Pedido esse que nunca foi atendido por ninguém. Eu me odeio tanto por isso. Me odeio tanto por não ter conseguido ser aquele que lhe salvaria de todos os monstros debaixo de sua cama e dentro de sua mente.

   Francamente, acredito que sempre houve uma barreira entre nós e o resto do mundo. É que nós somos inalcançáveis emocionalmente. É engraçado, porque eu sempre fui assim e imaginava que um dia isso iria mudar, pois eu iria amar alguém que me faria sentir seguro e me libertaria de mim mesmo. Eu não teria folhas de outono em meu interior nem cicatrizes pelo meu corpo. Não, não; na verdade, eu simplesmente não seria assombrado pelos meus segredos estúpidos e, vez ou outra, preocupantes. Isso seria o suficiente, mas eu sou o único que pode fazer alguma coisa (é bem mais fácil sentar e esperar um salvador, ou qualquer outra coisa que lhe tire de todo o torpor). E olhe só para nós. Não há como consertar o que sempre esteve quebrado.

   Tudo o que aconteceu foi que eu finalmente tive motivos para chorar ouvindo músicas sobre amor. Eu costumava chorar por todas as vidas que eu nunca havia vivido. Não por querer tê-las ou algo assim — eventualmente queria, admito —, e sim porque cada dor sincera expressa em cada verso e palavra cantada me enche de ternura. E que droga.

 

  Por mais que todas as minhas inquietações estejam escondidas nos cantos mais profundos de mim mesmo (o motivo de algumas delas é você), eu nunca menti quando disse que te amava. Eu te amo de um modo contido por fora e desvairado por dentro; o que eu sinto por você é minha sanidade e a falta dela. E você mal deve saber, pois, na maioria das vezes, eu contive todas as palavras que deveria ter expressado. Eu sei que elas lhe fariam sentir alguma coisa. Você... você sorriria pensando em minhas palavras embora elas não refletissem quanto a eu ser quem você precisa, não sorriria, meu amor?

  Só eu sei o quanto quero bater minha cabeça contra a parede por nunca ter tentado te dizer o quanto você é mais do que vê, mas eu sei que se tivesse tentado não conseguiria, porque eu sou só isso que você vê. Sou só esse eterno poço de fracasso e insegurança. Eu nunca conseguiria te amar o suficiente.

 

   Por mais que eu saiba que preciso te deixar ir, eu não poderia fazê-lo sem nem ao menos te implorar para que fique enquanto beijo seus pés e respiro os últimos fragmentos da sua vida completando a minha; porque, meu bem, eu não sei se você percebeu, mas meu corpo é movido por impossibilidades, como, por exemplo, impossibilidade de cantar afinadamente, impossibilidade de assistir a um filme inteiro sem me distrair, impossibilidade de passar uma semana inteira sem chorar, impossibilidade de desenhar uma linha reta e impossibilidade de te fazer feliz.

 Eu preciso parar, eu preciso encontrar uma maneira de contemplar o simples curso perfeito da natureza, a eletricidade que circunda nossos corpos, toda a pureza contida na risada de uma criança... Só que parece que tudo o que eu consigo fazer é cantar desafinado no meio de uma multidão de cantores profissionais. É reconhecer minha existência sem significado e, ainda assim, passar os dias encarando os meus pés e pensando em tudo o que eu não sou.

 Quem sabe eu devesse ter fugido no dia que você sentou do meu lado e dentro de mim se passava um mutirão de sentimentos bonitos e confusos. Eu deveria ter fugido porque eu sou muito eu e você é muito você, então desde o começo isso estava fadado ao fracasso. Mas — mas como eu poderia? Havia constelações em seus olhos e seu sorriso já era a minha última luz acesa.

  Teria sido diferente se tudo estivesse bem. Ambos sabemos que seria. Entretanto eu me sentia incompleto, e você veio e foi o que preencheu os espaços em branco. Deu o ponto de partida e no meio do caminho me deixou trilhando sem rumo. Agora que eu sei como é o céu, não sei se minha cabeça não irá explodir até que eu me acostume novamente com todos esses rostos cansados e propósitos vazios. Eu não sei se irei me acostumar com seu fantasma vagando pela minha mente. Era mais fácil quando eu tinha você para jurar que ia ficar tudo bem.

  Eu devo falar das coisas como elas são, e não como deveriam ter sido, certo? Deus, eu sou tão cansativo. Então vamos lá.

  Eu não faço a mínima ideia de como vai ser. Eu deveria traçar algum plano. Talvez eu devesse arrumar um novo caminho para casa, aprender um novo idioma ou ler literatura norueguesa. Talvez eu devesse falar com o garoto que sempre está sozinho no ponto de ônibus, ou nunca arrumar minha cama, apenas para sentir que estou quebrando alguma regra. Eu só queria não estar estagnado e não enxergar você em todos os cantos para os quais levo meu olhar. Foi tudo exageradamente imperfeito, mas eu me agarro às lembranças como se fossem a única esperança existente em meu corpo.

 Eu consigo ver sangue sendo expelido dos buracos da minha armadura. Quando eu penso que acabou, vejo sangue pelos cantos da casa. Eu preciso mudar as coisas, eu preciso que tudo seja diferente, eu preciso consertar o presente. E eu preciso te deixar ir.

  Eu só falo de mim mesmo. Eu só ligo para mim mesmo. Eu só bagunço tudo, baseado em mim mesmo. Eu sei muito bem que não posso ficar por perto. Sei muito bem que há mais bagunça na sua vida além de mim. Sei muito bem que já basta e que te amo muito, e por te amar desse tanto, isso será o melhor para você.

  Porque se você der um sorriso sincero em uma fotografia, eu sei que não serei eu que estarei ao seu lado nela. Quando você encontrar uma maneira de respirar, eu sei que não haverá nenhum resquício de mim dentro de você.

E quanto a mim, acredito que você seja a única luz no fim do túnel. Espero estar errado. Espero um dia me deitar e perceber que não pensei em você em nenhum momento do dia. Poderá tanto ser o sinal da minha regeneração quanto o da mais profunda decadência.

   Ah, eu não posso mentir. Na minha cabeça, encontramos um jeito de sobreviver: eu te amo e isso não dói, você me ama e isso significa alguma coisa. Não há nada que nos impeça. Eu volto feliz para casa porque sei que você estará lá, esperando para me manter aquecido. Será quando estivermos em sintonia com nós mesmos e o mundo em nossa volta. Possuiremos felicidade para compartilhar. E então eu te complementarei assim como você me complementará.

(É tudo o que meu coração deseja e que nunca será possível, embora haja uma esperança lá no fundo dizendo que sim, esperança essa que quero socar até que desapareça em fumaça.)

  De qualquer maneira, devo dizer que prometo que vou tentar mudar, pois sinto que é o certo e sinto que há muito mais que isso — só não posso entender como, o quê ou por quê.

 Apesar de tudo, só se lembre disso: eu só quero te ver feliz.

 



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