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História Insight - Ato I e II: Revelação e Declínio


Escrita por: Yubaba-chan

Notas do Autor


Não recomendado pra gente chorona, tipo eu.

Capítulo 1 - Ato I e II: Revelação e Declínio


Insight

1. clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo; iluminação, estalo, luz.

2. psic compreensão ou solução de um problema pela súbita captação mental dos elementos e relações adequados.
 

 ATO I 

"When I look at you and smile
I'll pretend just for a while that our love is gonna be alright."


 -◊-

A mesa do Hokage estava limpa, o que apontava claramente que Shikamaru mandara alguém limpar toda a bagunça no pequeno tempo em que Naruto saíra para uma ida rápida ao Ichiraku — não mandou um bunshin, pois sentia as pernas doloridas, de tanto tempo sentado.

Estalou os dedos, sentando-se na cadeira macia e recostando-se. O notebook aberto sobre a mesa, carregando algumas mensagens recentes de Sunagakure, enviadas pelo próprio Kazekage.  

Abriu a primeira caixa de lámen, o vapor morno fazendo seu estômago roncar. Moveu os hashis sobre o molho, pescando um pedaço de porco e levando a boca.

— Ichiraku-sama, você é um deus.

Ruídos na janela lateral quebraram a concentração de seu ritual, que já seguia para a quarta rodada. Girou a cadeira, dando de cara com o falcão empoleirado no umbral, fazendo-o engasgar.

— Mas que demônio — rosnou, ainda tossindo quando a porta da se abriu. — Porra, teme, mesmo depois desse tempo e você ainda tem planos para me matar.

— Não sei de que merda você está falando — ele disse, já afastando a capa negra para puxar os relatórios dos bolsos internos. Depositou-os sobre a mesa.

— Esse bicho! — exclamou apontando para a janela com os hashis. — Qual o problema de usar um celular? Eles funcionam muito bem em todos os lugares e muito mais rápido que esse... esse... — Sacudiu a mão em direção a janela, mas o falcão não se mexeu.

Sasuke revirou os olhos e fez um gesto para que o animal fosse embora, sendo prontamente obedecido.

— Não há muito o que discutir desta vez, deixei qualquer irregularidade descrita.

— É? — inquiriu ao puxar um dos pergaminhos com a ponta dos dedos molhados de lámen. O Uchiha olhou friamente para as manchas gordurosas que surgiram no papel. — Não vejo o porquê de ter atrasado, então. Foram vinte e nove dias, sete a mais que o estipulado. Sempre costuma voltar antes.

Ele deu de ombros.

— Justamente por não encontrar nada que atrasei. Talvez tivesse deixado algo passar, então refiz meu caminho.

— Não foi de todo uma ideia burra, admito.

— Tsc.

E Sasuke já tinha virado as costas.

— Espera, espera — apressou-se em dizer. O moreno se virou, voltando à borda da mesa. — Como está a Sakura-chan, Sarada?

— Ainda não as vi — Sasuke disse, as sobrancelhas franzindo-se.

— Vem ao meu encontro antes mesmo de falar com sua esposa e filha?

— E um shinobi não deve se reportar ao Hokage assim que conclui uma missão?

— Você ao menos me respeita! — retorquiu, cruzando os braços. — Chega a ser incrível como consegue seguir alguma regra.

Sasuke mudou o peso de uma perna para outra, dando os ombros mais uma vez.

— Que seja, não vou lamber suas botas como o resto do mundo faz. De qualquer forma, Sakura tem o hospital e Sarada talvez não tenha voltado da academia — ele suspirou. — É só? Estou indo, então, preciso comer.

Naruto olhou para as caixas de lámen vazias e levou a mão à testa.

— Oh, merda. Eu disse à Hinata que jantaria em casa hoje.

— Nunca foi problema pra você comer mais do que o corpo pede — Sasuke comentou com cinismo.

— Mesmo assim, não poderei aproveitar o suficiente do que ela preparou. Hinata cozinha incrivelmente bem, dattebayo! Que acha de jantarmos juntos, todos nós, esses dias, hein?

Uma respiração rápida saiu de Sasuke, naquela sua maneira ridícula de rir.

— Acho que não vai acontecer.

— Se eu falar com a Sakura-chan, vai. — Os olhos negros se cerraram, mas ele não rebateu, o que fez o Uzumaki sorrir vitorioso. — Imagina então se eu disser que assim que você chega corre pra cá antes mesmo de receber boas-vindas calorosas de sua esposa e filha.

A expiração evoluiu para uma espécie de grunhido, seguido de um entortar de lábios quase largo demais.

— É só por isso que venho aqui antes.

— Hm?

Havia algo de novo naquela expressão de seu amigo que lhe causou estranhamento, era um trejeito mau.

— Não há uma maneira de sair depois que recebo boas-vindas calorosas.

E com isso Naruto ficou em silêncio. Confusão fazendo-o franzir a testa.

O Uchiha estava sendo... malicioso?

— O que você quer dizer com... ei, ei! — exclamou para Sasuke que já se afastava. — Você não vai nem mesmo se sentar? — deixou a voz tingir-se com falsa surpresa. — Não quer conversar um pouco, sabe, como amigos? Tomar um café, talvez?

— Não.

— O Hokage está ordenando, cretino!

— Foda-se o Hokage. — A porta foi fechada.

— Filho da puta — resmungou apoiando os cotovelos contra a mesa. Riu brevemente da estupidez do diálogo e suspirou. Seus olhos se arrastando até os porta-retratos quase de forma mecânica. Vagando nos rostos de família e amigos, até pousar na foto mais antiga.

Ele, Sakura, Kakashi, Sasuke.  

Pegou a fotografia do saudoso Time Sete. Afagou levemente o vidro que a cobria, sorrindo para o único sorriso exposto da foto.

Colocou-a de volta ao lugar, sentindo-se melancólico de repente.

Juntando as caixas vazias, resolveu que chegaria mais cedo em casa.

Ainda eram 19h, as ruas de Konoha ainda apinhadas de civis. Lojas preparando-se para os últimos clientes, passou por um bar noturno que abria as portas. Cumprimentando todos que lhe acenavam com um sorriso largo nos lábios.

Quando chegou a esquina do Ichiraku, parou, pensando se talvez conseguiria comer mais uma tigela e a comida da Hinata...

— Opa! — Sentiu algo trombando em suas costas ao mesmo tempo que a voz infantil soou. — Desculpe, não vi p... Nanadaime!

Era Sarada. Ela empurrou os óculos pelo nariz, fazendo uma mesura educada. Observou a pequena mochila que ela trazia sobre os ombros.

— Está fazendo o caminho errado, não? — comentou, sorrindo e apontou para frente. — Sua casa é pra lá.

— Ah, sim... — ela disse, olhando para trás, quando voltou a olhá-lo pareceu desconsertada. — Eu apenas não estou indo para casa.

— Bom, e pra onde vai, nesse horário?

— Vou dormir na casa da vovó esta noite. — Percebeu rubor nas bochechas dela. — Acabei de voltar do hospital, mas não pude avisar a mamãe, pois ela estava em uma consulta importante — ela disse. — Então, se encontra-la em seu caminho, por favor, diga a ela.

— Ahn... certo... — Então franziu a testa. — Seu pai chegou hoje, não seria bom uma noite em família? Ao menos o encontrou ou o avisou?

— Nós estávamos em casa agora mesmo — respondeu ela, os pequenos dedos das duas mãos se embolando como se a conversa toda fosse desconfortável. — E... bom, o papai não é tão divertido para uma noite em família, e a mamãe deve chegar tão cansada do hospital que vai dormir antes mesmo que eu... De qualquer forma, quando o papai está em casa, à noite, eu sempre prefiro estar com a vovó e o vovô.

—...ah...?

— Estou indo, Hokage-sama, dê um olá ao Boruto, ja ne! — Sarada fez outra mesura e continuou seu caminho rapidamente.

Naruto observou-a ir, as pequenas pernas sumindo pela rua.

Não entendeu porque sentia suas batidas acelerarem, ansiedade fazendo-o ouvir as pulsações como se seu coração batesse na cabeça em vez do peito.

Sem que percebesse, já estava caminhando, a movimentação de pessoas diminuindo quando se afastava da área civil e entrava nas ruas com residências mais sofisticadas e lojas shinobi. A rua que seguia para sua casa havia passado, mas a ideia de falar com Sakura agora o instigou a continuar. Ele já podia ver a iluminação estéril da clínica infantil.

O hall de entrada estava vazio, exceto pela recepcionista, que lixava as unhas suavemente, parecia entediada. Quando se aproximou, ela apertou os olhos, os lábios se abrindo.

— Ho-hokage-sama! 

— Boa noite — cumprimentou, desconsertado com a reação da mulher. —... Sakura-chan está?

— Sakura-chan? — ela indagou, confusa. Fez menção em pegar a ficha de pacientes, mas corou, entendendo. — Oh, sim — ela riu. — Desculpe, é que não imagina quantas crianças receberam este nome depois de tudo. Então estou apenas ouvindo “Sakura-chan, Sakura-chan” o tempo todo.

—...Entendo.

— Bem, — ela disse com um sorriso prestativo. — Uchiha-san acabou de sair. Talvez possa alcançá-la.

— Sim — respondeu, a voz saindo tão seca que a recepcionista se contraiu. — Obrigado.

Inspirou o ar mais frio, tentando entender o porquê da aspereza repentina. Coçou a cabeça, observando a rua vazia, apenas uma silhueta longe, caminhando sem pressa. Não precisou olhar com atenção pra saber quem era.

Apressou a marcha, vencendo um pouco a distância, mas Sakura tinha passadas incrivelmente largas. O jaleco e o cabelo curto tremulando para trás. Ele podia sentir a suavidade do chakra dela, estando de guarda baixa, seria quase imperceptível, se ele não tivesse passado tanto tempo ao lado desta mulher, conhecendo essa assinatura tanto quanto conhecia a sua própria.

Ela parou por um segundo, olhando para trás, o que o fez, num gesto quase inconsciente, escalar uma das casas e observá-la a partir do telhado, seu chakra agora quase oculto. Os olhos verdes, mesmo longe, cintilando ao percorrer a área. Mesmo em tempos de paz, os reflexos ninjas dela encontravam-se aguçados.

Ainda assim, ela não era páreo para Naruto.

Sakura continuou seu caminho, o loiro acompanhando-a por cima — até que as residências próximas se acabassem, então continuou seu percurso no chão, metros de distância entre os dois — até chegarem ao local mais afastado, com um grande quintal até chegar realmente à residência dos Uchiha, cercada por árvores altas.

— Sarada, estou em casa! — mesmo com a distância, a voz da rosada era alta o suficiente para que pudesse ouvi-la claramente.

No varal, algumas roupas tremulando ao vento chamaram atenção da médica, que alcançou uma, dobrando-a habilmente para prendê-la embaixo do braço logo depois.

Uma luz se acendeu no andar inferior da casa, Naruto mirou a silhueta de Sasuke na janela, quando ele puxou a cortina e observou a movimentação da mulher no quintal.

Isso não lhe parece uma coisa estranha?, a voz de Kurama, que muito raramente conversava consigo dessa maneira, ribombou em sua cabeça. A besta era, à sua maneira, reclusa, apenas uma observante imparcial e silenciosa.

O teme e a Sakura-chan?, pensou. Um pouco, eu acho...

Estou falando de você, idiota, ela retorquiu. Está sendo invasivo.

Vindo de um monstro que via tudo que acontecia em sua vida. Naruto quase pode rir.

Só não o fez, porque sua atenção estava sobre Sasuke, caminhando lentamente para fora, nenhum som acompanhando seus passos.

Mas Sakura era uma ninja, a melhor de sua geração, mesmo que estivesse de guarda baixa, ela se virou antes que o Uchiha chegasse até a metade do caminho.

— Anata — ela disse, um sorriso surpreso. — Está de volta.

Sasuke assentiu brevemente, não andou mais.

Sakura puxou o resto das roupas. Emaranhando-as em cima das que já tinha dobrado, então caminhou até o moreno.

— Eu nem mesmo fiz o jantar — comentou ela. — Pedi a Sarada para cortar os legumes, mas ainda vai demorar um pouco.

Antes que a médica passasse diretamente pelo Uchiha, ele esticou o braço, segurando-a pelo pescoço e trouxe-a de volta à sua frente. Naruto mexeu-se, desconfortável, em seu esconderijo.

Gelo tomando seu estômago quando Sasuke a puxou para um beijo. A mão dele segurou firme a nuca dela, enquanto Sakura pareceu estupefata, apertando as roupas contra o peito, apesar doa boca mover-se junto com os dele.

— Sarada? — ela arfou quando o shinobi permitiu que seus lábios se afastassem por um segundo, pois o rosto dele desceu para o pescoço da médica.

— Na casa dos seus pais — disse ele, a boca arrastando do queixo feminino de volta para a boca. Então a rosada fechou os olhos, entregando-se ao beijo de forma mais livre que antes.

O braço do antigo vingador apertado no fim das costas estreitas, ela usou o peito dele para manter as roupas presas com uma só mão, enquanto a outra afastava os cabelos escuros do rosto masculino. Um passo cambaleante em direção à varanda, então dois.

Subiram as escadas, mal se separando, bocas presas em uma carícia violenta, até que Sakura desconectou-se para murmurar:

— Eu acho que não estamos sendo tão discretos quanto pensamos. — Um riso constrangido escapando.

A surpresa foi ver Sasuke acompanhá-la, com um sorriso de lábios separados, dentes à mostra.

— A culpa é toda sua. — Após isso, ele içou o corpo da mulher, ela prontamente abraçou-o com as pernas, os braços envolveram o pescoço dele. As roupas se espalharam pelo chão. Mais um beijo antes que entrassem na casa. O som oco da porta chegando aos ouvidos de Naruto como um ponto final.

BAM!

Sua respiração escapou com dificuldade até que percebesse que sua mão estava cobrindo firmemente a boca, uma ação involuntária do corpo. Afastou-a, fitando os dedos trêmulos sem realmente vê-los.

Naruto não conseguia entender o que estava acontecendo consigo. Olhou mais uma vez para o grande quintal. A porta fechada como um aviso claro para que ele fosse embora.

Suas pernas estavam rígidas quando se ergueu. Curiosidade e fúria fluindo sobre sua língua com a mesma intensidade.

Talvez o primeiro sentimento sobrepujasse o segundo, porque, pegou-se avançando em vez de se afastar. Ainda entre as árvores. Concentrando o chakra baixo. Deu a volta na casa, onde havia mais janelas, mais largas, dando aos moradores uma boa visão da grande floresta na qual estava. Escalou uma árvore antiga, de galhos grossos e folhas vastas.

Garoto, que merda você acha que está fazendo?

Naruto ignorou a voz de Kurama dentro de si, mesmo que a besta estivesse certa. Ele sabia que devia sair dali o quanto antes, mas não conseguia ir. Simplesmente não conseguia. Seus olhos estavam presos a movimentação que ocorria atrás da vidraça larga, no andar de cima, metros à frente.

O jaleco de Sakura tinha sumido, assim como a capa de Sasuke. Os pés estavam descalços. Por um segundo, pensou que estivessem brigando. As mãos se movimentavam com certa agressividade, as passadas para o meio do quarto foram quase desesperadas. Sasuke segurou o obi de Sakura e puxou, a blusa se abrindo sem o tecido para segurá-la.

Você não devia estar aqui.

Mas seu corpo ainda estava agarrado ao tronco largo, seus braços dormentes, tamanho era a força infligia ao aperta-lo.

Engoliu seco, o pomo de adão descendo e subindo quando cerrou os olhos, querendo arranjar forças internas para ir embora antes que visse coisas não deveria.

Você já viu mais do que deveria.

Apenas vá embora.

Sakura desabotoou com destreza a camiseta de Sasuke, beijando a pele que se revelava a cada botão aberto. Do pescoço ao fim do abdômen. O Uchiha sustentava um meio sorriso, semelhante àquele que havia dado antes de sair de sua sala. Àquele que, de alguma forma, o levara até aqui. Por que?

Naruto afrouxou os braços quando sentiu as unhas afundando-se no tronco, machucando-se.

Seus olhos estavam presos em Sakura, nas costas estreitas e na pele clara das pernas que, mesmo com a distância, lhe parecia brilhante e firme.

Lembrou-se do dia que ela desamarrara o obi e abrira a blusa vermelha cuidadosamente para lhe mostrar a cicatriz que nunca sumiria de sua pele. A cicatriz causada por uma espada envenenada, a espada de um Akatsuki que ela derrotara. Na época, Naruto não conseguiu manter devida atenção ao ferimento, mas na curva suave do umbigo feminino, e nas pequenas covas que ela tinha no fim das costas — quando ela havia dado um giro, porque, caramba!, a espada tinha atravessado aquele corpo.

“Você não se entristece por elas não saírem?”, lembrou ter perguntado à kunoichi. “Sabe, você é uma menina, além de tudo, Sakura-chan.”

Ela tinha fungado, visivelmente achando graça de sua pergunta. “Bem, eu sou uma ninja.”, dissera. “É natural que levemos lembranças de algumas lutas, certo? Isto quer dizer que me saí bem em uma situação difícil, então fico feliz em tê-las.”

Ela alisara a cicatriz pequena e grossa de uma maneira que fê-lo querer fazer o mesmo. Notando isso, a iryou-nin fechara o obi, corando. Mesmo com aquilo, o Uzumaki não conseguira desviar os olhos dela.

Que dirá agora...

A mulher curvou a coluna, os cabelos rosados espalhando-se no colchão quando ela suavemente se esparramou entre os lençóis escuros. Amargor chegando a sua garganta ao notar o marido dela com o rosto apertado entre os seios, seios lindos e arredondados, com pontas delicadas. E o Uchiha deleitava-se neles com a boca. De um em outro, puxando-os com os dentes e mordendo-os, enquanto arrancava a blusa dela por definitivo. No rosto da médica apareciam caretas em certos momentos, os lábios se abrindo, as sobrancelhas franzidas, o corpo se contorcendo sobre a cama.

Naruto estava em choque. O idiota estava machucando-a, será que ele não percebia? Seu coração pulsava forte na garganta, e a raiva começava a despontar, seu chakra propositalmente reduzido ameaçando se agitar. Inspirou fundo, procurando encontrar a calma que não havia dentro de si.

Sakura havia empurrado o ex-nukenin para longe de seus seios, as mãos femininas agarradas às mechas negras, parecendo querer mantê-lo longe. Naruto estava pensando demais, no entanto. Ela estava sorrindo, sorrindo de um jeito que o jinchuuriki nunca tinha visto na vida, era um sorriso malicioso e indecente. A expressão que ela fazia era nova, apesar de reconhecer trejeitos que ela deixava escapar em certos momentos. Como vira uma vez aquele lampejo excitado nos olhos verdes quando ela lia atentamente um yaoi — ele sabia do que se tratava porque conseguira ver o título antes que ela escondesse atrás das costas, corada até os fios de cabelo. No entanto, aquele olhar não se comparava a este.

A expressão de Sakura era... imoral.

E o Uzumaki só tinha a se surpreender quando os lábios dela puseram-se a se mover.

Ele sabia que seria ruim se tivesse ouvido o que ela disse, mas não ouvir era pior.

Então pegou-se deduzindo, mesmo que o torturasse fazer isso, o que ela dissera para o Uchiha ter aquela expressão no rosto.  Uma insinuação de um sorriso na boca dele. E lentamente quis morrer quando seu amigo puxou, com sua única mão, as roupas inferiores da rosada, calças e calcinha, tudo junto.

Está aí a resposta para sua pergunta, idiota.

O loiro ignorou a besta, sentia falta de ar.

Aquilo não devia estar acontecendo. Eles não deviam...

Você é que não.

— Cale a boca, Kurama. Apenas cale a boca.

A língua do maldito Uchiha deixava um rastro brilhante pela barriga da kunoichi, que inspirava e expirava devagar, os seios marcados de vermelho subindo com a respiração. Os olhos fechados num tipo de concentração.

E então arquejou quando a rosada separou as pernas avidamente, empurrando a cabeça do marido para baixo, mordendo os lábios. Amassando os cabelos escuros, curvou os quadris em sua direção e as coxas se separaram ainda mais, os pés plantados no colchão. O loiro quase pensou ouvir o gemido que ela deu, mas sabia que seu cérebro apenas lhe pregava peças, pois podia ver a movimentação dos lábios dela claramente.

Foi inevitável levar os pensamentos a Hinata neste instante. E em como fora difícil fazê-la aceitar algo como isto em seus momentos de intimidade. Apesar de apreciar muito seus esforços como marido desde então, ela ainda era tão tímida com essas coisas que foram poucas as vezes que ele sugerira algo assim. Simplesmente não lhe parecia certo pedir coisas que constrangiam e pareciam contravir os quereres da antiga Hyuuga.

Mesmo que ele quisesse tantas coisas.

Ver Sakura tão explícita e sem pudores assustava-o.

Ela puxou Sasuke de volta pra cima, os seios subindo e descendo — arfando —, corada, não de vergonha. Com um sorriso preso pelos dentes, disse mais alguma coisa e, em seguida, Naruto acompanhou a língua feminina se projetar para fora da boca, arrastando-se do queixo até o lábio superior do shinobi.

Ver Sakura tão explícita e sem pudores excitava-o. Aterrorizado, percebeu que aquilo — ela — o excitava como nunca ninguém o fez na vida. Percebeu seu corpo completamente rígido e dolorido com um arfar desacreditado, raivoso e triste, tão triste. Aquilo não devia estar acontecendo.

Apoiou a testa contra o tronco, uma gota de suor desceu lentamente pela ponta de seu nariz. Um vento frio chicoteou-lhe a face, fazendo-o finalmente notar o quão doentio era tudo aquilo. Que merda estou fazendo aqui?

Já está feito, Naruto. Apenas vá e esqueça que isso aconteceu, a voz grave de Kurama ainda soava em sua cabeça, como um tipo de boa consciência que ele insistia em ignorar, Esqueça que aconteceu.

Ele queria fazer isso. Devia.

Ele tinha que ir, mas não mexeu sequer um dedo para fazê-lo. Estava estagnado naquela árvore, seus amigos fodendo a poucos metros de distância, e ele tentando digerir o que estava sentindo: raiva, assombro, tesão, inveja, mais raiva.

Uma maldita crise de ciúmes.

Maldito Sasuke Uchiha.

O momento de impasse o fez perder algumas ações do casal. Quando ergueu o rosto, a respiração forçadamente lenta se arrefeceu dentro dos pulmões. E então estava expirando novamente, quente e rápido, ira e cobiça.

Sakura de joelhos sobre a cama, indo e vindo com a força do corpo de Sasuke investindo contra o dela. E então o moreno apertou a fina cintura, parando os movimentos por um segundo, e bateu na nádega da kunoichi. Ela gemeu alto o suficiente para que Naruto ouvisse, algo sutil se ouvido de onde estava, mas ele a ouviu. Ela estava sorrindo e mordendo os lábios, serpenteando o corpo para trás, uma mão apoiada na coxa de Sasuke enquanto a outra se sustentava no colchão, a única mão do Uchiha ocupada surrando a pele dela a cada incursão.

Sakura gostava daquilo.

Isso parecia agradar ao moreno, que, depois de deixar a pele da garota em tom carmim vívido, escorreu a mão até os cabelos róseos e puxou para trás, fazendo-a se erguer até que os rostos estivessem próximos. O queixo dele apoiado à curva do ombro dela. Sua antiga colega de time sorriu, um sorriso largo, mesmo que ainda carregasse um pouco da malícia, era um sorriso o qual Naruto conhecia. Doce e terno. Ela fechou os olhos, tocou os cabelos negros, afagando-os, e moveu os lábios. Tão lentamente que o Uzumaki foi capaz de lê-los: “Okaeri, Sasuke-kun.”

“Não há uma maneira de sair depois que recebo boas-vindas calorosas.”

Então entendeu o que antes seu amigo quis dizer.

Engolindo seco, viu o Uchiha enlaçar a cintura da mulher, mas Naruto virou as costas e habilmente desceu, indisposto a ver qualquer outra coisa.

No chão, ele precisou de um minuto apoiado sobre os próprios joelhos.

— Que porra eu fiz?

Sentia a pele pegajosa e fria, mas a área entre suas pernas queimava. Quase levou a mão até lá, mas sua mente estava cheia de coisas demais. Aquela dor era nada comparada a outras.

Ele tinha visto Sakura e Sasuke em um momento muito íntimo e isso o envergonhava. Estava com muita raiva de Sasuke e isso o desnorteava. E Sakura...

Passou a mão pelo rosto, inspirando o ar gelado.

Ele não devia estar decepcionado — e enojado e irritado e fodidamente excitado — com ela, por ela. Não fazia sentido.

Os sentimentos que outrora sentiu — os que se convencera serem fruto unicamente de sua rivalidade com o Uchiha — foram erradicados muito tempo atrás. A própria iryou-nin o havia ajudado a enxergar Hinata, aquela que sempre manteve os olhos e sentimentos nele, a que, no final, realizou seus sonhos que nem sabia ter e lhe trouxe o calor que faltava em seu coração.

O hospital psiquiátrico infantil salvou crianças e as crianças salvaram Sakura. Ela havia aceitado a escolha de Sasuke, mas Naruto via como a distância afetava-a, no entanto nada pode fazer por ela, não podia ajuda-la como ela o ajudou, e naquela época — nos seus ofuscantes primeiros meses de namoro — onde tudo em sua vida finalmente parecia fazer sentido, ele simplesmente não conseguia mais vê-la como antes. Os sentimentos por Sakura estavam devidamente enterrados e pra ele aquilo era como uma brisa refrescante no coração.

Eles eram amigos, claro, mas a rosada, altruísta como sempre, não gostava de importuná-lo com problemas do coração“Da última vez que te pedi que o trouxesse, desencadeou-se uma guerra!”, brincara ela. “Não se preocupe comigo. Estarei bem... Agora, me conte, como foi o jantar com o pai de Hinata, huh? Espero que tenha conseguido agir como uma pessoa normal.”

Tudo estava certo enfim.

Sasuke voltou. Tocou-a mais uma vez daquele jeito peculiar quando achou que não havia mais ninguém os olhando, sorriu um sorriso breve. Algumas semanas mais tarde viu-os caminhando lado a lado pela vila, perto o suficiente para se tocarem. Pares de meses depois, quando o último Uchiha anunciou que retornaria a sua jornada, Naruto pôs-se ao lado de Sakura, esperando que ela desmoronasse. Mas ela sorriu largamente. “Desta vez eu o acompanharei”, dissera, sem rodeios. Sasuke ao lado dela concordou, impassível, mas não contrariado.

Então assistiu-os atravessando os portões do País do Fogo. Quando retornaram, dezenas de meses depois, Sakura carregava um bebê nos braços.

E assim foram construindo suas vidas. Separadamente, mas ainda unindo-se vez e outra. Ele também teve um filho, um bebê loiro chamado Boruto. Sua esposa, pouco a pouco, ia deixando o mundo ninja para cuidar do pequeno. Naruto estava em fase de treinamento para se tornar Hokage, mas ainda tinha muito mais tempo para a família que o Uchiha.

Porque, cerca de quatro anos após sua volta com Sakura, Sasuke teve que sair de Konoha novamente. E desta vez Sakura não podia acompanha-lo. Sarada era pequena e frágil, Sakura ficaria.

Nessa época, eles tornaram-se mais uma vez melhores amigos, ela constantemente visitava sua esposa e filho, jantava e conversava. Naruto se sentia bem quando voltava dos treinamentos e encontrava-a sentada em seu sofá favorito para cochilos, uma xícara de chá na mão e os olhos verdes cintilantes sobre si e sua família. Percebia, certas vezes, um brilho melancólico nas esmeraldas. Uma pitada de inveja misturada a ternura faiscando sobre si quando embalava Boruto nos braços.

“Isto poderia ser seu, Sakura-chan, apenas devia ter estendido a mão.” Esse tipo de pensamento não aconteceu naquela ocasião, mas sua mente de agora o fazia acreditar que sim. Inconscientemente era isso que queria dizer quando sentava-se frente a frente com ela na mesa de jantar, enquanto os olhos verdes e distraídos percorriam os rostos da pequena família Uzumaki. “Poderia ser você e eu. E filhos. Nossos filhos.”

Mas esse pensamento nunca deixou de ser apenas isso. Naquele tempo mais ainda, porque — era maldoso e egoísta — ele sentia algo como alívio ao saber que Sasuke e Sakura não tinham um relacionamento como ele e Hinata tinham.

Tempos se passaram e ele havia se acostumado a presença quente da Haruno — não conseguia pensar nela como uma Uchiha —, quase sempre almoçando juntos, mesmo que isso tivesse se tornado difícil depois que seu segundo filho chegou, uma menina com cabelos negros e bochechas coradas.

Sua família o amava e ele tinha Sakura ao seu lado para comer lámen, rir de lembranças da época de gennin e vangloriar-se de seus respectivos filhos. Por ele, isso poderia perdurar até o fim de seus dias.

Mas Sasuke enfim retornou de sua longa missão de rastreamento e a kunoichi deixou de precisar de sua luz, agora ela emanava sua própria, tão incandescente que até mesmo Sasuke, todo obscuridade e frieza, se contagiava com ela.

E com isso, Naruto sentia-se ofuscado. E então, de repente, o trabalho nunca lhe parecia tão promissor e infindável.

Os sinais sempre estiveram lá, nunca percebeu. Até hoje.

Hoje ele viu uma faceta de Sakura que nunca chegou a cogitar. Viu Sasuke agir como marido. Sasuke Uchiha. Sorrindo abertamente. Abraçando e beijando Sakura por espontânea vontade e sem que ela precisasse pedir.

Sasuke e Sakura eram íntimos um do outro. Eles eram um casal.

Por que isso o machucava tanto? Por que machucava agora?

Passou a mão pelos cabelos, fincando as unhas na pele.

Ele os viu caminhando lado a lado por Konoha, dedos entrelaçados discretamente. Assistiu-os saindo da vila para conhecer o mundo, voltarem com Sarada, presenciou o casamento reservado e tradicional. Depois de tudo isso, só agora estava doendo.

Então percebeu que não vira nada de verdade.

Aos seus olhos, a relação deles era distante e fria. Tudo que viu foi uma coisa processada, longínqua. E era nisso que ele acreditava. Esse sentimento nunca aflorou porque a verdade é que estava cego, fazia-se cego, porque olhar de perto só lhe traria dor.

— Eu a amo — disse, sua voz saindo num guincho rouco. — Eu ainda amo a Sakura-chan.

Kurama agora estava tão silenciosa quanto a noite fria.

Essa perspectiva lhe trouxe um frescor a alma, pois muita coisa fazia sentido agora. Porque aquela sensação de vazio ainda estava ali, quando ele já tinha tudo. Porque sempre que a via sorrir era como se toda Konoha ficasse mais colorida.

Essa mesma perspectiva lhe trouxe também um peso no coração. Porque, como sempre, Sakura era inalcançável. Porque seu melhor amigo era o empecilho. Porque Hinata merecia mais que um marido apaixonado por outra. Porque famílias não podiam ser destruídas e ou distanciadas por ter se dado conta disso apenas agora.

No fim, para Naruto, só restava aceitar e conviver com isso.

 

ATO II

"Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay."

-◊♦◊-

Pé ante pé, cambaleou para fora do Ichiraku, tentando aguçar a visão que projetava tudo e todos duplicados e inconstantes. Seguiu caminhando, apoiando-se onde dava até chegar à sua casa. Já era muito tarde, quase cedo mais uma vez, na verdade. Esticou a mão até a maçaneta, mas a porta se abriu momentos antes de tocá-la.

 A luz branca que jorrou da antessala fez seus olhos se contraírem. Esfregou as pálpebras, sentindo o corpo oscilar.

— Querido — Hinata disse, a voz suave encontrava-se meio enrouquecida, sonolenta. — Senti seu chakra.

Naruto atirou-se lentamente para frente, tocando o alto da cabeça da mulher antes de entrar. Na mesa de centro percebeu o cesto de costura, algumas agulhas espalhadas em um tecido que tomava forma de uma touca pequena.

— Esteve me esperando — constatou, a voz tão enrolada que pensou se ela conseguia lhe entender, a angústia fazendo sua garganta secar. — Hinata, eu já disse que não é preciso perder seu sono por mim.

— Eu me preocupo, me desculpe.

Virou-se até ela, apertou o pequeno ombro que se encolheu com o seu toque repentino.

— Não se desculpe. Não quando você não fez nada errado. — O aperto aumentou inconscientemente. Ele soltou-a. — Eu que devo me desculpar por ser tão negligente. Eu...

Sua cabeça latejava. Cerrou os olhos e levou a mão à fronte. Sentiu mãos quentes na base das costas.

— Você precisa tomar um banho.

Deixou-se ser guiado pela casa. Sabia que ela podia sentir o cheiro de álcool em seu corpo, mas ela não fez nenhum comentário.

Quando chegaram ao banheiro, ela se afastou por um momento para encher a banheira. Suas roupas foram tiradas calmamente, mesmo tonto, sorriu pra ela quando notou o rubor chegando às bochechas de sua esposa. Mesmo depois de tanto tempo. Antes que ele pudesse dizer algo, Hinata se virou para fechar o registro.

— Por favor, entre.                                       

Obedeceu-a com calma, a água morna fazendo seu corpo tenso amolecer devagar. Inspirou quando a antiga Hyuuga tomou a esponja e esfregou-a gentilmente em suas costas.

— Você pode dormir agora, eu termino sozinho... — disse, mesmo que estivesse agradecido por não ter que fazer aquilo ele mesmo. Ainda estava muito tonto.

—... tudo bem — ela respondeu. Os olhos baixos. Pôs-se a sua frente agora, passando a mão na água e tocando seu rosto. -— Eu quero... cuidar de você.

Essa declaração o fez se retrair.

— Você devia brigar comigo — disse, a visão ficando escura por um momento até que percebesse que tinha fechado as pálpebras. — Estou bêbado, fora de casa por um longo tempo.

— Podemos conversar sobre isso amanhã, se quiser — a morena murmurou, um tom de graça tingindo a voz doce.

Não estava raciocinando direito, por isso não precisou as palavras até que elas saíssem:

— Sakura-chan teria me dado uma surra.

As mãos que percorriam seus ombros vacilaram. Abriu os olhos, arrependido, pigarreando quando percebeu a expressão confusa de Hinata.

— Ela fez isso uma vez... numa missão de Yamato-sensei. — Procurou dar casualidade ao timbre. — Eu nunca bebi antes e o idiota do Sai disse que eu não aguentaria ao menos uma dose... Eu realmente não aguentei. — Inspirou brevemente, aliviado por ver um sorriso voltar aos lábios de Hinata. — Sakura-chan nos encontrou naquele estado e eu só lembro que tanto eu quanto Sai mal conseguimos andar no dia seguinte.

— Entendo... mas eu nunca machucaria você. — Ela se ergueu, indo até o armário e trazendo uma toalha.

Ela só o fazia quando eu agia como um tolo.

Talvez tivesse adquirido um tipo de masoquismo, a qual o fazia querer defender o modo agressivo de sua antiga companheira de time, mas ele sentia falta disso como nunca imaginou que fosse acontecer.

— Obrigado — suspirou, puxando a toalha antes de se erguer, querendo evitar constrange-la por nada.

Mesmo assim, sua esposa tinha as bochechas como algo que lembrava duas ameixas maduras. Em outro momento teria sorrido com candura ante aquilo, mas, o efeito do saquê ou por ter tido um vislumbre do quão lasciva uma mulher poderia ser, sentiu-se frustrado, quase irritado com o rubor.

Chegou ao quarto, os lençóis esticados em perfeito estado, nenhum pedaço de roupa escapando das gavetas, nada de potes vazios de lámen no chão. Às vezes era incrível de se pensar que ele morava ali.

Hinata já havia pegado seu pijama e lhe estendido. Observou a calça e camiseta, perfeitamente passadas e dobradas.

Tudo isso lhe parecia, de repente, tão difícil de engolir.

Expirou forte, arrancando as roupas das mãos dela com certa fúria. Jogou-as sobre a cama e segurou os braços da morena com firmeza.

— Eu trabalhei até tarde quando prometi voltar cedo, jantei no Ichiraku e tinha dito para você preparar um grande jantar, bebi tanto saquê que cheguei aqui quase me arrastando.

Hinata o encarou, surpresa e aturdida.

— T-tudo bem, eu—

— Não, Hinata, não está tudo bem — disse, a voz firme. — Não pode agir como se eu pudesse fazer o que quiser, e agir como um idiota, sem te dar uma satisfação. Não é assim que funciona isso.

— Naruto...? — ela sussurrou, a expressão confusa. —... Sinceramente não entendo aonde quer chegar...

Esteve de olhos fechados por tanto tempo, que agora tudo lhe parecia irreal.

O loiro meneou a cabeça, diminuindo o aperto nos braços dela até que suas mãos escorregassem ao lado do próprio corpo. Suspirou frustrado.

— Me desculpe, o saquê me afetou de um jeito estranho — mentiu.

Esse medo de dizer tudo o que vem a cabeça sempre esteve aqui ou só percebeu agora?

Antes que pudesse falar mais alguma coisa, sentiu seu torso ser envolvido. Os braços dela o apertaram forte.

— Não quero que beba mais — ela disse, o tom mais firme que já ouvira. — Por favor.

Aquilo fez todo seu peito doer, soltou a toalha para pressiona-la contra si, tentando aplacar aquilo. Afundou o nariz nos cabelos negros e lisos, encontrando certa paz no cheiro doce característico.

— Eu não vou — prometeu. Trouxe o rosto dela pra cima e beijou-lhe os lábios. Tudo seria tão mais fácil se pudesse fazer seu coração escolher.

Hinata era a coisa mais preciosa que conhecera. Inteligente, gentil. Costumava admirá-la tanto, pasmo com a beleza etérea e com o amor que lhe transbordava os olhos. Não se cansava em dizer o quanto ela era linda, só para vê-la sorrir e enrubescer, consequentemente se tornando mais incrível.

Quando aquilo deixou de acontecer como algo espontâneo e se tornou só uma forma de fazê-la se sentir bem quando ele não conseguia dizer “eu te amo”?

Tocou os lábios dela mais uma vez, desta, entreabriu os seus próprios. Inspirando o gosto leve da menta do hálito dela. A tormenta de seus pensamentos se tornando urgência de gestos. Tomou o rosto feminino entre as mãos, aprofundando a carícia. Os braços dela jaziam moles ao lado do corpo até que Naruto os puxou, pendurando-a em seu pescoço.

— Se segura — avisou. Ela o fez no último momento, quando ele segurou a cintura cheia e a ergueu, caminhando os poucos passos que faltavam até a cama. Jogou-se sobre os lençóis, Hinata sobre si. Ela arfou, nunca tinha feito aquilo tão repentinamente.

Puxou as pernas leitosas, apreciando a textura suave como seda.

“‘Credo, Sakura-chan!, exclamara, em tempos chunnin, quando a rosada colava algumas ataduras em seu rosto. ‘Suas mãos são mais ásperas que as minhas, dattebayo! AAAI!’

‘BAKA, FAÇA VOCÊ MESMO ESSA DROGA!’, saiu pisando duramente, o rosto vermelho.

Levou menos de cinco minutos para que ela voltasse a trabalhar em seu rosto, agora com dois curativos.”

—— Escuta — disse, a necessidade em tê-la fazendo com que sua voz saísse rouca. — Eu amo você. Eu tenho agido como um idiota e... — Sentido coisas que não deveria por uma pessoa que não posso ter. — eu quero que você me diga quando não estiver de acordo. Brigue comigo, fique brava.

Hinata assentiu, as mãos unidas sobre o colo. Os cílios escuros fazendo sombra sobre os olhos brancos como duas pérolas. Ela era incrivelmente bonita, mais até que Sakura. Tornou a beijá-la, com mais intensidade que nunca, ele percebia quão surpresa ela estava, mas também sabia que não haveria contraposição da parte dela. E permitiu-se o egoísmo de agir sem contenções desta vez. Desfez o nó da toalha e a abriu.

Afastou o robe dela, jogando-o para fora do corpo. Apertou as curvas que tinha sob as mãos, mapeou-as, tentando fixar-se nelas, mas só conseguia pensar no corpo mais magro, sinuoso, mais músculos e cicatrizes, menos suavidade e delicadeza. Apoiou a mão embaixo dos seios pesados, a ideia absurda de como seria se eles diminuíssem lhe chegando a cabeça.  

Não.

O cheiro doce tornando-se cítrico.

Sakura-chan.

Apertou-a contra o colo para que ela sentisse sua ereção. Os lábios dela se contraíram em sua boca quando agarrou a cintura farta e moveu-a em círculos em seu colo.

— Naruto... — Hinata gemeu, fazendo seu corpo arder de desejo.

“Nós somos casados agora”, dissera-lhe tempos atrás. “Não há necessidade para floreios e formalidades, não é mesmo?” Sorriu para a expressão corada. “Vamos lá, você consegue‘ttebayo!”

“Naruto”, Hinata disse, um meio sorriso tomando o rosto dela antes que o afundasse no peito dele.

“Muito melhor!”

Hinata passou a chamá-lo assim porque Sakura o fazia.

A constatação veio em meio aquela névoa de calor como um soco no estômago. Afastou os lábios dos dela, expirando forte, tentando fazer com que estes pensamentos saíssem de sua cabeça. Não.

— Eu amo você — disse com pressa, repetindo, sempre repetindo até que fosse real. — Eu amo você.

Quando seus sentimentos e falas se tornaram tão maquinais?

Hinata assentiu, vermelha e quente sobre si, as mãos apertando seus ombros quando desceu a mão até a longa camisola que ela usava, puxando com rapidez, por cima, querendo e precisando ver cada pedaço de pele nua. Fazer seu cérebro enxergar com quem estava.

Ele segurou um dos seios na mão, sentindo o peso da carne macia sobre os dedos. Ela estremecia, um braço cobrindo o outro par. No início ela o fazia com os cabelos, criando uma cortina para que não os visse.

“‘... e-então você os prefere curtos?’

‘Que?’ indagara, surpreso.

‘Naruto-kun acabou de dizer que gosta muito de cabelos curtos’, ela disse, fazendo-o ficar calado por um tempo, até que respondeu:

‘Bem... eu... sim, mas não é como se fosse importante...’

Hinata tocou a ponta dos cabelos, já abaixo da cintura.

Silêncio.

‘Gostaria que eu...?’

‘Não! Não...’ dissera rapidamente, mas se refez quando a expressão feminina desmoronou-se. ‘Quero dizer, não precisa fazer isso por mim... Você é linda de qualquer forma, dattebayo!’

Alguns dias mais tarde, os cabelos pretos batiam no queixo.”

Sakura-chan tinha cabelos curtos.

Essas pequenas coisas chegando a ele e tomando peso e sentidos diferentes, que não percebera antes.

Mas não podia ceder tão fácil, ele tinha que tentar, tinha que seguir em frente, com Hinata.

Os olhos translúcidos estavam desviados para baixo, para qualquer lugar que não fosse os olhos dele.

— Você é linda — disse, finalmente, uma verdade.

Beijou a pele abaixo da clavícula, empurrou-a contra o colchão, um som tímido saindo dela quando segurou ambos os braços femininos e deixou a boca percorrer os seios. Sugando e lambendo os montes altos e grandes. Não refreou sua vontade dessa vez, soltou os braços dela e trouxe as mãos para as laterais dos seios, apertando-os contra seu rosto. Beijou enquanto ela mal se movia, apenas suspirava e fazia sons presos na garganta.

Desceu até a barriga, ignorando as mãos dela vindo, tímidas, até seus cabelos curtos, quase impedindo-o, mas não o fazendo. Não esperou, nem fez algum gesto de aviso como costumava. Puxou a calcinha pernas abaixo, separando as coxas macias, ao máximo, expondo-a. Seus braços firmaram a posição quando ela tentou juntar as pernas. Não dessa vez. Ele beijou o centro dela, afundando a língua logo após, sem refrear-se, banhando-a com sua saliva e o prazer dela banhando sua língua. Sugou-a até ouvi-la gemer, quase alto o suficiente para que ele distinguisse uma palavra, mas ainda era um som retraído.

— Eu amo isso — suspirou ao enfiar um dedo na vagina apertada. Dois dedos e Hinata se contraiu internamente. Beijou o clitóris. — Amo seu gosto. — Lambeu. — Gosta como eu faço?

Sem palavras da parte dela, só a respiração entrecortada e olhos suplicantes.

Naruto se ergueu, os dedos ainda trabalhando dentro da abertura molhada. Beijou o pescoço, lóbulo da orelha e lábios. O rosto feminino estava quente e rosado, as mãos dela agarradas aos lençóis. Colocou-se entre as pernas e deslizou sua ereção no lugar dos dedos. Hinata arqueou-se em sua direção, as mãos apoiando-se em seus ombros quando investiu pela primeira vez, firmemente e por inteiro, aumentando a velocidade até que estivesse indo forte, o som do choque dos corpos soando junto com os gemidos longos que ela dava.

Naruto fechou os olhos, outras imagens enchendo-lhe a mente, fazendo-o perder a concentração no corpo abaixo de si. Olhos verdes e lábios cheios que se abriam e proferiam palavrões, sem pudor; gemidos altos e seu nome.

— Naruto...!

— Isso... — arfou, seus olhos ainda fechados, agarrou o travesseiro em que a mulher estava deitada para investir mais fundo antes de girar os corpos rapidamente. Apertou os quadris cheios, mantendo-se dentro dela.

Hinata apoiou as mãos sobre seu peito, os olhos brancos abertos ao limite.

— N-Naruto... eu—

— Shh — disse, tocando os lábios dela, a voz era suave e tímida, distanciando-se da de seus pensamentos. — Só faça isso.

Ajudou-a, de início, erguendo-a pela cintura até o alto e deixando-a cair de volta, levando-o a um estado de calor que quase o impedia de respirar normalmente. Sussurrou, quase numa ordem, um “continue” quando soltou o corpo macio e quente e cruzou os braços atrás da cabeça. Sua mente era incrivelmente boa para projetar cenas desse jeito. Ela sobre si, desse mesmo jeito, fazendo-o chegar ao topo, eles caindo juntos, ardendo.

Sakura.

Sentiu a pele macia tocar seu peito e abriu os olhos, íris verdes próximas, o cheiro frutal-cítrico e um pouco de éter. Cabelos curtos, não lisos, ondulados, rosados. Lábios avermelhados por beijos, seus beijos, o hálito quente batendo contra seu rosto.

— Eu te amo, Naruto.

— Eu também te amo.

Sakura.

Abraçou o corpo pequeno e macio acima do seu. Jogando os quadris contra ela. Fazendo-a ronronar sobre si, mover o corpo junto com o seu. Ambos gemendo alto, juntos. A quentura em seu íntimo suplantando qualquer sensação, ameaçando enlouquecê-lo caso não alcançasse logo o ponto que o fazia explodir.

Girou os corpos mais uma vez, seus joelhos sobre o colchão, agora indo com toda a força, dentro totalmente e quase totalmente fora. Seus braços tremiam, seu rosto afundou-se no pescoço feminino, os cabelos curtos roçando em sua bochecha enquanto fingia ouvi-la gemer alto, pedindo que fosse mais forte e mais fundo, implorando que a fodesse com tudo.

— Naruto, ah...

— Eu te amo, tanto...

Sakura-chan.

Tencionou por um segundo, o corpo inteiro. Eu amo você, só e apenas você. Num último impulso aquilo veio como uma chama viva, queimando tudo por onde passava, fazendo-o apertar os dentes e segurar a repentina vontade de gritar seu nome. Deixou-se desabar, por fim, sobre o corpo macio. A respiração pesada tentando encontrar o ritmo linear mais uma vez.

Mãos macias tocaram e afagaram seu rosto, fazendo-o despertar de volta para o mundo. Palpitações suaves em seu baixo ventre e um leve amargor no fundo da língua quando a culpa o devastou por dentro. Prendeu os dentes mais uma vez, dessa vez mal suportando a dor.

— Hinata.

Naruto levantou a cabeça devagar, temendo que ela visse seu rosto agora, então recompôs-se puxando pela boca o ar que entrava difícil pelo nariz.

— O que disse? — perguntou baixinho. Apesar de ter ouvido muito bem.

As mãos dela ainda o acariciavam, polegares suaves fazendo círculos em suas bochechas, lentamente antes, mas agora com uma urgência que o assustou.

— O meu nome — a voz era um sussurro trêmulo. Os olhos brancos que estavam distantes caíram sobre os seus, cintilando, magoados, refletindo sua expressão congelada como o reflexo de um espelho. — é Hinata.


Notas Finais


Parte 1 editada. A parte 2 vai sair, fé em Kami.


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