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História (In)findo - (In)suficiente


Escrita por: darit

Capítulo 2 - (In)suficiente


 Os lençóis que acolhiam seu corpo tremulo, já não eram o suficiente para aquece-lo; tudo em si gritava que seu fim era perfeito, traído pelo único que se dispôs a acreditar que o amava. Yuri sentia-se patético, incompleto demais para ser amado por alguém, então por que doía tanto? Se desde o início esperava por isso, então por que doía tanto? Sua razão dizia que não fazia sentindo, por que Victor tentara tanto? Por que insistira tanto em fazer bater um coração tão quebrado quanto o seu? Mas seu emocional ferido ria da sua desgraça. “Pobre Yuri, tão sozinho e odiado”, o bichinho dentro de si gritava. “Nem sua própria mãe o amou, nem ela te quis, não passa de um bastardo”.

No ombro do amigo, Victor cansou de chorar; estava cansado de dar espaço, queria sufocar Yuri, sufoca-lo ao ponto em que o mesmo não poderia negar o amor que o cercava. Tempo era precioso demais para ser cedido naquela corrida maluca, em que um se negava a ouvir e o outro gritava a resposta.

Todos ao redor olhavam incrédulos para aquela relação maluca, que bambeava nos limites da sanidade. De um lado um masoquista incurável, pois só a essa conclusão chegava quem observava com certo afinco um Victor que parecia apreciar a sensação de ser ferido. Do outro um depressivo afundado até a alma em melancolia, em uma angustia criada e uma imaginação fértil demais; talvez um deles nem estivesse mais vivendo em sanidade, talvez o medo do abandono tivesse deixado marcas profundas demais para ser curado por outro qualquer.

De portas trancadas e luzes apagadas Yuri chorava, era incapaz, insuficiente demais para preencher um lugar no coração alheio, nem ao menos sabia quando a ideia de o faze-lo seu havia se apossado do seu ser. Talvez se tivesse notado antes que amava o outro tanto quanto ele ou até mais, se tivesse se disposto por um mero segundo a não manda-lo embora. Mas Victor cansou de o esperar, cansou como qualquer pessoa normal faria depois de tentar tantas e tantas vezes. Sentia-se como um bug de um jogo qualquer, aquele onde todos desistiam por ser quase impossível derrotar o chefão final. O que Yuri não percebia no entanto, é que em todo jogo, sempre tinha um louco, viciado ou orgulhoso demais para desistir. E se ele era um jogo mal feito com problemas demais para ser finalizado, Victor era o garoto orgulhoso que deixava de sair de casa para tentar zerar aquele jogo que todos diziam odiar, mas ele amava a ponto de não abandonar.

Um espelho quebrado no banheiro, outros mais quebrados no quarto, tudo que Yuri menos queria, era ver sua própria imagem decadente. Sentia-se fraco, desesperado como há muito tempo não estava, todas as suas proteções haviam sido derrubadas por alguém que ele acreditava estar cansado de si; desespero era tudo que restava, ele gritava dentro daquele apartamento que agora parecia tão pequeno que lhe causava uma agonizante sensação de claustrofobia.

No caminho para o apartamento do outro, Victor agonizava; seus dedos batucavam o volante do carro e o sinal vermelho que o impedia de avançar naquela estrada, parecia perdurar por tempo demais. Yuri não atendia o celular, no prédio ninguém o vira sair, um desespero sem nome, sem causa e sem precedentes invadia vagarosamente o peito de Victor que já sentia dificuldades até no simples ato de respirar. A imagem do sorriso raro que apenas uma vez enxergara no outro lhe inundava a mente, aquele sorriso fraco, banhado em lagrimas que observava ao longe, aquela fora a primeira vez que o vira, a primeira vez em que sentira necessidade de tê-lo por perto. Logo depois descobriu pouco a pouco por boatos mal contados ou até mesmo maldosos tudo que o outro havia passado.

Yuri mordia os próprios dedos com força, desejando assim que a dor física fosse mais suportável que a psicológica, seus nervos estavam à beira de um colapso; seu sangue corria rápido demais, ativo demais para alguém que desejava a inercia de um dia gelado de inverno. Não havia em si a mínima lembrança do frio que outrora o preenchia de forma tão lancinante e agora o suor que escorria das suas têmporas o fazia arrancar as próprias roupas pouco a pouco.

As memorias que tanto lutara para guardar se debatiam em sua caixa de pandora particular, elas pediam passagem, queriam sair novamente e as correntes que cuidara por tantos anos agora estavam extremamente frágeis e logo se romperiam.

“Sua mãe nunca te quis, ela tentou te matar quando descobriu sobre você”, a voz na sua mente insistia em gritar; “seu pai foi embora depois que ela morreu Yuri, ele nunca quis te encarar”, Yuri já implorava, as mãos nos ouvidos não eram capazes de calar seus pensamentos. “Sua vó dera tanto por você, mas você a deixou morrer naquele incêndio”, as lembranças pouco a pouco o afogavam; “Quantos disseram te amar? Quantas vezes seu coração foi partido?”, era verdade, afinal, seu dom de auto destruir-se havia sido criado por si mesmo, era sua culpa, Yuri pensava; sua existência em si, nunca fora necessária, as opções se afunilavam, não sabia se resistiria mais tempo; uma decisão errada em meio a tantas outras... enquanto sussurrava aquilo que ecoava em seu peito.

- (In)suficiente. - Aquilo que Victor discordava, mas Yuri acreditava ser.


Notas Finais


A fic tem mais quatro capítulos previstos. Espero que tenham gostado. :)


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