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História Into The Dead - Capítulo 1


Escrita por: control5h

Notas do Autor


É a minha primeira fanfic. Espero que gostem e me perdoem por qualquer erro.

Capítulo 1 - Capítulo 1


Lauren PDV

O barulho do meu coração enlouquecido ecoava por meus ouvidos. Eu tentava controlar minha respiração descompassada enquanto corria desesperadamente pelos corredores do hospital abandonado. Os únicos barulhos que ressurgiam era os das minhas botas batendo no chão e os gemidos guturais das criaturas atrás de mim.

 Mentalmente, eu implorava que uma das três portas no fim do corredor estivesse destrancada. Meus dedos estavam com uma tonalidade branca por causa da tamanha força que eu segurava a minha Glock 19 na mão esquerda. Paro de correr bruscamente, fazendo com que eu escorregasse pelo chão empoeirado do hospital que não via um paciente “vivo” há meses.

Forço a fechadura e a maçaneta não gira, o que faz meu desespero aumentar ainda mais. Três figuras corriam a frente de seu bando composto por quase uma dúzia de mortos-vivos. O primeiro cadáver é um andarilho baixo e pálido usando uma camisola hospitalar suja de sangue seco e escuro, com a metade do rosto faltando e com vermes à mostra. As outras duas figuras são mulheres: uma mais alta, com os cabelos brancos e o lábio inferior mordido, e outra, uma morena com metade de seu abdômen rasgado.

Meu estômago revira, não pelo estado dos monstros, mas sim pelo fato de que eles estavam cada vez mais perto. Corro em direção da outra porta e novamente a maçaneta não gira. Os pares de olhos esbranquiçados estavam vidrados em mim, como animais primitivos e ferinos, esfomeados.

– Merda! – choramingo baixo.

A outra porta estava no extremo do corredor. As três figuras que se aproximavam com o característico passo desengonçado e dentes batendo, estavam a menos de dois metros de mim. Miro no primeiro morto-vivo e puxo o gatilho. Um buraco se abre no crânio do cadáver baixo fazendo com que o líquido oleoso e escuro jorrasse na parede perto dele.

Corro em direção da última porta. À esquerda havia mais um corredor e o barulho das minhas botas alarmaram mais cinco criaturas que estavam alheias a minha presença até aquele momento. Os mortos-vivos se viraram e começaram a correr em minha direção, famintos.

- Droga, droga, droga! – eu grito, girando a última maçaneta. Um breve suspiro de alívio sai por meus lábios quando a porta se abre. Não penso duas vezes antes de adentrar no cômodo e tentar fechar a porta.

Os grunhidos guturais aumentavam enquanto os quatros primeiros corpos forçavam a porta, tentando abri-la. Eu empurro com mais força, usando o restante de energia que ainda existia nos meus músculos cansados.

– Vamos lá! – eu rosno, tentando fazer com que meus pés não deslizassem no chão.

Com muito esforço eu finalmente consigo fechar a porta. Procuro pela chave, mas ela não estava na fechadura. Seria então uma questão de tempo até que eles entrassem. Encosto-me à madeira fria e inspiro fundo tentando controlar minha respiração e meus batimentos cardíacos.

“Eu sabia que esse plano era falho desde o começo!” minha voz interna gritava.

Pisco algumas vezes para me acostumar com a escuridão completa e procuro no cós da calça por minha lanterna. Retiro-a e acendo, iluminando o cômodo que parecia ser um depósito. Energia elétrica e água encanada não eram mais luxos de que usufruíamos.

Enxugo o excesso de suor na minha testa e começo a andar, ignorando os barulhos da madeira estalando por causa dos murros dos mortos-vivos do outro lado. Pego minha mochila vazia nas costas e a abro, começando despejar qualquer medicamento e material hospitalar dentro.

– Dá próxima vez não se ofereça para vir em uma missão suicida, Lauren. – rosno comigo mesma, colocando a mochila cheia nos ombros novamente. Pego minha Glock e verifico quantas balas ainda restavam no pente.

Apenas duas.

– Ótimo!

Os outros dois pentes haviam ficado em cima do balcão no andar inferior. Não tive tempo de pegá-los novamente por ter sido abordada pela dúzia de mortos-vivos que estavam dentro de uma sala cirúrgica, provavelmente alheios após devorar o último paciente meses atrás. Bastou encostar e derrubar um porta-canetas para que o inferno começasse. Eu tentei correr em direção à saída do hospital, mas, ao ver que estava encurralada, tive que subir as escadas em direção do segundo andar.

Com a lanterna na mão esquerda e a arma na direita, eu começo a procurar outra saída do depósito. Acho uma porta de vidro e hesito por alguns segundos, estudando atrás do vidro fumê se havia algum andarilho do outro lado. Guardo a lanterna e giro a maçaneta já com a arma levantada. Fecho a porta e noto que estava em uma de varanda longa onde algumas máquinas de lavar estavam abandonadas. Entretanto, o único problema era que não havia saída ali.

Olho pela lateral do prédio procurando por alguma saída de emergência. Vejo uma escada na lateral esquerda e olho para baixo vendo que minha única escapatória daria em um estacionamento. Os únicos andarilhos à vista vagavam pelas ruas frias de Miami, atrás de uma grande cerca que os separava do South Miami Hospital. Coloco minha arma no cós da calça e subo na beirada esticando o meu braço o máximo que conseguia para alcançar a escada.

Jogo meu corpo e por pouco não escorrego ao segurar o metal frio da escada. Desço com cuidado cada degrau e o silêncio, além dos grunhidos fracos ao longe, me deixava ansiosa. Ao chegar ao último degrau percebo que ainda estava longe do chão, então forço a estrutura para baixo, mas ela sequer se mexe. A chuva e o inverno do mês de Dezembro – de acordo com o velho calendário que eu ainda insistia em guardar – provavelmente haviam corroído o metal e o emperrado.

 Com um xingamento saindo por meus lábios olho para baixo e calculo que seria talvez uma queda de cinco ou seis metros. 

Mas quando penso em voltar e procurar por outra saída, o barulho alto de vidro se quebrando ecoou. Os grunhidos guturais estavam mais raivosos e segundos depois vejo os cadáveres se dependurando na varanda, tentando me alcançar. Meu coração disparada e novamente, sem sucesso, tento forçar a escada para baixo.

 Um vulto passa perto do meu ombro esquerdo e ouço o barulho aquoso do crânio e o restante do corpo se espatifar no chão embaixo de mim. Eles iriam cair sobre minha cabeça a qualquer momento.

 Engulo meu choramingo e preparo meus joelhos antes de soltar o metal da escada.

 Um grito de dor sai por meus lábios quando meu tornozelo direito entra em contato com o cimento frio do chão. A dor da possível entorse e ruptura da articulação queimava meu corpo. As lágrimas brotavam em meus olhos enquanto eu suspirava em dor, sabendo que não poderia fazer nenhum ruído.

Eu me assusto quando outro morto-vivo cai ao meu lado.

Levanto tentando inutilmente apoiar meu pé direito no chão. Começo a mancar até a minha arma que havia escapulido de minhas mãos na queda. Ao me colocar ereta novamente, ouço um grunhido perto do meu ouvido direito e mãos frias e esqueléticas seguram minha jaqueta preta.

O fedor de carne pútrida e mofo adentram por minhas narinas ao encarar o rosto estraçalhado do que foi um dia talvez um gordo simpático. O adolescente que agora faltava um braço e tinha suas tripas penduradas colocou totalmente seu peso sobre mim, fazendo-me cair pela falta de apoio do meu pé direito.

Minha arma escorrega da minha mão novamente e desliza ao lado da minha cabeça. Seguro o braço pesado e o pescoço do morto-vivo que tentava de qualquer maneira abocanhar um pedaço do meu rosto. Seus dentes podres e olhos esbranquiçados me faziam entrar em desespero. Começo a me debater, tentando me livrar.

Solto seu pescoço e, com a mão trêmula, pego a arma ao lado da minha cabeça. Ele já abaixava o rosto para provar da carne suculenta do meu ombro esquerdo quando eu apertei o gatilho. A parte de trás da cabeça do monstro explodiu e a gosma do líquido encefálico espirrou no meu rosto. Fecho os olhos e a boca automaticamente, evitando entrar em qualquer contato com aquele desgraçado.

Rolo para o lado, atordoada pelo barulho do disparo tão próximo dos meus ouvidos. Limpo a gosma de meu rosto com a barra da minha camiseta e tento me colocar de pé. E então meu coração acelerou ao ver, agora visível por estar no andar inferior, uma horda de quase cinquenta mortos-vivos empurrando fortemente uma parte da cerca que estava quase cedendo. Os ferros presos ao chão começavam a se amassar por causa da tamanha quantidade de carne morta.

– Ai puta que pariu... – minha voz saiu em uma espécie de sussurro, enquanto eu continuava paralisada no mesmo lugar.

Não penso duas vezes antes de pegar a arma no chão e colocar o peso em apenas uma perna. Porém, quando me viro para correr na direção oposta, a primeira coisa que eu vejo é o cano de uma pistola apontando diretamente para o meio da minha cabeça, à cerca de um metro de distância.

Jogue sua arma para cá, agora! – a voz enraivecida da jovem entra por meus ouvidos pela primeira vez.

Um par de olhos castanhos encarava a arma que ainda estava na minha mão direita. A jovem mediana segurava a pistola com as duas mãos, provavelmente temendo tremer ao puxar o gatilho.

– Você não me ouviu?! – ela grita novamente, ao ver que havia sido ignorada. Eu pisco algumas vezes tentando alertar meu cérebro nublado pela adrenalina. – Passe essa maldita arma pra cá!

Eu rosno baixo, mesmo sabendo que uma bala não faria diferença naquele momento. “Apenas faria se eu a enfiasse no meio da cabeça dessa filha da mãe” meu cérebro retruca. Abaixo-me na medida do possível por causa do meu tornozelo e jogo a arma nos pés da jovem mediana, que a pega e coloca na parte de trás da calça.

– Se você me matar, eles virão atrás de você por causa do barulho. – tento ameaçá-la, apontando com a cabeça para a horda que cada vez mais amassava os ferros da cerca.

– Eles virão de qualquer jeito. – ela retruca, com mais raiva ainda. – Porque você foi estúpida o suficiente de puxar o gatilho e atrai-los! – diz, ainda apontando a arma para minha cabeça. Ela engolia seco várias vezes, deixando claro seu nervosismo. – Me passe sua mochila!

– Não... – imploro, voltando a encarar seus olhos castanhos. – Meu povo precisa do que está dentro dessa mochila, por favor!

– Eu não me importo! – ela vocifera, apertando ainda mais a arma entre as mãos. – Me passa a porra dessa mochila!

– Tudo bem... argh! – eu rosno, retirando as alças de meus ombros e jogando a mochila em seus pés.

A mulher pega a mochila e coloca em um ombro, nunca perdendo o alvo que era a minha cabeça. Ela começa a dar passos temerosos para trás ainda me encarando.

– Você não vai me deixar aqui sem nenhuma arma, vai? – grito desesperada, olhando para trás e vendo a cerca a um fio de ceder.  – Como vou me defender assim? – pergunto, apontando para meu tornozelo inchado.

– Boa sorte! – ela diz, dando de ombros.

O barulho da cerca cedendo me faz olhar novamente para trás e ver o bando se livrando dos ferros e correndo em nossas direções. Eu podia jurar que a loira alta que liderava a horda sorria para mim com uma gosma negra em seus dentes, como se visse uma ótima refeição prestes a ser devorada.

                Olho para frente e a morena já não estava mais ali. Ela havia me abandonado sem nada.

– Droga! Droga! – eu choro, começando a correr o mais rápido que eu podia, mas meu pé direito não deixava.

Eu tentava apoiá-lo no chão para ganhar mais velocidade, mas a dor era insuportável. Meu coração batia tão rápido que eu estava ficando surda. Meus pulmões queimavam por ar fresco e meus músculos da perna direita ficavam cada vez mais tensos pela dor.

Eu procurava por todos os lados uma saída, mas meu cérebro inundado pelo medo não conseguia racionar. Olho para trás e vejo que o bando já estava a apenas cinco metros de mim. Meus olhos lagrimejavam, já imaginando meu fim.

Viro uma esquina entre os prédios do hospital e sinto um puxão forte na minha jaqueta preta empurrando-me contra uma parede de tijolos bruscamente. Imagino-me devorada por um morto-vivo e fecho os olhos, esperando a dor da minha carne sendo rasgada do meu corpo. Porém, em vez disso, sinto uma mão quente cobrir minha boca e eu abro os olhos vendo outra vez duas imensidades de chocolate me encarando.

– Corra como você nunca correu na sua vida! – ela ordena, puxando meu braço direito para cima de seu ombro para ajudar com o peso do meu corpo. Eu assenti com a cabeça e começamos a correr pelo beco estreito.

Olho para trás e vejo os mortos-vivos se debatendo para entrarem no beco, mas logo os mais famintos ganharam a frente. Eu estava em uma velocidade maior que antes, mas ainda assim não era suficiente. A mulher mediana estava ofegante e estudava rapidamente as direções que podíamos seguir após chegarmos ao fim do beco.

Qualquer lugar, um vão livre, uma escada de incêndio... qualquer coisa.

Ela me puxou novamente e começamos a correr em direção de uma série de outros corredores que provavelmente nos levariam ao lado extremo do hospital. Passávamos por cestos cheios de roupas hospitalares e restos de entulhos. A mulher levantou a arma e atirou em um zumbi baixo que apareceu de surpresa em nossa frente. O líquido espirrou na parede clara atrás.

A cada cinco segundos eu olhava para trás, apenas para checar a distância da horda. Um suspiro de alívio sai por meus lábios quando eu a perco de vista após virar em mais um beco.

Porém, os segundos de alegria foram interrompidos pelo arrepio frio que cortou meu corpo.

Paramos de correr bruscamente.

A boa notícia era que a horda que vinha em nossas costas estava a quase trinta segundos de distância.

A má notícia é que uma menor, mas quinze segundos mais perto, nos esperava no fim do beco.

Estávamos encurraladas.

- Olha ali... – sua voz saiu como um sussurro em meio ao terror.

Olho para onde ela apontava e vejo uma porta de madeira antiga. A mulher me puxava pela jaqueta, mas eu apenas conseguia olhar a horda se aproximando rapidamente.

9 segundos.

Ela força a porta e choraminga ao ver que estava emperrada.

7 segundos.

Ouço a mulher jogar seu corpo contra a porta para tentar abri-la.

5 segundos.

Ouço a maçaneta girar.

4 segundos

Eu já sentia o cheiro de bolor a centímetros de mim. Dois mortos-vivos de ambos os sexos lideravam e pareciam funcionários de escritório, com a roupa rasgada e cheia de sangue.

Seus braços já estavam esticados.

Sinto então um par de mãos me puxar pela jaqueta e me jogar para dentro de um cômodo abafado. Cambaleando, consigo ver a mulher fechar a porta rapidamente e a trancar. Os grunhidos se intensificaram do lado de fora.

A única luz era a da pequena janela na parte superior da parede. O lugar estava vazio e empoeirado, porém as estantes pareciam mais novas que as demais do hospital. Fedia a naftalina e fezes de roedores.

Com a adrenalina diminuindo aos poucos a dor de meu tornozelo duplicou. Encosto-me à parede, ouvindo as unhas dos mortos-vivos arranhando a porta de madeira antiga do lado de fora. Meus joelhos fraquejaram e eu caí sentada.

Eu não iria chorar. Muito menos na frente da mulher que me encarava com indiferença. Ela procurava algo no cômodo, mas apenas ao confirmar que ele estava mesmo totalmente vazio, xingou baixo. Subo minha calça jeans na perna e vejo a formação de edema e manchas vermelhas no meu tornozelo. Eu mancaria por várias semanas, na melhor das hipóteses.

Ficamos longos minutos quietas e em silêncio, cada uma encarando uma parte do quarto. Apenas os grunhidos dos mortos-vivos ecoavam. Ouvi-los já não era mais estranho depois de meses dessa epidemia.

Uma ideia surge na minha cabeça e eu coloco a mão no bolso interno da minha jaqueta. A jovem rapidamente pega a arma no cós da sua calça e aponta para mim, em modo defensivo.

– Calma... – eu sussurro, retirando minha mão novamente da jaqueta segurando dessa vez o meu Walkie Talkie.

A jovem hesita por alguns segundos e abaixa a arma, colocando-a de volta no cós. Só então eu tenho a oportunidade de estudar seu rosto.

Seus traços eram jovens, com talvez 17 ou 18 anos, e por causa do cansaço do mundo atual parecia ser meia década mais velha. Havia alguns arranhões em seu queixo e no pescoço, mas quase ninguém estava perfeito atualmente. Seu cabelo era grande e caía na metade de suas costas cobertas por sua blusa xadrez azul grossa.

Testo o transceptor de rádio e vejo que ele ainda funcionava mesmo depois da minha queda.

– Alguém...? – sussurro, apertando o botão para falar. Solto o botão e espero a resposta por alguns segundos antes de tentar novamente.  – Alguém na escuta? – rosno, mas ouço apenas chiado, deixando claro que eu falava sozinha.

– Isso não vai dar certo. – a jovem sussurra e eu percebo a decepção em sua voz. – Não aqui em baixo. Você deveria ter tentando isso antes de escalar o maldito prédio!

– Você estava me observando? – retruco, com raiva.

– Como não? – rosna a jovem. – Você chamou atenção de cinquenta zumbis com os tiros dentro do hospital. Eu mal tive tempo de entrar antes de já ser atacada por dois! Você não sabe usar uma porra de arma branca?

– Se eu tivesse uma, eu a teria usado! – respondo, ainda tentando sussurrar. – Mas acho que ela ficou presa dentro do cérebro de uma porra de andarilho quando eu entrei!

– Andarilho? – ela pergunta, sendo irônica. – É assim que você chama os zumbis?

– De pessoas normais é que eu não chamaria, não acha? – retruco, encarando-a.

A jovem dá de ombros e eu a ignoro, voltando a tentar comunicação pelo rádio.

Nada. Ninguém respondia meu chamado e isso já estava me incomodando. Será que algo aconteceu com eles?

Analiso meu tornozelo novamente e vejo que o edema apenas piorava.

– O sol vai se por em poucas horas. – ela sussurra, ficando na ponta dos pés para estudar o outro lado da janela.

– Eu preciso da mochila.

– Não! – a mulher responde, voltando a me encarar. – Você não vai tê-la de volta!

– Eu preciso da porra de uma faixa! – retruco. – Como acha que vou correr com isso piorando?

A jovem me estuda por alguns segundos e suspira ao começar a abrir a mochila. Ela procura por entre os meus pertences e joga no meu colo uma espécie de faixa elástica. Retiro minha bota e começo a envolver meu pé dolorido, engolindo os gemidos de dor quando eu fazia pressão para mantê-la justa. Minutos depois eu termino e coloco novamente a bota.

– Qual é o seu plano agora? – pergunto, com veneno na voz.

A mulher que antes tinha um olhar pacífico para a fresta de luz que entrava pela janela do cômodo me encarava enraivecida.

– O meu plano agora? – retruca, usando o mesmo cinismo. – O meu plano era fugir desse hospital com a mochila nas costas, mas minha maldita consciência não deixou e eu fiquei para salvar sua vida! Isso não é suficiente?

Eu a estudo por alguns segundos, não me deixando levar por aquelas palavras “doces”. Se ela queria ouvir um obrigada, não seria hoje.

– Minha vida não está salva! – replico, usando a parede para ficar de pé com certa dificuldade.  – E nunca estará! O que eu realmente quero é dar o fora daqui o mais rápido possível.

– Pelo menos nisso concordamos.  – sussurra, com uma risada nasal e eu reviro os olhos, com a antipatia por aquela mulher aumentando. – Mas será impossível agora com uma dúzia de zumbis do lado de fora. Podemos esperar a noite cair e...

– E vagar no escuro? Esse é o seu grande plano? – pergunto. – Precisamos é distrai-los com algo!

– Talvez uma isca viva? Que tal você? – ela oferece, levantando uma sobrancelha de modo desafiador e sugestivo. – Me desculpe... Continue com seu incrível plano. – ela dá outra risadinha baixa.

– Eu tenho dois sinalizadores na mochila. – eu reviro os olhos.

– Como vamos jogá-los?

– Tenho a impressão que você passa por aquela janela. – digo, apontando para a estrutura na parede.

Manco até a janela e fico na ponta do pé esquerdo para analisar o lado de fora. Parecia ser uma parte do estacionamento livre de mortos-vivos.

– Você dá a volta e joga os sinalizadores na direção oposta, abrindo caminho para mim.

– Você é corajosa. – ela sussurra. Eu olho para a jovem e vejo que ela me encarava com uma expressão que eu não sabia decifrar. – O que faz você pensar que eu vou voltar para te ajudar?

Engulo seco. Ela tinha razão.

– É uma boa chance. – respondo, não quero parecer fraca ou com medo. – Mas se você não quiser fazer isso, eu dou outro jeito.

– Oh, sério? – pergunta, cruzando os braços na frente do corpo. – Com o seu pé desse jeito?

– Quer saber? – rosno, virando-me para ela bruscamente. – Eu não te conheço e não tenho o mínimo prazer de conhecer. Você apontou a porra de uma arma para a minha cabeça e roubou os medicamentos que preciso levar para o meu povo. Você...

– Bem-vinda ao mundo atual, querida. – ela me interrompeu, calma. – Já era para você estar acostumada.

– Fique com a maldita mochila e as armas! – bufei, engolindo o nó na minha garganta. – Eu só quero voltar para a minha família!

– Você ainda tem o privilégio de ter sua família? – ela pergunta, franzindo o cenho.

Hesito por alguns segundos antes de responder. Uma das regras claras de nosso grupo era não dizer absolutamente nada sobre ele.

– Somos um grande grupo. – minto, tentando intimidá-la.

Ela provavelmente fazia parte de outro, porque suas roupas não estavam em farrapos como estariam as de uma pessoa que vaga por aí sozinha.

– Um grande grupo, huh? – ela diz, abrindo a mochila. – Só essa pequena quantidade de medicamentos daria para um grupo de tantas pessoas assim? – pergunta, lançando-me um olhar de indiferença.

– Não são todos que estão doentes. – respondo, ainda mantendo minha posição.

O silêncio reina por alguns segundos enquanto a jovem remexia a mochila. Milhões de situações eram criadas na minha cabeça. E se ela e seu grupo me seguissem e achassem o nosso esconderijo? E se eles nos saqueassem e nos matassem? E se ela me deixasse ali?

Fecho meu punho automaticamente, querendo ignorar aquela vontade iminente de acabar com a situação. Eu poderia simplesmente aproveitar aqueles segundos de distração dela e envolver seu pescoço e sufocá-la, porque eu era um pouco maior e provavelmente mais forte.

Assim eu teria duas armas e minha mochila de volta, mas uma mínima chance de sair dali. Respiro fundo e tento me livrar daqueles pensamentos. O mundo atual era o palco perfeito para esses desejos sádicos e eu não me deixaria levar por eles. Meus únicos alvos eram mortos-vivos e não pessoas saudáveis.

– Relaxe... – a voz da jovem me retira dos pensamentos. Ela me olhou rapidamente como se soubesse no que eu estava pensando. – Quando eu bater três vezes na porta é porque o caminho está livre.

Ao dizer isso, ela coloca os dois sinalizadores no cós da calça e deixa a minha arma em cima da mesa. “Uma bala para uma pessoa...” meu cérebro vocifera. “Como se ela quisesse que eu a usasse”.

Olho para a jovem que esperava algo de mim.

– Não vai me ajudar? – pergunta, mostrando que precisaria de um impulso para subir na janela.

Caminho até ela e disponibilizo minhas mãos para que ela usasse como impulso. Ela coloca o pé esquerdo e eu a levanto para cima com esforço. A jovem passa as pernas primeiro e não posso deixar de notar a sua bunda passando entre os ferros.

“Wow...” ronrono mentalmente, erguendo uma sobrancelha.

Segundos depois a mulher solta a janela e some do meu campo de vista. Caminho até a mochila e a coloco nas costas novamente.

Ela havia a deixado propositalmente?

– Não crie expectativas por uma pessoa que você não conhece, Lauren. – me advirto.

Pareceram horas enquanto eu esperava algum sinal da jovem.

Sim, ela havia me abandonado. Eu sabia! Eu sabia!

As três batidas na porta ecoam segundos depois. Eu rapidamente giro a chave e a maçaneta e dou de cara com os olhos castanhos e suas pupilas dilatadas pela adrenalina. Sua roupa agora estava manchada de gosma escura e ela tinha uma faca em mãos, pingando sangue. Olho para o lado e vejo a horda no final do corredor, checado o que pareciam ser os dois sinalizadores.

Começamos a correr em silêncio na direção oposta. Eu tentava ao máximo não mancar e choramingar em dor, mas era quase impossível. As primeiras tonalidades do fim da tarde começavam a manchar o céu de Miami.

Viramos uma esquina e paramos bruscamente ao vermos três zumbis devorando o que parecia ser um cachorro. Com seus rostos e mãos lambuzados de sangue, eles disputavam os pedaços do intestino do animal.

*Tshiiiiii*

Lauren? – uma voz feminina em meio ao chiado ecoa.

Meu coração para de bater por alguns segundos enquanto procurava pelo Walkie Talkie desesperadamente em minha jaqueta.

Você... está... aí? Lauren? – a voz feminina pergunta novamente.

– Oh meu Deus! – rosna a jovem mais nova. – Desligue isso, sua idiota! Eles nos viram!

Eu mal tenho tempo de achar o transceptor de rádio quando vejo os três zumbis nos encararem. Eles se levantam e começam a grunhir ferozmente, o que atrai a atenção dos outros cinquenta no final do beco.

"Oh meu Deus!” meu cérebro grita com o tiro de adrenalina no meu corpo.

Viro-me e começo a correr na direção oposta, sem perder tempo. O peso da mochila agora me atrapalhava ainda mais. Sinto então uma mão puxar meu braço direito e vejo a jovem colocando-o em seu ombro, para me ajudar a correr como antes.

Meus músculos estavam esgotados e eu não sabia de onde arranjava mais energia. Talvez do medo de morrer, provavelmente.

Finalmente saímos da área do estacionamento correndo em direção da entrada do hospital, que teve um pequeno, porém ótimo parque. Olho para trás e vejo a horda nos seguindo. O suor pingava do meu queixo. Avisto então uma cerca a quase vinte metros que havia sido usada no início da epidemia para evitar que os andarilhos entrassem no local.

A jovem ao meu lado choramingava perdendo as forças pela falta de fôlego. Dessa vez sou eu quem a impulsiono para frente.  Ela me olha questionando o porquê e eu sinalizo com o olhar que estávamos perto de sairmos daquele inferno. Juntas.

Olhamos para trás e vimos uma figura, que estava com uma roupa de enfermeira, correndo na frente do bando. A jovem ao meu lado levantou sua arma e, mesmo sem mira, acertou o ombro do zumbi, fazendo-a cair no chão.

Ao chegarmos à cerca, não perdemos tempo e procuramos a corrente para trancá-la. Enquanto a jovem empurrava a cerca para fechá-la, eu pegava o cadeado com as mãos trêmulas. Rapidamente passo a corrente na cerca e fecho cadeado, retirando as mãos segundos antes de um zumbi quase abocanhar meus dedos.

 Damos passos temerosos para trás enquanto a cerca resistia à horda.

Eu e a jovem caminhamos até estarmos a uma distância segura do local. Alguns andarilhos caminhavam em nossa direção por causa do barulho dos outros, mas desviávamos deles facilmente graças aos inúmeros carros abandonados no meio da rua.

Paro de andar apenas quando encosto-me a uma camionete Chevy para recuperar o fôlego. A jovem também para e se curva para frente, provavelmente passando mal.

*Music On* (I’m A Man – Black Strobe)

Retiro minha jaqueta por causa do calor infernal que eu sentia naquele momento. A jovem ainda estava curvada para frente, porém menos ofegante. Olho por entre os carros, apenas para me certificar que os zumbis continuavam atrás da cerca.

– Obriga... – eu começo a falar enquanto me virava, mas então percebo a arma na mão da jovem.

Me desculpe, mas eu não posso arriscar!

A última coisa que vejo é o cabo de sua arma vindo em direção da minha cabeça e a dor da pancada me fazendo desacordar.

 

Os grunhidos ao fundo me faziam despertar lentamente. A dor do meu tornozelo agora se misturava com a dor na minha cabeça. Ainda de olhos fechados coloco a mão na minha testa e suspiro por causa da sensibilidade. Abro os olhos e vejo o sangue na ponta dos meus dedos.

Tudo ao meu redor estava embaçado por causada minha sonolência e eu me sento. Vejo um volante na minha frente e franzo o cenho, ainda zonza.

Uma tapa no vidro ao meu lado me faz dar um grito de espanto.

Uma mulher tinha a metade do rosto rasgado e seu globo ocular estava pendurado por causa do nervo óptico. O sangue seco estava espalhado por seu queixo e dentes podres.

Meu coração batia descompassado.

Olho para os lados e percebo que estava presa dentro da cabine da camionete Chevy. A noite englobava tudo ao redor, mas eu podia ver os zumbis ao redor do capô e lataria, tentando de qualquer jeito me alcançar dentro do carro. Seus braços batiam contra o vidro e arranhavam, criando o barulho agonizante da unha fina.

Aos poucos a raiva fervia meu sangue. Procuro por minha mochila e minha arma, mas nada além de uma garrafa com água estava no banco ao meu lado.

"Talvez uma isca viva? Que tal você?” a sua voz voltava a minha mente, apenas para alimentar o ódio.

Aperto o volante entre minhas mãos e grito amaldiçoando aquela mulher. Ela havia me abandonado sem nada e eu a acharia. Eu a acharia apenas para mostrá-la quem é Lauren Jauregui.



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