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História Innocent Sinner - Memories


Escrita por: elusive

Notas do Autor


Volteei! \o/
Feliz natal para vocês! Como estão passando as festas?
Finalmente estou de férias e bem mais calma para poder escrever, então achei que seria um abuso deixar vocês mais algumas semanas sem atualização. Aliás, vocês ainda estão aí acompanhando a fic, não estão?? Por favor, não morram <3
E vamos ao que importa!

Capítulo 5 - Memories


Fanfic / Fanfiction Innocent Sinner - Memories

Hunter não quis ver Matthew aquela tarde, então pediu para que Brian fizesse o trabalho de alimentá-lo, o que não o animou nem um pouco. Ele não tinha paciência para empunhar uma arma cheia para um alvo sem poder descarregá-la em algo — ou alguém.

Quando a noite caiu Gates arrastou a parceira para a casa do aniversariante. A casa ficava no andar de cima, enquanto no térreo mantinha-se uma velha academia de boxe. Quando bateu à porta e foi atendida pelo homem, foi logo agarrada para um abraço.

— Ah, sua pequena diabinha! — ele bagunçou o cabelo dela como fazia com ela desde menina. — Eu estava quase desistindo de você!

— Syn não me deixaria faltar. — ela sorriu e levantou as mãos mostrando as garrafas.

— Ah, rum! Boa escolha!

Por dentro o apartamento era extremamente espaçoso e por causa disso a sala era um grande salão adornado com tatame no lugar de tapetes e quase nenhum móvel. Hunter se lembrava das vezes em que chegava em casa tarde da noite, muitas vezes bêbada, e acabava caindo no sono ali mesmo no tatame da sala. Quando acordava pela manhã, sempre tinha um cobertor cobrindo-lhe o corpo.

Eles despejaram a bebida em três copos e cortaram pedaços do pequeno bolo de nozes que Hunter havia comprado numa confeitaria de esquina. Brindaram ao aniversariante e, como de costume, sorveram o álcool num gole único, dando espaço para a segunda dose que seria apreciada com mais calma.

— Feliz quinquagésimo quarto aniversário, Kirk! — Hunter sorria.

— Quando você diz minha idade já começo a sentir as dores senis me pegando pela espinha. — ele passou a mão pelos cabelos encaracolados e cinzentos fingindo uma careta de preocupação.

— Ah Kirk, gostaria eu de chegar na sua idade com toda essa energia! — Gates comentou.

— Sabe qual é o segredo? — Kirk pausou para dar outro gole no rum. — Masturbação solo. São mais de dez anos dependendo da minha mão!

— Argh! — Hunter quase cuspiu o líquido que tinha ingerido. — Porra, Kirk! Não me façam perder a fome, seus nojentos!

Os homens riram, se divertindo. Era sempre assim toda vez que visitavam o mais velho. Por mais que tivessem problemas ou preocupações, ali com Kirk Hammett tudo se transformava em motivo de piada. Era um dos poucos momentos de distração e conforto que Hunter tinha em sua vida e por mais que negasse, sentia que devia muito ao homem. Ele a salvara, afinal.

Toni Harvey não se lembrava muito dos anos de infância até os dez anos. Tudo o que sabia era que vivera desde os quatro num orfanato católico porque, num belo dia de inverno, seus pais decidiram simplesmente sumir no mapa e deixar a garota para trás. Depois fora descoberto que Jennifer, a mãe de Toni, havia se suicidado, e o pai, Alex Harvey, voou para a Austrália e trocou de identidade, deixando a filha pequena para trás porque estava cansado do drama familiar.

Ela era a pior criança do orfanato. Odiava as outras meninas e aprontava coisas em segredo com a genialidade de um adulto, fato pelo qual acabou sendo apelidada de “pequena diabinha”. Aos dez anos conseguiu fugir do orfanato pela terceira vez, mas desta vez desistiram de tentar procurá-la. As freiras pediram perdão a Deus, mas deixaram que a menina seguisse seu caminho. Não aguentavam mais lidar com sua rebeldia.

Toni teve de vagar pela cidade de praça em praça até começar a sentir o estômago reclamar e correr para a primeira lanchonete que viu. Quando se preparava para roubar o lanche de uma das mesas foi impedida por Kirk, que mentiu dizendo que a garota era sua filha e, antes que ela criasse mais confusão, carregou a menina para longe dali. Depois daquele dia os dois se comprometeram a fazer companhia um para o outro.

Kirk fora, ele mesmo, um mercenário quando bem jovem. A chegada da garotinha órfã acabou fazendo sua vida mudar completamente. Na época ele já tinha a academia e ainda fazia trabalhos extras, mas a necessidade de cuidar de Toni fez com que ele se mantivesse estrito ao negócio de artes marciais e boxe. Kirk notou o quão diferente ela era assim que a trouxe para casa e soube que só havia uma coisa que sairia mais barata do que terapia infantil: treinamento especial para mercenários. Aos dezesseis ela já conseguia dar uma boa surra nos clientes da academia e, paralelo ao ensino médio, ela decidiu estudar um pouco de psicologia. Ignorou a vontade de Kirk de enviá-la à universidade e começou cedo com seu trabalho especial.

* * *

Depois de muita conversa aleatória, Hunter, que não havia bebido quase nada, decidiu que gastaria um pouco de energia. Era rotineiro: toda vez que vinham visitar o amigo, Hunter tirava uma horinha para treinar na academia vazia.

— Aquecimento de cinco minutos intensos, dez movimentos no saco de boxe, quatro sets de dez. — Kirk deu as ordens para o treino. — Vai lá garota.

— Você não vem?

— Estou muito bêbado e velho para isso.

— Syn?

— Prefiro ficar aqui. — e levantou a latinha de cerveja que tinha na mão. — Boa sorte!

Ela bufou e deu as costas para os dois. Kirk voltou com Gates para o pequeno escritório ao fundo e ficaram observando-a executar seus golpes pelo janelão de vidro.

— Então? — Kirk se jogou num sofá velho de dois lugares e jogou uma perna para cima enquanto Gates sentava na cadeira livre à frente da escrivaninha. — Como é que estão vocês dois?

— Na mesma. — Gates deu de ombros e bebericou a cerveja.

— Quando é que vocês vão se casar e me dar um neto?

O rapaz quase cuspiu a cerveja e gargalhou.

— Eu não acho que Toni queira esse tipo de relacionamento, Kirk.

— Eu conheço minha garota, Gates. Ela não reconhece, mas ela te ama. Não ficaria com você por todo esse tempo só por sexo.

Gates sorriu outra vez prestando atenção à mulher lá fora aplicando uma série de jabs no saco de pancada.

— Você acha que um dia ela pode desistir disso tudo?

— Do trabalho dela? — Kirk fez uma pausa e franziu os lábios. — É difícil, ela gosta de se manter ocupada... Mas chega um dia que cansa, sabe?

— Ela têm se dedicado muito a isso, tem ficado mais distante de mim. Eu disse para ela que esse serviço com o Hetfield é perigoso, manter um prisioneiro no nosso porão, se aproximar dele do jeito que ela quer... Eu não entendo como isso pode servir para algo.

It's a crime

That she's not around most of the time

— Toni gosta de mexer com a cabeça dos outros. — ele balançou a latinha para checar o conteúdo e esvaziou-a com um último gole. — Mas sinto que há algum tipo de ciúmes da sua parte, não acha? Eu vi o rapaz, ele é bonitão até. Essa proximidade de Toni com o cara te preocupa, Gates?

Ele sacudiu a cabeça bufando, mas ficou calado.

Brian esperou Hunter finalizar seu treino e por fim se despediram de Kirk e voltaram para casa. Ela parecia mais serena e simpática depois de extravasar seu estresse no treino e olhava para as luzes da cidade passando pela janela como uma criancinha admirada. O suor brilhava em sua testa e nariz e o silêncio confortável permanecia até o momento.

— Syn? — chamou sem desviar a atenção da janela.

— Hum?

— Eu acho que você deveria visitar seu pai no hospital hoje.

— Hm? Por quê? O horário de visitas já passou...

— Peça para acompanhá-lo até amanhã de manhã, então. Eles deixarão, faz tempo que o velho fica sozinho por lá.

Ele desacelerou o carro sem perceber e franziu o cenho, incomodado.

— Você quer que eu durma fora de casa, é isso?

— Não quero, mas preciso. — ela se virou no banco voltando-se para ele. — E você deve uma visita ao seu pai também.

Ele ficou em silêncio.

— Por favor? — ela pediu. — Eu sei que você vai me atrapalhar se estiver na casa.

— Te atrapalhar? E o que é que você quer fazer com ele?

— Conversar.

— Eu não vou deixar você sozinha naquela casa com ele, Toni.

— Não seja retardado, eu não preciso de você para me proteger.

Ele quis xingá-la e dizer coisas que certamente não iriam machucá-la, apenas deixá-la estressada novamente, então calou-se e bufou ruidosamente pelo nariz. Não queria que ela notasse que a preocupação dele ia além da preservação da vida dela.

— Você vai me deixar em casa e vai seguir para o hospital. — ordenou. — Nós nos vemos amanhã.

— Eu não quero ser o seu servidor, Toni. Quero ser seu homem, entende? Quero que você divida tudo comigo e quero fazer parte de tudo o que você faz.

Ela sorriu, mas não disse mais nada. Quando ele estacionou para deixá-la na porta de casa, Hunter se livrou do cinto de segurança e se esticou para um Brian silencioso, sério e raivoso.

— Ei. — ela beijou-lhe a bochecha e puxou seu rosto pelo queixo. — Você sabe como as coisas funcionam comigo, não fique emburradinho. — selou os lábios dele com um beijo longo e sorriu. — Aliás, você já é o meu homem.

The way she shows me I'm hers and she is mine

E saiu do carro deixando-o para trás com a prévia de um sorriso pouco satisfeito no canto dos lábios.

* * *

Depois de um longo banho e de vestir com um confortável suéter verde escuro e calças leggings, Hunter apanhou sua pistola, chaves, uma garrafa de vinho e taças e desceu para o porão. O prisioneiro parecia já ter notado a presença de alguém antes mesmo da luz ser acesa.

— Pensei que seu namorado viria me trazer o jantar.

— Tenho coisa melhor para você. — balançou a garrafa para ele.

Deixou-a junto com as taças na maca velha e puxou as chaves.

— Temos um vinho para degustar, então se comporte. Vou deixar você livre por um tempo porque seu corpo deve estar bem dormente. Mas não se esqueça — ela levantou o suéter mostrando a pistola na cintura. — que eu nunca estou desprevenida.

Ela soltou as duas algemas de Matthew e ele foi se movendo aos poucos, fazendo careta enquanto esticava as partes doloridas. Hunter estava com a pistola na mão, empunhando-a como se fosse um brinquedo qualquer. Ela o deixou caminhar um pouco para sentir os músculos do corpo e depois o serviu com uma taça de vinho tinto. Ele bebeu tudo num gole só.

— Uau, calma aí cowboy.

— Sede.

— É, estou vendo. Bom, eu esqueci a água, mas pode beber mais, se quiser.

Ele quis. Encheu a taça novamente e sorveu o líquido mais devagar, apesar de ainda não ter matado a sede.

— O que é que você quer de mim agora?

— Eu alguma vez pedi algo para você? — ela bebeu seu primeiro gole e encostou-se à parede assistindo-o andar de lá para cá.

Ele suspirou sem paciência com a taça ainda em mãos.

— Encontrei alguns detalhes sobre você, Sanders.

— É? — perguntou fingindo falta de curiosidade. — O que é que lhe disseram agora?

Ela sorriu e bebeu outro gole grande antes de largar a taça de lado e cruzar os braços na frente do corpo.

— Os documentos de Ironwood me disseram que você fazia algumas visitas periódicas ao psicólogo. Eles te obrigavam?

Ele olhou nos olhos dela pela primeira vez no dia. Encheu o pulmão de ar e voltou a sentar na cadeira, deixando o corpo pender para frente e os cotovelos se apoiarem nos joelhos.

— Você acha que eu teria medo de psicólogos?

— Absolutamente não. A não ser que eles te dessem remédios para você controlar sua depressão ou te dopassem toda vez que você se metia em uma encrenca. É ruim ser tratado como um doente mental na cadeia, não é?

— O que é que você está fazendo, garota?

— Conversando.

— Eu não sou o que você está pensando que eu sou. Você não me conhece, então não tente fazer esse jogo idiota comigo.

Ela sorriu e coçou a nuca casualmente. Estava cutucando a onça com vara curta e sabia disso.

— Eu sei que psicólogos não funcionam de muita coisa. Principalmente em casos como o seu. Eles pacificamente nos obrigam a jorrar nossos traumas e medos para eles, gostam de ver nosso lado mais fraco e tudo isso para dizer que tudo vai ficar bem no final. Porra... imagina só você falar para um assassino que tudo vai dar certo no final. — ela riu e balançou a cabeça. — Desculpe. É irônico.

— Por que você não cala a sua boca?

Let me tell you, I'm vicious

Not pass-aggressive

— Ei o que é que houve? Eu disse, só estamos conversando.

— Eu não quero ouvir o que você tem pra dizer. Eu já entendi o que você quer de mim.

— E o que é que eu quero de você, Matthew?

— Você está fazendo aquela coisa... Essa manipulação fajuta que os psicólogos fazem.

Ela ficou quieta por um instante. O corpo dele estava respondendo muito rápido aos estímulos mentais que ela produzia.

— Sua última consulta foi há seis meses, mas foi você quem pediu para ver seu psicólogo. O que estava te incomodando, Matthew? A ideia de sair da prisão e voltar para casa te atormentou?

— Cale a boca.

— Por anos eles tentaram entrar na sua cabeça e você resistia. Vieram os remédios e sedativos, mas mesmo assim você lutava contra a intrusão na sua cabeça. Depois você ficou um tempo sem eles porque tudo parecia bem e você sentiu que os remédios haviam se tornado necessidade. Sem os sedativos você voltava a sonhar com aquela cena novamente. Você tinha pesadelos com o Jimmy e a Cali, não tinha? Revia tudo aquilo de novo, toda noite...

— CALE A BOCA! — urrou. — Por que você não me mata logo? ME MATE LOGO!

Hunter não esperava pela explosão do rapaz. Ele estava mais sensível do que ela imaginou e aquilo a alarmou. A linha entre a sanidade e a loucura dele era tênue e estava se rasgando bem ali em sua frente. Felizmente os reflexos dela eram mais rápidos e bem treinados para momentos assim.

Tudo aconteceu numa sequência muito veloz: Matthew quebrou a taça no próprio joelho, sujando a calça de moletom com o líquido vermelho, e com o cabo pontudo e afiado que restou em suas mãos forçou o vidro contra seu pescoço.

Cause agony brings no reward […]

Don't be a casualty, cut the cord

Cut it!

Hunter se jogou sobre ele e, com força, conseguiu arrancar o vidro das mãos dele antes que caíssem os dois no chão. Ele já havia conseguido perfurar o pescoço, mas a rapidez da mulher o impediu de acertar a jugular e o ferimento não conseguiu ir muito além da superfície da pele, mas já fazia sangrar o bastante para fazer Hunter correr até a caixa de remédios no armário de ferro.

— Ah seu idiota, seu idiota! Puta que pariu, olha o que você fez!

Ela voltou para o chão e ele estava apertando as mãos contra o ferimento, os olhos prensados em dor e os cílios úmidos. A boca grunhia e tentava se controlar.

— Acalme-se. Merda eu não sei o que fazer com esse tipo de sangramento!

Ela buscou desesperadamente alguma coisa na caixa e puxou de lá um vidrinho com remédio e uma seringa. O remédio não era para uso humano, mas estancava sangramentos. Ela imaginou que não o mataria se usasse uma dose bem pequena. Puxou 1ml do remédio e aplicou direto no pescoço, afastado ao ferimento. Pegou gaze e algodão e fez pressão sobre o corte e respirou fundo sentindo a quentura do pescoço dele.

— Você quer foder com meu serviço, seu retardado? — praticamente gritou, o que fez que ele abrisse os olhos. — Você nem mesmo soube fazer um ferimento certeiro! Puta merda, Matthew!

— Você... — ele gemeu.

— Cala a boca! — apertou o pescoço dele com mais força. — Caramba você é louco! Eu não preciso fazer nada, você mesmo já se colocou na beira do abismo sentimental, Matthew.

— Por que está me chamando de Matthew hoje? — sussurrou quase sem voz alguma.

Ela franziu o cenho pra ele e balançou a cabeça, irritada, o deixando sem resposta para aquela pergunta tão estúpida e fora de hora.


Notas Finais


Matthew dando tretaaa!! Esse menino está todo acabado e vocês vão ver mais do sofrimento dele no próximo capítulo, então preparem o coração! Brian também tá sentindo as coisas meio estranhas, vocês perceberam? Comentem aí as teorias que vocês tem sobre todo esse drama!
Espero por vocês nos comentários <3
Caso eu não volte até ano que vem, desejo a todos um começo de ano maravilhoso e cheio de realizações~~ Até o próximo, gracinhas!

PS: já ia me esquecendo! As letras de músicas desse capítulo foram Cherry Wine do Hozier e Cut The Cord do Shinedown.


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