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História Insanity - Pursuit of happiness


Escrita por: Bipolarize-se

Notas do Autor


Olá pessoas
Queria agradecer muito aos 2.500 de visualização e aos quase 50 favoritos que nosso amorzinho tem, so.. Muito obrigada a todos.
Eu iria juntar esse capítulo com o próximo, mas acabaria ficando muito grande e muito demorado para postar.
Prestem atenção aos detalhes da fic, poucas palavras podem falar muitas coisas.

Capítulo 18 - Pursuit of happiness


Fanfic / Fanfiction Insanity - Pursuit of happiness

Terça-feira, 27 de maio de 2008

Miami // Florida

 

 

 

Álcool 70% de concentração (sendo assim, 70% de álcool para 30% de água) O mais eficiente dos antibactericidas e o produto que me fez ganhar uns pontos de confiança a mais com meu chefe. Foi apenas uma sugestão que eu fiz, mas que deixou Patrick feliz por isso. O dono prezava pela limpeza, o que era um dos diferenciais entre nós e a concorrência. Eu mesma ficava satisfeita depois de limpar uma mesa e dar tchau as bactérias.

Minhas mãos segurava firme na flanela vermelha molhada com o álcool, esfregava em círculos até toda superfície ficar úmida e com cheirinho gostoso de álcool. Bom, algumas pessoas não gostavam, e me consideravam como uma drogada passiva por gostar de cheiro de álcool e gasolina, mas eu nem ligava.

A madeira de lei já limpa, restos jogados em cima do apoio de pizza para serem jogados no lixo, caminhei de forma preguiçosa até a parte interior da cozinha e joguei todos as bordas de pizza e azeitonas fora. Acho que aqui e agora eram a parte mais empolgantes do meu dia. Sinceramente, estava uma merda.

-Laur, você pode atender o último cliente para mim? -Pat entrou na cozinha já se encaminhando a pia para lavar as mãos- Eu lavo isso aí. Já dispensei Bernardo.

-Claro. -Lhe passei a tábua redonda.

-Faça o favor também, feche a metade da porta para saberem que já estamos fechando. -Olhei brevemente para o relógio de parede, que também tinha traços rústicos. 18:33- Vou fazer o que você me pediu agora.

Lavei minha mão apenas com água e saí da cozinha secando-as no próprio avental vinho para depois ajustar alguns fios de cabelo dentro do boné também vinho. Fui primeiro até a porta do estabelecimento e puxei a porta de ferro até a metade. Para aumentar minha sorte, uma leve garoa caia na vertical. Só consegui ver por causa do poste de luz amarelado. Se andar de bicicleta pelas ruas de Miami a noite já era bom, imagine chovendo?

Num giro de calcanhares, caminhei até o rapaz de jaqueta de couro sentado de costas. Meus sorrisos tem me saindo tão falsos que até cogitei como seria entrar na faculdade de artes cênicas algum dia. Como seria, não como vai ser.

Sorri com pouca vontade, caminhei a passos leves até o rapaz. Mas de todos os sorrisos falsos, foi esse o que mais depressa morreu.

-Boa noite. O que você vai pedir? -O sorriso de covinhas se alargando foi o que fez meu refluxo quase me pegar de surpresa na hora. Seu braço repousava na cadeira ao lado, e em sua mão, a caixinha sendo ligada e desligada, faíscas azuis.

-Você? Eu sou um cliente aqui. Exijo respeito.

-O que o senhor quer? -Não falei sobre o cardápio, e acho que ele percebeu isso. Seu aparelho foi repousando a sua frente na vertical. Os olhos azuis me olhavam avaliativos, quase me mastigando entre dentes pontiagudos.

-Duas fatias de pepperoni. -Disse simples.

-T-temos a promoção de uma fatia a coca em lata sai pela metade do preço. O senhor deseja?

-Claro. -Sai com a mesma paciência que entrei a caminho da cozinha. Shawn de longe me dava medo. Me dava repulsa, raiva. Compaixão, pena. Sentia pena sim, porque qualquer ser humano que se submeta a isso por uma paixão não correspondida é digno de pena. O medo só vinha real quando imaginava ele conseguindo o que queria.

15 minutos depois, o pedido já se encontrava pronto. Não tive coragem o suficiente para encarar a cara de pato dele nesse meio tempo, e dei graças a todas as mesas e o chão já estarem limpos.

-Aqui está. -Entreguei e já ia me virando para sair daquele ar que me sufocava.

-Eu quero você sentada aqui, Jauregui. -Virei-me de volta. Ele apontava para uma cadeira a sua frente, abrindo a lata de refrigerante com a outra mão- Agora.

Não esperei muito para me direcionar até lá. Queria que isso acabasse logo, e não estava me referindo apenas a presença desse rato em meu local de trabalho.

Sua boca ia mastigando de forma lenta e tortuosa. Ele queria prolongar aquilo, e sei que ele queria que eu reagisse para ele revidar. Sabia que qualquer coisa que desse errado não era apenas a mim que ele ia ferir. Seus olhos não deixavam os meus, eram olhos de combate, gladiadores com fome do meu sangue, e eu saia na defensiva. Sabia que se ele me tirasse de vez da jogada ele poderia ser descoberto, e sua chance com Camila se anularia, e sabia que comigo na jogada, também eram baixar por ela se preocupar. Nem sei se ela se preocupa ainda. Já não sei de mais nada.

As pizzas acabaram, a coca também. Os dentes já eram a centésima vezes palitados quando ele se levantou com a mão nos bolsos e foi andando até a porta.

-Deu 8 dólares. -Ele se virou lentamente soltando aquele sorriso maquiavélico. Pegou uma folha qualquer em seu bolso e começou a escrever usando a outra mão como apoio.

-Acho que clientes vips não precisam pagar. -Jogou a folha em minha direção e saiu como se nada tivesse acontecendo. A folha dançava pelo ar de tão leve, parou a três pés do meu all star surrado.

Apanhei o papel foto do chão sem pressa. Atrás dele escrito em letras rabiscadas:

 

Eu comando o jogo, vadia.

 

E ao virar a foto quase caí para trás, mesmo sentada. As quatro meninas, com algodão doces nas mãos e sorrisos largos e verdadeiros num parque de diversões. Porém o foco não era esse. Literalmente foco, pois havia uma mira desenhada bem no tórax de Normani.

As lágrimas vieram sem pedir depois dessa. Três, quatro, cinco. Algumas não muitas. Limpei todas e respirei fundo para não deixar nenhum vestígio. Retirei da minha carteira uma nota de cinco, outra de dois e um dólar. Loncoln, Jefferson e Washington; poderia jurar que me olhavam com olhares acusatórios e desdenhosos. Seria cômico, se não trágico os três presidentes dos Estados Unidos rindo de todo amontoado de merda que isso tudo era.

-Parem de me olhar assim! -Dobrei as notas com fúria. De volta ao trabalho.

 

***

 

Já era de se esperar que eu chegasse em casa completamente ensopada. Vale lembrar de deixar uma capa de chuva na mochila antes de sair de casa com a bicicleta. Acabou que o moletom que eu peguei emprestado do meu irmão ficou encharcado, meu tênis tinha textura de borracha no solado, calça grudando nas pernas e o cabelo todo lambido.

Girei a maçaneta com calma, segurando uma bolsa impermeável que trazia do trabalho junto com a mochila. Antes de sair havia enrolado tudo que era de papel em uma sacola plástica da pizzaria, então não era preciso dar a desculpa que meu dever de casa foi refogado dentro da minha própria mochila. Antes de dar o primeiro passo, torci meu cabelo para o lado de fora. Retirei um pouco da água em minhas calças e no moletom para respingar o menos possível dentro de casa.

Passei direto pelos meus pais para chegar na bancada da cozinha. Deixei a bolsa impermeável em cima da bancada, deslizei seu zíper e abri a tampa. Enxuguei minhas mãos num pano de prato. Retirei uma embalagem de tamanho pequeno e uma sacola plástica. Voltei a sala me pregnando por dentro pelos meus tênis deixando rastros de água e poeira no chão da casa. Papa estava com o olhar vidrado no jornal da noite, somente com um dos shorts que ele usava todas as noites, uma das pernas dobradas para si e o tronco totalmente relaxado no sofá. Mama do seu lado, deitada em seu ombro, camisola branca e os pés todos para dentro do sofá. Deixei o embrulho com dois pedaços de pizza de frango com bacon na mesa de centro, junto com uma lata de cerveja sem álcool para ele e uma lata de chá gelado para mamãe, todos na parte de vidro para não manchar a madeira da mesinha. Ela não gostava de pizza, ao contrário de meu pai que amava qualquer coisa que uma criança pudesse comer.

-Filha, vem cá. -Estendeu o outro braço em que não segurava minha mãe.

-Estou molhada papa. -Dei um beijo em seu rosto e um no rosto de mamãe.

-Feliz aniversário, meu amor.

O perfume de meu pai era esplêndido. Era fã de carteirinha de suas fragrâncias fortes, e bem encorpadas, mas nenhuma delas substitui o perfume do meu avô. O perfume com o formato de um charuto cubano, que me rendia boas brincadeiras e bons tapas quando eu o levava a boca e fingia ser a rainha da máfia. Sentia falta dele mais que tudo.

-O-obrigada pai. -Sorri de lado. Mama segurou em minha mão com ternura, começando a acariciá-la.

-Porque não pediu para eu ir te buscar?

-A-a chuva m-me pegou de surpresa. E-eu já tava saindo.

-Filha, fiz cupcake para você. Estão dentro do forno. Toma um banho quente pra você não ficar gripada e come. Pode deixar que eu limpo essa água que a senhorita deixou.

-Viu mãe.

-Deixei uma surpresa em seu quarto.

-O que, pai?

-Sobe lá e veja. Mas tome um banho logo. Você está com a pele fria.

-O-okay. -Dei alguns passos para fora do campo de visão que eles tinham da televisão- E-eu amo muito vocês, viu?

Vi os dois voltarem a atenção para mim com sorrisos apaixonados. Por quanto tempo não disse isso a eles? Nem me recordo. Quando crescemos é isso. Não lembramos mais de falar o que sentimos, quanto mais eu que tenho sérios problemas em falar o que sinto. Mas era minha família ali. Pelas idas e vindas, sei que eles me amam, e eu queria deixar claro isso antes de tudo acontecer. Nada é culpa deles.

-Também te amamos muito filha, muito mesmo. -Minha mãe respondeu com brilho nos olhos. A tempos que não via dona Clara sem reclamar de nada comigo. Acho que era o tal de dar um tempo. Pelo menos hoje, meu aniversário.

Voltei a cozinha para retirar o resto das embalagens. Retirei a bandeja com três cupcakes médios, um red velvet, um de chocolate e outro de baunilha. O de chocolate tendo confetes e uma pequena velinha no meio. Mordi um pedaço generoso de cada percebendo o recheio que mamãe colocou. Joguei os restos no lixo, porque eu realmente não estava com a mínima fome. Comi somente para minha consciência não me acusar de mama ter tanto trabalho para eu jogar tudo fora sem ao menos experimentar.

Rumo escadas a cima. Meu corpo já não deixava tantos rastros de água pelo chão, só mesmo as pegadas úmidas. Bati três vezes na porta de madeira que foi aberta quase que na hora. Chris apareceu segundos depois com a toalha em volta da cintura e os cabelos molhados. Estendi o pacote com três pedaços generosos de pizza e uma coca. Sabia que meu irmão tinha uma fome fora do comum.

-Hey, Laur. Obrigado. -Pegou o embrulho- Feliz aniversário. -Vi que ele ficou no constrangimento entre me abraçar ou não.

-Estou molhada. -Fiz um gesto com as mãos de que não precisava ele se aproximar.

-Vejo, você parece um pinto molhado. -Gargalhamos juntos. Dessa vez de verdade. Sem falsidade no sorriso.- Espera.

Chris se enfiou de volta ao quarto me deixando o ar da dúvida ao lado de fora. Voltou mais rápido que eu pudesse imaginar.

-Aqui. -Me estendeu o caderno preto do Death Note.

-Hey… n-não precisava. -Sorri ao ver o caderno com todas as regras de uso do death note.

-Não é muita coisa mas achei que você iria gostar.

-Eu adorei, muito obrigada mesmo.

-Feliz aniversário.

Fui me aproximando da próxima porta com meu presente em mãos e duas caixas de pizza. Essa encomenda era maior, precisava ser hoje. Toquei três vezes na porta de Taylor ouvindo o som saindo do microsystem do seu quarto. A porta se abriu mostrando minha irmã num pijama de bolinhas e mais duas amigas sentadas na cama. Uma negra de óculos e outra ruiva com sardas.

-O que houve? Porque está toda molhada? -Voltei meu olhar a minha irmã que me olhava com curiosidade. Tay era do tipo que percebia fácil as coisas, e poderia muito bem me ler se eu desse qualquer brecha. Era bem parecida com Lu com isso.

-E-está chovendo… -Entreguei duas caixas de pizza a ela.

-Obrigada. -Pegou as caixas- Feliz aniversário, maninha.

-Obrigada, Tay.

-Você não quer vir depois para uma noite das garotas? Aquelas ali são a Anna e a Beth. -Esgueirei um pouco a cabeça apenas para deixar um boa noite fraco e gaguejado as duas amigas de Tay.

-E-estou um pouco cansada. Se divirtam. -Movi em meia volta para a direção do meu quarto, porém, antes que eu pudesse andar, Tay segurou firme eu meu pulso.

-Tudo bem com você? -Mirei o olhar preocupado dela. Tay é uma garota incrivelmente legal, leve e atenta. Me preocupa saber que meus sorrisos talvez não funcionam com ela.

-Sim. Só sono. -Um beijo estalado na minha bochecha fez a despedida da noite. Depois disso, um banho, quentinho e demorado bem merecidos.

Sentada na minha cama, com meu belo conjunto de moletom, lia atentamente as regras do death note.

Como usar: I: O humano cujo nome é escrito nesta nota morrerá. Esta nota não terá efeito a menos que o escritor tem o rosto da pessoa na sua mente quando se escreve o nome dele/dela. Portanto, as pessoas que compartilham o mesmo nome não serão afetadas. Se a causa da morte está escrito dentro dos próximos 40 segundos de escrever o nome da pessoa, isso vai acontecer. Se a causa da morte não for especificada, a pessoa vai simplesmente morrer de um ataque cardíaco. Depois de escrever a causa da morte, detalhes da morte devem ser escritos nos próximos 6 minutos e 40 segundos.

Como usar: VIII: Pode também escrever a causa e/ou detalhes da morte antes do enchimento em nome do indivíduo. Certifique-se de inserir o nome na frente da causa de morte por escrito. Você tem cerca de 19 dias (de acordo com o calendário humano), a fim de preencher um nome. Mesmo se você realmente não possuir o Death Note, o efeito será o mesmo se você puder reconhecer a pessoa e/o nome dele/dela para colocar o espaço em branco.

 

O toque do meu celular me tirou a atenção. Em cima da bancada notei duas notas de 100 dólares, certamente deixadas pelo meu pai.

 

-Alô?

-Olá cabeçuda. -Sorri instantaneamente.

-Oi Lu.

-Feliz aniversário branquela. Que Deus ilumine essa cabecinha que você tem, e que você não faça besteira, se não eu vou aí e te mato. -Gargalhei baixinho.

-Obrigada, prima.

-O que você estava fazendo?

-C-Chris me deu um Death Note de presente. S-só tava dando uma olhada.

-Eu não entendo esses desenhos malucos que você assiste.

-Anime…

-Tanto faz. Olha, as férias de verão estão chegando…

-V-você vem?

-O que você acha de viajar comigo pra você me contar tudo que está acontecendo? -Sorri triste. Uma viagem seria bem legal, mas o tempo não está a nosso favor dessa vez.

-A-acho bom.

-Vou falar com pai Mike e mãe Clara então…

-Como vai o namorado?

-Ótimo. -Falou animada- Ele cozinha pra mim, e me faz massagem… Eu e você temos tanta coisa pra conversar…

-Temos mesmo. Você tem sorte.

-Está tudo bem com você?

-Aham.

-Eu sei que não está. -E eu sabia que ela sabia.

-S-só tô com um pouquinho de sono. -Bocejei em falso.

-Tudo bem… tenho que desligar. Tenho uma prova amanhã e vou virar a noite estudando.

-Não faz essas coisas, Lu. -Repreendi- Fazer prova com sono não da certo.

-Eu sei, mas eu tô nervosa. Depois a gente se fala?

-Claro. Boa noite, e vê se dorme.

-Claro. Boa noite, cabeção.

-Lu….

-Oi Laur?

-Te amo muito. -Acompanhei um chiado baixinho. Lu estava rindo e isso me fez sorrir um pouco triste. Sentiria falta dela.

-Também te amo muito, branquela. Tenho que ir, beijos.

-Beijos.

 

Comemorei internamente pelas notas que meu pai havia me deixado; 2 comprimidos de Rivotril e, finalmente, cama.

 

***

(play)

 

Um sorriso genuíno dançava em meus lábios. A lataria preta, brilhante e espelhada reluzia quase cegando meus olhos. Meu carro havia voltado, bem mais bonito e funcional. Nem parecia o mesmo carro depois de polir a lataria. A exterior refletia como um espelho todo o estacionamento da escola. Me sentia até uma daquela galera “cool” do colégio.

Chave no bolso, usei a lataria brilhante para ajeitar o óculos e a touca. meus fones de ouvido cantavam as músicas do artista Kid Cudi em meu ouvido. Andei sem pressa ao meu armário com o intuito de deixar alguns livros e pegar o de literatura.

-Feliz aniversário!

-V-você nunca se atrasa tanto pra me dar parabéns. -Falei sem dar muita bola em olhar para o dono da voz.

-Qual é! Estava resolvendo umas paradas.

Mirei rápido para ele. Estava diferente. Os olhos vermelhos e hipnotizantes, mas, como sempre, sem nenhuma marca de expressão. Busquei os detalhes, mas nada era diferente nele. Charlie na verdade me olhava de forma diferente. Parecia um lobo atrás de sua caça; Os olhos bem abertos e avaliativos.

-Qual porcaria que você está escutando?

-Eu gosto dele… I'm on the pursuit of happiness; and I know everything that shines ain't always gonna be gold; I'll be fine once I get it, I'll be good (Estou em busca da felicidade; e sei que tudo o que reluz nem sempre será ouro; eu vou ficar bem assim que eu conseguir, eu ficarei bem)

-Você canta mal pra cacete. -Rimos em unissom assim que paramos na caixa onde eu guardava meus pertences.

-Maluca… -Um rapaz loiro saiu dali resmungando quando me viu “rir para o nada”. Charlie e eu nos olhamos por mais alguns segundo antes de rirmos mais um pouco. Coloquei a senha do cadeado e fui impedida pela mão grande de Charlie para abrir.

-Tenho algo pra você.

-O que?

-Antes preciso te falar algo. Ally conseguiu a festa para daqui a duas semanas, depois das provas. Ela vai insistir pra você ir, e eu sei que você não vai conseguir dizer não. No próximo dia pela manhã o comprador do seu carro vai estar à disposição para te entregar o dinheiro vivo, então você pode fazer o que precisava. Logo depois, pela tarde seus pais não vão estar em casa… então…

-Então eu viro estrelinha. -Soltei um suspiro longo, com o olhar nas pequenas aberturas do armário cinza chumbo.

-Boa garota. Abre o armário. -Depois de um olhar rápido e confuso direcionado a Charlie, abri em slow motion.

-Merda. -Num movimento mais rápido pelo susto, a porta fez um barulho quando eu a empurrei de volta com força- Ch-Charlie, i-isso é crime. -Olhei para os lados, tendo certeza que não havia ninguém em meu enlaço.

-Ninguém vai saber. -Riu. Relaxei minimamente antes de abrir de volta a porta e me deparar com um frasquinho de vidro no meio das minhas coisas.

-E-eu já consegui vender algumas coisas minhas…

-Não precisa se preocupar. Seus pais vão saber o que fazer depois que você for embora.

E mais uma vez, Charlie estava dotado de razão. Meus pais eram talvez as pessoas mais racionais que eu conhecia. Meu pai, era a figura patriarcal após a morte de meu avô. Minha mãe sempre foi uma pilastra para meu pai, falando sobre o certo e o errado. A diferença entre querer, poder e dever. Cresci com isso em mente, era um ciclo vicioso entre as três palavras. Eu quero mas não posso, posso mas não devo, devo mas não quero. Eu quero, posso e devo. Devo? Posso. Quero… quero e devo.

Eu confiava neles.

-Vá para sala. -Charlie me despertou da nuvem de pensamentos que me rodeavam agora- Camila está por perto te observando. E ela está abraçada a Brad Roe.

-Brad Roe… O cara que eu vi depois da biblioteca? -Meu estômago na mesma hora ficou dando voltas. Era uma sorte ter Charlie ao meu lado para não ter que presenciar a cena.

-Esse.

-O-o que eu faço com essa coisa aqui dentro?

-Deixe. Ninguém vai perceber.

Peguei o livro de literatura. O caminho até a sala não era tão grande, mas era o suficiente para minha cabeça rondar em como seria a vida daqui para frente.

Será que Chris se casaria? Teria o emprego que lhe fizesse bem? E Tay? Ela ficaria bem? Meu pais ficariam decepcionados comigo? E a Lu? Será que a Camz está saindo com aquele cara? E como seria o futuro dela?

Quanto tempo demora um Luto?

-Charlie… -Busquei meu amigo ao me sentar na primeira cadeira da frente, colado com a parede direita da sala. Geralmente ninguém queria sentar ao meu lado, e eu agradecia profundamente por isso- C-como você não viu Camila chegando no dia da biblioteca?

Chili reapareceu na minha frente, sentado no degrau que fazia um palanque para o quadro do professor. Tinha os cotovelos entre os joelhos e os dedos segurando delicadamente seu queixo.

-Eu não posso tudo. -Falou em uma careta.

-N-não?

-Não. Principalmente com Ela. Ela vai acabar estragando meus planos… Me prometa que seja o que aconteça você não vai desistir do nosso plano.

-Laur! -Outra voz mais fina apareceu de imediato, sem nem mesmo pensar na proposta de Charlie. Os passos curtos iam chegando mais perto, só me dando tempo de tirar os fones de ouvido para receber um abraço de urso de ladinho.

-Oi Ally. -Sorri terna enquanto via a menina se sentar no mesmo lugar onde antes estava sendo ocupado por Chili.

-Tenho uma ótima notícia para te dar! -A garota afoita começou a falar como se não houvesse amanhã, me arrancando um sorriso fraco pela sua felicidade- Os pais da Mani disponibilizaram a piscina para a gente fazer a festa, e já tem gente se comovendo a ir. A festa vai ser daqui a duas semanas, na sexta da última prova. Eu queria muito que você fosse uma das primeiras a saber, porque foi você que deu a ideia e tudo…

-Hey, isso é ótimo, All! -O brilho nos olhos da baixinha me faziam sorrir fraquinho e sentir aquele orgulho no interior do coração. A felicidade dela me trazia uma faísca de felicidade, e essa faísca era similar a um copo de água gelada quando se está com sede.

-O quintal da Mani é bem grande, da pra fazer algo legal. Troy conseguiu um amigo DJ que vai tocar de graça pra ajudar. E ainda tem as bebidas que um tio da Dinah está me ajudando muito a saber o orçamento e essas coisas. As meninas estão me ajudando como nunca. Isso pode dar tão certo!

-Eu fico feliz por você… de verdade.

-Mas, hey… -Cessou o falatório- você vai, certo?

-All… -Fitei a menina com um pouco de pesar- N-não sei s-se sou bem vinda na casa da Mani.

-Qual é Laur… já está na hora de você parar com isso. -Usou um tom de repreensão- Você é uma pessoa boa. Porque não deixa a gente te ajudar?

-N-não preciso. -Sorri de lado- Mas tudo vai passar, All. Logo logo.

Em menos tempo do que você pensa.

-Eu espero que você volte a falar com Camila. -Desviei os olhos- Ela sente sua falta.

-C-como estão? Elas… as… meninas?

-As coisas não andam muito bem ultimamente. -Voltei a fitar a menina com o olhar de dor direcionado a mim- Os pais da Dinah estão se separando… Minha mãe está em repouso absoluto dentro de casa, esperando se vamos ou não conseguir a cirurgia… Camila e você…

-Sinto muito.

-Tudo bem. Eu sei que conseguimos passar por tudo porque temos umas as outras. Você também pode…

-Mani e Dinah tem ódio de mim.

-Eu também tinha.. -Pontuou com a vergonha crescente surgindo- Mas você está dando a minha mãe uma oportunidade para viver, e não sobreviver.

Seria estranho dizer o quanto me sinto igual a mãe de Ally? Tudo bem que ela tem dores infernais nas costas, mas ela sobrevivia. Assim como eu. A vida é capaz de nos tirar bens preciosos. Um ente querido; um brinquedo favorito; sua essência; um sorriso; seu motivo de viver. A vida era uma baita de uma ladra. Mas nem poderia reclamar tanto, pois a vida também coisas que ficarão brilhantes em minhas memórias póstumas. A vida me deu sorrisos, me deu poucos e bons amigos, me deu uma família. Me deu Camila.

-E-eu tenho algo... para ti. -Peguei um pequeno embrulho guardado entre meus pertences dentro da mochila. Por fora não era nada demais. O envelope de papel e cola de isopor feito a mão com letras grafais indicando o destinatário.

Ally me olhava com um sorriso divertido e desconfiado ao mesmo tempo. Sorriso que venha-se de passagem que era um dos meus favoritos, o sorriso com os olhos. Ela estava mesmo confiante com sua mãe, e eu torcia com todo o resto das minhas forças que ela conseguisse tudo o que queria.

Coloquei o envelope gordo em suas mãos. O olhar desconfiado se alargou, o sorriso sumiu de sua face. Ally vincou sua testa olhando para mim e para o envelope alternadas e várias vezes. Não tardou em abrir a língua de papel.

-LAU- -Tampei rápido sua boca, gargalhando baixinho pela cara de assustada que a morena fazia.

-Shhh... -Os dedos ágeis iniciaram uma contagem pelas notas que agora estavam em seu colo. A cada nota deslizada, a cara criava mais espanto, meu sorriso ficava mais genuíno, e meu aperto em sua boca continuava para evitar qualquer alarme.

-LAUREN! -Gritou abafado ao terminar a contagem das notas.

-E-eu vou soltar, mas você tem que ficar calma, ok? -Ela assentiu. Seus olhos quase saltando das órbitas não deixavam os meus.

-Lauren! São mil dólares!! -Seu queixo caiu em um 0 bem oval.

-E-eu sei. Essa é minha ajuda… É s-só 5% do que v-você precisa, mas já é algo.

-Não, Laur. Não posso aceitar. Isso é muita coisa. -Segurei suas mãos que se submetiam em rearrumar as notas de volta ao envelope.

-All... aceite. Por favor.

-Deus! Então eu prometo que vou te devolver assim que puder. -Outro sorriso se enfeitou no cantinho dos meus lábios. Ela é teimosa, mas não a culpo. Faria a mesma coisa em seu lugar.

-E-eu estou dando de coração. -Duas lágrimas escorreram pelas suas bochechas. O biquinho de choro tremendo tamanha a felicidade que a garota se encontrava. Felicidade convertida em choro. Quantos tem esse sentimento de prazer? Quer dizer, chorar de felicidade… me parecia uma boa sensação- N-não quero de v-volta. Se fosse c-com minha mãe eu ia querer ajuda.

-Laur… faculdade é cara… não…

-Tudo bem All… não vou fazer faculdade. Tenho outros planos. Use-o ao menos p-para arcar com as coisas da f-festa.

Seus braços me puxaram de surpresa, num aperto quente e aconchegante. Uma pequena sensação de alívio ia batendo minha porta. O choro baixinho contra meu ombro me deu a oportunidade de afagar suas costas com carinho. Aquela sensação boa de estar fazendo bem a alguém me arrancou um sorriso sincero. Caso alguém no submundo me perguntasse o que eu fiz de bom, poderia dizer que dei pelo menos uma felicidade sem pedir nada em troca, afinal, nada em troca seria tão boa quanto essa sensação.

-Eu não tenho como te agradecer… -Fungou forte.

-A-as pessoas só falam um obrigada. -Gargalhou baixinho limpando seu rosto banhado em lágrimas.

-Obrigada, Lauren Jauregui. -Se sentou correto novamente segurando minhas mãos- Todos os obrigadas do mundo não agradecem o que você está fazendo.

-P-por nada. -Desviei um pouco o olhar para nossas mãos. As delas eram tão pequenas que cabia quase tudo dentro da minha palma.

-Você e Mila. -Voltei a olhá-la sem entender- Vocês se amam. Da para ver nos olhos. -Fiz um gesto de negação- Vocês duas precisam voltar a se falar. Você é uma pessoa tão maravilhosa, Laur.

-All… A única c-coisa que q-quero te pedir é que não insista. Por favor. Eu t-tenho meus motivos.

-Se você me falasse…

-Mas n-não posso, pequena. -Falei paciente. Minha mãos se encaminhou para fazer um carinho leve em seu cabelo. Um afago de consolação, não só para ela, como pra mim mesma. A ausência de Camila transformou meu peito num terreno baldio que não deveria voltar a ser alguma coisa, só um depósito de lixo crescente- Eu prometo que eu vou ajeitar tudo isso.

-Você vai desistir do amor?

-O amor não gosta muito de mim, All. -Falei sorrindo

-Tudo bem, não vou insistir mais… por hoje. Você vai a festa, certo?

-Farei o que puder.

-Tenho que ir. -Levantou-se com o maior sorriso do mundo. Felicidade palpável que eu entreguei a mexicana de bandeja- O professor já está chegando.

Me embalou de volta em seus braços. Se pudesse creio que Ally não queria mais desgrudar de mim. Se soltou menos depressa saindo rumo a seu assento

-Chili. Acho que podemos seguir c-com o acordo.

-Uma promessa? -Reapareceu no mesmo lugar e posição de antes.

-Não. -Revirou os olhos- Uma meta, talvez. Eu não tenho certeza. É-é uma ida sem volta.

-Vou te dar todos os motivos necessários até lá. -O sorriso de canto foi crescendo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais




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