História Interrompida - Quatro

 Fomos de encontro ao prédio e ultrapassamos uma barreira onde havia uma placa desgastada que impedia a entrada ao local, mas parecia que Frederico, assim como eu, não costumava seguir regras. Segurando uma de suas mãos, ele me guiou com a luz do isqueiro escada à cima. Tive quase certeza que um animal cruzou nosso caminho em direção oposta, possivelmente um rato. Eu não me alarmei pois a adrenalina em meu corpo me impedia e me anestesiava. Após subirmos as escadas, chegamos em nosso destino. Meus olhos percorreram o local e me sentei em um bloco de cimento.
 - Bem-vinda ao meu refúgio!
 - Seu refúgio é uma cobertura de um prédio antigo?
 Um sorriso surgiu no canto de sua boca.
- Aqui eu me sinto seguro. Me sinto um rei em seu castelo.
 Ele abriu os braços e virou para a beirada da cobertura.
 - Queria ter um lugar como o seu - eu disse, enquanto desviava os olhos dele e mexia minhas mãos sob o colo - para poder fugir de tudo o que me assombra...
 - Pois então sinta-se convidada à vir aqui quando quiser. Eu divido com você. Apenas com você, Sofia.
  A maneira como ele pronunciara meu nome me fizera sentir borboletas no estômago.
- Mas antes, você deve fazer o ritual de iniciação.
  Arregalei os olhos ao ouvir aquilo e minhas borboletas caíram ao chão quando se debateram na parede de meu estômago.
- Ritual? - perguntei alarmada - Isto é um tipo de seita?
 Ele percebeu meu desespero e gargalhou enquanto levava a cabeça para trás.
 - Não é esse tipo de coisa...
 Suspirei aliviada.
- Então, qual é o tipo de rito?
 Antes de me responder, ele levou a mão ao bolso interno da jaqueta de couro que usava e logo percebi o cigarro entre seus dedos. Se aproximou de mim e meu coração bateu mais rápido quando senti o calor de seus dedos irem de encontro a minha orelha quando colocou uma mecha ruiva atrás.
 - Um trago e estará dentro do clube.
 Peguei o cigarro branco de suas mãos e coloquei entre meus lábios pintados de carmim. O polegar dele ascendeu o isqueiro e eu aparei o cigarro entre meus dedos. Fechei os olhos e suguei a fumaça tóxica para dentro de meus pulmões e os senti arderem. Tossi na primeira tragada e o ouvi gargalhar.
- Tudo bem, já está aceita em meu palácio, princesa.
 Fred tirou o cigarro de meus dedos e o levou à própria boca. O ver fumar fazia com que ele ficasse mais sexy. Quando expeliu a fumaça, eu o tomei o cigarro e dei uma segunda tragada.
 Senti a nicotina entrar em meu sangue e percorrer minhas veias. Desta vez não tossi e traguei do mesmo modo que o vi fazendo. Com os olhos fechados, me senti livre de todos os problemas. Naquele instante, para mim, apenas existia Fred e eu no mundo inteiro. Juntos sem seu castelo. Me senti especial por fazer parte de algo particular de uma pessoa que havia recém conhecido. Naquele momento eu me senti querida. Me senti amada como nunca antes.
- Primeira vez que fumou? - ele me questionou e sentou ao meu lado.
- Sim - fui franca.
- Não precisa fumar de novo se não quiser, okay?
  Ao invés de respondê-lo com palavras, eu o beijei. O beijo foi lento e com gosto de tabaco, hortelã e álcool.
- Você é a única pessoa que eu trouxe aqui.

- Me sinto especial por isso...
 Entrelaçamos nossos dedos e mãos.
- Você é especial. Percebi isto assim que lhe vi.
 Encostei minha cabeça em seu ombro, sob a jaqueta de couro falsa. Aquele lugar era o refúgio dele, mas ele mal sabia que havia acabado de se tornar o meu.