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História Intimamente Emma - Sinto muito, Beija-Flor.


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, amigas leitoras.

Sobre o capítulo de hoje, digo que a resposta para a teoria que muitas têm sobre Ingrid se esclarece. Espero que vocês compreendam parte do mistério.

Façam uma boa leitura.

Capítulo 29 - Sinto muito, Beija-Flor.



Olhando para Emma, David sentiu o coração aflito. Ela é tão jovem! Eu a amo como minha filha. Sou o único em quem ela confia. Ficou imaginando qual seria sua reação se aquilo acontecesse a um filho ou filha de verdade. Teria de entende-la. Talvez fosse doloroso, porque é difícil para um pai ver seus filhos rumando por caminhos diferentes dos esperados para eles. Mas ninguém tinha direito de escolher pelos filhos, e a função dos pais é amá-los, seja qual for as escolhas que eles tomarem. David pensava em seus pais. Lembrou da irmã e a decepção que ela causou a família antes de Emma nascer e, ainda assim, a matriarca Swan nunca dava as costas para Ingrid toda vez que voltava.

Após segundos mudos entre eles, Emma devolveu um olhar de alívio. Ela acabara de tirar um peso das costas e David estava feliz por ela ter confiado nele. Ele alisou o rosto da moça, enxugou uma lágrima solitária da bochecha dela e quis dizer que compreendia.

— Eu entendo, minha filha. Nós não escolhemos por quem vamos nos apaixonar.

Emma suspirou.

— Tive medo que se decepcionasse comigo.

— Minha filha, estou muito mais tranquilo por ter me confidenciado isso. — ele a fez se sentar novamente. — Posso saber quem é essa mulher?

Emma hesitou, não queria dizer que estava apaixonada pela esposa do pintor famoso que se mudou para a cidade recentemente. Regina ainda estava envolvida no divórcio. Confiava no tio, mas por enquanto só pensava em proteger o nome da escritora.

— Não posso dizer quem ela é. Só posso contar que dentro de alguns meses estarei deixando a cidade com ela. Nesse dia o senhor saberá quem ela é e o que ela faz. Prometo.

David franziu o cenho, confuso.

— Por que vai deixar a cidade?

— O senhor sabe que desde sempre as pessoas daqui fazem comparações entre minha mãe e eu. A mulher que eu amo está disposta a recomeçar uma vida comigo longe daqui, porque essa cidade também não é o lugar dela. — dizia Emma no tom mais pacífico possível.

— Agora entendo. Pode ser a melhor opção. — David refletiu.

— É a melhor opção. — Emma confirmou. — Ainda existe um detalhe a ser resolvido então quando ela finalmente se livrar do detalhe, vamos partir juntas.

David tentava não se preocupar, mas tinha uma pergunta a Emma no meio do assunto.

— Emma, você não está se envolvendo com essa mulher apenas interessada em sair da cidade, está? — ele esperou a resposta dela ansioso.

A cara que ela fez entregou como ficou ofendida.

— De jeito nenhum. — respondeu com vontade. — Eu me apaixonei por ela sem precedentes.

— Compreendo. Mas e se algo der errado e ela não conseguir resolver o que tiver de resolver e você não for? Tenho medo que se decepcione, filha.

Emma respirou fundo, abanou a cabeça recusando-se a aceitar o que o tio supôs.

— Ela nunca irá me decepcionar. Já basta tudo o que passei com as pessoas daqui. Não confio em outra pessoa como confio nela, a não ser você que é da família, mas ela, eu não posso desacreditar no que combinamos fazer juntas.

Ele assentiu olhando para as próprias mãos, concluindo o que levava a sobrinha a tomar tal decisão tão importante.

— Não há como voltar atrás, não é? Está de fato decidida a ir embora.

— Sim, tio. Só não fique pensando que vou me esquecer do senhor e da Mary. Mandarei notícias, vamos nos falar por telefone sempre e eu ainda posso mandar cartas. Há muitas formas de vocês receberem notícias minhas.

— Vamos sentir sua falta. — a voz dele se misturou ao nó da garganta.

— E eu a de vocês dois. Obrigada por tudo. Eu os amo e amo você principalmente. Você nunca me decepcionou, e assim como me tem como filha, eu o tenho como um pai.

— Eu sei. Estou tendo certeza disso agora. É natural que me sinta orgulhoso por você ter me confidenciado algo tão íntimo. — disse ele quando levantou a cabeça.

— Quando puder agradeça a essa pessoa que eu amo tanto e está comigo. Foi ideia dela que eu viesse conversar com você.

— Claro que farei isso, mas vou agradecer ainda mais por ela ter conseguido um proeza. — David contemplou a sobrinha mais tranquilo. Sorriu para ela e mais rápido do que ele poderia prever, queria chorar de novo. — Você mudou, filha. Ela devolveu o brilho dos seus olhos. Seja quem for, merece meu respeito.

Emma retribuiu o sorriso dele e não se conteve em abraça-lo de novo. Ele estava certo sobre Regina. Ela, somente ela foi capaz de devolver um brilho que Emma perdera há muito tempo ou vice versa. Parecia uma grande armação do destino coloca-las juntas para se completarem, pois era assim que Emma se sentia depois de tanto tempo sozinha no mundo, sentia completude que acalentava a alma.

Depois de um tempinho recebendo e oferecendo carinho ao tio, Emma foi embora. Mary Margaret ouviu a moça saindo e surgiu do corredor.

— O que ela tinha, David? Achei tão distante quando chegou. Veja, ela nem experimentou o cookie que fiz. Será que ficou sabendo da Ingrid?

— Emma não tinha nada. Ela está ótima. — disse ele indo até a janela para acompanhar a sobrinha andar pela calçada até perde-la na esquina. — Emma está aprendendo a viver, Mary.

Mary fitou David da cozinha, parando o que estava fazendo.

— Como foi que disse?

— Emma está aprendendo a amar, Mary. Nossa sobrinha descobriu o amor. Ela cresceu tanto. — ele falou com surpresa na voz como se por muito tempo Emma tivesse ficado presa em uma gaiola e finalmente ganhara a liberdade. Era tocante o quanto ele admirava a sobrinha. Mas logo sentiu culpa por ter se esquecido de contar a ela que Ingrid voltou. Ou não teve coragem para fazer isso? Seria justo depois da confissão que ela escolheu fazer para ele? Não, não era. Ele foi covarde, mas não estava arrependido por isso.

Mary soube depois que Emma ainda desconhecia sobre a mãe estar na cidade. Nenhuma surpresa para ela, sabendo que David tinha medo de magoar a moça Mary torcia para que Emma não descobrisse da pior forma.


Muitas horas depois, Daniel recebeu uma ligação de Isaac confirmando seu encontro com Beth, a mulher de quem falaram. Seja lá o contato que ela tenha com Gold, isso foi rápido o suficiente para aceitar ajudar um homem quase divorciado a esquecer a futura ex-mulher. Embora esse não fosse o objetivo de Daniel, sua voz interna gritava com ele para encontrar com Beth e esclarecer se ela era real ou tinha sonhado.

Mais uma vez ele dispensou Belle e levou consigo um endereço de bar. Segundo Isaac o lugar era perfeito para aquele tipo de encontro.

Daniel se arrumou tal como na noite do susto, vestido de um terno distinto, cabelos penteados para o lado, perfumado, impecavelmente bonito. Normalmente ele não era supersticioso, mas tocava constantemente no relógio de bolso preso a calça como se estivesse tocando um amuleto da sorte, certificando que estava calmo. Ia se encontrar com uma mulher de aparência suspeita, o retrato fiel de alguém que ele conheceu há muito tempo. Devia estar com as pernas bambas no mínimo, mas isso só aconteceu quando ele entrou no beco mal iluminado e viu a placa do bar ao fundo. Lá dentro pouca gente. E ela.

Beth estava de costas para Daniel, sentada no balcão do bar enquanto suspendia o decote do vestido sobre os seios. Ela parecia sempre inquieta e parecia não fazer ideia de quem veria essa noite. E quem se importava com quem ele era se pagaria suas doses de conhaque?

 Demorou até Daniel se aproximar. Ele observava ela de costas, os cabelos soltos e cheios perto dos ombros. Poderia ser mesmo outra mulher. Ficou na dúvida se seguiria com aquela loucura. Ele ficaria decepcionado se ela não tivesse mais nada além da aparência a ver com sua velha conhecida. Só havia uma forma de terminar com aquilo, indo até ela. Então Daniel deu passos rasos até a mulher, sentindo os calafrios de medo percorrerem a espinha. Parou atrás dela, ia tocar em seu ombro, só que preferiu não fazer isso. Ela usava um perfume barato, alguma colônia talvez. Deu vontade de espirrar. Ele fez um sinal para o barman e se sentou dois bancos depois dela.

— Um copo com Gin, por favor e um para a moça. — pediu, se colocando no lugar. Ela levantou os olhos, reconheceu a voz.

Beth travou com pavor de tentar olhar para o lado. Então era esse o homem que queria encontrá-la. O homem que precisava de distração, um empurrãozinho como Gold lhe disse. Daniel o tempo todo. Ela pensou em sair correndo, armar um escândalo, porém era uma ideia arriscada e sua verdadeira identidade estava em jogo. Algumas pessoas sabiam quem era, seu verdadeiro nome e a notícia ia se espalhar depressa pela cidade. Beth sentiu as mãos gelarem e a garganta secar.

Ele olhava para ela, um misto entre o susto e o questionamento. Seus olhos doeram com o tanto que franziu a testa indignado. E antes que ele dissesse qualquer coisa, o barman voltou com os copos cheios de ambos.

Daniel agradeceu e voltou-se para ela.

— Era você mesma no píer, estou errado?

Beth piscou demoradamente, não tinha saída.

— Sim — virou o rosto para ele enfim. — Me deu um belo susto.

Quando Daniel viu sua face foi como voltar ao passado. Ele queria tocar as bochechas dela para ter certeza de que não podia ser quem pensava ser. Por um momento se descontrolou e a segurou pelo braço.

— Não fuja, por favor. Você tem uma grande semelhança com uma pessoa que conheci há muitos anos.

— Me solta, se não eu grito. — Beth disse irritada. Ver o rosto dele também mexeu com ela e de repente sentiu uma tristeza imensa.

— Me desculpe. — ele tirou as mãos dela. Coçou os cabelos no alto da testa e apoiou o cotovelo sobre o balcão. — Me desculpe por aquela noite inclusive. A bebida me deixa muito desiquilibrado.

Beth fingiu que entendia.

— Claro. A bebida. E pediu meu contato para se desculpar somente? — ela fez a pergunta levantando suas sobrancelhas, os olhos se iluminaram para ele e ela ficou ainda mais bonita.

— Para me desculpar e tirar uma dúvida que está me matando por dentro. — Daniel ia dizer o nome dela, decidiu ficar calado e esperar.

— Não sou quem está pensando que sou, senhor.

— Pode não ser, ainda assim é muito parecida com ela.

— E que culpa eu tenho de ser sósia dessa mulher? Há muitos sósias espalhados pelo mundo.

— Reconheço que apesar de parecida, há alguma diferença. Eu conheci essa mulher quando éramos jovens. O que me lembro de sua aparência é suficiente para concluir que vocês poderiam ser irmãs gêmeas.

— Não tenho irmã gêmea, não tenho parentes se isso ajudar a convencê-lo. — disse Beth jogando os cabelos para trás e buscando o drinque. — Se pediu o drinque pensando na outra mulher que se parece comigo acho que combinamos no gosto.

— Eu me lembro de cada detalhe, cada gosto e cada mania que ela tinha. — Daniel se empertigou.

— Que mal lhe pergunte, o senhor é casado? — ela sabia que ele e Regina estavam se separando, mas precisava confirmar.

— Estou me divorciando. — ele disse e agora Regina povoou sua cabeça. — Eu não queria, mas ela não me ama mais.

— Sinto muito. — disse Beth após dois grandes goles do copo. — Essa fase passa, não se preocupe. E essa mulher de quem fala tanto, quem é exatamente?

Ele fitava o vão entre o decote dela esquecendo a gentileza.

— Essa mulher foi o primeiro grande amor da minha vida. — ficou ainda mais sério.

— Agora entendo porque estava tão desesperado quando me viu no píer. — Beth ironizou.

— Eu jurava que era você. Pensei que tivesse sonhado, mas foi algo muito real para um sonho. — ele abanada a cabeça hora ou outra. — Só me convenci de que era outra porque eu soube que ela morreu.

Ela sorriu de forma triunfante sem que ele notasse.

— Sinto muito. — repetiu. Beth fitava Daniel sem pena. Ele ainda era bonito, charmoso e se quisesse levaria ela para a cama. Ela ainda tinha raiva dele por ter sido preterida a Regina. Um romance de muito tempo, muitos planos e riscos jogado fora de maneira injusta. Se passando por outra pessoa Ingrid queria vingança, só não sabia como faria. Não sustentaria a mentira por muito tempo. Talvez fosse bom encerrar o encontro, marcar para outro dia. — Creio que o nosso encontro termina aqui, sr. Colter.

Ele ergueu o olhar para ela surpreendido.

— Como sabe o meu nome?

Ingrid engoliu em seco. Sorriu para tentar disfarçar.

— Ah, Gold, ele não segura a língua. — mentiu.

O pintor se levantou e encarou a mulher.

— Beth... — a voz saiu baixa. Ligou os pontos rápido, finalmente. Quem era Beth? Ela era Ingrid. A voz interna lhe disse tudo o que ele devia saber. — Você não se chama Beth.

Ingrid virou refém.

Ele pegou seu pulso e apertou, colocando seus olhos claros em cima dos dela com tanto ódio.

O deslize dela custou caro e não havia tempo para corrigir. Em um segundo seus nervos vieram a flor da pele. Ingrid, apavorada, empurrou o copo com a bebida do balcão e o desastre estava feito. O barulho de vidro quebrando em pedaços distraiu Daniel e ela correu dele.

Ingrid disparou para fora do bar. Nunca se arrependeu tanto de ter vindo a um encontro de saltos altos, mesmo assim ela conseguiu correr para além do beco e a rua. O peito se apertou sem ar e ela precisou parar. Uma quadra depois colocou uma mão em cima do busto e olhou para trás ofegante. Não viu ninguém. Prestes a dizer “Graças a Deus” uma outra mão pesada a deteve.

— Você não vai a lugar algum sem me dar uma explicação. — Daniel a virou para si. Estava agressivo, falava entre os dentes. — Tente fugir de novo agora.

Ingrid tremeu nos braços dele.

— Por favor, me ouça, eu posso explicar! — ela gritou amedrontada.

— Comece, vamos — em cima dela estava ao ponto de apertar-lhe o pescoço.

— Não pode ser aqui, Daniel, estamos no meio da rua!

— Por que mentiu sobre a sua morte?

— Eu precisava, senti raiva de você. — Ingrid respondeu rápido.

— Por qual motivo?

— Regina. — Ingrid cuspiu o nome dela bem nas fuças dele. — Escolheu ela. Você me amava, eu sei que me amava. — todas as memórias vieram à tona e o ódio tomou o lugar do medo. — Você me trocou por ela sem nenhuma consideração pelo o que vivemos. Eu amava você, Daniel. Eu fui completamente apaixonada por você. — Os olhos de Ingrid se encheram de lágrimas, e Daniel a soltou devagar. — Tudo o que fizemos para ficarmos juntos, os riscos que corremos, os segredos, as mentiras que contamos para os outros — Ingrid fungou, de um modo muito pouco feminino e continuou: — O que você pensou que eu fosse fazer? Aceitar?! Eu jamais aceitaria ser trocada por ela, Daniel. Você não sabe a dor que foi ler aquela carta, maldita carta! Não sabe as loucuras que pensei em fazer. Eu ia contar toda a verdade, ia para São Francisco atrás dela e contar sobre o marido infiel que ela nem imaginava que tinha. Agora veja que interessante, ela está largando o casamento para fazer exatamente o que você fazia comigo.

Ingrid era pura emoção zangada. Estava dolorosamente ferida esses anos todos e Daniel era o único culpado. Ela se abraçava, alisava os braços despreparados do frio e chorava na frente dele, olhando aquele rosto astuto e bonito. Ainda o amava, só não tinha coragem de admitir.

— Fingiu ter morrido para me dar remorso. — Daniel concluiu.

— Remorso era pouco, mas a única coisa que tive coragem de fazer você sentir. — ela soluçava. — Se sentiria tão arrependido quando soubesse que me matei por você... Ah, Daniel, não devia ter me esquecido.

Daniel esfregou as mãos no rosto o deixando com um péssimo aspecto. Aconteceu de repente, como uma onda irrompendo seu corpo ou um raio desabando sobre ele. Não ia negar que falou a verdade na carta que enviou para ela, naquela época ele de fato se apaixonara por Regina, porém nunca esqueceu de Ingrid.

— Eu sinto muito, Beija-Flor. — ele sempre a chamou assim, e esse foi um peso enorme para Ingrid reconsiderar a conversa estranha que estavam tendo. — Eu jamais esqueci de você.

Os lábios dela tremiam, as lágrimas dissolviam a maquiagem e desciam em linhas negras pelo rosto empoado.

— Não me chame dessa forma. — a voz falhava. — Não diga esse nome.

Vendo-a tão desamparada, Daniel tirou o terno e cobriu os ombros dela com ele assim como um cavalheiro faz. Seu sofrimento era contagioso, então a custo ele a colocou nos braços, tocando o rosto aos prantos dela entre seu peito.

— Eu sinto muito, querida. Me perdoe. — Daniel disse com pesar. — Sempre tive impressão de que aquela carta era uma brincadeira de mal gosto. Confesso me sentir aliviado por estar viva, Beija-Flor.

— Não me chame assim, por favor, não me chame assim. — Ingrid pediu mais incisiva.

— Nós temos muitas coisas para conversar. Quero que venha comigo.

Ingrid ficou chocada, depois intrigada com a ideia. Sem dizer nada ela se deixou levar por ele. Saíram do meio da rua e voltaram um quarteirão até o carro.

 

O sonho começou com Regina deixando um beijo terno em sua testa.

— Durma bem. — disse a mulher, se afastando para ir a sacada do quarto acender um cigarro.

— Por favor, não demore a vir para a cama. — Emma resmungou, mas o sono era tanto que os olhos fechavam-se por si só. Ela apagou.

Regina disse alguma coisa distante, a voz muito ao fundo e Emma quis abrir os olhos.

— Descanse enquanto puder, querida, pois quando eu voltar não terá mais uma noite tranquila de sono.

De repente, não era mais a voz de Regina quem ditava as palavras.

— Re-Regina? — Emma tentava, mas seus olhos pesavam uma tonelada. — O que você disse?

Uma figura sombria deixou as portas da sacada do quarto vindo até a cama se debruçar sobre Emma numa velocidade assustadoramente rápida.

— Descanse, minha filha. Mamãe está voltando.

Emma empurrou as pálpebras e elas viram aquele rosto das sombras. Ingrid. Vestida com um capuz que cobria metade da face, sua mão segurou a boca da filha para não gritar. Emma sentiu uma dor profunda abrir sua pele abaixo do estômago. Aos poucos e de muita crueldade ela foi perdendo os sentidos. Primeiro a visão, depois a força quando suas mãos desabaram na cama e por último, audição. A última coisa que ouviu foi uma risada diabólica da mãe ecoando no universo de escuridão.

. . .

Emma gritou, tão alto que Regina acordou no susto.

— Emma. Emma, acorda! — Regina a sacudiu, chamou por ela.

Ao arregalar os olhos Emma abraçou a mulher, aliviada. Gelada, ofegava em busca do ar e suava frio.

— O que aconteceu? Fale comigo, meu amor.

— Eu voltei? — A moça esticou os braços tentando enxerga-los para ter certeza de que tudo não passou de um pesadelo. — Foi um pesadelo?

— Sim, meu amor. Um pesadelo. Está tudo bem agora, eu estou aqui com você. Consegue me sentir?

Emma tocou o rosto dela, os ombros e assentiu, umedecendo os lábios antes secos e roxos. Ela sentiu um resquício do pesadelo em seu corpo, uma pontada no exato lugar onde foi apunhalada por Ingrid. Tocou a barriga e fez uma cara sofrida.

— Era a Ingrid... Ela estava tentando me matar.

Mills selou a testa da jovem e permaneceu ao seu lado. Segurou sua mão, alisou a parte de cima dos dedos, esperando.

— Sua mãe? Por que ela faria isso?

— Ela me odeia. — Emma se afundou no abraço da amada e não quis mostrar, mas chorou baixinho.

No mais absoluto silêncio, Regina levou Emma para o andar de baixo. Tentou replicar a receita de chocolate quente da moça, porém o que saiu foi uma bebida doce fraca em que o gosto do achocolatado parecia muito ralo. Emma não se incomodou, não disse nada sobre isso, apenas aceitou a caneca quente e o reconfortante aconchego dos braços de Regina no sofá. A noite estava fria, elas dividiram uma manta. Tomaram a bebida ainda em silêncio, a mulher respeitando o silêncio da moça. Tudo o que Regina desejava era ser o escudo de Emma, enfrentar os medos com ela e entender um pouco mais aquela cabecinha jovem. Porém, quanto a Ingrid, Mills não fazia ideia de quem estava lidando a não ser pelas coisas que Emma lhe contou sobre ela.

— Obrigada por estar aqui. — falou a moça, levando aos lábios a bebida quente.

— Não vou sair do seu lado nunca. — A escritora fez carinho nos cabelos dela de costas para ela, cheirou as madeixas tingidas, imaginando como Emma seria se deixasse a cor natural nos cabelos e deslizou o braço direito pelo dela. — Está mais calma agora?

— Uhum. — Emma gemeu. — Foi apenas um sonho ruim. Seria pior se eu estivesse sozinha. — Já não bebia muito o chocolate quente, olhava-o esfriar na caneca.

— Passou, querida. Está tudo bem agora. — Regina repetiu os gestos anteriores.

— Acho que nunca estarei totalmente tranquila enquanto viver nessa casa. É meu lar, onde fui criada a vida toda, porém eu vivo sob o medo de Ingrid voltar e me obrigar a aceita-la aqui. Nem sei se suportaria ver a cara dela de novo. — soou como um lamento.

Regina deixou sua caneca sobre a cômoda e contornou a jovem. Na verdade, não suportava mais ficar naquela posição em que não se viam de frente, olho no olho. Então deu um jeito de coloca-la mais ao seu lado para conseguir fitar Emma melhor.

— Tenho que perguntar, Emma. Se sua mãe voltar antes de partirmos, o que você vai fazer?

— Não sei. — Emma abriu seu par de verde e vagou pelo tapete da sala. — Devo pensar em fazer alguma coisa com ela?

— Você deve pensar que já é uma adulta e pode encará-la de igual para igual. Sua mãe pode ter feito muito mal a você, ainda assim ela é sua mãe.

— Toda vez que diz isso eu sinto ânsia de vômito.

— Desculpe-me, meu amor.

— Você também devia se sentir assim quanto ao seu marido.

— Ex-marido. — corrigiu Mills. — Não tenho ódio dele, nem medo. Sinto receio do que ele pode fazer a si mesmo e consequentemente a mim se estiver perto dele.

— Não é a mesma coisa?

— Não acho que seja. E por favor, vamos evitar falar dele.

— Me pergunto o que seria de mim se meu pai tivesse me assumido. — Emma divagou sobre um velho assunto. Era raro pensar no pai, no político que Ingrid tentou enganar. Sua expressão se tornou pálida, doente por explicações que nos dias atuais não teriam mais fundamento. — Eu seria uma menina rica. Talvez morasse numa mansão aqui mesmo em Blue Hill, nunca na vida precisaria pensar em trabalhar, teria um carro moderno, tudo, Regina. Tudo.

A sra. Mills tentou acordar a moça do devaneio. Emma estava quente, provavelmente febril.

— E jamais teria me conhecido.

Emma piscou inúmeras vezes.

— Jamais teria te conhecido. — repetiu. — Você no mínimo seria minha escritora favorita. É minha escritora favorita agora, mas é minha amante. Eu teria todos os seus livros, mas nós nos desencontraríamos no meio do caminho, porque um dia eu iria embora de Mary Way Village para viajar pelo mundo as custas do meu pai.

— Seria outra Emma completamente diferente dessa que conheço.

— Bem esnobe e mimada.

— Não tingiria os cabelos.

— Isso eu não faria com certeza. — A moça deixou um sorriso escapar.

Regina sempre soube que de vez em quando Emma pensava nas diferenças se sua vida seguisse outro plano. Não impedia que ela sonhasse, até sonhava junto, e em consequência acabava pensando na vida que levaria se Daniel nunca tivesse descoberto a doença que os levou até aquela cidadezinha do interior do Maine atrás da cura. No fundo, ela não encontrara a cura do marido, contudo encontrara a própria cura de algo chamado infelicidade.

— Ter todas as coisas do mundo não substitui o amor, Emma. — Regina deitou a ela um olhar amoroso.

— Mas eu acabei ganhando todos os prazeres do mundo em um só. — Swan se sentou no colo de Regina, bem de frente para ela. — Você é tudo isso. Eu viveria tudo de novo só para ter a oportunidade de te conhecer mais uma vez, ter a sensação de estar me apaixonando. Isso é maravilhoso, meu amor. — segurou o queixo dela, erguendo-o para si.

Depois que se beijaram, a mulher pensou em levar Emma para cima novamente, mas tão envolvida no romance que esquentava a noite, permaneceu com Emma em seu colo, embaraçando os cabelos, sendo marcada pelos dentes e língua da jovem, morrendo de paixão. Emma fez amor com ela devagar, e não havia hora para acabar. Assim, o pesadelo findou-se num mero detalhe anormal daquela madrugada.



Desde a partida de Regina da mansão, Belle costumava chegar uma hora mais tarde com a cópia da chave dos fundos. A rotina, sempre a mesma de deixar sua bolsa no armário e trocar de roupa fora cumprida à risca. Fez o café da manhã, serviu a mesa e olhou no relógio de coluna do cômodo antes de subir para chamar o patrão.

Prestes a subir as escadas, algo incomum a deteve no corredor. Sapatos. Dois pares. O que significava isso? Pensou que era do sr. Colter, mas um deles parecia feminino demais. Saltos altos. Belle pegou para olhar, um lindo par de sapatos junto dos de Daniel. Esse não era o único detalhe estranho no corredor. A porta do atelier de Daniel estava aberta e lá dentro um vendaval colocou os quadros a baixo. Nada parecia em ordem. Belle viu os armários abertos, garrafas de bebida vazias e um copo caído sobre uma tela antiga. Bem que poderia desvendar o mistério do quadro de pássaro que tinha certeza ter visto um dia entre os tantos outros ali. Porém estava correndo um grande risco perdendo seu tempo. E se o patrão a pegasse em flagrante? Se Daniel estivesse dormindo ela conseguiria achar. Todavia, a curiosidade sobre a dona dos sapatos de salto deixava seus cabelos em pé. De início pensou em Regina que tinha voltado e feito as pazes com o marido.

A empregada subiu as escadas, e a primeira coisa que ouviu foi o som de água caindo. Daniel devia estar no banho. E isso não a impediu de continuar até o quarto dele, pois a porta escancarada seduzia a moça a vir olhar. Ela veio calada, o coração subindo a boca. Uma bagunça também; roupas, mais uma garrafa de bebida e copos no chão. Começou a seguir o rastro que ia da porta até o pé da cama, e então viu os lençóis caindo para o lado de fora, a não ser uma parte que cobria os travesseiros e um volume estranho. Belle jurou que tinha alguém embaixo deles. Teve certeza mais ainda que Regina tinha voltado. Se era a patroa, não se preocuparia em avisar sobre o café da manhã. Então ela deu a volta na cama e tocou no volume com corpo de mulher. Tocou onde achava que estava vendo o contorno de um ombro.

— Regina? — sussurrou. — Fico feliz que tenha voltado para casa. — Tomou cuidado para ser rápida. — O café está pronto.

Belle parou de falar. O corpo por baixo do lençol se mexeu, virou para o lado. O lençol despencou no chão revelando uma mulher loira e nua deitada.

— Hum, bom dia. — disse Ingrid bocejante.

Belle soltou um grito histérico e correu dali.


Notas Finais


Agora o passado entre Ingrid e Daniel veio a tona. A última cena passa uma imagem de que eles foram para a cama, isso parece bem óbvio, e como isso aconteceu eu deixo para o próximo capítulo.

Expresso sempre minha gratidão a todas que estão acompanhando. Recentemente gravei um vídeo para vocês, mas o twitter não me deixou postá-lo. Enfim, amo todas vocês, meninas.

Um beijo enorme e fiquem bem. Até o próximo.


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