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História Intimamente Emma - Verdade inconsciente


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, amigas e amigos leitores.

Antes de começar, meu agradecimento por todos os comentários e quero dizer que o que todo mundo quer ver acontecendo aqui está sendo preparado com muito cuidado. Eu espero que o capítulo de hoje reacenda o animo de vocês.

Façam uma boa leitura.

Capítulo 12 - Verdade inconsciente



Emma não dormiu naquela noite e ficou se perguntando por uma boa parte do tempo se não havia sido dura demais com Regina quando conversaram à tarde. Mas uma parte dela sabia que que tinha feito o certo em questionar sobre as personagens dos livros que a mulher escrevia. Então, se Regina estava mesmo escrevendo inconscientemente sobre si própria, Emma já sabia muito mais do que podia imaginar da escritora.

Desde que chegara em casa, gastou o tempo lendo, procurando uma forma de convencer Regina a perder o medo, aquela solidão no fundo do olhar escuro cada vez mais intenso como a maquiagem pesada que vinha usando. Mas, antes disso, Emma veio avaliando seu comportamento desde que encontrou o pedaço de papel no quarto do hotel, um pedaço cheio de palavras que diziam sobre ela. Foi ali que Emma começou a se apaixonar pela mulher misteriosa e estava entendendo o que significava estar perto dela. Todas as vezes em que esteve com Regina foram únicas; Na porta da mansão; quando a viu na loja do sr. Gold; na calçada naquele mesmo dia; no mercado; no mirante; no aniversário. Todas as vezes conspirando para um sentimento tão natural que Emma não poderia evita-lo. Ela estava entendendo ainda conflitante com a realidade, porém teimosa em crer que podia mudar as coisas. Emma achava que Regina estava pedindo socorro nas metáforas dos livros, querendo ser resgatada e levada a um mundo onde pudesse ser livre como suas personagens.

A moça desceu assim que clareou, fez o que mais gostava de beber, um chocolate quente como o que sua avó tinha ensinado. Se debruçou na janela da sala, vendo a chuva fina cair sobre as plantas no jardim e bebeu o doce tentando se distrair, mas tudo o que conseguia pensar era no final da tarde. Regina pediu para se encontrarem de novo no bistrô da rua principal, e depois disso Emma contou quantas horas faltavam para ir ver a escritora novamente. Nesse momento ela sabia que restavam dez horas para o encontro.

. . .

Perto dali, Regina tinha ido dormir cedo, logo após o jantar da noite passada. Ela não ouviu quando Daniel a chamou para dar os remédios que ele precisava tomar para ter uma boa noite de sono. Acordou antes dele e desceu, fez ela mesma o café da manhã do marido e quando Belle chegou, pediu para ela levar até o andar de cima. Então quando ele terminou, ela fez questão de ajuda-lo a tomar banho, ainda que essa fosse uma das coisas que ele conseguia fazer sozinho, e pela primeira vez Regina o deixou envergonhado em um momento tão íntimo, enquanto o observava e esfregava as costas dele na banheira, sem dizer nada, sem comentar sobre quantos quilos ele havia perdido nos últimos dez dias. Daniel pôde sentir o peso do olhar da esposa sobre seus ombros. Aquela não era a mesma Regina. Ela o secou sob seus protestos, então deu uma roupa para ele vestir, pois hoje ela o levaria ao consultório do dr. Whale para saberem de seus progressos.

A saúde de Daniel estava declinando ao invés do contrário. Ele se via quase sem saída quando o doutor olhou seus exames e não fez uma cara boa. Mas Whale não era do tipo que desistia de um paciente tão rápido, ele queria que Daniel tivesse outros afazeres além da pintura. Regina ia precisar contratar aquele cuidador que pediu à Belle e de quebra ia precisar pagar uma nova fisioterapia para Daniel.

Ela o levou para casa, tentando animá-lo, dizendo coisas para ele acreditar na recuperação. Esse era o jogo, fazer o marido acreditar que estaria vivo quando na verdade estava morrendo mais rápido. Regina não estava desejando que ele sofresse com as dores e o cansaço, era também uma forma dela não se condenar se aquilo acontecesse logo, ele não sofreria tanto.

— Vamos, querido, você não pode achar que tudo está perdido. Esse doutor sabe o que faz, ele está criando novas chances de você ter uma recuperação breve. — ela segurava o volante, olhava reto para a rua por baixo dos óculos escuros.

— Você acredita que é necessário eu voltar a fazer a fisioterapia? — ele perguntou, sentado ao lado dela no banco do carona.

— É óbvio. Se você começar a recuperar os movimentos, daqui a alguns meses, quem sabe, não pode voltar a fazer coisas como caminhar sem ajuda, se exercitar, dirigir... — Regina gesticulou, hipócrita.

— Eu acho que então isso é o certo a fazer. Tenho que voltar a confiar em mim mesmo.

— Com certeza é o certo a se fazer, Dani. Onde está aquele homem otimista que veio comigo para esta cidade? Vamos providenciar a fisioterapia e a pessoa que vai te ajudar a se locomover melhor. Nada de cadeira de rodas daqui para frente, hum? — Regina continuava dirigindo, e de repente com o que falou para Daniel ela pensou no risco que corria se a recuperação do marido viesse ao contrário do que ela achava. Ela corria aquele risco, devia admitir, então era hora de pensar numa alternativa, um plano B.

. . .

Regina deixou Daniel no atelier enquanto foi se encontrar com Emma como havia prometido. Ela não estava certa sobre ter dito que se encontraria com a jovem todos os dias no bistrô, foi uma atitude impulsiva que passou por sua cabeça, mas não se sentia nem um pouco arrependida de ter tido essa ideia. Talvez precisasse de verdade se encontrar com Emma todos os dias, isso facilmente poderia fugir de seu controle, não era difícil querer estar com Emma.

Dirigia até o centro compreendendo que pela primeira vez em muitos anos estava fazendo uma coisa por vontade própria. Ela levava consigo um pergaminho amarrado a uma fita vermelha. Capítulos a mais na coleção do que a moça tinha do conto inacabado que estava escrevendo, e Emma já conhecia metade daquela história a julgar sua favorita sem nem mesmo ter lido as outras obras de Regina Mills.

Quando chegou no bistrô notou que Emma estava atrasada e achou estranho. Se sentou na mesa ao fundo, a mesma que escolheram no dia anterior e esperou. Pediu que lhe servissem algo diferente de café, pediu algo forte, mas quando o whisky chegou ela não tinha mais vontade de bebê-lo, achando que se Emma chegasse e visse o copo na mesa, acabariam bebendo juntas. Regina olhou o relógio. Nada de Emma. Mandou um garçom recolher a bebida antes que o suor frio começasse a escorrer do copo e da testa dela, o medo da moça perceber sua fragilidade. Emma diria no mínimo que ela estava se tornando uma alcóolatra, isso porque nem lhe contou que andava fumando.

Regina ia tamborilando os dedos sobre a mesa do bistrô, sentindo calafrios típicos de ansiedade, se perguntando se Emma estava na mesma situação, o que devia ser verdade, baseando-se no comportamento da moça toda vez que estavam juntas e se viam. E foi nesse momento que o sino da entrada fez barulho, Regina ergueu os olhos nervosos. Emma tinha chegado, esbaforida, corada. A garota correu até a mesa delas e ao se aproximar ofegava com medo de que Regina a rejeitasse pela demora.

— Me desculpa! Eu juro que tentei sair na hora certa, mas o Archie me cobrou a arrumação no escritório dele, se eu não fizesse isso, ele não ia me pagar. — Emma segurava uma mão no peito, mas se calou.

Regina se manteve sentada e olhou séria para ela. Ficou tantos segundos quieta que fez Emma pensar em dar meia volta com os pés e correr dali.

— Se você não viesse, eu jamais te perdoaria. — disse finalmente. Em seguida, abriu um sorriso que nunca na vida deu para outra pessoa.

Emma deu um grande suspiro de alívio e devolveu o sorriso à Regina, sentindo uma necessidade enorme em abraça-la, talvez faria isso se ela estivesse de pé.

Gentilmente, a escritora estendeu sua mão para mostrar o lugar a frente para Emma se sentar. Quando a moça recuperou o fôlego, elas puderam começar a conversa o que tanto queriam. Emma foi lhe contando sobre o dia, as coisas que fez no hotel e como se sentia indignada com Archie, mas que sabia que sua raiva era momentânea, pois ele de vez em quando era autoritário e na maior parte das vezes um grande bobão. Foi com essas palavras que Emma arrancou outro sorriso de Regina.

A beleza da escritora aos olhos de Emma era inacreditável. A cada gesto da sra. Mills seu coração voltava a palpitar numa velocidade exagerada, ela sentia que a vida se acabava e a única coisa que poderia salvá-la eram os braços daquela mulher. Com a mais absoluta certeza estava apaixonada por Regina. Ela lhe dirigiu um olhar compreensivo de quem via graça em cada momento do desastre que era sua vida sendo narrado. Emma olhou para a mão da mulher, descansada em cima da mesa. O que aconteceria se tocasse nela e apertasse? Não podia fazer isso ainda, tinha certeza de que Regina não teria reação. Era preciso lapidar o momento certo de mostrar como se sentia, mas ela temia que fosse sofrer demais até conseguir.

— Tenho algo para você...

Regina colocou o pergaminho sobre a mesa. Emma o fitou, depois voltou a olhar Regina. A moça abriu os lábios vagarosamente surpresa.

— É o que eu estou pensando? — perguntou.

— Se for o que eu acho que está pensando, sim, é. — respondeu Regina, empurrando o presente na direção dela.

A jovem pegou as folhas e desfez o laço, desenrolando-as para ver escrito no cabeçalho: Capítulo 10, Corações desesperados. Título que ela entendia perfeitamente. Tinha lido o capítulo 9 e ele era muito extenso, se lembrava da protagonista Suzana e a briga que ela teve com Catherine nesse capítulo, uma separação aconteceu. Emma estava ansiosa para saber o desenrolar de tudo, então leu o primeiro parágrafo rapidamente, intercalando sua atenção com Regina a espiando. Ela parou de ler e enrolou as folhas para não gritar com o que tinha descoberto.

— Você demorou para escrever esse, espero que seja tão bom quanto o último, mas que não me deixe curiosa no final.

— Vai ser no mínimo difícil. — Regina disse.

— Bom, não vamos estragar esse encontro falando sobre isso, quero saber de você, como foi seu dia?

Regina puxou fundo o ar do bistrô.

— Cansativo. — Ao falar, viu o garçom que a atendera antes e fez o pedido por Emma. — Traga um café com canela para a moça, por gentileza. — Ela o viu assentir e sair, então pôde voltar a conversar. — Cuidar do Daniel nas atuais circunstancias tem sido torturante.

— Você diz nas atuais circunstancias, isso quer dizer, depois do que você descobriu sobre ele, não é?

— Posso dizer que sim. Eu não devia estar me sentindo mal, ele está pagando pelo o que andou fazendo comigo talvez, mas é inevitável. Toda vez que o ajudo a andar, empurro a cadeira de rodas e o levo para o médico, tenho a impressão de estar me vingando. — Regina soou magoada. Olhava para os próprios dedos.

— Espera aí. Você não está me dizendo que se sente culpada pela doença dele, ou é exatamente isso? — Emma pareceu indignada.

— Não culpada pela doença dele, mas culpada pelo o que estou fazendo agora, descontando minha raiva na fragilidade do Daniel. Mais cedo ou mais tarde, ele vai perceber que estou lançando indiretas e consequentemente descobrir que eu já sei o que ele me fez.

— Se você tem receio de como ele vai reagir ao entender que você sabe, é melhor fingir que não sabe. Dá para entender que deseja acabar com o casamento porque está magoada, então você escolhe. Adie a conversa ou coloque as cartas na mesa de uma vez por todas. — Emma mirava Regina nos olhos tão séria que a escritora por um momento se sentiu intimidada.

O café de Emma chegou e ela o bebeu devagar, esperando algum argumento da escritora.

— Eu ainda não tenho coragem para pôr as cartas na mesa. — A escritora replicou junto de um suspiro.

— Você está presa a esse homem como se fosse dependente dele. Eu acho que posso entender. Existem muitas pessoas casadas apenas por conveniência nesse mundo. Você nunca soube como é a vida fora do casamento, mal saiu da adolescência e se casou. O seu problema é medo de viver sozinha.

Para alguém muito jovem como Emma, ela tinha mais sabedoria do que muita mulher madura, pelo visto bem mais que a própria mãe dela. Regina se encontrava em um estado total de choque, pois nunca alguém teve coragem de dizer verdades atrás de verdades para ela. Ninguém nunca nada para ela, essa era a mais absoluta verdade. Podia enxergar sua vida de outra maneira agora.

— Eu tenho muitos medos.

— Não devia. É uma mulher muito inteligente para ser tão receosa, Regina. — Emma disse, vendo a mesma mão de Regina ainda repousada sobre a mesa. Não pensou nesse instante e tocou seus dedos sobre os da mulher.

Isso pegou Regina desprevenida.

Trocaram um olhar de carinho apesar de tudo, como se Emma estivesse ali só para ela e estivesse lhe dando suas últimas esperanças ou fé na vida que tinha.

Enquanto isso Emma foi ganhando confiança pela reação da escritora, ela realmente não esperava que Regina fosse reagir bem. Por um segundo, antes que a mulher mudasse de ideia, Emma apertou os dedos dela nos seus e em seguida aconteceu algo ainda mais agradável. Regina olhou para as mãos juntas das duas e virou a sua por baixo, entrelaçando os dedos. Não dava para negar que foi bom, o tipo de sentimento que andava fazendo falta. Em outro momento, ela se culparia por estar permitindo um contato tão íntimo com a jovem, agora não era bem assim.

Quando o coração se apertou e sentiu a falta de ar, ela mudou.

— É, eu não devia. — disse ela, afastando os dedos dos dela e puxando a mão rapidamente. Por conta disso, ela viu Emma murchar.

— Acho que eu sei o que acontece agora. — o olhar da garota de repente ficou distante.

— O quê?

— Você pede desculpas e vai embora. — disse Emma decepcionada.

— Eu não gostaria de ir embora agora. — disse a mulher, mudando de uma expressão medrosa para uma expressão vazia.

— Tudo bem. — Emma se ajeitou no lugar. — Talvez seja eu quem deva pedir desculpas. Acho que estou vendo coisa demais entre nós.

Regina ergueu os olhos.

— Como o quê?

— Isso que existe entre a gente, amizade, compreensão, semelhança, seja lá o que for.

Regina se lembrou vagamente de quando imaginou um beijo entre elas há algumas semanas em seu carro. Lembrou-se da sensação de culpa que sentiu depois. Então se recordou da proximidade delas na sala da casa naquela outra noite quando esteve bêbada. Não queria que aquela sensação voltasse a ocorrer, nada vantajoso para ela, nem para a moça por enquanto. Podia ser a imaginação que tinha quando estava perto de Emma agindo de novo, e começava a ver coisas onde não existiam, porém, a fala da jovem não parecia tão distante do beijo imaginário. Era a mesma sensação de coração acelerado, mãos geladas, apreensão. Seja lá o que tinham, Emma estava sendo muito gentil classificando apenas como amizade. Mas tanto os beijos que não aconteceram quanto o aperto de mão de hoje foram momentos únicos, não podia negar e apesar de tudo, ela não podia demonstrar isso para Emma.

A mulher decidiu mudar de assunto.

— Eu estive pensando no que me disse ontem. Sei que quer ler todos os meus livros, então eu tomei uma providência. Quando você chegar em casa hoje terá uma surpresa.

— Que tipo de surpresa? Você conseguiu reunir todos os seus livros para mim? — Emma voltou a fita-la e desconfiou.

— Se eu contar, não será uma surpresa. — disse Regina.

Elas voltaram a falar sobre qualquer coisa. Ficaram mais uma hora discutindo sobre as pessoas de Mary Way Village, e a mulher contou para a jovem como em toda sua vida se sentiu sozinha mesmo sendo alguém tão influente. O mal dos escritores romancistas, a solidão necessária para criar histórias semelhantes demais para o público adulto. Mesmo muito nova, Emma compreendia e disse que devia ter uma alma idosa, pois compartilhava da mesma solidão.

Regina levou Emma para casa antes de escurecer e a deixou no portão, parando o carro rente a calçada.

Olhou para ela ao seu lado e deu aquele sorriso tímido, que começava a ganhar tamanho pela confiança que ela passava.

— Então, nos veremos amanhã? — perguntou.

— Pontualmente às quatro e quarenta e cinco. — Emma respondeu.

— Mal posso esperar. — Regina sussurrou, e soou tão sensual que fez os pelos dos braços de Emma se arrepiarem.

A moça olhou para frente, demorou para olhar Regina de novo.

— Eu também. — Seus olhos estavam arregalados e ardendo. Emma não queria que fosse verdade o que acontecia com ela nesse instante. Ela desceu do carro e correu para dentro sem olhar para trás.

Quando entrou em casa chorou sem saber se era de alegria ou tristeza. Ficou tão óbvio que estava atraída pela mulher que o sofrimento bateu com força.

Foi subir as escadas, enxugando o canto dos olhos quando ouviu a campainha.

— Quem é? — Ela voltou os três degraus que havia subido e atendeu.

— Srta. Emma Swan? Há uma encomenda nesse nome.

Emma rapidamente assinou o papel da encomenda e entregou ao homem, abrindo espaço para ele colocar uma caixa média para dentro. Ela o agradeceu e fechou a porta, levando aquilo que chegou consigo até a sala. A caixa estava um pouco pesada, mas conseguiu coloca-la sobre a mesa. Abriu e viu o que tinha dentro. Justamente o que Regina lhe disse, uma surpresa, os livros que ela escreveu todos reunidos ali dentro.

Em um minuto Emma foi tomada por uma enorme curiosidade, não estava mais triste por sentir coisas equivocadas pela sra. Mills. Os livros iriam ajudar a jovem a desvendar Regina de uma vez por todas.




Pela manhã, bem cedo, Belle levou uma pessoa de confiança para conversar com Regina e Daniel na mansão. Ela o apresentou como Graham, um rapaz que trabalhava como enfermeiro no hospital da cidade e se interessou na vaga de cuidador que a sra. Mills sugeriu para o marido. O rapaz era magro, bem afeiçoado e parecia estranhamente gentil. Regina o examinou bem com os olhos e deu uma outra olhada no currículo dele.

— Tem boas recomendações, estou vendo. Acho que você está muito bem qualificado para a vaga. — disse ela, entregando o papel com as informações do homem para Daniel ver.

Ele estava ao lado da esposa, sentado na cadeira de rodas, bem vestido como de costume.

— E o senhor terá disponibilidade de tempo para acompanhar o Daniel em todos os afazeres? — perguntou Regina.

— Sim, senhora. Eu já acertei minhas contas com o hospital. — Graham respondeu.

Daniel olhou para a esposa.

— Bom, então acho que podemos contratá-lo.

— Sim. A vaga é sua, rapaz. Em breve vamos acertar o seu salário, mas antes preciso que comece a trabalhar imediatamente. — disse Regina.

— Nesse momento, senhora? — Graham ficou surpreso.

— Neste instante. — Regina se levantou para empurrar a cadeira de rodas do marido até o novo empregado. — Preciso que leve Daniel para a terapia no consultório do Dr. Whale, depois o acompanhe ao Anita’s e almocem.

Graham e Belle trocaram um olhar.

— Sim, senhora. — disse o rapaz.

— Querida, você não vai almoçar comigo hoje? — Daniel parecia confuso.

— Não, Daniel, eu vou resolver uma coisa aqui no escritório, é problema com uns livros que não foram entregues, devo passar a tarde toda nisso. — Regina disse. — Belle vai me preparar algo para lanchar depois, ando sem fome ultimamente. Mas vá, tenha uma boa terapia e nos veremos mais tarde. — ela assentia. Fez um sinal para Graham passar com a cadeira de rodas e Daniel.

— Tudo bem, querida. — ele sorriu, e galanteador segurou na mão dela, beijando a pele macia.

Ela abriu a porta para os dois e os viu sair rapidamente da mansão. Belle pediu licença e se retirou do recinto com a mesma pressa. Regina estava eufórica por dentro, teria a manhã toda só para ela no escritório escrevendo e de tarde veria Emma. A moça andava sendo a salvação de seus dias, a inspiração que faltava nas horas de solidão. Pensar em Emma confortava o suficiente para se livrar da sensação de abandono e espantava a angustia do peito, e era nessa hora que a escritora podia sentar para colocar coisas inconscientes no papel.

Foi assim o resto do tempo, ela deu apenas uma beliscada no que Belle trouxe de lanche antes que Daniel voltasse. Mais uma parte de “Intimamente” pronta, a reta final estava se aproximando. Regina imprimiu as páginas novas, enlaçou com todo o cuidado e enfiou no bolso de dentro do blazer cor de vinho que trajava. Foi se encontrar com Emma. Saiu de fininho da mansão, olhando para a porta no final do corredor, o atelier do marido. Ele estava lá dentro, explicando ao cuidador sobre seus trabalhos, e, aparentemente o rapaz tinha toda a paciência do mundo para ouvir as centenas de histórias que Daniel Colter tinha sobre sua carreira, quantas pessoas conheceu mundo afora pintando, em quantos lugares já esteve nos Estados Unidos e certamente o quanto ele amava a profissão de artista. Coisas que Regina sempre escutou, mas só agora se permitia odiar saber de novo.

Pediu um taxi e chegou ao bistrô pontualmente, porém, quem ia encontrar já esperava por ela, sentada na mesa de sempre, na mesma cadeira ao fundo.

Por um momento o tempo ficou lento; Regina podia ouvir os próprios passos enquanto caminhava. O barulho do sino que fez quando a porta se abriu ainda perdurou por segundos. Ouviu as batidas do coração se acelerando, era capaz de estar se acostumando com a ansiedade espontânea que a invadia quando enxergava Emma, o palpitar no peito nada mais era do que isso.

Ao se aproximar Regina não escondeu a satisfação em rever a moça, por isso, Emma fez questão de se levantar e puxar a cadeira da frente para ela.

— Ingrid pode ser o pior ser humano que existe, mas isso ela me ensinou bem, aliás, foi a única coisa que ela me ensinou, ser no mínimo educada. — disse Emma, voltando para seu lugar. — Ah, antes que eu me esqueça... Obrigada pelos livros. São incríveis.

— Você já leu todos? — Regina estava surpreendida, mas antecipadamente.

— Não. — Emma riu. — Ainda não. Comecei um ontem, porém eu estava com a cabeça um pouco atordoada por causa de um fato, então não li muita coisa.

— O que houve? — Regina fez um sinal para o garçom.

— Nada que você queira saber. Coisa minha que não sei pôr em palavras, sabe? Podemos falar de outra coisa?

— Tudo bem. — A sra. Mills assentiu e pediu que trouxesse dois cafés para elas, e algo para irem beliscando, afinal, tinha comido muito pouco durante o dia.

Emma ficou quieta, com os cotovelos sobre a mesa, encarando Regina sem medo, mas também tentando não demonstrar reação diante dela, o que podia ser muito complicado. Jamais ia revelar naquele instante que quando começou a ler o livro dela, não conseguia mais ver a personagem principal como uma personagem, via Regina, a escritora, colocando seus desejos ocultos para fora.

— Eu vi seu marido hoje... Ele e um cara indo para o Anita’s. — disse Emma depois de algum tempo.

— Mandei ele almoçar lá hoje porque eu queria terminar isto. — Regina tirou as folhas do bolso e deu na mão de Emma.

A jovem sorriu.

— Você vai me fazer ter uma overdose dos seus livros. — disse em tom bem humorado. — Obrigada.

— Não tenha pressa para ler. São presentes. E “Intimamente” podemos discutir quando você estiver se sentindo melhor.

— Ah, eu estou bem, já passou. — Emma fez uma pausa e prestou atenção na melodia que estava tocando na rádio do bistrô. Música antiga. Pelo alto-falante, a jovem reconheceu “Run to me”. — Adoro essa música.

— É mesmo? — A escritora mostrou-se descrente. — Não é da sua época.

— Eu sei. Acontece que meu tio adora o cd dos Bee Gees que vem com essa música, ele sempre coloca no som quando vai lá em casa. Cresci ouvindo ele.

— Percebi no seu aniversário. — Regina recordou. — Mesmo assim é curioso como uma garota como você não segue padrões.

— Para que se os padrões atuais são bem fúteis? Todo mundo hoje em dia parece alienado. — Emma falou isso com um sonoro tom de arrogância na voz, mas para ela, sua verdade sobre as pessoas era absoluta.

— Não é tão ingênua quanto eu pensava, Emma. Se fosse minha mãe, diria que você é uma jovem com espírito de velha. — A escritora frisou.

Era o ponto a que Emma queria chegar. Outra coincidência para confirmar o que estava acontecendo entre as duas. Ela ficou inquieta na cadeira. Tinha certeza de já ter lido uma frase idêntica nas folhas de “Intimamente”, quando Suzana diz à Catherine que ela é uma mulher com espirito velho. Isso fez Emma coçar a nuca por trás dos cabelos escurecidos, olhar Regina com um pavor cômico e começar a acreditar que ela tinha escrito coisas que bem lá no fundo desejava que acontecessem.

— Se lembra que existe uma fala no seu livro exatamente como a que me disse?

Ao que Emma soltou a pergunta, Regina ficou legitimamente surpresa.

Ia dizer alguma coisa, mas alguém interrompeu e não era o garçom.

— Sra. Mills e srta. Swan. Que prazer ver vocês duas reunidas. — o homem estava parado ao lado da mesa delas e apoiado numa bengala.

Emma pareceu ter visto um fantasma.

— Olá, sr. Gold. — Regina disse, nada satisfeita em vê-lo por alguma razão aparente que saberia mais tarde.

— Vejo que estão tendo um bom momento juntas. Eu não sabia que as duas eram amigas. — ele falava como e fosse uma cobra peçonhenta prestes a dar o bote. Dirigiu-se à Emma. — É bom que se apoie em alguém, Emma, a companhia da sra. Mills vai lhe fazer bem.

O olhar dele era estranho, carregado, talvez ainda de ódio pelo o que a moça fez ele passar no jantar que tiveram. Gold era o tipo de homem que não gostava de ser passado para trás.

— Eu posso ver sozinha que a sra. Mills é a companhia certa. — disse Emma sem cerimônia. — Obrigada pela preocupação.

Gold pareceu satisfeito, porque aparentemente tinha interrompido uma conversa importante entre as duas. Assentiu à sra. Mills e saiu mancando com a bengala de companhia. Ele não fez questão de ser apressado, mas a abordagem inusitada fez Emma ser cautelosa.

— Que estranho. Eu não percebi que ele estava aqui. — Regina dizia, olhando para trás.

— Nem eu. Esse cara parece um fantasma. — Emma o observou indo embora, então Regina soube que ela e aquele homem tiveram problemas mais sérios para ela se demonstrar tão incomodada.

— Posso saber o que o Gold fez pra você?

— Ele é um homem horroroso, eu já contei pra você. Mas sim, na verdade fui eu quem fez algo. Ele me convidou para jantar e eu aprontei colocando um tempero especial no prato dele. Não queira pensar no sr. Gold com dor de barriga, é a visão do inferno.

Regina tentou conter um riso.

— Então foi isso?

— É. Um belo pagamento pelo o que fez às moças dessa cidade. Ele não me dá medo, o único problema é que ele nos viu aqui.

— Acha que ele vai dizer alguma coisa para alguém?

— Ele é um cara ácido, eu não confio nem um pouco. Acho que precisamos escolher outro lugar para nos encontrarmos. — Emma falou se esquecendo das alternativas.

A escritora viu o rolo de folhas sobre a mesa, a resposta para o problema delas estava num dos capítulos de “Intimamente”. Foi a primeira coisa que veio na mente de Regina, o lugar onde ela se encontraria com Emma dali para frente.

— Vamos fazer como Catherine e Suzana novamente. O mirante. — sugeriu, mostrando-se certa.

Emma ficou absorvendo isso durante instantes, imaginando como Regina chegou àquela conclusão. Será que ela pensava o tempo todo como Suzana ou esse era o nome do seu refúgio e a moça sentada ali de frente para ela era uma Catherine da vida real que ela não queria notar? Talvez as duas coisas. Ou talvez ela nem percebesse a verdade do que falava nos próprios livros que escreveu.


Notas Finais


Emma está realmente apaixonada, foi muito mais fácil para ela, é perceptível esse detalhe. A partir do próximo capítulo a luta dela será para se conter, mas isso não vai acontecer, até porque ela vai descobrir que Regina se tornou dependente dela emocionalmente. Com esse detalhe, uma cena bastante emotiva deve acontecer. Sobre o relacionamento delas se tornar ainda mais íntimo... Isso dependerá muito do que Emma disser para Regina no próximo.

Vou trabalhar bastante nessa fanfic essa semana, me aguardem, eu não pretendo decepcionar vocês.

Bom fim de semana e fiquem bem.


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