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História Interrompida - Dois


Escrita por: thecolorpurple

Capítulo 2 - Dois


 

 

 

A escova de cerdas grossas e macias deslizava pelo meu cabelo vermelho alaranjado como o fogo.

Eu amava a cor do meu cabelo pois combinava muito com a minha personalidade. Dizem que ser ruiva é algo especial, não só pela mitologia nórdica da Irlanda como também biologicamente falando. Ser ruivo é uma mutação genética oriundo de um gene recessivo. Isso era mais um item para me achar especial. Não tinha quem não me olhasse na rua. Até mesmo em horas raras em que eu não queria chamar atenção as pessoas me olhavam. E sinceramente? Eu amava aquilo.
Estava me arrumando em frente ao espelho de minha penteadeira, quando ouvi vozes gritando em outro cômodo. Eram meus pais.

- Elizabeth, eu já lhe disse que não tenho outra mulher! Você se deixa levar pelas fofocas de suas amiguinhas.
Eu pude os ouvir claramente brigando.

- Alberto, você realmente acha que eu sou idiota? Você realmente acredita que eu creio em suas palavras? Que hospital é esse que tem plantão quase todas as noites? É claro que você está me traindo, seu canalha!
Eu nunca vira meu pais brigarem daquele jeito antes. Muito menos mamãe esbravejar daquela maneira. Meu coração acelerou e ficou apertado. Será que papai realmente trairá minha mãe? Ele seria tão baixo a esse ponto? Eu não queria acreditar naquilo. Não podia crer que o super herói de minha infância se tornara o grande vilão da história e estava destruindo o próprio lar que havia construído. Não poderia acreditar naquilo.

- Eu sou um canalha? - meu pai riu demonicamente - Do jeito que está bebendo, o efeito do álcool deve estar afetando a sua mente, sua louca!

- Não me chame de louca!
- Ao invés de falar besteira, porque não vai fazer a única coisa que sabe; que é gastar o meu dinheiro?
Meu pai, Alberto, deu um golpe baixo com suas palavras.

- Eu te odeio, seu cachorro!
Um barulho de vidro se estilhaçando na parede pôde ser ouvido. Mamãe havia jogado o copo de bebida em direção ao meu pai, mas errou a mira quando desviou e o copo colidiu contra a parede. Foi neste momento que eu saí do meu quarto e fiquei espreitando na porta.

- Você ficou louca de vez?

Alberto se aproximou de minha mãe e a pegou pelo cotovelo, enquanto lançava um olhar enfurecido à ela.
- O que vai fazer? Vai me bater? Além de traidor é um covarde?
Elizabeth cuspiu no rosto do marido para que ele a soltasse. Meu coração acelerou quando meus olhos viram a mão dele ser levantada. Ele iria bater na própria esposa caso alguém não impedisse. Meus pés pareciam que estavam colados ao chão. Não conseguia me mover. Foi então que meu irmão André se intrometeu e puxou mamãe para longe daquele monstro que eu chamava de pai.

- Não se atreva a encostar um dedo nela, pai! - meu irmão mais novo esbravejou.

O peito de papai arfava e um brilho de suor reluzia em suas testa. A ira contida permanecia presa em seus olhos. Sabe-se lá Deus o que aconteceria se André não o interrompesse.

- Eu não iria bater em sua mãe, filho. Você sabe que sou incapaz de fazer tal coisa...
Para a surpresa de todos, a vítima da situação se comportou como se nada daquilo tivesse acontecido.

- É verdade, meu filho. Vá se deitar pois está tarde. Isto que acabou de acontecer não foi nada de mais. Seu pai e eu estávamos apenas tendo uma briga boba.
- Mas mãe, ele iria te bater! - André arregalou os olhos em incredulidade.

- Eu jamais faria isto, filho!

- Ouviu seu pai, querido? Agora vá dormir antes que sua irmã acorde e fique preocupada como você.

- Mas, mamãe...
- André! - Alberto chamou a atenção para que o filho o obedecesse.

- Não foi nada, meu anjo. Vá dormir.

Diante desta cena inacreditável, juntei forças e marchei para perto deles. Antes, peguei minha bolsa e meu celular e bati a porta do meu quarto atrás de mim, fazendo com que todos me olhassem.

- Sofia? Você estava acordada? - André perguntou.
- Onde você vai, querida? - Elizabeth questionou.

- Vou deixar esse hospício que vocês chamam de casa.

- Onde você pensa que vai? - Alberto me pegou pelo cotovelo tentando me impedir.
Eu ri sarcasticamente da ação dele e me soltei de sua mão.
- Não basta tentar agredir a própria esposa, agora irá agredir a filha também?

Seus olhos se arregalaram pela minha franqueza.
- Não diga tolices! Não agredi e nem agredirei ninguém - ele umedeceu os lábios - Agora me diga aonde você pensa que vai?

- Desde quando você se importa com isso? Desde quando você se importa com a sua família?
Senti os olhares arregalados me mirarem e suas bocas estavam abertas. Eu nunca os havia enfrentado daquela maneira.

- Não se deve falar assim comigo. Eu sou seu pai!
- Agora você se lembra que é pai? Não é um pouco tarde para isso?

Desci as escadas e antes de ir em direção à porta eu gritei com ele.

- Volte para o seu trabalho, afinal é a única coisa que realmente lhe importa!

Os deixei em seguida e fui em direção à rua.

Meu coração batia acelerado e meu peito arfava em desespero.

Eu era muito jovem para sofrer aquilo. Eu só queria ter uma família unida como tivera em minha infância. Isto era pedir muito? Eu só queria ser feliz.

Dei sinal para um táxi e o pedi para que me levasse até a entrada da boate. Quando chegamos eu o paguei e me dirigi ao final da fila de jovens que estavam esperando o local abrir. Foi neste momento que meu celular tocou. Era Lola, uma colega do colégio.

- Sofia, estou chegando na boate. Me espera na entrada - ela avisou pelo celular.

- Mudou de ideia? E a chatice da visita à galeria? - eu a perguntei.
 

Lola e eu não éramos da mesma turma, mas ela havia me contado que não poderia aceitar o meu convite para ir à boate comigo pois iria à um passeio que sua professora de português havia proposto. Estranhei a mudança dela, mas fiquei feliz ao saber que teria uma companhia naquela noite. Ainda mais depois daquilo que havia me ocorrido.

- Mudança de planos. Às vezes as coisas não saem do jeito que esperamos. Estou chegando.
- Ok. Estou aqui na entrada - eu respondi.

Então eu a esperei na entrada da boate que se chamava ''Purgatório''. Mais uma vez a ironia de um nome debochava de minha face. Mal sabia eu que o ''Purgatório'' seria a minha entrada ao inferno.  



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