1. Spirit Fanfics >
  2. Innocent Sinner >
  3. Bleeding

História Innocent Sinner - Bleeding


Escrita por: elusive

Notas do Autor


Décimo capítulo e provavelmente o mais difícil... Eu não via a hora de postá-lo e ver as reações de vocês, portanto não tenho muito o que falar, deixo vocês para sentirem o que tiverem de sentir~

Capítulo 10 - Bleeding


Fanfic / Fanfiction Innocent Sinner - Bleeding

A noite já havia caído e ela tinha no estômago apenas o café da manhã e algumas doses de álcool que em nada lhe ajudaram a entorpecer os sentidos. Não tinha fome, frio ou qualquer outra necessidade, mas algo a induzia de volta para a casa mesmo contra sua vontade. Sua música favorita tocava na rádio, mas ela estava indiferente à melodia.

I am a man who walks alone

And when I'm walking in a dark road

[…] I sometimes feel a little strange

A little anxious when it's dark

O Chevrolet Cruze deslizou pelas ruas do subúrbio em velocidade baixa. Hunter não tinha pressa alguma de voltar para casa. A rua estava escura, como de costume, mas nada ainda lhe chamava atenção. Estacionou o carro e buscou as chaves de casa no bolso, mas imediatamente notou que delas não precisaria. A porta de entrada estava semiaberta e dentro da casa nenhuma luz estava acesa. A fechadura havia sido arrombada sem cuidados e, quando empurrou devagar com o pé, a porta fez um ruído desconfortável.

Piscou algumas vezes para suas pupilas se dilatarem e foi entrando em casa com cautela. Não tinha nenhuma arma consigo, então se esgueirou no escuro até a gaveta mais próxima. Empunhou a pistola Colt sem supressor e checou se ainda tinha munição. Conferiu a casa toda, cômodo por cômodo, mas quando ouviu um estalido vindo do porão entendeu que o motivo do seu medo estava lá embaixo. Sentiu um solavanco dentro do peito.

I have a constant fear that something's always near

Fear of the dark, fear of the dark

I have a phobia that someone's always there

Pé ante pé, se esforçando para não fazer nenhum ruído, passou pelo portal e começou a descer as escadas de madeira. Já imaginava o que a esperava, mas ainda assim se sobressaltou quando o som de um soco abafado tomou seus ouvidos. Pela fresta entre as ripas de madeira enxergou-o de pé, os punhos cerrados e sangrentos enquanto o outro continuava preso com as mãos para trás do corpo.

— Você não poderia ser mais covarde, não é? — disse apontando a mira da pistola para as costas largas. — Baker.

— Ora, ora, a sua heroína chegou, Sanders. — Zachary se voltou para Hunter com um sorriso cínico no rosto. — Agora sim o show está completo.

— Espancando um homem algemado. Você não passa de um verme.

— Você faz o mesmo com suas vítimas, Hunter... Ou pelo menos disse que fazia. — ele ergueu uma de suas sobrancelhas finas e fez um beicinho com os lábios. — Não conseguiu machucar esse rostinho bonito, Hunter? — puxou o queixo de Matthew para que ela tivesse uma boa visão de todo o sangue que o cobria.

— Onde está Hetfield? — apertou mais o cabo da arma.

— Hetfield? — Zacky riu. — Hetfield deveria estar num asilo, aquele velho inútil. Ele disse buscar vingança, mas não tomou atitude alguma. Ainda pedia para que eu tivesse paciência, que as coisas se resolveriam do jeito dele. — outra gargalhada ecoou pelo porão. — Velho inútil.

— Pretende matá-lo? — ela se referia a Matthew. — É essa sua vingança?

— Não seja idiota. É claro que vou matá-lo. A ele e a você. Afinal eu disse que voltaria por você, não disse? Eu cumpro com minhas promessas, querida. — ele sorriu brevemente e seus olhos recaíram sobre a arma apontada para si. — Abaixe essa merda. — e tirou sua própria pistola automática da cintura. — Agora.

— Podemos esperar para saber quem vai tomar coragem de atirar primeiro.

Ele puxou com o polegar o cão da pistola e Hunter viu o par de olhos verdes brilharem malevolamente entre o vértice da mira.

Abaixe. — ordenou.

Ela engoliu em seco, mas manteve as mãos levantadas segurando a Colt. Um estouro metálico e alto se fez repentinamente e ela pode jurar que sentiu o projétil passar muito perto de sua cabeça. Quase perdeu todo o ar dos pulmões. Quando seus olhos se abriram, depois do susto, só conseguiu enxergar a coronhada vindo em sua direção. Sentiu tudo rodar e foi ao chão, mas não desacordou.

— Você é um verme, Zachary. — a voz pastosa e exausta de Matthew se esforçou para ser ouvida. — Todo esse seu ódio comprimido não é pelo Jimmy... Você não se importava tanto assim com ele. É por Cali, não é? Você deve ter ficado arrasado ao ver o rosto dela desfigurado...

— Cale-se.

— O rosto que você tanto quis para você. — Matthew ignorou e continuou falando, cuspindo o sangue da boca. — E ao mesmo tempo enraivecido por descobrir que ela tinha se apaixonado por Jimmy e não por você. Ele foi o único dentre nós que mereceu o verdadeiro amor dela, Zacky. Uma garota como Cali jamais amaria moleques como nós.

Você jamais mereceria o amor dela!

— Somos monstros, Zachary. E Cali via isso em nós. — ele fez uma pausa tomando fôlego. — Você faria o mesmo o que fiz se estivesse em meu lugar. Se a visse ficando nua e se entregando para Sullivan, você enlouqueceria como eu enlouqueci.

— Não! — Zacky estapeou a face de Matthew, que quase tombou para o lado já sem forças. — Eu jamais assassinaria Cali! Jamais!

Hunter conseguiu se levantar ainda sentindo a tontura e notou que sua arma havia sido tirada de suas mãos. Sentiu o sangue escorrer quente da têmpora até o queixo e forçou suas pernas a não cederem. Aproveitou que Zachary estava de costas e pulou sobre ele, agarrando-o pelo pescoço e fazendo-o tombar para trás e quase cair. Ele rugiu com raiva tentando arrancar os braços dela de seu pescoço.

— Eu vou te matar, Hunter!

— Faça! Você não passa de um covarde! — ela cuspiu em seu rosto e ele se encolerizou.

Zachary agarrou-a pela cintura e atirou o corpo menor para o chão. Hunter sentiu suas costas baterem contra a maca velha antes de cair no chão frio. Um chute impiedoso lhe atingiu as costelas e ela rangeu os dentes sentindo a dor lhe enfraquecer. Cego pela fúria, Baker não ouviu os passos na escada. Ninguém ouviu.

— PARE! — Matthew tentou berrar com a voz que lhe faltava nos pulmões e suas algemas tremularam produzindo o ruído desesperado do metal. — Ela não tem nada a ver com isso, é a mim quem você quer, Zachary! É a mim que você precisa!

O rapaz virou-se de volta ao prisioneiro e seu punho atingiu-o outra vez no maxilar. Não existia nenhum lugar que ainda não estivesse coberto de sangue e poucas partes do rosto ainda não haviam sido cortadas pela ira de Zacky.

— Você deveria ter salvo quem realmente importava, seu assassino miserável! Deveria ter se preocupado com a vida de Cali, não com a dessa vadia desprezível!

E quando se virou, empunhando outra vez a pistola e puxando o gatilho sem pena para a direção de Hunter, um corpo estranho se projetou para frente da mira, recebendo a bala no peito.

O estalido do tiro pareceu soar tão mais alto naquele momento que nos segundos seguintes o silêncio ficou muito mais constrangedor. Zachary, vendo o estrago, deixou a arma deslizar de seus dedos para o chão. Errado. Aquilo estava errado. Não atingira Hunter e, por mais que não se importasse com aquele humano, sabia que certos erros são imperdoáveis. Ele deveria ter ouvido a madeira da escada ranger. Deveria ter enxergado antes de ter atirado.

O corpo caiu nos joelhos. Os olhos inexpressivos encaravam Matthew atrás do atirador e o queixo caía, deixando a boca semiaberta. Sanders estremeceu com a visão. Mais uma morte na sua frente. Mais um par de olhos para assombrá-lo durante as noites. Olhos escuros, vazios.

Hunter assistiu como em câmera lenta o corpo masculino aparecer de supetão em sua frente enquanto suas pálpebras ainda tremiam devido à dor. O corpo quase tombou para trás com o tiro, mas depois caiu nos joelhos e, por fim, deu de cara ao chão. O baque surdo da pele no piso foi desconfortavelmente aterrorizante.

What if I fell to the floor?

Couldn't take this anymore

What would you do, do, do?

Zachary passou pelo corpo como se fosse um obstáculo e apressou-se em direção à saída, mas para os olhos de Hunter ele estava devagar demais. Tudo ainda em câmera lenta. Ela piscou e tentou se por nos próprios joelhos, arrastando-se até ele. Piscou outra vez vendo a expressão de Matthew. Estava tudo tão vermelho em seu rosto que ela não soube interpretar o que os olhos dele queriam lhe dizer. Parecia assombro.

Ela arranhou os joelhos no chão áspero até sentir o líquido quente que saía do peito do homem vir tocar suas pernas. O cabelo escuro, pastoso, nem parecia mais pertencer a um ser humano. Ele parecia um manequim malfeito estirado desleixadamente numa poça rubra. Mas, infelizmente, o rosto ainda era muito real. O rosto que estava virado para a direita, uma maçã ossuda colada no piso, olhos abertos para a negritude do pós-vida.

De onde ele havia saído? Ela não o viu chegar. Ninguém o viu chegar. Não havia nenhum motivo para estar de volta àquela casa, àquele porão, mas ali estava agora. Morto. A boca manchada do líquido que teimava em sair de seus lábios finos. Ela sentiu a vertigem quase fazê-la desmaiar com a visão que tinha, mas segurou-se firme.

— Brian...? — tentou chamar.

Ela empurrou o ombro para colocá-lo de frente para ela, face encarando o teto. O peito continuava a cuspir sangue e banhá-la no calor. O último calor que sentiria vindo dele.

— Brian? — a voz tomou uma sonoridade desesperada e chorosa.

Seu queixo tremeu e do peito pareceu ser arrancado o próprio coração, porque o vazio que se formou enlouqueceu-a de dor. As lágrimas rolaram pesadas, as primeiras gotas de uma enxurrada que viria. O grito que saiu de seu peito não soou humano e o choro era tão doloroso que obrigou Matthew a fechar os próprios olhos, segurando-se em sua aflição de vê-la decair sobre o amado.

Come break me down

Bury me, bury me

[…] You're killing me, killing me

All I wanted was you

Hunter tentou abraçá-lo e tocar seu rosto para sentir algum vestígio de vida dentro daquele cadáver, mas a única coisa ainda pulsante estava sendo expelida pelo tiro no peito. Suas lágrimas molharam o rosto pálido e se mesclaram à vermelhidão da morte. Ela encostou seus lábios trêmulos aos dele e sentiu o gosto de ferrugem.

Por que ele aparecera tão repentinamente? Por que voltara? Hora errada, momento errado. Ele não era um homem errado, mas não era a pessoa certa para estar ali. 

* * *

— O que vai fazer se um dia um de seus clientes me assassinarem?

Ela riu e revirou os olhos com a pergunta dele.

— Isso nunca vai acontecer.

— Mas e se acontecer? Eu morreria por você tranquilamente.

— Não seja idiota, Haner. — ela jogou os pés para cima do painel do carro enquanto mordiscava batatinhas fritas da sacola parda.

Brian dirigia sem rumo pela autoestrada e Beastie Boys berravam nos alto-falantes das portas enquanto a noite caía num breu lá fora. Fazia pouco mais de três meses desde que tinham se encontrado pela primeira vez no bar, mas já se divertiam como se fossem conhecidos de longa data.

Hunter estava um pouco alterada pelo álcool, mas Brian continuava sóbrio para apreciá-la em seu momento de diversão. Com bebida no sangue ela era bem menos fechada e rude e ele gostava muito mais daquele estado acessível da moça.

— Você não tem medo?

— Do quê? — ela se virou para ele lambendo os dedos engordurados.

— De morrer. Pessoas de nossa idade não pensam nisso, mas levando em conta o tipo de vida que você tem, acho que deve ser um pensamento constante na sua mente.

— Só teme a morte aqueles que têm algo a perder, Haner. E eu não tenho absolutamente nada a perder dessa vida.

— Talvez um dia você tenha. Talvez sinta medo da morte, um dia.

Ela sacudiu os ombros e fechou os olhos, recostando a cabeça no encosto.

— Talvez.

* * *

Matthew se esforçou para conseguir se desprender das algemas. Hunter havia as deixado mais frouxas naquela manhã, mas ainda lhe levou um bom tempo para que conseguisse arrancar as mãos pelo espaço do punho. Machucou e ardeu, mas não reclamou. Outras coisas doíam mais naquele ambiente.

Ele limpou seu sangue das pálpebras sentindo a ardência do toque no local sensível e puxou as pernas para ir até a mulher. O choro dela estava mais baixo, mas ainda era incontrolável. Ela não se soltava de Brian e o cadáver pendia sinistro no colo dela.

Matthew tocou o ombro dela com a maior cautela que pode, mas a mulher estremeceu e rejeitou o toque.

— Ei... — ele chamou baixinho se agachando ao lado dela.

— Vá embora! — ela tentou gritar com a voz embargada, empurrando ele com os braços completamente sujos de sangue. — Vá! Saia!

— Não vou te deixar sozinha.

— Eu já estou sozinha! Sempre fui e sempre vou estar! — o choro fazia as palavras vibrarem em sua garganta como uma gagueira. — Vai embora, por favor, vai embora...

Ela não tinha mais forças. O sangue vivo e rubro a cobria e a cabeça morta estava em seu colo. A cena seria horripilante se não fosse excruciante. Matthew a puxou pelo braço e ela se permitiu tombar sobre o peito dele, imediatamente sujando-o de sangue e molhando-o com suas lágrimas grossas.

— Por que ele fez isso? — gemia de dor se agarrando ao rapaz. — Por que não eu?

Seu berro angustiante ressoou outra vez e ele podia sentir que aquilo já machucava fisicamente suas cordas vocais femininas. Ele tentou prendê-la em seus braços, dar-lhe algum tipo de conforto, mas estava quase tão abalado quanto ela. Por cima do ombro de Hunter enxergava o restante do corpo morto no chão. A visão se perdia entre a realidade e as memórias de Jimmy. Entendia exatamente a amargura daquele sentimento indescritivelmente tenebroso que Hunter agora experimentava, e por isso sabia que nada podia fazer para ajudá-la.

A morte se alimentara aquela noite e saíra a galope, deixando para trás somente frio, escuridão e o eterno vazio.


Notas Finais


Aceito sentenças de morte para mim nos comentários.
Eu gostaria que o capítulo tivesse sido mais extenso, mas não consegui prolongar a cena... Acho que vocês podem entender porquê. Mas e aí? Alguém esperava por isso? Como estão os corações?
Desculpas especiais às leitoras que shippavam Briter </3

As músicas foram, obviamente, Fear of the Dark do Iron Maiden e a arrasadora do meu coração, The Kill do 30 Seconds to Mars.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...