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História Intimamente Emma - Feliz aniversário, Emma


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, amigas leitoras.

Depois de alguns dias de férias, estou voltando a escrever essa fanfic e espero que esse capítulo seja tão bom quanto os primeiros para vocês.
Vamos saber mais algumas coisas sobre Emma aqui, já que no capítulo passado houve um grande enfoque em Regina e sua descoberta.

Façam uma boa leitura.

Capítulo 9 - Feliz aniversário, Emma



O dia amanheceu bonito em Mary Way Village, mas no travesseiro de Regina houve uma chuva de lágrimas ao longo da madrugada. Regina não chorou até ouvir o ressonar de Daniel. Ela jurou que não faria isso, mas o peso de ser enganada por tanto tempo doía a garganta e para ter um mínimo de alívio, ela precisava chorar.

Era muito cedo quando ela se levantou e deixou o marido na cama, dormindo como se não tivesse culpa alguma, remorso ou medo. Ela prestou atenção na expressão serena dele, lembrou dos dias de tormenta em que pensou que seria capaz de mata-lo. Valeria a pena para ela fazer isso agora, após descobrir uma verdade tão séria quanto a de uma amante de Daniel? Ela tinha certeza de que o casamento não exista mais, nesse instante, mais do que nunca e, para que não ocorresse uma tragédia naquela mansão, ela precisaria conter sua mágoa até o limite. Regina não sabia ignorar um sentimento, fosse ele de raiva, tristeza ou dor. Havia uma mescla entre os três e ela naquele momento. Ela desceu as escadas, zonza pelo sono mal dormido, se apoiando no corrimão até o último degrau. Seus pés estavam cobertos com um chinelo de pano, para não fazer barulho, então seu caminho pelo corredor deu no atelier de pinturas do marido. A porta rangeu fino quando ela abriu o recinto que por uma razão indeterminada parecia muito mais obscuro do que percebera antes sem Daniel ali dentro.

Regina precisava encontrar uma evidencia, um sinal pouco óbvio de que a amante do marido esteve mesmo na vida dele. Cartas podiam lhe dar uma pista, como o codinome Beija-Flor, mas ela tinha certeza de que se Daniel realmente amou essa mulher, ele certamente a pintou em algum quadro ou pintou algo para dar de presente à ela.

O cheiro de tinta se impregnava nas narinas antes mesmo dela andar entre as telas, observando um mar de pinturas que sequer se lembrava de Daniel ter feito. Ela sentiria vergonha de não se lembrar daquelas telas espalhadas ali no recinto se não fosse o fato de se sentir traída por Daniel. Agora, todas as vezes em que fosse se repreender mentalmente por faltar com o marido, ela pensaria duas vezes, afinal, ele não merecia sua preocupação em nada. Sendo assim, ela andou até os quadros embalados espalhados pelos cantos da sala. Aqueles quadros eram encomendas feitas por diversas galerias de arte, colecionadores e pessoas aleatórias que conheciam o trabalho do artista Colter. Regina, desembalou um por um com cuidado, mas nada de retrato ou dedicatória à mulher que Daniel amou em segredo. Ela esperava encontrar uma pintura vistosa como a sua, aquela que tinha numa parede do escritório onde passava grande parte do tempo escrevendo, uma pintura muito bonita de seu rosto que ele fez com cuidado estudado. Talvez essa fosse a única coisa que sobrara do amor que sentia por Daniel, aquele retrato seu.

Ela queria ver o rosto da mulher, saber quem era, se era bonita, se era interessante, por que atraiu o marido mais que ela esse tempo todo? O que faltava nela para Daniel preferir a outra? Perguntas que se passaram a noite inteira em sua cabeça e agora a deixavam com uma enorme enxaqueca. Regina largou as pinturas do marido e colocou as mãos no rosto, desabando em uma nova tempestade de lágrimas, descumprindo seu juramento de não se abalar.

. . .

Naquela manhã, Emma foi até a floricultura do tio para contar sobre a ligação que recebeu de Ingrid. A garota estava desesperada atrás de uma solução, evitar que a mãe voltasse ou que fosse viver com ela. Em anos, essa era a primeira vez que David via a sobrinha tão chateada com a notícia da volta de sua irmã, porém, pouco poderia fazer por Emma, não impediria a irmã de vir até a cidade natal para se reencontrar com o pouco de família que ainda lhe restava. Apesar de tudo o que Ingrid fizera de mal na vida, sempre se colocando em primeiro lugar, ele não sentia rancor dela, nem conseguia. Por isso, ouvir a sobrinha naquela manhã o deixou triste, ao mesmo tempo aliviado de saber que Ingrid poderia ter mudado, mas isso era apenas uma esperança utópica. No fundo ele sabia tanto quanto Emma que ela não iria mudar como pessoa.

A moça se sentara com o tio em um banco nos fundos da loja, entre uma selva de plantas grandes o suficiente para Mary ou Zelena os descobrirem conversando. O assunto Ingrid era algo reservado para os dois desde que a mulher foi embora da cidade e abandonou Emma com a avó. Mary nunca entendeu bem a história, só conhecia o que tinha escutado falar e na verdade não estava ligando se Emma viesse viver com David e ela. Ela gostava da garota, contudo, a passividade do marido quanto a irmã, às vezes a incomodava, por essa razão, ele parou de mencionar o nome de Ingrid em casa e assim ficaria até que ela voltasse a vê-lo.

Ele estava sempre atento para que nenhuma das duas pessoas além dele na loja viessem ouvir o que Emma o contava e, por sorte, ninguém veio atrapalhar.

Emma parecia indignada. David perdeu as contas de quantas vezes viu a sobrinha suspirar pesadamente e segurar o choro, ele sentia muita pena dela.

— Infelizmente o máximo que posso fazer, Emma, é conversar com ela. Mas impedir é algo que não garanto que eu consiga. Ela quer voltar, talvez tenha sido demitida de onde estava trabalhando e quer ver se encontra alguma oportunidade aqui perto de nós. Sei que se sente magoada, todos nós estamos chateados com ela pelo o que ela fez a você, só acho que devemos dar uma segunda chance. — dizia ele todo preocupado.

Emma fechou os olhos apertando eles, virou a cara.

— Você disse exatamente a mesma coisa seis vezes. As seis vezes em que ela voltou você repetiu isso e o que aconteceu depois? Nada. Ela não vai mudar. Eu estou cansada dessa mulher na minha vida. Toda vez que ela volta tudo vira um inferno de novo. As pessoas me odeiam por causa dela, você não tem noção do quanto isso é revoltante.

— Claro que tenho noção do quanto isso te chateia, mas ela é sua mãe, queira você ou não. — disse ele.

Emma se levantou do banco e andou quatro passos adiante, de braços cruzados, olhando para o chão da loja.

— Não quero ela morando comigo. Na minha casa ela não pisa mais.

— Você não pode impedir que isso aconteça também, a casa onde você mora pertence a todos nós, fomos criados lá, querida. Se sua mãe quiser ela pode fazer tudo lá dentro.

— Você tem que me ajudar, tio. Eu não quero essa mulher perto de mim de novo. — Emma implorou com as mãos juntas.

— Eu vou fazer o que estiver ao meu alcance. — David respirou fundo. — Apenas acho que você e ela precisam ter uma conversa séria. Se for o caso esbraveje, grite, chore... Você tem que colocar seus sentimentos para fora, filha. — Ele a chamava assim quando queria cuidar dela, dar conforto, fazer qualquer coisa para protege-la, porque para ele, Emma era como a filha que não teve com a esposa.

A moça voltou até o tio, deu-lhe um beijo no rosto e saiu sem dizer nada da loja. Na saída passou por Zelena que sacodia um tapete empoeirado na hora em que ela veio. A funcionária da floricultura perguntou se ela já estava indo embora, mas Emma não respondeu, sequer escutou a ruiva falar com ela.

Swan tinha que ir trabalhar no Hotel Hopper, então foi andando pela calçada com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, fitando seus sapatos, pensativa. Sem muito esforço, lembrou de Regina, da tarde do dia anterior, o que haviam conversado e do abraço no final. A vida poderia ser composta de momentos como aquele com Regina, pensava Emma. Jamais abraçou uma pessoa daquela forma, e se tivesse que escolher voltar no tempo, iria parar naquele exato instante, nos belos segundos em que esteve nos braços dela.

De certa forma, isso fez Emma esquecer um pouco da mãe e dos problemas que estava enfrentando, mas a realidade a chamou de novo quando percebeu que estava na porta do Hotel e que um dia longo de trabalho esperava por ela lá dentro. Não tinha escolha.



No dia do aniversário de 18 anos de Emma, ela acordara com um estranho frio na barriga, mas antes fosse por uma novidade. Emma não sabia por qual razão tinha acordado daquele jeito, já que não poderia esperar muito da data, pois ninguém além do tio faria algo para ela naquele dia. Menos de uma semana se passou desde o encontro com Regina no mirante da cidade e a xícara de chocolate quente; elas não se viram mais depois desse dia. Sentia falta da sra. Mills Colter, se bem que começava a achar que ela preferia ser chamada apenas de sra. Mills sem o Colter, mas desconhecia a razão. Às sete da manhã Emma olhava para o teto de seu quarto dentro daquela casa antiga, pensando em Regina, ela também não poderia lhe fazer companhia hoje.

Em todos esses anos, ninguém, nem o tio pôde ter um momento para ela em seu aniversário, Emma sempre precisou esperar anoitecer para comemorar, sempre precisou esperar a hora dele para ganhar um bolo com uma vela em cima preparado por Mary e só. Não pedia nada, nunca pediu sequer uma boneca de presente. O tio costumava a presentear com um bolo e três embrulhos: bombons, uma pelúcia, uma joia. Emma guardava todas as pequenas coisas que ganhara dele em um baú, mas as joias, cordões de ouro, pulseiras, brincos de prata ela não pôde guardar ou melhor... Roubaram dela. Um dia, quando tinha 15 anos, Emma voltara para casa após as aulas e a gaveta da penteadeira, justamente uma com fundo secreto fora remexida. A única pessoa que entrara ali e poderia saber onde seus presentes de valor estavam era Ingrid. Naquela época, a moça não quis acusar a mãe, contudo, as decepções seguintes e as de antes só confirmaram suas suspeitas. A jovem nunca contou ao tio sobre o que ocorrera, nem contaria, ele não merecia se decepcionar ainda mais com a irmã.

Lembrando vagamente disso, Emma se levantou. Mesmo que os presentes fossem coisas vagas, ela não esperava por eles, nem pela companhia de Regina a única coisa que realmente desejava ter. Andou até a sacada do quarto, abriu as portas e viu o céu claro de uma manhã de quinta-feira. Ela agarrou o ferro da sacada e mirou na direção oposta da rua, a casa da sra. Mills. Não havia movimento, não viu ninguém. As janelas viviam fechadas, a não ser uma perto da saída que Emma julgava ser a do pintor que vivia com Regina. Dois minutos mais tarde, Emma já havia se debruçado, imaginando se Regina sairia de casa, e de alguma forma ela não estava errada. A porta da frente da casa se abriu, a mulher saiu de dentro trajada toda de preto, óculos escuros e de longe, de onde Emma via, parecia mais pálida. Emma se escondeu atrás da porta como se pudesse ser descoberta, mas desistiu quando notou que Regina não conseguiria vê-la se não quisesse. Ela tirou o carro da garagem numa lentidão cansada, como se não estivesse nem um pouco animada para sair, então após fechar a porta do veículo, o carro fez uma curva no fim da rua e sumiu.

O coração de Emma estava disparado de uma forma que ela não podia controlar. Ter visto Regina a deixou ofegante, nervosa, ela não estava entendendo. Entrou pressionando a mão no peito, como se estivesse sentindo algo ruim, mas não por ter visto Regina e sim por ela. Alguma coisa aconteceu a Regina, e Emma não conseguiu tirar isso da cabeça.

. . .

Archie deu uma folga à Emma já que o hotel estava vazio e o único hóspede levaria uma semana para sair de lá. A garota acabou indo em vão para limpar os quartos, mesmo assim, ficou feliz por não precisar trabalhar, não estava se sentindo bem desde cedo, quando avistou Regina da sacada de seu quarto. Saiu do hotel rindo ironicamente da falta de interesse de Archie em se lembrar de seu aniversário, porém, ela tinha certeza de que se fosse o aniversário de sua mãe, ele se lembraria muito bem. Estava acostumada a ser esquecida, não se sentia tão incomodada mais como acontecia antes.

Emma veio andando pela calçada, ia ver o tio na floricultura quando passou por um carro escuro, largo, reconheceu a placa. Ela parou para olhar o carro de Regina estacionado rente ao meio fio, na frente de uma farmácia homeopática. De repente estava com o coração a palpitar novamente, sentia os dedos das mãos tremendo. Ficou tão tensa que nem percebeu quando a mulher parou atrás dela, segurando um embrulho em uma das mãos e esperando Emma nota-la ali, mas a moça ficou parada.

— Emma?

A voz da mulher penetrou seus ouvidos, indo tão profundamente em sua cabeça que a moça quase tonteou. Olhou para trás, por cima do ombro, Regina estava ali de pé, bem perto dela.

— Sabia que era você, reconheci o seu carro. — disse Emma com ar ofegante.

— Você está se sentindo bem? — Regina perguntou com preocupação.

— Eu estou ótima, por quê?

— Para mim parece estranha, está pálida.

Se Emma admitisse que estava se sentindo mal desde que a viu mais cedo, estaria traindo a si mesma. Preferiu ficar quieta sobre isso.

— Impressão sua. — empinou o nariz.

Pálida mesmo estava Regina, pálida feito um vampiro. Era como se não estivesse se alimentando há dias, o rosto estava mais fino, a expressão severamente fechada e os dentes bem firmes que Emma conseguia enxergar o maxilar inferior da mulher se contrair. Isso devia causar uma grande enxaqueca em Regina, era quase uma mania dela que estava piorando.

— Acho que você comeu alguma coisa que não fez bem. — disse Regina. — Pelo menos é isso que parece. — Regina andou até o carro, abriu uma porta e jogou o embrulho no banco de trás, displicentemente. Bateu a porta novamente e se voltou à Emma. — O que faz andando por aqui a essa hora? Não devia estar trabalhando?

— Ganhei uma folga. — Emma deu de ombros, observando a sra. Mills. — O que era isso que veio buscar aqui?

Por um momento, Regina se irritou com a curiosidade de Emma, mas andava irritada com tudo, então deixou a sensação ruim passar para responder a moça.

— Remédios para o Daniel. — disse ela, seca, direta, séria.

Emma teve medo do tom da voz dela, sua desconfiança se tornou maior.

— Hum... — olhou Regina dos pés à cabeça, se alguém não estava bem ali, com toda certeza era ela. — Escuta, o que aconteceu com você, hein? Você está com uma aparência péssima.

Regina não quis falar. Se virou e abriu a porta do carro para entrar e ir embora.

— Hey! Me responde, o que houve com você?! — Emma insistiu.

— Prefiro não falar sobre isso. Sinto muito. — Regina se fechou e não devolveu o olhar a Emma por enquanto.

— Então aconteceu alguma coisa.

— É, aconteceu, mas não quero falar sobre isso.

Emma teve um pressentimento.

— Foi ele, não foi? Seu marido. É alguma coisa com ele, só pode, ele é o único que pode fazer algo com você.

Regina virou o rosto para ela, mas ainda não conseguia olhar, nem sequer tinha retirado seus óculos escuros da cara.

— E se foi ele? O que você faria para me ajudar?

A moça não precisou pensar muito.

— Até matar, só que hoje eu tenho que pensar duas vezes antes de fazer isso... Acabei de fazer dezoito anos, não sou mais julgada como uma menor de idade, ou seja, sem chance de escapar. Mas podemos pensar em um plano. Que tal envenená-lo, empurrar ele da escada e dizer que foi um acidente? — ela brincava com as alternativas, e Regina apenas suspirava.

— Não daria certo. — a mulher disse, desanimada.

Emma percebeu que não estava colaborando para o humor de Regina, pensou em algo mais prático e objetivo.

— Desculpa. Claro que você não quer matar seu marido, eu só estava brincando. Hoje é meu aniversário, eu sei que você não pretende deixar de jantar com Daniel, mesmo assim vou convidar você para ir lá em casa comer um pedaço da torta que meu tio deve me dar de presente logo mais.

A mulher finalmente tirou os óculos escuros, mostrando a Emma o verdadeiro estado que dias de lágrimas deixaram em seu rosto. Duas olheiras tão fundas quanto um abismo. Ela deu um sorriso calmo à Emma, assentiu e pensou no convite. A inocência misturada a audácia de Emma eram as duas coisas que mesmo tão opostas pareciam encantadoras naquela jovem. Ainda que Emma tivesse só 18 anos, falas como as de uma moça de 15 e temperamento de alguém de 55, ela não enganava Regina. A escritora teve mais um daqueles lapsos de vontade de escrever, a mágica que acontecia quando estava com Emma. Não escrevia nada há mais de cinco dias, não pensava em terminar seu livro tão cedo, contudo, de repente tinha de fazer isso imediatamente.

— Vou pensar no seu convite. — Regina foi sincera, isso fez Emma sorrir.

— Eu vou esperar por você. — disse a moça que aos olhos de Regina, tinha até crescido desde a última vez em que se viram, ela estava mais mulher do que antes, coisa que não passou despercebida de seus olhos. — Eu juro que vou esperar.

As palavras intimaram Regina ao encontro, mas ela não podia dizer nada, não tinha como confirmar que estaria na casa da jovem à noite. Ela colocou os óculos na cara e saiu com o carro pela avenida.

. . .

Swan não foi até a floricultura de seu tio, preferiu voltar para casa e ansiar pela visita de Regina. Alguma coisa dizia que ela viria mais tarde e sua espera compensaria. Sendo assim, Emma, com uma esperança indomável se arrumou sem perceber que havia exagerado para receber uma mulher em sua casa. Levou o dia todo escovando os cabelos, acertando a maquiagem, passando o vestido de mangas longas cor de pérola, este último era outro presente do tio e começava a ficar curto, um sinal óbvio de que cresceu desde que o ganhou. Ela trançou os cabelos, mecha por mecha, pacientemente, até ficar do jeito que queria, enrolando-o entre a cabeça e a nuca. Uma verdadeira princesa, e isso tudo para ter no mínimo um elogio da vizinha que morava no fim da rua.

Esperou boa parte do começo de noite, ficou na sacada olhando para a mansão da sra. Mills, mas não viu ninguém além de sua conhecida, Belle, sair da casa depois de trabalhar. Havia escurecido, provavelmente seu tio David e Mary estariam chegando com o presente que prometeu à Regina. Emma não estava errada.

Eles estacionaram a caminhonete na calçada de Emma logo que ela fechou a sacada do quarto. Mary trazia nas mãos uma formosa torta de cereja, preparada com tanto cuidado que daria pena de comer. David ajudou a esposa a subir os degraus que antecediam a entrada da casa e ele mesmo tocou a campainha duas vezes, insistente.

A jovem abriu a porta e os encontrou sorridentes, certos de que estavam fazendo uma grande surpresa para ela, mas aquilo era a coisa mais certa de acontecer em seu aniversário. Então Emma os abraçou, primeiro o tio, demorando para soltar do pescoço dele e em seguida Mary, com algum receio de derrubar a torta.

— Feliz aniversário! — disseram os dois juntos.

— Obrigada. — respondeu Emma, corada, sempre ficava com atenção em excesso. — Entrem. — ela os chamou para dentro e Mary rapidamente pousou a torta sobre a mesa de jantar de Emma, perto da cozinha.

— Ah, filha, como está bonita. É uma mulher feita. — disse David admirado.

Emma pegou na mão dele e sorriu de seu jeito.

— São seus olhos que vivem me mimando, até se eu estiver suja de lama você vai me achar linda, tio.

Ele a puxou para um novo abraço e selou o alto de sua trança. Mary voltou até eles.

— Seu tio está certo, Emma, você cresceu e se tornou uma mulher linda. Agora só falta arranjar um namorado. — Mary soou inocente, juntando as mãos perto da barriga, porém, namorar não estava nos planos da jovem.

— Você agora é uma mulher, Emma, tem dezoito anos e uma vida inteira pela frente, e eu sei que vai realizar todos os seus desejos. — David dizia aquelas coisas repousando as palmas das mãos sobre os ombros da sobrinha. Em um breve momento virou-se para Mary pedindo algo. — Querida, o embrulho.

— Ah, aqui está. — Mary pegou algo de um bolso do casaco que vestia e entregou ao marido.

— Emma, isto aqui é para você, uma coisa muito especial que todo pai deve oferecer a uma filha e tenho você como minha filha de verdade. — ele passou para as mãos dela.

A moça já sabia exatamente o que era, o mesmo tipo de presente que ganhava, uma joia delicada como o tio julgava ela própria. Dessa vez, ganhou dele um anel de ouro, fino ornamentado com uma pedrinha de cristal. Achava que ia receber outro colar que nunca iria usar, não por não gostar deles, mas por nunca se acostumar com algo em seu pescoço que não fosse um cordão de pano. Errou por pouco. Ela gostou do anel, o colocou no dedo indicador da mão esquerda e sorriu para os tios sem pensar demais.

— É lindo, obrigada!

— Seu tio e eu escolhemos esse para fazer parte da sua coleção. — falou Mary, sem saber o que de fato havia acontecido com todos os outros presentes que deu para Emma em aniversários anteriores.

A garota ficou pálida de súbito e tentou disfarçar saindo de perto deles, indo na direção da torta.

— Vamos comer, sim? A torta está com uma cara ótima.

David e Mary não desconfiaram do que Emma escondia há algum tempo. Emma sentia vergonha de lembrar do que a mãe possivelmente foi capaz de fazer com ela. Mesmo que o que tivesse fosse pouco, as pequenas joias que o tio lhe dava de aniversário, tinham algum valor e nem o carinho do irmão com sua filha Ingrid respeitou quando as levou.

Enquanto saboreavam a torta de cereja, Emma se preocupava com Regina. Até aquele momento ela não aparecera, e já estava ficando tarde para a visita. Emma imaginava que a sra. Mills tivesse uma vida agitada cuidando do marido e da casa, além de escrever nas horas vagas, mas hoje cedo quando encontrou com ela na calçada da avenida, teve certeza de que ela apareceria. Passava da hora do jantar, David encontrou numa prateleira um disco antigo dos Bee Gees, coisa que certamente era de sua mãe, avó de Emma e que a jovem herdou por um acaso. Colocou o disco no som e virou-se para a sobrinha, chamando ela com a mão estendida para uma dança.

Mary assistiu os dois dançarem e rirem as canções ora animadas, ora devagar. Emma se divertiu como uma dançarina de polca. Seu tio ensinou alguns passos de como se dançava a dois quando girou com Mary pela sala de forma admirável. Ela bateu palmas para os dois, achando muito bonito vê-los juntos, mas pouca coisa interessada. Estava perto da janela do cômodo, olhando para a rua, esperando uma sombra aparecer entre as plantas do quintal e o portão.

— Querida, está tarde, precisamos ir. Você vai ficar bem? — perguntou David, recolhendo seu casaco.

— Vou sim. Obrigada por terem vindo, eu adorei o presente e a torta. — Emma andou até a porta no Hall e abriu para os dois.

— Coma o pedaço que sobrou no café da manhã de amanhã. — sugeriu Mary, beijando o rosto dela.

— Com certeza farei isso. — Emma pensou que era um pedaço grande demais para se devorar inteiro no café da manhã. Ela esperava que outra pessoa dividisse com ela.

— Boa noite, querida. — disse David, abraçando a sobrinha com força o suficiente para deixa-la sem ar.

Após isso eles saíram pelo portão, foram embora acenando de dentro da caminhonete, deixando Emma solitária com sua esperança.

No relógio faltavam vinte minutos para as dez, passou da hora da escritora aparecer. Emma não conseguia acreditar que foi enganada. Esperou no portão, se agarrando nas grades, e nada de Regina.

Estava começando a engolir o nó na garganta quando entrou e bateu a porta com raiva. Esperou mais um tempo atrás da madeira, imaginando a campainha soar alto e vê-la ali parada com um sorriso lindo só para ela, mas nada havia acontecido. Emma foi se deitar no sofá da sala, afundar a cabeça na almofada e segurar o choro. Ainda tocava Bee Gees no aparelho de som:

 

If ever you got rain in your heart,

Someone has hurt you, and torn you apart,

Am I unwise to open up your eyes to love me?

E nada de Regina.

And let it be like they said it would be

Me loving you girl, and you loving me.

Am I unwise to open up your eyes to love me?

 

Até que...

A campainha soou pela casa. Emma abriu os olhos, se sentou e ouviu de novo para crer que aquilo estava acontecendo. Ela correu até a porta, tropeçando, escorregando entre o tapete e o chão, escancarando-a para encontrar com a pessoa que mais esperava. Ali estava Regina, perfeita elegante, de pé olhando para ela.

— Eu sabia que você viria. — Emma soltou as palavras como um sopro de alívio.

Regina devolveu um sorriso acanhado, segurava um livro nas mãos, entre suas mesmas roupas pretas de cedo.

— Feliz aniversário, Emma.


Notas Finais


Não sei vocês, mas esse final de capítulo se tornou o meu favorito até agora. Não se preocupem, pois já estou escrevendo o capítulo seguinte e não pretendo demorar.

No mais, aquele abraço para todo mundo que esperou, continua acompanhando e comentou. Muito obrigada. Continuem fazendo isso.

Até o próximo. Um abraço e fiquem bem.


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