1. Spirit Fanfics >
  2. Intimamente Emma >
  3. A carta devolvida

História Intimamente Emma - A carta devolvida


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, amigas leitoras.

Obrigada por esperarem por uma atualização e confesso que ter demorado mais que o normal dessa vez foi até bom para o andamento desse capítulo. Não sei se há uma grande revelação hoje com o que vocês vão ler, acho que talvez pequenos detalhes inesperados por parte de Ingrid.

Façam uma boa leitura.

Capítulo 26 - A carta devolvida



De todas as coisas que Ingrid imaginou ter acontecido com Emma em sua ausência, o que havia acabado de testemunhar era de longe a mais surreal. Não era só o fato de Emma estar beijando uma mulher, como também ser aquela mulher. Sim, ela sabia de quem se tratava, o rosto era o mesmo, ainda que mais maduro da escritora. E isso doeu nela. Doeu de uma forma mais arrasadora do que ter descoberto Daniel de volta.

Ingrid estava morrendo por dentro, cambaleando na calçada, sentindo a visão turva enquanto as cenas do beijo de sua filha permaneciam vivas na memória. Uma mulher exagerada como ela sentiria o baque daquela descoberta por semanas. A perturbação era tamanha que esqueceu do que Gold lhe disse na noite anterior, passando pela mansão dos Colter na esquina sem ao menos olhar a fachada e se questionar se Daniel estaria lá dentro. Tomou seu rumo e voltou a pé para o centro da cidade, tentando compreender o comportamento da filha. Muitas teorias poderiam responder suas perguntas; Emma passara muito tempo sozinha, se apegara a figura de alguém mais velha que ela para suprir a ausência que Ingrid fez; Na segunda teoria, Regina teria descoberto um segredo sombrio de Daniel e Emma era a escolha de vingança perfeita. Isso até responderia como Daniel e a esposa vieram morar em Mary Way Village. No final, Ingrid estava inconsolável.

Passando pelas pessoas na rua, ela desviava como um vulto de quem olhasse para seu rosto e tentasse reconhece-la. Alguém a reconheceu afinal e espalhou a notícia de que uma velha moradora da cidade tinha voltado. Até o fim do dia Mary Way inteira ia saber, até porque Ingrid voltou a um lugar que frequentava nos velhos tempos. Foi reencontrar uma amiga, Anita Lucas.

Quando entrou no restaurante, movimentado pela hora do café que era servido diariamente, recebeu muitos olhares, mas não se preocupou em se esconder ou negar quem era. Andou até o balcão.

— Posso falar com Anita? — pediu para Ruby que foi chamar a mãe depois de tomar um susto com a aparição de Ingrid.

Anita Lucas quase não acreditou. Ingrid pediu um copo de conhaque antes da amiga chama-la para uma salinha nos fundos do restaurante. A dona do lugar olhava para ela antes de começarem a conversa, não propriamente sobre o que a Swan viu uma hora atrás. Mesmo assim, Anita sabia que algo perturbava ela. Anita conhecia Ingrid tanto quanto David, era como uma irmã. Tinham se formado no colegial juntas e viviam grudadas como unha e carne desde os 13 anos, até a loira se afastar da cidade constantemente para fazer vítimas de seu interesse em dinheiro e bebidas. Os detalhes por trás da convivência entre as duas são fatos que elas preferem manter em segredo. Havia muita intimidade envolvida, por isso terem se afastado foi uma ideia brusca para Anita. Ingrid tentava encontrar no passado entre elas outra resposta para o comportamento da filha.

— O que te fez voltar? — perguntou Anita.

— Adivinhe. — disse Ingrid.

— Dinheiro?

— Por causa dele voltei, mas faria o mesmo se tivesse um pouco de dinheiro. Vim por Emma, pretendo me acertar com ela. — Ingrid engoliu em seco, conseguiu fixar seus olhos nos cabelos compridos e levemente enrolados nas pontas de Anita. A amiga emagreceu um pouco desde a última vez em que se viram.

Um pouco sem jeito, Anita pediu desculpas por ter demitido a moça.

— Olha, Ingrid, sinto muito pelo que aconteceu com Emma aqui no restaurante. Ela cometeu alguns erros e você sabe como eu sou, não gosto de desleixo por parte dos funcionários.

— Não vim cobrar isso de você. Vim perguntar uma coisa. — Swan se levantou da cadeira onde se sentou e andou pela salinha de braços cruzados, inquieta e curiosa. Esperou para fazer a pergunta, deixando Anita receosa. — Aquilo que você e eu tivemos... Aquele momento.

Anita estava boquiaberta, mostrando as linhas sobre as bochechas de seu rosto magro.

— Foi apenas um beijo, Ingrid. — ela subitamente sentiu o corpo reagir a lembrança. — Um beijo muito bom, por sinal. — Não dava para controlar, ela sentia os seios se enrijecendo, o calor subindo entre as coxas. Estava carente de afeto, uma relação sólida desde que o marido morreu, mas nunca abandonara o desejo por mulheres, a atração que sentia por elas. Sentia-se especialmente surpresa com a visita de Ingrid, seu primeiro amor talvez.

— O que você pensa sobre sina? Destino? Consequência? Acha que o que fizemos pode ter influenciado alguém? — Ingrid tentava usar as mãos para falar, estava visivelmente perturbada.

— Do que está falando? Influenciar quem? — Anita franziu a cara.

— Uma pessoa, nossas filhas, por exemplo. Se o destino resolvesse que elas deviam, sabe, namorar?

— Minha nossa, Ingrid, o que está acontecendo com você? Emma e Ruby? Sério?!

— Me responda, o que acha da possibilidade de o que houve ter influenciado Emma?

Anita se levantou e se aproximou dela.

— Se eu entendi bem, você está pensando que o beijo que dêmos quando éramos adolescentes vai tornar Emma gay?

Ingrid olhou para os olhos dela.

— O que você acha?

— É muita ingenuidade da sua parte pensar assim, meu anjo.

— Tem razão. Talvez seja apenas curiosidade...

— O que foi que você disse?

— Nada. Esqueça. Era isso que eu queria perguntar. — Ingrid virou o rosto e tocou na maçaneta da porta, mas Anita a segurou pelo pulso.

— Não posso acreditar que veio apenas para me perguntar isso, muito menos que tenha voltado para a cidade só por causa da sua filha.

Ingrid se virou para ela novamente, lançou um olhar astuto e tocou no queixo avantajado da mulher.

— Anita, minha adorada, Anita, conforme-se que aquele beijo foi apenas um segundo de loucura e curiosidade. Foi bom para você porque foi o primeiro, o que não significa que você não precisa esquecê-lo. — disse, abrindo a porta e saindo por conta própria.

Quando a porta bateu, Anita se lembrou da Ingrid os velhos tempos, quem ela era de fato, não servia para seu bico nem como caso.




Sempre depois das oito, Regina se sentava na frente do notebook para tentar arrancar dos próprios devaneios alguma ideia genial para os capítulos de Intimamente. Não andava conseguindo fazer isso bem desde as últimas conversas com Daniel e o clima de medo no quarto de hóspedes da mansão não proporcionava o silêncio abençoado que ela tanto almejava nessas horas em que escrevia. Sentada na sala de jantar depois da refeição e do banho, acabava de escrever um parágrafo de uma cena sexual entre Catherine e Suzana dentro de um carro. Por mais bizarro que parecesse escrever uma cena de sexo entre as protagonistas em um lugar inusitado, Regina estava bastante centrada nas palavras finais que começavam a dar trabalho.

Emma chegou de mansinho por suas costas, envolvida no roupão da avó. Extremamente excitada por culpa de seu período fértil, ela tentou seduzir a escritora com carícias nos ombros, beijos no pescoço, sopros na nuca e mordidinhas no pé da orelha. Regina também vestia um roupão, Emma o invadiu com as mãos se aproximando dos seios fartos, porém foi interrompida.

— Awn, amor, é pedir muito que esqueça por hoje desse capítulo e venha comigo lá pra cima? — Emma perguntava manhosa.

— Já estou terminando. — Regina segurou uma das mãos da jovem e apertou. — Que tal me ajudar? Diga uma palavra que soe bem junto de “excitação”.

— Hum, me deixa pensar... — A moça leu o parágrafo inteiro na tela do notebook e teve a genial ideia de imaginar a cena de uma nova perspectiva.

...Suzana deitava-se para a excitação...

Como quem deitava-se no mar, esperando a maré leva-la para longe. Braços estendidos até o teto do carro, arranhando o tecido sobre suas cabeças toda vez que era invadida pela serpente viscosa entre a boca da mulher que ela sabia a cada dia amar mais.

Regina digitou a narrativa de Emma e ela não parou por aí:

Respiração pausada, seios subindo e descendo na ausência das palmas de Suzana sobre eles. Um beijo cada segundo mais ardente nos lábios de baixo anunciando sua lenta morte de prazer. Um dia ela sonharia em morrer de verdade pelo mesmo motivo que a...

Emma parou.

— Pelo mesmo motivo quê? Por que parou, meu amor? — perguntou Regina a olhando, com os dedos espertos e prontos para recomeçar a escrever o que dizia.

Swan queria encontrar uma palavra para casar com a situação descrita que inventou. Não estava achando.

— Droga, não consigo pensar em uma palavra para terminar a frase. — ela olhava para a tela do computador, frustrada.

Regina ficou calada. Então, de repente ela puxou o corpo de Emma para cima do seu, montando-a sobre ela.

— Deixe-me ajuda-la com isso.

A sra. Mills desfez o laço do roupão de Emma e o abriu livrando os seios da moça. Ao que uma mão segurava Emma pelas costas, a outra corria pela intumescência do busto dela. Primeiro o esquerdo, depois o lado direito. Nunca tinha os visto tão excitados pelo seus toques sutis sobre os bicos enrugados. Pela narrativa da jovem, Regina sentiu que devia dar atenção especial para o par de bicos cor de rosa de Emma. Regina olhou primeiro para os olhos verdes da moça, depois desceu os lábios com um beijo no lado esquerdo. Um casamento perfeito entre a ponta da língua e o beiço. Emma agarrou os cabelos da mulher e respirou sôfrega, poderia ter gozado apenas com a sucção exagerada de Regina. Mas logo estava sobre a mesa, empurrando tudo em cima dela. O notebook, o vaso com flores artificiais e a toalha xadrez. O corpo da jovem se estirava enquanto Regina subia por suas pernas, encaixando a cabeça entre as coxas da moça sem qualquer problema. Ela terminou de abrir o roupão de Emma, esticando a mão até a da jovem, entrelaçando os dedos nos dela. Emma via os cabelos escuros roçando em sua virilha, até aí já tinha sido violada pela serpente viscosa, igual ao imaginado para Cath e Suzana no livro. A mulher não usou os dedos, era só boca e língua, gemidos às vezes. E sugava. Sugava Emma até a moça sentir o clitóris sensível demais para continuar.

Emma se desmanchou como chuva sobre uma poça aos seus pés. Matou a vontade, sossegando tanto ao ponto de encontrar a palavra que antes não sabia qual devia usar.

— Regina, acho que eu descobri a palavra certa. — disse ofegante, se sentando. Tirou a cabeça da mulher do meio de suas pernas e a fitou. — Embriagada. Um dia ela sonharia em morrer de verdade pelo mesmo motivo que a embriagava.

Ela sorriu, trêmula ainda sob os efeitos do orgasmo, um frio que voltava a dominar o corpo depois da reação química muito espontânea do ato sexual. Viu Regina lamber os lábios e encará-la, uma coisa levou a outra.

Mills apertou suas unhas na pele de Emma e sorriu de canto com satisfação. Também conseguiu o que queria, mesmo achando a posição desconfortável para a moça. Bem, aquilo já estava feito, inclusive o último parágrafo do capítulo em questão. Se transassem de novo mais tarde, seria na cama. Ela não devia estar pensando nisso, mas havia muita energia carnal entre elas que deva ser liberada.

Emma estava sobre ela e apreciava a saliência. Fez tudo como planejado na hora do banho, quando se imaginou subindo naquela mesa e abrindo as pernas para a escritora. Ela também identificou a energia carnal entre as duas, só não queria parar, ao mesmo tempo que não queria desconfortar a amada. Ia se conformar se quando fossem deitar recebesse apenas carinho. Afinal, Regina e ela não estavam juntas apenas pelo sexo. Não era preciso darem uma palavra para entenderem que isso sempre fora consequência e se amavam além desse detalhe, pelo o que uma proporcionava a outra. Portanto, Emma estava feliz em ter concluído o restante do parágrafo do capítulo de Intimamente.

Quando Regina terminou de escrever as últimas palavras, disse:

— Você já pensou em começar a escrever poemas? — Olhou para Emma sentada sobre a mesa ainda.

— Não, nunca. — a moça disse, deslizando uma mão pela de Regina.

— Pois leva jeito. Talvez haja uma forma de ensinar a você como funciona.



O dia em que Daniel e Regina teriam uma conversa definitiva sobre o divórcio chegara e, adiantada, Regina esperava a reunião entre eles e seus advogados começarem. De Vil sentou-se ao lado da sra. Mills e Daniel ao lado de Isaac Heller, um velho conhecido da defensora de Regina. Após uma breve apresentação desnecessária entre eles, assim como um aperto de mão, Isaac iniciou a conversa indo direto ao ponto.

— Meu cliente apresentou interesse em pagar uma pensão de acordo com qualquer valor estabelecido pela sua cliente. — ele olhava para De Vil, em seguida via Regina.

— Primeiramente, Isaac, minha cliente precisa ser consultada sobre a iniciativa do seu cliente. De acordo com o que conversamos, ela não deseja arrecadar valor algum por parte do cônjuge no termino do processo de divórcio. — De Vil se aproximou do homem se encostando para frente.

Daniel e Isaac se olharam.

— Cara colega, eu sugiro que converse com sua cliente sobre a excelente oportunidade que o futuro ex-marido dela quer oferecer. Sabe-se que a carreira como escritora tem altos e baixos, as vendas dos livros anteriores não estiveram boas no ano passado. O que o sr. Colter deseja é deixar sua cliente em conforto.

Regina pigarreou, fitando Daniel de frente para ela. De Vil entendeu que não devia se estender demais para defender o interesse dela.

— É mais do que óbvio que a minha cliente sabe o que está sendo oferecido pelo futuro ex-marido, porém ela acha desnecessário que ele se comova com sua situação financeira, esquecendo que além de escritora Regina pode trabalhar novamente no jornalismo ou até mesmo lecionar. Portanto, meu caro colega, Regina mantem a vontade de abrir mão da pensão. — A advogada bateu a tampa da caneca que segurava no tampo da mesa e se ergueu ao mesmo tempo que Regina.

— Espere, onde pensam que vão? Essa conversa ainda não terminou. — Isaac e Daniel se levantaram.

— Pelo visto o pedido da minha cliente ainda não foi acatado. Esperamos que os senhores se decidam e aceitem as condições de Regina, caso contrário teremos que abrir litígio.  Sejam breves por favor, o quanto antes esse documento for assinado, mais rápido será o desconforto dos dois. — Ela deu as costas e mostrou o caminho da saída para Regina.

Daniel abanava a cabeça sem entender a ausência de Regina, a forma como ela parecia distraída e pouco interessada na conversa. Ele andou até ela, tocando-a no cotovelo.

— Você ao menos poderia aceitar o meu pedido de desculpas? A pensão pode ser de grande ajuda, Regina. Pense bem, pense com carinho.

A escritora foi obrigada a parar, mas apenas virou o pescoço, vendo parte de Daniel por cima do ombro.

— Está decidido, Daniel. E nada do que você me propor eu aceitarei. Não tente me comprar com esse tipo de coisa, nem com gentilezas. Acerte o divórcio, é o melhor que pode fazer por mim. — ela foi firme na resposta, em seguida saiu ao lado da sra. De Vil.

. . .

Daniel voltou para casa após o encontro com os advogados e Regina. Belle viu quando ele se trancou no atelier, embora para ela isso parecesse um sintoma de depressão pós-decepção, o que certamente acabara de ter mais uma vez. Ele olhava para um quadro comum e pequeno na parede, uma réplica da praça São Marcos em Veneza. Com as mãos no bolso da calça de alfaiataria sentiu algo que havia esquecido ali há algumas semanas, o anel de noivado de Regina que encontrou na cabeceira do lado dela da cama, logo quando recebeu a notícia de que ia encarar o divórcio. Ficou contemplando o quadro, passando o olho pelas outras molduras espalhadas pelos quatro cantos do recinto. Olhou ao fundo as pilhas de molduras sobre jornais no chão, uma desordem que não gostava e que se cobrava para organizar. Ele teve um lampejo sobre o terceiro quadro da quarta fileira de molduras, mas antes de vasculhar suas obras, ele foi para o armário onde havia deixado um copo de vodca em uma bandeja de aço inox. Se serviu e tomou um bom gole da vodca. O copo não suou enquanto ele sentia a agradável sensação de calor descendo a garganta. Piscou os olhos até a bebida escorregar estômago a dentro.

— À Beija-flor. — disse ele. — Imagino como tudo seria se você estivesse viva.

Divagou sozinho, então andou até os quadros no chão e retirou uma moldura impecavelmente dourada da quarta fileira com cuidado o suficiente para não arranhar as outras. Ele a ergueu, vendo o quadro pintado há dezenove anos, uma fogueira com dançarinos ciganos em volta. Embora aquilo parecesse um trabalho bobo demais para o que ele era acostumado a pintar, tinha sido uma das primeiras peças produzidas para a galeria de artes de São Francisco e seu valor chegaria aos dois milhões de dólares se o quadro fosse revelado. Daniel não sabia o motivo de ter mantido o quadro dos ciganos consigo até perceber que a moldura daquele em especial era perfeita para camuflar um outro quadro, um que não podia vender para ninguém. Abriu a moldura com as pontas dos indicadores nas fissuras atrás e aquilo despencou em seu colo. Era o quadro do beija-flor. Na realidade, Daniel não deu muita atenção para o bonito desenho de pássaro, estava atrás de outra coisa, um outro segredo que escondeu na moldura. Ali estava. Era um envelope pardo que ele deu graças a Deus por ter achado.

Ele se lembrava onde havia deixado o outro envelope igual aquele, mas parecia tão impossível de descobrirem que não se preocupou tanto, Regina não vivia mais na mansão, tampouco mostrava interesse em voltar. Prometeu a si mesmo que se a esposa voltasse atrás, ele queimaria as cartas. Largando esse pensamento, Daniel voltou-se para o envelope, retirou as cartas de dentro dele e reconheceu sua própria letra. Ainda bem que havia sentado, pois sentiu um frisson percorrer os pelos do braço; uma perturbação de quem se via um passo do passado, temendo que a leitura o fizesse mais infeliz do que já estava.

Seu rosto fechou-se e ele leu com um temor calmo.
À minha doce beija-flor,

Presumo que estas palavras sejam dolorosas de se ler e causem em você uma repulsa que julgo justa por mim. Sinto que esse relacionamento não pode se concretizar no futuro. O que vivemos foi imensuravelmente excitante, porém estou longe de ser um canalha com as mulheres com quem me envolvo.

Achei que em alguns meses você desistiria de ser minha amante, escolheria partir quando percebesse o quanto eu me sentia realizado com Regina. Estou profundamente arrependido, não pelo caso, mas por ter dado continuidade após ter me casado. Sinto muito, beija-flor, sinto muito revelar o meu amor por Regina. Estou apaixonado por Regina até a última essência do meu ser. Não é justo com ela, muito menos com você. Vamos encerrar esse caso aqui, com justiça e antes que aconteça o pior. Eu te amei, foi uma paixão muito forte, pensei em pedir a sua mão, no entanto, você sabe como são os meus pais. Eles jamais tratariam você da forma devida, simplesmente por ser uma moça de estrutura familiar e financeira simples. Eu sinto muito, repito quantas vezes forem necessárias. A verdade é esta que conto nessa carta, estou apaixonado pela minha esposa e não desejo mais enganá-la.

Espero que aceite meu pedido de desculpas com esse presente que estou enviando, o quadro que pintei em sua homenagem. É o símbolo do que tivemos de mais bonito. Faça com ele o que desejar, ele é seu. Peço que não responda essa carta, não me envie mais nada. Nosso último encontro foi aquele no hotel a caminho as sua cidade. Foi bom, beija-flor, foi bom enquanto durou.

Adeus.

Daniel inclinou-se para trás na cadeira e guardou a carta.

A carta não era uma cópia, era a original, recebida de volta meses mais tarde junto de uma carta escrita a mão por outra pessoa que não a Beija-flor. Daniel soube que ela havia se matado e ele sofreu por ser acusado e chamado de assassino.

Daniel não teve coragem de ler a carta que noticiava o suicídio da Beija-Flor. Guardou tudo, o envelope, a pintura por trás da outra e encaixou a moldura, devolvendo à pilha. Coçou os olhos com as pontas dos dedos, voltando a se encontrar com a garrafa de vodca quase vazia.


Àquela altura, os moradores de Mary Way Village burburinhavam sobre o retorno de Ingrid e a única pessoa que poderia contar para Emma sobre o retorno de sua mãe se encontrava em um verdadeiro dilema. Archie ouviu a notícia do açougueiro quando recebeu uma encomenda para o hotel. Queria muito falar com Ingrid, queria  perguntar como ela estava, se tinha se virado bem na outra cidade e se precisava de ajuda. Caso fosse preciso ele mesmo empregaria ela no hotel, mas havia Emma trabalhando lá. Não sabia se devia contar logo para a garota ou se deixava para David essa missão. Apesar de rigoroso como patrão, gostava da moça como se ela fosse sua enteada. Esse era um sonho que todo mundo sabia que Archie possuía e não confessava. Tirando esse assunto, o dono do hotel imaginava os problemas que ia ter quando Emma soubesse da mãe.

Era final de tarde, a moça desceu as escadas com o material de limpeza, pronta para guardar e trocar de roupa para ir embora. Archie viu quando ela saiu do banheiro, vestida com roupas comuns e a bolsa pendendo nas costas.

— O hospede do quarto treze pediu toalhas novas, mande logo. — ela disse, passando por Archie no vão entre o balcão e ele.

Emma bateu o ponto do dia de trabalho e deu a volta, saindo.

— Ahm, Emma — Archie chamou.

— Oi? — ela parou, virando o rosto.

Ele travou.

— Nada, Emma. Vá com Deus, até amanhã. — disse meio nervoso.

A moça franziu a cara sem entender, deu de ombros e saiu.

— Obrigada, até amanhã.

Na rua, Emma seguiu cem metros a pé pela calçada até uma região do píer onde podia observar a orla inteira dos dois lados. Uma mulher bem vestida a esperava em um dos bancos de madeira chumbados no chão olhando para a direção do mar enquanto seus cabelos curtos balançavam como se estivesse de cara para um ventilador muito potente. A moça se sentou ao lado dela, tirou a bolsa das costas e olhou para a mesma direção, e seus cabelos mais compridos balançaram como a ondulação da água que elas viam.

— Parece fácil esperar nove horas para te encontrar todos os dias. Isso tem me matado.

A mulher olhou para Emma.

— Antes levávamos dias até o reencontro.

— Acredito que um dia nunca mais vamos ter intervalos entre esses encontros. — Emma retribuiu.

Regina queria beijá-la, só não podia fazer isso estando em público. Elas se encaravam imaginando quando iam trocar carinhos sem preocupação. Estarem no píer já era um grande passo, se parassem para pensar no receio de serem vistas andando juntas.

— Te chamei aqui porque quero te desafiar. — falou Regina.

— Já vou avisando que não sou de recusar desafios, madame. — brincou Emma a observando.

— Muito bem. Olhe com força para o mar e fale sobre ele. — Era o que Regina queria, invocar em Emma o espírito de poeta vivente nela. A mulher esperou atentamente a amante falar.

Emma estreitou os olhos para a água, suas esmeraldas dos olhos ficaram famintas pelo horizonte.

O mar de fardo azul,

angustia dos que seduz.

No teu peito um lamento,

de lágrimas do vento.

Dos navios te conheço,

Ansiando o começo.

— Regina eu sou péssima para isso. — Ela colocou as mãos no rosto.

A escritora sorriu, tirando gentilmente as mãos da face dela, dizendo:

— Você é ótima, meu amor. Fez uma poesia linda, não falei que tem talento? Hum?

— Ah, é estranho, eu nunca fui de escrever, eu prefiro ler, antigamente nem ler eu gostava.

— Para tudo há uma iniciação na vida.

Swan olhou para baixo com um sorriso suave no rosto, depois para Regina de novo.

— É você quem está me iniciando em tudo na vida.

Levemente, seus dedos tocaram os dedos de Emma sobre o banco. Lentamente, enlaçaram as mãos sem que ninguém as notasse, sabendo que às vezes mãos dadas podiam suprir beijos ardentes e quando não conseguissem mais conter a vontade do desejo luxurioso, era hora de voltar para casa.


Notas Finais


Vocês estão preocupadas com o que Ingrid pode fazer por ter visto Emma e Regina. Eu não me preocuparia com ela a respeito desse assunto, mas não esperem que ela fique de boca calada por muito tempo. Quando Emma vai saber que a mãe voltou para Mary Way? Em breve, não posso dizer ao certo qual momento, mas posso dizer que alguém verá Ingrid e vai ficar muito assustado.

Outra coisa: Estou elaborando uma nova fanfic SQ, esse também é um dos motivos para o meu atraso, porém essa vou deixar para o término de IE para não embaralhar as tramas e deixar vocês muito tempo na mão.

Peço encarecidamente que vocês compartilhem as opiniões, por mais birutas que elas sejam. Gente, eu também tenho teorias sobre quem é o pai da Emma, se é que me entendem. O espaço está sempre aberto para isso.

Um abraço e fiquem bem. Até o próximo.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...