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História Into The Dead - Capítulo 21


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá! Vou responder os comentários depois, pois me enrolei muito hoje!!
Estão animados com esse capítulo?! Porque eu tô morrendo pelo último episódio hoje!
Vamos entrar no clima então!
Boa leitura e me perdoem pelos erros, não deu pra corrigir esse.

Capítulo 21 - Capítulo 21


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 21

Lauren PDV

 

O ambiente ao redor cheirava à carne humana queimada. Aquele fedor terrível que fazia tudo dentro do seu estômago remexer e que se misturava com borracha, grama e mais outros odores no ar. Grunhidos eram escutados ao longe. Os zumbis misturados às chamas fracas e metal derretido grunhiam esticando seus braços que agora eram basicamente pele incinerada sobre ossos negros.

A fumaça subia até o céu escuro, que mais parecia um tapete brilhante de tantas estrelas o enfeitando.

A porta de titânio estava aperta e por ela fomos empurrados até uma fileira de carros que estavam estacionados mais a frente. Ao redor tudo era apenas fumaça, chamas fracas, zumbis queimados e estraçalhados.

Passamos por um caminho livre de compostos orgânicos queimados e fomos conduzidos até os sete Humvees que estavam parados. Era surpreendente a quantidade de homens fardados que estavam por perto, levando em consideração que não víamos um militar há meses. Talvez uns quinze ou vinte. Usavam capacetes, coletes pesados, facas e granadas presas aos cintos e fuzis em mãos.

Pelo visto eles haviam largado de tentar proteger as pessoas na cidade e se refugiado buscando a própria proteção.

As claridades das chamas mostravam as blindagens no exterior dos veículos militares, certamente mais adequados às operações em ambientes em que explosões de artefatos são frequentes. Provavelmente aqueles foram feitos para guerras como no Afeganistão ou no Iraque.

Mas agora estavam em Miami.

Alguns militares se mantinham ao longe fazendo a retaguarda. Eles estavam em posição segurando seus fuzis e, uma vez ou outra, atiravam nos zumbis que apareciam por entre os galhos da floresta lateral.

Quando fomos empurrados para dentro dos Humvees os primeiros raios solares apareciam no horizonte de Miami. Fui praticamente carregada porque minhas costelas ainda incomodavam e eu respirava com dificuldade a cada chiado que saía por meus lábios. O Sargento Mendes ordenou aos seus subordinados que procurassem pelo menos algum tipo de vestimenta para cobrir aqueles que tinham poucos panos no corpo.

Christopher, por mais que houvesse relutado, foi obrigado a vestir uma calça camuflada sobre a cueca samba canção que usava. O peitoral do meu irmão continuou à mostra e só então percebi como o rapaz estava magro e com alguns músculos.

Troy, fato que não tinha percebido até aquele momento, usava apenas uma regata preta e uma cueca da mesma cor. O rapaz loiro também foi obrigado a vestir uma calça camuflada. As mulheres que usavam apenas blusas finas e shorts foram envolvidas por jaquetas grandes e grossas militares.

Quando um soldado ruivo se aproximou de mim com a vestimenta eu tentei relutar dando-lhe um empurrão com o ombro, mas facilmente fui imobilizada por ele.

Vesti a jaqueta camuflada enquanto o Humvee dava partida. Dentro do veículo militar também se encontrava Camila, Sofia e Ally. Pelo menos, após Dinah implorar ao Sargento ao sairmos do CDC, eles permitiram que os parentes tivessem suas respectivas crianças por perto.

“Você está bem?” eu esbocei com os lábios para Camila.

O interior do Humvee era pequeno. O comboio era feito basicamente para levar suplementos e armas, então o local para tripulantes se assentarem era apertado. Cinco soldados nos escoltavam: um na direção do veiculo militar, outro ao seu lado como acompanhante. O terceiro estava sentado ao meu lado e encarando nós quatro, e os dois últimos mantinham-se em pé e com a cabeça para fora na abertura do teto do veículo. Na abertura um fuzil de guerra estava acoplado e um dos soldados o segurava, atento a qualquer ameaça que surgisse na estrada para atirar.

A latina estava sentada de frente para mim e tinha uma Sofia abraçada ao corpo. A criança tinha os olhos assustados e apertava o tecido da jaqueta camuflada que envolvia a irmã mais velha.

Camila então apenas confirmou com a cabeça por mais que seus olhos marejados indicassem o contrário.

O Humvee trepidava em cada obstáculo que passava por cima. Eu podia visualizar os zumbis incinerados sendo esmagados pelas rodas grandes do veículo.

Olho para o lado direito vendo Ally com as próprias mãos entrelaçadas e murmurando algo baixinho de olhos fechados. A vontade e crença que ela colocava nos sussurros que saíam por seus lábios só podiam indicar uma coisa: a loirinha estava rezando.

Pelo menos alguém ali tinha que continuar a mandar pedidos para o Cara lá de cima.

Pelo tempo que durou a viagem eu percebi que Louis não havia dito a verdade quando nos informou sobre a distância da tal base militar. Foram pelo menos duas horas de trepidações, freadas brutas, tiros em zumbis que apareciam e resmungos por parte dos soldados dentro do Humvee.

Seguimos então a noroeste de Georgia. Os soldados não se importavam em tomar as rotas principais. As artilharias pesadas destroçavam qualquer horda que aparecesse na frente. Eles pareciam adorar todas as vezes que zumbis apareciam no caminho, sentiam-se em um jogo de vídeo game onde bastava mirar e atirar para ver os membros voando para todos os lados.

A caravana de Humvees seguiu pela rodovia 20 por grande parte do trajeto, pegando um desvio da mesma apenas quando a vegetação arbórea ao redor ficou mais intensa. Semicerrei meus olhos quando passarmos por perto de um restaurante abandonado chamado: The River Store.

Automaticamente a lembrança de uma vez que meu pai levara eu e meu irmão ali me veio à mente. Eu tinha apenas quatorze anos e meu irmão mal havia completado treze. Comemos tanto churrasco e bebemos tanta Coca-Cola após termos passado a tarde inteira caçando que sequer conseguíamos entrar em nossa picape e ir embora para casa.

Estávamos nos aproximando da Chattahoochee-Oconee National Forest, uma extensão de mais de oitocentos mil hectares de mata rica em fauna e flora.

Seriam árvores nos cercando em todas as direções.

Os veículos militares trepidaram ainda mais quando pegamos as estradas de chão da floresta. Ao redor apenas os vultos verdes eram vistos. Camila olhava pela pequena janela do Humvee, perdida em pensamentos. Eu queria dizer qualquer coisa, eu queria ser qualquer coisa que passasse pelo menos um pouco de confiança para a jovem, mas eu não tinha nada.

Mais uns quinze minutos adentro da mata os Humvees finalmente frearam bruscamente.  Ao longe se podiam ouvir alguns murmurinhos de vozes que indicavam mais pessoas. Eu tentava ver alguma coisa através da janela do veículo, mas antes de conseguir esticar meu pescoço para tal ato eu senti uma tapa na cabeça vindo do soldado ao meu lado.

O negro de olhos expressivos, que em sua farda estava grafado o nome L.A Reid, me ameaçou com uma carranca e colocou as mãos sobre o fuzil que descansava sobre suas coxas torneadas. Eu apenas rosno baixinho e volto a olhar para frente.

Um barulho reconhecível de portal de ferro se abrindo ecoou e novamente o Humvee se movimentou conosco. Pude ver pelo vulto da janela o enorme muro que nos separava da liberdade do lado de fora. Ele era feito tijolos avermelhados e velhos. E dois homens, seguranças, estavam em seus postos de cada lado.

Pouco depois os Humvees pararam e dessa vez desligaram os motores.

- Não faça nada ser pior para vocês. – o mesmo ruivo, que era o acompanhante do motorista na cabine, pediu enquanto se colocava de pé dentro do Humvee.

Reid me segurou pela nuca e me empurrou para frente à força. A porta lateral do Humvee foi aberta por ele e eu só não caí de joelhos na terra vermelha fofa porque o soldado manteve o aperto forte em meu pescoço. Pelo visto, por meus pequenos arrancos, o militar havia percebido que eu não era calma como as outras. Camila não tinha ninguém segurando, pois sua irmã estava abraçada ao seu corpo, mas tinha o ruivo a escoltando.

E então quando finalmente meus olhos se acostumaram com os raios solares eu consegui observar o espaço ao redor de mim.

Era uma área plana extensa. As barracas estavam montadas em setores eram lonas altas e de tonalidade verde escuro, e os setores que as dividiam não passavam de barricadas feitas de sacos de areia e feno empilhados. Carros, camionetes e ônibus militares estavam estacionados perto de onde descemos dos Humvees. Só naquela área, que pela extensão dos muros percebi que era apenas a recepção do lugar, eu já conseguia contabilizar pelo menos doze barracas montadas.

Nas interseções entre as barracas algumas estacas grandes estavam ficadas ao chão e em suas pontas existiam suportes onde provavelmente à noite chamas iluminavam a escuridão do local.

Pessoas transitavam entre as vielas calmamente. Ver tantos humanos saudáveis depois de meses fugindo de acampamentos com no máximo quarenta ou cinquenta pessoas era, no mínimo, aterrorizante.

Existiam civis em meio aos miliares.

- Andando! – Reid ordenou para mim e só então percebi que havia ficado estática observando o lugar.

Olho para trás em busca do resto do meu grupo e os vejo também sendo retirados de dentro dos Humvees. Os soldados empurravam meu irmão e Troy, porque eles pareciam ser mais encrenqueiros. Os militares simplesmente estavam adorando as expressões enraivecidas dos dois.

Os civis que passavam por perto de nós estavam assustados com a brutalidade em que éramos guiados por entre as tendas. Mas, em momento algum, eles pensavam em nos defender ou ajudar.

O lugar cheirava à relva e talvez, fracamente, a comida sendo preparada. Uma fumaça subia ao norte do lugar e eu deduzi que ali ficava a área de alimentação. Todo o acampamento militar era enraizado em menores vielas a partir de uma estrada grande que o cortava. Dois veículos transitavam por ela e as pessoas continuaram seus trajetos sem ao menos mais ligar para nós.

Reid apertou sua mão em minha nuca e me vira bruscamente para uma tenda grande e longa. Ela tinha uma tonalidade mais escura, diversas aberturas que eram as janelas e tinha caixas de madeira na frente.

Adentramos no lugar. Uma movimentação intensa de soldados para todos os lados nos dificultava a passagem até uma outra abertura que dava em uma sala separada.

Percebi então que metade da extensão da tenda era para apenas aquela sala. Fomos todos conduzidos para ela e empurrados para frente. Eu me equilibro com dificuldade por causa da brutalidade do negro. Olho para os lados e vejo que todos os do meu grupo estavam também ali.

À nossa frente uma mesa de carvalho branco estava posta. A sala era mobiliada com algumas estantes velhas e um sofá carcomido. Em cima da mesa diversos papéis estavam espalhados e um mapa rodoviário da região da Georgia também. E ainda sobre isso havia uma AK-47 e um fuzil militar.

Atrás da mesa estava um homem alto e loiro. Seus músculos eram marcados pela farda militar fechada. Continha uma corrente de ouro ao redor do pescoço e um cinto com fivela prata que, cada vez que o sol advindo de uma janela perto batia no metal, fazia um reflexo vir diretamente em meus olhos.

Seus olhos eram um castanho claro marcante, mas um grande corte no supercílio direito era visível, o que acarretou uma falha em sua sobrancelha. Alguns pelos de barba ameaçavam aparecer em seu bigode e em seu queixo.

A cabeça era raspada nas laterais e na parte superior os cabelos loiros desbotados estavam um pouco arrepiados.

Sua farda continha no lado esquerdo cinco condecorações, o carvalho amarelo desenhado e o nome no crachá deixavam claro que ele era Major.

Major Justin Bieber.

O Sargento Shawn Mendes entrou na tenda usando um boné camuflado e seu rosto quase não era visto pela aba por estar bem abaixada na sua cabeça. Ele mascava chiclete de um jeito muito rude e, ao ver que o Major olhava para ele com uma sobrancelha erguida, ele ficou em posição e bateu continência.

- Então vocês são os heróis dos cientistas, huh? – o Major perguntou, olhando-nos um por um. – Eu sabia que aquele truquezinho de chamar alguém pelos receptores iria atrair idiotas.

 - Nós não sabemos que merda está falando! – Christopher rosnou para o militar.

- Esse é o cão raivoso que falei. – Shawn Mendes anunciou para o Major.

O Major Justin Bieber deu um sorriso orgulhoso para o subordinado. Caminhou para o lado e deu a volta na mesa de carvalho branco assentando-se na ponta da mesma na parte da frente. Ele, assim como todos os outros militares, usava os trajes completos. Jaqueta e calças camufladas, regata e botas pretas nos pés.

- Há quanto tempo estão por aí? – perguntou o superior loiro.

Ninguém ali teve a submissão de respondê-lo.

Fato que deixou o militar um pouco irritado.

- Não me façam ter que tomar medidas deselegantes, por favor. – o Major suspirou fingindo realmente se importar com a nossa integridade.

- Depende do que você quer dizer com “por aí”. – Austin foi o único que teve coragem de responder.

Isso fez o militar olhar para o policial na ponta da fila que formávamos. O Major levantou-se e caminhou em nossa frente até chegar perto do jovem com a face cheia de roxos e vermelhos grotescos. Troy realmente havia pegado pesado com ele.

- Apanhou de quem, huh? – o Major Bieber perguntou analisando de perto os hematomas do policial. – Pelo visto apanhou igual uma mulherzinha...

Isso fez o policial fechar os punhos com raiva e as narinas inflarem. Automaticamente o seu olhar enraivecido caiu para mim e o Major o seguiu, sorrindo ao me ver.

- Apanhou dela? – ele ergueu uma sobrancelha, surpreso.

- Não! – Austin rosnou voltando a encarar o militar à frente. – Não importa de quem eu apanhei!

- O que você era antes disso tudo?

- Policial. Ou melhor, estava na academia.

- Hum... – Justin semicerrou os olhos para o jovem a sua frente.  – E você é o líder desse grupo?

- Não. – novamente Austin rosnou com a onda de ressentimento lhe tomando.

- Quem é então?

O Major deu um passo para trás nos analisar melhor novamente. Deu a volta na mesa e se apoiou com as duas mãos abertas no carvalho branco.

Seus olhos transmitiam uma expectativa enorme.

- Acho que é o cão raivoso, Senhor. – Shawn Mendes respondeu com o olhar submisso focado no nada e o queixo erguido.

Justin Bieber então olhou para o meu irmão. Christopher tinha uma expressão séria e as sobrancelhas unidas mostrando sua raiva.

- Parece mesmo um cãozinho raivoso. – o superior loiro caçoou e isso fez meu irmão bufar ainda mais. Eu via que ele fechava os punhos e se controlava para não avançar sobre o militar.

Christopher sempre foi muito controlado, mas quando a situação ameaçava a minha integridade ou a de minha irmã ele se tornava extremamente protetor.

- Quanto tempo vocês estavam em Atlanta? – o Major perguntou dessa vez para Dinah.

A loira até aquele momento se mantivera em silêncio apenas abraçando sua irmãzinha, em seu colo. Regina estava em silêncio como uma boa garota, mas via-se em seus olhos o medo enquanto descansava a cabeça no ombro da loira. Dinah também tinha uma expressão fechada no rosto.

- Apenas um dia. – ela respondeu sem ânimo algum.

- E antes disso? – o Major semicerrou os olhos para ela.

- Estávamos nas redondezas de Miami. E antes disso, pois sei que irá perguntar, estávamos na cidade grande. – a loira teve a audácia de responder o militar rudemente e ainda lançar um olhar de soslaio para ele.

- Arisca... – Justin deu um sorrisinho prepotente para os soldados atrás de nós e eu pude ouvir as risadinhas deles.

Dinah revirou os olhos e continuou a embalar a irmã.

O Major pigarreou como se estivesse entediado e lançou um olhar de superioridade para cima de nós. Encarou então Harry que mal conseguia apoiar o pé direito no chão e por isso tinha um braço apoiado no ombro de Keana, que estava ao seu lado.

- Vocês realmente estão fodidos, hein? – debochou. – Um policial que só tem metade da cara, um cabeludo saci e três crianças para carregar? – perguntou retoricamente e levantou o olhar para nós. – Como vocês conseguiram sobreviver à cidade grande e à viagem de Miami até aqui?

- Porque somos um grupo e não um monte de idiotas que estão usufruindo das armas do governo para ter uma tirania! – eu rosno e só depois percebo o que havia falado.

O Major Bieber virou o rosto para mim lentamente como se não acreditasse que eu tivera a audácia de respondê-lo daquela maneira.

Deu passos calculados até estar na minha frente, a poucos centímetros do meu rosto. Seu cheiro era uma mistura de suor masculino e colônia amadeirada. Olhei diretamente em seus olhos castanhos.

- Eu aposto todo o Bourbon que tenho nessa tenda que você é irmã do cãozinho raivoso. – falou e seu hálito, que era uma mistura de pasta dental de menta e uísque, bateu em meu rosto.

Fico em silêncio, o encarando.

- Estamos usufruindo das armas do governo, minha linda de olhos verdes, porque simplesmente não existe mais Governo. – Justin pronunciou cada palavra com escárnio.

- O que você quer dizer com isso? – Troy se pronunciou.

O Major não se movimentou e nem se distanciou de mim, apenas virou a cabeça para o loiro.

- Eu quero dizer que todos os chefões lá de cima... – o militar respondeu referindo-se aos governantes do país. – Estão mortos. Nós perdemos totalmente a comunicação com as outras unidades. Nossos rádios não conseguem transmitir informações distantes. Nem aqueles inocentes cientistas sabiam que o sinal percorreria apenas uns cem quilômetros no perímetro do Centro. Os satélites? Não funcionam mais!

- Vocês não tinham um plano ou sei lá, um treinamento para esses momentos? – Normani perguntou e nota-se o desespero em sua voz.

- Nós tínhamos. – o superior loiro a respondeu e finalmente se distanciou de mim caminhando na direção da morena. – O ConPlan 8888. Tivemos modelos de treinamento baseado em uma catástrofe global dessa magnitude. Tivemos treinamento baseado em pandemias globais. Mas nada, nada é comparado com a realidade! Nos primeiros meses? Os Governos dos países estavam unidos contra a pandemia. Todos estavam trabalhando em conjunto até que Governo por Governo começou a cair. E então perdemos totalmente o controle da situação. Havia um plano já esquematizado antes do Apocalipse para casos tão extremos assim, um plano com cinco fases: a zero, um, dois, três e quatro. – ele explicou e então se escorou à sua mesa. – Não passamos da primeira. – o Major balançou a cabeça negativamente. – Eu estava designado a juntar pelotões nessa região. Já estávamos com sete meses de Apocalipse. Mas apenas o pelotão do Sargento Mendes apareceu.

- E então vocês decidiram desistir das pessoas nas cidades e fazer uma casinha para vocês no meio da floresta? E ainda por cima ameaçar pesquisadores e pegar civis como reféns para uma estúpida batalha que nem sabemos do que se trata? É isso que vocês juraram perante o Governo dos Estados Unidos da América?! É isso que é honrar a pátria para vocês?! – Troy exasperou tudo em uma só respiração e, ao final do sermão, alguns respingos de saliva saíram de sua boca mostrando sua indignação.

Justin desviou-se a tempo dos respingos não lhe atingirem. Pelo visto o militar temia que fôssemos contagiosos ou algo do tipo. Percebo seu cenho tremer pela tamanha raiva que lhe invadiu.

- Tenha mais modos em falar com um militar, seu imprestável! – o Major rosnou na cara do ex-motorista e apontou um dedo em seu rosto. – E sim, nós preferimos manter nossa integridade a arriscar nossas bundas em uma cidade grande tomada pelos mortos. Manter aqueles cientistas com comida, abrigo e combustível foi um ato de misericórdia. Eles, assim, pelo menos poderiam continuar a buscar a cura para essa desgraça. Porém... pelo visto as mariquinhas não suportaram um pouquinho de pressão por isso. E se você se acha um sobrevivente pode-se considerar sortudo agora, porque era dever das tropas aéreas jogar Napalm em Miami, mas o plano foi cancelado quando a base área foi invadida!

Meus olhos quase pularam de minhas órbitas ao imaginar aquilo. Napalm é um conjunto de líquidos inflamáveis à base de gasolina gelificada. Lembrava-me que nos tempos da escola meus professores comentavam que tal arma militar foi usada durante a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra do Vietnã. A potência explosão é tão catastrófica que faz o oxigênio pegar fogo.

- Não iria importar se houvessem sobreviventes, Miami por inteiro seria tomada por explosões contínuas assim como aconteceu em grandes cidades ao redor do mundo. – o Major continuou. – Vocês estariam mortos! Então é melhor agradecer que os militares desistiram de aniquilar e sim lutar pela integridade daqueles que os rondavam!

O Major respirou fundo e voltou a se portar com superioridade. Caminhou para trás de sua mesa de carvalho branca e olhou para o submisso Sargento Mendes.

- Chega de papo! Levem todos eles para a quarentena. – o Major sentou-se em sua cadeira e voltou a analisar alguns papéis em cima da mesa. – Chequem se não estão infectados por mordidas ou arranhões. Depois disso deixem os dois cãozinhos raivosos e ela... – ele apontou para Chris e Troy e depois para mim. – Nas salas especiais.

Eu tento me livrar de suas mãos grandes e fortes, mas eles, sem nenhum esforço, me imobilizaram. Meu coração estava acelerado e meus músculos tensos pelo medo. Lufadas de ar saíam por meus lábios e eu os praguejava audivelmente.

- Vamos dar um tratamento especial para eles. – o Major Justin Bieber respondeu e deu um sorriso cruel de lado.

- O quê? – pela primeira vez Camila se pronunciou quando viu que o militar havia apontado para mim. – O que vão fazer com eles? – gritou quando dois soldados me agarraram pelos braços.

- Salas especiais? – Shawn Mendes perguntou para seu superior. – Não vão diretamente para as celas para a luta de hoje?

- Não. – Justin Bieber respondeu sem olhar para o subordinado, continuando a analisar os papéis em cima da mesa. – Será daqui quatro dias!

- Mas, Senhor... eu já falei para os soldados... – Shawn tentou argumentar.

- Não me importa o que você falou, imbecil! – Justin então levantou o olhar enraivecido para o Sargento. – São as minhas ordens e ponto final! A luta será daqui quatro dias!

Eu analisei o jeito como Shawn Mendes engoliu seco a raiva na garganta e fez um sinal de continência obediente para o superior. Mesmo submisso o Sargento tinha o maxilar travado por causa da ira de ter sido chamado daquela forma na frente de seus soldados.

- Você me entendeu, Sargento? – O Major ainda se certificou ao ver a expressão controlada do militar.

- Sim, Senhor. – O Sargento bateu continência novamente e fez um sinal para seus soldados.

Pelo visto tinha algo de errado entre os dois...

Uma briga pela liderança, talvez?

Porém não tive tempo de analisar a expressão irada de Shawn, pois fomos todos nós empurrados novamente para fora da tenda principal.

Meus olhos estavam marejados o que dificultava a formação perfeita das silhuetas na minha frente. Sol já estava forte no céu e o brilho que refletia no chão de poeira me cegava. Mais alguns civis passaram perto de mim e analisaram a situação. Eu via em seus olhos que eles estavam surpresos com tudo o que acontecia.

- Não olhem para eles assim! – a voz do Sargento Mendes surgiu atrás de nós. – Eles estavam planejando nos atacar e nós os capturamos primeiro!

- Vai ter batalha daqui quatro dias? – ouço uma voz desconhecida em meio às pessoas que observavam.

- Sim. Vamos usar esses traidores como lutadores! – o Sargento anunciou ainda irritado pela decisão do superior.

Eu mal acreditei quando consegui identificar murmúrios de comemoração em meio às pessoas.

Eles estavam comemorando que meu irmão, Troy e eu estaríamos participando de uma batalha?

O que havia de errado com aquelas pessoas?

Os soldados nos empurraram por toda a via que cruzava o acampamento militar. Quase no final do acampamento havia uma casa feita de tijolos. Era um galpão amplo com aspecto agourento por causa da coloração negra dos tijolos. O portão era avermelhado e não havia uma sequer janela ali.

Eles entraram conosco no galpão que só era iluminado por causa da existência de tochas acesas e penduradas na parede. Andamos por um corredor principal e então fomos empurrados para dentro de um cômodo grande. Caí de joelhos por causa do impacto em minhas costas. Logo em seguida o restante do grupo foi colocado ao meu lado.

- Tirem as roupas, agora! – o Shawn Mendes ordenou.

Não lhe obedecemos no primeiro instante o que fez o militar bufar de raiva. Ele deu passos pesados até estar em nosso campo de visão, à nossa frente.

- Se vocês não tirarem essas malditas roupas vou arrancar peça por peça do corpo de vocês! – ele ralhou tirando o boné da cabeça em um ato de fúria. – Estou no meu limite de paciência com vocês, filhos da puta! Só não matei vocês naquele CDC porque o Major me deu ordens!

Escuto então os choros baixinhos de Normani e de Keana. As crianças já tinham os olhos inchados de tantas lágrimas que escapavam. Um bolo se formava na minha garganta e a palma da minha mão já se encontrava avermelhada e sensível por causa da tamanha força que eu fechava meus punhos.

- Eu não vou repetir! – o Sargento Mendes rosnou.

Seus olhos estavam expressivos e a mandíbula travada indicando sua fúria. Ele já não mais mascava o chiclete. Tinha a mão pousada em uma pistola na cintura.

Olho para o lado e vejo que Dinah, Normani e Harry já começavam a retirar as blusas. Eu engulo um choramingo e tento arrumar coragem do fundo da minha alma para conseguir fazer aquilo.

Estávamos sendo humilhados.

Trêmula de raiva e medo, começo a retirar a jaqueta camuflada. Meu corpo travava diversas vezes, mas sempre que meus olhos pousavam na mão de Mendes na arma eu continuava a retirar peça por peça do meu corpo.

Eu tentei, realmente tentei, cobrir minha nudez quando a última peça deslizou por minhas pernas. Usava um braço para cobrir os seios e palma para cobrir a virilha. Não queria, mas foi inútil não olhar para o lado e ver meu grupo na mesma situação. Camila e Dinah escondiam as crianças atrás de seus corpos e ao mesmo tempo tentavam cobrir as próprias intimidades. Troy fazia o mesmo com a filha enquanto tinha uma mão na virilha.

As mulheres engoliam os choros da humilhação de ter tantos soldados olhando seus corpos e os homens praticamente queria matar os militares ao redor. Eu não conseguia descrever tamanho rebaixamento que nos submetemos naquele momento com os olhares desejosos dos soldados.

Então dois soltados apareceram puxando espécies de mangueiras que estavam acopladas a um tubo metálico no teto. Elas eram emborrachadas e tinha tonalidade púrpura e o bico negro, puxadas e ecoando um barulho parecido com correntes arrastando no chão.

Então o Sargento Mendes fez um sinal positivo com a cabeça e os soldados viraram uma maçaneta na ponta do bico das mangueiras grossas. Mal tive tempo de fechar os olhos quando um jato frio e forte de um líquido azulado bateu contra nossos corpos. Fecho a boca, mas mesmo assim o gosto amargo que quase queimava meu palato conseguiu entrar.

- Já me notificaram que vocês fizeram exames de sangue no CDC. Nenhum deles apresentou nada. – eu escutava o Sargento Mendes falar ao fundo, mas os jatos de água que iam ao meu rosto e corpo não me deixavam concentrar. – Então vamos apenas desinfetar vocês.

Quando finalmente os jatos de água fria acabaram todos nós batíamos os queixos. Janeiro já estava quase terminando e assim o frio também, mas receber líquido em uma temperatura tão baixa próximo das nove horas da manhã fez com que nossos corpos entrassem em choque térmico.

Meus cabelos caíam sobre meus olhos, mas, se eu cogitasse a ideia de usar uma das mãos para retirá-los dali eu ficaria nua diante dos olhares dos soldados. Então eu deixei que os fiapos molhados tampassem um pouco da minha visão.

Novamente o Sargento fez um sinal com a mão e passos ecoaram em nossas costas. Senti então um pano grosso sendo colocado em meus ombros.

Toalhas.

Pegamos rapidamente as toalhas e envolvemos em nossos corpos para tentar recuperar um pouco de calor. Eu tremia, mas era uma mistura de frio e raiva. Tudo o que eu queria era minha arma para meter uma bala no meio daquele Sargento desgraçado.

Roupas também foram jogadas em nossos pés. Elas acabaram caindo sobre as poças de água no chão e se molhando, mas os soldados sequer se importavam com isso. Seco meu corpo na medida do possível e pego as roupas, as vestindo em uma rapidez excepcional. Tinha em minha mente esse pensamento inocente que se eu não demorasse talvez eles não tivessem o privilégio de ver tanto do meu corpo.

Quando termino fico ereta e passo minhas mãos trêmulas por meus cabelos. Todos ali vestiam calças camufladas e regatas brancas, trajes típicos dos militares. As mulheres sequer receberam roupas íntimas, muito menos os homens. As crianças, pelo menos, receberam ponchos grossos para livrarem-se do frio.

- Ordens são ordens... – o Sargento Mendes parecia conversar consigo mesmo enquanto anotava, algo realmente sério, em uma prancheta negra em mãos. – Levem os cães raivosos e a donzela de olhos verdes. Agora!

Senti mãos fortes em meus braços novamente. Soldados agarraram também os braços de Christopher e Troy, fazendo os dois homens começarem também a se debater buscando a liberdade. Mas, assim como eu, não conseguiram. O restante do grupo implorava e tentava nos ajudar, mas logo mais militares interferiram e os seguraram também. Todos estavam os olhos marejados, exceto Austin, ele observava meu irmão, o loiro e eu sermos levados para fora com uma expressão neutra.

Como se ele realmente não ligasse para o que iria acontecer conosco.

- Lauren! – Camila gritou meu nome ainda lá dentro.

- Eu vou ficar bem, Camz. Por favor, tome conta de você e da sua irm...

Uma pancada em meu abdômen fez a frase morrer no interior da minha boca. L.A Reid, que antes também me escoltava, estava ao meu lado furioso por minha gritaria. Eu me inclino para frente procurando por ar em meio à ardência em minhas entranhas.

- Andando! – ele ordenou e assim como fazia antes, me agarrou pela nunca e começou a me conduzir como se faz com um cachorro pela coleira.

Fomos levados para fora do lugar de desinfestação e guiados para uma das vielas adjacentes do acampamento. Novamente paramos em uma casa feita de tijolos negros. Empurram-nos para dentro. Porém, esse lugar era repleto de corredores úmidos e portas de metal grosso. Eu conseguia escutar músicas do interior dos quartos fechados e os gritos de ajuda de pessoas em seu interior.

Ao ouvir aquilo automaticamente um sentimento de autopreservação apoderou do meu corpo e eu comecei a me debater nos braços do soldado negro. Ele rosnou e agarrou-me com mais força pelos braços. Os gritos alheios eram desesperados e a altura da música parecia ser muito alta por mais que fosse abafada pelas paredes grossas e portas de metal.

Reid puxou uma porta de metal e me empurrou para o interior do cômodo sem nenhuma luz. Eu corri para tentar fugir, mas o militar antes disso empurrou a porta novamente e eu me vi presa.

Presa em um quarto totalmente negro.

*Music On* (Shadow Moses - Bring Me The Horizon)

E quando eu menos esperei o barulho de um coro rasgou o silêncio do lugar. Olhos para os lados atordoada, mas não vendo nada a não ser preto. Pisco, por mais inútil que fosse, procurando a direção da fonte do som. Provavelmente vinha de caixas de estéreo penduradas nas junções da parede. Caminho até às paredes e começo a tatear a textura rude e fria procurando cegamente.

Mas não consegui achar.

Engulo o bolo de choro que estava formado na minha garganta. Na verdade, não parecia mais uma bola em minha epiglote e sim pregos que toda vez que deglutia sentia o arder do medo descer por minha garganta.

Forço minha memória ao ver que reconhecia aquele toque. Antes do Apocalipse meu irmão costumava colocar aquela porcaria no último volume em casa.

Coloco as mãos sobre as orelhas quando o barulho alto da bateria e da guitarra remanesceu. O volume da música era tão alto que eu sentia as vibrações contra meu corpo, como se os efeitos físicos das ondas fossem tão intensos, a amplitude fosse tão grande que isso me afetava diretamente.

As primeiras cinco vezes que a música repetiu foram suportáveis, porque, depois de tanto tempo sem conseguir ouvir uma música por falta de dispositivos que fizessem tal, eu sentia falta de algum som diferente de grunhidos de zumbis e barulho de grilo.

Havia um intervalo de aproximadamente sete segundos entre as repetições da mesma maldita música, com o mesmo volume alto.

Eu já havia compreendido o que estava acontecendo. Era uma espécie de tortura musical. Já havia lido sobre isso uma vez. O método com músicas ensurdecedoras já foram usados para torturar presos em vários lugares: Guantánamo, Guerra do Iraque, pela CIA e várias ditaduras por todo o globo.

Resumia basicamente em submeter o prisioneiro a um looping infinito da mesma música, no mesmo volume durante dias com um único objetivo: fazê-lo ficar completamente desorientado.

Eu tentava conversar com a minha própria voz interna para não prestar atenção na música. Mas as malditas vibrações já faziam meu tímpano ficar sensível demais.

Me perdi no tempo ali dentro.

Mantive-me firme até que meu corpo deu os primeiros indícios de fome. Não era fácil manter a concentração com minhas entranhas queimando por ausência de alimento. A escuridão me deixava tonta com frequência então, para não pensar que estava em um quarto sem luz, eu fechava os olhos e me escorava à parede continuando assim minhas conversas intensas com meu próprio interior.

Quando o cansaço me atingiu tudo o que meu corpo queria era alguns segundos de descanso para dormir. E eu tinha. Sete segundos exatos até que o maldito toque recomeçasse novamente e assim os gritos do vocalista e as batidas quase ensurdecedoras da bateria e cordas da guitarra.

Eu não conseguia me concentrar, eu não conseguia pensar, eu sequer conseguia ouvir minha própria voz quando gritava.

Eu poderia estar horas, dias, semanas ali dentro que sequer notaria. Minha cabeça latejava e eu já havia perdido as contas de quantas vezes aquela maldita música repetiu.

Uma fresta de luz repentina no outro lado do quarto me fez olhar para a porta de metal. Apenas um orifício foi aberto, por segundos, tempo suficiente para ser jogado algo no interior do quarto e a passagem ser fechada de novo. Engatinho desesperada até tatear todo o chão e achar o que era aquilo. Quando o cheiro do pão velho e um molho que eu mal sabia o que era entrou por minhas narinas eu nem me importei em descobrir o que estava colocando na boca.

Eu comeria qualquer coisa.

Chegou um momento que as lágrimas já escorriam descontroladamente por meu rosto. Eu não tinha controle das minhas reações explosivas. Eu berrava para que tirassem aquela maldita música. Sequer ligava se fizessem greve de alimento comigo, eu simplesmente não aguentava mais as batidas das caixas de som.

Meu coração disparava repentinamente, minhas pupilas dilatavam e minha cabeça latejava provavelmente por dias seguidos sem dormir direito, porque, quando fechava os olhos e escuridão me pegava por extremo cansaço psicológico o volume da música logo tratava de me acordar novamente. Eram segundos de silêncio no paraíso que logo voltava a ser o inferno.

Era uma tortura mental terrível que se juntava com a fome e frio da noite naquela cela.

E então, quando percebi que aquele seria meu fim, deixe-me ser vítima dos pensamentos sádicos. Eu batia a cabeça na parede sem nem mesmo perceber, sem nem mesmo notar que isso já estava fazendo a lateral da minha testa ficar vermelha e sensível. Eu encarava um ponto fixo negro e repetia a letra da música incansavelmente na cabeça.

Eu apenas fazia isso, exceto, quando o orifício na porta se abria e eu corria até ele como um animal faminto.

Eu estava me tornando um animal ali dentro.

Pensar em paz, momentos e em Camila havia se tornando o único escape para uma total loucura.

Minha cabeça já tombava de tanto cansaço. Meus olhos estavam extremamente inchados e vermelhos. Cabeça latejando. A boca trincada por falta de água. Mãos tremiam de fraqueza. Sequer conseguia deglutir por falta de saliva.

Os setes segundos chegaram e eu suspirei em meio a um soluço de alívio.

Entretanto, a música não recomeçou. Olhei ao redor esperando por vibrações contra meu corpo, mas as caixas de som não emitiram nenhum barulho.

Pensei então que houvesse morrido e aquele fosse o silêncio do paraíso.

A porta grossa de metal foi aberta repentinamente e eu gritei ao sentir a ardência extremamente forte em meus olhos causada pela claridade de uma lanterna. Pisco para tentar entender o que estava acontecendo, mas os vultos eram intensos e rápidos. Sinto uma mão forte me segurar pelo braço e começar a me puxar pelo corredor. Eu meio engatinhava, meio cambaleava, meio andava, enquanto tentava ficar dignamente de pé.

Passo a mão que estava livre por meus olhos em uma tentativa de tirar a zonzeira e visão embaçada. Foco e percebo então que já era noite, porque se podia ver a escuridão através de uma janela no corredor.

- Sabe... nós geralmente colocamos soldados para lutar. – a voz de L.A Reid ecoou no corredor e eu olho para cima mesmo não conseguindo ver perfeitamente seu rosto. – É bom ter carne nova para a batalha. As regras são simples. Duas buzinas são tocadas. Uma no começo e uma no fim. O objetivo é tentar se manter vivo nesse intervalo de tempo e nocautear o oponente.

Reid me empurrou, perto da porta, em direção a uma mesa repleta de comida. Meus olhos quase pularam das órbitas ao ver a diversidade de alimentos.

Fui como um animal faminto em direção deles. Minha boca não suportava a quantidade de pão que eu colocava para dentro, não suportava a quantidade de água que eu tentava enfiar junto. Minhas mãos tremiam ao pegar os alimentos desesperadamente e eu simplesmente só conseguia sentir o prazer de finalmente estar cessando a minha fome.

- Depois de quatro dias presa naquilo isso não me surpreende. – o soldado debochou gargalhando e agachou-se do meu lado. - As pessoas gostam da violência, gostam do ódio. É maravilhoso o prazer de ver a dor do outro enquanto você não sente nada. Fazemos isso duas vezes ao mês, pois assim os civis que moram aqui param de temer esses mortos desgraçados. Além que, claro, é uma ótima atração. Você já viu o filme Uma Noite de Crime? – Reid perguntou enquanto me analisava a comer. – Esse foi um dos últimos filmes que vi antes do mundo virar essa merda... – comentou consigo mesmo.

Mas eu não respondi, pois minha boca estava cheia demais para tal. Na verdade, meus ouvidos ainda zuniam por causa do barulho intenso da cela em que eu estava. Minha visão ainda estava sensível demais com a maldita lanterna do negro no meu rosto.

- Não importa... – ele revirou os olhos. – A luta foi criada para ser um acerto de contas. Isso mantem aqueles que têm a violência no sangue dentro dos padrões do acampamento. Não se mata colegas, não se mata dentro aqui dentro, exceto, nas lutas. Isso diminuiu dramaticamente a violência aqui dentro. É como se fosse uma noite de expurga para aqueles que querem sangue nas mãos ou talvez um pouquinho de fama.

O ignoro e continuo a comer.

De repente quando L.A Reid se cansou de esperar ele simplesmente me agarrou novamente pelo braço. Meu bíceps já doía por causa de ser apertado sempre na mesma brutalidade.

Fui empurrada para fora da casa. As pessoas transitavam animadas de um lado para o outro com sorrisos estampados nos rostos. Por mais que houvesse mais soldados que civis, aquilo ainda era inacreditável.

E então barulhos de gritos de euforias são escutados.

*Music On* (We Will Rock You – Queens)

Reid me conduziu até a fonte dos barulhos. Uma série de estacas fincadas ao chão, propositalmente em forma de um círculo, delimitava a arena de luta. Havia até uma arquibancada feita de madeirada, estrategicamente também circular, onde mais de cinquenta pessoas, por minhas contas matemáticas rápidas e assustadas, estavam sentadas comemorando. Soldados eram mais que a metade da quantidade, mas surpreendentemente civis também estavam ali.

Elas batiam os pés duas vezes no chão e depois batiam as mãos uma vez, imitando perfeitamente o toque de guerra da música dos Queens.

As estacas que delimitavam a área de luta tinham quase dois metros de tamanho e, em suas pontas, tochas com chamas altas iluminavam tudo ao redor. Zumbis estavam presos por correntes nas mesmas servindo como obstáculos vivos.

Os andarilhos podiam locomover pelos arreadores, num raio de mais ou menos três metros, com braços esticados e mandíbulas estalando. Eles não estavam em um estado de decomposição tão avançado, o que os tornava perigosos por serem mais espertos que as almas penadas que mal conseguiam ficar em pé por causa dos músculos podres.

E como um baque contra meu corpo eu percebi que Thomas Hobbes estivera certo desde o início. O homem instiga seus desejos e só para de fazê-lo quando está satisfeito. Sem um Estado, sem uma ordem e sem leis... o caos paira. O homem utiliza tudo o que tem para atingir seus próprios desejos sejam eles físicos ou emocionais.

Aquelas pessoas ali haviam se entregado ao sadismo. Haviam se entregado à busca do prazer na dor alheia.

Era barbárico.

Fui empurrada até estar próximas às pessoas que gritavam e chamavam por lutadores. Os zumbis estavam bastante irritados com o volume das conversas e vozes. Isso, entretanto, parecia deixar a plateia ainda mais animada. Batiam ainda mais as mãos, clamando.

No centro da arena uma luta terminava entre dois soldados. Um homem estava totalmente desacordado em meio à poeira e o outro continuava a esmurrar seu rosto repleto de sangue e machucados. O que estava ganhando, não contente com o que já estava fazendo, pegou o zonzo pelos pés e ameaçou puxá-lo em direção de uma andarilha loira por perto.

O soldado que estava perdendo conseguiu se livrar dos punhos que estava em volta de seu tornozelo. Levantou-se, com uma dificuldade enorme, e tentou acertar o rosto do outro soldado. Mas o militar que tinha a vantagem foi mais rápido e desviou do ataque, empurrando pelas costelas o seu oponente para trás.

O soldado caiu de costas nos braços da zumbi loira, que o agarrou rapidamente.

Seu grito de dor ecoou quando os dentes da andarilha estraçalharam seu ombro direito. A plateia ficou em silêncio. Eu tinha os olhos arregalados encarando a zumbi arrancar a jugular do militar, o fluxo intenso de sangue espirrando para todos os lados, e ele, já fraco, ainda tentando se livrar da morte certeira.

Quatro soldados vestidos perfeitamente com suas fardas adentraram na arena. Três deles capturaram respectivamente a cabeça, e os braços da morta. O quarto puxou o militar mordido para fora do embraço da zumbi.

O militar chorava. Chorava de dor e chorava por saber qual seria seu destino. Ele foi escoltado pelos soldados para fora da arena e eu soube então que nunca mais o veria.

O vitorioso não estava lá muito feliz, mas mesmo assim ergueu os braços indicando sua batalha vencida.

- Tragam os outros! – reconheci a voz de Justin Bieber em meio ao povo.

E então meu coração quase voltou por minha garganta quando vi meu irmão sendo empurrado para o centro da arena. Um saco negro estava em sua cabeça. O homem usava a calça camuflada e tinha o peitoral desnudo. Em suas mãos ataduras de pano brancas estavam envolvidas como proteção para os socos.

O soldado que o guiava retirou o saco de sua cabeça e meu irmão semicerrou os olhos para se acostumar com a claridade. Ele estava atordoado com a quantidade de pessoas ao redor.

Do outro lado apareceu então o Sargento Mendes. O militar foi saudado por gritos da plateia, o que fez o homem entrar ainda mais confiante e dando leves acenos para o povo. Ele também usava a parte inferior da farda e estava sem camisa, com as proteções brancas nos punhos.

- Vai Shawn! Acaba com ele! – L.A Reid, que me escoltava, berrou ao meu lado.

Uma buzina soou e Shawn adentrou na arena, desviando calmamente de um dos zumbis que tentou agarrá-lo. Meu irmão estava ainda desnorteado, mas havia percebido basicamente sobre o que aquilo tudo se tratava.

Christopher então se posicionou com os punhos levantados, protegendo o rosto.

Shawn Mendes deu uma risada ao ver que Christopher o encarava como um lutador de boxe encarava seu adversário. Eles rodeavam o lugar, se encarando e esperando primeiro ataque. E ele veio do meu irmão. O Sargento, por ser altamente treinado, facilmente se esquivou do punho fechado de Christopher, e, em um movimento rápido, deu uma pancada em suas costelas, o que o fez cair sobre um joelho sem ar. Meu irmão, mesmo fraco, precisou dar um passo rápido para o lado para evitar que uma andarilha negra, que estava presa em uma estaca ao seu lado, desferisse uma mordida em seu ombro.

Aquilo gerou um grito de comemoração da plateia.

Minha cabeça latejava por causa das incessantes horas dentro daquela cela. As imagens se bagunçavam na minha frente, meus tímpanos doíam e, acima de tudo, uma raiva descomunal nascia dentro de mim. Eu tentava berrar internamente para não me submeter a tal violência, mas sequer conseguia racionar direito.

Olho para o lado, atordoada, e vejo Troy também ali.

E finalmente percebo do que aquilo se tratava. Nós três havíamos sido alvos daquela tortura apenas para ficarmos realmente perturbados para o que vinha a seguir.

E eu e o loiro seríamos lutadores naquela noite.


Notas Finais


AI MDS
E obs: o capítulo da morte do personagem está chegando e... eu já matei mais personagens depois dele.
Bjocas de luz.

HOJE TEM SEASON FINALEEEE


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