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História Intense Love - Dia 14 - É Tempo de Mudar as Regras


Escrita por: terenifeyes

Notas do Autor


Capítulo duplo pra vocês aí porque eu fiquei muito empolgada com os comentários yaaaaaaay

Capítulo 14 - Dia 14 - É Tempo de Mudar as Regras


Cheguei na escola totalmente confiante. Suspirei ao ver os alunos andando pelos corredores e conversando entre si, aquilo fazia-me sentir bem. Eu estava preparada para começar de novo.

Lydia e Felps agarram-se a mim mesmo antes de dar os primeiros passos para dentro do lugar, ambos tinham um sorriso imenso no rosto.

— Então, como você está hoje, senhora Angeline? — Felipe me perguntou tomando meu braço.

— Senhora não, senhorita. 

— Sabe, eu e Felps andamos pensando e decidimos fazer algo hoje. — Lydia tomou meu outro braço.

— É mesmo? — Arqueei as sobrancelhas. — Por favor, nada de encrencas. Já fui chamada mais de nove vezes na diretoria esse ano. 

— Não tem nada a ver com isso, Angie. — Rafael disse bem atrás da gente, colocando a touca cinza que estava na sua cabeça na minha

— Vem cá, vocês ensaiaram as falas? — Perguntei. 

— O que a gente planeja fazer não é na escola. — Lydia falou fitando-me.

— Era minha vez de falar, chata! — Rafael disse a Lydia, que levantou o dedo do meio sem tolerância. Rafael fingiu ficar ofendido. 

— Apenas fique acordada essa madrugada ok? É a única coisa que eu peço. — Lydia segurou as minhas duas mãos.

— Gente, isso está me cheirando a algo errado. Errado já basta minha vida. — Alertei os mesmos. 

— Pelo amor de deus, né?!

— Cala a boca, Lange. — Falei.

— Será que dá pra você deixar de ser fresca pelo menos uma vez na vida? — Rafael disse, intolerante.

— Cellbit. — Felipe chamou a atenção de Rafael – cujo sempre o chamara assim por motivos pelos quais desconheço. — Seja mais educado com sua futura esposa. — Rafa deu um tapa estalado no braço de Felps, envergonhado. Eu balancei a cabeça, ainda tentando me adaptar com as brincadeiras sobre "amor reprimido" que eles ainda faziam sobre nós. 

— É, fala pra ele ser mais educado com você, Angi. — Lydia retrucou.

— Só falo alguma coisa com a presença do meu advogado. — O sinal de entrada tocou e o professor antipático de matemática, Carlos, já havia entrado na sala com a maior cara fechada que alguém poderia ter. — Vou entrar, antes que o professor não deixe. — Afirmei e caminhei até a sala. Rafael puxou sua touca da minha cabeça me batendo com a mesma. Eu cutuquei sua costela fazendo ele rir.

— Você é insuportável às vezes. 

— E você é insuportável sempre. — Eu disse cutucando a sua costela repentinamente, fazendo ele soltar um riso muito esganiçado. — E ri igual uma cabra.

— Vocês, dois, façam o favor de parar com essa palhaçada! — Carlos disse, com olhar de desdém. — Todos vocês, sentem-se! Hoje é prova surpresa. 

— Ah não, professor! — Escutei alguém dizer. Soprei a mecha do meu cabelo, zangada.

— Anão é uma pessoa bem pequenininha. — Ele retrucou, rindo da própria piada.

"Puta merda, viu." 

"Essa piada é mais velha que o senhor!"

Olhei para Rafael que ria de alguns trocadilhos que rolavam na sala dizendo que o professor de matemática não transava para viver sempre de mau humor. 

De fato, aquilo era verdade.

***

Quando o sinal soou novamente,  eu ainda estava copiando algo no quadro pelo qual eu sentia a necessidade de acabar logo, arrumei a minha mesa que estava uma bagunça e guardei tudo na mochila. Escutei uma risada vir da minha frente.

— Você é tão estabanada. — Levantei minha cabeça e lá estava o loiro com uma expressão pacífica. Estranhei.

— Você estava aqui? O tempo todo? — Ele assentiu. — Por que você está me esperando?

— Para a gente ir pra cantina juntos, ué. — Eu abanei as mãos 

— Pode ir na minha frente, acho que eu vou no banheiro antes. — Disse. Rafael hesitou. — Rafa, sério, não fica me esperando pode ir, encontro você lá. — Demorou uma questão de tempo até ele aceitar a proposta.

Após sair da sala, caminhei pelo corredor e fui ao banheiro com a tendência de ver se meu cabelo estava muito bagunçado ou minha blusa estava amarrotada, porém ao entrar no mesmo eu fui puxada pra uma das cabines dele, batendo com um impacto dolorido na parede. Uma garota loira e certamente mais alta do que eu me segurava pela gola do uniforme, tentei defender entretando quanto mais resistia mais seus braços apertavam, uma das suas mãos foram parar no meu pescoço e ela me penetrava com o olhar.

— Escuta aqui, eu vou dizer uma vez só. — A loira me apunhalava apenas com seu semblante. Eu estava assustada, mas não deixei ela dar por vencida. — Por sua culpa, Marco Túlio tomou suspensão de duas semanas e eu passei a ter de fazer serviço comunitário durante as tardes.

— Me larga! — Me debati com tentativa de me livrar dos braços daquela louca. Ela apertou minha mandíbula fortemente provocando uma dor chata no meu rosto.

— Você nos deve um favor. E você vai o fazer, me escutou, Angeline? Eu quero que você fique longe do Rafael e qualquer coisa ou pessoa que tem algum tipo de vínculo com ele, se não você não vai só arranjar encrenca comigo, como vai arranjar com muitas outras pessoas. — Apertei os dentes. 

— Pois eu vou pagar pra ver, querida. — Dei um chute na sua canela, ela recuou e eu aproveitei a oportunidade para chutar o seu estômago com toda a minha força. A loira bateu as costas na privada e eu me assustei com o impacto que aquilo ocorreu. 

— Vai de arrepender disso bastante, você não tem ideia. — Ela disse entrecortada. Soltei o ar pela boca e sai dali. 

— Essas pessoas andam muito abusadas ultimamente. Onde já se viu. — Resmunguei saindo do banheiro. — Ninguém vai estragar meu dia hoje, eu já disse. — Murmurei. Fui para cantina e juntei aos meus amigos que estavam numa mesa próxima a janela. 

A cantina geralmente fornecia sucos, frutas (maçã, pêra e banana), biscoitos de coco ou maizena, em dias de calor excessivo eles às vezes vendiam picolé. Mas quem levava o luxo era de fato os jogadores de futebol que podiam comprar comida nas padarias próximas após o treino, algo que deixava a mesa dos mesmos invejáveis com seus salgadinhos, pães de diversos tipos que cheiravam de longe, refrigerantes e vários outros.

— Mas pensa comigo Lydia, se você injetasse alcoól diretamente nas suas veias e depois acendesse um fósforo perto do seu sangue poderia correr o risco de você sofrer uma combustão es...

— Olá! – Falei sentando-me, estava agitada pelo ocorrido no banheiro, mas felizmente ninguém pareceu notar. 

— Olá. — Lydia e Felps retribuíram quase em uníssono. 

— Eu peguei biscoitos pra gente. — Lydia disse colocando a bandeja do meu lado.

— Mas fui eu que... — Felps começou a falar.

— Felipe, shiu! — A mesma chamou a atenção. Eu ri.

— Você é tão doce, Lydia. — Retruquei apertando suas bochechas de leve.

— É... Feito um limão.— Felipe resmungou tirando um dos seus cachos negros do rosto.

— OI! GEENTE! ALÔ! — Rafael chegou histericamente com uma garrafa térmica e quatro copos de papel: três deles ele segurava desajeitado com uma mão e o outro estava entre sua boca e os lábios. — Eu trouxe café! Caféeee! — Ele colocou a garrafa na mesa e idem com os copos, servindo para todos nós.

— Onde você arranjou café? — Felipe, que é o único que parece ser o mais sensato de todos nós perguntou.

— Apenas toma o café, não pergunta nada.

— Minha mãe não deixa eu tomar café. Ela diz que cafeina é uma droga pro cérebro e que se eu tomar corre risco de eu me viciar, tal primeiro vício abre portas para heroína, ecstase, cocaína e outras drogas. — Lydia disse rindo baixo e tomando uma boa golada do líquido marrom. 

— Sua mãe não pode me conhecer. — Rafael afirmou arregalando os olhos azuis e arqueando a sobrancelhas.

— Sim, vocês são uma péssima influência pra mim. Acho que tenho que parar de conversar com vocês. — Lydia afirmou mordendo a boca avermelhada.

— Não vai mesmo! — Felipe disse. — Se você se afastar, quem vai ser o mascote no grupo pra fazer bullyng? — Zombou, a morena reagiu pegando um dos biscoitos de coco e jogando nele, repetindo o mesmo ato algumas vezes. Todo mundo ria descontroladamente, menos ela.

***

Em torno das três da tarde eu havia ido a casa de Rafael para dar continuidade ao trabalho – que já estava pronto porém tínhamos que registrar o que fazíamos mesmo assim. Planejamos de jogar frisbee mas depois de uma hora devido ao tempo chuvoso decidimos entrar e fazer outra coisa.

— Que é isso? — Perguntei e voltei-me para Rafael segurando uma espécie de comida que já parecia a ponto de mofar.

O quarto de Rafael na realidade não era após a cozinha, tinha descoberto após dois dias que seu real quarto estava pintando, então passaram a cama para um depósito ao lado da cozinha temporiariamente. Seu quarto ficava no fim do corredor, próximo ao quintal dos fundos, onde tinha diversas árvores e mato que davam uma bela vista da sua janela.

— Ah! — Rafael levantou da cama e pegou da minha mão. — Eu sabia que tinha deixado esse hambúrguer em algum lugar. — Olhei para ele com espanto. 

— Quanto tempo isso está de enfeite na sua estante? — O loiro deu de ombros.

— Um mês mais ou menos. — Falou. — Ainda deve estar bom... — Ele direcionou a comida estragada em direção a boca, bati em sua mão com tanta força que o hambúrguer bateu na parede e caiu no chão.

— Tá doido, é? — Balancei a cabeça. — Você precisa arrumar esse quarto, olha toda essa bagunça! Sua mãe chora no chuveiro de decepção. — O garoto revirou os olhos e se jogou na cama de bruços. Dei um passeio por seu quarto, esfregando meus pés descalços no tapete, fuçando as coisas que encontrava e avistei algo que me chamara atenção: um livro dentro de uma das gavetas próximas ao computador que estava escrito com letras coloridas "O Pequeno Rafael". Eu sorri maliciosamente e virei para ele que estava de bunda para cima. — O que é isso hum?! Pequeno Rafael. — Disse e o loiro levantou a cabeça como se eu estivesse desvendado todos os seus segredos. — Eu vou adorar saber disso. 

— Angeline da Silva larga isso agora. — Ele se levantou e eu corri com o livro pela casa rindo.

— Não dou! Não dou! — Cantarolei avançando pelos corredores e escutando ele berrar. Rafael segurou na minha camisa com a expectativa de me parar mas falhou. 

Subi em cima do sofá e abri o livro que a primeira página era uma foto dele aparentando ter oito anos de idade com a cara chorosa mais dramática que eu já vi, segurando em uma das mãos uma casquinha de sorvete vazia com o sorvete derretido no chão. Eu ri drasticamente. 

— Meu deus Rafael desde sempre sendo muito dramático. 

— Me dê isso, porra. — Ele xingou e agarrou a minha cintura puxando-me para baixo fortemente, o que me fez cair com impacto no sofá. Rafael subiu em cima de mim, imobilizando minhas pernas e depois minhas mãos com as suas. Eu estava vermelha de tanto que ria.

— Por que você me chamou de Angeline da Silva? Meu nome completo nem é esse. — Afirmei, o loiro tirou is cabelos do rosto, parecendo sem paciência.

— Não é pra você ver minhas fotinhas. — Ele tomou o álbum de mim. — E eu não sei seu sobrenome tá? Eu falei o primeiro que veio na minha cabeça pra parecer que eu sou autoritário e estava bravo com você.

— Ui, Rafael tentando ser correto pelo menos uma vez na vida. — Comentei. — Meu nome é Angeline Saez Fortunato aliás.

— Fortunato... Que chique.

— Falou o cara que ao mesmo tempo que está perto, está Lange. — Gesticulei e fiz uma cara risonha orgulhosa do péssimo trocadilho que eu fiz. Rafael observava ainda em cima de mim.

— Agora você mereceu. — O loiro me segurou ainda mais forte e começou a fazer cócegas na minha barriga. Não consegui controlar e comecei a rir histericamente me contorcendo embaixo dele e gritando para o mesmo parar. 

A campainha tocou e empurrei Rafael com os pés, ele saiu de cima de mim para atender a porta. Meu cabelo deveria estar super desmaranhado, mas por eu estar ofegante de tanto rir nem tinha pensado nesse ponto.

Escutei vozes que se tornavam mais nítidas conforme se aproximavam. Era uma voz feminina.

— Sua mãe me ligou pra ver se eu já estava chegando de viagem e mandou eu te falar pra você "segurar sua garota até o jantar", mas eu não sei o que ela quis dizer com isso. — A garota disse antes de entrar na sala bagunçando os cabelos de Rafa. 

Ela parecia uma réplica do garoto: tinha a pele branca e olhos azuis claros, ambos tinham o mesmo jeito, a única coisa que parecia os diferencia-los era os cabelos, que os dela eram pretos ondulados e os dele eram loiros mais escuros.

— Vocês são gêmeos ou o quê?! — Levantei do sofá de um jeito eufórico. 

— Ísis, essa aqui é Angie, minha...

— Ah, essa é a sua garota? Minha nossa, Rafael! Finalmente você tomou rumo. — Ísis comemorou me abraçando de surpresa.

— Ela é só minha amiga, calma. — Retrucou, pude ver através dos ombros dela que ele estava com o rosto avermelhado. 

— Que pena! Você é tão bonita.

— Obrigada. — Foi minha vez de corar. — Não sabia que ele tinha uma irmã 

— Somos meio irmãos, sabe. Temos mães diferentes.

— Vocês são muito parecidos, eu estou abismada.

— Todo mundo fala isso... Eu, na minha opinião, sou o mais bonito. — Rafael disse colocando as malas da irmã em cima do sofá e eu ri debochado.

— Com certeza não é? Ter amor próprio é tudo nessa vida, meu deus.

— Vai se foder. — Retrucou. Eu ri.

— Certamente, Rafa. Eu sou visivelmente mais bonita que você. — Ísis afirmou.

— Bem, acho que eu já vou embora. — Disse ao olhar para a janela e ver que estava começando a escurecer.

— Ah mas eu acabei de chegar de viagem!

— Minha mãe disse que quer que você fique pro jantar.

— Eu não posso hoje, tenho umas coisas para fazer lá em casa, mas eu posso jantar aqui amanhã.

— Posso te dar uma carona se você quiser. Aí da pra gente se conhecer melhor, o que acha?

— Ah, tudo bem. — Dei de ombros.

Havia me despedido de Ísis e de Rafael após me deixarem em casa, ficamos tagarelando sobre coisas desnecessariamente aleatórias que nem mesmo percebi que já estávamos na porta. 

Entrei apressada na casa, porém percebi que tinha chegado um pouco tarde. O tio mais irritante que eu já tive estava na mesa jantando com a minha família.

— Angi, que bom que você chegou, o jantar já está na mesa. — Minha mãe disse sorrindo. Eu caminhei até a cozinha para pegar um prato escutando aquele velho de cabeça quadrada reclamar o horário em que eu estava chegando. 

Retornei a mesa e me servi com uma porção de arroz, feijão, salada, bife e batatas cozidas. Após, sentei-me a mesa percebendo novamente meu tio me olhar com desgosto.

— Essa garota, Angeline, não tem muitos modos a mesa certo? — Meu pai, minha mãe, e meu irmão ambos ficaram calados. — Sabe, na minha família, as mulheres foram criadas de forma adequada, não saiam de casa a não ser com uma pessoa responsável e sem vestir de forma tão... Vulgar. Mas o que fazer não é mesmo? Hoje elas são tão deslocadas quanto os pais.

— Não estava em casa porque estava fazendo algo importante. 

— Angie estava fazendo um trabalho de escola com o amigo dela, tio Eric. — Meu irmão disse, na expectativa de fazer ele calar aquela maldita boca.

— Vocês estão insanos?! É óbvio que vestida desse jeito ela não estava fazendo trabalho algum. Está claro que andou raparigando pelas ruas. — Larguei o garfo na mesa, perdendo minha paciência. — Eu só estou dizendo, poderia dar um jeito nessa garota. Ela deve ter muitas más influências na vida dela, por isso é tão irresponsável, indisciplinada e rude. A escola influência muito nesse tipo de atitude, não me surpreende nada ver a vergonha que ela se tornou. Mas se vocês querem que eu pare de alerta-los o demônio que vocês estão criando em casa, eu paro.

— Quer saber, obrigada pelo seu discurso, preferido de Deus. — Eu bati na mesa nervosa, assustando-o. — Talvez eu seja a pior pessoa do mundo, já que no seu ponto de vista eu ando raparigando demais pelas ruas e me embebedando com bebidas e drogas alucinógenas, porém eu acho que na minha humilde opinião, se no céu tiver pessoas como o senhor, eu prefiro morrer carbonizada no fogo do inferno. — Bufei, os olhos do meu tio estavam saltados para fora de susto. — Graças a você, eu perdi minha fome, seu velho insuportável. — Manifestei e subi as escadas. Tudo estava em um silêncio perturbador e talvez levasse uma grande bronca mais tarde da minha mãe por eu ter feito aquilo, entretanto eu não o suporto e não aguento mais.

De fato, meu dia estava começando a ser estragado, mas eu me precavi disso acontecer e tomei um banho bem quente, colocando meu pijama e me trancando no quarto depois. Estava chateada, porém, não estava triste.

Escutei alguém na porta.

— Entra. — Murmurei com a cara no travesseiro. Avistei um cabelo loiro e logo eu soube quem era.

— Acho que ele mereceu aquila bronca. — Meu irmão brincou entrando no quarto.

— É, fui muito bem, não fui? — Perguntei, desanimada.

— Não fica assim por causa dele. — Matheus se sentou ao pé da cama. — Também acho que ele é um velho insuportável. — Eu ri de leve e me sentei ao seu lado. — Angi, você é uma garota tanto,  e é sim responsável quanto disciplinada, não escute o que ele diz, você é a pessoa mais madura que eu já conheci. — Meu irmão falou apalpando de leve as minhas costas. Eu sorri. — Tudo bem que é uma irmã bem insuportável as vezes... — Bati no seu braço e ele riu. — Mas não fica triste, eu amo você exatamente do jeito que você é, ok? Tanto eu quanto o pai e a mãe. — Matheus me abraçou e afagou minha cabeça. Meus olhos marejaram.

— Eu também amo muito você, Matt. — Retruquei, ficamos abraçados por uma porcentagem de tempo até escutar uma voz ecoar das escadas.

— MATHEUS! PARE DE FALAR COM ESSA ADOLESCENTE E VENHA LOGO PARA BAIXO! — Meu tio exclamou, revirei os olhos.

— Bem, eu vou descer, antes que o sr. Chato comece a encher o saco. — Matt me deu um beijo na testa e eu assenti com a cabeça.

— MATHEUS!  

— JÁ VOU! — Ele respondeu antes de abrir a porta e fazer uma careta de sofrimento e fechar a mesma. Eu sorri.

Me deitei na cama e depois de algumas horas eu estava tão distante e desatenta que acabei dormindo.

***

Acordei no meio da noite com batidas leves no quarto. Olhei ao celular e o relógio marcava três e meia da manhã, as batidas continuavam, era um som agudo, como se estivessem batendo em algum vidro. Sentei-me e escutei alguém chamar meu nome abafadamente, olhei para a janela e quase cai da cama de susto.

— Felps?! — Chamei a atenção, ele gesticulou e cumprimentou com a voz quase inaldível por estar do outro lado da janela. — O que você está fazendo? — Dei uma bronca nele sussurrando. Ele fez sinal para abrir a janela, eu o fiz.

— Eu sei... Eu sei, primeiro foi o muro e agora eu subi no telhado. Mas eu te enviei várias mensagens, te liguei e joguei pedra na sua janela mas você não acordou. Foi a única coisa que me restou fazer. — Ele murmurou devido a todos da casa já estarem dormindo.

— Você está perdendo sua cabeça? Você poderia ter caído, como você fez isso? 

— Eu estou treinando parkour. — Ele disse entrando para dentro do meu quarto com o apoio das mãos. O encarei sínica — Tá bom é mentira, Rafael que me ajudou a subir.

— O qu... Como...  Por que vocês estão aqui? 

— Vamos, a gente vai sair um pouco. — Ele puxou minha mão para a porta.

— Mas eu estou de pijamas. 

— Eu também Angi. Agora pega um casaco que lá fora ta frio e vamos sair de fininho pela porta porque eu só soube subir no telhado, descer não. — Afirmou. 

Só ele dizer que comecei a reparar que o mesmo realmente usava pijamas: um moletom preto que tinha o símbolo do batman no centro junto com uma calça xadrez azul de malha e um tênis. Peguei o primeiro casaco que eu vi no guarda-roupa, calcei minha pantufa e despachei para a porta, onde Felipe verificava se tinha alguém acordado. Disse para ele que eu iria na frente caso algo acontecesse. Passamos por todos os corredores e as escadas na ponta dos pés, mas ao desce-las eu percebi que alguém estava vendo a televisão em volume baixo.

— Droga. — Murmurei parando no final da escada.

— Quem é ele? — Felps perguntou, virei-me para ele, seu rosto assustado mudava para diferentes cores devido ao reflexo da TV que trocava de cenas.

— É o meu tio. — Falei entredentes desvencilhei-me para o sofá. — Se ele nos pegar eu e você estamos fritos.

— O que que a gente faz? — Ele perguntou. 

— Se abaixa e fica quieto aí, eu vou na cozinha pegar alguma coisa e verificar se ele está dormindo. — Avisei. Eu passei pela copa e olhei para trás olhando a cabeça careca do meu tio, ele roncava baixo e eu aliviei ao ver isso. Apertei o interfone para abrir o portão e passei atrás do sofá que ficava na frente da escada verificando mais uma vez. Fiz sinal de positivo para Felipe que levantou devagar indo para a porta da frente. Destranquei com as chaves que ja estavam na tranca e abri, finalmente. 

Lá fora a luz da lua iluminava a grama da minha casa, o sereno era úmido e com o silêncio era possível escutar os galos cantarem. Passamos correndo e na rua eu encontrei Lydia, Rafael e duas bicicletas. 

— Lydia? Até você? — Eu sorri. 

— Te disse pra ficar acordada hoje, não disse? 

Pela primeira vez eu via Lydia realmente sem maquiagem, seu rosto parecia mais natural e sereno, sardas leves cobriam uma parte das suas bochechas e nariz, seu cabelo estava liso e um pouco bagunçado, usava uma calça de poliéster preta com uma blusa branca escrito "It's Time to Change the Rules" em letras diversificadas.

— Temos que ir antes que amanheça. — Felps disse.

— Toma, segura essa mochila. — Rafael disse, seus cabelos estavam desmaranhados e trajava uma blusa de frio branca folgada. 

— Bonita a calça do homem aranha. — Zombei, ele olhou para mim da cabeça aos pés e logo depois disse.

— Bonita as suas pantufas de coelho. — Ele riu. Coloquei a mochila nas costas e tanto ele quanto Felps subiram na bicicleta. Lydia pisou no pedal de apoio da bicicleta do moreno e ele pedalou virando a última esquina. — Vamos? — Rafael estendeu a mão e indicou o pedal atrás da sua bicicleta.

— Eu nunca fiz isso antes.

— Vai ser divertido. — Ele deu de ombros.

— Não vai me deixar cair né? 

— Fala sério né Angie. — Eu ri e peguei na sua mão, ele colocou minha mão em seus ombros. — Eu nunca faria isso, também. — Rafael começou a pedalar e eu firmei minhas mãos em seu ombro.

A sensação de insegurança foi substituída por uma totalmente diferente, a brisa leve batendo no meu rosto e as luzes dos postes passando rapidamente me preencheu por um sentimento bom, como se ninguém pudesse me parar. Eu ri alto e logo Rafael havia alcançado Felps.

— Isso é tão legal! — Eu falei alto para todos ouvirem.

— Você quer gritar pra aliviar essa adrenalina? — Felps berrou ao passarmos por uma avenida totalmente deserta. 

— Isso não iria acordar alguém? — Retruquei.

— E daí? Quem liga pra eles? Grita logo. — Rafa disse e começou a berrar e os outros fizeram o mesmo. Eu fiz o mesmo, mas não era um grito de desespero, era de animação, de triunfo. 

— TODOS NÓS SOMOS INFINITOOS! — Berrei ao lembrar do livro "Às Vantagens de Ser Invisível" onde Charlie sempre dizia essa citação. Eu estava rindo, rindo muito alto ao sentir toda aquela euforia.

Após algumas avenidas e vielas, entramos dentro de uma cerca de arame farpado que estava aberta. Seguimos uma trilha de terra com pressa pois o céu já começava a clarear, minha pantufa ficou toda suja, mas achamos um outro caminho que era liso e feito por bloquetes minúsculos. Subimos e subimos até chegar ao fim. 

O céu já passara para o azul púrpura, mas ainda não tinha clareado suficientemente para ficar claro. 

— Onde estamos? — Perguntei, maravilhada observando as luzes da cidade que permaneciam ligadas. 

— Felps e eu vínhamos aqui direto antes de tornar um local fechado. A gente chama isso aqui de Monte das Galáxias, porque era um nome legal para se dar. — Rafael disse.

— Invadimos uma propriedade privada? Isso não é ilegal?

— Só se eles descobrirem. — O loiro riu.

— Minha mãe iria surtar se ela soubesse o que nos estamos fazendo! — Lydia empolgou-se dando leves pulinhos, Felps olhou estranho para ela e riu.

O "Monte das Galáxias" era um lugar um tanto quanto lindo. O topo era um enorme gramado limpo e era possível encontrar dentes-de-leão por todos os cantos, dava para ver toda a pequena cidade dali. Ao lado, mais para o meio das árvores havia uma choupana minúscula, tomada pelos musgos, tal casebre havia me chamado muito a atenção. Tinha uma árvore extremamente grande e larga quase ao fim do monte na direção leste, onde dava para ver perfeitamente o alvorecer, possuía folhas verdes, laranjas escuros e galhos grossos.

Lydia tirou um lençol da mochila e forrou embaixo da árvore, tirou também um cobertor tão grande que dava para todos nós. Eu me sentei e Rafael sentou ao meu lado enquanto Lydia chamava Felps avisando que o sol começaria logo a nascer, eles voltaram com um pacote de chips na mão.

— Hoje é quarta-feira, não deveríamos estar na escola agora? — Perguntei.

— E daí? Quem liga pra aula? A gente trouxe uniforme pra todo mundo pros nossos pais acharem que fomos a aula. 

— Angie, para de ser politicamente correta, não faz mal quebrar as regras as vezes. — Lydia riu. — Eu me sinto ótima sendo uma fora da lei.

— Vocês planejaram tudo direitinho. Pior que eu nem fiz ideia disso.

— Era a nossa intenção fazer uma surpresa. 

— Por que vocês decidiram fazer isso? — Perguntei para eles.

— A gente percebeu que quase nada de bom havia acontecido com você desde que você veio pra cá. — Lydia falou para mim, sentando-se. — Daí, depois do acontecido do baile, queríamos arranjar uma forma de fazer você esquecer tudo isso, aproveitar um dia só pra gente, por mais que seja passageiro. Nós queríamos te ver bem de novo.

— Quando você ficar rica lembra do que os seus amiguinhos fizeram e dê uma porcentagem do dinheiro pra gente. — O moreno disse. Revirei os olhos.

O sol começara a nascer, eu encostei a cabeça no ombro de Rafael contemplando todo aquele espetáculo. Estava frio e parecia que aquilo tornava o lugar mais aconchegante.

Todos começaram a conversar, felizes, portanto eu olhei para Rafael, as luzes que refletiam sobre o seu rosto tiravam toda a minha concentração.

Sim, eu percebi só agora. Mas finalmente estava preparada para admitir para mim mesma: eu tenho sentimentos por ele.

 

Não pensei que tudo aquilo aconteceria tão rápido.

— Sabe... — Comecei a falar, todos ficaram em silêncio. — Por toda a minha vida eu sempre tive esse medo... De não saber se estou vivendo direito, vendo todos a minha volta sabendo o que fazer e o que seguir e eu presa aqui, nessa bolha de monotonia. — Desabafei. — Nunca pensei que iria conseguir viver do jeito certo, mas desde que vocês se tornaram meus amigos tudo isso mudou. Acho que vocês me aliviaram de toda essa pressão que eu sempre sofri. E eu vou ser eternamente grata por isso. — Meus olhos marejaram de felicidade.

— Ah, Angeline sendo melosa com a gente! — Rafael falou passando o braço em volta do meu pescoço.

— Olha que fofinha gente. — Felps falou.

— Ela é um amor de pessoa, né?! — Lydia comentou.

— Vão se foder! — Eu exclamei rindo. 

Eu estava me sentindo bem, todos os meus problemas evaporaram e finalmente achara um nome que descrevia toda aquela sensação que estar ali me proporcionava: liberdade.

— Eu amo vocês. — Abracei Lydia, Rafa e Felps de surpresa. — Todos vocês.

 

...


Notas Finais


Beeeem amigos me esforcei pkrl pra trazer o capítulo mais rápido o possível pra vocês espero que tenham gostado
Deixem seus comentários e a música do capítulo de hoje é Mikki Ekko - Made Of Light
https://youtu.be/P6WPelGm2Vs

Até a próxima frieeends e todos leitores novos sejam bem vindos e espero que estejam gostando!!


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