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História Insomnia - A lenda


Escrita por: Hyrulian

Notas do Autor


Ontem eu não consegui dormir, então acabei escrevendo isso aqui
Não sei se é uma hunhan ou não, então preferi deixar sem a tag.
Eu mesma não sei o que pensar sobre isso que eu escrevi, então já espero que flop, como sempre.

Bom capítulo!

Capítulo 1 - A lenda


Uma lenda japonesa diz que quando não conseguimos dormir a noite é por que estamos acordados nos sonhos de alguém. 


Fazia uma semana que eu não conseguia dormir. Era como se toda vez que eu encostasse ao travesseiro minha mente pensasse e revirasse todos os problemas, o que aconteceu no dia ou até mesmo criava novas situações só para me fazer ficar acordado, pensando naquilo incessantemente. 
Hoje eu estou aqui, rolando há mais de uma hora na cama e pensando em como seria se morresse no meio da rua, saindo da faculdade. Pode parecer estranho, mas a maior parte do tempo meus pensamentos são assim: Hipóteses da minha morte, o que aconteceria depois. 
Às vezes eu penso que isso realmente é um problema meu, que preciso procurar ajuda, por que sempre falo da vida com desgosto e tom de piada, mas as palavras que saem da minha boca são verdadeiras. Eu queria estar morto. 

Na verdade nunca queria ter nascido. 

Mas depois de um tempo eu descarto esses pensamentos e só levo tudo na brincadeira. Minha irmã às vezes me dizia que eu poderia ir à um psicólogo, mas eu sempre odiei a ideia. 
Eu não quero gostar da vida, eu não quero mudar esse pensamento. 
Ele sempre esteve aqui e eu o encaro como parte do que eu sou - seja lá o que eu for. 
Talvez eu nem mesmo deveria ter nascido. 

Senti o celular vibrar e o puxei - meus olhos queimando por causa da luz do display.

 


Desconhecido: Acordado a essa hora? 

 


Eu demorei um pouco para assimilar quem era. Vivia esquecendo que tinha perdido os contatos do meu celular depois de ter feito o backup.
 


Eu: Pelo jeito você também
 


Eu iria mandar essa simples mensagem, mas antes de apertar o botão, minha mente me levou para um antigo devaneio.

A pergunta que eu sempre me fiz, sempre presa em minha mente a sete chaves coçava agora para sair, para ser finalmente respondida. 

Revi o número. Era realmente quem eu pensava - um dos meus melhores amigos - e eu sabia que, sendo o que eu queria ou não, eu teria uma resposta dali. 

E o que eu também tinha a perder? Eu nem ao menos queria algo. Estava completamente perdido.



Eu: Fiquei pensando em algumas coisas


Desconhecido: Como? 


Eu: No que Chen é bom? Qual a coisa que ele sabe fazer muito bem?



Eu esperei um tempo mais longo, ele deveria estar pensando.



Desconhecido: Ele canta super bem.
E tem aquelas composições, sabe. Acho que seria isso


Eu: E JongIn? Qual o dele? 


Me sentia um pouco mais nervoso, os dedos tremiam enquanto eu digitava, mas eu já tinha começado e iria até o final.


Desconhecido: Sempre ficam falando da dança do Kai, as vezes isso me irrita um pouco, sabe. Mas realmente, ele faz isso como ninguém.


Por que está me perguntando isso, hyung? 



Era sempre assim. Ele sempre responderia minhas perguntas, mas, no final, eu sabia que iria ser confrontado.

Por que ele sabia que eu não estava perguntando aquilo sem motivo. 

As vezes eu me achava muito transparente, mas a verdade era que ele me conhecia bem. Bem até demais. 



Eu: Eu não tenho isso, sabe, hyung. Estava percebendo esses dias


Desconhecido: Como assim?



Eu: A coisa que melhor sei fazer não existe. 

Você pode até pensar que não, mas então consegue dizer algo que eu faço excelentemente bem? Que eu tenha realmente um dom? 



Dessa vez eu bloqueei o celular e o coloquei no peito, esperando. Às vezes aquelas coisas saiam de mim, insistiam em sair, e eu sempre me arrependia de ter começado aquele discurso, de ter levado os meus pensamentos para fora. 

Parecia que assim eles se tornavam mais reais e a angústia que eu sentia em não conseguir fazer nada me sufocava. 

Chen e Kai eram meus amigos de infância, eu os adorava e sempre andávamos juntos, mas, depois de um tempo, eu vi a nítida separação que tínhamos. 

Eu nunca almejei nada grandioso para mim, nunca tive um grande potencial para nada. Sempre fui somente eu, mais uma pessoa normal e extremamente desinteressante, enquanto JongDae escrevia músicas e tinha uma voz potente desde que se entendia por gente; e Kai dançava tão bem que não havia uma única pessoa que não o elogiasse, além de ser extremamente carismático e sociável, apesar de gostar de manter a postura de frio e antissocial. 

Todos os adoravam e eu sabia exatamente os pontos que as pessoas se sentiam atraídas por eles. Além disso, todo o conjunto da personalidade que eles tinham era incrível. Na minha mente, e eu tinha certeza daquilo, eles são realmente pessoas ótimas e que merecem tudo o que tem e ainda mais. 


Mas e eu? 

Eu sei que soa egoísta, que eu não deveria me comparar com meus amigos e me sentir assim, mas é tão errado ver as coisas desse jeito? 

Por que eu sempre tenho que ser altruísta e tentar agradar os outros além de mim? Eu sinto que a minha vida inteira eu tentei fazer isso e, agora, quando tenho que encarar uma vida adulta, séria e profissional, não há ninguém para me agradar - dizer que vai fazer isso ou aquilo por mim, me bajular ou dizer que, sim, eu estou no caminho certo. 



Talvez o que eu realmente queira é alguém que me mande ser algo
Que controle os meus desejos

 


E talvez seja realmente isso, por que em uma mente como a minha, em que não se encaixa em lugar algum, não consegue se adaptar a nada e não vê nenhuma qualidade em si mesmo, eu preferia que meus pais, finalmente, usassem todo o seu jeito conservador e autoritário para que assim, pelo menos, eu tivesse alguma luz.
Que eu sentisse alguma coisa.

Sinto meu celular vibrar, mas já não quero olhar a tela, ver a resposta ali. A coisa cética e que eu, com certeza, não vou me satisfazer ao ler. 
Por que eu mandei aquilo, afinal de contas? Por que não aprendi ainda que preciso manter os pensamentos aonde devem ficar: na cabeça? 

Respiro fundo e desbloqueio a tela, olhando de uma vez para as palavras que estão ali, me surpreendendo.


Desconhecido: Estou na sua varanda. 

Vem logo 

Você sabia que está nevando hoje, não é? Então se não quer me matar, é melhor abrir a porta. 



Levantei depressa da cama, mas tomando cuidado para não fazer barulho. Como meu quarto fica no primeiro andar, foi mais facil de chegar até a varanda sem muito barulho, e logo vi a silhueta do outro a minha frente. 
Mal abri a fresta e ele já entrou, roubando o cobertor que eu tinha nos ombros. 

- Eu estava prestes a arrombar essa merda - reclamou e eu teria rido em outra ocasião, mas eu não conseguia ter esse tipo de reação agora. Luhan percebeu e respirou fundo, pegando minha mão - Vamos pro quarto.

 

Ele sabia o caminho, então não demoramos até entrar no cômodo. Voltei a me jogar na cama e ele logo veio atrás de mim. 

 

- Sehun... - ele disse e tentou virar meu corpo, mas eu permaneci ali - Para com isso, eu vim te ajudar - reclamou e eu acabei bufando e me virando para ele

 

- Você tem sempre que ser impulsivo assim? Não consegue mesmo perceber que eu não estou mesmo bem e que isso não é só uma crise existencial idiota? - questionei e ele só me encarou com certo cinismo. 

 

Me levantei, sentando na cama e ficando de frente para ele. Liguei a luz do abajur que estava em cima da cômoda e comecei a abaixar as calças do meu pijama. 

 

- O que você... - ele parou de falar assim que viu as marcas nas minhas coxas, bem próximas a virilha - Sehun! - ele falou agora preocupado e estendeu a mão para tocar o local, mas eu o impedi. 

 

- O seu problema e o de todos e achar que as palavras só se tornam reais quando passam para o físico - disse friamente e desviei o olhar dele, não conseguia mais encará-lo - Mas para mim isso só foram as mesmas palavras repetidas a lâmina e agora gravadas na minha pele. E sabe por que te choca tanto, Luhan? É porque agora você está vendo o que elas faziam comigo por dentro.


Eu sentia meus olhos queimarem, mas me recusava a chorar. Deixar aquelas lágrimas caírem só me tornariam ainda mais patético do que eu já.

 

- Eu sempre fui o que poderia ser descartado. O que não tem nada de especial ou bom de verdade e, sinceramente eu cansei de tudo isso. Por que eu tive que nascer se nunca vou ter o desejo de me tornar algo? De fazer alguma coisa? Por que eu só nasci para ter esses pensamentos e me martirizar todos os dias, só tendo certeza que, amanhã, eu vou acordar e sentir tudo isso de novo? 

 

Eu não conseguia mais falar, as lágrimas não desceram, mas minha garganta se fechou e eu não tinha mais voz. Luhan tentou me abraçar, mas eu o afastei. O mal de todos que consolam é achar que um toque, um abraço, irá resolver tudo. Irá acalmar. 
Mas não acalma. Só me deixa ainda mais sufocado, ainda mais enterrado no mesmo discurso
 


É assim mesmo


Eu te entendo


A vida é injusta


Vai ficar tudo bem



Não consigo mais me conformar, me perdoem. Não consigo mais acreditar que realmente me entendem ou que tudo vai ficar bem, já que isso é "só uma fase"

Luhan esticou a mão para a cabeceira e deligou a luz, se deitando logo em seguida na minha cama, me deixando sem entender 

 

- Pode chorar agora, Sehun. Eu não vou ver - falou e eu já sentia os rastros quentes descendo pelo meu rosto. Ele permaneceu calado por um tempo, voltando a falar com a voz mais calma e tranquila do que geralmente era - Eu não posso dizer nada que vá te confortar realmente, por que nada disso vai ser diferente do que já escutou, ou o que você realmente quer ouvir - ele fez uma pausa - E você quer ouvir que é sim bom em algo, que vai encontrar aquilo que vai fazer sua vida ter sentido e que finalmente vai ser feliz. Mas se eu dissesse isso, estaria mentindo, por que não sei se vai mesmo encontrar isso tudo. 

 

Eu senti sua mão em meu rosto e percebi que ele estava em minha frente, secando minhas lágrimas. 

 

- Querendo ou não, é você quem vai ter que decidir isso tudo. Correr atrás disso tudo, e não vai ter muito tempo para isso, por que todos irão te pressionar para ser alguém. Já o fazem, na verdade - ele riu sem humor e tirou a mão do meu rosto - Mas, infelizmente, não tem mais o que ser dito, por que a vida é assim e talvez nunca mude. Um dia você vai encontrar tudo isso.

 

Ele baixou suas mãos e eu as senti nas cicatrizes profundas das minhas pernas. Ele circulava o local e o toque ardia, mas aquela dor não era nada para o que eu sentia por dentro
Ele pareceu fazer aquilo por horas e eu finalmente derramei a última lágrima e me acalmei. 
Era o conformismo de novo. A aceitação.

 

- Sabe - Luhan disse e voltou a ligar a luz, me encarando com um sorriso enorme - Tem uma lenda japonesa que diz que, quando você não consegue dormir a noite

 

- É por que está acordado no sonho de alguém - completei e o vi ficar ainda mais radiante.

 

- Exatamente - ele disse - Então acorde logo, Sehun - falou e eu não consegui entender - Se precisa mesmo de mim, das minhas palavras, acorde agora - sua voz soou distorcida e eu ouvia agora outra coisa, algo como bolhas e água - Acorde...


E eu acordei. 
Me assustei no mesmo segundo e me sentei na banheira, percebendo onde estava. No relógio a minha frente marcava 12h e, na banheira em que eu estava, a água era vermelha como sangue. Olhei para meus pulsos, mas não tinha nada ali. 

Eram os rasgos da coxa. Eu não tinha coragem de me cortar em um lugar tão visível. 

Tudo parecia girar e eu estava prestes a afundar de novo, sem saber nem mesmo como consegui forças na primeira vez, quando eu me vi levantar. 

Como estou fazendo isso?

 

- KAI - ouvi distante e logo senti meu corpo andar mais rápido, mas não consegui me manter muito mais tempo consciente.
 

✗✗✗

 

Quando abri os olhos novamente, estava em um hospital. 
Tentei me levantar na mesma hora, mas algo prendia meu pulso. Olhei para o lado e percebi um tipo de fivela me amarrando à maca. 

 

- Sehun - olhei para o lado e vi Luhan – Sehun fique calmo. 


Eu quis gritar de novo. Quis chorar e perguntar por que estava ali.
Qual era o direito deles de me impedir de morrer? Nem mesmo isso eu posso ter para mim? 

 

- Eu passei a noite inteira em claro ontem - ele disse vagarosamente enquanto sentava do meu lado - E senti uma coisa... Você sabe que eu sou cético, mas... Era quase como se eu soubesse que você não estava bem.

 

Eu não iria narrar  tudo o que aconteceu naquela noite. Talvez a lenda japonesa estivesse certa e era eu quem estava fazendo Luhan ficar acordado, e isso me aliviada profundamente. No fim, eu não tinha dito nada para ele nem ninguém. 

Não trocamos muitas palavras depois disso, meus pais, logo em seguida JongDae e Kai, vieram me ver, brigando e cuidando de mim. Consegui rir de suas piadas e desviar das perguntas mais profundas que faziam, respondendo somente com um "Foi um acidente", apesar de saber que isso não enganaria ninguém.

No fim de tudo, eu estava de novo em casa. Meus pais agora dormiam no quarto em frente ao meu e, todas as noites e manhãs, passavam por lá para checar se eu ainda estava vivo. Se ainda estava bem. 
Eles insistiram que eu fosse a igreja, que participasse de alguns cultos de libertação, mas depois de tudo, eu só queria ficar em casa, apesar de saber que, uma hora, teria que sair, estudar, arrumar um emprego e parar de ser um estorvo. 
Começar a ser alguém. 

Eu ainda não estava bem, ainda pensava em me matar e ainda queria fugir daquilo, mas depois de um tempo, com as visitas constantes de Kai, JongDae e Luhan, eu consegui entender.

Um dia, Luhan havia dito para mim que existiam pessoas que nasceram para ser mandadas e para mandar. 
Eu nasci para agradar a todos. Para ser o seu ponto seguro e os ouvir. Dar conselhos e distraí-los em seus momentos de tédio. Eu percebia isso agora ao lembrar todos os meus momentos com meus amigos e familiares, como eles preferiam me ignorar quando estavam atarefados com algo, mas corriam até mim quando precisavam de alguém para escutar sobre sua vida, suas duvidas, seus argumentos sobre algum assunto ou o que quer que fosse. E eu sempre ficava passivo, por que era assim que as coisas tinham que ser. 

Eu permaneci dias naquele estado de insônia, revirando minha cama até finalmente perceber isso. O objetivo da minha vida era outra pessoa e não a mim. 


Acho que esse é o tal dia que Luhan mencionou.
Era para isso que eu nasci e eu não sei, até hoje, como encarar isso, mas continuo aqui. 
Respirando.
Vivendo para todos eles.
 


Notas Finais


E então, foi muito ruim?
Me desculpem. Tenho que parar de tentar escrever, nunca sai algo decente.

Até!


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