1. Spirit Fanfics >
  2. Into The Dead >
  3. Capítulo 25

História Into The Dead - Capítulo 25


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Oi, gente... ~chegando meio tímida, porque estou com medo de vocês ainda estarem com raiva...
Então, estão vivos depois do último capítulo? Espero que sim, porque as coisas só vão ficar mais intensas de agora para frente!
Ninguém esperou a morte da Taylor e de fato este foi o meu objetivo. Pegar tanto vocês quanto o grupo de surpresa.
Muitos estão falando: "Por que simplesmente não matam os militares?!" Tenham calma! Isso está chegando! Mas um plano não nasce de uma hora para outra e ajuda não aparece magicamente (por mais que futuramente, digo hoje mesmo, isso possa acontecer). (Obs: só o Rick que faz planos em menos de dez segundos, porque o cara sim é fodão!).
O capítulo de hoje está grande de novo? Está! Os capítulos futuros estarão grandes? Sim! Por quê? Porque finalmente a tão sonhada vingança está vindo!

Obs: Obrigada pelos comentários no twitter e pela repercussão do último capítulo! Amo vocês ♥
Boa leitura e me perdoem pelos erros!

Capítulo 25 - Capítulo 25


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 25

CAMILA PDV

- Há quanto tempo ela está assim? – Dinah perguntou.

- Dois dias. – respondo.

- Ela ainda se recusa a comer?

- Sim.

- Conversou com alguém?

- Ninguém.

- Dormiu?

- Não. Os olhos dela sequer se pregaram nesse espaço de tempo.

Dinah suspirou pesado e coçou o alto da cabeça.

Nós duas estávamos de pé perto da única janela do nosso quarto. Segundos atrás analisávamos a situação do lado de fora e ela não estava muito diferente dos dias anteriores: pessoas passando para lá e para cá, Humvees e soldados.

Mas, agora, olhávamos o corpo imóvel de Lauren no canto do cômodo, sentada e com a cabeça apoiada entre as pernas. A jovem permanecera por quase quarenta e oito horas ininterruptas daquele jeito. Não comeu, não bebeu, não dormiu. Os olhos permaneciam vidrados no nada, morteiros, marejados e inchados. Sua pele estava pálida, olheiras fortes, mãos trêmulas fechadas.

Nem Christopher foi capaz de fazer a irmã comer alguma coisa ou fazer outra coisa que não fosse encarar o nada. O Jauregui também estava traumatizado, sua força comparada com a de uma pena, o corpo marcado. O choque fora tão grande que aparentemente a energia para curar-se diminuiu tanto que seu rosto permanecia o mesmo, agora mais inchado e marcado pelas lágrimas que escorriam.

Mas ele, e todos ali, sabiam o porquê de Lauren ter se fechado tanto.

Ela se sentia culpada.

Extremamente culpada.

E isso me corroía como o Inferno.

- Como está o seu braço? – Dinah tocou de leve meu ombro esquerdo.

- Melhor...

A loira alta analisou meu bíceps enfaixado pela gaze. O fato de a bala ter atravessado meu braço e não ter se despedaçado em seu interior fez com que o tratamento fosse mais fácil. Mas, infelizmente, eu passaria um longo tempo sem conseguir fazer algo com aquele braço. Agora eu mal conseguia levantá-lo, pois cada contração no músculo me fazia grunhir de dor.

- Ai, Dinah! – eu engasgo quando a loira alta tocou em cima da gaze.

- Desculpe! – ela choramingou sem graça.

Percebi então que meu grunhido de dor fez com que, por meros segundos, Lauren desviasse seu olhar para mim.  Por mais entorpecida que estivesse, ouvir minha lamúria fez com que ela voltasse à superfície e tudo o que eu consegui ver em suas órbitas verdes foi dor, culpa e remorso.

Não havia brilho naqueles olhos que eu tanto adorava encarar.

Apenas lágrimas e vermelhidão.

Mas, ao ver que eu havia percebido sua atenção em mim, Lauren voltou a encarar o nada no horizonte.

Ela também se sentia culpada por causa do tiro acidental.

Vendo seu estado me lembrei de uma reportagem que li uma vez. Existem cinco fases do luto: Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Negação é a mais dolorosa dos estágios, pois é considerado o período do isolamento. A pessoa não quer falar sobre isso e se afasta dos demais. É considerado um método de defesa fingir que se ignorar o que aconteceu vai fazer com que de fato não tenha acontecido.

Raiva é a fase da revolta, do descontrole emocional, do ressentimento. A pessoa fica inconformada com o que aconteceu e torna-se impossível de se relacionar.

Barganha é fase da negociação da dor pela perda. Pedir silenciosamente a Deus que tudo volte ao normal. Começar a implorar para si mesmo que tudo volte ao normal.

Depressão é quando a pessoa toma consciência que aquilo de fato aconteceu e que não há como voltar atrás. Melancolia, desânimo, apatia e tristeza.

Aceitação. É quando o vazio se completa com paz e compreensão. Percebe que não adianta negar, se revoltar ou barganhar.

Não fora fácil controlar Christopher quando a sua fase da raiva veio à tona.

O jovem levantou-se subitamente e começou a chutar com todas as forças a porta que nos prendia ali. Harry e Dinah tentaram se aproximar para segurá-lo, mas ele os empurrava para trás e como um animal descontrolado continuava a se chocar contra o metal pesado.

Ele gritava em meio à raiva que transbordava de seus olhos: “Eu vou matar todos vocês! Eu vou procurar cada um de vocês até no Inferno se necessário!”

Mesmo com semanas e semanas de convivência eu pensei que nunca veria aquele lado de Christopher.

Harry e Dinah, para conseguirem segurar Christopher, precisaram da ajuda de Normani e Keana. A morena ajudou a loira e o de cabelos longos a imobilizar o jovem antes que ele se machucasse ainda mais com as pancadas que desferia contra a porta e, Keana, foi a única que de fato conseguiu acalmá-lo. A francesa afagou o rosto do Jauregui e olhando nos olhos dele repetiu diversas vezes para ele se acalmar.

Foi doloroso ouvir seus soluços sôfregos no meio da noite enquanto implorava a Deus para que trouxesse de volta sua irmãzinha.

Lauren ainda se encontrava na fase da negação. Christopher hoje, nesta manhã de quarta-feira, havia comentado comigo que Lauren nunca soube lidar muito bem com suas emoções e que sua reação fora similar quando perdera seus pais.

Os grunhidos masculinos no canto esquerdo do quarto fizeram com que eu desviasse meu foco para lá.

Troy estava mais pálido que todos ali, resmungando de dor. A respiração estava fraca, mas audível. O corte no abdômen era vermelho, sensível e com os pontos visíveis.

Ally e Claire estavam ao seu lado o tempo todo. A enfermeira passava um pano – que era um pedaço de sua blusa molhada com um pouco da água que recebíamos – em sua testa. Seu corpo estava corado por causa da febre, pois seu sistema estava respondendo ao grande trauma que sofrera. Aqueles desgraçados haviam simplesmente feito a cirurgia, mas não haviam disponibilizado remédios para ajudar na recuperação.

- Kaki, tia Dinah... – ouço a voz angelical da minha irmã e sinto um puxão na barra da minha blusa.

Olho para baixo e vejo Sofia. Minha irmãzinha estava de mãos dadas com Regina e ambas nos olhavam com as órbitas cheias de expectativas.

- Onde está a tia Taylor? – Regina perguntou para Dinah. – Tem um tempão que ela não aparece...

- Duas noites. – Sofia completou a amiguinha e sorriu orgulhosa por ter sido esperta o suficiente para contar aquilo.

Porém, eu não respondo ao seu sorriso. Na verdade, eu seguro com força a vontade súbita de chorar. Dinah suspirou novamente e diferente de mim passou as mãos rapidamente pelos olhos para enxugar as lágrimas que vieram à tona.

Lembrar-me daquela cena fez com que, além da tristeza e dor, o medo viesse à tona.

Eu teria pesadelos para sempre com imagem da faca passando no pescoço de Taylor.

Temíamos como nunca por nossas vidas.

Sabíamos o quão descontrolado o Sargento Shawn Mendes poderia ficar e que o Major Justin Bieber, por pior que fosse, não conseguiria segurá-lo caso ele tentasse tomar-lhe o poder.

Eu não posso julgar a de olhos verdes. Eu não saberia qual seriam minhas reações se eu perdesse minha irmãzinha; se eu a visse morrer na minha frente de um jeito tão brutal; se isso fosse, em minha cabeça, minha culpa.

Eu não sentia nem um terço da dor de Lauren e apenas aquela sensação ruim no meu peito era terrível por si só.

Três dias que estávamos presos ali dentro, recebendo comida em sacolinhas. Todos nós – exceto Lauren, Troy e Christopher – fomos obrigados a continuar a passar as roupas dos soldados. Eles também nos obrigavam a ir – escoltadas – até a cozinha e limpar os pratos e panelas sujas das refeições. Fazia-nos ir às tendas – também escoltadas – limpar a sujeira, trocar os lençóis.

Literalmente éramos tratadas de empregadas.

Lauren, Troy e Christopher estavam sendo deixados de lados nas tarefas e isso me fazia temer o fato mais óbvio: eles seriam chamados para mais lutas daqui alguns dias.

- Ela... hãm... – eu gaguejo sem saber o que responder a pergunta de Regina que ainda bailava ao ar.

- Ela morreu.

Ouvir a voz de Lauren após quase quarenta e oito horas ininterruptas foi de fato uma surpresa para mim.

Quando seu tom surgiu todos ali olharam para elas do mesmo jeito que eu fiz: atordoados.

Lauren se mantinha do mesmo jeito, porém, em vez de encarar o nada, agora olhava para Sofia e Regina que continuavam de mãos dadas.

Sofia e Regina olharam para mim e para a loira alta com expressões confusas.

Elas eram crianças e não entendiam muito bem esse negócio de “morrer”.

- Ela virou uma estrelinha igual o papai e mamãe? – Sofia me perguntou franzindo o cenho de um jeito absolutamente fofo e inocente.

Isso me fez soltar um suspiro sôfrego.

Então eu apenas balancei a cabeça para as crianças confirmando sua fala.

E quando eu estava prestes a falar algo para acabar com aquele silêncio, onde todos olhavam desconfiados para Lauren, a porta do quarto se abriu bruscamente.

- Bom dia, flores do dia! – a voz de Shawn Mendes se fez presente.

E então tudo aconteceu muito rápido.

O Sargento estava com seus fieis dois soldados cada qual ao seu lado. Porém, felizmente ou não, os militares subordinados estavam três passos atrás, fazendo com que o superior ficasse vulnerável no centro do nosso quarto – já que ele havia entrado todo sorridente e em menos de poucos segundos já se encontrava perto de nós.

Shawn tinha um brilho sádico nos olhos e os braços abertos como se fosse um daqueles vendedores felizes que lhe oferecem o produto simplesmente pelo carisma.

Carisma falso, este.

Lauren colocou-se de pé em um movimento tão rápido que ninguém ali conseguiu segurá-la antes que ela cruzasse a metade da sala.

E quando piscamos o punho de Lauren já acertava a mandíbula de Shawn e o barulho da pancada ecoava pelo quarto.

- Oh, merda! – ouço Dinah choramingar.

Eu e a loira alta corremos em direção de Lauren que já partia para cima de Shawn de novo.

O militar havia cambaleado para o lado com a mão segurando o maxilar, meio afobado, meio surpreso.

Entretanto, os soldados chegaram primeiro que nós e já agarraram bruscamente Lauren pelos ombros, a trazendo para trás e impedindo que ela desferisse outro murro na cara do Sargento.

- SEU DESGRAÇADO! VOCÊ VAI TER O QUE MERECE! – Lauren gritava com todos os pulmões e tentava se desvencilhar dos braços dos soldados.

A ira consumia tão fortemente o corpo da jovem que suas narinas estavam infladas, as veias na testa e pescoço salientes, as pupilas grandes e a respiração irregular. A cada bufada de ar pingos de saliva voavam em meio às palavras.

Keana e Harry também seguravam Christopher, que já tentava ficar de pé novamente e avançar também para cima do militar. Normani se mantinha como proteção para as três crianças que se encontravam atrás. Ally estava sentada ainda com Troy e Claire apoiados em seu corpo.

- Eu vou te matar, seu desgraçado! – Lauren continuava a se debater em meio aos braços fortes dos soldados.

Os militares já estavam prestes a começar a corrigir a civil quando Shawn, ainda meio inclinado para baixo, fez um sinal com a mão para que os subordinados parassem.

Eles pararam e empurraram Lauren em nossas direções, mais precisamente em meus braços. Eu cambaleei com o impacto de seu corpo contra o meu, mas consegui me manter de pé e abraçar seus ombros para que ela parasse de tremer e não ousasse fazer outra estupidez daquela de novo.

- Lauren... Shhhh... Para! – eu implorei em seu ouvido.

Meu coração apertava ao ver suas reações, mas não havia nada no momento que eu pudesse fazer.

Shawn se colocou ereto novamente de forma devagar. O Sargento mexia sua mandíbula para lá e para cá talvez tentando diminuir o latejar que a consumia. Ele colocou um dedo na ponta esquerdo do lábio inferior e viu a gotícula de sangue ali.

Isso, sadicamente, o fez sorrir.

- É um ótimo gancho de direita, olhos verdes. – ele apontou para Lauren em meio ao sorriso. – Christopher, você deveria aprender com a sua irmã! – zombou, dando uma risadinha para o jovem que o encarava friamente no canto do quarto. – Não é à toa que ela deixou um olho roxo no Mahone.

Dinah agora me ajudava a segurar o corpo trêmulo de Lauren. Ela ainda dava alguns arrancos, mas eu segurava firmemente sua cintura enquanto a loira alta abraçava seus ombros.

Shawn Mendes, analisando as reações de Lauren, fechou os olhos como se tentasse controlar a raiva e inspirou fundo se acalmando.

- Não vou deixar com que isso arruíne meu ótimo dia. – ele falou e logo depois abriu os olhos novamente voltando a sorrir.

- O que você quer? – Dinah rosnou ainda segurando Lauren.

- Eu quero você, você e você... para um pequeno trabalho. – Shawn respondeu apontando respectivamente para Dinah, Lauren e eu. – Eu não iria chamar você... – ele falou e apontou para a garota irada que estava presa em meus braços. – Mas... como me recepcionou tão bem eu... cansei de ser bonzinho com você.

- Vai à merda! – Lauren com um movimento brusco se livrou das mãos de Dinah e também retirou as minhas de sua cintura.

Eu e a loira alta encaramos Lauren esperando que ela avançasse para cima do Sargento, mas ela se manteve parada por mais enraivecida que estivesse.

- Sabe... eu entendo suas reações... – Shawn Mendes deu um passo à frente e encarou Lauren.

O cara parecia que realmente querer outro murro na cara.

Mas dessa vez Lauren soube se controlar e apenas respondeu ao contato visual sem se intimidar.

- Eu tenho te poupado de trabalhar, porque estou sendo bondoso. Deve ter sido uma merda ver a irmã ser morta como uma porca.

- FILHO DA PUTA! – Lauren gritou.

Meus olhos quase pularam de minhas órbitas com a crueldade do Sargento.

Lauren perdeu novamente a paciência e tentou avançar para cima do militar esticando os braços para agarrar-lhe a farda. Mas Shawn, agora rindo, conseguiu dar passos rápidos para trás antes que as unhas da jovem lhe arranhassem o rosto.

- Lauren! – Harry chamou por ela e se aproximou para me ajudar a segurá-la mais uma vez.

Dinah também tentou e agarrou de olhos verdes pelos ombros. Lauren se debatia com ainda mais raiva, pois, agora, os soldados desgraçados também riam da situação. Eu lhe agarrei pela cintura e Harry se colocou como muro entre ela e o Sargento.

- Me soltem! – Lauren gritava enquanto as lágrimas escapuliam por seus olhos. – ME SOLTEM!

E aquilo pareceu ser o estopim para o seu irmão.

- LAUREN, PARA! – Christopher gritou com a voz grave. Ele se colocava de pé com ajuda de Keana, que lhe oferecia o ombro como apoio. – Apenas pare! Você não está ajudando!

Ouvir o irmão obrigá-la a parar de tentar acertar o cara que matou sua irmã pareceu atingir profundamente Lauren. Mas, o pior foi ele ter usado aquela frase. O fato que atormentava Lauren há dois dias: ela tentou ajudar, mas apenas piorou as coisas.

Ela olhou para Christopher como se não acreditasse em suas palavras.

“Agora não é a hora!” ele esboçou com os lábios, tentando acalmar a irmã.

- O cãozinho raivoso é esperto, deveria aprender com ele! – Shawn caçoou enquanto dava passos para trás em direção da porta. – Quero vocês três prontas na hora do almoço!

*Music On* (Heroes – Generdyn Músic)

E ele então simplesmente saiu acompanhado de seus subordinados, batendo a porta e a fechando pelo lado de fora.

Dinah e Harry se distanciaram da de olhos verdes ao perceberem que o perigo havia esvaído. Entretanto, eu tentei me manter ainda perto dela.

- Por que você falou para eu parar, Christopher?! – Lauren praticamente berrou com o irmão quando a porta se fechou.

A jovem desabou em lágrimas e soltou-se de meu embraço com brutalidade.

- Lauren... – eu tento chamá-la, mas ela me ignorou e continuou a dar passos em direção do irmão.

Christopher estava cabisbaixo e apenas a olhava em silêncio. Percebia-se, por causa de seus punhos fechados, que o rapaz também estava em uma luta interna angustiante.

Ambos tinham jeitos diferentes de absorver o luto. Ele era calmo e pensava antes de agir; ela era explosiva, sentimental demais.

- Por que você me mandou parar?! – rosnou de novo.

- Por que não vamos conseguir nada com isso agora! – Christopher então retrucou, enraivecido. – Pensa um pouco, Lauren! – ele ralhou e bateu com um dedo na própria cabeça para sinalizar o “uso dela”. – Quanto mais você tentar ir contra, mais eles vão ter de nós!

Eu tento novamente colocar uma mão no ombro de Lauren, mas ela outra vez deu outro passo para o lado se distanciando.

Fecho os olhos e respiro fundo para tentar manter a calma.

Ela está de luto, Camila, dê um tempo!

- Então vamos simplesmente ficar com nossas bundas grudadas no chão enquanto eles matam quem agora?! Que tal a Normani? – Lauren estava fora de si e com os braços abertos.

A morena bonita se assustou quando seu nome veio à conversa e tentou abrir a boca para retrucar, mas Lauren a interrompeu.

Ela agora apontou para a francesa.

- Que tal a Keana? – continuou, possessa. Apontou então para Regina, Claire e Sofia. – Uma das crianças?!

- Lauren... – até Troy, que estava fraco, tentou chamar pela de olhos verdes para acalmá-la, mas não conseguiu.

Lauren expelia raiva.

Ela então balançou a cabeça freneticamente e abriu os braços mais uma vez. As lágrimas escapuliam por seus olhos sem ela notar. Seu queixo tremia e sua respiração saía entrecortada, rouca, sem forças.

- Não! Não... eu tenho uma melhor! Que tal eu? – ela falou apontando para si mesma e então deu um sorriso triste. – A real culpada de toda essa merda! Aquela que tentou ajudar, mas apenas fodeu ainda mais o grupo?! Aquela que gerou a morta da própria irmã!

- CALA A BOCA, LAUREN! – o grito saiu por meus lábios.

Aquilo foi o estopim para mim.

Ouvir a pessoa que eu tanto gostava dizendo palavras tão cortantes sobre si própria havia gerado um sentimento tão revoltante em meu peito que eu simplesmente explodi.

Com meus punhos fechados e cenho franzido eu lançava um olhar de repreensão para Lauren que agora estava devidamente calada e me encarando com uma expressão de incredibilidade.

Todos ali também estavam em silêncio e meio surpresos com minha reação.

- Não vamos conseguir nada, exatamente nada, se começarmos a brigar entre nós! – eu falo, olhando ao redor. – É isso que eles querem! – abro os braços. – Vocês não estão vendo isso?! Eles querem nos deixar fracos! Temerosos! E brigas entre nós nos deixarão exatamente assim! Fracos! Para que então de fato eles possam nos fazer de escravos!

Lauren abriu a boca para me retrucar, mas eu fui mais rápida.

- Já chega! – eu não só usei o tom repreendedor para ela, mas sim para todo o grupo. – Não vamos mais nos submeter a isso! Eu sei que todos aqui querem vingar a morte da Taylor. Sei que todos aqui querem a liberdade. Que querem aqueles desgraçados mortos! Mas só vamos conseguir se fizermos isso juntos! Somos um grupo!

Eu parei de falar por alguns segundos para recuperar o ar em meus pulmões, pois me encontrava ofegante.

O silêncio reinava entre os olhares de expectativa direcionados a mim.

Durante toda minha vida nunca tive dificuldades em ser o centro das atenções, sempre tive sonhos grandes de me tornar um grande ícone ou uma grande artista, portanto, eu precisava saber lidar com pessoas me olhando.

Mas não aqueles olhares. Meu coração disparou quando notei um sentimento em comum em todas as órbitas: esperança.

- Nós não somos escravos! – minha última frase saiu como um rosnado entre meus dentes.

Alguns abaixaram as cabeças enquanto absorviam minhas palavras, outros mantiveram os olhares fixos em mim. Vi pessoas suspirando e outras engolindo seco.

Mas todos sabiam que eu tinha razão.

Meu olhar então parou em Lauren.

A jovem me encarava com os olhos ainda marejados, mas dessa vez sem nenhuma lágrima escorrendo por seu rosto. Franzo o cenho tentando entender a intensidade que seus olhos verdes me passavam.

Ela me analisava com admiração.

Lauren então, após longos segundos mantendo contato visual comigo, abaixou a cabeça e fez um sinal de “afirmativo” com ela. Inspirou fundo e logo em seguida passou as mãos pelos olhos para enxugar as lágrimas acumuladas ali.

Dessa vez não tentei ir até ela, pois, acima de tudo, percebi que Lauren precisava realmente era de espaço.

Espaço para respirar e colocar a cabeça no lugar.

Todos nós precisávamos disso.

Precisávamos nos reerguer novamente.

 

Novamente perto do meio dia, quando o sol estava a pico – eu precisava olhar o astro já que haviam tomado de mim o relógio que Claire me deu -, eles jogaram as sacolinhas de comida no meio do quarto e fecharam a porta.

Eu estava sentada ao lado de Sofia e oferecia um pouco de sopa fria para que ela comesse. Não havia talheres. Era terrível precisar de fato sugar a comida de dentro do plástico.

Pelo menos tínhamos comida.

Como eu havia explicado a situação para ela?

“Eles são más pessoas, querida. Não querem que nos tornemos amigos. Então é por isso que nos deixam separados deles e com outras formas de alimentação e tratamento.”

É... foi terrível, mas a única coisa que encontrei.

Como prometido pouco depois do almoço o Sargento Shawn Mendes apareceu novamente. Dessa vez ele veio acompanhado de mais subordinados que escoltaram Dinah, Lauren e eu para fora de nosso cômodo. Minha irmã e Regina choraram desesperadamente pensando que sumiríamos assim como o “tio Austin” – vulgo desgraçado – e a tia Taylor sumiram.

Quando o sol bateu contra meus olhos eu senti meu corpo arrepiar. Paramos de ser escoltadas perto de um Humvee no portão de saída. Observo dois homens em cima de armações de metal como se fossem os guardas de um grande palácio. Eles seguravam fuzis e tinham óculos escuros no rosto.

- Vistam isso! – Shawn Mendes apareceu por de trás do Humvee segurando três blusas grossas de moletons cor amarelo fluorescente.

- Você quer fritar a gente? – Dinah resmungou pegando os moletons bruscamente das mãos do militar. – Olha o puta sol que tá fazendo e você me dá uma porra fluorescente?!

- Isso é para você serem vistas à distância. – Shawn ignorou o comentário da civil. – Se ousarem sair das ordens dos soldados ou tentarem alguma gracinha assim como fizeram da última vez... – ele então olhou para Lauren e a jovem abaixou a cabeça. – Já sabem o que vai acontecer...

- O que vamos fazer? – pergunto.

- Vão pegar uns zumbis para nós. Precisaremos para a próxima batalha. – o Sargento então se virou para mim.

O militar me olhou de cima em baixo como se analisasse uma mercadoria. Pelo sorriso debochado em seus lábios eu sabia que queria que eu me lembrasse do fato que ele já havia me visto nua na tenda de desinfestação.

Lauren notou o olhar de Shawn para cima de mim e deu um passo em sua direção, mas Dinah colocou uma mão na cintura da jovem a puxou para trás.

Por sorte o Sargento não viu seus movimentos, pois continuou me analisando descaradamente.

Shawn Mendes me lançou uma piscadela maliciosa e virou-se de costas para começar a mandar ordens para os cinco soldados que iriam conosco.

Quando dei um passo para ir em direção de Lauren um vulto me fez parar no mesmo lugar. Um soldado havia acabado de empurrar um rapaz franzino e ele só não caiu estabanado no chão porque eu consegui segurar seus ombros magrelos.

Ele gemeu por causa da brutalidade e eu o ajudei a ficar de pé de forma correta. Pude então ter a oportunidade de olhar dentro de suas órbitas azuis.

- Obrigada! – ele suspirou e ladeou a cabeça dando um passo para trás para recuperar a respiração. Ele já vestia o moletom fluorescente. – Quais são os seus nomes?

- Camila. – apontei para mim e depois para as outras. – Dinah e Lauren.

- Bom saber que não sou o único prisioneiro aqui. – ele tentou sorrir, mas não conseguiu. – Me chamo Troye Sivan.

- Quanto tempo já está aqui? – Dinah pergunta para o rapaz jovial.

Ele era tão magro que eu temia que um mísero vento o levasse.

- Algo próximo de três meses. Eu meio que perdi a noção do tempo. – Troye deu de ombros com um suspiro cansado.

Analiso melhor sua fisionomia. O rapaz estava cheio de manchar roxas pelo rosto, marcas de arranhões no pescoço. Seu rosto era fino, um pouco talvez delicado, o que eu nem queria pensar que poderia ter lhe causado ali dentro.

- Cheia de conversinhas, donzelas... – a voz de Austin Mahone se fez presente.

Virei-me em sua direção e vi o rapaz trajando uma vestimenta militar completa dessa vez.

Não havia regras. Não havia Governo. Austin Mahone não precisaria de honraria para entrar para o exército. Se o Major assim o quisesse, assim seria. E assim foi. O antigo policial tinha uma arma pousada no coldre à cintura, mãos dentro do bolso da calça camuflada e um sorriso prepotente no rosto.

Em vez de respondê-lo ou simplesmente avançar em sua direção para esmurrá-lo até a morte eu fiz a coisa mais esperta que poderia fazer: eu fui em direção de Lauren.

A jovem o encarava com os punhos fechados em raiva. A mesma ira que a de olhos verdes sentia eu tinha ela três vezes maior em meu peito. Austin esteve comigo por meses, protegeu minha irmã, Dinah e Ally por meses, apenas então para se tornar um filho da puta com o ego machucadinho porque descobriu que a mulher, que não ia com a sua cara, havia conseguido sua garota.

- Lauren... – eu sussurro quando começamos a andar, lado a lado, em direção do Humvee.

Dinah se aproximou e nos entregou os moletons fluorescentes. Eu o vesti ainda olhando para Lauren e esperando por sua resposta, mas, a jovem manteve-se em silêncio enquanto passava o tecido grosso pela cabeça.

Adentramos no veículo militar e eu, propositalmente, me assentei do lado de Lauren.

Eu precisava ficar de olho nela. Eu sabia que ela era explosiva.

Austin foi à cabine ao lado do Luke Hemmings, que dessa vez iria dirigir o veículo. Mais dois soldados adentraram no lugar, nos apertando ali dentro – já que eu e Lauren estávamos frente à Dinah e Troye.

- Lauren... – a chamo novamente.

E outra vez eu recebi o silêncio.

Doía vê-la daquele jeito. Doía olhar em seus olhos e ver apenas dor.

Luke ligou o Humvee e acelerou. Passamos pela rua principal do acampamento e paramos apenas para que os dois homens que estavam nas torres de metal abrissem para nós os portões e então continuamos a seguir a estrada de terra que saía dali.

Devagar escorrego minha mão por seu braço e entrelaço nossos dedos por entre nossas duas coxas que mal se encostavam. A mão de Lauren tremia. Vejo sua respiração errar e ela olhar para baixo procurando pelo o que a tocava. E ao ver que era minha mão seu olhar subiu para o meu e pela primeira vez em quarenta e oito horas eu tive a oportunidade de vê-la através de seus olhos.

Lauren estava ali.

Acaricio as costas de sua mão com o meu polegar enquanto olhava em seus olhos. Eu queria, de qualquer forma, passar para ela que eu estava ali. Que eu estava disposta a ajudá-la a carregar aquele peso.

##########################################

LAUREN PDV

*Music On* (Pieces – Red)

Dois dias atrás...

 

O silêncio perdurava no lugar.

Algumas pessoas olhavam...

Outras tinham os olhos tampados pelas mãos...

As mais fracas saíram antes que aquilo de fato acontecesse.

Era como se meu corpo estivesse mergulhado no petróleo. Não era água. Não era algo límpido ou algo em que você pudesse nadar para a superfície. Era como se ao redor de mim fosse apenas um líquido grosso, pesado, que a cada movimento que fizesse eu me arrastasse ainda mais para o fundo daquele inferno.

A cada inspirada de ar, a cada contaminação por aquele ar meus pulmões desfaleciam.

Meus joelhos, machucados pela brita no chão, latejavam.

Eu via.

Eu sentia.

Mas meu cérebro não conseguia processar.

Era como ler um texto em uma língua completamente nova. A mensagem, o código, está ali na sua frente. Basta decifrá-lo que você irá entendê-lo. Mas seu cérebro não consegue. Ele não aceita aquela mudança de linguagem... ele não aceita aquela mudança de presença.

Há dez segundos estava ali.

Agora não está mais.

Eu me sentia entorpecida.

Talvez essa fosse a melhor palavra para me descrever naquele momento.

A dor já não alastrava mais com o passar dos segundos, com o distanciamento da plateia, com o movimento dos soldados para longe dali.

Eu sabia apenas encarar aquele corpo morto e banhando pelo próprio sangue e poeira ao redor.

Seu olhar estava parado no nada. Pálpebras abertas e congeladas.

E, como se alguém me retirasse de dentro da poça de petróleo, aos poucos fui começando ao ouvir os zunidos ao fundo.

Comecei a ouvir os gritos de desespero de meu irmão.

Christopher se livrou das mãos dos soldados – que agora não nos seguravam mais, apenas ficavam próximos de Shawn caso decidíssemos fazer alguma coisa – e engatanhou completamente desesperado até o corpo de nossa irmã morta no chão.

Christopher tentou embalá-la, tentou chamar por seu nome esperando que ela respondesse, mas ela não o fez. Suas roupas ficaram então embebidas pelo sangue de nossa irmã que se acumulava ao redor e que ainda escorria de seu pescoço.

Normani e Ally choravam audivelmente, ainda agachadas na mesma posição, encarando o corpo de Taylor. Keana vomitava aos pés de um soldado que tinha uma carranca por isso e Dinah tentava lhe ajudar. Camila, magicamente, havia brotado do meu lado e chamava por meu nome em meio às suas lágrimas.

“Lauren! Lauren, olhe para mim! Lauren! Lauren!”

Mas eu não a escutava direito.

Eu só sabia sentir a ardência alastrando por meu corpo.

Devagar comecei a me arrastar em direção de Christopher e Taylor. Camila não me impediu.

Eu não fiquei de pé, pois não conseguia firmar minhas pernas. Então, literalmente, me arrastei até lá.

Quando cheguei perto do corpo morto da minha irmã a primeira coisa que fiz foi colocar minha mão direita sobre suas pálpebras e fechá-las. Não me pergunte o porquê. Mas, em meio à entorpecência, eu sabia que pelo menos aquilo era o certo.

- Mantenham-nos aqui. – escuto a voz de Shawn ao fundo.

Era tanta entorpecência que eu não conseguia fazer nada.

- E quando isso acabar... leve-os para o quarto e esperem minhas ordens. – Justin o completou.

E então ouço o barulho de algo caindo do meu lado.

Olho para o chão e vejo uma faca.

Eu sabia o que isso significava.

Meu olhar subiu para o rosto de Christopher. Ele já não olhava para o rosto passível de nossa irmã e sim para mim. Suas pupilas estavam dilatadas, a respiração entrecortada, e ele me olhava com expectativa.

Como se eu, a irmã mais velha, soubesse o que fazer.

Mas eu não sabia.

Nós dois, os que tomávamos conta de nossa irmãzinha Taytay, não sabíamos o que fazer.

Christopher continuou abraçado ao corpo morto de nossa irmã. Ele a embalava como um bebê. Chorava em meio às palavras sem nexo que saiam por sua boca.

Eu?

Só conseguia olhar a cena e pensar: “Eu sou a culpada!”.

Culpada.

Culpada.

Eu sou a culpada.

Minha irmã está morta por minha culpa.

Não sei quanto tempo todos nós ficamos ali: dez minutos, vinte... meia hora... uma hora....

O restante do grupo se aproximou devagar e se manteve ali, junto à nós.

Os militares se mantinham ao longe, mas atentos.

Entorpecida, era isso que me resumia.

E então o óbvio aconteceu.

Os dedos de Taylor começaram a se mexer devagar, em leves movimentos. O grunhido, tão típico, começou a arranhar sua garganta. As órbitas começaram a se movimentar por debaixo da pálpebra fechada. Os lábios se abriram poucos centímetros, mas abriram. Espasmos fizeram seus braços saltarem um pouco para cima.

A zumbi logo abriu os olhos revelando as órbitas acinzentadas.

O choro me consumiu ao ver aquela cena. As lágrimas vieram com a força de um tsunami por dentro do meu corpo e caíram de meus olhos.

A zumbi, que um dia foi Taylor Jauregui, virou a cabeça para mim provavelmente sentindo o meu cheiro. Ela inspirou e então grunhiu meio fraca.

E então ela tentou, pela primeira vez, me atacar.

Porém Christopher foi rápido e segurou os braços da andarilha.

O movimento da zumbi fizeram os militares ficarem tensos. Eles sabiam que deveriam cuidar da situação se ela saísse do controle, pois, caso contrário, todos no acampamento estariam condenados.

Eu sentia o olhar de todos ali em cima de mim, já que as mãos de meu irmão se mantinham ocupadas segurando o corpo de nossa irmã morta, recém zumbi.

Então eu escorreguei lentamente a mão para a lâmina do meu lado. Quando segurei no cabo da faca foi como se milhares de espinhos enfiassem em minha mão direita.

A zumbi começou a ficar inquieta e irritada, avançando agora para cima de meu irmão que chorava dolorosamente.

Os soluços dele... eu nunca esqueceria seus soluços sôfregos.

Mas Christopher estava conseguindo mantê-la quieta. Seu olhar então subiu para mim e ele pediu silenciosamente para que eu acabasse com aquilo.

Com a mão livre eu segurei um tufo de cabelo do um dia havia sido a minha irmãzinha. A zumbi grunhiu e virou a cabeça para mim.

Pude então olhar em sua órbita acinzentada. Sem pupila. Sem íris. Apenas um cinza frio.

Nada de Taylor Jauregui ali.

- Faça logo... – a voz de Christopher estava tão rouca que seu pedido não passou de um ruído.

Olhei pela última vez para o rosto de minha irmã e tentei imaginá-lo cheio de vida como foi um dia... como era há momentos atrás.

E então eu ergui a faca e lentamente a penetrei na lateral direita de sua cabeça. O sangue espirrou em minha mão e, então a zumbi parou de se mexer nos braços do meu irmão que continuou a embalando mesmo assim.

Taylor Jauregui estava definitivamente morta.

E era minha culpa.

 

 

Atualmente...

Quando o Humvee parou Dinah, Troye, Camila e eu fomos empurrados para fora. Piso com dificuldade no asfalto quente, tentando me manter de pé depois do empurrão brusco em minhas costas.

Tudo que reinava em mim era a vontade de vingança. Corroía meus ossos, queimava minha alma, espalhava espasmos por meu corpo.

E depois vinha a culpa.

Quente, ácida, áspera.

Matava a vingança e reinava na minha mente assassina.

Eu estava me matando interiormente.

Mas, externamente à guerra interna em que eu me encontrava, nós estávamos no meio do nada. Florestas e mais florestas nos rondavam. Só então, agora na estrada, percebi que um caminhão havia seguiu com o quinto soldado que nos escoltava.

Provavelmente o veículo era para colocar os zumbis.

Zumbis esses que eu teria que sobreviver na próxima luta, pois eu sabia que seria novamente uma lutadora.

O fariam até que eu morresse.

- Adentrem na floresta e chamem atenção! Quero pelo menos quinze zumbis no interior daquele caminhão antes das três horas da tarde! – Austin ralhou. – Não tentem fugir. Estaremos sempre por perto e vocês são vistos ao longe com esses moletons! Não ouse tirá-los!

Austin nos entregou espécies de ganchos com laços pendurados nas pontas. Precisávamos passar as cordas nos pescoços dos zumbis e guia-los para o caminhão que tinha três tábuas servindo de ponte para o compartimento de trás.

Nós quatro adentramos na floresta e começamos pisar sobre os galhos velhos e secos. Gritávamos qualquer coisa, qualquer merda para chamarmos atenção. Batíamos os ganchos nos troncos grossos das árvores. Assoviávamos. Jogávamos pedras ao longe.

E então os desgraçados finalmente apareceram.

Cada um em direções diferentes totalizando naquele momento quatro, o número perfeito para nós.

Entretanto, quando eu olhei no rosto da andarilha algo aconteceu. Eu não via que seu cabelo era ruivo, eu não via que seu rosto era fino demais, eu não via que ela havia sido morta por uma mordida na bochecha e nem que lhe faltava um globo ocular.

Eu via Taylor Jauregui vindo à minha direção.

Eu congelei.

Meus pulmões murcharam, minhas pernas bambearam e eu cambaleei para trás tentando me distanciar da zumbi que vinha marchando.

- Taylor... para! – eu sussurrei tão baixinho que eu mal pude me ouvir.

Mas a zumbi continuou vindo à minha direção grunhindo e esticando os braços para me pegar.

Eu não conseguia erguer minhas mãos e enlaçá-la com facilidade igual os outros estavam fazendo.

Eu estava congelada.

Continuei tentado me distanciar, continuei tentando segurar as lágrimas que subiam até meus olhos queimando por dentro.

Até que senti então algo prender meu pé em meio ao mato e eu caí para trás toda estabanada.

- Merda! – ouço alguém ralhar.

Essa mesma pessoa então retirou o laço de envolta do pescoço do zumbi alto e magrelo que manejava e enfiou o cabo do gancho em sua cabeça, penetrando seu globo ocular e atingindo seu cérebro.

Enquanto isso minha irmã caía sobre mim com a boca já escancarada. Eu apenas fechei meus olhos e esperei que seus dentes arrancassem algum pedaço do meu corpo... que ela me matasse... que ela de fato me fizesse pagar pelo que fiz a ela.

Mas então alguém chutou a lateral de sua barriga e a zumbi rolou para o lado.

Virei a cabeça para a zumbi e então vi mais Taylor.

A andarilha era ruiva e engatinhava em minha direção.

Entretanto Camila, mesmo com um braço machucado, foi mais rápida novamente e deu outro chute no rosto da andarilha, fazendo-a cair para trás. A latina começou então a pisar em cima do crânio que, depois de quatro pancadas fortes, se despedaçou em meninges podres e líquido encefálico grosso.

- Você está bem? – Camila virou-se para mim e se inclinou me analisando.

Ela parecia um anjo.

Um anjo com olhos castanhos que acabara de, novamente, salvar minha vida.

Camila franziu o cenho esperando por minha resposta enquanto esticava a mão para mim e me ajudava a ficar de pé, usando o braço que não estava machucado para tal.

O sangue começava a surgir na gaze envolta do buraco de bala no bíceps, devido ao esforço que ela estava fazendo. Eu via em sua expressão que ela sentia dor, mas tentava não demonstrar isso.

Eu apenas sinalizei que “não” com a cabeça.

A latina então tocou de leve no meu braço e sorriu fracamente. Eu via que seu movimento havia sido hesitante. Ela estava temendo minhas reações explosivas, e eu, infelizmente, não poderia culpá-la. Eu não sabia do que eu seria capaz.

- Vai ficar... – ela murmurou baixinho. – Tem que ficar...

 

Depois de mais gritos de Austin e dos soldados nós fomos obrigadas a voltar a pegar zumbis. Os enlaçavam, guiavam e os colocavam dentro do caminhão. O sol queimava nossas testas expostas, nossos bustos fritavam dentro daquele moletom quente, o suor escorria por nossos pescoços.

Alguns mortos davam trabalho, então precisávamos ter mais cuidado para enlaça-los. Alguns, os mais espertos, precisávamos matá-los antes que eles nos matassem. Outros, os mais podres, tinham o pescoço partido pelo simples movimento da corda – que ficava depois infestada por pele molhada de pus e fibras em decomposição.

Quando terminamos havia ao total dezoito zumbis no interior do caminhão. Os soldados e Austin ficaram devidamente felizes com nosso desempenho. E eu tentava apenas não pegar o cabo daquele gancho e enfiar no meio da testa do desgraçado do Mahone.

Traidor filho da puta.

Quando nós quatro e os militares nos reunimos novamente na estrada para entregar nossos ganchos a eles eu pude perceber, por cima do ombro, que Troye Sivan estava inquieto. O magrelo olhava para todos os lados constantemente e engolia seco a cada dez segundos como se ponderasse alguma coisa.

E então eu percebo, antes de todos ali, o que ele estava prestes a fazer.

Quando o magrelo entregou o seu gancho para o militar mais próximo de si ele virou-se em direção da floresta e começou a correr. Ele estava desesperado tentando infiltrar por entre os galhos grossos enquanto tirava, às pressas, o moletom do corpo para não ser visto ao longe.

- Merda! – Austin ralhou vendo Troye fugir.

Do lado leste e do lado noroeste alguns andarilhos, cinco ao total, se aproximavam ao longe. Seus grunhidos ecoavam.

- Vá atrás dele! – o ex-policial então se virou para mim e ordenou.

Eu apenas o encarei, sem acatar suas ordens.

Austin então semicerrou os olhos ao ver que eu o desafiava.

O ex-policial ergueu então a sua pistola automática e sem perder o contato visual comigo a apontou para a cabeça de Dinah Jane.

A loira alta arregalou os olhos ao ver o cano da arma mirando o meio da sua testa.

- Vá. Atrás. Dele! – Austin falou palavra por palavra entre os dentes.

Eu engulo um rosnado e fecho os punhos por causa da raiva. Sem pensar muito então me lanço entre os galhos e mato alto da floresta, começando uma perseguição por entre os troncos das árvores.

- Troye! – eu gritava por seu nome.

A figura magrela corria alguns metros na minha frente. Talvez fosse a falta de massa muscular ou talvez o medo pelos zumbis que se aproximavam, mas ele corria muito devagar.

- Para! – eu peço depois de empurrar dois galhos grossos de uma árvore grande. – Para!

Mas ele não parou.

Continuou a correr pela grama alta e fofa e pulando as pedras que surgiam como obstáculo na sua frente. Os troncos dos pinheiros ao redor de nossos se tornaram, ao decorrer da perseguição, mas grossos e, por poucos segundos desviando de uma árvore, eu perdi o magrelo de vista.

Continuo a correr e olhar para os lados procurando por ele.

E então escuto os gritos de socorro.

- Merda! – eu xingo começando a correr em direção de seu choro cheio de dor.

Quando me aproximo da cena meu estômago aperta ao ver três zumbis rasgando o abdômen de Troye. Era uma andarilha velha, uma adolescente e talvez um homem de vinte e poucos anos. Mais ao longe outros dois zumbis, um moreno e uma loira, se aproximavam.

O magrelo tinha lágrimas escorrendo pelo canto dos olhos enquanto olhava, ainda vivo, os zumbis comerem suas entranhas, puxarem seus intestinos, rasgarem suas paredes internas. O sangue já voltava por sua boca e vazava por seus lábios enquanto ele implorava para que parassem.

Troye então olhou para mim e esticou um braço na minha direção pedindo misericórdia.

Mas logo os dois zumbis que se aproximavam também se juntaram aos amigos e morderam o braço esticado do rapaz que agora, desacordado, possivelmente havia desmaiado de tanta dor e perda de sangue.

Eu fecho os olhos e inspiro fundo mandando minha voz interna calar a boca, pois insistia em dizer para eu deixar aquilo para lá.

Mas eu não podia.

Abro os olhos e o primeiro objeto que vejo é uma pedra grande aos meus pés.

A pego e começo a caminhar em direção dos zumbis.

Demorei pouco mais que um minuto para abatê-los, sendo esse talvez meu recorde em várias coisas, entre elas:

Raiva. Eu dava pancadas fortes nas laterais das cabeças dos mortos fazendo-os caírem estabanados ao chão.

Agilidade. Enquanto eu dava uma pancada na velha, eu desferia um chute na adolescente para mantê-la longe de mim. Depois eu esmurrava no homem enquanto dava uma rasteira na loira.

Sadismo. Eu não parei até que o último zumbi sobrasse apenas meninges podres no chão.

Quando acabei apenas minha respiração descompassada era ouvida no silêncio da mata.

Soltei então a pedra que pingava a mistura de gosma encefálica coagulada do zumbi e sangue. Com as costas contra o tronco de uma árvore deslizo até o chão, sentando-me em um tufo macio de grama. Meus músculos cansados davam espasmos, minha respiração ardia nas veias áreas e eu sentia dores por todo o corpo... tanto físicas como psicológicas.

Tento inspirar fundo para não adentrar-me novamente em uma onda de pensamentos autodestrutivos e começo a encarar o nada à minha frente: troncos grossos e antigos, grama pisoteada, alguns pássaros cantando em galhos altos, a brisa fresca da floresta batendo no meu corpo.

Silêncio.

Silêncio apenas no exterior, pois na minha cabeça milhares de vozes gritavam: culpada!

Aperto meus olhos e escondo meu rosto entre meus joelhos, tentando me proteger de algo que eu sequer sabia.

Não conseguiríamos fugir deles.

Eles eram muitos.

E eu era fraca para ajudar meu grupo.

*Music On* - (Good Evening – Quaker City Night Hawks)

Mantenho-me de cabeça baixa mesmo ouvindo barulho de passos ao longe. Abro os olhos e aguço minha audição buscando os grunhidos característicos dos zumbis, mas nada além de passadas firmes e uma respiração estável era audível.

A pessoa caminhou até perto de mim e parou, provavelmente, me analisando.

Engulo seco e levanto a cabeça deparando-me com uma mulher mediana e de cabelos negros, queixo quadrado, bochechas sinuosas e olhos expressivos. Ela era bonita, magra e estava em ótimo estado.

As roupas estavam limpas: jeans escuro, blusa xadrez preto e branco e botas. Tinha a alça de um fuzil novinho em folha passada pelo corpo, além de duas facas dispostas em coldres na cintura.

Depois de me encarar por longos segundos um sorriso nasceu no canto de seus lábios.

Franzo o cenho ao ver sua expressão. Era como se ela estivesse completamente satisfeita em finalmente me encontrar.

Ela então estendeu a mão para mim, oferecendo ajuda.

Analiso sua mão aberta para mim e continuo acuada como um animal medroso.

A mulher então ergueu uma sobrancelha como se me refizesse um convite silencioso e balançou a mão novamente, indicando que eu a pegasse.

Então eu inspirei fundo tomando uma dose de coragem e coloquei minha mão na dela, aceitando a ajuda para me colocar de pé. A mulher me puxou para cima e me ajudou a recobrar o equilíbrio, me segurando pelo ombro até que eu estivesse totalmente ereta.

Quando finalmente ficamos do mesmo tamanho e com os olhos no mesmo nível o seu sorriso aumentou tanto que eu pude ver seus dentes limpos.

Se ela quisesse me matar já teria o feito. Se ela quisesse me seguir para me roubar, estaria comprando uma passagem para o inferno.

- Me parece que você está precisando de uma mãozinha... – sua voz era aveludada.

Mantive-me em silêncio e a analisá-la. Ela diminuiu o sorriso, mas continuou amigável.

- Vi o que você fez com os mordedores ali... como conseguiu acabar com cinco ao mesmo tempo? – perguntou dando um passo para trás, certamente pensando que eu não gostasse que invadissem meu espaço.

E eu de fato não gostava.

Continuei em silêncio e a encarando sem expressão nenhuma no rosto.

- Não é de palavras, huh? – a mulher inspirou fundo e arrumou melhor a alça do fuzil no corpo.

Vê-la efetuar esse movimento me fez responder automaticamente dando um passo para trás, defensiva.

- Calma! – ela ergueu as sobrancelhas, surpresa com minha velocidade. – Não quero te machucar!

- O que você quer comigo?

- Eu quero a sua ajuda. – novamente outro sorriso surgiu em seu rosto.

Franzo o cenho, mostrando minha confusão.

- Como?

- Você está sendo feita de escrava por aqueles desgraçados, não está? – perguntou e eu assenti com a cabeça. – Estamos analisando eles há muito tempo, escutamos uma mensagem por rádio e decidimos checar. Então os seguimos depois de toda aquela merda que aconteceu na frente daquele CDC. Eles têm armas, comidas e várias coisas que queremos. Eu quero a sua ajuda para invadir aquele lugar e pegar o que eles têm.

- Plural? – pergunto e olho por cima do seu ombro, procurando por mais alguém. – Você é a líder do seu grupo?

- Não sou, mas não serão necessárias mais informações que isso. – a mulher deu um passo para o lado, voltando a ficar no centro da minha visão. – Queremos sua ajuda. Queremos as armas deles, você quer sua liberdade. Todos ganham! O que você acha?

- E como vou saber se posso confiar em você? – rosno para ela.

A mulher fez uma careta de “Você realmente não pode” e devagar colocou a mão sobre o coldre esquerdo onde uma faca estava. Ela até apontou, mostrando que ia pegá-la, evitando que eu interpretasse mal.

A de cabelos negros pegou a lâmina muito afiada e, com ela no centro de sua mão aberta, me ofereceu.

- É apenas uma troca simples. – ela falou. – Te dou isso como garantia. Faça o que quiser com ela, mate quem quiser. Mas leve em consideração que pelo visto você não têm muitas opções, têm? – a mulher ergueu uma sobrancelha, sugestiva.

Eu travo o maxilar ao ver que ela infelizmente tinha razão. Ela tinha todo um ar de esperta, o tipo de pessoa que não deveríamos confiar nem quando o mundo era normal.

Porém, era nossa única chance.

Engulo um xingamento e pego a faca de sua mão, a colocando dentro de minha bota suja.

A mulher deu um sorriso aberto ao ver que havia conseguido uma aliança comigo.

- Vamos invadir na meia noite de amanhã. – ela anunciou. – O que você precisa fazer é simples: dar um jeito nos guardas do portão do acampamento.

- Vocês vão entrar pela porta da frente? – pergunto descrente.

- E existe modo mais foda? – ela abriu os braços sarcasticamente. – Não somos um grupo de entrar às espreitas.

- E como vou saber que você não vai matar pessoas do meu grupo no meio da invasão? – semicerro os olhos. – Com certeza haverá tiroteio.

- Quantos eles são?

- 12.

Ela coça então estrala o pescoço, pensando.

- Pintem o rosto com alguma coisa, usem alguma coisa chamativa. Vou falar para o pessoal que vocês estarão diferentes de alguma forma. Depois disso vocês serão mais que bem-vindos em nosso grupo. – ela sorriu satisfeita com seu próprio plano.

Ladeio a cabeça, pensativa.

Uma coisa era uma aliança. Outra coisa era o ingresso em um grupo que eu sequer havia visto.

Não seríamos tão fáceis assim... Mas ela não precisava saber.

- Feito!

A mulher estendeu a mão para mim e nós nos cumprimentamos, fechando o acordo.

- Meu nome é Lauren. Aliás... – pergunto quando soltei sua mão e ela começou a caminhar novamente para o interior da floresta. – Qual é o seu nome?

A mulher virou-se devagar e novamente o sorriso presunçoso nasceu em seu rosto.

- Pode me chamar de Vero. – ela falou antes de sumir entre os troncos da floresta.


Notas Finais


aaaaaaaaaah, olha, dá tempo de vocês irem comprarem os coletes viu...
Vero muuuuuuuito suspeita ou não?
Sentiram pena da Lauren e do Chris? Ou são sem coração como a autora?
Quero as opiniões de vocês de como vai ser essa guerra! (Quem sabe uma ideia sua não acaba no meio da história?)
Até a próxima e bjocas de luz!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...