História Inexplicável - Aqueles olhos

Draco encarou a janela de sua sala com a cabeça cheia de pensamentos, ele estava pensando muito ultimamente, notou. E por incrível que possa parecer não eram os problemas de sempre que lhe vinham a mente. Algo novo, em que ele se recusava a pensar, para evitar futuros problemas, dizia para si mesmo, entretanto, mesmo que se recusasse a pensar a questão voltava a sua mente várias vezes por dia e ele afastava da melhor maneira que podia.

Ele colocou a mão na nuca suspirando, algo em âmago lhe dizia que deveria dar mais importância a essa questão, mas ele não podia, a última vez que isso havia acontecido ele havia sofrido muito e ainda hoje, anos depois, tentava se recuperar e seguir em frente, mas a experiência passada havia lhe tornado amargo nessa questão.

Uma batida na porta fez com que ele se desconcentrasse, ele respondeu alto o suficiente para que a pessoa do lado de fora entrasse e se virou. Hermione Granger entrou pela porta sorrindo, dissipando qualquer pensamento anterior que Draco tivera sobre não pensar sobre ela.  Sim, sobre ela. Ainda era confuso até mesmo para ele, desde a Granger aparecera em sua vida às coisas tinham mudado bastante, os dias não pareciam exatamente os mesmos, sempre havia algo novo e inesperado que fazia o dia valer à pena, como não valia há muitos anos. Depois de algum tempo ele pegou a si mesmo bolando desafios para a mulher apenas para mantê-la por perto, com aquele brilho estranho que só ela possuía: uma vontade de viver absurda, um gosto pelo desafio. Sem que Draco percebesse Hermione havia se tornado uma parte essencial de seu dia e quando não estava com ela se pegava pensando na mesma.

Não, ele não podia estar gostando dela. Não depois de prometer a si mesmo que nunca amaria alguém novamente... Não depois daquilo. Mesmo assim a sua mente insistia em voltar a pensar nela, em meios a tantos problemas se via pensando em Hermione, no seu sorriso, ou seus olhos brilhando quando conseguia fazer algo que ele duvidava que ela conseguiria. A amizade da mulher o estava afetando de uma forma mais profunda do que ele previu.

Hermione era bonita, mas não a mulher mais bonita com a qual ele já havia se relacionado e mesmo assim nenhuma delas pareceu ter o mesmo efeito que a ela exercia sobre ele. Nem uma delas pareceu nem de longe tão interessante como ela era para ele. Suspirou novamente mexendo nos cabelos nervoso e desviando o olhar da mulher na sua frente. 

 – Você está bem? – Ela perguntou andando apressadamente até sua mesa.

Naquele dia Hermione usava um vestido preto com um cinto fino e prata e um casaquinho cinza com sapatos de salto não muito altos, com seus cabelos em trança, mesmo naquela roupa tão comum estava bonita.

Draco se perguntou o que seu pai acharia se o visse agora. Ele havia sido criado entre a “nobreza”, criado para odiar pessoas como a Granger e por boa parte da sua vida havia se achado superior a mesma, que além de estrangeira não possuía sangue nobre, o sangue que sua família se orgulhava tanto em ter. Lucio provavelmente estava se revirando no tumulo aquele momento, xingando o filho por ser tão idiota.  Mesmo com a reputação destruída Draco ainda era rico, ainda era um Malfoy, então era sua obrigação continuar a linhagem da família, ele poderia ter qualquer uma que quisesse facilmente, mesmo assim, seus pensamentos eram tomados por alguém que provavelmente nunca pensaria em lhe devolver os sentimentos, pelo menos não da forma que ele esperava.

Decadente, não?

 – Hey, você está bem? – Ela repetiu agora parecendo genuinamente preocupada, ela havia rodeado a mesa e agora se encontrava de frente para o loiro com a mão em seu ombro.

 – Estou bem. –Ele confirmou – Eu só esqueci de tomar meu remédio hoje.

Era verdade, havia um tempo que havia deixado de tomar seu remédio, como se o mesmo não fizesse mais efeito para ele. Estranho, só agora que usara o remédio como desculpa que ele se tocou do fato.

Ela franziu os lábios mais não perguntou nada, o que foi um alivio. Não queria ter que explicar mais coisas e acabar se perdendo em pensamentos novamente.

 – Você mandou me chamar? – Perguntou depois de ter se afastado.

Ele assentiu, puxando sua cadeira e sentando logo depois, tentando ignorar o excesso de luz que vinha da janela.

 – Você me disse ontem que tinha uma proposta, algo sobre ajudar a melhorar minha reputação – Ele ergueu a sobrancelha incentivando-a continuar.

 – Ah, claro. Eu só estava conversando com gente que provavelmente se beneficiaria dessa proposta, além de você, é claro.

 – Como assim?

 – Você já deu uma olhada na própria empresa, Malfoy?

Ele revirou os olhos.

 – Claro que já! É grande, tem muita gente trabalhando para mim e tantas outras coisa que eu poderia citar que provavelmente passaríamos o dia aqui.

Ela assentiu.

 – Não precisa, o mais importante é o que você já citou: “Tem muita gente trabalhando para mim”. Acho que se você parar um pouco para prestar atenção nos seus funcionários, você tem vários estagiários e se tivesse se preocupado em conversar um pouquinho com eles perceberia que eles têm ambições...

 – Todo mundo tem ambições – Ele disse interrompendo – Mas eu não entendi aonde você quer chegar, o que torna esses estagiários diferentes?

 – Se você me deixasse terminar sem me interromper saberia. –Ralhou ela. – Voltando ao ponto em que eu parei, se você parasse para conversar um pouquinho com eles perceberia suas ambições, muitos deles estão aqui buscando um meio de crescer na empresa e muitos deles tem talentos que podiam ser bem melhores aproveitados!

 – Ótima idéia! – Ele disse com ironia – Conversar com os funcionários, porque não pensei nisso antes?

 – O quão idiota você consegue ser?

Ele deu um sorriso de canto, apenas para irritá-la.

 – Eu poderia conversar com meus funcionários se eles não tivessem tanto medo de mim!

 – Eles não têm medo de você! Você tem medo deles! – Ela afirmou se levantando e apontando para o peito de Draco – Tem medo do que eles vão pensar e o que isso vai significar para você, passou tanto tempo se escondendo dentro desse cubículo de proteção que não enxerga mais o mundo com clareza! Eles não têm medo e não odeiam você, mas eles não o conhecem, porque você não dá essa oportunidade! Porque você não se deixa ser alcançado!

Ele fez careta diante das acusações da mulher, ela podia estar certa, principalmente sobre o cubículo de proteção, mas isso não significava que fosse agradável para ele aceitar tal fato.

Ela pegou um papel do bolso do vestido e voltou a sentar parecendo mais calma, agora que havia deixado o loiro calado e sem reação.

 – Olhe! – Disse com entusiasmo.

Ele pegou o papel da mão dela, era um desenho de um celular, com um designer muito bem trabalhado e traços finos e de aparência leve, nos cantinhos da folha anotados possíveis configurações, um modelo de praticidade e inteligência, bem feito e de aparência profissional.

 – Esse desenho é de Peter Ward, seu secretário. Assim como ele, têm vários jovens talentos aqui dentro dessa empresa, o que nos resta é localizá-los e tentar lhe dar atenção e oportunidades melhores do que uma vaga de secretário. Chegamos ao ponto principal – Ela encara Draco como se para ter certeza que ele não a interromperia novamente, para felicidade dela ele estava surpreso e interessado o suficiente para ficar atento as palavras – Um programa a procura de jovens talentos!

 – Um o que?

 – Pense bem, sua empresa é grande e famosa, tem muita gente querendo trabalhar aqui, se você criasse um programa em busca de jovens talentos, lhe dando boas oportunidades e isso “vazasse” na mídia... Faria um bem a sua imagem e ainda ajudaria muita gente que sonha em alcançar bons cargos dentro dessa empresa. Isso é claro, é apenas uma das coisas que iremos fazer para melhoras sua imagem, mas é claro é apenas um começo.

 – É uma ótima idéia. –Ele disse por fim finalmente entrando no ritmo de pensamento da mulher. –Você tem contatos com jornalistas? Tenho uma ótima idéia de como anunciar esse novo projeto.

Ela sorriu satisfeita consigo mesma.

 – Tenho vários contatos que poderiam ser úteis, mas eles não serão de graça, você sabe.

Ele assentiu.

 – Vai compartilhar essa ótima idéia comigo? – Pergunta.

 – Claro, daqui a alguns dias irei dar uma festa, lançamento de vários novos produtos e terão pessoas importantes nesse lançamento. O que é claro, uma ótima oportunidade para lançar esse projeto, no meio de um discurso sobre a empresa e coisas do gênero. Além de ser um prato cheio para jornalistas que provavelmente estarão lá para tira foto das pessoas importantes e tentar conseguir um furo de reportagem e nós vamos dar a eles esse furo.

 – Acho que todos ficarão surpresos se você aparecer. –Ela disse em tom de brincadeira.

 – Tem razão, faz um bom tempo que não vou a uma festa de lançamento, isso já vai atrair atenção para mim, então vamos tornar isso algo bom.

Ele piscou para Hermione.

 – Avise ao Ward que ele vai ser a estrela da noite, depois eu converso com ele sobre outros detalhes.

Ela concordou parecendo anotar mentalmente.

 – E arrume um vestido bonito, você também irá à festa de lançamento.

 – Eu o que?

 – Não posso deixar minha assessora em casa enquanto eu faço todo o trabalho, posso?

Hermione revirou os olhos para o loiro, provavelmente o chamando de idiota mentalmente.

 – E tente falar com seus contatos, pergunte o preço deles e depois passe para mim.

Ela balançou a cabeça em concordância e se levantou alisando o vestido e parecendo pensativa, se virou para ir embora e antes que saísse Draco a chamou.

 – Você está fazendo um bom trabalho, Hermione.

O rosto da mulher ficou corado e ele não pode deixar de sorrir ao despertar tão reação.

☀☀☀

Ele odiava festas. Odiava multidões e depois de tanto tempo recluso em seu próprio mundo que se resumia em sua sala na empresa, seu escritório particular e sua casa, odiava ser o centro das atenções. Mas diferente do que ele dissera para Hermione alguns dias antes, ele era a estrela da noite.

Desceu do carro e entregou a chave ao manobrista, a surpresa já começou ali. Fotógrafos se viraram para tirar foto dele descendo do carro e entrando pela entrada principal, diferente de seus costumes começou a falar com as pessoas logo na entrada, atraindo ainda mais atenção, mais flashes enquanto ele apertava a mão de uma pessoa aqui, cumprimentava outra ali ou até mesmo parava para sorrir e posar para alguma foto.

Ele entrou, conversando com algumas pessoas e admirando o trabalho de decoração, o átrio principal estava bem decorado dando uma aparência rebuscada ao ambiente, algumas pessoas circulavam ali, conversavam e tiravam fotos, outras seguiam para o salão preferindo ficar onde a verdadeira festa acontecia. Ele conversou com mais algumas pessoas importantes antes de resolver entrar no salão, o local estava bem iluminado e o ar era carregado com diferentes fragrâncias, vários perfumes caros misturando-se ao cheiro do buffet e das diversas flores decorativas.

Ele procurou Hermione com o olhar, ela provavelmente já devia estar esperando-o. Encontrou a mulher parcialmente escondida atrás de um pilar, ela o chamava com o olhar, parecendo um tanto envergonhada em estar ali.

 – Boa noite. –Ele cumprimentou quando chegou perto o suficiente.

Ela saiu de trás do pilar e ele teve que se segurar para não abrir a boca em um “O” espantado. Ela usava um vestido branco e longo de apenas uma alça que deixava um dos ombros desnudos, o vestido descia com um babado abaixo do seio esquerdo, ele apertava na cintura e folgava pouco abaixo do quadril, onde possuía um decote que deixava boa parte da perna direita a mostra. Seus cabelos estavam soltos e em cachos bonitos e ela usava uma maquiagem que destacava seus olhos castanhos.

 – Não me olhe assim - Ela reclamou. –Eu usei esse vestido no casamento de Gina, então achei que seria bom para uma festa de lançamento, não esperava que teria tantas mulheres tão bem vestidas – seu olhar seguiu para pista.

 – Você está linda. –Ele confirmou.

Ela levantou os olhos para ele e sorriu, depois seus olhos desceram para a bolsa preta de mão que carregava, como se não conseguisse encará-lo.

 – Peter está muito nervoso – ela diz. –não consegui convencê-lo a falar com ninguém.

Ela dá a volta no pilar no qual estava encostada e o leva até o garoto Ward, ele havia escolhido a mesa mais escondida do local, usava um terno e seus cabelos geralmente incontroláveis estava penteados para trás, até suas espinhas pareciam ter colaborado com o garoto e não eram tantas e tão inchadas como de costume, porém, ele mantinha a cabeça baixa e parecia suar frio. Draco o entendia, muitas vezes havia se sentido assim, principalmente quando seu pai morrera e ele teve que assumir seu lugar como um Malfoy.

 – Peter, você está bem? – Ele pergunta sentando de frente para o garoto.

Ele negou com a cabeça.

 – Estou muito nervoso, não consigo encarar essas pessoas, são tantas... Todas parecendo tão importantes e eu sou apenas o Peter, me desculpe senhor Malfoy, eu não queria decepcioná-lo.

 – Você não esta me decepcionando. –Falou o loiro tentando manter a voz calma – pelo contrario está fazendo isso com você mesmo, olhe para mim.

O garoto levantou os olhos para Draco, parecendo menor a medida que se encolhia, provavelmente esperando uma bronca.

 – Pense que tudo isso esta apenas ajudando você com seu futuro, que essas pessoas são quem você deve encarar para poder subir na vida, você vai desperdiçar uma oportunidade dessas? Você não é só o Peter, é um cara talentoso que vai ter uma oportunidade única na vida, então eu sugiro que você aproveite-a, quantas vezes você acha que um COO de uma empresa multi nacional vai dar total atenção para um cara que ainda nem terminou a faculdade? – Draco não queria humilhar o garoto, mas escolheu palavras duras para que ele se tocasse da realidade.

O garoto assentiu, incrivelmente parecendo mais tranquilo.

 – Agora saia dessa mesa e tente agir de maneira confiante, converse com algumas pessoas, pegue uma bebida, relaxe. Você é a estrela da noite e o cara que escolhemos para ser o primeiro a fazer parte do projeto, aproveite a oportunidade e se conseguir se soltar o suficiente, aproveite a festa. Estou contando com você.

Peter levantou e tirou um paninho de dentro do bolso do paletó enxugando as gotículas de suor de seu rosto, depois de guardar o pano avançou para Hermione e lhe deu um abraço de urso.

 – Obrigado Srta. Granger, você é incrível. –Ele disse para uma Hermione surpresa.

Depois de solta-la ele se virou para Draco.

 – Obrigada Sr. Malfoy, não vou desperdiçar a oportunidade que está me dando.

Ele saiu andando tentando assumir uma pose confiante e falhando miseravelmente... Bem, pelo menos ele estava tentando, Draco brindaria pela coragem dele depois.

 – “Srta Granger você é incrível?” – Indagou Draco.

Ela sorriu.

 – Eu falei para ele que mostraria um dos desenhos dele para você, então ele está agradecido.

Draco assentiu.

 – Ele tem razão, você é mesmo incrível. Agora vamos, temos uma festa para animar, pessoas com quem conversar e toda essa chatice burocrática que eu odeio, mas tenho que fingir que gosto toda vez.

 – “Temos?” – falou ignorando boa parte do discurso dele.

 – Isso mesmo! Espero que esteja se sentindo bastante festiva hoje, porque eu não estou, mas temos que parecer animados – ele fez um dancinha com os braços, arrancando um sorriso dela.

 – Okay... – respondeu depois de parar de sorrir.

 – Seus contatos já chegaram? – Ele pergunta quando os dois saem de trás do pilar, tomando cuidado para que nenhum fotografo tirasse foto deles e tentasse espalhar falsas noticias. Era algo que realmente não precisava naquele momento.

Os contatos de Granger haviam chego, ela foi conversar com eles discretamente e deixou Draco falando com um casal de conhecidos. Ele não fazia um contato social importante há algum tempo, por isso agradeceu aos anos de estudo na área, anos esses que foram exigidos por seu pai quando ele ainda era muito pequeno. Conseguiu se movimentar pelo salão conversando com todos, dando a atenção necessária exigida. Descobriu novos casamentos, filhos e fortunas, sorria para todos e tentava deixar todos a vontade, contou piadas e tentou ao máximo parecer envolvido nas conversas, aquilo lhe lembrou os velhos tempos, os maus tempos. Onde ele era apenas um garoto mimado... Agora nem ele sabia quem era, mas tinha consciência de que não era mais aquele Draco que as pessoas esperavam ver.

A festa transcorreu bem, depois de ter conversado com seus contatos Hermione voltou para o lado de Draco, ela havia deixado sua bolsa de lado e carregava uma prancheta, conferindo itens da festa e mostrando para todos que era assistente de Draco.

 – Você não precisa fazer isso – Fala Draco indicando a prancheta. –Porque simplesmente não aproveita a festa?

 – Não conheço ninguém daqui para aproveitar a festa, além do mais precisamos ensaiar o seu discurso, depois eu te deixo em paz.

 – Você não está me incomodando – Ele fala. – Eu sei que de todos aqui é a única que realmente está preocupada comigo.

Ela assentiu.

 – Não quero que ninguém nos veja junto e ache que temos alguma coisa, nosso objetivo não é espelhar que você está com outra pessoa e sim divulgar o projeto.

 – Certo, foco no projeto. –Ele falou tentando não parecer decepcionado.

Eles ensaiaram as falas de Draco por um tempo, depois ao perceber que Hermione não estava à vontade tendo que permanecer ao lado dele quando ele conversa com pessoas que ela claramente não conhecia ele a dispensou.

Viu ela se retirar provavelmente indo para a parte dos funcionários comer alguma coisa e tentar ser útil, ele pegou champanhe em um garçom que passava, esperando que o álcool circulando em seu sangue fosse o suficiente para deixar aquela noite tediosa um pouco mais animada.

Quando à hora do discurso chegou ele já havia bebido algumas taças, subiu no pequeno palco segurando uma taça em uma mão e com a outra mão enfiada no bolso, fez sua melhor pose e começou sobre o novo ano e a nova coleção.

Depois desse discurso acabar e dele entregar sua taça para um dos assistentes de palco ele ajustou o microfone e olhou para onde sabia que os fotógrafos estariam, prestes a registrar o momento.

 – A empresa Black é uma das maiores do país, suas ações têm valores altos, ela é bem avaliada e seus produtos são de primeira linha, mas isso é claro, vocês já sabem – Um coro de risadas educadas. – O que não sabem é que grande parte dos jovens que procura emprego nas empresas Black tem ambições muito maiores do que seus cargos proporcionam, eles têm talento de sobra para fazerem coisas maravilhosas – Ele apontou para Peter e uma luz se direcionou para o mesmo – Como é o caso do Peter Ward, um jovem talentoso que trabalha de secretário na minha empresa.

As pessoas olharam para Peter, dessa vez ele não se encolheu, não hesitou, apenas deu um sorriso relaxado e assumiu uma expressão confiante. A luz voltou a se direcionar para Draco que continuou seu discurso:

 – Onde eu quero chegar com isso? Bom, eu seria um grande idiota se não olhasse os grandes talentos que estão sendo criados dentro da minha própria empresa. O que eu confesso fiz por muitos anos, entretanto, eu recentemente decidi que está na hora de dar uma oportunidade para aqueles que estão lutando por reconhecimento lá dentro. Eu estou abrindo um projeto para jovens talentos, onde todos eles terão todo o necessário para desenvolver projetos e mostrar a todos o que são capazes, para fazer a minha, a sua a nossa vida melhor.

O discurso continuou por um tempo as pessoas ouviram atentas e no final uma salva de palmas, ele estava alheio a isso, a única coisa que sentia é que havia cumprido seu dever, esperava Hermione estivesse certa e isso lhe ajudasse.

Assim que desceu do palco se deparou com fotógrafos que queriam fotos e entrevistas exclusivas com ele. Não era sempre que uma empresa tão grande dava esse tipo de oportunidades, mas também não era assunto de primeira página. Depois de responder os reportes o mais educadamente que pode resolveu que daria a si mesmo um tempo de folga, antes de voltar a circular pela festa, que estava cada vez mais animada à medida que as pessoas consumiam álcool.

Ele se sentou em uma mesa parcialmente escondida onde estavam Peter e Hermione, um garçom logo tratou de servi-los com bebidas e com comida do buffet.

 – Vocês acham que eu fui bem? – Perguntou assim que se sentou.

Hermione da um pequeno sorriso quando abaixa a taça da boca.

 – Você foi bem, conseguiu dar animo ao discurso e prender a atenção de todos. Você também foi bem, Peter. – Ela colocou uma mão nas costas do garoto, que pareceu relaxar e rejuvenescer alguns anos.

 – Eu só fiquei parado e sorri, não acho que isso tenha sido uma grande vitória.

 – Você se mostrou confiante, é um grande feito. Poderia ter desmaiado ali mesmo.

Peter coçou uma sobrancelha enquanto processava as palavras de Draco.

 – Eu não poderia decepcionar a mim mesmo ou estragar o meu futuro fazendo isso, Sr Malfoy.

Ele assentiu e depois passaram a comer em silencio, foi um silêncio bom, diferente da conversa sem fim de boa parte das pessoas dali.

 – Bom, como minha parte hoje esta cumprida, tenho que ir para casa.  – afirma Hermione.

 – Você esteve ajudando a arrumar a festa desde cedo, não posso pedir para que fique mais. Pode ir. – Fala Draco, mesmo sabendo que a mulher não havia pedido a sua opinião.

Depois de terminar de comer Draco limpou a boca em um guardanapo e se despediu de Peter, pedindo que o mesmo voltasse a circular pela festa falando com as pessoas.

Draco foi em direção a um garçom para pegar mais um drink, seus ouvidos já zumbiam devido ao álcool, mas apenas os drinks para deixar o falatório constante de muitos presentes suportável. Foi quando a viu, o mundo pareceu desacelerar ao seu redor enquanto ela caminhava em sua direção.

Lembranças invadiram sua mente, lembranças dolorosas que ele queria poder arrancar de si.

(Quatro anos atrás)

A morte de Lucio Malfoy ainda era recente, a dor da perda pesava no coração de Draco. Ele sabia que o pai havia morrido dentro da cadeia, apesar de ter entregue todos os “colegas” também envolvidos naquele crime e de ter a pena aliviada por conta disso Lucio adoeceu dentro da cadeia e antes que alguém pudesse fazer alguma coisa o mesmo partiu.

Na sua herança Draco tinha apenas uma empresa quase falida (já que havia perdido vários investidores quando o caso explodiu na mídia) outra empresa em nome da mãe que não era tão grande assim, mas se ele quisesse manter a fortuna da Familia deveria assumi-la e deixá-la grande e bem sucedida com a outra já havia sido uma vez e também um casamento arranjado marcado para dali a um mês.

Ele não via problema com o casamento, não mais, desde os doze anos sabia do acordo com os Greengras, sabia que mais cedo ou mais tarde ele se casaria com a filha mais nova e a partir daí as famílias estariam unidas num laço matrimonial. Havia tido anos para se acostumar com a idéia e nos ultimos dois anos começou a namorar Astoria. Ela era uma garota linda de cabelos negros e olhos verdes, gentil e amável, foi difícil para o loiro não se apaixonar por ela. Um erro enorme cometido por ele.

Astoria estava morando na mansão Malfoy mesmo que ambos não estivessem casados ainda e ficou cuidando da casa enquanto Narcisa e Draco viajavam, tentando resolver a situação da empresa. Depois de um tempo de viagem Narcisa decidiu que queria explorar o mundo, o que nunca fizera por Lucio ser pé no chão e não querer se distanciar muito dos negócios da família, assim Draco acabou voltando para casa mais cedo, por isso resolveu fazer uma surpresa para a noiva, passou em uma joalheria e comprou um anel lindo, com uma esmeralda de centro, eles combinavam perfeitamente com os olhos da mulher. Chegou em casa e entrou no quarto se deparando com a pior cena que poderia ter imaginado.

Astoria era uma mulher doce e completamente gentil, Draco havia se apaixonado por ela, amava a garota mais que a si mesmo, por isso vê-la enroscada na cama com outro homem foi de mais para ele.

Sentir nojo de alguém era pior do que odiar a pessoa, naquele dia o homem que estava com Astoria saiu correndo da mansão Malfoy, apenas de cueca e com ameaças de morte. Draco nunca chegou a saber seu nome, nem se importava com o mesmo, na realidade.

 – Porque fez isso comigo Greengras? – Ele perguntou.

Os dois nunca haviam dormindo juntos, ela havia afirmado que só se deitaria com ele quando casassem. E ali estava ela: Completamente nua, numa cama que tecnicamente pertencia a ele, mas ele não havia sido o homem com o qual ela havia se deitado, outro fora, outro qualquer.

 (Agora)

O noivado terminou naquela fatídica noite, contrariando um dos ultimos pedidos do seu pai. Quando Astoria Greengras saiu daquela casa Draco isolou o quarto e as roupas dela, esperando que nunca mais tivesse que olhá-la de novamente. No entanto, tantos anos depois ali estava ela.

Astoria usava um vestido vermelho no qual ele não prestou muita atenção, concentrado em encarar apenas seu rosto. Os olhos verdes de Astoria continuavam lindos, seu rosto estava um pouco mais velho, porém, a mulher ainda era uma das mais belas que ele havia se relacionado. Os cabelos estavam soltos emoldurando o rosto e a deixando ainda mais bonita. A maquiagem era forte e provocativa, diferente da Astória que ele lembrava, mas ao mesmo tempo tão igual que fazia seu peito doer.

Ela parou na frente de Draco e abriu um sorriso enorme.

 – Draco! – Exclamou quase abraçando-o, porém ele se afastou.

 – O que está fazendo aqui?

Ela fez muxoxo pelo abraço negado.

 – Meu marido está doente, então eu vim no seu lugar.

 – Eu não te vi aqui mais cedo.

 – Cheguei um pouco atrasada, como pode perceber. – Ela deu outro sorriso.

Draco fez uma careta de repulsa, olhar para a mulher que havia amado há tanto tempo estava fazendo algo horrível ao seu corpo, como se todas as suas células se recusassem a lembrar de tudo o que havia acontecido, por conta de um simples ato dela.

Ele se afastou mais um passo e encarou a mulher a sua frente.

 – Você não deveria ter vindo aqui Astoria, acho que deixei bem claro aquela noite que nunca mais queria te ver na minha frente. Então por favor, se retire.

 – Eu acho que deixei bem claro aquela noite que não me importava com o que você acha – Ela respondeu com voracidade colocando as mãos na cintura – Eu vim aqui porque achei que poderíamos conversar como duas pessoas civilizadas e esquecer...

 – Muito bem, vou te poupar o constrangimento de ser arrastada daqui por seguranças, se não ira sair saio eu. E não, não podemos conversar como duas pessoas civilizadas, não depois do que você me fez e definitivamente, não depois de tudo o que eu passei por sua causa.

Ele se virou para sair apressadamente, um pouco tonto, o álcool em seu organismo começando a cobrar seu preço. Mais uma vez pensamentos que ele não queria preenchendo sua mente, lembranças de Astoria, aquelas que ele havia lutado anos para manter afastadas. Lembranças de outra noite, tão triste quando aquela onde ele cometera a maior loucura de sua vida.

Não tentou disfarçar o quanto se sentia mal, saiu pelas portas do fundo e se esbarrou em Peter, que bebia e parecia alegre de mais, Draco franziu a testa, não sabia se o garoto tinha idade o suficiente para beber, mas ele não falou nada, com outras preocupações em mente, precisava sair daquele lugar, que definitivamente havia se tornado insuportável.

Deu uma gorjeta bem gorda para o manobrista que trouxe seu carro, provavelmente mais do que ele ganharia aquela noite. Entrou no veiculo e antes que Peter – Que havia percebido que o chefe não estava bem – Pudesse falar alguma coisa, ele já havia dado a partida.