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História Into The Dead - Capítulo 20


Escrita por: control5h

Notas do Autor


E cá estamos nós com o último capítulo da maratona. Depois de passar tanta raiva nesse site hoje sinto-me um vitoriosa por conseguir postar essa porcaria!
mentira, amo isso aqui.
Obrigada pelos comentários, eu leio todos e vou responder todos depois que o meu ódio passar (e isso provavelmente só vai acontecer depois que eu assistir TWD hoje ♥)
Quem aí quer finalmente ação? Uma explicação de como funciona a infecção zumbi? Uma mudança de ambiente? Personagens novos? Um vilão...? Dois talvez? hahahaha
Segurem os fornos e vamos lá!
Boa leitura e me perdoem por qualquer erro!
3/3

Capítulo 20 - Capítulo 20


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 20

LAUREN PDV
 

Toda a minha cabeça latejava, mas eu sentia pontos específicos dela ainda mais doloridos como: o nariz, nuca e no meio da testa. Minhas costas queimavam. Minha boca tinha gosto de sangue, o que me lembrava do amargar de ferro. Abro os olhos devagar e um grunhido de lamúria arranhou minha garganta quando a pouca luz bateu contra minha retina.

Os vultos que conseguia enxergar eram embaçados então eu apenas conseguia identificar as pessoas pelos tons de seus sussurros ao fundo.

Pisco algumas vezes seguidas para tentar ver melhor.

- Laur? – ouço a voz da minha irmã nitidamente.

- Taytay? – a chamo, ainda atordoada.

- Graças a Deus, como você está se sentindo?

Finalmente minha visão foi voltando ao normal e eu pude reconhecer as silhuetas ao redor de mim. Minha irmã estava sentada ao lado da cama em uma cadeira e meu irmão se encontrava atrás dela com os braços cruzados. Mais ao fundo estava Ally, Claire e Troy.

- Minha cabeça dói... – resmungo.

Coloco minha mão em cima da ponta do meu nariz e gemo de dor.

- Não toque! Ally precisou colocá-lo no lugar. – Taylor falou e apertou sua mão à minha em cima do colchão.

E então as últimas cenas antes de apagar voltaram à minha mente.

- Cadê aquele desgraçado?! – eu vocifero de repente e tento me sentar, mas uma fisgada nas costelas me faz grunhir de dor novamente.

- Eu dei uma lição nele... – Troy rosnou com os punhos fechados. Podiam-se ver por cima dos dedos os hematomas na pele dele.

Ally tocou de leve o ombro do loiro alto e murmurou algo parecido com “Está tudo bem agora...”.

- Ele está trancado em um quarto. – Christopher anunciou.

- Onde está a Camila? – pergunto e olho preocupada para meus irmãos. – Ela já acordou? Ela está bem?

- Já sim. Ela estava aqui mais cedo, mas foi com Dinah arrumar alguma coisa para as crianças comerem. – meu irmão disse e coçou a barba, ansioso.

- Eu vou matar aquele filho da puta por ter tocado nela! – eu fecho os punhos com força. A raiva começava inundar meu corpo lentamente.

- Todos nós queremos, mas não vai ser desse jeito que vamos resolver as coisas. – Taylor me repreendeu. – Depois que você melhorar vamos decidir o que fazer com ele. Mas vamos decidir isso em grupo.

Eu hesito por alguns segundos. O que eu mais queria era meter uma bala no meio da cabeça daquele desgraçado. Mas, por agora, eu só tinha a opção de aceitar as palavras da minha irmã. Então assim o fiz.

- Vamos ir chamar a Camila. – Ally comentou e puxou Troy pela mão. Observei a loirinha entrelaçar os dedos na mão do homem. Claire, que estava por perto, seguiu os dois.

Ergo uma sobrancelha mesmo sentindo uma fisgada ao fazer isso.

- Desde quando Allyson e Troy se assumiram? – pergunto olhando para meus irmãos.

Christopher deu dois passos até ficar ao lado de Taylor, de frente à cama.

- Somos nós quem devemos perguntar algo semelhante a isso para você. Desde quando você e Camila se assumiram? – minha irmã ergueu a sobrancelha do mesmo jeito que fiz.

Eu dou um sorrisinho meio sem graça e decido não me pronunciar.

- Desde quando isso está acontecendo? – questionou Christopher semicerrando os olhos. – Quero dizer... eu já tinha notado algo de diferente entre vocês, mas pensei que fosse só amizade...

- Ham... – gaguejo. – Desde a nossa viagem ao condomínio.

- Eu sabia! – Taylor deu uma gargalhada alta. – Eu sabia que você não iria aguentar dois dias sozinha com ela. E olha que Camila nem parecia jogar no seu time!

- Eu... eu não sei... Aconteceu e foi ótimo. Tentamos ignorar, mas não adiantou. – dei de ombros, mas no fim precisei segurar um sorriso fraco.

- Então vocês estão se gostando? – os olhos da minha irmã brilhavam e um sorriso sincero nascia em seus lábios.

- É... digamos que sim. Temos estabilidade aqui agora. Então decidimos deixar acontecer... – respondo um pouco tímida por tantos questionamentos.

Droga! Eu tímida? Maldita Cabello!

- Eu super apoio! – Taylor bateu palminhas animadas, o que fez meu irmão revirar os olhos. – Eu sempre soube que desde quando chegou ao apartamento em Miami xingando por ter sido roubada que essa mulher havia te provocado intensamente. Nunca vi você vermelha de tanta raiva como vi naquele dia.

- Ok... Taylor. Menos! – eu reviro os olhos assim como meu irmão fez.

Minha irmã estava pronta para continuar suas provocações quando uma batida de leve na porta a interrompeu. A maçaneta girou e uma Camila meio tímida surgiu.

- Hãm... – Taylor balançou as sobrancelhas sugestivamente para cima e para baixo. – Vamos deixar vocês mais a vontade... sabe como é.

- Você é terrível... – escuto Christopher resmungar com nossa irmã e dar um leve beliscão em seu braço.

*Music On* (Worldstop – Roy English)

Camila segurou um sorriso e manteve a porta aberta educadamente para que os dois saíssem ainda resmungando. Quando eles sumiram no corredor a latina fechou a porta e virou-se para mim. No primeiro momento ela se manteve ali, apenas me encarando com suas órbitas chocolate como se tentasse me ler ou algo do tipo. Só longos segundos depois ela se aproximou devagar até a lateral direita da cama e colocou sua mão na minha sobre o colchão.

- Como você está? – perguntou enquanto analisava provavelmente os hematomas no meu rosto.

- Eu estou bem, Camz. O que me preocupa é você. – digo e acaricio as costas da sua mão com o dedão. – Você bateu a cabeça com força. Está sentindo dor? Ally já te analisou? Já tomou alguma medicação? Descansou o sufici...

- Lauren! – Camila me interrompeu com uma risadinha doce. – Pare de ser não neurótica! Eu estou bem! Foi apenas a região que foi acertada. Um baita azar. No máximo que tive foi um pequeno corte e Ally e Louis cuidaram bem de mim e descartaram a possibilidade de uma concussão. Tomei remédios e dormi por várias horas. Sabe quantas horas você ficou apagada? – pergunta e eu balanço a cabeça negativamente. – Por vinte horas! Já é noite de novo! Você também recebeu uma pancada na cabeça e apagou como eu.

- Eu fiquei tão assustada quando você simplesmente desmaiou... Eu... – gaguejo lembrando-me da cena.

- Eu sei... – Camila suspirou e acariciou meu braço com a palma da mão aberta. – Eu também fiquei desse jeito quando acordei e vi você apagada nessa cama.

- Eu não acredito que ele teve coragem de fazer aquilo... – digo e subo o olhar para suas órbitas quentes.

- Eu pensava que o conhecia, mas percebi que esse mundo fodeu demais com a cabeça dele. – a latina choramingou, mas tratou de engolir o bolo em sua garganta. Ela então subiu o olhar para o meu e sorriu. – Eu preciso te agradecer por ter me defendido. Eu sei lá o que aquele filho da mãe teria coragem de fazer e...

- Eu vou te proteger, Camila. Você sabe disso! – eu a replico, sentindo como se cada partícula do meu corpo gritasse isso.

Camila expirou o ar dos pulmões devagar sem deixar seu sorriso fraco morrer. Era visível a exaustão nos movimentos da latina. Olheiras formavam debaixo de seus olhos, suas pálpebras estavam pesadas, e talvez por causa da palidez os hematomas estivessem um pouco mais visíveis naquele dia. Mas ainda assim ela continuava forte. Forte e linda.

Camila colocou as mãos frias em minhas bochechas, o que me fez estremecer um pouco. Afagou meu rosto com a ponta dos polegares e se assentou na beirada da cama, bem próxima de mim.

- Só não pense que é uma super heroína, sua idiota! – Camila murmurou com um sorriso grande nos lábios carnudos. – Não pense que deve proteger todos e esquecer de si mesma...

- Já disse milhões de vezes... eu não me importo comigo, Camila! Eu... – tento falar, mas a latina colocou seu dedo indicador sobre meus lábios impedindo que as palavras continuassem a sair.

- Oh, pois agora você vai começar a se importar sim! – ela ordenou unindo as sobrancelhas para fingir uma carranca. – Porque infelizmente você entrou para uma lista minha. Ou melhor, há muito tempo você já fazia parte dela, eu só não aceitava muito bem.

- Lista? – pergunto com meus lábios ainda pressionados por seu dedo.

- Lista das pessoas as quais eu me importo muito. – sussurrou.

Seu olhar castanho fixou no meu e se manteve ali como se aquele ato fosse tão familiar quanto respirar. Eu não me cansava de analisar suas orbitas. Isso me passava uma tranquilidade tão grande, pois me dava a impressão que assim eu poderia ler sua alma. Uma alma tão boa que lutava contra as adversidades do mundo exterior, lutava para não se tornar algo ruim com tantos motivos querendo arrastá-la.

- Então você nem pense na possibilidade de não cuidar de si mesma. Não vou deixar você simplesmente entrar para essa lista e sair logo após. Você não tem o direito de entrar na vida de uma pessoa e querer ir embora sem nenhuma razão. Você... – Camila cuspia as palavras sem nem deixar o ar entrar para os pulmões. Eu via em seus olhos arregalados o tamanho desespero de pensar na possibilidade de algo ruim acontecer. Sua mão havia ido para minha bochecha, acariciando ali.

- Shhhh... – dessa vez sou eu quem coloca o indicador sobre seus lábios. Camila deixou os ombros caírem quando um suspiro de exaustão lhe escapou. – Vai ficar tudo bem agora... – eu digo. A latina abre um sorriso tímido e pressiona mais seus lábios carnudos em meu dedo, beijando-o de leve. – Vai ficar tudo bem...

Minha mão deslizava por sua pele latina até chegar em seu pescoço. Deixo meus dedos penetrarem em seu cabelo e a puxo para mim, querendo-a mais perto. As mãos de Camila automaticamente foram para meus ombros quando nossos rostos se aproximaram. Os lábios se tocaram, reconhecendo-se e agradecendo por estarem juntos novamente.

Minha mão livre tocava de leve sua têmpora direita onde havia um hematoma roxo. Camila suspirou entre meus lábios, mas não se permitiu parar de me beijar. Sua língua tocava a minha, a reconhecia, a acariciava para logo depois seus lábios a sugarem devagar.

Havíamos aprendido que em um mundo tão caótico o devagar era ainda o mais apreciativo.

Termino o beijo apenas quando sinto falta de olhar-lhe nos olhos. Sugo seu lábio inferior carnudo para o interior da boca, sentindo seu gosto doce adocicado na minha língua. Camila grunhe algo inaudível e se mantem de olhos de fechados quando eu aumento a distância entre nós. Aproveito os instantes e passo meus polegares sobre suas pálpebras fechadas em uma espécie de massagem leve.

Camila ladeia a cabeça colocando o peso da mesma sobre a palma da minha mão aberta em seu rosto. Um sorriso inocente nasceu em seus lábios e ela devagar abriu os olhos, deixando-me ver suas órbitas quentes.

- Ainda está doendo? – perguntou aleatória.

Sua mão foi até o meu osso nasal e ela tocou de leve o meu nariz dolorido. Eu faço uma pequena careta de dor.

- Um pouco... – minto para não preocupá-la.

- Você precisa comer alguma coisa para tomar seus remédios logo em seguida. – Camila murmura e se levantou da cama. Eu resmungo manhosa por vê-la se distanciar de mim. – É sério, Lauren! Vou ir buscar algumas roupas para você tomar um banho e ir comer algo. O restante do pessoal está fazendo o jantar.

O alívio de todos estarem bem perdurou por poucos segundos até que a imagem do policial desgraçado voltar a minha mente. Fecho os punhos automaticamente.

- E o filho da puta? – pergunto já com o cenho franzido.

- Vamos mantê-lo no quarto trancado e levar comida até que decidirmos o que fazer com ele. Talvez seja a melhor coisa a se fazer no momento, até porque não temos para onde mandá-lo. – Camila explicou de pé ao lado da cama.

Sua mão acariciava a minha sobre o colchão.

- Devíamos mandá-lo embora, Camila! Eu sei que ele era importante para você e para o seu grupo, mas olhe o que ele fez! – eu acuso totalmente indignada por aquilo ainda estar sendo cogitado.

- Lauren, eu sei disso! – Camila retrucou tentando manter o seu tom de voz ainda passivo. – Mas não é como se pudéssemos simplesmente abrir a porta para que ele fosse embora! Estamos cercados, lembra?

Mordo o interior de minhas bochechas para não praguejar um xingamento ao me lembrar daquele fato.

- Vamos resolver isso... Mas hoje... hoje é o dia para descansarmos, ok? – Camila murmurou e subiu as carícias de suas mãos por meu braço. – Todos ficaram muito nervosos com o que aconteceu, então eu quero que apenas desfrutemos de um dia em paz. Eles estão na cozinha conversando e rindo como costumam fazer. Então por favor, não traga o que aconteceu ontem de volta à tona. Entramos em um acordo silencioso de apenas ignorar Austin e tentar tirar proveito desses momentos de paz.

- Momentos, certo? – eu pergunto com um sorriso de lado. – Como você mesmo disse... Tudo se resume a momentos.

- Tudo se resume a momentos que nunca mais voltarão. – Camila completou também com um sorriso doce nos lábios.

Eu hesitei por alguns segundos, mas, por fim, assenti com a cabeça. Camila sorriu ainda mais agradecida e se inclinou para deixar um beijo rápido e leve em minha boca. Eu tentei levar minha mão até seu rosto, mas ela rapidamente se esquivou para trás.

- Se continuarmos assim você nunca tomará banho. – ela apontou um dedo acusatório para mim e semicerrou os olhos enquanto dava passos para trás.

- Oh... podemos então continuar no chuveiro. Ele é grande suficiente para nós duas... – dou uma piscadela maliciosa.

- Você é uma idiota, Jauregui. – Camila revirou os olhos e caminhou para fora do quarto sem não antes sorrir ao fechar a porta.

 

- Ai, Camila! – eu resmungo ao sentir uma fisgada nas costelas.

- Isso aqui não sarou desde o condomínio. – ouço a latina comentar ao retirar minha blusa por meus braços e cabeça.

Seu toque singelo desceu até minhas costelas esquerdas que tinha uma tonalidade horrenda roxa. A minha pele por ser muito branca deixava o hematoma muito visível. Elas já reclamavam de dor antes e provavelmente com a pancada de Austin os sangramentos por debaixo da pele subiram até sua camada mais superficial criando a mancha avermelhada.

- Tire a roupa, Lauren, e vá tomar um banho para que eu possa passar alguma coisa nesses machucados. – Camila ordenou se distanciando do boxe do banheiro.

Eu resmungo alguma coisa parecida com “Está achando que é minha mãe...” e ouço apenas um “Se acostume!” ao fundo. Não pude evitar em sorrir com isso.

Retiro minha calça jeans com dificuldades por meu corpo reclamar a cada movimento brusco. Quando jogo o tecido grosso e calcinha para o lado, começo mais uma luta contra a dor para desbotoar meu sutiã nas costas.

Dou alguns passos para o lado e vejo o reflexo do meu rosto em um espelho pequeno. Havia uma proteção feita de gaze sobre o meu osso nasal, mas podiam-se ver as manchinhas avermelhadas nele. Por perto, um pouco debaixo das minhas olheiras, manchas roxas advindas do sangue nas camadas superficiais eram visíveis.

Viro-me de costas. Os cortes por causa dos cacos de vidro estavam espalhados por todas as minhas costas. Havia alguns pequenos e outros medianos. Por sorte o vidro da porta era grosso demais para causar danos maiores ou mais profundos. Alguns cortes tinham dois ou três pontos, mas pelo visto iriam sarar facilmente.

*Music On* (Paper Thin – Astrid S – Versão acústica)

Caminho até o boxe e empurro a porta de vidro para o lado. Piso no interior da banheira e vou até o registro do chuveiro, o girando. A água quente caiu diretamente em meu rosto fazendo-me gemer em dor e em alívio ao mesmo tempo. Penteio meu cabelo para trás com os dedos e desfruto do líquido aquecido em minha pele.

Pego um pedaço pequeno de sabonete antibactericidas que tinha ali e me ensaboo devagar. Engulo cada gemido de dor quando a espuma passou por cima de meus machucados. Como não tinha shampoo precisei me contentar em utilizar do sabonete para lavar meu cabelo.

Ao terminar de me lavar saio do boxe ainda pingando. Caminho até a porta e abro apenas uma fresta, já olhando para baixo. Um sorriso idiota cortou meu rosto ao ver as duas toalhas dobradas ao lado da porta.

- Achou que eu iria esquecer? – a voz de Camila se fez presente, assustando-me. Olho para cima a vejo sentada na beirada da cama.

- Hãm... tinha minhas desconfianças. – debochei.

Tento me agachar para pegar as toalhas no chão, mas uma fisgada de dor rasgou meu corpo e me fez parar no meio do caminho.

- Pode deixar, Lolo. – Camila falou e correu até mim rapidamente. – Fui idiota achando que você conseguiria sozinha.

Camila pegou as toalhas no chão e abriu mais a porta para me ver. Eu estava tão absorta repetindo o apelido que me dera que mal notei o fato que estava nua e completamente molhada em sua frente.

- Lolo, huh? - ergo uma sobrancelha.

Entretanto, Camila sequer prestou atenção na provocação. Seus olhos estavam vidrados em meu corpo desnudo. A jovem tinha os lábios entreabertos e peito subindo e descendo com uma calma inimaginável, o que só deixava clara a dificuldade que tinha para respirar. Ela me analisava como se... Se eu fosse uma paisagem bela.

Vejo o movimento de sua garganta quando engoliu seco e subiu o olhar para o meu rosto.

Ela sorriu e passou por mim na porta indo até o lavatório. Camila deixou uma toalha ali em cima e a desdobrou a outra em mãos.

- Venha cá. – pediu, lançando-me um olhar terno com suas orbitas quentes.

Obedeço caminhando até ela. Camila afagou meu rosto o inclinando para baixo. Envolveu meus cabelos com a toalha e os torceu, os enrolando firmemente para que não ficassem soltos. Levanto a cabeça quando ela terminou de prendê-los com a toalha branca.

Camila pegou a outra no lavatório e devagar começou a passar o tecido macio por meus ombros. Seus olhos vagavam por meu corpo, estudando-o. Não havia segundas intenções em seu olhar, mas apenas... uma quase admiração.

Um suspiro de dor saiu por meus lábios quando a tolha tocou nos cortes em minhas costas. Camila tentou passar o tecido ainda mais devagar para não me causar desconforto.

Ela secou cada parte do meu corpo com uma leveza inexplicável.

Quando terminou, ainda em silêncio, caminhou até fora do quarto e pegou algo em cima da cama. Voltou com uma caixinha de primeiros socorros em mãos. A abriu e retirou uma espécie de pomada lá de dentro. A latina esparramou por meu corpo assim como fizera na casa do condomínio.

Por fim me ajudou a vestir as roupas: lingerie, calça de moletom cinza e uma regata velha com uma escrita “Peace”. Eu não sentia mal em ser ajudada daquela forma. Não era algo que ela estava sendo obrigada a fazer, até porque eu conseguiria me virar caso estivesse sozinha.

Mas essa era a questão.

Eu não estava mais sozinha.

- Já tomou seus remédios? – pergunto próxima ao seu corpo. Ela terminava de passar a blusa em mim.

Camila eleva o olhar para meus olhos. Seu rosto estava tão próximo, seu cheiro tão característico.

- Sim... Já também cuidei dos meus cortes. Eu estou bem, Lauren. – respondeu e afagou meu rosto de leve. Um sorrisinho prepotente apareceu em seus lábios. – É muito bonitinho ver você toda preocupada.

Eu reviro os olhos fingindo estar entediada com aquilo, mas, Camila sabia que era apenas meu jeito de me retirar de uma situação constrangedora, então apenas deu uma risada doce.

- Vamos ir comer... – murmurou e me deu um selinho rápido, saindo do meu campo de visão logo em seguida.

Viro-me em direção da saída do quarto tentando segurar um sorriso idiota.

Por Deus, o que aquela garota estava fazendo comigo?

Saímos do quarto e percorremos o corredor branco e longo que nos ligava à sala grande. A cozinha ficava acoplada à mesma, então bastavam alguns passos que já nos deparávamos com o balcão que as separava.

Mal passamos pela porta e já escutamos os barulhos das conversas. Troy e Ally conversavam animadamente com Louis e Demi perto do fogão. Christopher ajudava Taylor e Keana a colocarem os pratos em cima da mesa de vidro.

Harry estava finalmente acordado e sentado em uma poltrona próxima. Ele estava pálido, com grandes olheiras abaixo dos olhos e uma faixa grossa de gaze envolvendo o tornozelo. Mas parecia bem.

Dinah e Normani estavam mais distantes sentadas no sofá enquanto olhavam as crianças brincando no tapete. Obviamente as duas discutiam arduamente sobre alguma coisa. A loira alta apontava para a morena bonita e claro, a morena não se intimidava e retrucava com a mesma intensidade. Já era tão comum que ninguém ali dava moral.

- Olha só, o casal chegou... – Taylor Jauregui anunciou ao nos ver paradas na porta.

Todos pararam de fazer o que faziam e nos encararam. Eu podia jurar que vi as bochechas de Camila corar por mais latina que fosse sua pele. Eu apenas fechei os olhos e praguejei em silêncio a idiotice da minha irmã.

Coço o supercílio, o qual não estava machucado, e faço uma careta zombeteira.

- Taylor... concentre-se em não se cortar com a faca, por favor. – eu ralhei e apontei para os talhares em sua mão.

Ela me mostrou a língua em um ato mais infantil possível.

Olho para o lado e vejo Camila sorrindo e logo em seguida cobrindo o rosto com as mãos, tímida. Suspiro quando ela decidiu caminhar à frente e ir até a mesa onde Troy e Ally colocavam a comida sobre o vidro. Eu a sigo.

- Ai... que ressaca... – Normani reclamou caminhando até nós. A morena estava escorada à cadeira e tinha as mãos massageando suas têmporas. O cabelo negro estava amarrado em um rabo de cavalo alto que deixava seu rosto bonito mais à mostra.

- Pessoas fracas para bebida são assim mesmo... – Dinah cantarolou ao seu lado enquanto arrastava uma cadeira para se assentar à mesa. A jovem tinha os cachos loiros caindo graciosamente em suas costas.

- Hãm... deixe-me ver... – Normani murmurou. Ela levantou o próprio prato, os talhares. Chegou até a olhar debaixo da mesa. – É, não achei quem pediu sua opinião, Jane. Fica pra próxima! – terminou com um sorriso debochado.

O queixo de Dinah caiu no mesmo segundo em que as gargalhadas ressurgiram na cozinha. Até eu precisei colocar a mão na frente da boca para não rir da situação. Puxo uma cadeira e me assento ao lado da loira, de frente para onde Camila estava.

O clima de brincadeiras perdurou durante todo o jantar. Louis e Demi já estavam mais à vontade e chegavam até a rir das idiotices que o nosso grupo fazia. Felizmente ninguém ali comentou sobre o ocorrido entre nós duas e Austin. Eu percebi sim alguns olhares em cima de meus hematomas e nariz protegido, mas eram olhares cheios de ternura como se quisessem saber se eu estava bem.

Nosso grupo havia criado esse estranho laço de proteção uns pelos outros.

Enquanto bebericava um pouco do meu suco no copo eu observava Camila rir de alguma coisa que sua irmãzinha dizia ao seu lado. As duas conversavam e eu sequer sabia qual era o assunto.

Eu sabia apenas olhar para as duas.

Eu sabia apenas olhar para ela. Seus movimentos. Seu sorriso lindo. A forma como ela unia as sobrancelhas ao pensar em algo. A normalidade com que mordia o lábio inferior ao ficar indecisa.

Aquele sentimento em meu peito era como um vírus de uma simples gripe.

A gripe dá os primeiros indícios que está dominando o seu corpo, mas você ignora e diz para si mesma que seu sistema imunológico irá acabar com ela e você não irá adoecer. Diz para si mesma que o vírus não significa nada e que em poucas horas você já estará bem. Mas aí, quando você acorda no dia seguinte, já está tomada por ele. Seu corpo já não responde aos comandos certos, você se sente fraco e incrivelmente submisso aos desejos de seu hospedeiro. Ele tomou sua força de vontade própria. Começou devagar, mas em questão de momentos você perdeu o total controle da situação. E quando percebeu já estava doente.

Ou melhor, estava com esse sentimento no peito.

Eu estava devidamente doente por Camila Cabello.

- Você está babando... – ouço a voz da minha irmã do meu lado esquerdo.

Eu pigarreio ao retirar-me dos devaneios que estava mergulhada. Realmente havia perdido noção do tempo em que a encarava sem nenhuma sutileza. Volto a bebericar de meu suco para tentar disfarçar enquanto olhava para os lados. Todos reunidos na mesa ainda estavam conversando uns com os outros.

- Não adianta, idiota. Todo mundo já notou! Só que agora estão fingindo que não viram. – Taylor cantarolou rindo.

- É mentira... – eu rosno, ainda olhando para os lados desconfiada.

- Mentira? Por favor, Lauren! Você ficou com certeza mais que um minuto encarando sem nem piscar a Camila. A Dinah até riu da sua cara e você nem notou! – a minha irmã murmurou e voltou a comer.

Olho por cima do ombro para a loira alta e ela já havia voltado a discutir alguma coisa com Normani.

- Doutores... – Keana chamou a atenção dos cientistas e também a de todos na mesa. – Me tirem uma dúvida?

- Claro... – Louis deu um sorriso amigável para a francesa.

Eu não podia negar que Keana de fato estava dando em cima de mim na noite anterior. Poderia culpar o álcool e o ambiente descontraído, mas sabia que seus olhares me seguiam desde a casa de campo. E sim, no começo, eu me deixei levar por eles. Era como ter alguém com quem flertar. Alguém que não estava emocionalmente ligado a mim como Camila estava.

Mas aí percebi que já estava doente por uma latina implicante.

Keana, desde que me sentei naquela mesa, foi a única que não me recebeu com olhares ternos. Ela na verdade evitava olhar na minha cara.

- Como ocorre a infecção? – a francesa perguntou ao terminar de comer.

- Sério, quer falar sobre isso enquanto comemos? – Dinah resmungou olhando para o próprio prato.

- Eu também tenho dúvidas, deixe-o falar, idiota! – Normani rosnou e isso fez a loira alta revirar os olhos.

Louis terminou de mastigar a comida que já se encontrava em sua boca e bebericou um pouco de seu suco antes de soltar os talhares no prato.

- Eu vou tentar fazer isso o mais simples para você... – o cientista começou. – Todos aqui sabem o que são sinapses, certo? Todas as nossas sensações, sentimentos, pensamentos,  respostas motoras e emocionais, a aprendizagem e a memória, a ação das drogas psicoativas, as causas das doenças mentais, e qualquer outra função ou disfunção do cérebro humano não poderiam ser compreendidas sem o conhecimento do fascinante processo de comunicação entre as células nervosas. Os neurônios precisam continuamente coletar informações sobre o estado interno do organismo e de seu ambiente externo, avaliar essas informações e coordenar atividades apropriadas à situação e às necessidades atuais da pessoa. E isso só acontece graças aos impulsos nervosos que só tem continuidade entre os neurônios por causa das sinapses nervosas.

- Processando... – Dinah comentou bebendo de seu suco.

- Existe uma teoria chamada As Três Unidades do Cérebro Humano. Ao longo de sua evolução, o cérebro humano adquiriu três componentes que foram surgindo e se sobrepondo, tal qual em um sítio arqueológico: o mais antigo está mais embaixo, o segundo na posição intermediária e o mais recente na superfície...

- Espera... Do que você está falando? – Normani franziu o cenho, confusa.

- Pense no desenho do cérebro. – Demi interferiu. – Existe o encéfalo no centro, certo? É como se o seu cérebro fosse uma cebola e existissem inúmeras camadas. Com o passar do tempo e com a evolução do homem o cérebro foi se desenvolvendo, e para tal, precisou expandir, então mais camadas e mais dobras foram criadas. No centro do seu cérebro, mais especificamente onde fica o encéfalo que é responsável por seu comportamento, é o seu chamado cérebro primitivo ou arquipálio.

- É nesse cérebro primitivo, que é constituído por tronco cerebral, bulbo, cerebelo, ponte e mesencéfalo, que fica a responsabilidade pela autopreservação. É aí que nasce os mecanismos de agressão e de comportamento repetitivo. São reações instintivas chamadas de arco reflexos e que controlam algumas ações involuntárias de certas funções como cardíaca, pulmonar, intestinal e etc. Resumindo, o que mantem um corpo “tecnicamente vivo”. – Louis completou a colega de trabalho.

- Por que tecnicamente vivo? – Troy perguntou.

A mesa se encontrava em total silêncio, apenas encarando os dois cientistas.

- Lembra que eu disse que existem outras duas camadas? – ele perguntou retoricamente. – A intermediária é responsável pelas emoções, ou mais conhecido como sistema límbico. E a mais superficial é neocórtex, ou melhor, a parte responsável pela parte racional do ser, é a parte que permitiu ao homem a desempenhar tarefas intelectuais como ler, escrever, pensar.

- A junção das emoções e racionalidade é o que faz você ser quem você é. O “você”. É isso que está querendo dizer? – eu concluo entendendo a linha de raciocínio do homem.

- Isso mesmo. – Louis sorriu ao ver que eu entendera. Mas sua felicidade acabou logo em seguida quando continuou a falar. –E quando morremos acaba por completo essas sinapses nervosas, o que impede os impulsos nervosos. Sem essa comunicação você simplesmente morre. Seu corpo entra em choque e seus órgãos param de funcionar.

- E depois do início desse Apocalipse... – Demi continuou após pigarrear para ter coragem. – De alguma forma, que não sabemos explicar, algumas sinapses voltam.

- O quê? – Christopher gaguejou, surpreso. – Mas... mas o cérebro não estava morto? Como isso é possível?

- Como eu disse... não sabemos explicar. – Demi suspirou decepcionada. – As sinapses voltam apenas no cérebro primitivo. Apenas a parte irracional. Os sentimentos, a racionalidade, o “você”... não retorna. A massa em volta do cérebro primitivo morre e você se torna uma casca que apenas tem ações involuntárias como levantar, correr, comer, ser agressivo, territorial. Os zumbis ouvem, mas não interpretam a informação. Apenas vão atrás como um animal irracional faz.

- E por que eles comem carne? – Dinah resmungou, batendo a mão sobre a mesa, indignada. – Por que eles simplesmente não comem mato?! Tem tanto mato por aí!

Isso fez um pouco da tensão se esvair e alguns arriscarem umas risadas com o jeito todo engraçado da loira alta. Louis sorriu e apenas deu de ombros.

- Não sabemos. Pode ser porque no início de tudo éramos carnívoros ou porque existe um hormônio em nossos tecidos chamado serotonina que é quase uma droga. Quando se come uma vez... não consegue mais parar. Nós... nós realmente não sabemos o porquê.

- E por que vocês não fazem mais estudos? – Taylor perguntou.

- O invasor tem uma velocidade de mutação muito rápida. – Demi justificou. – Todas as vezes que tentamos combater ou simplesmente tentar identificá-lo... ele simplesmente se torna mais forte.

- Nós simplesmente não sabemos mais o que fazer... – Louis choramingou tristonho. – Não temos mais recursos. Nosso CDC era apenas para lutar contra doenças específicas, não uma que sequer sabemos o hospedeiro. Estamos um ano no escuro e provavelmente vamos continuar nele.

- E sabemos também que... que isso está em nós. – Demi murmurou e atraiu os olhares de todos nós para ela. – Fomos infectados de alguma forma. Pelo ar, pela água, por algum alimento. Nós já temos esse invasor em nós. Ele apenas espera a morte do indivíduo. Não importa o quê infecta o cérebro humano. Esse invasor que pode ser uma toxina, uma bactéria, um vírus, um protozoário, milhares de coisas... apenas espera o momento certo para entrar em ação.

- Mas e a mordida? – Keana perguntou, desolada. – Não é ela quem mata?

- Sim. Quando é mordido você entra em contato com o sangue do zumbi. E uma bomba de invasores penetra seu corpo e causa a infecção. A febre te mata. E então o invasor pode fazer o que ele quiser fazer. E mesmo se você não for mordido. Se morrer por um tiro no peito, uma facada... até se você morrer de velhice... você vai voltar, porque de alguma forma você também está infectada.

Eu inspiro devagar oxigênio para dentro de meus pulmões e massageio minhas têmporas. Todos ali de alguma forma ficaram desconfortáveis com o assunto. Aquilo havia acontecido com nossos familiares, amigos, conhecidos. Eles haviam se tornado uma casca que buscava apenas se alimentar de alguma forma.

Uma casca morta e sem sentimentos.

Você é acostumado com a pessoa. Você ama o seu interior e ama o seu exterior. Quando pensamos na morte, é doloroso, mas suportável. Até porque quando enterramos um ente querido devemos continuar nossa vida. Continuar nossa vida sem ver a pessoa novamente. Mas isso não acontecia mais.  A pessoa voltava na frente de seus olhos, mas não era mais a pessoa que você conhecia.

 

Eu tentava de qualquer forma me entregar ao sono, mas, aparentemente meu corpo estava alerta demais para isso. Eu havia dormido por quase 24 horas.

Encarando o teto eu repassava na minha mente tudo o que havia acontecido até ali nos últimos meses. Antes disso, apenas flashes de sentimentos amargos banhados pela necessidade da sobrevivência apareciam. Mas agora, de alguma forma, eu não me sentia como um animal que apenas queria proteger quem estava por perto e que buscava sobreviver enquanto isso. Eu me sentia viva.

Levanto-me da cama e pego minha Beretta 92 em cima de uma mesa próxima. Coloco a pistola no cós de trás da calça e descaço vou até a porta, saindo do meu quarto em silêncio.

Os cientistas haviam se sentido seguros o suficiente para nos devolver nossas armas naquela noite. De algum modo havíamos nos dado bem com Demetria e Louis.

Exceto Taylor Swift que se manteve ausente durante todo o dia, enfurnada no subsolo.

Caminho até a terceira porta à direita e giro a maçaneta com cuidado para não acordar as duas pessoas que dormiam ali.

Em meio às penumbras do quarto, que só tinha como fonte de luz um abajur, Camila e Sofia dormiam abraçadas. A latina menor tinha a cabeça descansando no ombro da irmã. Um sorriso nasceu em meus lábios ao ver a serenidade de suas expressões.

A segurança das duas havia se tornado algo tão importante para mim que me tirava o sono.

- Lauren? – a voz rouca de Camila se fez presente no silêncio do Centro de Prevenção.

A latina tinha os olhos mal abertos e uma expressão sonolenta.

- Você está bem? – Camila perguntou ao apenas receber meu silêncio como resposta.

- Sim... – sussurro procurando não acordar Sofia. – Só estou sem sono.

Camila sorriu ainda meio abobalhada pelo sono e ladeou a cabeça enquanto me observava. Ela fez um sinal com a mão me chamando em sua direção.

- Venha cá. – pediu rouca.

- Sofia... ela... – eu tento relutar.

- Ela não vai importar com isso, Lauren. Apenas venha e se deite. Quero voltar a dormir, por favor! – Camila choramingou manhosa.

Eu suspiro ao ver que havia perdido aquela discussão no momento que decidira fazer aquela chantagem emocional. Fecho a porta com cuidado atrás de mim e me desloco lentamente pelo quarto até a cama de casal.

Retiro minha Beretta da calça e a coloco em cima de uma escrivaninha próxima. Sento-me no colchão para logo após me deitar. Sofia resmungou alguma coisa do outro lado e virou-se finalmente repousando a cabeça em seu próprio travesseiro, de costas para nós. Camila aproveitou a liberdade do próprio corpo e se arrastou para perto de mim deitando a cabeça em meu peito.

Ignoro a chama de alegria por aquele simples ato no meu peito e começo a acariciar seus cabelos com minha mão. Eu penteava as madeixas castanhas para trás com meus dedos.

- Por que eu não me deixei entregar a isso antes? – perguntei enquanto encarava o teto.

- Do que você está falando? – sua voz estava grogue pelo sono.

 - Sentir você... beijar você... – sussurro virando o rosto para deixar um beijo em sua testa. – Mal sei como não fiquei completamente louca para estar perto de você quando chegamos do condomínio.

- Estávamos ocupadas demais lutando contra nossas próprias consciências, Lauren. – Camila respondeu e envolveu minha cintura com um braço, abraçando-me. – Mas não devemos nos julgar. Estamos sendo loucas o suficiente para nos entregarmos a isso. Só... vamos aproveitar o trajeto antes de chegarmos ao fim.

Franzo o cenho ao ouvir suas palavras finais. Eu estava pronta para perguntá-la o que quis dizer com “Antes de chegarmos ao fim”, mas quando voltei minha atenção para seu rosto vi que a latina já estava completamente entregue ao sono.

Inspiro fundo o cheiro de seus cabelos e peço silenciosamente que minha voz interna parasse de gritar que algo estava extremamente errado.

Não havia nada errado.

Não poderia.

Eu implorava que não houvesse.

Fecho meus olhos e então finalmente caio no sono.

 

*Music On* (Madness – Ruelle)

*BANG* *BANG* *BOOM*

Tiros ecoavam por todos os lados. Explosões. Gritos.

Levanto-me completamente assustada e me sento no colchão. Camila também abriu os olhos atordoada procurando pelas fontes dos barulhos. Sentou-se ao meu lado e no segundo seguinte já tinha sua irmã chorando assustada em seus braços.

A criança sequer questionou minha presença ali. Ela apenas tinha os olhos arregalados e boca entreaberta.

Mais barulhos de tiros vinham lá de fora.

Eu piscava para tentar retirar a zonzeira e desespero misturado com medo. Passo as mãos pelo rosto e engulo seco, pois meu coração já batia tão rápido que eu sentia a bile ameaçar voltar por minha garganta.

Coloco-me de pé com um pulo e já pego minha Beretta em cima da escrivaninha.

- Fiquem aqui! – eu ordeno já caminhando em direção da porta do quarto.

- Está louca?! – Camila vociferou, abraçada à Sofia. – Lauren, fique aqui dentro!

- Os tiros estão vindo lá de fora, não se preocupe! – eu falo.

Os sons dos disparos estavam distantes e se fosse ali dentro, provavelmente, o prédio estaria vibrando por causa das explosões. Um clarão na janela me chamou a atenção.

Caminho até o vidro grosso que tinha uma persiana velha na frente. Empurro a persiana e consigo ver apenas os  clarões das chamas lá fora. Elas estavam altas e queimavam as árvores por perto.

- Alguém está nos atacando? – Camila perguntou ainda na cama.

- Estão matando os zumbis! Mas não estão jogando as bombas no prédio! – eu respondo surpresa e tento entender algo através do vidro grosso, mas não era possível.

Tento levantar a janela, mas ela estava presa.

A porta então é aberta de repente e isso me faz virar em supetão já com minha pistola apontada para a silhueta.

- Precisamos de ajuda! – Christopher estava de cueca samba canção vermelha com listras brancas. Seu rosto estava aterrorizado. Ele franziu o cenho a me ver ali, mas logo isso se tornou banal. – São granadas, Lauren! Granadas!

- Onde estão os cientistas? Louis, Demi, Taylor? – eu pergunto caminhando até ele.

Camila também já se colocava de pé e calçava às pressas seus sapatos. Sofia continuava agarrada como um coala nos braços da irmã. A latina mais velha abriu a gaveta e pegou sua pistola que estava ali guardada.

- Fiquem aqui! – Christopher impediu que Camila saísse do quarto. Ele deu passos para trás e fez um sinal com o braço para alguém. Logo Taylor Jauregui apareceu segurando Claire e Regina nos braços. – Entrem!

- Eu preciso ajudar vocês! – Camila estava indignada ao ver que seria deixada para trás.

- Você precisa ficar aqui e cuidar delas, Camila. – meu irmão ordenou e apontou para minha irmã que adentrava com as crianças nos braços. – Elas não sabem se defender e você sabe! Quando tudo estiver seguro vamos pegar vocês.

Eu saio do quarto e dou de cara com Dinah no corredor. A loira alta tinha os olhos arregalados com os tiros ainda ecoando. Segurava em sua mão direita seu fiel machado.

- Christopher! – Camila ainda tentou contrapor, mas meu irmão rapidamente fechou a porta na cara da latina.

Isso a deixaria no mínimo muito puta depois.

Os barulhos dos passos no corredor me fazem virar e ver Troy, Normani, Keana e Ally assustados.

- Onde estão os cientistas? – repito minha pergunta e só então percebo que não fui respondida.

- Eles sumiram! – Christopher respondeu e eu vejo o medo em seus olhos. – Eles simplesmente sumiram!

- Isso é impossível! – eu ralho de volta, desesperada.

- Eles não estão no subsolo, nem aqui antes da sala grande. – Dinah informou ainda ofegante. Pelo visto ela havia corrido até o andar inferior.

- Ok... – eu murmuro e coço a cabeça tentando pensar em alguma coisa. – Voltem para seus quartos e peguem suas armas. Vamos defender isso a qualquer custo!

Todos ali, exceto Dinah que já tinha seu machado em mãos, assentiram e voltaram correndo pelo corredor. A loira alta colocou a mão direita no meu ombro e indicou com a cabeça que começássemos a andar.

Engulo seco e já levanto minha Beretta 92 enquanto dava passos temerosos em direção da porta que nos separava da sala grande. O hall do Centro de Prevenções ficava apenas uma porta atrás daquele cômodo.

- O que essa luz significa? – sussurro para a loira atrás de mim.

Eu olhava para um painel preso na parede branca perto da porta. Ele era grande e tinha diversos botões, o que significava provavelmente controlava todas as portas do Centro. E fazia sentido, porque quem estava naquela área de dormitórios deveria ser protegido de invasões.

- Significa que a porta de titânio foi aberta. Eles estão no hall, talvez até na sala grande. – a voz de Dinah estava banhada ao medo.

Nós duas nos entreolhamos. Meu coração martelava e minha voz interna gritava para eu não fazer o que estava prestes a fazer.

Mas eu não tinha outra escolha. Precisávamos proteger os outros.

Abro a porta da sala grande. Um breu sinistro bailava pelo cômodo vazio. Eu e Dinah pisávamos nas pontas dos pés enquanto cruzávamos o lugar. Do lado de fora os tiros continuavam e as explosões também.

Esses barulhos atrairiam zumbis há quilômetros dali.

E, quando eu estava prestes a apertar o botão do próximo painel que abriria a porta, a luz do cômodo foi acesa.

Uma pancada forte foi desferida em minha nuca e eu caí de joelhos, zonza. Sinto então uma tapa na mão direita e minha pistola deslizou pelo chão.

- Lauren! – ouço a voz desesperada de Dinah atrás de mim.

Mãos fortes seguraram firmemente um tufo de cabeço no alto da minha cabeça. Meus olhos fecharam por tamanha dor em meu couro cabeludo quando comecei a ser arrastada para trás com força. Pelos grunhidos Dinah também lutava contra alguém.

Vejo um braço coberto por um tecido, que lembrava uma farda militar, envolver meu pescoço e me imobilizar por trás. Eu tentava livrar do corpo forte atrás de mim, mas seu antebraço estava pressionando minha traqueia e eu mal conseguia respirar.

E então o homem fardado parou de me arrastar para trás e me colocou novamente de joelhos no chão, porém, sem nunca soltar o tufo de cabelo que me mantinha imobilizada.

- Fique quieta ou as coisas vão piorar para você. – o homem negro tinha uma voz tão grave que me fez estremecer.

Dinah estava sendo agarrada por outro soldado. Ela lutava com mais raiva, mas o homem, provavelmente treinado, facilmente a imobilizou do mesmo jeito: segurando-a por trás e com o antebraço em sua garganta. Chutou a panturrilha da loira e ela caiu de joelhos no chão, gemendo em dor.

A porta da sala grande se abriu e Taylor Swift, Demi Lovato e Louis Tomlinson entraram sendo escoltados por mais uma grande quantidade de homens fardados. Cerca de dez deles passaram direto e foram em direção do corredor.

Escuto então gritos.

Tento me levantar, mas o aperto do soldado em meus cabelos aumentou e ele fecha a outra mão na parte de trás do meu pescoço, conseguindo me imobilizar pela nuca. Ele me forçava a olhar para baixo e eu sabia apenas rosnar de raiva.

Olho para os cientistas. Demi e Louis tinham marcadas de lágrimas nas bochechas. Podiam-se ver algumas escoriações nas laterais dos rostos dos dois, o que indicavam que foram maltratados. A única que continuava normal era Taylor. Na verdade, seus lábios tinham até uma leve elevação no canto direito.

Ela gostou do que estava vendo.

Então o restante do grupo surgiu na porta que ligava ao corredor dos dormitórios. Christopher ainda tentava lutar contra os soldados, mas dois deles seguravam seus braços com força. Dois também seguravam Troy. Austin vinha logo atrás com o rosto todo machucado, mas também lutando contra os fardados.

As crianças choravam abraçadas à minha irmã e Sofia abraçada a Camila. A latina tinha os olhos arregalados. Suas órbitas chocolate rapidamente encontraram com as minhas e ela choramingou ao ver a situação que eu me encontrava.

Eles ficaram de tocaia apenas esperando que saíssemos do dormitório.

Rapidamente os soldados colocaram todos de joelhos na sala grande. Formávamos um meio circulo mal feito.

Os homens vestiam fardas do exército dos Estados Unidos da América. Usavam boinas e tinha armas penduradas nos cintos das calças. Isso, sem contar, com a artilharia pesada que seguravam em mãos.

*Music On* - (Psycho – Muse – Apenas a música)

Então escutamos passos pesados do lado de fora, passando pelo hall e se aproximando da porta.

- Doutores... – uma voz masculina surgiu. – Eu disse que não queria visitas inoportunas.

Um homem alto de cabelos castanhos e forte passou pela porta e caminhou até perto dos três cientistas  que se encontravam parados ali perto. A tonalidade de sua farda era um pouco mais escura que as dos soldados demais. Tanto a jaqueta camuflada e a regata branca por baixo estavam manchadas de sangue. A peça de cima estava aberta e o tecido branco transparente deixava visível o peitoral do militar. Por cima sua plaqueta de identificação Dog Tag brilhava quando a luz incidia.

O homem estava suado e com respingos de sangue no rosto bem desenhado e expressivo. A respiração controlada e o rosto impassível, claramente um soldado treinado para não emitir emoções. Na farda militar, mais especificamente nos ombros, três tiras amarelas estavam apagadas, mas visíveis.

Soube então que ele era um Sargento. Em sua jaqueta camuflada estava seu sobrenome gravado: Sargento Shawn Mendes.

Love, it will get you nowhere
          Amor, não vai te levar em lugar nenhum

You're on your own
          Você está por conta própria

Lost in the wild
           Perdido na selva

So come to me now
          Então agora venha para mim

I could use someone like you
         Eu poderia usar alguém como você

Someone who'll kill on my command
            Alguém que vai matar ao meu comando

And ask no questions
            E não fará perguntas

O Sargento se aproximou de nosso grupo que estava de joelhos e nos analisou rosto por rosto, tomando possíveis notas mentais sobre nós. O silêncio de seus subordinados só poderia indicar o tamanho respeito pelo homem.

- Matamos ou os levamos para fora para que morram, Senhor? – um dos soldados perguntou. Ele tinha o queixo erguido e nem ousava direcionar o olhar para o comandante. O soldado era novo, talvez uns vinte e poucos anos, mal tinha barba no rosto por mais que alguns fiados aparecessem. Suava tanto que significava que estava nervoso demais com a situação.

O Sargento Mendes não respondeu de imediato. Continuou nos analisando em silêncio. Eu engolia com dificuldade o excesso de saliva na boca para evitar falar algo e acabar morta. O Sargento tinha um cavanhaque ralo no rosto e uma fisionomia jovial.

- Descansar, Soldado. – por fim ele falou e o soldado que havia se pronunciado antes abaixou a arma que estava apontada para a cabeça de meu irmão.

Christopher bufava de raiva, mas continuava cabisbaixo. Troy tinha a mandíbula travada e constantemente olhava para sua filha que chorava baixinho. As mulheres do grupo tinham os olhos arregalados temerosas pelo o que poderia acontecer. Austin estava em silêncio estudando a situação a sua frente, sem um pingo de medo. Querendo ou não o rapaz era um pouco familiarizado com tamanha brutalidade.

O Sargento Shawn Mendes então pousou o olhar sobre meu irmão que continuava a praguejar. Eu tentava sinalizar para Christopher parar com aquilo, mas ele sequer desviava agora o olhar do militar. Ele não queria se intimidar.

- Algo me chamou a atenção nesse grupo... – o Sargento falou e colocou-se inclinado perto do meu irmão. Christopher só não avançou para cima do militar porque o soldado atrás dele o segurou pelos cabelos e ombro. – Aliás, esse cãozinho raivoso aqui será um ótimo lutador...

Alguns soldados ao ouvirem aquilo se deixaram sorrir levemente, saindo de sua postura de continência.

O Sargento Mendes colocou-se ereto novamente e bastou pousar o olhar em cima de Austin que fez um careta de nojo.

- Cara... o que fizeram com você? Isso não é obra de zumbis... – murmurou e ladeou a cabeça o observando.

Austin, entretanto, se manteve em silêncio. Mas eu via seus punhos fechados de raiva.

- Por favor, não! – Demi Lovato implorou em meio às lagrimas que recomeçavam no canto de seus olhos. – Não faça isso com eles! Eles são boas pessoas!

- Doutora... você sabe das regras! – o Sargento virou-se para a cientista. Seu rosto agora continha uma mistura de alegria e excitação, mas tudo banhado por sadismo. – Não fazemos isso com pessoas boas. Mas, vocês estão nos obrigando a tal. Da última vez que estive aqui deixei bem claro que não queria vocês tentando escapar. Dou-lhe comida, abrigo e munição se necessário... E vocês tentaram buscar ajuda para nos enfrentar? Deves agradecer aos Estados Unidos da América por nos ter. E por isso, eu, sinceramente, acho que temos o total direito de nos divertir um pouquinho...

Um sorriso sádico nasceu nos lábios do Sargento. Seus olhos castanhos não continham brilho e nem emoção. Era como se aquelas órbitas castanho houvessem visto tanto e feito tanto que o simples fato de estar brincando com vidas alheias não importasse mais.

- Você, doçura... – o Sargento falou e apontou com a cabeça para Taylor Swift que se mantinha calma. – Obrigado por nos avisar sobre esses visitantes.

- Disponha, querido. – a loira alta sorriu de volta.

Louis e Demi olharam espantados para a colega de trabalho. Se nem eu acreditava que ela tivera coragem de fazer aquilo, mal conseguia imaginar o sentimento de traição que eles nutriam.

O Sargento então se prontificou no centro da sala e, sem deixar de dar o sorriso de lado, abriu os braços mostrando o seu total contentamento com situação.

- Pelo visto vamos ter uma batalha amanhã à noite! – anunciou para os colegas.

Os soldados dessa vez soltaram um coro de comemoração e sorriam gostando disso.

- Vamos pegar alguns zumbis, cervejas e mulheres...

Viro-me para meu grupo e vejo todos com os olhos lagrimejando por causa do medo.

Estávamos cercados por homens grandes, fortes, sádicos e, para completar, regados por armas pesadas que reluziam à luz.

Estávamos ferrados.

Muito ferrados.

You fucking psycho
            A porra de um psicopata

Your ass belongs to me now
          Seu traseiro pertence a mim agora

Your ass belongs to me now.
            Seu traseiro pertence a mim agora


Notas Finais


Isso que estou ouvindo são os choros de saudade por paz?
Pois é...
O grupo comprou a passagem para o inferno e finalmente chegaram nele...
O que acharam sobre tudo isso? Realmente quero a opinião de vocês!
Até a próxima, walkers!


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