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História Inside the Movie - Sete


Escrita por: Cold_Sky

Notas do Autor


Mil perdões pela demora! A única explicação que tenho é a faculdade. Eu avisei nos primeiros capítulos que isso poderia acontecer às vezes. Espero que me entendam!

Peço desculpas para a menina que me pediu um POV do Chris. Eu realmente tentei fazer, mas não consegui deixar de um jeito que não entregasse meus planos para a fic logo de cara. Sinto muito, amor!!

Até lá embaixo.

Capítulo 8 - Sete


 

Sete

 

DIAS DE segunda são os mais fáceis de trabalhar, volto para casa e descanso um pouco mais depois do fim de semana.

Nina deve estar quase chegando, então deixei uma lasanha no micro-ondas para já estar pronta para ela. Passei a tarde fazendo redações de assuntos medicinais – e tentando não sujar o meu quarto.

Estou tomando meu banho para o fim do dia quando escuto a porta do banheiro abrir.

– Kat? Posso entrar ou está fazendo outra coisa? – A ouço do outro lado da cortina do Box. Imagino só sua cabeça entrando pela porta.

– Só não invada o Box!

– Consigo ver sua bundinha na cortina. – Nina diz com um riso. Jurava que a cortina era escura o suficiente, mas ela está vendo minha sombra e quem sabe o quê mais. – Como está? Tem lasanha pra você no micro-ondas.

Quero saber como vai minha prima e meu sobrinho/primo.

– Tudo ok, e obrigada! Zach perguntou como você está, se você falou de sexta pra mim.

– Eu te contei o básico, não foi? Por favor, só não diga que inventou um monte de história pra ele! – Peço.

 – Caramba, você faz parecer que sou uma fofoqueira! – Sua voz estava indignada.

Ela sabe ser irritante e me arrastar para Zach. Tenho pena do garoto, com certeza a procurou para conversar inocentemente. O único defeito de Nina é ser impaciente com o meu jeito mais reservado.

– Nina, como respondeu a ele? – Fecho o chuveiro para ouvir melhor. Meus cabelos curtos escorrem água, passo as mãos para torcer.

– Apenas disse que você gostou e que eu mesmo senti sua cabecinha relaxar. Mas cá entre nós, não foi bom? Não estou falando de sair, mas de passar um tempo com Zach.

Respiro fundo. Meu banho já havia terminado, mas abro a torneira outra vez e enfio a cabeça dentro d’água.

– Foi sim. Levei a saída e a companhia de Zach na amizade, foi o que tornou divertido. Só tenho você a maior parte do tempo, conversar com ele também é confortante. – Explico singelamente.

– Tudo bem, é um começo. – A voz do outro lado ficou meio duvidosa. – Kat, você fisgou o loiro mais na sexta passada que em dois anos. Zach parece estar muito contente!

– Ah, que bom! – Fecho a torneira, mas diante da revelação eu preciso pensar mais um pouco.

De tanto ficar no chuveiro quente posso pegar uma gripe, então desisto. Coloco a mão pra fora da cortina e pego minha toalha.

– Já pensou em ligar pra ele?

Na verdade pensei em mandar mensagem, só para saber como ele passou o fim de semana, ou mesmo para perguntar se chegou bem em casa na sexta feira.

– Não como você está pensando! – Enrolo uma parte da toalha e seco o rosto.

– Poxa, Kat! Você nunca vai encontrar um garoto que sita tanta intensidade por você. Amor de verdade só acontece uma vez na vida.

– E quem disse que Zach é o meu amor!? – Abro a cortina do Box e a vejo sentada ao sanitário, bisbilhotando o meu celular.

– Devia trocar o deslizamento de tela do seu desbloqueio. – Ela fala normalmente, não por deboche de estar fofocando, mas por aviso. – Sério, se for roubada vão usar as suas coisas!

Ok, isso eu posso pensar depois. Nada de comprometedor se encontra para Nina ver em meu celular.

– Desculpe ser chata, mas liga pra ele. O deixaria mais contente! – Estendeu o celular.

– Acho que ele devia ter me ligado! Se realmente quer algo comigo. – Falo para passar o assunto.

– Foi o que eu disse, mas ele não quis ser grudento. Já conseguiu um avanço e não ia estragar! – Vai ser dureza me tirar de casa de novo, então a última coisa que espero é ele insistindo. – Ele é tão fofo! Por que não liga pra ele? Mas não pode dizer que eu te contei isso.

Reviro os olhos e faço não. Iremos nos ver amanhã, qual a razão disso? Saio do Box e calço e meu chinelo para voltar para o quarto.

– Tá perdendo sua grande chance! – Ouvindo sua frase eu pego meu celular.

Vou para o meu quarto e fico ouvindo música, Ed. Não sei o quanto Nina pode estar certa, mas acho que eu mesmo saberei reconhecer meu amor.

 

 

PENSAR NA vida é algo que o ser humano faz frequentemente. Geralmente quando aspiramos um desejo, planejamos uma mudança, ou vamos receber algo inesperado como um bebê. A conversa de ontem com Nina me deixou um pouco pensativa, mais do que eu precisava na verdade. Já pensei em me formar e ser uma grande médica. Eu voltaria pra Suíça, serviria minha profissão de corpo e alma lá. Por alguma razão, comecei a pensar em outras coisas.

Andei pela rua essa manhã encarando as pessoas, os homens, melhor dizendo. Nina me fez imaginar como eu seria o homem que me apaixonaria. Há várias características no sexo oposto, algumas eu achei atraentes, outras não, só de observar. Até parece que nunca vi um homem na vida, mas que verdade seja dita, nunca olhei atentamente para escolher um tipo. Isso é importante? Talvez seja idiotice, Nina não falou de físico, mas de amor. Independente de rosto, corpo e qualquer beleza, ele precisa ser o meu melhor amigo.

Chegamos ao trabalho e vejo Nina pensativa, como eu. Ela também se afetou? Ou talvez ela ache que estou chateada, porque não falei o caminho todo. Deixamos nossas coisas nas mesas de maquiagem, e ela sai.

– Luke, olhe pra mim! – Peço e vou atrás da garota.

Já havia algumas pessoas para filmar, o oitavo andar estava razoável. Nina vira o corredor e entra no banheiro.

– Amor, você tá bem? – Ela está debruçada na pia. Vai vomitar! Corro e seguro seu ombro. – Isso é enjoo? Não devia ter vindo se estava passando mal.

– Volta pra sala, já vai passar, daqui um pouco a vaca chega e vai brigar se não estiver lá. Acho que nem dá pra vomitar, é só embrulho no estômago. – Ela abre a torneira e lava o rosto para disfarçar a palidez.

– Sério, Nina? Que diferença faz se vai ou não vomitar!? Não consegue nem ficar de pé sem se contorcer, não me diga que vai passar. – Pego papel na caixa e seco o rosto dela bem devagar. Está com a pele frágil, isso é normal na gravidez.

Nina não estava chateada, estava enjoada e eu devia perceber já que sou a única pessoa da família. Estou com uma enorme vontade de levantar o dedo do meio pra vaca se ela brigar por alguma coisa.

– Quer voltar pra casa? Eu te levo, a gente pega um táxi ou eu ligo para o Ian. Você escolhe! Dane-se a vaca.

Jogo o papel fora e pego mais. O jeito como os olhos de Nina pesam, indicam como sua noite foi ruim.

– Porque não pediu para o Ian passar a noite com você?

– Não vou atrapalhar ninguém, Kat. Relaxa!

– Acha que vai atrapalhar o pai do seu filho? É dever dele confortar você nesses momentos.

– Ele está atarefado, pegou a contabilidade de um cara rico. É muito trabalho, isso é bom. – Nina encosta a bunda na pia. – O ruim da gravidez é não poder tomar remédio. Sofro com azia a noite toda, mas sempre passa. Obrigada por me ajudar! – Seu sorriso é fraco.

– Você é o amor da minha vida, querida. – Molha uma toalha de papel e coloco na nuca dela. Fico me questionando se é bom ficar se molhando no frio.

– Por favor, se concentre num homem, não em mim. – Ela tenta rir.

– Desculpe, acho que nenhum homem vai tanta atenção de mim como você tem. Talvez só o pequeno Damon. – Dou de ombros.

– Stefan! – Resmunga.

A gente ri de verdade. O dilema do nome, eu não vou discutir. Cuidar de uma mulher grávida não vai ser fácil, preciso ter mais força para mandá-la se cuidar. Deixo a garota voltar pra sala enquanto faço uma necessidade no banheiro.

Quando saiu do banheiro, vejo uma loira bonita passando creme nas mãos na pia. Reconheço Claire Holt, que me dá um sorriso quando lavo as mãos para sair.

– Você é amiga da Candice? Ela me pareceu bem intima ontem.

– Nem em outro mundo. – Respondo uma idiotice por ficar surpresa.

– Ah, eu imaginei! Ninguém consegue ficar muito tempo com ela se não for obrigado. – Ela riu de leve. Minha resposta não lhe deixou constrangida, ficou mais doce ainda e brincalhona.

– Pois é! Quase isso que passo todo dia. Mas é só não alfinetar e ela fica calma, ou quando Chris não faz piada.

– Aí, essa é a primeira vez que trabalho com ele. Não o julgue, só quer quebrar o clima, é sensacional.

– Acredite, eu sei. Só disse que isso perturba a va... A Candice. – Eu preciso me cortar para não falar besteira.

– Coitado! Ele precisa ser forte pra ficar muito tempo com ela, eu vou aparecer uns quinze minutos no filme, é pouco coisa. – Ela mexeu o nariz e balançou a cabeça. – Amanhã é o meu último dia, depois só em Nova York quando vamos precisar de atrizes novatas pra completar uma cena.

– Pela sua cara, queria acabar seu trabalho amanhã, não é? – Estreito os olhos.

– Candice odeia trabalhar com novatos. – Revirou os olhos. – Cada um tem o seu jeito, o que podemos fazer?

Terminamos e saímos juntas do banheiro. Como essa loira é simpática! Muito diferente.

A sala de maquiagem já estava com bastante gente. Gelei na porta, vendo a loira que odeio me encarando por voltar com Claire. Ela já me esperava na minha mesa de maquiagem, e não parecia feliz.

– O que você fazia com a Claire? – Brigou, mas sussurrando para ninguém a ver surtando.

Viro para ver como Nina estava. Parecia melhor, estava com Matt. Ao lado deles Chris, com alguém que não conheço. E Claire foi se maquiar com Luke.

– Fui ao banheiro e ela estava lá. – Tentei não soar preocupada.

– É uma grande invejosa! Falou alguma coisa com você?

– Perguntou se eu era sua maquiadora, mas disse que não. – Peguei o primeiro pincel que usaria nela. Candice arregalou os olhos, achei que fosse me matar, mas me abraçou.

– Merda! Eu não sabia que estavam desconfiando disso, obrigada por me ajudar. Poderia levar uma bronca do diretor.

Quê? Eu devia ter mentido.

Comecei a fazer a maquiagem da vaca. Queria ter lhe mostrado o dedo do meio, mas na hora não lembrei. Tudo estava bem calmo, o zumbido de conversação de sempre no ar. Esta é a minha vida, uma bagunça muito grande para me preocupar com vida pessoal amorosa. Como já disse, meu grande amo é Nina. Fico olhando para ela, às vezes notando sua cara de desconforto.

Se eu não estivesse com Candice, ia falar com ela!

Sinto vontade de correr com a cara da vaca, mas não me surpreendendo nenhum pouco, Matt fica de pé e dá sua cadeira para Nina sentar. Entorto a boca para Candice – jamais se importaria com alguém.

– Vou pegar água pra ela. – Sem me espantar, Chris interrompe sua maquiagem e vai até o bebedouro da sala.

Penso em ir lá; hesito um passo. Bufo de raiva por no fundo ter medo. Medo de Candice, medo do que Nina está passando. Eu não consigo decifrar. Sou uma péssima prima?

– A moça está bem? – Olho de volta, vejo Claire falando com Matt. A agitação naquele canto da sala chamou sua atenção.

– Quer que a gente te leve a enfermaria? Não tem problema parar aqui. – Matt se abaixa na frente dela, está analítico e preocupado.

Chris volta com água e dá para minha prima. Mentalmente peço para ele me olhar, e estranhamente ele faz. Seus lábios dizem que preciso de calma, pois meus olhos passaram total desespero para ele.

– Bebe com calma, meu anjo. – Claire alisa o cabelo dela.

– Nina? – Pergunto alto para ela ouvir. Candice desperta e vê como estou desfocada, pela sua cara ela tenta se lembrar de Nina ontem.

– Calma, eu... – Ouvir a voz dolorosa dela foi um tapa. Duvido que seja um enjoo típico, Nina largou o copo e se curvou abraçando os joelhos. – Estou com cólicas, Kat. E fortes!

Devo ter levado uns dois segundos para me dar conta. Quem ouviu aquilo de início não entendeu, em mim o impacto foi diferente.

Cólica? Puta merda!

– Isso é coisa de mulher, gente. – Candice ri.

– Não, ela tá grávida. – Jogo o pincel no chão e vou até Nina. Os três que cuidavam dela percebem como ela deve estar, não é só um mal estar.

Fico abaixada na frente dele, com Matt fez. Seguro seu rosto todo molhado do choro e a encaro. Só vejo medo em seus olhos, ela treme de medo e sinto que chama Ian mentalmente para segurar sua mão.

– Agora a gente vai para o médico, não teima. – Tento não chorar.

Pego o celular no bolso para chamar um táxi, e um instante olhando pra baixo, percebo sua calça manchada de sangue.

– Kat, ela tá sangrando. – Ouço Chris falar mais alto.

Um instante de silêncio se faz na minha cabeça. Nina sujando a mão passando na calça me deixa atordoada. Perco os sentidos e não sinto o toque que me empurra para o lado. Só percebo ao cair. Frágil, Nina se encolhe nos braços de Chris que a pegou no colo.

– Hospital... Preciso levá-la... – Levanto tonta do chão.

– Eu levo vocês, vem! – Chris grita.

Eu não consigo pensar. Impossível ajudar duas pessoas, mesmo para Chris e sua compaixão. Ela me olha vendo como estou estupefata. Seus olhos azuis me mandam forças.

– Obrigada, eu só tenho...

– Pega a sua bolsa e a dela. Deixa as maquiagens comigo, vai! Avisa o namorado dela! – Luke me dá as bolsas e me empurra.

Está tudo fora do controle!

Cambaleando como uma bêbada, sigo Chris para fora. No corredor ele pede licença para todo mundo e pede para chamarem o elevador.

Nina está berrando de dor!

 

ESTOU COM o rosto branco de susto. Entramos no hospital com Nina gritando fazendo um enfermeiro correr com uma maca, para que Chris a colocasse. Ela se contorce apertando o baixo ventre, cheia de medo. Faz dez minutos que avisei Ian, espero que ele não demore.

– O que ela tem? – Uma médica vem para ir com ela. Pergunta para nos dois.

– Dores. Está grávida de umas semanas. Acho que... – Não consegui dizer. Se fosse, partiria o meu coração ver a tristeza no rosto de Nina. O enfermeiro e a médica a puxavam pelo corredor de entrada.

– Ela caiu? Levou alguma batida no ventre?

– N- não...

– Ela só começou a passar mal, como uma vertigem, ela se sentou e depois teve hemorragia.

– Qual o nome e idade dela?

– Nikolina Dobreva. Tem vinte anos. – É uma resposta rápida, sai como um jato. Mas olha para Nina e sinto meus nervos congelarem.

– O senhor é o pai do bebê? – A médica virou para Chris.

– Não, o pai está a caminho. Sou um amigo e a trouxe de carro o mais rápido que pude, ela está sangrando muito tem uns quinze minutos. – Chris respondeu. Apesar de estudar medicina, não sou capaz de raciocinar ouvindo minha prima gritar.

– Então ninguém é da família?

Família.

Uma palavra bem estranha para o momento.

Comecei a pensar em tudo o que Nina e Ian já tinham planejado, em como estávamos felizes. O amor por um filho começa desde o primeiro momento, queremos o proteger muito antes de nascer. É o amor uterino, onde, independente de qualquer coisa, a mãe a ama seu filho.

– Kat! – Chris chama minha atenção.

– Sou prima dela.

– Fica na sala de espera, estamos a levando pra emergência e assim que estancarmos o sangue dela e soubermos como está te avisamos. – Outra enfermeira apareceu, era bem novinha. Entregou uma ficha.

Correram mais depressa com Nina.

Vê-la se afastar daquele jeito me fez ter mais medo. Segura duas bolsas no ombro. Apertei o papel no peito e parei de seguir, encostando na parede do corredor.

– Ei, Kat! Olha pra mim, Kat! – Chris me segurou, impedindo que eu deslizasse para o chão e agarrasse minhas pernas fazendo um casulo para chorar. – A Nina precisa de você, não desmorona agora.

– Porque isso tá acontecendo? A Nina é tão jovem...

– Eu sei, eu sei. Fica calma! – Ele me abraça forte, mas ainda não é o suficiente. – Os médicos vão ajudar sua prima.

– É difícil...

Minha voz sai só um sussurro.

– Tudo bem. – Ele me soltou e segurou meus ombros. Viu que meus olhos estavam encharcados, sentindo muito dor pelo momento. Chris procurou um sinal de vida em mim, temia que estivesse em choque. – Quer que eu faça isso pra você? Pegue os documentos da Nina e eu preencho pra você.

Pegou a folha de mim.

– Obrigada. Estou tremendo, não vou conseguir escrever.

Mais uma vez me abraça. Ouvi seu suspiro em meus cabelos, sabia o quanto me sentia pesada e alisou minha nuca. Fiquei melhor assim.

– Kat! – Ouço a voz de Ian entrar no saguão. Parece tão pálido quanto eu, quando ele corre para perto. Acho que ele veio correndo, a julgar pelo suor da testa e a respiração ofegante.

– Nina foi pra emergência, não sei se demora muito. – Digo.

– Droga, o que houve?

Isso era uma coisa que também precisava saber. Pensativa, cruzo os braços e aperto no corpo. O pior é achar que eu poderia ter evitado, tivesse ido embora com ela desde minha patrulha no banheiro.

– Vamos pra sala de espera, precisam estar lá quando a médica voltar.

– Ian... Ele é um amigo. Foi que nos trouxe de carro dos sets. – Sai automático, como estou sem vontade de falar.

Eles se cumprimentam levemente.

Todos nervosos, subimos para a sala de espera. Havia mais gente lá, também com medo e chorando. E outras como Chris, dando apoio. Então eu me lembro: porque ele ainda tá aqui?

Sentei numa poltrona, Chris logo ao meu lado e Ian perambulando impaciente. Abro a bolsa de Nina pegado os documentos na carteira, incluindo passaporte.

– Acho que Ian deve ficar como acompanhante. Ele devia preencher. – Falo baixo com Chris.

– Dê aqui! – O moreno pega de mim e leva para o outro.

Ian preenche a ficha, o todo tempo e olho para a porta vendo se não vem alguém. Confesso que isso também me deixa apreensiva. Toda aquela gente, o desespero, nada ajuda acalmar o coração. Impossível saber o rumo da vida de alguém do outro lado daquelas paredes.

Simplesmente abaixo sobre minhas pernas chorando, passando as mãos no cabelo.

Dez minutos atrás Nina fora levada, agora a médica que a levou apareceu na porta. Só a vi porque Chris me chamou, eu estava dispersa com a cabeça longe.

– A prima de Nikolina?

– Eu. – Fraquejei a voz. Ian correu para a mulher, com certeza ela está acostumada com o rosto amedrontado das pessoas nesta sala. – Este é o pai do bebê dela.

Deram um cumprimento de cabeça.

Toda de branco, a médica tinha expressão séria. Os profissionais precisam ser assim, então começo a pensar se eu serei capaz de me controlar quando estiver o lugar dela.

– Como a Nina está? E o bebê?

– Sua namorada está bem, contemos o sangramento. – Sorri.

– E ela não vai precisar de transfusão? Aquilo era muito sangue, o banco de trás carro do Chris ficou todo sujo. – Pergunto.

O dono do carro parecia não estar ligando, colocou Nina lá com tanta pressa, duvido que tenha visto a vermelhidão na hora que a tirou. Eu vi porque estava ao lado dela.

– Meu filho!? – Indaga Ian perturbado.

Desta vez ela suspira pesado. Péssimo sinal.

– A hemorragia, infelizmente foi o bebê que ela perdeu. Fizemos uma ultra, ela parece estar bem, só vai precisar de repouso e resguardo. – A natureza que ela diz é grande, mas seus olhos lamentam por nós. – Foi um aborto espontâneo, sinto muito. Algumas mulheres jovens sofrem, é só uma questão de fortalecer mais a saúde.

Acho que no fundo eu sabia que era isso, só estava evitando pensar para não sofrer. Nina só está de um mês, não há feto grande, pode ser difícil segurar. Embora tendo um pouquinho de conhecimento, não tenho coragem para olhar nos olhos de alguém agora.

Sentia-me quebrada, aos poucos não tinha como sentir minhas pernas, cambaleando até sentar na poltrona.

– Imagino que o senhor vá ser o acompanhante, pode ir vê-la, mas está sedada.

Ian confirma com a cabeça, mas está tão triste que não faz menção em ir agora. Nós dois estamos absorvendo a dor primeiro, depois vamos conseguir voltar ao mundo real. Mas até lá, estaremos inertes.

– A senhorita precisa esperar o horário de visita. – Ela fala comigo.

Tudo bem.

Penso em dizer, mas fico calada.

A médica chama Ian com a cabeça, e ele a acompanha. Já entregou a ficha de Nina, agora era só esperar que recebesse alta. Que fosse bem tratada, que se recuperasse e talvez voltasse a sorrir como antes.

A sala de espera inteira ficou turva e escura ao que lentamente meus olhos se encheram e as lágrimas caírem. Qual razão para Nina receber este castigo? Pessoa mais amorosa que ela não há, nunca desistiu de mim e minha teimosia, com certeza seria boa mãe. Oh Deus, nunca fui dramática, mas hoje vejo o quanto posso ser infeliz.

Calada, sentindo os soluços subirem, uma mão repousou no meu ombro. Sou uma péssima prima, eu sei, devia ter feito Nina ir embora quando pude. A culpa sobe em meu peito e não mereço ter a piedade de ninguém.

– Está nervosa, beba um pouco. – Nem sequer vi Chris pegando água.

– Volta para o seu trabalho, obrigada por tudo. – Pego e mal dou um gole. Está doce, com açúcar.

– Não vou conseguir te deixar abalada assim. Se acalme e beba mais, peguei açúcar na cantina.

Fiquei tão inerte e não o vi sair. Chris estava sendo atencioso, não deve ser todo dia que ajuda uma maquiadora do trabalho. De alguma forma, sinto que é por tê-lo ajudado uma vez. Acho que só está quitando uma dívida!

Bebo o último gole de água e ponho o copo no chão.

– Vem cá! – Sem olhar para ele, sinto ser puxada para perto e ser apertada contra seu peito. Um soluço sai alto, o fazendo sentir meus ombros tremerem.

– A Nina nunca vai me perdoar... – Choramingando escondi o rosto nas mãos.

– Kat não pense assim. Você é uma pessoa que jamais abandona quem precisa. Diz que não é capaz de tudo por Nina? – Alisou meu cabelo.

– Sim, eu sou. Quando nos mudamos eu quem mais tomava conta de tudo, procurar um apartamento, comida... Nina era quem conhecia gente nova, e eu estava sempre lá para ficar de olho. Tinha medo que conhecesse alguém de índole ruim. – Conforme pronunciava, sua ao suave penteava meus cabelos.

– Por favor, agora compare com sua fala anterior! Tem noção do quanto está sendo injusta consigo?

– Mas eu falhei. Ela passou mal desde cedo e eu não fiz nada. Nina disse pra não me preocupar e só deixei pra lá... Chris a culpa foi minha.

Lágrimas rolavam no meu rosto e a baba típica de choro fazia minha voz ser só um grunhido. Serei uma médica muito ruim!

– Nunca diga a palavra culpa. – Aconchegou meu corpo bem melhor, me fazendo odiar ter gostado do afeto dele. Eu quero que pare, que me jogue para longe. – Mesmo os acidentes não existem culpados, só vítimas.

– Foram minutos. Minutos antes eu podia ter levado ela embora pra descansar. Agora ela tá na cama apagada por remédios e sem saber do bebê!

– Droga, Kat! Não. Você é ótima.

Olhei para o chão, ainda recostada no moreno. Pensava em olhar o pedacinho do inferno com o meu nome guardado.

– Eu costumava pensar no que teria acontecido se fizesse algo diferente. Isso deixa a gente mal, eu sei! Mas às vezes hesitação é tudo o que precisamos.

– Desculpa, mas eu quero ter mais certeza na minha vida. Em tudo! – Minha conversa com Nina surgiu do nada, ela tem razão em dizer que sou parada na vida.

Sequei um pouco dos olhos, minha mão sentindo seu peito pulsar. Havia sangue na blusa azul de Chris.

– Olha, quero que entenda que não precisa sentir culpa. Uma dúvida pode mostrar o caminho certo a seguir. Na hora pode parecer ruim e catastrófico, mas no futuro aquela decisão provoca algo bom. – Separou meu corpo do seu, olhando meus olhos inchados.

Ganho um soco na cara. Aquilo não me acordou só me deixou pior. Vejo Chris também triste, lágrimas escorrendo, mas ao contrário de mim bonito como um anjo.

– Se você tivesse ido embora com Nina, estariam na rua quando ela começasse a sangrar. Uma ajuda poderia demorar, e poderia não resistir.

Engulo em seco, talvez com um gostinho salgado pelas lágrimas entrando em meus lábios. Porque ele tá aqui? Sua piedade é tão doce que sinto as palavras alisarem meu rosto. Azul, o seu olhar conforta.

– Acha que um taxista não teria me ajudado?

– Vocês estariam indo para o lado oposto do hospital, Kat. Ou moram pra cá?

– Não. – Balancei a cabeça, desviando o olhar dele.

– Ótimo, pare de sofrer porque não vale a pena. Quando sua prima melhorar ela vai precisar da sua amizade. Terá que cuidar dela muito mais, entendeu? – Levantou meu queixo. Duas gotinhas escorriam em minhas bochechas, ele as secou com o dedo.

– Sabe, acho que nunca fiquei doente de ficar de cama. Só tenho estresse às vezes, mas ela cuida de mim como se fosse sério.

– Agora retribua. – Com um sorriso ele disse.

Sorri de volta.

Consegui respirar melhor. Bebi mais água que Chris trouxe de novo enquanto esperávamos notícias de Ian. Ele ficou trinta minutos com Nina no quarto. Terá que passar a noite aqui e pegará licença pelo resto da semana.

Nós estávamos na lanchonete. Um sanduíche natural era o meu almoço. Só estou comendo mesmo porque ele praticamente me obrigou.

– É melhor você ir embora. Prejudicou seu dia, o diretor não briga com você? – Perguntei para Chris.

– Matt e Claire explicaram o que houve, ele entendeu. E quer saber como sua prima está.

– Bom, Ian disse que ela ainda tá dormindo. Fora isso vai precisar de descanso. Vou lá levar o atestado, depois passo na faculdade e volto pra vê-la as quatro. – Ian me pediu que fizesse isso.

– Ok, eu te dou uma carona de volta.  – Passou a mão no meu ombro. Olho para ele, um pouco envergonhada até.

– Olha eu sei que seu carro tá sujo...

– Eu nem me preocupei com isso, fica tranquila. A gente estava num momento delicado, se alguém não agisse sabe-se lá o que aconteceria. – Sorriu bem fraco, o que me fez concordar que sem ele não teria salvado a vida de Nina.

– Obrigada, eu estava muito nervosa. – Chris era de fato uma boa pessoa.

Saímos do hospital, minha cabeça já latejando. Eu não sabia o quanto ia aguentar o fim do dia, não ia para as aulas, e só pensava em Nina.

 

O RH DOS estúdios de gravação deixou tudo certo com a licença de Nina. Tive de explicar que não fora acidente de trabalho. Saindo de lá fui pra faculdade andando mesmo, e levei as coisas que ficaram com Luke. O garoto ficou muito preocupado, aliás. Mas ele achou melhor não ir visitar no hospital para que ela descansasse.

Espero na porta da secretária para dar o atestado de Nina. Rezo para que ela não fique prejudicada, será uma semana sem aulas. Respiro fundo, agora eu preciso de calma.

– A senhorita pode entrar. – A mulher me chama na porta.

– Boa tarde. Estou aqui para comunicar a saúda da minha prima... – Começo.

Anotou tudo e tirou cópia do atestado. Qualquer trabalho ou prova que Nina perdesse ela teria direito a fazer. Saí da sala um pouco aliviada.

– Kat? Você na secretaria!? O que andou fazendo por aí? – Encontro Zach na saída.

– Ah, oi. – Digo sem vida na voz. Ao perceber ele segura meus ombros e me analisa. Ainda estou abatida.

– Está tudo bem? Quer sentar? – Zach me segura, me levando para sentar num banco.

– Mais ou menos, eu acho. Zach, eu não sei como lidar com isso vou te confessar... – Suspiro e fungo. Alternou o olhar entre mim e o papel na minha mão.

– Pode contar comigo, o que foi?

– A minha prima foi hospitalizada. Vai ficar bem, mas o baque que ela levou muito grande. – Cruzo os braços e aperto no corpo. Zach me abraça, estou frágil então ele nem me aparta. Mas passo o braço em volta dele o puxo assim mesmo.

– Isso foi hoje?

– De manhã, no trabalho. Foi muita correria pra mim, parece que vou ter um ataque. – O solto e o encaro, ele bem conhece como sou exagerada e faço tudo sozinha.

– Não se sobrecarregue, sua prima vai precisar de você quando voltar pra casa. Ela vai demorar pra ter alta?

– Amanhã, mas vai ficar longe de tudo por um tempo.

– Sinto pelo que houve, seja o que for. Posso te ajudar de alguma forma? Sabe que também me dou bem com Nina, ela é incrível com todo mundo. Vou adorar fazer algo! – Eu sorri para sua gentileza. Zach pega minha mão e a aperta.

– No momento só me ajuda a manter a cabeça no lugar?

Ele riu e revirou os olhos. Claro que poderia fazer isso, ele adora me paparicar. E sendo um pedido meu, seu coração deve ter saltitado.

Parei e pensei porque pedi para Zach me ajudar. Conversar com alguém é bom, desabafar como eu me sinto. Foi uma lição que aprendi com Chris no hospital.

 

DE VOLTA ao hospital, não ligo para as aulas perdidas. Parece que Ian e os médicos já conversaram com Nina. Merda, eu queria estar aqui para dar apoio!

Estou encarando Nina dormindo na cama, segurando sua mão fria. Envolvo-a com as duas mãos, para aquecer, fazendo carinho. Faço companhia para ela enquanto Ian foi comer algo, desde cedo ele está aqui.

Inesperadamente Nina se mexe e abre os olhos devagar. Arrumo a postura no banco que estou, alivio um pouco sua mão para ela ficar a vontade. Primeiro seus olhos procuram pelo quarto.

Nina vai chorar? Ela procura minha mão de volta.

Ganho um sorriso fraco. Mas grato. 

 


Notas Finais


Tomara que tenham gostado, e não me matem pelo que houve com a Nina. Ela ficará bem, tenho muitos planos para ela! XD Perceberam que nem todos são atores na história, né!? Por enquanto... Hahaha' E desculpe não ser POV do Chris, mas ele ficou fofinho, vai...

Até a próxima semana!


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