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História Into The Dead - Capítulo 22


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá! Cá estamos nós de novo! Hoje consegui felizmente adiantar as coisas!
Gente, fiquei sabendo que tem pessoas aí que não estão recebendo a notificação de atualização da história. Então façam o seguinte: fiquem tranquilos, pois todos os Domingos eu vou postar um capítulo. Se eu for postar antes ou será na Quinta ou será no Sábado. São os três únicos dias possíveis para capítulos!

Obs: Quero agradecer com todo o meu coração para a pessoinha que divulgou a fic ITD no twitter ♥
Estão prontos para uma traição no grupo?
Prontos para uma possível morte?
Segurem os fornos que o capítulo de hoje está tenso!

Boa leitura e me perdoem pelos erros!
ATENÇÃO NAS NOTAS FINAIS

Capítulo 22 - Capítulo 22


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 22

CAMILA PDV

 

Até onde vai a sua esperança?

Até onde atingem as raízes da sua espera por algo melhor?

Quando se passa muito tempo sozinha você esquece completamente de como é estar em companhia de outra pessoa. Fica eufórico para conversar, para dividir informações, para se comunicar.

O ser humano é assim. Não consegue viver sem se comunicar com o outro. A tendência daqueles que não se comunicam é a loucura.

Então o tempo passa e você está acostumada com um certo grupo de pessoas. Pessoas que, por você passar todas as horas do dia em companhia, se tornam parte do seu mundo. Você as vê, conversa, troca informações, se comunica. Aprende a conviver com elas e gosta disso.

Quando se passa muito tempo com um grupo pequeno de pessoas em um Apocalipse, onde mais da metade da população do mundo provavelmente morreu ou está vagando por aí, você se esquece da possibilidade de outras pessoas estarem vivas.

Até porque tudo o que importou foi você e o seu grupo.

Você não pensa que as mesmas pessoas que antes cometiam assassinatos, roubavam, aniquilavam, faziam torturas e outras mais atrocidades, podem estar vivas.

Até porque tudo o que importou até aquele momento foi você e o seu grupo.

Você se esquece de como a humanidade é ruim, como ela não se importa naturalmente com o bem alheio. Se esquece de como o cérebro humano é inexplicável e dificilmente, quase impossivelmente, entendido.

Até porque tudo o que importou até aquele momento foi você, seu grupo e a sobrevivência básica.

E então, de repente, quando menos espera, a realidade de antes bate contra o seu corpo. As mesmas pessoas que gostavam de ver a dor alheia, que agora deveria estar unidas para lutar contar o único problema que era os zumbis, estão vivas e ainda não se importam com a vida.

Logo, repito a pergunta: Até onde vai a sua esperança que as coisas podem melhorar?

 

 

- Kaki, eu estou com medo! – Sofia choramingou tão dolorosamente que meu coração, que já doía, quebrou-se em mais migalhas ao ouvir.

Dessa vez eu não tinha nada para lhe dizer. Nem a mais simples mentira “Tudo vai ficar bem” conseguia sair por meus lábios. Eu sabia que as coisas não ficariam bem.

E por isso eu me sentia inútil. Me sentia um nada por não conseguir dar a paz que eu tanto almejava para minha irmãzinha. Cada lágrima que escoria por sua bochecha corada fazia uma parte de mim se jogar em um abismo de automutilação.

Eu não estava sendo capaz de protegê-la.

Então a única resposta que lhe dou são meus braços. Envolvo seu corpo pequeno em um abraço quente que logo foi correspondido por seus braços pequenos e trêmulos. Sofia descansou a cabeça em meu ombro e escondeu seu rosto no vão do meu pescoço enquanto brincava com a gola da minha regata branca.

Comecei a embalá-la e ao mesmo tempo acariciar seus cabelos no alto da cabeça.

Dinah fazia o mesmo com Regina perto de mim. A sapequinha estava tão acanhada que sequer era reconhecível seu comportamento. A loira alta estava preocupada com a irmã, oferecia a comida que recebíamos para ela, mas a criança mantinha-se calada e com o rosto escondido no peito da mais velha.

Ally tentava fazer Claire parar de chorar, mas a loirinha sentia medo e saudades demais do pai. Recusava qualquer tipo de toque singelo e apenas ficava sentada com o rosto escondido entre as pernas.

- Precisamos fazê-la comer alguma coisa... – Ally choramingou, preocupada.

Havia três dias que estávamos presas dentro daquele quarto. As paredes eram um branco desgastado onde pedaços duros da tinta começavam a cair criando perto da quina um amontoado de sujeira. As rachaduras no teto e as marcas de infiltrações só podiam indicar que, naquele local quando chovia, quem estivesse ali estaria exposto à chuva e ao frio. Uma pequena janela com grades estava posicionada no centro da parede.

Graças a essa janela tive a oportunidade de analisar o ambiente ao nosso redor. Eu sabia que se quiséssemos ter uma chance de um futuro digno precisaríamos sair daqui. Então quanto mais eu soubesse sobre o que acontecia ali, mais informações para nossa fuga teríamos.

Eu pude perceber que o acampamento era dividido em basicamente dois grupos. Existiam aqueles que eram civis e esse grupo era dividido em dois: os aparentemente ricos ou que tinham alguma habilidade e aqueles restos da sociedade que aparentemente foram aderidos ao grupo apenas para servirem de empregados.

Os que eram ricos – em termos de posses e não de dinheiro – ou que tinham alguma habilidade eram geralmente bem tratados. Eu percebi um padrão em suas roupas: bem passadas, limpas, seus fisionomias eram bonitas e eles eram relativamente “gordinhos”. Eu via que alguns seguravam ferramentas, provavelmente mecânicos. Aqueles que usavam jalecos, os médicos. Os guardas, que usavam armas nos coldres... entre outros.

O resto da sociedade eram pessoas que usavam trapos, porém não poderiam ser comparadas com mendigos. As suas tendas eram no mesmo estilo dos outros, entretanto, sua fisionomia não era tão bonita assim, eles eram magros e sequer olhavam para o rosto dos militares, ao contrário dos ricos, que conversavam com os superiores.

E por último o segundo grupo eram os militares, o qual era mais que a metade das cinquenta e sete pessoas que contei naquele acampamento. O Major Justin Bieber mal saía de sua tenda, então todo o trabalho de monitoramento e controle de soldados ficava nas mãos do Sargento Shawn Mendes. O rapaz alto, forte e infelizmente bonito, tinha no olhar um certa inveja por seu superior.

Via-se em seus momentos a ânsia por se tornar o real líder daquele lugar, porque, de fato, era ele que mandava nas pessoas quando o Major não estava por perto. E o seu olhar... era totalmente um olhar sociopata. Ele não tratava bem o resto da sociedade. Várias e várias vezes eu o vi dando pontapés e empurrões bruscos em civis que faziam algo errado ou fora dos padrões de sua vontade. Eu o via roubar comida, armas e até retirar roupas à força do corpo como forma de punição ou pagamento de dívidas.

Outra coisa que eu havia notado: um estranho hábito dos militares e civis se reunirem no pavilhão para comerem na noite de quinta-feira. Na última noite todos se reuniram e comeram juntos, não durou muito, mas boa parte do acampamento estava reunido.

Eu, Dinah e Normani fomos designadas a servi-los como boas empregadas.

E não pudemos relutar.

Perto da janela, quase no centro do quarto, ficava sempre uma sacolinha azul aberta onde estavam alguns pedaços de pão velho, frutas que pelo menos estavam frescas e carne enlatada.

Pego um pedaço de amora e ofereço para Claire.

- Coma, querida... Precisa ficar forte. – eu murmuro e, com a mão livre, toco de leve seu ombro magro.

- Não! Eu quero meu pai! – ela resmungou sem ao menos levantar a cabeça que estava entre as pernas.

- Ele logo virá. – Ally tentou acalmá-la e aproveitou os segundos de vantagem para abraçá-la junto ao corpo. – Ele sempre vem, não é?

A pequena hesitou quando sentiu os braços da maior ao redor de si, mas logo as lágrimas voltaram e o bolo de choro se formou em sua garganta. Claire se entregou ao carinho de Ally e recomeçou o choro baixinho.

Keana estava ao lado esquerdo da pequena, mas, há mais de horas, não falava nada. Na verdade, desde o momento que fomos presas ali por soldados rudes, a francesa não havia se pronunciado muito. Ela apenas encarava a porta de madeira que nos mantinha presas ali dentro.

Harry, do seu lado, ainda estava sonolento por causa da quantidade de remédios que foram enfiados por sua garganta abaixo. O homem na primeira noite reclamara intensamente de dor no tornozelo que, por causa dos esforços e empurrões brutos, havia recomeçado a sangrar. Os soldados simplesmente jogaram gaze para as mãos de Ally e enfiaram, contra a vontade do de cabelos longos, antibióticos e analgésicos em sua boca.

Austin não estava ali. O policial havia sido puxado à força para fora da sala horas atrás, quando ainda era manhã. Eu não temia o que eles poderiam fazer com ele – até porque minha vontade de vingança falava mais alto. Eu temia, por causa da força que usaram para arrastá-lo, o que eles poderiam fazer conosco.

Taylor estava pálida e com a respiração irregular. Por causa de seus irmãos, ambos presos, a Jauregui mais nova estava tendo constantemente crises de asma. Suas bombinhas haviam terminado antes mesmo de chegarmos ao CDC, mas lá, Louis havia achado alguns remédios para diminuir sua ansiedade. Agora, sem eles, a garota tinha os olhos arregalados, lábios brancos e a mão no peito, que descia e subia com dificuldade. Não havia muito a ser feito, apenas ficar ao seu lado e pedir carinhosamente para que ela respirasse devagar.

Normani estava também quieta. Ao lado de Dinah, a morena não havia pronunciado exatamente nada a três dias.

A loira alta olhava para a morena bonita com um semblante preocupado. Dinah sabia muito bem como a língua de Normani era afiada, a provocou uma ou duas vezes nos últimos dias, mas nem isso fizera a mulher falar alguma coisa.

Todas nós estávamos com medo.

E eu principalmente.

Eu estava com tanto medo que algo acontecesse com Lauren que não consegui pregar os olhos para dormir.

Três dias sem nenhuma notícia deles. Ouvi alguns soldados dizerem que o dia em que estávamos era uma sexta-feira, então estávamos presos ali desde a manhã de quarta-feira.

Engoli o mesmo e questionei um soldado ruivo para onde haviam levado os três. Ele não respondeu, mas soube, pelo olhar de pena que ele me lançou que não era para um bom lugar.

Meu coração apertava, as entranhas queimavam. A preocupação me consumia em um nível tão extremo que eu apenas não me sucumbia ao choro intenso porque precisava me manter firme e estável para Sofia abraçada a mim.

Um mês. Estávamos aproximadamente um mês juntos. Passamos por tantas coisas...

Eles haviam se tornado minha família também.

Eu acariciava os cabelos da pequena em uma tentativa de acalmá-la quando, bruscamente, a porta de madeira foi aberta. O estrondo fez Harry abrir os olhos, atordoado, se arrastar pela parede para ficar sentado.

Ao lado de dois soldados em perfeita posição com queixos erguidos e submissos, o Sargento Mendes atravessou o quarto até onde nós nos encontrávamos. O militar não usava dessa vez sua jaqueta camuflada, então pude ver os músculos de seus braços com alguns arranhões e manchas fracas. A camiseta branca marcava o peitoral e o abdômen definido.

Ele se agachou perto de nós e nos estudou por alguns segundos. Seus olhos castanhos olhavam um a um, enquanto no canto esquerdo da boca, um palitinho de madeira era mastigado.

- Como estão indo, coisas lindas? – ele debochou, rindo baixinho para nós mulheres.

Não respondemos. Na verdade, eu precisei de muito esforço para engolir a saliva invés de cuspi-la na cara dele.

O Sargento olhou para a Taylor, extremamente pálida, e fez uma caretinha de nojo.

- Filha, você está quase partindo para a outra vida, hein? – ele ergueu uma sobrancelha.

Percebo então por cima do ombro a movimentação repentina de Normani. Seu semblante era uma mistura de fúria e desespero.

- Ela precisa de remédios, seu idiota! – a morena rosnou perto da cara do militar e ainda teve a audácia de empurrá-lo para trás.

O Sargento Mendes se desequilibrou e caiu sentado no chão. Os soldados, que pareciam mais seus guarda-costas, deram passos à frente em direção de Normani, mas Dinah, em um movimento mais rápido que vi na vida, colocou Regina no meu colo e se prontificou na frente da morena.

- Se vocês ousarem tocar nela eu acabou com vocês, seus filhos da puta! – a loira alta ralhou empurrando, com um braço, o corpo de Normani atrás do seu.

Os soldados não se intimidaram e estavam prestes a avançar para cima de Dinah, mas o Sargento Mendes fez um sinal com a mão enquanto se colocava, lentamente, agachado de novo.

Dinah ainda estava em uma posição defensiva. Um braço protegia e mantinha Normani atrás de seu corpo e no outro, o punho já estava fechado. Suas narinas estavam infladas, sobrancelhas unidas e semblante furioso.

Um sorrisinho presunçoso nasceu lábios bem desenhados do Sargento Mendes.

- Isso é tão bonitinho... – ridicularizou ladeando a cabeça para olhar as duas.

- Vai se foder! – Dinah retrucou com alguns respingos de saliva saindo por entre seus dentes por causa da tamanha raiva que sentia.

O Sargento deu uma risadinha nasal.

- Eu queria realmente foder vocês, mas com certeza o lado cavalheiro do Major não vai me deixar fazer isso. – o militar falou com um tom tão tranquilo que isso apenas demonstrou o quão psicologicamente instável aquela criatura era.

Um arrepio frio cortou meu corpo ao pensar na possibilidade de ele e aqueles soldados grandes e fortes decidirem fazer alguma coisa contra nós. Poderíamos ser espertas, poderíamos saber como matar zumbis, mas não tínhamos a menor chance contra eles.

Ouvir aquilo fez Dinah acuar um pouco, provavelmente lembrando que estávamos em menor número.

Um número quase insignificante.

- Eu conheço o seu tipo... – o Sargento continuou no mesmo lugar, encarando diretamente os olhos assustados de Dinah. – Querendo impressionar a garota ou ela é alguma parente sua?

Dinah, nem Normani, nem ninguém respondeu.

O militar ladeou a cabeça e depois a balançou negativamente.

- Não... uma preta dessa não pode ser parente de uma loira bonita assim... – concluiu debochadamente.

- Desgraçado!

Dinah chegou ao seu estopim e elevou o braço em direção do Sargento, pronta para esmurrá-lo. Mas Normani foi mais rápida e segurou o ombro da loira para trás, a impedindo de fazer alguma merda.

Sofia choramingou em meus braços. Regina tinha o rosto escondido no vão do meu pescoço, se negando a ver o que acontecia com a irmã mais velha.

Um nó se formava na minha garganta, mas eu não podia gritar. Não podia falar nada.

- Dinah, não faça isso! – Normani implorou com as lágrimas transbordando por seus olhos. – É exatamente isso que ele quer! Uma desculpa para fazer algo ruim com você! – a morena segurava agora os dois ombros da loira que ainda lutava ir para cima do militar. – Pense na sua irmã, pelo amor de Deus!

Apenas quando Dinah ouviu aquilo que sua raiva foi se esvaindo aos poucos. A loira alta ousou em olhar para o lado, mais especificamente para Regina que chorava contra meu pescoço.

Seu queixo tremeu por causa da vontade de chorar, mas se manteve estável. Virou-se novamente para frente e abaixou o punho.

- Pelo visto já percebemos que manda na relação lésbica nojenta de vocês duas... – o Sargento caçoou e isso gerou risadinhas por parte dos soldados atrás de si. – Mas preciso concordar com a pretinha aí... – ele disse com cinismo. Eu fechei os olhos para engolir a raiva por causa do comentário racista. – Você precisa pensar em sua irmãzinha. Seria uma pena algo acontecer com esse anjinho... – Mendes murmurou e virou o rosto para a criança nos meus braços.

Automaticamente eu a abracei mais contra mim e ele sorriu malicioso.

- Chega de conversinha... – o Shawn pigarreou sério e colocou-se de pé. – Eu vim aqui para saber de uma coisa: onde vocês conseguiram comida enquanto estavam nessa tal casa de campo de vocês? Se estavam isolados precisavam procurar comida em algum lugar...

- Vá procurar você, idiota! – Dinah rosnou olhando para cima.

O Sargento Mendes revirou os olhos, já perdendo a paciência com minha amiga.

- Gosto das ariscas... mas se você abrir a maldita boca mais uma vez, vou ocupá-la com alguma coisa que presta, garota! – Mendes ralhou e aproximou a virilha no rosto de Dinah.

Isso gerou mais risadas por parte dos soldados.

A loira alta apenas virou o rosto para o lado, sentindo-se enojada com a virilha do militar tão perto.

- Era um condomínio! – Harry respondeu em desespero.

O rapaz de cabelos longos tinha os olhos arregalados e punhos fechados, quase bufando de vontade de pular em cima dos militares. Mas sabia que com seu tornozelo, que mal era um tornozelo, ele não conseguiria.

- Perto de Miami! Não tem erro! – continuou.

- Obrigada, bichinha. – o Sargento Mendes caçoou certamente por causa do tamanho do cabelo do rapaz. – Ah, e eu achei um trabalho decente para vocês... – comentou, mas deixou em vago.

O militar se distanciou devagar sorrindo debochadamente. Por fim, deu as costas para nós e saiu do quarto sendo seguido pelos soldados.

Normani mal esperou a porta ser fechada e se entregou a um choro sôfrego e doloroso. Dinah, com seu semblante triste, virou-se para a morena e a envolveu com seus braços, a consolando contra si. Normani escondeu o rosto no pescoço da loira, trêmula.

 

Um dia e meio em que éramos tratadas como empregadas. Precisávamos lavar as louças das refeições e limpar os dormitórios.

Não tínhamos uma noite de sossego, porque, primeiramente, a preocupação não deixava o sono chegar. E segundo, os militares gritavam e faziam algum tipo de barulho durante toda a noite. Parecia que era um modo de nos irritar, pois passavam constantemente em frente nossa porta gritando asneiras como “Gostosas!”, “Ainda vamos dar um trato em vocês!”, “Estão confortáveis, suas putas?!”.

E, para completar, tínhamos que passar as roupas daqueles filhos da puta. Usávamos papel alumínio e uma panela para alisar os tecidos – já que não tínhamos ferro de passar roupa e nem eletricidade para tal. Aquecíamos a panela no fogão deles e envolvíamos o papel alumínio, criando um ferro caseiro.

Dinah havia cogitado a ideia de usarmos aquilo como uma arma para tentarmos fugir dali: acertar diretamente no rosto dos soldados.

Mas tínhamos não só uma, mas diversas adversidades: 1) Havia soldados demais lá fora. 2) Não havia panelas suficientes para todas e para o Harry. 3) Isso poderia gerar não somente a nossa morte, mas também a morte de Chris, Troy e Lauren.

Isso se eles já não estiverem mortos...

Não!

Eles não podem estar mortos!

- Se fosse para eu me tornar empregada no Fim do Mundo, eu preferia ter morrido antes... – Keana resmungou enquanto dobrava uma jaqueta camuflada.

- Vira essa boca para lá, Ke. – Harry repreendeu a amiga. – Pelo menos estávamos vivos.

Austin não havia voltado para o quarto. Já era noite de Sábado e do lado de fora se via uma movimentação anormal. Durante todo o dia soldados passava para lá e para cá – que podiam ser vistos pela janela. Ouvia-se também barulho constante de carros e conversas.

Alguma coisa estava acontecendo.

- O que você acha que estão fazendo? – Ally perguntou caminhando até meu lado.

Eu observava os soldados e a noite através da janela.

- Não é algo bom. – respondo ao ver um soldado loiro carregando uma tocha alta em mãos.

- Por que eles não nos ajudam? – a enfermeira questionou. Sigo para onde estava seu olhar e vejo que eram nos civis que também passavam às vezes.

- Eles percebem que as coisas estão erradas, mas nada podem fazer, Allyson. Ou aceitam ou vivem lá fora. Pelo menos aqui eles tem proteção contra zumbis e comida.

- Alguns até gostam... – comentou olhando para dois jovens rapazes que estavam animados com alguma coisa.

Balanço a cabeça negativamente e dou um suspiro sôfrego.

Meu peito apertava por medo. Eu sentia que algo ruim iria acontecer.

- Nós vamos conseguir sair daqui. – digo mais para mim do que para a loira.

Allyson estava prestes a falar algo quando o estrondo da porta se abrindo com brutalidade nos interrompeu. Dessa vez não foi o Sargento Mendes quem apareceu todo sorridente e sim, o Major Justin Bieber. Ele usava o uniforme impecável como sempre.

- Querem um pouco de diversão, garotas? – perguntou e abriu um sorriso galanteador.

 

Duas batidas com os pés, uma batida com as mãos.

Duas batidas com os pés, uma batida com as mãos.

Duas batidas com os pés, uma batida com as mãos.

Um grito de comemoração.

Eu olhava espantada para alegria de quem encarava a arena vazia, esperando por seus guerreiros. Questionava-me a que ponto a humanidade poderia chegar após o caos ter se alastrado pela Terra. Questionava-me a que ponto o homem pode ser tão mau.

Todas nós, as crianças e o Harry estávamos sentados em uma série de bancos ao redor da arena. Os clarões das chamas das tochas bailavam pelo ar iluminando os telespectadores.

Aquilo parecia uma espera por uma batalha de gladiadores no Coliseu de Roma.

Meu estômago ainda revirava com a cena do soldado sendo mordido no pescoço pela andarilha. Eu vi seu desespero ao ser escoltado para fora da arena, já prevendo seu destino.

- Tragam os outros!

- Oh meu Deus! – eu escuto o grito de Taylor.

Olho para a jovem e a vejo desesperada, mais do que a sua palidez e fraqueza já indicavam. Sigo seu olhar para onde encarava a cena tão surpresa e a mesma corrente fria cortou meu corpo.

Christopher era empurrado com um saco na cabeça para o interior da arena. Retiram o negócio preto do seu rosto e ele olhou para os lados, atordoado com tanto barulho a sua volta. Seus olhos estavam avermelhados, semblante cansado, e eu via que seus dedos sangravam como se ele tivesse arranhado incansavelmente uma parede.

Ela mal conseguia se manter ereto.

Do outro lado entrou o Sargento Mendes completamente diferente do Jauregui: cumprimentava a plateia com acenos, sorridente, confiante, com o peitoral também exposto e com as mesmas ataduras que o outro nos punhos.

Uma buzina tocou.

Os zumbis que estavam presos às tochas ficaram ainda mais irritados. Eles grunhiam como nunca, remexiam-se desesperados para abocanhar os desgraçados que faziam tanto barulho.

- Vai Shawn, acaba com ele! – escuto alguém gritar em meio à plateia.

Christopher tinha os punhos levantados e analisava os passos que Shawn Mendes dava ao redor. Eles esperaram o primeiro ataque e ele veio por parte do homem do meu grupo. Porém, o Sargento foi mais rápido e desviou para, logo em seguida, desferir um murro nas costelas esquerdas de Chris.

O de cabelos negros caiu sobre um joelho no chão e próximo demais de um zumbi que estava preso em uma tocha ao seu lado. A alma penada esticou as mãos para tentar agarrá-lo, mas ele foi mais rápido e conseguiu pular para a esquerda, mesmo sem ar.

- Vocês estão prontos?! – Shawn Mendes gritou para a plateia, a incentivando. – Querem ver o show?

Um coro de aprovação ecoou.

Enquanto isso Christopher ficava de pé, meio zonzo. Era covardia enfraquecê-lo apenas para conseguir ganhar a batalha e fingir que fora total mérito.

Christopher balançou a cabeça para tentar se livrar da zonzeira e partiu para cima de Shawn novamente. Dessa vez seu movimento foi rápido e desferiu um murro certeiro na cara do militar. O Sargento cambaleou para trás e precisou tombar para o lado para esquivar-se das mãos desesperadas de uma andarilha loira.

- Olha só, o cãozinho sabe atacar... – Shawn deu uma risada enquanto se colocava de pé. Tocou o nariz e viu as gotas de sangue na ponta dos dedos. – Vamos ver se vai sair vivo para contar história...

O Sargento correu em direção de Christopher e o agarrou, abraçando com força seu corpo. Com um movimento rápido deu um chute em suas pernas, fazendo-o perder a estabilidade. Empurrou seu corpo para o chão e montou em seu quadril já distribuindo socos no rosto do homem do meu grupo.

Shawn distribuía pancadas nas laterais da cabeça de Christopher, que, inutilmente, tentava se defender usando os braços.

O de cabelos negros grunhia e já tinha o nariz sangrado e diversos arranhões no rosto.

O de cabelos castanhos sorria sadicamente ao ver que tinha a total vantagem na luta.

A plateia gritava.

- Christopher! – Taylor berrou em meio às lágrimas.

Normani precisou ser rápida para agarrar a Jauregui mais nova pelos ombros para impedir que ela tentasse passar pelos soldados em direção da arena.

Christopher respirou fundo, mesmo que completamente zonzo, e envolveu a cintura de Shawn com as pernas. Começou a forçá-la para frente, o que fez o militar perder a força nos socos. Conseguiu, finalmente, girar os corpos. Dessa vez ele quem montou em cima do Sargento com as posições invertidas.

Christopher faz diferente e começa então a dar cotoveladas fortes no rosto do militar, as que, felizmente, estavam causando mais efeito e abrindo mais machucados na pele.

Os dois gritavam, enraivecidos.

Christopher apoiou a mão aberta debaixo do queixo de Shawn e começou a empurrar sua cabeça em direção dos braços esticados de uma andarilha ruiva que estava por perto. O militar arregalou os olhos ao ver os centímetros que separavam sua testa das unhas lascadas da zumbi.

Vermelho, o militar tentava segurar os braços tensionados de Chris, para se livrar.

E então o Sargento deu um murro tão forte e tão repentino no queixo de Christopher que eu fechei os olhos, jurando ter visto o maxilar se deslocar.

O homem do meu grupo caiu quase desacordado ao lado do militar.

O Sargento Mendes aproveitou a vantagem e novamente subiu em cima do corpo de Christopher.

O primeiro soco...

Segundo...

Terceiro...

Quarto...

As rajadas de sangue já espirravam no nariz de Christopher. O olho estava inchado, os ossos reluzindo os hematomas, a boca escorrendo baba e líquido vermelho.

Quinto...

Sexto...

Sétimo...

Oitavo...

Christopher já nem conseguia respirar direito por estar banhado no próprio sangue. Suas mãos já estavam caídas na arena e ele tinha os olhos moles, sem seguir os movimentos dos punhos do militar.

- PARA, PELO AMOR DE DEUS! – Taylor gritava com todo o seu pulmão.

Ela chorava dolorosamente e implorava, de joelhos para que o militar parasse com os murros. Harry tinha os olhos arregalados, Dinah tampava os olhos de Regina e Claire, e eu fazia o mesmo com Sofia.

E então a buzina tocou novamente.

O Sargento Mendes se colocou de pé com as ataduras brancas ao redor de seus punhos pingando sangue. Ele ergueu as mãos e foi ovacionado pela plateia.

Um soldado apareceu e gritou:

- Temos um campeão da primeira rodada!

Dois soldados entraram correndo na arena e começaram a puxar Christopher pelas pernas. O rapaz estava quase irreconhecível de rosto. Observo o seu corpo sendo arrastado pela poeira até que sumiu em meio às pessoas na outra extremidade do local.

Meu estômago revirava e meu cérebro se negava a acreditar que eu estava presenciando tamanha barbárie.

Então cerca de um minuto passou enquanto os soldados arrumavam novamente a aranha e as pessoas gritavam outra vez buscando por lutadores.

- Tragam as garotas! – Justin Bieber gritou com os braços abertos.

E quando eu vi quem estava entrando na arena a bile decidiu subir de vez em minha garganta. Coloco a mão na frente da boca para não vomitar ao avistar Lauren sendo empurrada para o interior do círculo repleto de zumbis.

- NÃO! – Taylor berrou novamente e tentou ir em direção da arena. Normani e Keana dessa vez precisaram segurar a jovem com mais força ainda.

Lauren também tinha os punhos envolvidos por ataduras de panos brancos. Ela usava uma camiseta e calça camuflada. O cabelo estava amarrado de mal jeito, assim como as botas masculinas em seus pés. O rosto, seu tão belo rosto, estava marcado pela exaustão. Os olhos vagos, olheiras grandes, lábios trincados. Na lateral de sua cabeça estava uma grande marca vermelha, como se houvesse batido aquela região inúmeras vezes.

Aperto minha mão contra a boca para engolir um soluço. Meu coração martelava a cada batida sentindo antecipadamente o que estava por vir.

Os barulhos de contentamento da torcida me fez olhar para onde um grupo de pessoas estava reunido. Uma mulher loira e alta saiu por entre eles. Tanto os meus olhos, quanto os olhos de Lauren quase pularam das órbitas ao ver o tamanho dos músculos daquela militar... eles eram muito bem trincados. O maxilar era quadrado, os punhos enormes, ombros largos, a camiseta marcava seus seios firmes e o abdômen definido. As coxas eram tão grossas que poderiam juntar duas das minhas na dela.

Vejo a Lauren esboçar em silêncio para si própria “Que porra é essa?!”.

A buzina então tocou.

Lauren ergueu os punhos na frente do rosto imitando as ações da militar experiente. As duas começaram a andar em círculo, tomando notas primeiro das aparências. Se encaravam como se fossem animais predatórios lutando pela mesma presa.

A plateia adorava isso.

A militar cansou de esperar e decidiu testar a agilidade de Lauren. Deu um passo rápido para frente e desferiu um murro em sua direção. A de olhos verdes precisou ser veloz para se abaixar inclinando o corpo para trás e ainda mais veloz para também não acabar caindo nos braços de uma andarilha negra que estava presa em uma estaca atrás dela.

Um “uuuuuuh” ressurgiu na plateia.

Só com aqueles segundos de quase agressão meu estômago subiu e desceu na minha garganta.

Isso fez um sorrisinho prepotente nascer no rosto da militar. Ela então não tardou e decidiu novamente testar a rapidez da civil. Dessa vez ameaçou atacar com o punho direito e quando Lauren estava prestes a repetir o mesmo movimento a militar desferiu um murro com a mão esquerda, acertando em cheio a lateral da cabeça da civil.

Um choramingo de dor saiu por meus lábios e meus olhos lagrimejaram ao ver Lauren cambalear para o lado, desnorteada.

A militar aproveitou a zonzeira da civil e passou um braço em sua cabeça, fazendo o seu rosto ficar preso em sua axila. Lauren se desesperou por ter sido pega tão facilmente e isso apenas ajudou ainda mais a soldado a imobilizá-la sem dificuldade. Começou então a distribuir socos fortes com o punho direito no abdômen de Lauren, que perdia o ar a cada pancada.

- PARA COM ISSO! – Taylor gritava com as mãos em meio aos cabelos.

Isso só fez os soldados perto de nós rirem mais ainda.

Harry perdeu a paciência e colocou-se de pé, mesmo mancando, andando em direção dos militares. Dinah precisou ser rápida para agarrar o de cabelos longos antes que o soldado, que já tinha o punho elevado para desferir um murro, o fizesse. A loira alta, mesmo segurando a irmã com um braço, conseguiu conduzir o homem de volta para o banco onde estávamos assentadas.

Os segundos que eu perdi olhando aquela cena me fez perder alguns momentos dentro da arena. Quando voltei a olhar para Lauren a vejo presa por debaixo do corpo da militar loira no centro da arena. Um grito ficou preso na minha garganta ao ver uma cotovelada forte acertar o supercílio de Lauren, fazendo o machucado que já havia começado a cicatrizar, se abrir e o sangue expelir com um fluxo intenso.

A pancada perto do olho fez Lauren gritar de dor. A militar espalmou a mão aberta no rosto da civil, pressionado o rosto na poeira abaixo de si. Lauren tinha os olhos fechados, bochecha apertada no chão, e tentava, mesmo que inutilmente, não engolir poeira a cada respiração descompassada que passava por seus lábios.

Segundos se passaram e Lauren continuou por debaixo da militar, sendo sufocada pelo antebraço que agora estava em seu pescoço. Seu rosto já estava totalmente vermelho por falta de oxigênio, ela debatia as pernas tentando se livrar, mas sem sucesso. Os olhos já tremiam, pesando.

- LAUREN! – eu berro.

Uma onda de coragem se apoderou de mim e eu apenas soube entregar Sofia para os braços de Dinah ao meu lado – o que a impediu de se levantar e tentar me segurar quando me levantei repentinamente. As lágrimas já desciam por meu rosto sem nem eu perceber, meu peito apertava e tudo, tudo o que eu mais queria era entrar lá para salvá-la.

Mas então um vulto grande entrou na minha frente.

Gritei um “Vai à merda!” audível para o militar desgraçado e comecei a lutar contra seus braços fortes. Eu via por debaixo de seu braço esquerdo que Lauren ainda se mantinha sob o aperto lascivo da militar.

E então Lauren, que parecia procurar por algo ou alguém, virou a cabeça centímetros para cima e me viu. Suas íris verdes estavam uma tonalidade escura que só podiam indicar seu desespero. A pupila dilatava e as pálpebras trêmulas.

- LAUREN! – eu continuo gritando por ela, mesmo que nossos olhares estivessem conectados.

E então devagar a expressão de Lauren começou a mudar. Ela uniu as sobrancelhas, irritada, e urrou achando forças do Além para tentar lutar mesmo com tão pouco oxigênio. Começou a se debater por debaixo da militar, de um lado para o outro, fazendo os apertos da loira afrouxar.

E quando ela conseguiu inspirar uma boa quantidade de ar livre poeira desferiu uma série de socos tão fortes na costela direita da militar que a plateia gritou alto.

A militar rolou para o lado, gemendo de dor.

Lauren cambaleou, mas conseguiu se colocar ereta. Seu rosto pingava o sangue que escorria de seu supercílio e o rastro do mesmo estava coberto por poeira.

Lauren gritou de raiva e chutou a militar na barriga. A loira choramingou com a pancada forte novamente nas costelas. A de olhos verdes, sedenta, ainda se jogou sobre o corpo no chão com o cotovelo acertando diretamente no plexo solar.

Outro urro contente da plateia com a reviravolta da luta.

Não importa o seu tamanho, um golpe certeiro no plexo solar faz você perder todo o ar dos pulmões.

Lauren montou na cintura da militar sem ar e começou a distribuir socos em seu rosto. O choque entre os punhos de Lauren com o rosto da loira eram tão forte que se podiam ouvir as pancadas dali. Elas acertavam mais o osso nasal, o que fazia o sangue escorrer das narinas da militar.

Eu via no semblante de Lauren que a raiva estava a dominando.

Ela estava sedenta.

Lauren quando se cansou de distribuir socos no rosto da militar a agarrou pela camiseta, e com dificuldade, começou a arrastá-la para frente. A militar estava muito zonza, mas ainda assim conseguiu raciocinar o que estava acontecendo. Olhou para trás e viu o zumbi alto com os braços esticados, mandíbulas batendo e faminto querendo de qualquer maneira a pegar com as mãos desesperadas.

Ela gritou para Lauren parar.

Mas Lauren não parou.

O zumbi alto e magro agarrou a militar pelos cabelos e a puxou ainda mais para perto de si. Lauren soltou sua camiseta com rapidez para não ser levada junto e deu passos cambaleantes para trás.

A buzina então tocou.

Os gritos da militar começaram a ressurgir com as mordidas do zumbi em seu rosto. O andarilho enfiou os dentes em sua bochecha e rasgou a pele, puxando o pouco músculo dali para dentro de sua boca. O globo ocular da loira pulou para fora, ficando preso apenas pelo nervo óptico.

Ela ainda gritava... viva.

Viro-me de costas para não ver mais daquela cena. Mesmo com a mão na frente da boca isso não foi o suficiente para evitar que a bile e o vômito subissem por minha garganta. Tive tempo apenas para virar o rosto paro lado e abrir a boca, com o líquido azedo e pastoso sendo expulso.

A imagem de sendo Lauren no lugar da militar me fez expelir mais ainda.

Minhas entranhas davam espasmos dolorosos. Enquanto eu respirava fundo para evitar mais ânsias eu escutava os choros do meu grupo atrás de mim.

As crianças desde a primeira luta se mantiveram de olhos fechados, mas ainda assim sabiam o que estava acontecendo. Todos estavam aterrorizados com tamanha barbárie.

A barbárie que ainda não havia terminado.

Minha cabeça martelava como se fosse um maldito sino e o gosto amargo de vômito na minha língua me fazia ter mais ânsias ainda. Os gritos de comemoração da plateia estavam ao fundo enquanto eu balançava a cabeça para manter-me sã.

- NÃAAAAO! – dessa vez escuto a voz de Ally ressurgir. A enfermeira tinha as mãos na frente da boca, olhos surpresos. Automaticamente ela escondeu o rosto de Claire em seu peito.

Viro-me ao perceber que mais que um minuto já havia passado. Lauren não se encontrava mais na arena, muito menos o corpo da militar loira. O seu sangue ainda estava em uma poça nos pés do andarilho, que ainda mastigava felizmente a carne da bochecha entre os dentes.

A loirinha gritava por Troy que era empurrado para o interior da arena pelo Major Justin Bieber.

- Pela primeira vez vamos ter uma luta entre dois civis! – o Major anunciou para a plateia que ainda continuava sedenta pela barbárie

- Dois civis? – escuto Dinah murmurar ao meu lado.

- Pelo visto vai ser um acerto de contas, pessoal. Nada melhor do que isso, não é? – o Major perguntou e então apontou para a outra extremidade. – Pode vir!

*Music On* (Hurricane – Thirty Seconds To Mars – 6:12min)

Austin Mahone apareceu por entre o grupo de pessoas e diferente de nós que estávamos exaustos por nos submetermos a condições humilhantes, o policial parecia estar muito contente. Usava uma tonalidade diferente de calça camuflada, camiseta preta e botas bonitas.

O cabelo penteado e sorriso galanteador.

Não... Não poderia estar acontecendo...

- Ele pediu uma chance para se juntar a nós. – Major Justin Bieber apontou para o rapaz. – Se ele ganhar... Vamos lhe dar.

Austin, que ainda tinha hematomas da briga de dias atrás contra Troy no rosto, apertava as ataduras ao redor da mão. O ex-motorista estava tão surpreso quanto nós, questionando-se como o policial tivera tamanha falta de caráter.

- E como todos sabem... a última luta da noite nunca tem regras! Vale tudo! – o Major loiro anunciou e começou a caminhar para fora da arena.

Apontou para o cara que comandava a buzina.

E então ela tocou.

Austin sorriu sadicamente para Troy. O loiro piscava rapidamente para tentar se manter focado. Também tinha olheiras e parecia ter saído de uma tortura intensa que o privou de sono.

Austin então colocou uma mão atrás das costas e retirou um canivete, apertando um botão na sua lateral e a lâmina deslizando para fora.

 A plateia foi ao delírio.

- ISSO VALE?! – Dinah berrou para um dos soldados que estava ali.

- Vale qualquer coisa, doçura! – o negro forte respondeu.

Troy acuou completamente ao ver a lâmina brilhar com a claridade das chamas. Austin começou a dar passos lentos em sua direção, mas o loiro recuava com a mesma proporção.

Vejo por cima do ombro Allyson entregar Claire para Keana e ficar de pé desesperada. Ela correu até perto de mim, que continuei no limite imposto pelo soldado. Seu choro era baixinho, mas constante.

Austin deu um pulo para frente já passando lâmina no ar, o que assustou Troy. O loiro precisou ser muito rápido para pular para trás antes que o canivete passasse em seu abdômen exposto.

- P-para com isso, cara! – Troy gaguejou, tentando conversar com o policial. – Você não é assim!

- Vai se foder, desgraçado! – Austin ralhou ainda caminhando em direção do loiro que recuava para trás. – Você não pensou nisso quando estava me esmurrando dias atrás!

- Você ia matar a Lauren! – Troy gritou quando novamente Austin tentou passar a lâmina em seu abdômen, mas conseguiu pular para trás. – E eu não ia te matar! Era para você aprender, idiota, e não se tornar um lunático por isso!

- Posso aprender então... – Austin ladeou a cabeça e depois sorriu sadicamente. – Mas só depois de você estar morto, filho da puta!

Ao falar isso o policial deu outro passo rápido à frente e fez um movimento diferente com o punho que segurava a lâmina: a desferiu de cima para baixo, pegando Troy desprevenido. A ponta da lâmina rasgou superficialmente a pele do loiro bem em cima de seu peitoral direito.

O loiro gritou de dor colocando a mão em cima do corte que já sangrava. Precisou ainda rodopiar para o lado e fugir dos braços da zumbi que quase abocanhou seu ombro esquerdo.

- SEU COVARDE, LUTE COMO UM HOMEM! – Dinah ralhou alto.

Austin lançou um olhar mortal na direção de onde ouviu a voz da loira alta. Colocou então a lâmina para dentro do canivete e o guardou dentro do bolso da calça camuflada.

O policial aproveitou que o loiro estava ainda atordoado por causa do corte e por causa do susto e partiu para cima dele. Acertou uma cotovelada na orelha esquerda de Troy, deixando-o zonzo. Desferiu então uma pancada com o joelho elevado na barriga do loiro. Outra cotovelada em suas costas, aproveitando sua inclinação para baixo. Envolveu seu pescoço com um braço e aplicou uma gravata.

Troy tentava se livrar do braço do policial que envolvia seu pescoço, impedindo-o de respirar.

Entretanto, o loiro foi rápido e pisou com força no pé de Austin ao mesmo tempo em que lhe deu um murro certeiro na virilha. O policial gritou de dor e soltou o pescoço do loiro, colocando institivamente as mãos nos testículos agora doloridos.

Isso deu a chance de Troy levantar a perna direita e dar um chute forte na lateral do rosto de Austin.

Isso fez o policial literalmente rodopiar e cair na poeira da arena. A plateia ria de seu desespero: olhos arregalados e boca agora sangrando enquanto engatinhava para longe de Troy que se aproximava dele com uma carranca cheia de fúria.

O loiro o agarrou pelos tornozelos e começou a puxá-lo para o centro da arena. Austin travou as mãos na poeira, tentando não ser puxado como uma vítima indefesa. O policial conseguiu olhar para os lados e ver os soldados rirem de sua cara, apontando rudemente para ele. Os chamavam de garotinha indefesa, de fracote e de viadinho, por causa do medo que agora sentia dos punhos de Troy.

Ele não era nada sem seu canivete.

E Austin percebeu exatamente isso.

O policial virou-se de costas para o chão e balançou a perna direita de um lado para o outro até que se livrou da mão de Troy. Aproveitou a liberdade e com a mesma perna deu um chute no abdômen do oponente, o que fez o loiro cambalear para trás sem ar.

Austin colocou-se de pé e enfiou a mão no bolso da calça retirando novamente o canivete e já deslizando a lâmina para fora.

Ele não perdeu tempo e já foi em direção do loiro.

O grito de Allyson rasgou sua garganta quando a lâmina de Austin penetrou o abdômen de Troy, do lado superior e esquerdo do abdômen.

O policial ainda abraçou o loiro e enfiou mais profundamente a lâmina no interior de seu corpo.

Troy tinha os olhos arregalados e fixados no nada, enquanto as veias em sua testa começavam a ficar salientes por tamanha dor que sentia.

Um arrepio tão agonizante atravessou o meu corpo, da cabeça até a ponta dos dedos, que eu pude apenas ficar parada, assim como todos ali, encarando aquela cena terrível.

Austin deu um passo para trás e puxou a lâmina do canivete de dentro de Troy, fazendo um espirro de sangue voar no ar.

Os gritos desesperados de Ally eram ouvidos por causa do silêncio da plateia, vidrada na cena.

Troy ainda conseguiu se virar em direção da loira, mas caiu sobre um joelho perdendo gradativamente as forças. Ele encarava a loirinha, ambos com os olhos marejados. O loiro tentava inutilmente se manter ereto, mas lentamente já começava a despencar para o lado.

Até que caiu no chão com a mão sobre o buraco profundo que sangrava intensamente.

A buzina então tocou sinalizando a noite de batalhas.


Notas Finais


*apenas correndo para as colinas, dessa vez sem estar molhada pelo hot, e correndo ainda mais rápido.
Podem se pronunciar sobre isso, lindos e lindas! Hahahaha

ATENÇÃO: Se vocês fizerem uma boa repercussão nesse capítulo eu posto um extra quinta-feira!


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