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História Interrompida - Doze


Escrita por: thecolorpurple

Capítulo 12 - Doze


Fanfic / Fanfiction Interrompida - Doze

 Coloquei o cigarro entre meus lábios e peguei emprestado com Fred um isqueiro. O acendi e o traguei. Fechei meus olhos ao sentir a substância correr pelas minhas veias e a fumaça adentrar meus pulmões. Aquilo acalmou os meus nervos.
 - Como está lá na sua casa, Sofi? – Frederico me perguntou.
  Estávamos observando Samira e Paulo andarem de skate pela rua asfaltada.
- Nada bem. Minha mãe foi hospitalizada por causa da depressão e do alcoolismo.
  Não era de meu costume me abrir para qualquer um daquele jeito, mas eu me sentia aberta e livre para conversar com Fred.
- Sinto muito, amor. E como está seu irmão?
- Abalado, coitado. Ele é muito novo para aguentar tudo isso.
- Ainda bem que ele tem você.
 Fred me agarrou pela cintura e beijou minha testa. Coloquei uma das minhas mãos pelo pescoço dele enquanto a outra mão segurava o cigarro.
- E eu não saberia viver sem ele.
- Qualquer dia, poderíamos ir ao fliperama com ele. Precisa se divertir um pouco e esquecer os problemas.
 Beijei Fred no pescoço. Senti um perfume almiscarado e me arrepiei ao sentir a barba malfeita.
- E ainda bem que eu tenho você – apaguei a bituca de cigarro com a ponta do meu all star vermelho.
  Nos beijamos enquanto observávamos nossos amigos rirem e se divertiram descendo a ladeira da rua. O crepúsculo era nosso confidente.

***

  No final do dia resolvemos ir à uma sorveteria que ficava perto de minha casa.
  - Eu quero o sorvete de pistache. É o melhor daqui – declarou Samira.
- Está louca? O melhor é o blue ice. Deixa sua língua azul – brincou Paulo.
- Eu prefiro o de chocolate, um clássico. E você, Sofia? O que irá pedir?
 Eu estava dispersa pensando em minha mãe. Em como ela estaria naquele momento. Será que estavam cuidando dela direito? Mas com toda a certeza ela estaria em um lugar melhor. Acompanhada de profissionais que a ajudariam a superar tudo aquilo. Esperava poder tê-la sadia e sã novamente, como quando eu era criança. Almejei poder tê-la ao meu lado, me ouvindo e penteando meus cabelos enquanto eu a contava minhas histórias sobre o amor. Me questionei, naquele momento, se algum dia eu teria chance de contá-la sobre Fred. Mal eu sabia que não haveria chance de poder ao menos dizer que a amava. Pois eu já não estaria mais ali futuramente.
- Qualquer sabor.
- Este sabor nós não temos, mocinha – brincou o atendente que havia se aproximado de nós.
 Meus amigos  e Fred riram.
- Pode ser morango, por favor – sorri contra a minha vontade.
  Ele anotou os pedidos e nos deixou à mesa.
- O que houve, Sofia? Você está estranha – Paulo perguntou.
 - Nada não. Apenas dor de cabeça – eu tentei disfarçar.
 Paulo e Samira se entreolharam.
 Fred colocou uma mão sob meus ombros.
- Você sabe que pode se abrir para nós, okay? – Samira me mirou com aqueles olhos puxadinhos que me alegravam o coração.
- Obrigada, Sami. Sou  grata pela amizade de vocês, de verdade.
  Paulo colocou uma de suas mãos sob a mesa e segurou uma de minhas mãos. Samira fez o mesmo que ele.
- Conte conosco sempre, Sofia. Gostamos muito de você – ele declarou.
 Sorri e agradeci pelo carinho. Eu também os amava, porém, não pude compartilhar daquela amizade por muito tempo. Momentos como aquele que fazem a vida valer a pena. Estar com quem se ama e compartilhar as pequenas coisas da vida é ter a felicidade plena. Soube naquele momento, que apesar de todos os problemas, eu ainda tinha amigos que estariam me apoiando sempre que eu precisasse. Guardei aquele dia agradável regado de sorvete no meu coração. Fiz daquela memória algo inesquecível.
- Prontinho – declarou o atendente da sorveteria.
- Obrigada! – Samira e eu agradecemos ao mesmo tempo.
- Valeu, cara – disse Paulo.
 Fred também agradeceu e pagou nossos sorvetes.
   Nos deliciamos naquele dia quente enquanto anoitecia. Por um momento, me esqueci de todos os problemas. Só por aquele momento.

***

   SEIS MESES DEPOIS

     Os meses se passaram.O tratamento de minha mãe estava progredindo. Ela já não ingeria mais álcool e tinha uma alimentação balanceada. Fora internada no hospital em que o amigo de meu pai trabalhava. Depois de um mês no hospital, a levaram à um ‘’SPA’’. Na verdade era um centro de reabilitação para alcoólatras. Não pude visitar mamãe no hospital. Meu pai dissera que o melhor era não ter visitas. Achei realmente estranho, mas não o questionei. Meu cansaço físico e mental me consumia por completo. Havia olheiras profundas em meu rosto pálido e sardento. Noites mal dormidas, cheias de pensamentos mórbidos e sombrios me deixavam cansava. A única coisa que me acalmava era estar perto de Fred. Fumar também me acalmava os nervos momentaneamente. Era uma forma de me desconectar da realidade. André estava amadurecendo mais cedo do que o normal. Preparava a própria comida, passava a própria roupa e arrumava o quarto. Não reconhecia mais a imagem do menino introspectivo que vivia trancado no quarto jogando vídeo game. Ele era mais adulto que eu. Ele era a única pessoa responsável naquela casa. Já eu, me alimentava mal. Comia muita besteira e porcaria na rua. Meu organismo às vezes respondia aos maus tratos enquanto colocava tudo para fora. Meu quarto era uma zona, mas isso não era um problema para mim. Quase nunca ficava em casa. Sempre saía com meus amigos Samira e Paulo, juntamente com Frederico, assim que acaba minhas aulas diárias. O colégio era um saco. Contava os dias para me livrar daquele lugar. Não aguentava mais assistir às aulas de professores chatos. O burburinho sobre vestibular dos alunos me tirava o sério. Os únicos que eu suportava eram Lola e Erick. Eles eram grandes amigos e viviam juntos. A presença deles no intervalo, me deixava menos irritada por estar no colégio.
  Era Setembro, o mês do meu aniversário. Logo faria dezoito anos. Erick, Lola e eu estávamos sentados no refeitório do colégio bebendo refrigerante e comendo biscoito enquanto conversávamos sobre o meu aniversário.
- Os tão desejados dezoito anos, hein Sofi! Vai fazer festa? – Lola me perguntou.
- Não sei... – dei de ombros.
- O quê? A mais baladeira desse colégio não vai comemorar o próprio aniversário? – Erick me questionou.
- Não estou com ânimo para isso – disse secamente enquanto enchia minha mão com um punhado de biscoitos Fandangos.
- Ânimo, garota. Só fazemos dezoito anos uma vez na vida! – Lola levantou um dos meus braços e fez com que todo o salgadinho caísse no chão.
  Rimos da situação e da sujeira feita.
- Boa, Lola. Eu nem estava com fome... – ironizei.
- Ruiva, coloque um sorriso nessa carinha e nos prometa que fará uma festa em comemoração.
  Fiquei pensativa com a frase de Erick.
- Vou pensar no caso...
- Pensa com carinho – a menina dos cabelos cor de púrpura havia me dito.
 O sinal tocou e nos recolhemos para mais uma aula.
Na aula de matemática, entre uma fórmula e outra, fiquei pensando na possibilidade de dar uma festa. Até que seria uma boa apresentar Samira, Paulo e Fred aos meus colegas do colégio. E por mais que eu não estivesse mais suportando aquele lugar, era inegável que eu ainda era considerada popular pela grande parte dos estudantes. Então cogitei na possibilidade de comemorar meus dezoito anos por mais que não estivesse feliz para isso. De qualquer maneira, encher a cara seria um escape para toda a dor que eu estava sentindo.

***

  Chegando em casa, esperei meu pai chegar do trabalho para lhe contar sobre a minha festa. O pediria dinheiro, que seria algo que ele não pensaria em negar para me dar.
  As horas passaram e depois de comer uma macarronada feita pelo André, que por sinal estava uma delícia, fui de encontro ao meu pai.
- Boa noite, filhos – ele nos cumprimentou enquanto mexia no celular.
- Oi, pai. Estava querendo justamente, falar com você.
 Ele desviou o olhar da tela e arqueou uma das sobrancelhas.
- Sobre o quê?
- Queria dar uma festa de aniversário. Como sabe, farei dezoito anos e queria comemorar com meus amigos.
 - Nossa, verdade! Havia me esquecido...
  André revirou os olhos e balançou a cabeça pelo o que meu pai havia dito.
- Bom, minha querida. Use meu cartão de crédito. Dinheiro não é o problema.
‘’Dinheiro não é o problema.’’ Era a frase preferida do doutor Alberto.
- Eba! – comemorei -  Se quiser, pode chamar seus amigos, pai. André vai me ajudar a fazer a lista de convidados.
- Eu vou? – André disse rindo.
- Acontece, meus filhos. Que terei que viajar. Uma palestra sobre o mosquito da dengue em outro estado. Diversos médicos renomados irão falar sobre a zika e eu preciso estar lá. Sinto muito. Mas sei que vocês dois farão uma bela festa.
  Abri minha boca incrédula no que estava ouvindo.
- Como assim? O senhor não vai estar no meu aniversário?
- Infelizmente, não poderei.
 Eu balancei a cabeça e mal tive tempo de dizer contestá-la, pois ele logo foi em direção aos escritório.
 - Não esquenta, Sofi. Você tem a mim, se esqueceu?
 André tentou me acalmar.
- Mas você não é meu pai, André. Você está agindo como um chefe de família que é algo que não é.
- Eu só quero ajudar, Sofia. Ao contrário de você que foge dos problemas.
- O quê? Eu fujo dos problemas? Se não fosse por mim, mamãe ainda estaria trancafiada naquele quarto escuro segurando uma porcaria de uma garrafa de whisky! – eu gritei em prantos.
- É o mínimo que você poderia fazer sendo irmã mais velha.
 Meu irmão disparou aquelas palavras e me deixou sozinha em prantos.
 Me senti abandonada pela minha própria família. Me senti perdida naquela casa imensa. Uma casa mobiliada com os melhores móveis, tapetes caros e louças importadas. Porém não havia o essencial. A casa não era preenchida com uma família de verdade. Havia a ausência de uma mãe com problemas de alcoolismo, um pai viciado em trabalho e um irmão que estava cuidando de si no lugar dos próprios pais. Havia também uma menina com cabelos ruivos e com coração vazio.
  Sequei minhas lágrimas e me tranquei em meu quarto. Dormi com mil ideais na cabeça sobre a festa que iria fazer. Que se danem minha família. Não precisava deles para me divertir.



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