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História Into The Dead - Capítulo 33


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá, meus lindos. Antes de tudo queria pedir perdão por não ter cumprido com minha promessa. Odeio falar as coisas e não fazê-las. Sei que prometi que iria postar no meio da semana, mas não tive tempo para isso! Não vou prometer mais isso, eu simplesmente vou chegar, postar e pronto!
Eu queria estar mexendo a raba ao som de Down, mas ainda me encontro bem triste por ter sido um monstro e ter matado a pequena Regina. Mas, queria deixar claro que ninguém está a salvo na história. Que graça teria se isso acontecesse? Estamos falando de um Apocalipse!
E sobre essas coisas que aconteceram essa semana na ilha, hein? Eu devo gostar de ser Alice para sofrer tanto assim!
Boa leitura e me perdoem por qualquer erro.

Capítulo 33 - Capítulo 33


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 33

NARRADOR PDV

Na manhã seguinte ao Acontecimento

 

- Há quanto tempo ela está dentro desse quarto? – Lauren perguntou.

- Desde ontem à noite. – Camila suspirou em forma de resposta.

Lauren inspirou profundamente e deixou que a quantidade absurda de ar tentasse lhe acalmar. Mas foi em vão. A jovem expirou com força, passando as mãos pelo rosto para se controlar.

Ambas estavam paradas no centro do corredor no segundo andar do casarão, em meio às penumbras geladas que a manhã daquele triste dia criava.

O grupo de busca havia chegado a menos de meia hora.

Demoraram tanto porque haviam ficado presos durante a madrugada dentro de uma barbearia quando uma horda de zumbis os bloqueou em uma esquina. De manhã os monstros já estavam mais dispersos e o grupo conseguiu voltar para casa sã e salvos.

- Como isso aconteceu, Camila?

- Estávamos dormindo! – a latina respondeu e escorou a cabeça à parede, fechando os olhos para evitar que mais uma onda de lágrimas lhe viesse aos olhos. – Chelsea estava bem! – Camila abriu os olhos, se defendendo. – Quero dizer... na medida do possível! Não imaginávamos que ela iria morrer ontem!

- Como “ela” abriu a porta? – Lauren coçou o alto da cabeça.

- Eu já vi isso acontecer antes, ok? Mas... – Camila hesitou por alguns segundos, engolindo seco. – Eu não achei que fosse acontecer conosco... Não agora! Foi uma junção de erros! As pessoas que estavam de vigia... deveria ter uma dentro da casa! As portas deveriam estar trancadas! Regina deveria ter obedecido à Normani e não ter ido sozinha à cozinha! – a latina colocou as mãos na cabeça e apertou os olhos para não chorar, já que seu peito queimava pelo sentimento de remorso. – Não foi culpa de ninguém!

- Eu não estou dizendo que foi culpa de alguém, querida... – a jovem de olhos verdes suspirou pesadamente ao ver a sua amada despedaçando-se em frente aos olhos.

Lauren então abraçou a sua latina e seu ato fez com que Camila se entregasse às lágrimas que ardiam por dentro de seu corpo. A menor pressionou o rosto contra o pescoço de Lauren, deixando que o choro a dominasse.

A jovem de olhos verdes segurava as próprias lágrimas enquanto tentava se manter firme para a outra, que tremia contra seus braços.

- Ela ainda está lá dentro com o corpo de Regina? – Lauren perguntou deixando um beijo terno na têmpora esquerda de Camila. – Normani está lá com ela?

A latina simplesmente assentiu com a cabeça respondendo às duas perguntas, já que seu rosto continuava pressionado contra o pescoço da maior.

A casa por si só estava em luto.

Ninguém conseguia falar nada, pois não conseguiam sequer raciocinar o que aconteceu.

Todos estavam sentados na sala, mais especificamente no sofá, olhando para o nada e esperando que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.

Dentro do quarto o corpo de Regina estava estendido sobre a cama. Dinah estava assentada em uma almofada ao lado da irmãzinha que mal conseguia respirar. Normani estava mais ao longe, de braços cruzados e atenta, apenas cuidando da integridade de Dinah caso ela perdesse a cabeça e decidisse fazer algo que não deveria.

A loira passava a ponta dos dedos tela testa úmida da pequena, que ardia em febre. O corpo de Regina estava gastando suas últimas parcelas de energia para tentar lutar contra a bomba de antígenos que estava se multiplicando por seus tecidos.

- Meus ossos... – Regina choramingou, olhando para o lado e procurando o rosto tão amado da irmã mais velha. – Estão doendo, DJ!

- Eu sei, maninha... – Dinah sussurrou e fechou os olhos, com as lágrimas escapando.

Regina não era boba. Ela sabia que algo ruim estava acontecendo com ela, só não entendia no que aquilo iria dar. E, sabia também, que por ver a irmã tão triste, que não deveria dar-lhe mais detalhes de tudo o que sentia. Mas, na verdade, seus ossos pareciam vidro e apenas o ato de inspirar e expirar parecia queimar todo o seu peito. Seus olhos ardiam, a boca estava mais seca que antes e deglutir se tornou doloroso.

Ela não conseguia mexer um músculo sem reclamar.

E Dinah não podia fazer nada a respeito.

Regina então, em mais um colapso de seus pequenos pulmões, começou a tossir. Normani por estar mais próxima do balde foi até ele e o pegou, colocando-o em frente à boca da menina que escarrava uma quantidade preocupante de muco e rajadas de sangue.

Após tossir tudo que queria, o queixo de Regina começou a tremer de frio. O suor brilhava em sua testa e a respiração estava entrecortada.

- Vou ir pegar alguns cobertores para ela, ok? – Normani sussurrou para Dinah assim que deixou o balde outra vez no chão, estrategicamente perto da cama dessa vez.

Mas Dinah não tivera forças sequer para respondê-la, pois simplesmente ficou de pé e começou a se distanciar.

- Pode deixar, eu vou. – Dinah falou e, antes mesmo que Normani a retrucasse caminhou até a porta e saiu batendo a bruscamente.

A morena suspirou para conter as lágrimas e se assentou no lugar onde a loira estava. Regina olhava para ela com expectativa, como se esperasse uma explicação para tudo o que estava acontecendo.

- O que vai acontecer comigo? – a menina perguntou.

Normani hesitou alguns segundos e amarrou os cabelos em um coque frouxo para ganhar tempo para pensar naquela resposta. Ela então fungou, limpou a garganta e deu o melhor sorriso que poderia dar naquele momento.

- Você vai dormir, querida... – respondeu e colocou uma mão sobre a testa quente da garota, evitando demonstrar reações sobre a temperatura alta que se encontrava. – Você daqui a pouco irá dormir e será um sono maravilhoso!

- Eu realmente quero... – Regina murmurou e fez uma pequena careta, quase chorando por causa da dor que lhe incomodava. – Eu estou tão cansada... Ainda está saindo sangue? – perguntou, tentando olhar para o bíceps enfaixado por Camila.

- Não... está tudo bem. – Normani acariciou a testa de Regina. – Você ficará bem... – falou e segurou o bolo de choro na garganta para não alarmá-la. – Você irá dormir e quando acordar irá se sentir muito melhor. Você irá sonhar com unicórnios, dragões e arco-íris. Terá todas as comidas que você mais gosta e as pessoas que mais ama!

- Então porque a DJ está chorando? – Regina perguntou inocentemente. – Por que ela está chorando se eu vou ficar bem? Eu prometo não reclamar mais!

- Não, querida, não é por sua culpa! – Normani suspirou quase cedendo as lágrimas que lhe queimavam por dentro. – Sua irmã... ela... está apenas assustada, ok? Foi um momento muito assustador para ela!

- Ok... – a pequena exclamou e ficou em silêncio por alguns segundos olhando para o nada. – Eu posso ver a Sofia? Ou Claire? Elas estão bem?

- Daqui a pouco elas virão aqui... não se preocupe. Por que você não tenta descansar um pouquinho, hein? – Normani murmurou e tentou, sem sucesso dessa vez, sorrir.

Do lado de fora Dinah estava remexendo em uma cômoda no quarto de Lauren, Camila e Sofia. A loira alta tentava ver em meio às lágrimas que marejavam seus olhos e tentava procurar por um cobertor grosso o suficiente para diminuir os calafrios da irmã. Enquanto isso, em sua mente, um trilhão de informações e emoções passava ao mesmo tempo.

- Dinah... – a voz rouca de Lauren fez a maior parar e virar-se para a jovem.

- Não! Não faça isso! – Dinah, na defensiva, já alertou ao ver a expressão de dor emocional no rosto de Lauren que se aproximava devagar. – Não ouse dizer-me palavras de conforto! Não faça isso!

- Eu sei como você se sente! – Lauren a retrucou e parou de andar para manter um espaço seguro entre elas. – Não vim aqui para te dizer palavras de conforto, porque sei que nenhuma delas irá te ajudar.

- Então o que você quer?! – Dinah travou o maxilar para evitar que o bolo de choro em sua garganta se desenvolvesse.

- Eu quero apenas te alertar que... esse tempo que você tem agora... com a Regina... – Lauren hesitava sem saber muito bem como formular aquilo por causa da dor da própria perda doendo no peito. – Eu não tive com a Taylor! Ela simplesmente escapou de minhas mãos. Eu não pude sequer dizer adeus. Então... – ela suavizou a voz ao ver as lágrimas descendo com mais força pelas bochechas de Dinah. – Aproveite! Diga a sua irmã que a ama, que você se importa e que não foi culpa de ninguém. Não foi sua, não foi dela, não foi da Camila, não foi... da Chelsea. – ela sussurrou ao ver a maior franzir o cenho. – Não foi culpa de ninguém, ok?

Dinah fungou passando as costas da mão direita sobre os olhos para tentar secar o excesso de lágrimas. Ela assentiu com a cabeça, tentando suportar a chama de dor que alastrava.

Lauren se aproximou da amiga e colocou uma mão no ombro dela.

- Estamos todos ao seu lado... – falou e fez um afirmativo com a cabeça. – Qualquer coisa que precisar, estaremos por perto.

Dinah assentiu outra vez. Lauren então não demorou muito e se retirou do quarto para deixar a maior sozinha com seus pensamentos.

A ex-mecânica após alguns momentos voltou para o quarto onde Normani ainda ninava Regina.

- Você pode nos dar um momento? – Dinah pediu para a morena.

- Claro... – a outra se levantou, dando lugar para que a maior se assentasse ali. – Eu... eu vou na cozinha pegar alguma coisa pra você comer, ok? – falou por mais que soubesse que ela não comeria nada.

Dinah afirmou com a cabeça e isso foi à deixa para que Normani saísse do quarto.

Regina a olhava com um sorrisinho sapeca no rosto.

- Ela gosta de você! – a criança provocou a irmã mais velha.

Ao ver que a pequena estava bem o suficiente para provocá-la Dinah deu um sorriso meio verdadeiro, meio doloroso.

- Você gosta dela também? – pergunto inocentemente, tossindo fraquinho. – Por não seria certo você gostar rapazes?

- Não existe certo ou errado, querida. O que importa é o sentimento. – Dinah suspirou, pois não teria tempo suficiente para explicar aquilo para a sapequinha.

- Então... – tossiu – Você gosta dela! – Regina deu outro sorriso tão característico.

- Se eu disser que sim você vai parar de me provocar e ficar quieta? – Dinah resmungou. – Você não deveria se esforçar tanto!

- Mas é claro que não! – a irmãzinha deu uma risadinha. – Você terá que me aturar para sempre!

O breve sorriso que havia surgido nos lábios de Dinah foi morrendo aos poucos ao perceber que a frase da irmã não era verdade.

Ela não a aturaria para sempre.

Não mais.

- Eu amo você, maninha. Você sabe disso, não sabe? – Dinah perguntou com o bolo de choro se formando em sua garganta. – Eu te amo tanto! – ela então não suportou e entregou-se às lágrimas quentes e ácidas que escorriam por seus olhos já inchados.

- Eu sei que me ama! – Regina choramingou, assustada por causa do choro da irmã. – Pare de chorar, DJ! – implorou começando a chorar também, pois não suportava ver sua irmã assim.

- Eu lhe imploro por perdão! Me perdoe por não ter conseguido te proteger! – Dinah soluçava e colocava as mãos na frente do rosto, já quase sem forças.

- Você é a melhor irmã do mundo, não fique assim! – Regina fungou e tentou inocentemente tocar no braço de Dinah, mas um choramingo de dor a impediu de fazer isso quando um arrepio ácido percorreu todo o seu corpo debilitado.

- Por favor, não se mova, Regina... Fique quietinha, ok? – Dinah pediu e tentou enxugar o excesso de lágrimas. – Daqui a pouco tudo vai acabar...

*Music On* (Jar of Hearts – Christina Perri)

- Dinah... – Regina suspirou sofregamente sentindo-se cada vez mais cansada.

Outra crise de tosse apoderou de seus pequenos pulmões que contraíam cada vez mais.

Dinah precisou pegar o balde e entregá-lo para a irmã.

- Eu só queria que você soubesse que eu te amo, ok? Eu amo você com toda a minha vida! – Dinah sussurrou e colocou um beijo pela última vez nos cabelos arrepiados de sua sapequinha.

 

Dez minutos depois Normani adentrou outra vez no quarto segurando uma xícara de chá de Camomila feito por Demetria.

Fechou a porta atrás de si analisando Regina, que havia caído no sono por causa da exaustão.

Dinah, ao ouvir os passos, virou-se e encarou com expectativa a feição desolada de Normani. A morena então colocou a xícara sobre uma cômoda próxima e com os braços abertos, agarrou a maior contra si, a qual já veio em sua direção.

Quase que automaticamente Dinah caiu no choro sendo embalada por Normani.

- Eu não consegui protegê-la... – Dinah soluçou contra o ombro de Normani. – Eu prometi que iria protegê-la e não consegui!

- Acalme-se... – a morena sussurrou contra o ouvido da loira. – Não há nada que possamos fazer agora a não ser permanecer ao lado dela, ok? Ela precisa de você! Ela precisa apenas da irmã mais velha dela!

Normani então se afastou um pouco para trás e colocou as duas mãos nas laterais do rosto de Dinah, obrigando-a a encará-la.

- Me ouviu? – questionou encarando as órbitas da maior. – Eu estou com você, Dinah. Estou ao seu lado.

Dinah assentiu, fungando, e outra vez escondeu o rosto contra a pele morena de Normani.

 

 

Aproximadamente uma hora depois que Regina apagou, todos se reuniram no interior do quarto. Eles olhavam a pequena ressonando contra o travesseiro e, a maioria não suportava às próprias lágrimas.

A menina, mesmo inconsciente, suspirava por causa dos calafrios e constantemente resmungava das dores que sentia.

Ally, no canto do quarto, fazia uma mistura de analgésicos e soro para tentar aplicar na veia da criança, buscando em um ato tolo diminuir as dores que ela sentia. Troy, Demetria e Louis a auxiliavam.

Lauren e Christopher estavam de vigia na varanda do casarão, pois segundo eles não suportariam ver aquela cena outra vez. Os dois, momentos antes, se despediram do corpo adormecido de Regina e seguiram para seus afazeres.

Harry estava no andar inferior junto a Simon, mantendo o olhar atento sobre o velho. O ex-militar estava desolado também e encarava a marca na parede onde o sangue seco de sua mulher estava impregnado. Com a ajuda do jovem de cabelos longos ele a enterrou, meia hora atrás, na lateral da casa.

Camila estava em pé atrás da cadeira onde Dinah estava assentada, ao lado do leito de Regina. Normani, ao seu lado, estava de mãos dadas para Sofia e Claire que olhavam a amiguinha dormindo.

Todos estavam em repleto silêncio quando, pela última vez, ouviram o ressonar de Regina Hansen.

Olharam então para seu peito e perceberam que ele parara de se movimentar, indicando sua morte durante o sono.

A sinfonia de choros então recomeçou dessa vez englobando todos ali.

Dinah encarava o corpo imóvel da irmã sobre a cama enquanto tinha em mente uma voz gritando que ela precisava fazer o óbvio.

Ela precisava fazer o óbvio.

A loira alta então ficou de pé com dificuldade e só não cambaleou porque Normani lhe segurou pelo braço.

Dinah fechou os olhos no exato momento que colocou a mão sobre o coldre onde sua faca estava repousada. Seu estômago revirava tanto que as paredes pareciam pregar-se umas contra as outras, espasmos consumiam suas entranhas e ela mal sabia o quê era respirar, já que se esquecera de fazê-lo.

- Você não tem que fazer isso... – Camila sussurrou perto do ouvido da amiga e tentou pegar a faca de suas mãos. – Nós... eu... posso fazer isso.

- Não... – Dinah inspirou fundo fungando por causa da ardência na garganta. – Sou eu quem tem que fazer isso!

As pessoas então perceberam o quê aquilo significava e devagar começaram a sair do quarto. Camila assentiu, meio contrariada, e levou as crianças consigo deixando Normani com Dinah.

Quando todos saíram e sobraram apenas a loira e a morena, Dinah virou-se para Normani.

Bastou aquele olhar de súplica para que Normani entendesse que Dinah queria estar sozinha para fazer aquilo.

A morena então assentiu e começou a se distanciar. Saiu do quarto e fechou a porta atrás de si. E, ao levantar o olhar viu que todo o grupo, até Lauren, Christopher e Simon estavam ali no corredor.

Todos cabisbaixos e entristecidos.

Alguns segundos se passaram e então o choro de Dinah ecoou de dentro do quarto. Seus soluços e esguios eram altos e finos, regados de tortura.

Era um som tão doloroso e tão angustiante que os corações se contraíram.

Era o som de uma jovem evitando o futuro fatídico de sua irmãzinha.

Era o som de Dinah perdendo a razão de continuar a viver.

 

 

####

Meados de Maio

A primavera já estava chegando ao seu fim e com isso o calor do Verão no estado de Tennessee já começava a incomodar. O ar estava abafado, mosquitos zuniam nos ouvidos, o Sol queimavam as peles expostas daqueles que se encontravam na carroceria da Camionete Chevy.

Dinah dirigia o veículo e ao seu lado na cabine estava Lauren e Camila. Na traseira estava Troy e Christopher.

A Camionete se tornou a obsessão de Dinah nas últimas semanas. A ex-mecânica, que havia voltado a mexer com suas amadas peças, utilizou a lataria de rodas gigantes como distração para seus pensamentos destrutivos. Ela não conversava muito desde o final de Abril. Acordava, tomava café com o grupo, levanta-se em silêncio da mesa, pegava sua caixa de ferramentas e caminhava pela grama da Fazenda até a Chevy que ficava estacionada perto do estábulo.

Passava boa parte de todos os dias ali, montando e desmontando o veículo.

Ela havia bloqueado todos, exceto, às vezes, a Christopher e Lauren.

Christopher a ajudou e os dois, em silêncio, compartilhavam a dor que os consumia.

Lauren também às vezes se juntava, tornando-se então um trio que emitia nenhum som, apenas os de suas ferramentas trabalhando.

O motor fora trocado e roncava com uma potência maravilhosa, as rodas cuidadas, pintura restaurada. Tudo o quê eles precisaram para fazer isso vieram de carros abandonados nas rodovias próximas, os quais Lauren e Christopher conduziram até o perímetro da fazia e os desmontaram.

E o resultado de todo esse trabalho foi uma Camionete Chevy praticamente nova em folha.

A loira alta havia praticamente implorado para ir naquela viagem. Não dissera a razão de querer voltar aos trabalhos após apenas duas semanas depois da morte da irmã, mas Camila tinha seus medos.

O posto de gasolina que desejavam chegar se encontrava em uma planície deserta do condado Franklin, ao lado. Três horas de viagem já estavam se completado – desviando das estradas principais – e o estabelecimento já era visto ao longe. Era no alto de uma colina, da qual era possível ver toda a redondeza bege por falta de chuvas.

Dinah pouco depois estacionou o veículo nas proximidades do posto de gasolina abandonado. Algumas ervas daninhas subiam pelas paredes, caçambas de lixos estavam espalhadas aqui ou ali. Uma pilha de pneus velhos à esquerda e os tanques para abastecer à direita.

Os cinco indivíduos pularam da Camionete Chevy e começaram a observar o lugar. Fizeram a ronda usual, onde cada um escolheu uma direção e procurou por alguma suspeita no lugar. Por fim, descobriram que ele estava de fato abandonado e sem nenhum rastro de mortos ou vivos.

Camila guardava sua Dan Wesson no coldre que estava fixo à sua coxa e Lauren, ao seu lado, ainda segurava a Desert Eagle prateada em mãos. Christopher tinha uma escopeta 12 – que havia aderido para si – e Troy segurava sua AK-47.

Dinah girava o amado machado no punho direito.

- Aqueles são os cabos? – Troy perguntou e apontou sua AK-47 para cima onde os fios emborrachados grossos estavam dependurados sobre o suporte de metal que servia de proteção contra a chuva nos tanques cheios de gasolina.

- Alguém terá que subir... – Camila fez uma breve careta ao olhar para cima e ver a distância que o suporte de metal estava do chão.

Os cinco levaram alguns segundos olhando para o espaço que existia entre o suporte de metal que protegia os tanques de chuva e o estabelecimento caindo aos pedaços. Era uma brecha de aproximadamente oito ou nove metros.

Talvez um pulo do telhado do estabelecimento para cima do suporte fosse a melhor opção.

- O jeito é pular. – Lauren concluiu certo.

Os cinco então se entreolharam, perguntando silenciosamente quem iria se candidatar para a pequena loucura.

E então, como Camila já esperava, Dinah sequer respondeu. Ela apenas passou o cabo de madeira de seu machado pelo cinto na calça e começou a caminhar até o estabelecimento, em direção de uma caçamba de lixo que poderia a ajudar a subir no telhado.

- Não podemos deixá-la fazer isso! – Camila virou-se para Lauren que olhava a loira alta com uma expressão preocupada. – Ela está fazendo isso apenas porque quer se machucar!

Christopher suspirou e fez um afirmativo com a cabeça, concordando com a latina. Lauren coçou o alto da cabeça e olhou para Troy que estava quieto, mas ciente que Camila falava a verdade.

- Dinah! – Lauren a chamou e os quatro começaram a seguir a loira pela lateral do estabelecimento.

Dinah já havia pegado um impulso e estava sobre a caçamba de lixo. Ela analisava como iria conseguir escalar a maldita parede.

- Você não precisa fazer isso! – Camila argumentou já próxima da caçamba e olhando para a amiga.

- Eu quero fazer e vocês não podem me impedir! – Dinah respondeu com um tom sério e sequer olhou para os outros quatro, permanecendo então a procurar por um lugar para pegar impulso.

Camila suspirou e passou uma mão pelo rosto para tentar se acalmar.

Uma coisa era Dinah de luto, outra coisa era Dinah querendo fazer loucuras por causa disso.

- O Troy é mais leve que você, deixe-o fazer isso! – Christopher tentou interferir.

Dinah então parou de olhar a parede e virou-se lentamente em direção do Jauregui com uma expressão de poucos amigos.

- Além de querer me impedir... você acabou de me chamar de gorda? – semicerrou os olhos para ele.

Christopher engoliu seco com o olhar mortal recebido e apenas deu uma risadinha sem graça.

- Claro que não, Dinah... – ele pigarreou meio sem graça ao ver os outros com olhares meio temerosos. – Eu só estou dizendo que o Troy também é alto, porém é mais magrelo. Ele vai conseguir pegar um impulso maior e com isso vai diminuir as chances das coisas darem errado.

Dinah então desviou o olhar para o loiro alto. O rapaz estremeceu ao ver que a carranca mortal de Dinah fora direcionada para si e também sorriu amarelo.

A jovem inspirou fundo para acalmar seu humor ranzinza e desceu, com um só pulo, de cima da caçamba.

Camila soltou um suspiro de alívio em forma de sibilo e permaneceu ao lado de Christopher, Lauren e Dinah a observar Troy subir na caçamba com dificuldades por ausência de apoio e se dependurar no telhado do estabelecimento.

Após ralar um joelho para tal ato, Troy ficou de pé em cima do telhado e caminhou com cuidado até a beirada do mesmo, próximo da brecha existente entre ele e o suporte de metal.

- Allyson nunca poderá saber que ele está fazendo isso... – Lauren sussurrou para a latina ao seu lado e ela deu uma risadinha concordando.

O ex-motorista inspirou fundo para adquirir coragem e então pegou um impulso, começando a correr. Ele então saltou o espaço de quase nove metros e caiu todo estabanado em cima do suporte de metal empoeirado e cheio de teias de aranha.

Ganhou agora um arranhão no ombro esquerdo exposto pela regata azul que usava.

- Está bem? – ele escutou a voz grave de Christopher lá debaixo enquanto ainda se colocava de pé.

- Já estive em condições melhores... – resmungou tossindo e retirando uma teia de aranha da sua cara.

O loiro alto ficou de pé resmungando por causa da ardência do machucado no joelho e começou a andar com cuidado pelo suporte de metal enferrujado pelo tempo. O negócio rangia de forma perigosa e isso fazia os quatro lá em baixo olharem para o amigo, preocupados.

Troy seguiu o trajeto mais firme do suporte e se aproximou dos cabos de energia dependurados ali. Por sorte a energia elétrica havia acabado há mais de um ano atrás, então o rapaz simplesmente agarrou os fios emborrachados de alta tensão e os puxou do gerador pifado do poste de luz da rodovia.

Enquanto o rapaz ainda fazia isso, os quatro no chão o observavam.

Mas, exatamente por isso, não prestavam atenção em uma movimentação ali perto.

Dinah então sentiu uma pancada em suas costas e foi jogada para frente em um supetão. O corpo que se chocou ao seu cambaleou para o lado, completamente ofegante por causa da corrida em que se encontrava.

O impacto fez com que os outros três indivíduos se alarmassem e levantassem suas armas para a jovem desesperada.

Ela estava com os olhos arregalados, suja e com marcas de sangue pela roupa rasgada que indicava machucados.

Dinah rosnou irritada e quando ficou de pé retirou seu machado do cós da calça, já querendo descobrir quem fora o infeliz que fizera aquilo. Mas, ao se virar, deu de cara com uma jovem de cabelos claros dona de uma expressão fechada e olhos penetrantes.

- Mãos na cabeça, agora! – Christopher berrou com a desconhecida.

O rapaz puxou o suporte de sua escopeta, com o barulho da arma recarregada ecoando pelo silêncio do lugar.

A jovem revirou os olhos, sem paciência. Mas por fim obedeceu ao rapaz, colocando as mãos na nuca.

 - Me desculpe... – ela ofegou, olhando para trás mais uma vez. – Eu estou correndo de Mordedores.

- Mordedores? – Camila ergueu uma sobrancelha, com a sua Dan Wesson levantada.

- Mortos-vivos, zumbis, foda-se o jeito que vocês o chamam. – rosnou a desconhecida que outra vez olhou para trás, preocupada.

- Você tem alguma arma? – Dinah semicerrou os olhos.

A desconhecida deu uma risada nasal cheia de escárnio para a loira alta.

- Acha mesmo que se eu tivesse alguma arma estaria correndo desse jeito? – retrucou, a lançando um olhar de soslaio.

O jeito de ser da jovem não agradou Dinah, que continuou a encarando enraivecida pelo empurrão.

- Quantos e quão longe estão? – perguntou Lauren também segurando sua Desert.

- Bem... – a desconhecida deu de ombros e suspirou dramaticamente. – Eles já estão aqui...

Lauren sequer tivera tempo de questionar a fala da jovem, pois no mesmo segundo os grunhidos guturais característicos dos mortos ecoaram por entre os galhos das árvores por perto. Eram ao total quinze zumbis em um estado nojento de decomposição, certamente transformados nos primeiros meses da epidemia. As peles estavam ressecadas, alguns tinham membros faltando, outros tinham entranhas podres dependuradas. Mas todos escancaravam as bocas e os encarava com as órbitas cinza.

Troy de cima do suporte de metal, segurando os rolos de cabos emborrachados em mãos, apenas conseguia observar seus amigos sendo encurralados.

Os mortos surgiram por detrás do estabelecimento surpreendendo a retaguarda de Camila e Lauren. As duas precisaram ser rápidas para virarem seus corpos por completo e começarem a disparar com suas armas nos vultos dos mortos cambaleantes que se aproximavam rapidamente.

Enquanto isso Christopher começou a disparar sua escopeta contra os oito zumbis que vinham em sua direção.

Aproveitando a distração daqueles que possuíam armas de fogo, a desconhecida se jogou sobre Dinah.

A loira alta estava distraída com os mortos se aproximando e não viu o movimento repentino da jovem.

Com o impacto dos corpos as duas caíram ao chão, estabanadas, com a de olhos claros por cima.

- Me dê o seu maldito machado! – a jovem gritou tentando agarrar o pulso de Dinah. Ela tentava com as pernas bloquear os movimentos dos joelhos da ex-mecânica.

- Me solta, sua vagabunda! – a loira alta rosnou se debatendo para sair de baixo da outra.

Dinah bufou e levantou o cotovelo, o atingindo em cheio no queixo da desconhecida. A pancada fizera a jovem perder as forças e ser empurrada para o lado. Dinah aproveitou a situação e inverteu as posições sentando sobre o colo da outra e dando um murro forte no olho direito dela.

Camila e Lauren naquele meio tempo, por serem ágeis com suas pistolas, já haviam terminado de exterminar os sete zumbis que vieram em sua direção. Enquanto Lauren correu para ajudar o irmão, Camila foi até Dinah e a puxou pelo colarinho para evitar que ela começasse realmente a distribuir socos pelo rosto da jovem já zonza.

- Dinah, já chega! – Camila rosnou para a melhor amiga.

Nunca que a latina seria mais forte que a loira alta, mas havia conseguido pelo menos arrastá-la para longe.

Dinah se livrou das mãos de Camila e ficou de pé em um supetão, já bufando por ter sido interrompida.

Christopher disparava pela última vez, acertando em cheio no meio da cabeça de um andarilho negro.

Ele e a irmã se viraram para ajudar na situação que acontecia às suas costas.

- Não me toca! – Dinah rosnou para Camila, dando passos para trás até pegar seu machado que havia caído quando fora puxada.

- Se acalme! – Christopher apontou para a loira com cautela e voz neutra. – Está tudo bem agora, Dinah!

A jovem desconhecida rolava no chão resmungando por causa da pancada no rosto. Ela parou então e tentou ficar sentada, mas estava zonza demais e caiu outra vez para trás.

- Belo gancho de direita, Dinah! – Troy elogiou lá de cima, observando tudo.

Christopher olhou para cima, descrente, e lançou apenas um olhar para o amigo que significava “Cale a boca, imbecil!”.

Troy riu sem graça e assentiu.

A desconhecida então respirou fundo e finalmente conseguiu se assentar no asfalto quente da tarde, segurando o choro e apalpando o olho direito.

- Ela tentou me roubar! – Dinah já se justificou, apertando o cabo de madeira na mão direita.

- Me desculpe! – a desconhecida retrucou. Ela estava com o olho atingido fechado e dolorido. – Eu precisava do seu machado! – resmungou e ficou de pé com dificuldade. – Um bando estava se aproximando e você esperava que eu ficasse sem nenhuma arma?!

- Ache a sua própria arma então! – Dinah rosnou entredentes.

- Foi você quem atraiu a pequena horda? – Christopher ainda segurava firmemente a escopeta em mãos, encarando a jovem de olhos claros.

- Não! – a desconhecida exasperou, se sentindo ofendida. – Acha que eu faria isso apenas para que vocês morressem?! Eu não sou esse monstro! – rosnou e colocou uma mão sobre o olho que logo começaria a inchar. – Eu estava correndo deles há mais de uma hora!

- Como se chama? – Troy gritou lá de cima.

A jovem virou a cabeça para cima, procurando o rapaz apenas com o olho bom.

- Cara... – respondeu e voltou a olhar para os outros quatro integrantes. – Cara Delevingne.

- Como sobreviveu até esse ponto? – Lauren questionou, analisando dos pés a cabeça a jovem.

- Eu fazia parte de um grupo, assim como todos os que estão vivos até hoje. – Cara revirou os olhos, sem paciência por aquilo ser muito óbvio. – Fomos invadidos, como sempre. Uns morreram, outros correram. Eu, obviamente, fiz parte daqueles que correram. Fiquei vagando por aí por dois meses, de lugar em lugar. Encontrei uma casa vazia nas redondezas por aqui, mas outra vez Mordedores apareceram. Comecei então a vagar pelas florestas e então encontrei mais malditos Mordedores. Corri deles e dei de cara com as costas daquela ali... – falou e deu uma risadinha sarcástica enquanto analisava Dinah.

A loira alta apertou ainda mais o machado em mãos, querendo acerte-la outra vez.

- Quantas pessoas você já matou? – Camila questionou dessa vez, séria.

- Você quer dizer... vivas? – Cara levantou uma sobrancelha. A latina assentiu. – Não. Nunca precisei!

- Mas faria caso precisasse? – Lauren, ao lado da latina.

- Eu acho que todos nós aqui faríamos, não pensa o mesmo? – Cara semicerrou os olhos sugestivamente.

Os três se entreolharam, sentindo o peso da afirmação da jovem pesar nos ombros. Eles então abaixaram suas armas de fogo, o que deixou Dinah bem surpresa.

- O quê?! – a loira ralhou. – Não me venham dizer que vão aceitá-la!

- Dinah... – Camila a repreendeu antes que fizesse um escarcéu sobre aquilo.

- Está à procura de um grupo? – Christopher questionou a jovem nova.

- Vocês estão abertos à vaga? – Cara abriu um sorriso que poderia ao mesmo tempo ser amigável, mas poderia ser também ameaçador.

Dinah lançou um olhar cheio de ira para os outros três integrantes de seu grupo. Ao ver que eles permaneceram neutros sobre isso, ela bufou e virou-se de costas marchando de volta para a Camionete Chevy.

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Última semana de Agosto

Dinah observava os pássaros voando no céu azul límpido. Eles faziam acrobacias exaltando a natureza e mostrando quão belas eram suas asas.

A jovem estava assentada em uma cadeira de balanço na varanda de seu quarto. O seu quarto, que compartilhava agora com Demetria, era o único que continha essa mordomia.

A loira alta queria silêncio, queria se afastar e queria ficar sozinha. Por isso ela havia bloqueado todas as investidas de Normani para com ela. Trocaria, por isso, de companheira de quarto, aceitando a cientista porque ela era calada na maioria dos momentos e não trazia a todo tempo lembranças de volta à sua mente.

E saber que agora Normani estava muito próxima de Cara apenas a machucava ainda mais.

Machucava mais do que as lâminas que todos, há três meses, mantinham longe dela por medo de a ex-mecânica tentar se matar outra vez.

Dinah ergueu os braços para a claridade do dia e observou as cicatrizes em seus braços. Não fora fácil para Allyson a socorrer, porque havia perdido muito sangue quando chegara de volta à Fazenda após se automutilar. Normani depois disso se tornou ainda mais cuidadosa e preocupada, fato que invés de agradar à loira apenas a retraiu mais.

Dinah Jane queria ficar sozinha.

E quando Normani percebeu isso ela se afastou de fato.

A loira alta, a se ver sozinha como queria, pensou que iria se curar. Mas havia se enganada. Não suportava ver Normani criando uma amizade forte com Cara e suportava menos ainda ver essa “amizade” caminhando para algo bem diferente.

Ela notava os olhares da arquiteta para a sua morena, ela notava os pequenos flertes trocados, ela notava tudo.

E isso cortava mais que as lâminas.

Por mais que soubesse que a morena ainda nutria sentimentos por ela – com o olhar preocupado que lhe lançava sempre – aquilo era muito doloroso.

Era muito doloroso dormir no mesmo quarto que sua irmã tivera o último suspiro.

Era doloroso ficar na casa onde sua irmã estava enterrada ao lado.

Dinah ficou de pé e se aproximou da beirada da pequena varanda. Olhou para baixo e viu boa parte do grupo treinando a pontaria, acertando em latas vazias em cima das cercas.

Eles não costumavam fazer muito aquilo, pois gastariam muita munição. Mas Simon, em seus dias bons psicologicamente falando, havia se disponibilizado a treinar aqueles que menos sabiam em como atirar e se defender.

Todos, com exceção de Dinah que nunca compareceu, aprenderam algumas técnicas de luta com o ex-militar.

Até Claire e Sofia.

Após muita insistência por parte de Lauren, Camila deixou que a irmã mais nova pegasse em uma arma. Escolheram uma mais leve para ela e para a loirinha e ensinaram coisas básicas, por mais que isso não significasse que elas fossem de fato portá-las e atirá-las.

Dinah se lembrava do desespero de sua amiga quando viu pela primeira vez Sofia apertar o gatilho e acertar uma lata sobre a cerca. Camila ficou ranzinza por horas, alegando não querer ver a irmã brincando com coisas tão perigosas. Dizia que enquanto estivesse viva não seria necessário que a irmã fizesse aquilo.

Dinah queria poder dizer o mesmo, mas o Destino zoou com ela antes disso.

Após alguns minutos, o treinamento mudou e Dinah agora observava Simon chamando todos para se reunirem em um pequeno semicírculo.

O ex-militar falou algumas coisas que a loira não compreendeu por causa da distância, mas viu o velho chamar Christopher e Troy para o centro do semicírculo.

Ele então instruiu que ambos começassem a simular uma briga.

E assim fizeram.

Por mais que eles não quisessem realmente se acertar, ambos brigavam com vigor.

- Trabalhe sua defesa, Christopher. – Dinah escutou o velho Simon instruir o Jauregui dali.

O dono da Fazenda, assim como todos os outros que compunham o semicírculo olhavam os dois rapazes ofegantes. Os outros queriam absorver quaisquer ensinamentos do velho.

- Use o impulso dos quadris aliado à força do braço! Isso vai te dar mais movimento no murro. – ele corrigiu Troy que, sem sucesso, tentou atingir o rosto de Christopher.

E assim o ex-militar continuou. Ele instruiu Lauren, principalmente, a proteger mais o rosto e a parte do tórax usando o antebraço para isso. Instruiu Camila a obter mais forças nas pancadas, a ordenando a treinar sozinha socos contra um saco de areia – que era pendurado a uma árvore atrás da casa. Instruiu aos outros a treinar movimentos com os pés, com os quadris. Ensinou golpes como pancadas na garganta para imobilizar, pancadas nas têmporas, no queixo e outros diversos lugares.

O treinamento já vinha há mais de semanas e perduraria até que todos ali se sentissem aptos a cuidarem da própria integralidade caso, outra vez, se deparassem com ambientes como o do acampamento militar.

 A loira seguiu o olhar por aqueles que estavam ali na grama macia até que o parou em duas pessoas. Normani sussurrava alguma coisa no ouvido de Cara e as duas davam risadinhas cúmplices enquanto a morena analisava uma Balestra Recurva 175. A jovem de olhos claros tinha uma mão pousada sobre a cintura da morena, e mesmo dali de longe, Dinah conseguia ver que seus dedos acariciavam o local.

Dinah fechou os punhos e tentou não expressar a raiva que lhe consumia.

Ela virou o rosto, desviando o olhar daquela cena.

Virou-se de costas e voltou para o interior do quarto, ainda tentando se acalmar.

E então sua atenção pousou sobre a sua mochila jogada no canto do quarto e sobre seu machado posicionado estrategicamente ao lado dela.

Dinah assentiu em silêncio para si mesma.

Ela precisava de espaço.

Ela precisava ficar sozinha por um tempo.

Ela precisava lugar contra seus próprios demônios para voltar ao normal.

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Fim do Flashback

Atualmente

Última semana de Setembro

Lauren, Christopher e Troy discutiam ainda no interior do escritório qual seria o destino do grupo em relação ao problema de comida que estavam enfrentando.

Na cozinha Ally, Harry, Cara e Normani se ajudavam na preparação do jantar.

Na sala Niall ainda lia, junto a Camila, a história infantil para Claire e Sofia.

Em um quarto, Simon chorava baixinho enquanto analisava as fotos antigas com sua querida Chelsea.

Em seus postos de vigia, Louis e Demetria observavam à escuridão do lado de fora, principalmente por entre os galhos no horizonte.

Mas, nenhum deles tinha o instinto animal de Victoria, que estava inquieta do lado de fora da Fazenda.

Lauren, logo após terminar a discussão sobre onde iriam buscar alimentos, desceu até a cozinha acompanhada de Troy e Chris, e se juntou aos demais para jantar.

Camila também conduziu as crianças até a longa mesa e com a ajuda de Niall, distribuiu os pratos.

Demetria e Louis comeriam depois, portanto, Ally guardou seus jantares prontos dentro do fogão.

No último mês as coisas não haviam sido fáceis, ainda mais pela ausência de Dinah, que costumava alegrar o grupo antes do acontecimento.

Mas eles, não mais machucados fisicamente e mais fortes psicologicamente, continuaram a viver dia após dias.

Eles haviam treinado formas de defesa, estavam mais fortes fisicamente e extremamente confiantes que poderiam se defender.

O laço que os englobava – até mesmo para com os novos integrantes: Cara, Niall e Simon – era tão forte e fraterno que eles já denominavam família.

Matariam para salvar cada um ali.

Eles se mantinham sãos e lutando dia após dias, tentando continuar sobrevivendo.

Como uma família.

Em meio ao caos do mundo.

*Music On* (Evil Ways – Blues Saraceno)

Aqueles meses foram graciosos e os fizeram aprender lições sobre a união de um grupo.

Ele se recuperaram, se reergueram.

Estavam fortes outra vez.

Até porque precisariam.

Por quê?

Do lado de fora do casarão, Vic tinha uma orelha levantada após escutar um barulho suspeito em meio à escuridão das primeiras árvores depois do milharal e do campo aberto, que rondavam a Fazenda.

Surpreendentemente a labradora tinha essa ótima habilidade de audição. Mas, por mais habilidosa que fosse, os pinheiros altos estavam longe demais e deixavam a cadela duvidosa sobre o que realmente ouvira.

Mas não estava errada sobre o fato de ter ouvido alguma coisa.

Um pouco longe dali, em meio às penumbras da floresta, os barulhos de passos abafados ressurgiam baixinho.

O reflexo da luz da Lua Crescente incidia sobre os galhos que se movimentavam de forma anormal. As sombras escuras meio cinzentas, misturadas com tonalidades de marrom e verde da mata, causavam uma sensação macabra de isolamento.

As folhas mexiam e assim assustavam alguns animais que dormiam em paz.  As cascas secas dos troncos eram arrancadas pelas solas das botas – a cada passo que os indivíduos davam – e caíam ao chão, despescando de uma altura de quase vinte metros por causa do tamanho das árvores.

Eles se aproximaram sorrateiramente nas beiradas das copas e se seguraram nos galhos mais fortes para manterem-se eretos.

Apenas os brilhos de seus olhos, graças à claridade da Lua Crescente, eram vistos.

Cheios de expectativa.

Os três indivíduos observavam então, atentos, as movimentações no casarão, analisando o bailar da claridade proporcionada pelas velas no interior do local.

Os três eram treinados a sobreviver apenas sobre as árvores, pois, era essa a abordagem feita por seu grupo de “abençoados”.

Eram extremamente ágeis. Continham forças suficientes para deslocar-se nos galhos mais fortes e se locomoviam, na maioria do tempo, através dos troncos evitando assim deixar rastros na terra macia do chão.

As mãos deles descansavam dentro dos bolsos de suas jaquetas, todas de tonalidade cinzentas. Entre os dedos, crucifixos estavam apertados e sendo acariciados, denunciando a preocupação de proteger suas crenças poderosas.

Nos cintos, nas cinturas, facas de diversos modelos estavam dispostas: pequenas – feitas para lançamentos –, grandes – feitas para perfurações profundas –, inoxidáveis – feitas para durar a adversidades climáticas –, leves, pesadas.

Todos perfeitos modelos para desossar, trinchar, partir ossos ou até mesmo matar com um simples e certeiro movimento.

O mais marcante, além da sujeira acumulada por baixo das unhas e pela pele oleosa, eram os olhares fixos. As órbitas dos três eram banhadas por expectativa que contrapunha a ausência de expressões em seus rostos. Eram pessoas aparentemente calmas, pois, interiormente, lutavam contra as vozes psicológicas que gritavam ordens sobre seus deveres em cumprir seus papeis na nova Terra: “Limpar o futuro de Impuros e dar-lhes Misericórdia”.

Os três eram marcados por queimaduras com um símbolo específico. A pele e as carnes, ainda vivas, começavam agora o processo de cicatrização, com a tonalidade avermelhada e sensível denunciando o pouco tempo em que as feridas foram abertas.

A cada erro que cometiam, uma marca era feita para lembrá-los da Misericórdia.

- Qual é o plano, Z? – a jovem de queixo quadrado, cabelos caramelizados e olhos castanhos escuros perguntou para o homem ao seu lado.

O homem tinha a barba negra e grande cobrindo todo o queixo. As madeixas do cabelo preto estavam rebeldes, bagunçadas exatamente no topete. Os olhos castanho-claros estavam focados nas movimentações das pessoas dentro do casarão à distância. Tatuagens estavam distribuídas por todos os seus braços, chegando até as costas das mãos.

- É bem simples, Al. – ele respondeu e ladeou a cabeça, olhando agora para a jovem no galho esquerdo. – Temos ordens e vamos cumpri-las.

O terceiro integrante, que era um homem, sorriu deixando as covinhas à mostra, pois sabia o que seu amigo queria dizer. Os cabelos castanhos escuros, olhos da mesma cor, pele caramelo e rosto bonito deixavam clara sua nacionalidade estrangeira.

- Mas não será agora. – o com o topete continuou. – Ainda está relativamente cedo e devemos observar atentamente para escolher a pessoa certa. O dia da profecia está chegando e precisamos do nosso... sacrifício.

 


Notas Finais


IIIIIHIII TACA O PAU, DOIDO, IIIIIIH, QUEIMA QUENGARAL
(*procurem Concurso de Vaia Cearense e vão entender meu retardo).

Ansiosos? Com teorias? Quero saber! Alguém vai acertar os personagens? Alguém tem algum palpite para quem deveria entrar na história?
Beijos de luz, walkers!


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