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Escrita por: yoongij

Notas do Autor


feliz aniversário mozona S2

Capítulo 1 - .único


Kim SeokJin tinha muitas qualidades e defeitos, indo de sua beleza anormal até sua grosseria com pessoas aleatórias. Não que ele era grosseiro por querer e com qualquer um, mas não conseguia se controlar quando aqueles clientes  apareciam prontos para testar sua paciência em um dia cansativo de trabalho. Já havia levado tanto sermão de seu chefe que ele sabia que a qualquer momento estaria no olho da rua, e era onde ele estava naquele exato momento.

Com sua mochila cheia de seus pertences e papéis nas costas, as alças sendo agarradas de maneira forte por suas mãos grandes e os dedos tomando um tom esbranquiçado por causa da agressividade com o ato, andava até seu prédio que ficava numa distância de um quilômetro de seu antigo trabalho. A luz solar que vinha direto em seu rosto por causa do pôr do sol que começara minutos antes, fazia que ele se sentisse em um daqueles filmes em que o protagonista acabou de ter a melhor notícia de sua vida, embora que com ele tenha sido o contrário.

Ele até gostava de trabalhar como garçom no restaurante do senhor Choi, gostava de vestir o avental na cintura e atravessar o saguão cheio de mesas e clientes com uma bandeja na mão com bebidas ou pratos de comida durante os horários noturnos, e saber que não poderia mais fazer isso e nem substituir alguém na cozinha quando um imprevisto acontecesse, o deixava um pouco cabisbaixo. Kim tinha consciência de que seus atos o levariam à demissão, mas não imaginava que seria tão rápido e em um momento de crise. Talvez tenha sido isso que o deixou mais chateado do que ele esperava.

Quando avistou seu prédio, um amarelado e antigo com oito andares, seus passos aumentaram e em segundos estava abrindo a porta marrom e a trancando atrás de si. A pequena recepção – que era algo improvisado, com apenas um balcão marrom velho e uma cadeira – estava vazia, e ele sentiu falta de cumprimentar a senhora Lim que sempre estava ali, tricotando ou lendo algo para sua neta de dois anos. Deixando a sensação desagradável que pairava em seu peito de lado, subiu as escadas e mais uma vez se arrependeu de não ter se mudado enquanto podia. Subir aquelas escadas no início era um enorme sacrifício, que ao tempo foi se tornando algo rotineiro, mas naquele momento SeokJin não estava suportando subir os oito lances de escadas para atravessar um corredor imenso e ir parar no último apartamento. Estava sendo uma atividade cansativa e parecia que a cada degrau deixado para trás, sua cama estava cada vez mais distante.

Seus planos de tomar um banho relaxante e se jogar na cama foram engolidos pelo ralo quando abriu a porta e se deparou com seu gatinho naquela forma que deixava SeokJin louco. Completamente nu e de bunda para cima, Namjoon – ou Nam como ele preferia chamar – balançava as pernas enquanto folheava uma revista de cabeça para baixo. Kim largou a mochila no chão, e percebeu a orelha direita de Nam se mexendo enquanto ele fechava a porta. Era um tanto tentador ver o híbrido daquele jeito, mas ele sabia que o mesmo não fazia de propósito. Se tinha uma coisa que Nam odiava mais do que ter que comer ração da marca Hyuhyu, era vestir roupas. “Me sinto mais livre assim”, explicou quando SeokJin deu um sermão nele por ele estar perambulando nu pela casa, sabendo que Kim levaria um amigo até lá.

Mesmo sabendo que aquilo não tinha propósito nenhum, SeokJin se perguntava se Namjoon sabia o quão afetado ele ficava com aquela cena e fazia isso só de provocar. Não era segredo nenhum que do mesmo modo que sentia atração por garotas, Kim sentia por garotos. Sua bissexualidade fora algo descoberto aos 17, e que o deixou um tanto desconfortável em ter de lidar com isso quando seus pais eram um tanto fechados para coisas novas. Mas agora, ele se sentia bem com isso, o desconforto dera lugar a um sentimento novo e aconchegante.

– O que você está fazendo? – SeokJin perguntou mesmo já sabendo da resposta. Nas mãos do híbrido a revista virada de cabeça para baixo era mais uma das que SeokJin achava em sebos por um preço super barato, e que tinha mais receitas inovadoras do que qualquer outra revista famosa.

– Você disse que gosta de bolinho de carne com macarrão, estou procurando uma receita de bolinho de carne com macarrão para cozinhar para você – a voz grossa se instalou pelo ambiente e SeokJin suspirou. Como um ser tão delicado daqueles conseguia ser um homem tão másculo e tentador? SeokJin até achava que uma bruxa havia jogado um feitiço em Namjoon, fazendo que ele fosse um gatinho pequeno de pelos negros e ao mesmo tempo um homem desejável até para os homens heterossexuais.

– Como você pode ter tanta certeza de que essa é a revista certa e de que vai conseguir cozinhar?

– A foto na capa não mente e eu sei cozinhar.

SeokJin espiou a capa da revista, rindo em seguida. Era a revista de saladas.

– Primeiro, a última vez que você cozinhou você colocou fogo na minha cozinha. Segundo – puxou a revista do híbrido, fazendo o mesmo erguer os olhos irritado –, essa é uma revista de saladas e você está lendo de ponta cabeça. E terceiro, vá vestir uma roupa.

A revista voou, parando do outro lado da sala. SeokJin viu Namjoon se sentar, desconfortável e andar batendo o pé no chão até o quarto. Pode ouvir cabides sendo jogados no chão e a porta do armário se batendo com força. Esperou paciente o híbrido voltar, arrumando a bagunça que o mesmo havia deixado. Quando voltou, usando uma calça de moletom e uma blusa amarela, se jogou no sofá de novo, levantando seus olhos que adquiriram um ar inocente e manhoso. SeokJin nem ligava mais, a bipolaridade do gato era algo que ele já tinha se acostumado.

– Nam está com fome – o híbrido resmungou passando a mão pela barriga.

– Sua ração está ali, e não é da Hyuhyu – Kim disse ajuntando sua mochila e tomando passos até seu quarto.

– Mas eu não quero ração, quero comida de verdade.

– Ração.

Um resmungo saindo do gato fez com que SeokJin risse, entrando no quarto e deixando a mochila na cadeira. Havia tantas roupas no chão que ele sentiu preguiça de ajuntar e colocá-las de volta no guarda-roupa. Até podia deixar para mais tarde e só se jogar na cama, mas sabia que não iria guardar mais tarde e também que talvez esse mais tarde seria só no dia seguinte, já que ele dormiria para acordar somente às 07 horas matutinas com Nam miando em seu ouvido.

Suspirou, ajuntando as roupas e as colocando nos cabides, que foram pendurados novamente, seguindo a ordem de sempre: do preto ao branco. Sua mania de arrumação era tão grande que até as meias ficavam na ordem de cor. Yoongi o zoava sempre, dizendo que ele era uma garota impaciente com cores fora de ordem. Talvez ele tenha sido uma garota na vida passada, afinal.

Com o quarto arrumado e um banho tomado, se voltou para a sala vendo que Nam havia voltado a forma de gato e comia a ração, vez ou outra chutando o pote e espalhando a ração que logo era consumida. Viu o híbrido acompanhar seus passos até a cozinha e logo o peludo estava se enroscando em seus pés descalços, miando alto.

Empurrou Nam, que rolou e rosnou para Kim. SeokJin apenas ignorou, abrindo a geladeira e batendo a testa na porta do congelador. Uma garrafa de leite pela metade – Namjoon realmente era um idiota –, garrafas de água cheias por ele não conseguir beber água em temperatura ambiente, manteiga e um doce de morango que havia comprado na semana anterior e não tinha terminado de consumir, já que os pães haviam acabado. Abriu o congelador, e tudo o que recebeu foi uma lufada de vapor gelado e vazio.

– Estou indo ao mercado, e pare de beber do meu leite enquanto eu estiver fora – resmungou indo até o quarto e pegando sua carteira, conferindo as notas que consistiam em dinheiro suficiente para comida para o fim de semana até que ele fosse ao banco tirar o dinheiro que receberia por ter sido demitido.

– Quero ir junto – atrás de Kim, Nam já usava a mesma roupa que colocou quando foi mandado, os cabelos bagunçados e os dedos dos pés se mexendo.

– Não quer não – SeokJin disse amarrando o cadarço do tênis preto. – Eu volto em meia hora, não faça bagunça.

– Mas eu...

A porta sendo fechada e trancada fez com que o resto da frase de Namjoon sumisse. Kim ouviu o gato bater na porta e depois miar agressivo, mas apenas balançou a cabeça tomando passos até a escada e finalmente ao mercado.

{×}

SeokJin empurrou o gato de seu colo, derrubando ele no chão e se virando para o outro lado. Havia dito que não queria ser acordado, e muito menos antes do meio dia, mas parecia que Nam não ligava para isso. SeokJin havia dito que fora demitido e por isso não precisava se preocupar em levantar cedo, mas Nam parecia completamente disposto a acordar o dono.

– Se está com fome tome a forma humana e se vire, estou cansado – empurrou o gato de novo, mas não ouviu um baque no chão. Mãos grandes tocaram seu braço nu, e ele não quis se virar para ver Namjoon pelado na sua frente. Não que a vista não fosse boa, mas ele não estava a fim de sentir vontade de foder o híbrido como sempre sentira. Bela vida onde o gato nem mesmo em seus cios deixa que Kim o tocasse.

– Queria algo preparado por você – murmurou puxando as cobertas, deixando o corpo de SeokJin que usava somente uma boxer, exposto.

– Não ligo – enfiou o segundo travesseiro acima de sua cabeça, fechando os olhos e sentindo o sono vir de novo. O travesseiro fora arrancado, e ele se sentou irritado. – Caralho, mas não se pode mais dormir nessa casa? Que demônio você.

Se levantou, empurrando Namjoon e indo até a cozinha. O híbrido não o seguiu e conforme preparava algo para o mesmo comer, acabou se sentindo culpado. Sabia como o mesmo se sentia quando Kim era grosso, e ele odiava ver o gatinho cabisbaixo em sua cama, se recusando a tomar a forma humana e comer alguma coisa. Kim só esperava que isso não voltasse a acontecer.

Deixando um prato com ovos, bolinho de arroz e peixe na mesa, acompanhado de um suco de morango, voltou ao quarto onde encontrou Namjoon no chão, ainda na forma humana. Vestia apenas um shorts, e brincava com a barra da peça de roupa.

– Sua comida está pronta, agora eu vou dormir – se deitou, puxando a coberta até seu queixo e suspirando.

Ouviu a porta ser fechada e depois barulho de talheres no chão. Revirou os olhos. Namjoon além de desobediente era desastrado.

{×}

A noite tinha recém chegado e as estrelas pintavam o céu escuro. Nam estava em sua forma de gato, dormindo na janela fechada. SeokJin e ele mal haviam conversado durante o dia, mas ele sabia que estava tudo bem entre os dois quando durante a tarde o felino se jogou em seu colo, pedindo por carinho que foi lhe dado sem hesitação.

Kim se levantou, indo até seu quarto e abrindo a janela. Subiu as escadas de emergência, se deitando no terraço. Ali havia as plantas da senhora Lim, que insistia em deixá-las ali e pedir que quem pudesse desse água para as flores em sua ausência. Com a cabeça apoiada nas mãos entrelaçadas, deixou seus olhos se perderem na imensidão negra com pontinhos brilhantes, o reflexo em seus olhos escuros.

Ouviu quando Namjoon se deitou ao seu lado, na mesma posição que Kim. Não disseram nada, e também não fora de extrema necessidade, já que eles sabiam o que se passava com o outro com uma simples respiração. SeokJin soube que Namjoon queria dizer algo, e isso só se confirmou quando viu pelo canto dos olhos o híbrido abrir a boca diversas vezes.

– Eu fico me perguntando quantas noites se levam para contar todas as estrelas – o gato disse baixinho. SeokJin passou seu olhar pelo céu, se perguntando a mesma coisa.

– Milhares, você sempre vai se perder.

– Então essa é a resposta de quanto tempo eu vou levar para ser concertado.

– Não estou entendendo.

– Quando você me ganhou, lembra? O seu ex chefe me deu para você dizendo que não podia ficar comigo. Eu estava todo machucado, e então você perguntou quanto tempo eu levaria para ficar melhor. Milhares de noites, até eu morrer.

SeokJin conseguiu se lembrar de tal dia. Estava sentado no tapete de sua sala, após ter dado um banho em Nam. O gatinho tinha uma pata machucada e uma orelha mordida – a cicatriz era visível até em sua forma humana –, e tinha medo de erguer os olhos quando seu nome era chamado. Se lembrou de que fez a tal pergunta, perguntando quanto tempo levaria até que Nam ficasse melhor fisicamente e psicologicamente. Achava que o híbrido já tinha se curado, mas estava errado.

– Não vai levar tanto tempo assim – SeokJin se sentou, passando a mão pelos cabelos negros.

– Já está levando, é um tempo infinito que não dá para encurtar – Namjoon se sentou também, abraçando as pernas arranhadas.

– Claro que dá para encurtar.

– Se eu fosse uma estrela, caindo enquanto me machuco para a Terra, em uma velocidade de um milhão por hora. Eu chegaria aqui morto, um infinito nem seria capaz de me trazer de volta.

– Por que você está dizendo essas coisas?

– Quantas noites você já quis que alguém ficasse?

Kim fechou os olhos. Não.

– Não me pergunte isso.

– Olhos podem brilhar e eu perguntar. Quantas noites você já quis que alguém ficasse?

Os flashbacks voltando forte fizeram que SeokJin se levantasse e andasse de um lado para o outro. Estava agoniado.

– Por que você está falando tudo isso?

Namjoon deu de ombros.

– Eu acordo todos os dias pensando em quando vou ser curado – o híbrido murmurou, passando a mão no rosto. – Me sinto em um infinito que só aumenta, e eu me vejo sem saída. Com você também é assim?

– Talvez.

– Você disse que pode encurtar o infinito. Como fazer isso?

Namjoon se levantou, parando na frente do mais alto. SeokJin desceu um pouco de seu olhar, encarando Nam que tinha seus olhos brilhando.

– Eu não posso.

– Então vamos encurtar juntos, duas cabeças é melhor que uma.

– Não se encurta o infinito, Nam – Seok se moveu, parando na beirada do terraço. Os carros que passavam por lá deixavam Kim agoniado. – O próprio nome já diz tudo.

– Nós podemos encurtar o infinito. Começando agora.

– E como?

Namjoon não respondeu e SeokJin prendeu a respiração. Ele não sabia ainda o propósito de tantas perguntas sem nexo, e nem sabia que a resposta dada por Namjoon podia sim, significar alguma coisa.

Talvez duas cabeças pensando fosse melhor que uma, e isso só se confirmou quando, abaixo daquelas estrelas brilhantes e o cheiro das rosas da senhora Lim presentes com o vento gelado, Namjoon tocou o rosto de SeokJin, e o beijou como se ele fosse uma preciosidade.

E bem, ele era.



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