História (In)Suficiente - A arte de sentir muito.

Se esse fosse outro dia, talvez você estaria se sentindo diferente. Se o ano ainda fosse 2014, talvez você não precisaria sentir muito.

O problema de se sentir insuficiente é que você nunca sabe o que te falta, se é um sorriso como os dos outros, se é um rosto bonito como o de alguém que você pensou ter visto por aí, ou se é, simplesmente, um corpo repleto de sentimentos bons. Você nunca sabe, e provavelmente nunca vai saber. 

As más línguas costumam te dizer que nada pode dar certo, que seu esforço não vem dado retorno, então por que continuar tentando? 

Me desculpe, mãe, por não ser o suficiente. Me desculpe, pai, por não ser quem você imaginou que eu seria quando planejou isso tudo. Me desculpe, amigos, por não ir às festas, por parecer tão alheia aos assuntos, por não ser capaz de sustentar a simples menção de um "futuro". 

Você assiste seu rosto se tornar algo diferente todos os dias no espelho, são tantos rostos, nenhum deles parece ser o seu. São tantos gostos, nenhum deles parece se encaixar. Talvez você seja a peça do quebra-cabeça que veio com algum tipo de defeito, não há encaixe para você aqui. E não é certo você estar se sentindo mal sendo você, está tudo errado aí, está uma bagunça. Pare.

Me desculpe, mãe, por não estar tentando continuar. Me desculpe, pai, por não conseguir sair daqui. Me desculpe, amigos, por não ser como vocês. Juro que tento, então por favor, não me cobrem isso novamente. 

Você sabe que talvez nunca tenha sido alguém bom de verdade, mas você continua tentando. Às vezes te falta vontade, às vezes te falta motivação, mas você ainda está aqui. 

Você se sente sozinha e triste sendo alguém que não era determinado a ser. A ideia de ser alguém melhor te parece tão distante, mas você sabe que no fundo ainda há resquícios de esperança. Uma fagulha, que seja, ainda há algo que te prende ao pensamento de que uma hora tudo vai ficar bem. 

E vai.

Mas quando? 

Quando você for o suficiente. Mas não o suficiente para outras pessoas, e sim o suficiente para poder se olhar no espelho sem querer ser diferente.

O suficiente para que você possa parar de pedir desculpas, e para que você possa parar de sentir muito por ser tão pouco.