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História Interrompida - Um


Escrita por: thecolorpurple

Capítulo 1 - Um


lEu nem sempre fui a jovem rebelde que todos conheciam. Já fui uma boa garota que obedecia as ordens dos pais, se comportava e nunca mentia. Mas me transformei e cansei de ser a menina tola que à todos agradavam. Não dava mais orgulho para meus pais encherem a boca ao citarem meu nome em conversas com amigos ou reuniões familiares.
Me chamo Sofia e a origem deste nome é grego. Significa "sabedoria". Ironicamente, sabedoria não fora algo que eu tinha
Confesso, não pensava duas vezes antes de cometer qualquer ato. Agia por impulso. Fazia o que queria e da maneira como bem me entendia. Queria viver intensamente. Não dizem que a juventude é a melhor fase da vida? Pois então, eu levei isto à sério e aproveitei ao máximo. Aproveitei de meu jeito. Não que tenha sido da maneira correto de se divertir, mas quem realmente está apto a opinar sobre o comportamento alheio? Além do mais, todos à minha volta estavam ocupados vivendo suas vidas enquanto eu tentava me divertir como podia.
Papai vivia atarefado no trabalho. Ele era um médico cirurgião renomado e pernoitava no hospital fazendo plantão. Mal tinha tempo para ver o rosto de sua esposa e de seus dois filhos. Às vezes, eu mesma me esquecia de como era o seu rosto ou o tom de sua voz, pois raramente o via e quando o fazia, ele mal olhava dentro de meus olhos. Me cumprimentava rapidamente enquanto mantinha a visão diante à tela do celular que estava em suas mãos. Então se despedia e partia em direção ao escritório que ficava no andar de cima de nossa imensa casa.
Já mamãe vivia cabisbaixa pelos cantos se lamentava pelo casamento fracassado que levava. Descontava a carência em uma garrafa de bebida e se escondia na biblioteca, mas bastava alguém chegar perto da porta que podia-se ouvir seu pranto. Nos dias em que não estava deprimida, ela se iludia indo ao shopping com as amigas fúteis e fofoqueiras enquanto comprava o que não precisava e gastava o dinheiro de papai. Se auto iludia tentando enganar a própria dor e vazio que sentia ao comprar coisas inúteis. A alegria e satisfação de comprar um vestido de marca caro e um par de brincos de pedras semi preciosas, logo se partia e a tristeza voltava à tona enquanto a acompanhava com um copo de whisky. Era um ciclo vicioso de um mundo ilusório que ela própria criara. Eu tinha pena dela. Mas o que eu poderia ter feito, afinal?
Também morava com meu irmão mais novo. Ele tinha 15 anos e vivia trancado no quarto entretido com seus joguinhos eletrônicos. Ele fazia praticamente tudo dentro daquele quarto: comia, dormia, brincava e sabe-se lá mais o que. Às vezes ele levava uns amigos do colégio para casa e todos eles comiam besteiras e ficavam enclausurados naquele santuário azul. Se eu fui duas vezes lá dentro foi muito, pois ele, praticamente, proibia todos de entrarem. Até mesmo a auxiliar de limpeza que trabalhava lá em casa. Ele subornava a pobre coitada para que ela mentisse caso perguntassem à ela se havia limpado o local onde meu irmão habitava. Papai nem desconfiava disto ou fingia não ver, mas também como enxergar além de seus próprios olhos quando se está cego pelo trabalho?
Certo dia eu reclamei de sua ausência em casa, ele por sua vez disse que se ele não trabalhasse não teríamos todo o conforto que tínhamos e talvez até passaríamos fome. Mas ele se esqueceu de que temos além do que a média da família brasileira tem e precisa. Meu pai deveria pensar que poderíamos comprar tudo com o dinheiro, porém se esqueceu de que o amor não tem preço. Talvez, se este sentimento estivesse em uma vitrine de uma loja cara, ele compraria e dividiria com a família que construiu. Enquanto isso não é possível, mamãe, meu irmão e eu nos contentávamos com o cartão de crédito sem limite que ele mesmo havia nos fornecido. Na língua do meu pai, isto deveria ser o mesmo que dizer "eu te amo". Mas ele mal sabia que todos nós trocaríamos tudo o que tínhamos para ter a presença dele em nossas vidas.
Infelizmente, isto não dependia só de mim. Ou fora isto que pensei antes de partir. Talvez a minha morte tenha o feito mudar de ideia e refletir sobre seu comportamento. Entretanto, eu jamais saberia, pois agora não me encontrava mais neste mundo.



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