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História Into The Dead - Capítulo 38


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá, pessoal!
Meus olhos ainda estão vermelhos de tanto que chorei com os comentários (ou talvez a maconha da Lauren, vai saber...). Mas, mesmo assim, quero agradecer do fundo do meu coraçãozinho todos os comentários! Cheguei à conclusão que devo continuar com a história depois de tanto apoio. Desculpe-me se alguém viu isso como “drama” ou sabe-se lá o quê, mas eu precisava. Concordo com várias coisas que muitos disseram e cada comentário está guardado no meu coração.
E assim como viMellark disse: “Tempos difíceis merecem fics incríveis.”

TO DE VOLTA NA MINHA BICICLETINHA

SEGUREM OS COLETES QUE LÁ VEM BALA, ou melhor, FACA

Capítulo 38 - Capítulo 38


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 38

LAUREN PDV

- Oh, maldição... – eu resmungo comigo mesma ao ver que esquecera a coberta em meu quarto.

Eu já me encontrava no meio da sala de estar e caminhava em direção da porta da frente do casarão. Meu turno de vigia começaria ao anoitecer, perdurando até a metade da madrugada onde Christopher o pegaria. Troy iria me fazer companhia e depois iria trocar com Harry.

Giro meu corpo e recomeço o caminho de volta em direção da escada. Subo os degraus analisando, apenas por costume, as fotografias dos familiares de Simon. Ao terminar os degraus virei no corredor e pude ouvir as vozes de Allyson e Troy no interior do quarto do casal.

Não era um tom de discussão, porém, não era o tom brincalhão que ambos tinham ao conversarem usualmente.

- Você está com dúvidas? – o timbre grave do loiro ressurgiu.

- Não estou com dúvidas sobre o nosso bebê, amor. – a voz de Ally apareceu. – Só estou com medo.

- Por quê?

- Olhe o mundo. Será que ele ou ela estará seguro? Eu temo que tenhamos tomado a decisão errada em trazê-lo para essa realidade. A partir do momento que nascer ele irá fugir da morte, de um jeito mais abrupto que antes.

O tom de Allyson estava embargado por dor e apreensão, que era bem perceptível.

Eu franzo o cenho, sentindo o mesmo que ela. Era compreensível sua preocupação.

- Nós fizemos o certo, amor. – Troy respondeu. – Nós demos a ele uma chance. E eu tenho certeza que, se algo acontecer com um de nós, ou com nós dois, o grupo todo irá cuidar do bebê. Somos uma família. Vamos combater esse mundo e iremos vencê-lo. A melhor coisa que fizemos foi ter esse bebê, não vê? Ele é a nossa esperança de um mundo melhor. É como se a vida nascesse em meio ao caos.

Alguns murmúrios surgiram, indicando que a conversa havia terminado. Inclino a cabeça e vejo, através de uma fresta na porta, o casal de loiros se abraçando, com a enfermeira descansando a cabeça no peito do rapaz alto. Allyson tinha os olhos fechados e um sorriso genuíno no rosto; e Troy uma expressão serena.

Como se um completasse o outro.

Pigarreio baixinho, voltando à realidade. Recomeço minha caminhada em direção do meu quarto, dando-lhes a privacidade que mereciam.

Eu compreendia o medo deles.

Trazer um inocente para esse mundo caótico era uma grande responsabilidade.

Abro a porta do meu quarto e, ao avistar um vulto passar por entre as penumbras, o meu coração chegou vir a minha garganta e voltar.

- SOFIA! – eu rosno, com uma mão sobre o peito.

A latina mais nova apenas deu uma risadinha e continuou arrumando sua cômoda.

- Foi sem querer dessa vez, eu juro! – ela se defendeu irônica.

- Aham, eu sei... – resmungo, mas, estava com um sorriso no canto dos lábios.

Sofia adorava ficar entre as penumbras e assustar os mais distraídos quando a noite chegava.

Caminhei até o pé da cama onde minha coberta estava disposta e peguei o pano fofo e quente, o embolando em minhas mãos.

Já estava pronta para sair do quarto quando vi, por cima do ombro, Sofia virar-se para mim.

- Posso te fazer uma pergunta? – ela questionou cabisbaixa e com a voz baixa, indicando timidez.

- Sim...

- Hãm... – Sofia engoliu seco e levantou um pouco a cabeça. – Você e a minha irmã são um casal?

Ao ouvir aquilo o meu cérebro deu uma leve travada. Abro a boca para respondê-la, mas não sabia ao certo o quê falar.

- Hãm... como assim? O quê você entende por casal, querida? – pigarreio.

- A Ally e o Troy. – respondeu, torcendo os lábios. – Meu pai e minha mãe.

- Um homem e uma mulher? – pergunto retoricamente e a criança assentiu com a cabeça. – Bem... – suspiro, tentando encontrar as palavras certas para aquela situação. – No pé da letra, você sabe o que é a definição de casal?

- Duas pessoas? – respondeu, meio duvidosa.

- Sim. E isso não tem distinção de gênero, Sofia. Foi a sociedade quem impôs isso. As pessoas que não compreendem foram as quem impuseram isso. Um casal significa pessoas que se gostam e querem ficar juntas.

- Mas... hãm... eu não sei. É meio confuso, não? – Sofia me olhou com as órbitas cheias de expectativa e curiosidade.

- Não é, querida... – murmuro e me aproximo dela devagar, com um sorriso amigável no rosto para acalmá-la, pois eu via que ela temia, de algum modo, me magoar com aqueles questionamentos. – Pense comigo... Por que seria confuso eu querer amar sua irmã? Por que seria confuso ela querer me proteger do mesmo jeito que protege você? Por que seria confuso uma pessoa querer cuidar da outra?

Sofia não me respondeu de imediato, mas ergueu uma sobrancelha de um jeito extremamente fofo indicando que estava pensando arduamente.

Esperei, mordendo os lábios para não rir da situação, pois ela estava tão compenetrada com o cenho franzido e olhando para mim que eu não queria interrompê-la.

- Então você a ama, certo? – Sofia me questionou, semicerrando os olhos.

- Sim. – afirmo com convicção.

- Vocês trocaram anéis? Estão casadas agora? Quando vai ser a cerimônia? – ela explodiu em perguntas ao mesmo tempo em que sua expressão abriu em felicidade e sorrisos.

Eu me embasbaquei com os questionamentos.

- Hãm... – gaguejei, sem jeito.

Minha boca estava aberta para responder quando um vulto de cabeleira loira apareceu na porta do quarto.

- Já está pronta para começar nosso turno? – Troy perguntou segurando, assim como eu, um cobertor grosso nos braços.

- SIM! – eu praticamente gritei ao ver que aquele seria meu escape para os questionamentos da criança.

Troy me olhou confuso e Sofia apenas riu baixinho, certamente percebendo que eu estava toda desesperada com aquelas perguntas.

Giro meu corpo para acompanhar Troy para fora do quarto, mas ainda pude ouvir a pequena latina:

- Mais tarde terminaremos essa conversa, Jauregui.

Olho para ela com uma expressão de incredibilidade, e vejo-a me encarando de forma ameaçadora.

Eu engoli seco para a criança de quase oito anos e assenti com a cabeça, nervosamente.

Saio do quarto ao mesmo tempo em que ouvi as risadas provocadoras de Troy.

- Sendo intimidada pela pequena Cabello? – zombou.

- Olha... você não faz ideia de como ela parece com a Camila quando semicerra os olhos para mim. – digo e faço uma leve careta, gerando mais gargalhadas vindas do loiro.

~~~~~

Sentada em uma cadeira de balanço ao lado de Troy na varanda, nós dois descansávamos nossos pés sobre uma mesa de madeira. Cara estava na varanda do quarto de Simon conversando com o velho, provavelmente querendo aprender mais sobre armadilhas para a floresta, já que a arquiteta estava disposta a sair mais com Normani para treinar.

No céu escuro da noite de terça-feira os raios brilhavam no horizonte, indicando que nos condados próximos uma tempestade caía fortemente. O vento estava frio e levava consigo as folhas que antes estavam ao chão. O cheiro de relva era gostoso e Vic, principalmente, deixava seus pelos sedosos bailarem enquanto observava atentamente algo ao longe.

- O que ela está olhando? – Troy perguntou enquanto mordiscava um pedaço de barra de cereal.

- Provavelmente deve estar vendo algum andarilho se aproximando... – murmuro esticando o pescoço para tentar ver além dos pés de milhos grandes que rondavam o perímetro da cerca eletrizada.

- Me surpreende o fato de ela não ser daquelas que latem com qualquer coisa. Por sorte ela é silenciosa. – ele comentou, olhando algo não trivial na embalagem de plástico.

- Sim, tivemos essa sorte. – concordo, voltando a me acomodar na cadeira de balanço e a analisar as copas das árvores mexendo com o vento forte.

Em minha mão direita o nosso Walkie Talkie estava sendo segurado firmemente. Eu analisava o transceptor de rádio arrumado por Louis, que prometera um alcance maior.

Eu não queria alarmar ninguém, mas, desde hoje mais cedo uma estranha sensação me atormentava. Era como se meu peito latejasse minimamente, mas sem cessar.

Assim como um aviso leve, mas presente.

- As coisas entre você e a Cabello estão ótimas, não é? – Troy perguntou repentinamente e isso me fez virar o rosto para ele, com o cenho franzido. – Quero dizer... vocês duas estão diferentes. Vejo que estão muito felizes! – diz e aponta para o transceptor de rádio em minha mão direita, certamente percebendo minha apreensão por ter a latina tão longe de mim.

- Bem... – digo e não consigo evitar em dar pelo menos um pequeno sorriso. – Sim. As coisas estão ótimas!

- Fico feliz por isso. – falou o loiro e, ao terminar de comer, embolou o papel plástico em mãos e jogou ao vento. – Vocês duas merecem isso...

- Você também, Troy. – o retruco, analisando seu rosto expressivo e jovial. – Você e Ally merecem esse bebê. Sempre foram as pessoas mais receptivas e amigáveis desse grupo. Sempre ajudando o próximo sem necessitar receber de volta. Vocês, mais que todos, merecem essa felicidade.

- Obrigada, Lauren... – Troy sorriu abertamente, de modo sincero. – Muito obrigado mesmo por tudo.

Ao ver a honestidade em sua voz, a timidez começou a me corroer um pouco. Sem saber ao certo o que falar eu apenas concordei com a cabeça e voltei a olhar para o horizonte escuro.

Permanecemos nós dois em silêncio durante longos minutos e este só foi interrompido quando ouvimos barulhos de passos se aproximando, do interior da casa. A porta da frente então se abriu, mostrando uma enfermeira com a barriga saliente dona de um sorriso amoroso.

- Vim fazer companhia a vocês. – Allyson comentou, já caminhando em direção do amado que estava sentado em uma cadeira.

A loira sentou-se sobre as pernas de Troy, que, institivamente, a acomodou em seus braços. O motorista deu beijo sobre a barriga saliente da enfermeira e logo após pousou a mão direita ali, descansando-a.

O silêncio tranquilo voltou a reinar entre nós três. As nuvens ficavam cada vez mais agitadas, o vento zunia mais frio trazendo consigo o cheiro de poeira. Os pés de milho e nossas plantações mexiam para lá e para cá com a brisa forte.

Vic latiu uma única vez, indicando sua felicidade por estar se deliciando do vento refrescante. Mas, logo em seguida, veio correndo em disparada em direção da varanda.

A labradora se sacodiu toda, tirando a poeira acumulada e, por fim, veio até nós no canto da varanda e se aconchegou debaixo da mesa de madeira.

*Music On* (Flesh and Bone – Black Math – Epic Rock)

*Tssssss*

O chiado do transceptor de rádio rasgou o silêncio que nos envolvia, nos assustando. O Walkie Talkie chegou a tremer em minhas mãos por causa do espasmo que tive.

- AL-ALGUÉM?! – a voz desesperada de Dinah surgiu na outra linha. Ela soltou o botão, mas mal esperou uma resposta. – ALGUÉM, R-RESPONDA! – ela gritou e a linha ficou em silêncio.

Troy e Allyson já me olhavam completamente apreensivos, enquanto eu apertava o botão de resposta. A enfermeira ficara de pé em supetão e o loiro estava inclinado para frente.

- Dinah?! – eu chamo por seu nome. – Dinah, o que aconteceu?! Aqui é a Lauren!

Solto o botão esperando a resposta.

- Erra-do… Ni... tssssh... capt... flor... ssshhh...

O sinal estava terrível, fazendo que a voz da loira chiasse e viesse cortada, o quê dificultava a compressão.

Eu aperto o botão com força.

- Dinah?! Eu não estou entendo nada! O sinal está horrível! – eu grito no transceptor, já nervosa com a situação.

Solto outra vez o botão.

Mas apenas mais chiados surgiram.

- O que está acontecendo?! – Christopher e Cara surgiram, de repente, através da porta da frente do casarão.

- Dinah está tentando entrar em contato. Algo deu errado. A voz dela está desesperada! – Allyson explicou já afobada e com uma mão na barriga.

Vejo a loira fazer uma careta, mas ignoro momentaneamente.

- Como está a Normani? – Cara já latiu, com os olhos claros arregalados para nós.

- Eu não sei! – eu explico para os dois.

Sem ao menos perceber eu já me encontrava de pé e apertava com força o Walkie Talkie em minhas mãos. Minha mente, contra minha vontade, reproduzia situações terríveis que poderiam ter dado errado na missão justificando o desespero de Dinah.

Não poderia ter acontecido algo com Camila!

Por Deus, não!

- Dinah?! – eu aperto o botão pela terceira vez. – Dinah, você está na escuta?!

Enquanto isso os raios no céu escuro ficavam cada vez mais brilhantes. O vento frio havia ficado mais forte, fazendo as copas das árvores remexerem bruscamente e levando consigo uma quantidade folhas surpreendente.

- Eles não iriam tentar nos contatar à toa! Nós temos nossas regras. Se formos cercados ou encurralados, não contatamos caso aja possibilidade de fugirmos. Eles estão em perigo extremo! – Cara bradou.

Eu via nos olhos arregalados da arquiteta que ela temia por Normani.

Mas, não era só ela. Todos ali estavam apreensivos.

- Dinah?! – eu a chamo outra vez pelo transceptor.

- LAUREN! – ouço agora a voz de Normani do outro lado da linha. – Niall... f-foi... capturado! Esta...mos... tssssh... pre...sas na f-floresta! Mas... voltar... Fo... huma... nos... tssssh... Camila... tsssh... morreu...

A linha então foi dominada por completo pelos chiados.

Cara, em um movimento rápido, tomou o Walkie Talkie das minhas mãos desesperadamente.

- Normani?! Normani?! – ela chamava pela morena enquanto apertava o botão de conversa.

- Lauren?! – ouço a voz de meu irmão ao fundo, mas mal consigo a interpretar.

Minha mente latejava como quinhentos sinos de igreja. A voz interna da minha cabeça gritava ao mesmo tempo, repetindo os chiados da voz de Normani.

Camila havia morrido?

Não! Não, por favor, não!

O ar em meus pulmões pareceu se contrair, apertando minhas musculaturas. Minha mente, trágica e manipuladora, já me ameaçava reproduzindo inúmeras imagens das possíveis causas da morte da mulher da minha vida.

- Lauren?! – Christopher falou mais alto e então entrou em meu campo de visão, balançando meus ombros.

- C-Camz morreu?! – eu gaguejo, sem forças.

- Foram apenas chiados, Laur. Não temos certeza! – ele tentou me tranquilizar.

- O Niall foi capturado! – Allyson choramingou, colocando as mãos na cabeça. – Elas estão em perigo na floresta, em meio a essa tempestade!

- Foram humanos?! – Troy gaguejou, embasbacado.

- Com certeza! – Christopher o respondeu, soltando meus ombros.

Vejo ao fundo Harry, Demetria e Simon se aproximando, completamente alheios e confusos ao que acontecia ali.

As imagens passavam meio lentas aos meus olhos enquanto minha mente trabalhava a mil por hora. As lágrimas já começavam a arder, ameaçando me castigar. Meu peito queimava e eu ansiava por oxigênio para meus pulmões em combustão.

Camila não poderia ter morrido!

- Allyson?! – o tom preocupado de Demi, de repente, me fizera girar o corpo.

A enfermeira tinha as mãos na cabeça e respirava com dificuldade.

- Eles não podem morrer, por Deus. Eu não aguento mais mortes! – Allyson tinha uma mão pousada sobre a barriga e uma expressão de dor.

- Ally, se acalme! – Demetria a instruiu, colocando uma mão no ombro esquerdo da loira já que, no direito, Troy a segurava para que não cambaleasse. – Você precisa se acalmar, não pode se emocionar demais!

- Ela está com contrações? – Troy praticamente bradou ao ver as caretas de desconforto expressas no rosto belo de Allyson.

- O que vamos fazer? – Harry perguntou do outro lado, beirando o desespero. – Ela falou alguma coisa sobre o Louis? Como ele está?!

- Vamos atrás delas! – Cara o respondeu antes de miim.

- Se acalmem! – Simon tentou apaziguar. – Ela disse “voltar”. Com certeza devem estar voltando! Ninguém morreu! Se acalmem!

- Eles capturaram o Louis também?! – Harry continuou desesperado.

- Allyson, respire! – Demetria instruía.

- O que vamos fazer? – Christopher discutia com Troy. – O que vamos fazer?!

- Ela está com contrações? – Troy, ao contrário, não notava meu irmão e apenas encarava a cientista.

O acúmulo de vozes já estava me deixando ainda mais ansiosa. Minha mente tentava racionar tudo, mas nada era processado.

Uns tinham as mãos na cabeça, outros gesticulavam. As expressões assustadas.

Era o medo de perder alguém da família.

- CALEM A BOCA! – eu grito com todos os meus pulmões.

O silêncio então surgiu em meio aos olhares assustados direcionados para mim por causa da explosão repentina.

Eu já estava pronta para começar a instruir ou simplesmente repreendê-los quando os ruídos baixinhos de som semelhante ao de água escorrendo ressurgiu ao fundo.

- Oh meu Deus... – Troy sibilou.

Junto ao loiro, todos nós encaramos a poça de líquido amniótico que começava a se formar aos pés de Allyson. O líquido transparente escorria com um fluxo intenso por suas pernas, molhando todo o leve vestido floral que usava.

Todo mundo congelou.

- Isso não é o que eu estou pensando que é, certo?! – Harry perguntou, com os olhos arregalados para o líquido se acumulando cada vez mais.

- Se você apostou em “Bolsa Estourada”... Sim, você acertou. – a própria Allyson respondeu, também olhando para baixo.

A loira levantou a cabeça, deixando visíveis suas pupilas dilatadas pelo medo. Ela engoliu seco, certamente não confiante ao ver nossas expressões aterrorizadas.

- Bem... – ela, mesmo sentindo contrações, tentou dar um sorrisinho tristonho. – Mais um integrante para o grupo está chegando, pessoal.

~~~~~~

- Então qual é o plano? – eu pergunto para Christopher.

Encontrávamo-nos em meio às penumbras do corredor do segundo andar da casa.

De dentro do quarto ouviam-se os gemidos de dor da enfermeira que já estava em trabalho de parto há uma hora.

Do lado de fora do casarão a chuva ainda não começara a cair, mas os raios continuavam rasgavam o céu, os trovões faziam as paredes tremerem e o vento zunia forte.

- Vamos esperar. – Simon, que estava do lado de meu irmão, nos instruiu. – Normani disse “voltar”.

- Foram chiados, não sabemos ao certo se essa era a real mensagem! – eu acuso, querendo ir atrás delas de qualquer jeito.

- Não vai adiantar nada se você e mais três forem atrás deles, Lauren! – Simon me olhou profundamente e colocou as mãos em meus ombros. – Tenha calma, criança! Se vocês forem, irão ficar presos assim como eles nessa chuva. Tenha um pouco de fé! Vamos ajudar Allyson primeiro, depois pensamos no que fazer quando a chuva passar! Harry e Cara estão lá embaixo tentando entrar em contato com Dinah e Normani outra vez!

- Ele tem razão, Laur. Separarmo-nos agora só irá gerar mais problema! – Christopher assentiu para o velho e então me lançou seu olhar amoroso.

Meus ombros pesavam por causa da culpa que sentia em não estar fazendo nada. Camila estava em perigo lá fora e eu não tinha nada ao meu alcance. Era como um ácido poderoso que corroesse meu peito, não me deixando concentrar.

- Camila é inteligente! Com certeza ela está bem! – Chris falou ao ver minha expressão chorosa. – Todos eles são!

Eu faço um afirmativo com a cabeça, indicando que por hora havia aceitado a condição deles. Simon então abriu mais a porta do quarto de Troy, dando-nos a visão da loira deitada sobre a cama.

Adentro no cômodo junto ao meu irmão, sendo acompanhada também por Victoria. A cadela estava acuada, provavelmente percebendo a situação que acontecia. Ela então andou até o canto do quarto e permaneceu ali, observando.

Allyson tinha suor acumulado na testa, colando os fiapos de cabelo loiro em sua pele. Ela fazia caretas de dor e segurava firmemente as mãos de Troy que estava sentado ao seu lado na cama sem saber ao certo o que fazer.

- Tantos dias magníficos para esse seu filho vir ao mundo... – Allyson rosnou entre os dentes. – Ele tinha que vir logo hoje! LOGO HOJE! – ela berrou quando outra contração forte rasgou seu útero dilatado. – SEU DESGRAÇADO! A CULPA É SUA! – Ally bradou e então deu um murro no ombro do loiro.

- Ai, Allyson! – Troy rosnou, passando a mão no músculo dolorido. – Fica calma, amor! Não foi minha culpa!

- FOI SIM! – ela rosnou com a voz grave.

- Preciso de toalhas limpas, um balde com água morna, tesoura, agulha, linha, álcool e um par de luvas! – Demetria gritou aos ares enquanto puxava o lençol da cama e o dobrava, colocando-o sob os calcanhares de Allyson de forma que suas pernas ficassem mais inclinadas.

Ao ver que nenhum de nós ali se mexeu, ela girou o corpo, enraivecida.

- AGORA! – ela apontou para a porta.

Eu e meu irmão mais que rapidamente nos colocamos para correr. Utilizamos então da ajuda de Sofia e Claire que estavam encarando tudo do corredor. A loirinha filha de Troy estava mais ansiosa que a latina, o que era bem claro em seu rosto.

- Fique de olho na Claire, ok? – eu murmuro com Sofia enquanto abria o armário do meu guarda-roupa em busca de toalhas limpas. – Você precisa cuidar dela!

- Ok... – Sofia afirmou com a cabeça e saiu correndo do quarto, provavelmente descendo as escadas para ir até cozinha onde a loirinha ajudava o meu irmão a esquentar a água no fogão.

Saio do quarto segurando uma quantidade absurda de toalhas recolhidas de todos os outros cômodos do corredor e dou de cara com Simon. O velho segurava um quite completo de Primeiros-Socorros que tinha guardado debaixo da pia do banheiro, o mesmo que usava quando Chelsea costumava ter crises de tosse crônica.

Nós dois então voltamos para o quarto onde Allyson, Troy e Demetria estavam.

Allyson gemeu mais uma vez, com as contrações apertando seu útero. O suor escorria pela lateral de seu rosto, sumindo entre suas madeixas loiras. Troy, com a mão livre, tentava enxugar as gotas com um pedaço de pano.

- Eu apenas preciso de mais uma pessoa dentro desse quarto. – Demetria olhou para mim e para Simon que nos aproximávamos.

- Pode ficar. – o velho entregou às pressas para mim o quite de Primeiro-Socorro e saiu imediatamente do quarto, fechando-o atrás de si.

- Homens... – Allyson rosnou entredentes e lançou um olhar mortal para Troy.

O loiro balbuciou, sem saber o que havia feito daquela vez.

- Como está a dor? – Demetria pergunta enquanto subia a barra do vestido floral de Demetria até acima da barriga grande, deixando a enfermeira apenas com uma calcinha transparente branca, a qual estava ensopada por seu líquido amniótico.

- Em uma escala de 0 a 10, querida... – Troy murmurou, acariciando a testa suada de Ally.

- Está beirando o 9! – a enfermeira gemeu, fechando os olhos com força por causa da dor.

Vejo Troy fazer uma careta por seus dedos da mão esquerda ser esmagados.

- As contrações estão vindo a cada três minutos! Cheque o quão dilatado está o meu colo do útero! – Allyson instruiu Demi.

- Lauren, pegue as luvas látex para mim! – a cientista me ordenou.

Fui até o quite de Primeiro-Socorros e coloquei, junto às toalhas, tudo em cima da cama bem ao alcance de Demi. A jovem cientista pegou o álcool gel que estava ali e jogou por toda a região emborrachada da luva, a esterilizando mesmo que Simon já houvesse as lavado com um sabonete antibactericidas.

Demetria colocou as luvas nas mãos e puxou a calcinha pelas pernas de Allyson, deixando visível toda a área íntima e avermelhada da loira. Eu, em um ato instintivo, virei-me de costas no mesmo segundo, negando-me a olhar para a vagina de Allyson Brooke.

- Está completamente dilatada, Ally. – escutei Demi falar. – Faça uma respiração controlada e tente, aos poucos, começara empurrar. Não força abruptamente agora, comece lentamente! Lauren, pegue uma lanterna e ilumine a região para mim.

Suspiro e pego a lanterna que estava disposta em cima de uma cômoda próxima. Comecei então a me virar aos poucos, acostumando-me com a ideia da exposição de Ally.

Mantive-me ao lado de Demetria com a luz focada na região pélvica da loira.

- Inspire e expire, querida... – Troy instruiu.

Allyson olhou para o amado e começou a repetir os movimentos de respiração que ele fazia.

- Eu preciso apenas checar uma coisa... – a cientista falou, analisando a região pélvica de Ally e dá um suspiro de alívio. – Não tem apresentação cefálica, o bebê está posicionado do jeito certo... Já pode começar a empurrar com força, Allyson!

A loira inspirou fundo e então começou a contrair o abdômen, forçando-o. Os gemidos de dor vindos de seus lábios se intensificaram assim como o aperto de sua mão na de Troy.

Viam-se, através das janelas, os clarões dos relâmpagos ressurgindo e os trovões ecoando ao longe.

Os rostos de nós quarto eram iluminados pelo bailar das luzes das velas em cima dos móveis e pela lanterna que iluminava o trabalho de Demetria.

Por mais que eu não demonstrasse, meu estômago estava revirando com toda aquela situação: Allyson dando a luz, Camila possivelmente morta, Dinah e Normani em perigo, tempestade terrível do lado de fora.

Mal sabia como ainda estava de pé já que minhas pernas estavam trêmulas.

O meu peito continuava a latejar como um aviso para o que estava prestes acontecer.

*Music On* (Sweet Dreams – Sucker Punch – Emily Browning)

E eu devia ter escutado.

Como devia...

- LAUREN! – os gritos de Chris vieram do primeiro andar.

Seus passos pesados ecoaram na escada e logo a figura ofegante do meu irmão apareceu na porta do quarto. Christopher estava mais pálido que o normal, com as pupilas dilatadas.

- Há humanos aqui!

Há momentos na vida que você realmente não acredita que certas coisas acontecem. Essa era um delas.

Christopher havia dito aquelas palavras em alto e bom tom, mas meu cérebro se recusava a interpretá-las.

- O quê?! – Troy foi o primeiro a quebrar minha paralisia.

- Há luzes do lado de fora! – Christopher exasperou e em movimentos rápidos cruzou todo o quarto em direção da janela.

Meu irmão abriu abruptamente as cortinas revelando os zunidos da chuva. Com isso, via-se o milharal chacoalhando sem controle na medida em que o vento frio o empurrava.

E entre as penumbras agourentas causadas pelos pés mortos havia luzes brancas e magnéticas piscando.

Aproximo-me da janela, com o cenho franzido e coração na garganta.

As luzes pareciam vir do Além, oscilando na escuridão da tempestade. Provavelmente de lanternas, mas que tremiam medonhamente e estavam em todos os lugares.

Piscando como um aviso.

Como vagalumes infernais.

Um arrepio gelado percorreu toda a minha espinha ao ouvir assovios metálicos e ásperos do lado de fora.

Eram como sussurros perturbadores, que raspavam minha alma e fosse gasolina para minha mente nublada.

- Que merda é essa?! – eu sussurro, com minha garganta fechando automaticamente.

- Eles são muitos! – Christopher exasperou.

Era um ambiente fantasmagórico do lado de fora.

- Oh, merda! – Allyson grunhiu em um gemido fino, fazendo-nos voltar à cena que acontecia às nossas costas.

A loira tinha a boca em forma de “o” e inspirava e expirava com força. As gotas de suor ainda estavam acumuladas em sua testa, escorrendo pela lateral de seu rosto.

- O quê está acontecendo? – ela perguntou ao ver minha expressão aterrorizada.

Uma contração rasgou seu útero e ela gemeu, fechando os olhos.

- Quem está lá fora? – perguntou outra vez.

Mas estávamos paralisados demais para falar qualquer coisa. Demetria me olhava como se esperasse uma resposta, com as órbitas assustadas. Troy estava exatamente do mesmo jeito, segurando a mão da amada.

Christopher encarava o nada, com uma mão na cabeça, tentando possivelmente pensar.

- Traga as crianças aqui para cima e as feche aqui junto a Demetria e os dois...

- Que cheiro é esse?! – Demetria me interrompeu, inspirando com força.

Faço o mesmo que a cientista e puxo o ar para o fundo dos meus pulmões. Rapidamente a cheiros de fumaça, grama queimada e gás carbônico foram processados por meu cérebro.

Meus olhos arregalaram e eu dei dois passos novamente em direção da janela, encarando então o clarão das chamas que nasciam em meio as nossas plantações de tomate. Elas estavam altas, vermelhas e laranjas, e bailavam no ar, voando rapidamente por causa do vento da tempestade.

- Estão colocando fogo em nossas plantações! – eu brado.

- Oh, merda! – escuto meu irmão rosnar e sair do quarto correndo.

Eu passo as mãos por minhas madeixas negras, exasperada. Entrego então minha lanterna para Demetria e saio correndo do quarto, deixando uma enfermeira gemendo por causa das contrações em seu útero e um ex-motorista sem saber o que realmente fazer.

Desço os degraus da escada aos pulos. Viro uma interseção com a cozinha e deparo-me com Harry e as crianças, amedrontados.

- Venham comigo, agora! – eu ordeno para Claire e Sofia.

As duas sequer hesitam e pegaram, cada uma, minhas mãos.

- Você... ajude o meu irmão e o Simon a pegar nossas armas! – eu ordeno para Harry.

O rapaz de cabelos longos faz um afirmativo com a cabeça e saiu mancando da cozinha à sala onde provavelmente meu irmão, Cara e Harry estavam.

Eu subo às pressas a escada.

Entro no quarto onde Allyson grunhia em meio à dor e continuava suas contrações. Troy rapidamente virou o rosto em minha direção assim que empurrei Sofia e Claire para o interior do cômodo.

- Fiquem aqui e não saiam, me ouviram? – eu falo já com a mão na maçaneta para fechar a porta.

- Mas... o que eu vou fazer?! – Troy exaltou.

- Você fique aqui e as protejam! – eu aponto para o loiro que me olhava com súplica. – Você tem um filho vindo ao mundo, Troy! Deixe-nos que proteger essa fazenda por você e por sua família! – eu falo e retiro minha Desert Eagles do coldre na cintura, a jogando travada para Troy.

Não permito que o rapaz loiro me contraponha e fecho a porta com um estrondo.

Volto a correr e desço outra vez os degraus da escada aos pulos, sentindo o cheiro sufocante da fumaça cada vez mais forte. Viam-se os clarões do incêndio da plantação bailando na escuridão da noite, com as chamas cada vez mais intensas por causa do vento.

Ao chegar à cozinha dou de cara com o meu irmão, com a expressão ainda mais assustada, se possível.

- Eles pegaram nossas armas!

- O quê? – exasperei, sem acreditar no quê ouvia.

Atrás de Christopher tanto Harry quanto Cara e Simon abriam todas as gavetas da cômoda onde guardávamos nossas armas.

Elas estavam completamente vazias.

- Todas! – velho comunicou. – Nenhuma arma está aqui a não ser as que portamos! – Simon explicou, segurando em sua mão direita uma pistola semiautomática prateada.

- Como eles entraram na casa e pegaram nossas armas sem que víssemos? – gaguejo, com minha mente nublada por tanta informação. – Como eles passaram sem os portões serem abertos? As porcarias das cercas tem eletricidade! – bradei, abrindo os braços. – A todos os momentos há no mínimo duas pessoas de vigia! Isso... isso não é possível!

- Mas aconteceu! – Simon me retrucou, sendo a pessoa ali mais calma. – E precisamos pensar com clareza e rápido! Não há tempo para pensarmos nos erros, precisamos pensar no quê fazer! Há uma mulher dando a luz no segundo andar, Lauren!

- Merda... – eu rosno, coçando o alto da minha cabeça.

Uma dor martelava no centro da minha testa, incomodando-me.

Eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo!

- Quantas armas temos aqui?! – Christopher pergunta.

- Duas. – Cara respondeu e apontou para pistola de Simon e para o facão na mão de Harry.

- Dinah e Normani devem estar voltando com armas, talvez devêssemos esperar e... – Harry tentou aconselhar.

- Esperar o quê? – Cara o retrucou, convicta. – Que o fogo acabe por completo com as nossas plantações?!

- Não podemos fazer nada com um facão e uma pistola! – ele a replicou. – Os quatro que foram na missão levaram fuzis, metralhadoras e espingardas! Eles podem nos ajudar!

- Eles estão tão fodidos quanto nós! – a arquiteta falou. – Não podemos esperar!

As luzes das velas dispostas nos candelabros iluminavam nossas expressões aterrorizadas.

- Olha... – meu irmão ergueu a mão em sinal de advertência para que os dois parassem de discutir, mas foi interrompido por som anormal.

*CRASH*

O barulho do vidro da porta frontal quebrando ecoou em meio à conversa e eu mal tive a chance de ver o objeto afiado girando no ar.

*CRASH*

O mesmo som se repetiu, tendo como diferença meros segundos do primeiro.

E gritos de pavor rasgaram as gargantas de Cara e de Christopher.

- AAAAAAH! – Cara berrou, encarando o cabo de madeira negro que estava penetrado em seu ombro direito.

A lâmina estava atrofiada a sua pele, rasgando o músculo e fazendo o líquido vermelho manchar sua camisa lilás.

Christopher encarava, embasbacado, o lugar onde o seu mindinho da mão direita costumava existir. A mão ainda continuava no ar, como estava há segundos atrás, mas agora existia um nada no seu quinto dedo que jorrava um fluxo intenso de sangue para cima.

A faca que o havia decepado estava presa na parede atrás dele e o dedo caído no chão, ainda quente.

- Que merda é essa?! – Harry balbuciou, petrificado.

Eu então, em um ato de puro reflexo, me joguei contra os corpos do meu irmão e da arquiteta, ao mesmo tempo em que os vidros foram quebrados outra vez com mais lâminas lançadas.

Abracei as cinturas dos dois e comecei a puxá-los para trás do sofá enquanto os estilhaços das janelas voavam para todos os lados.

As facas acertavam as paredes, ficando a madeira com as pontas extremamente afiadas. Outras acertavam os eletrodomésticos, os quebrando por completo.

- Tira! – Cara me implorou em meio ao choro, tocando de leve na faca penetrada em seu ombro.

Arrasto-a para ficar sentada atrás do sofá e, apoiando seu braço na minha coxa, eu segurei no cabo de madeira. Pedi-lhe um “Desculpe” com o olhar suplicante e com um só movimento arranquei a lâmina afiada de dentro de sua carne, fazendo um espirro de sangue jorrar.

Dessa vez ela apenas urrou, com as veias de seu rosto saltadas por causa da dor.

Meu irmão se remexia no chão, protegendo-se atrás do estofado e tentando se livrar dos estilhaços que ainda voavam.

E então, com o silêncio reinando outra vez após o cessar das lâminas, o agouro ressurgiu junto ao zunido do vento.

Retiro, com as mãos trêmulas, minha blusa que usava por cima de uma camiseta simples e a envolvo às pressas no ombro de Cara, tentando impedir que ela perdesse muito sangue.

- Todo mundo está bem? – eu grito, ainda agachada atrás do sofá.

- Sim! – ouço a voz rouca de Harry.

Após terminar de dar um nó na blusa que estava passada por debaixo das axilas da jovem, pressionando a ferida, eu inclino um pouco a cabeça na lateral do sofá e vejo os vultos do rapaz de cabelos longos atrás da estante da sala.

- Simon?!

- Estou bem! – escuto o tom materno do velho.

Engatinho-me até a outra extremidade do sofá à procura da voz do ex-militar.

Simon estava agachado perto da porta, contra a parede.

- Isso são facas?! – Harry choramingou enquanto olhava as lâminas fincadas nas paredes.

Volto a olhar para o meu irmão e vejo-o gemendo entre os dentes, tentando, com uma mão, impedir que o fluxo de sangue jorrasse de seu dedo.

- O quê vamos fazer?! – Harry sequer esperou, já lançando outra pergunta. – Não vamos conseguir nem sair daqui com essas porcarias voando!

- As luzes... – Christopher gemeu, rasgando um pedaço significativo da sua blusa e apertando contra seu dedo decepado. – Eles estão nos vendo por causa das penumbras das velas!

- Apaguem todas as velas! – eu ordeno.

Arrasto-me em meio aos cacos de vidro no chão, sentindo minha pele ser arranhada pelos pedaços pontiagudos. Ao chegar próxima da estante, me estico toda e pego o candelabro que tinha no mínimo umas cinco velas dispostas.

Assim como todos os outros, eu as assoprei.

E em menos de dez segundos toda a sala estava regada pela escuridão.

Ficamos então em um silêncio completo para tentarmos localizar alguma coisa.

O crepitar das chamas era escutado ao longe em uma sinfonia paranoica com os ruídos e assovios que ecoavam baixinho. Os sussurros pareciam vozes vindas do Além que, por mais que eu tentasse decifrar, a linguagem usada não me fazia nenhum sentido.

Eram sussurros agourentos em outra língua.

Eu conseguia ouvir meu coração batendo tão forte e rápido que ecoava em meus ouvidos.

Não sabíamos quantos eram, de onde vinham ou o quê queriam. Não tínhamos um exército de Vero para nos proteger agora, não tínhamos sequer o grupo por completo ali.

*Music On* (Everybody Wants to Rule the World – LORDE – (Extended Version)).

Estávamos indefesos.

E então, ao fundo, em meio à escuridão da noite, o barulho da madeira da varanda rangendo começou a ressurgir indicando que uma pessoa se aproximava do lado de fora.

Arrastei-me rapidamente no chão e me encolhi por detrás da cômoda que havia pegado o candelabro.

Os passos e o rangido na varanda do lado de fora continuaram. As tábuas reclamavam do peso, fazendo o som arrastar por todo o silêncio que nos englobava.

E então os barulhos pararam.

A esperança renasceu por meros segundos quando, magicamente, os sussurrou, os ruídos, os assovios cessaram.

O silêncio reinou.

A expectativa perdurou.

Inclino a cabeça e vejo Simon perto da porta. O velho encontrou meu olhar e fez um leve movimento com a cabeça indicando que estava tudo bem.

Não, Simon.

Não estava tudo bem.

Eu tive tempo apenas de fazer uma expressão de espanto ao ver a silhueta negra aparecer através dos vidros quebrados.

A porta frontal foi então aberta abruptamente, com um estrondo ecoando. Eu não conseguia ver por completo o rosto que bufava à entrada. Mas era visivelmente um homem e ele, em um ato rude, pegou o calcanhar de Simon que estava ali perto.

O velho sequer teve reação, pois, no segundo seguinte, já era arrastado através da porta. O movimento repentino fizera a pistola do ex-militar pular de sua mão, escorregando e disparado contra uma parede ao lado, criando um enorme buraco na mesma.

A arma deslizou pelo chão e parou debaixo de uma estante.

Eu consegui apenas ter uma reação: levantar em um supetão e jogar meu corpo em direção das mãos esticadas de Simon, que tentava, de qualquer modo, se agarrar a qualquer coisa para não ser arrastado.

Agarrei-me em suas mãos de idoso, cheia de marcas de uma vida de experiências. Seus olhos aterrorizados me encararam, implorando por ajuda, implorando para que eu não o soltasse.

Mas quem não soltou foi o homem vestido de negro.

Ele o puxou com uma força inexplicável, fazendo com que os dedos fortes de Simon começassem a deslizar por minha mão. Tento agarrar mais desesperadamente, com a chula esperança de conseguir segurá-lo.

Mas Simon continuou a ser arrastado para trás.

Sua mão então foi aos poucos escorregando da minha e, por causa da força que ele tentava se agarrar a mim, levou consigo a minha aliança que estava no meu dedo anular.

- Não! Não! Não! – eu grito, em vão, quando ele foi arrastado para fora do casarão.

Tudo isso havia durado míseros nove segundos.

Uma segunda silhueta então, ao me identificar, veio em minha direção assim que o primeiro levou Simon para a varanda. Meus olhos, já quase saltando de minhas órbitas, encararam o outro homem vestido de negro.

Remexi no chão e comecei a me arrastar para trás, para longe dele.

O segundo homem esticou a mão para agarrar-me também pelo tornozelo, mas então um vulto cortou a escuridão.

Harry gritou ao empunhar seu facão e, segurando o cabo com as duas mãos, passou a lâmina bem no pulso esticado do homem.

O sangue quente espirrou em meu rosto, fazendo-me virá-lo em um ato instintivo. A mão decepada caiu e quicou no chão, molhando a madeira antiga de vermelho. O homem gritou, urrando de dor ao ver o fluxo intenso de sangue espirrar das veias e artérias do resto que sobrara de seu braço. O músculo exposto era vermelho vivo, misturado com as fibras musculares.

Como um animal primitivo, o homem contraiu-se e saiu proliferando, grotescamente, palavras que eu não sabia identificar.

E, ao mesmo tempo em que gritava enquanto segurava o braço decepado, os ruídos, os sussurros, os grunhidos recomeçaram em uma intensidade horripilante assim como uma orquestra de fundo.

Tudo isso durou mais seis segundos.

Harry, ainda inundado pela adrenalina, fechou a porta frontal com um estrondo, separando-nos do ambiente externo. A trancou, com as mãos tremendo. O jovem de cabelos longos então me agarrou pelo colarinho e começou a me puxar para longe dali até detrás do sofá, já que eu, ainda petrificada, não conseguia mexer um músculo do meu corpo.

Meu estômago apertava tanto, minha cabeça latejava tanto, meu coração batia tanto, que eu não conseguia expressar mais nada.

Nós três, com a respiração errando, encarávamos a porta esperando pelo o quê aconteceria em seguida.

O choro de Cara ressurgia baixinho e o sangue escorria já através da blusa. Meu irmão tinha espasmos pelo corpo causados pela adrenalina. Harry atrás de mim, com a mão paralisada em meu colarinho, piscava com rapidez. O sangue quente do homem escorria por minha bochecha, pingando por meu queixo.

A mão decepada continuava caída no centro da sala, com o sangue a banhando assim como o dedo de meu irmão.

- O que vamos fazer? – Cara gaguejou, com a garganta apertada pelo choro.

Nenhum de nós soube responder, pois cada um estava perdido na situação.

Se saíssemos eles entrariam e chegariam até o segundo andar onde as crianças, Ally, Troy, Demetria e o bebê estavam.

Sem chances.

Se tentássemos sair pelas portas dos fundos e lutar contra eles, seríamos metralhados por facas.

Sem chances.

Se tentássemos sair pela porta da frente, seríamos arrastados assim como Simon.

Sem chances.

Não tínhamos muitas opções a não ser... Esperar.

- Delevingne... – eu sussurro, meio lenta. – Suba e não importa como, não deixe que Troy ou qualquer um deles desça aqui!

- Mas... – ela franziu o cenho, confusa.

- Você não vai conseguir fazer muita coisa com esse ombro! Suba! – ordeno, com a voz mais séria.

Ela inspirou fundo, tomando coragem, e se jogou para frente começando a se arrastar pelo chão cheio de cacos de vidro. Evitando não levar qualquer facada, Cara Delevingne subiu os degraus da escada os rastejando e engolindo os choramingos por seu ombro.

Harry, após mais de um minuto que se passou desde que Cara sumira, arrastou-se sorrateiramente até perto da estante. Abaixou e pegou a pistola de Simon que havia escorregado para lá.

O vento da tempestade ainda zunia do lado de fora, chocalhando os milhos. Os raios iluminavam os céus, os trovões ressurgiam. O fogo crepitava, fazendo ambiente cheirar a fumaça misturada com sangue fresco. As chamas do incêndio iluminava parcialmente a lateral da Fazenda, sendo, também, um farol para hordas de zumbis.

E então os grunhidos, sussurros e ruídos pararam.

- Saia da casa! – uma voz sinistra, grave e arrastada ecoou do lado de fora.

Ficamos paralisados assim como já nos encontrávamos.

- Lauren Jauregui... Saia da casa!

“O quê?!” minha voz interna berrou.

Meu corpo foi consumido por arrepios cortantes. Meu coração, impossivelmente, conseguiu bater ainda mais rápido. E eu jurei que iria vomitar ali mesmo.

“Como ele sabia meu nome?”

Olho para os lados e vejo Christopher, Harry e Cara me encarando embasbacados.

- Lauren Jauregui, saia da casa agora!

Fecho os olhos com força para logo em seguida os abrir. Começo a ficar de pé e mais que imediatamente sinto meu irmão segurar meu pulso.

- Você não v...

- Espere. – eu peço, soltando sua mão do meu pulso.

Antes que ele fizesse mais alguma coisa fiquei de pé, arriscando-me a levar mais uma facada de sabe-se lá onde. Aproximei-me da janela com passos lentos, que me torturavam. E, ao chegar perto do buraco onde existia um vidro, a bile voltou até minha garganta, amargando minha língua.

Simon estava preso pelos pulsos e pelos pés em duas tábuas que juntas formavam uma cruz bem na frente do portão, que estava escancarado.

Ele estava sendo crucificado no mais literal sentido da palavra.

Com a cabeça tombada, o velho estava zonzo enquanto tinha os pulsos amarrados por duas pessoas também vestidas de negro assim como os homens.

Haviam pessoas em pé em meio ao milharam, observando tudo como telespectadores sinistros.

- Nós queremos você, Lauren! – a voz surgiu outra vez.

E o dono dela estava parado um pouco mais a frente da cruz de Simon. Pela silhueta logo reconheci que se tratava do primeiro homem que puxara o velho militar.

Agora com o brilho das chamas eu conseguia ver seu rosto perfeitamente. Ele tinha uma barba negra que cobria todo o rosto, tatuagens nas mãos e no pescoço.

- Lauren? – continuou a falar graciosamente, olhando-me na janela. – Podemos negociar... Purificamos a sua querida Camila Cabello e apenas ela continuará viva... – um sorriso nasceu em seus lábios e ele então levantou o objeto brilhante reluziu.

A minha aliança.

- Não! – eu grito e exasperada, coloquei as mãos na janela.

- Então saia da casa!

- Não! – eu afronto e até alguns respingos de saliva voaram de meus lábios por causa de minha raiva.

O homem fez um sinal com a cabeça para as duas mulheres vestidas de negro ao lado da cruz de Simon.

- Não, espere! – eu tento falar, mas foi tarde demais.

Uma mulher de cabelos caramelo fez um único e rápido movimento com a mão: retirou uma faca pequena, dentre as várias dispostas em seu cinto, e a passou contra o abdômen do velho.

Simon berrou ao mesmo tempo em que sua barriga se abriu e o sangue espirrou com suas entranhas deslizando para fora. O intestino delgado e o estômago do homem pularam, espirrando junto às outras vísceras. O ex-militar arregalou os olhos e a dor o dominou, fazendo suas veias e o rosto ficarem vermelhos. O sangue, segundos depois, começou a voltar por sua boca, escorrendo por seus lábios.

Eu petrifiquei, encarando tudo com os olhos arregalados.

Simon sufocou-se no próprio sangue e, por fim, encarou o nada quando suas pupilas congelaram e as entranhas continuaram a sair de sua barriga e cair aos seus pés na cruz.

O velho perdeu as forças do corpo e a cabeça tombou.

- O seu grupo pode ter mortes rápidas ou mortes lentas. Cabe a você escolher. E a cada momento que passa e você continua dentro dessa casa, mais dolorosos serão os modos em que eles morrerão. – homem falou calmamente, com as mãos atrás do corpo. – Os outros cinco? A latina, a loira de cabelos curtos, a morena, o franzino e o de topete? Que saíram em uma busca em um supermercado? Já estão todos mortos! A loira e a morena foram as últimas, mas tivemos Misericórdia. As mortes foram rápidas...

Uma lágrima escorreu por minha bochecha sem eu ao menos saber que estava chorando.

Um soluço ficou preso em minha garganta, sufocando-me como se eu me afogasse outra vez em um mar de petróleo.

Dinah... Normani... Louis... Niall...

Minha Camila...

Mortos.

Espasmos apertavam minhas entranhas e o ar mal preenchia meus pulmões.

O homem de topete negro, barba por todo o rosto e tatuagens pelas mãos ladeou a cabeça, me encarando ao esperar por minha resposta.

Sereno como a morte.

Sereno como a meia noite que já era marcada pelo relógio.

Fecho os olhos e tento raciocinar com clareza, mas apenas o rosto da latina passava em minha mente.

Qual era meu objetivo agora? Camila estava morta. A única razão por eu continuar lutando, a única âncora que me segurava firmemente.

Eu nunca mais veria Camila.

E ao cogitar essa ideia, as vozes voltaram a minha cabeça. As mesmas vozes que me atormentavam antes de Camila me salvar delas.

As mesmas que me corroíam, as que me culpavam, as que me levavam cada vez em direção do meu próprio inferno psicológico.

- Lauren... nem pense nisso... – meu irmão falou às minhas costas.

Giro meu corpo em sua direção e vejo seus olhos expressivos me implorando. As lágrimas estavam acumuladas, mas não perdiam a lutar em escorrer por seu rosto.

- Nós podemos lutar!

- Com quais armas? – eu replico, engolindo o bolo em minha garganta.

- Você não precisa tomar essa decisão! – Christopher falou, exasperado.

- Não é tão difícil, meu irmão! – digo e dou uma risada nasal triste. – A escolha certa é aquela que mantem o maior número de pessoas vivas.

- Eles vão nos matar de qualquer jeito! – Harry aponta. – Podemos pelo menos morrer então lutando!

- Eu posso evitar tudo isso e irei! – os retruco, convicta. – Ninguém mais vai morrer por minha causa! Se eles me querem, eles me terão! Então fiquem com as armas em mãos, caso eles venham em direção a casa... atirem! – digo, tentando demonstrar calma para eles.

- Não! – Christopher praticamente latiu, ficando de pé e exposto. – Eu não vou perder outra irmã!

- Pare! – eu falo no mesmo tom, erguendo uma mão em sinal negativo. – Isso não é uma decisão sua! É minha!

- Você acha que não tem mais nenhuma razão para continuar agora que... agora que Camila está morta! Mas... – sua voz falhou por alguns segundos. – Eu estou aqui! – soluçou, com uma lágrima escorrendo. – Sofia está aqui! Nós... seu grupo está aqui!

- E é exatamente por essa razão que tenho que fazer isso... – respondo e devagar começo a desabotoar o meu coldre vazio que estava preso no cós da minha calça jeans.

- Lauren, não! – meu irmão vem em minha direção, mas eu rapidamente olho para Harry.

O jovem de cabelos longos suspirou sofregamente, pois eu via que seus olhos não concordavam comigo. Mas, mesmo contrariado, ele agarrou meu irmão pelo ombro, impedindo que ele viesse até mim.

- Harry, me solta! – Christopher bradou com o jovem, o segurando com apenas uma mão, já que a outra estava pingando sangue de seu dedo.

- É a decisão dela, Chris. – Harry sussurra, mantendo os braços firmes ao redor do rapaz.

Solto o coldre no chão, com o seu barulho ecoando.

Olho para Christopher, que chorava respondendo ao contato visual e tento sorrir para lhe dizer que estava tudo bem.

- Se eles vierem... atirem como nunca fizeram antes!

Giro então meu corpo em direção da porta e caminho até a maçaneta, hesitando alguns segundos antes de segurá-la. Inspiro fundo, tomo coragem e então giro o metal gelado. Ao abrir a porta a fumaça que vinha do fogo em nossas plantações me atingiu com mais força, ardendo meus olhos.

Mas mesmo assim continuei.

A claridade iluminava as diversas pessoas que só agora tive visualização. Todos vestiam preto, encapuzadas, com lâminas brilhando presas por todo o corpo. Alguns seguravam crucifixos tão grandes que refletiam ao longe.

O vento da tempestade estava mais frio e mais intenso. Os raios mais intensos, perigosos.

Se eu tivesse esperado mais alguns minutos...

Mal coloquei um pé no primeiro degrau da varanda e já senti mãos fortes me agarrando pelos ombros.

Eu me sentia uma prisioneira indo para o corredor da morte.

Minha voz interna gritava para correr, meu instinto de sobrevivência também. Mas, meu coração gritava que eu estava fazendo o certo pelas pessoas que eu amava.

Fui conduzida, ou melhor, empurrada até perto do homem que tinha uma barba negra cobrindo o queixo. 

Sua áurea era sombria assim como seus olhos.

Ele umedeceu os lábios, piscando calmamente.

- Foi esperta. – falou. – As mortes deles serão rápidas. Mas a sua... vai doer como o Inferno.

- O quê? – eu tento me livrar das mãos fortes, exasperada.

- Eles vão morrer de qualquer jeito, minha cara. – o homem então sorriu.

- Tenho permissão, Zayn? – a jovem de cabelos caramelo, a mesma que rasgara a barriga de Simon, perguntou ao lado do homem.

- Claro, Alexa. Nosso líder irá gostar bastante disso... – o de topete negro assentiu.

Alexa então sorriu demoníaca para mim e, com a cabeça, fez um sinal para as quase vinte e cinco pessoas que rondavam nossa Fazenda. O brilhar das luzes se intensificaram, os assovios, os ruídos, os sussurros.

Parecia um enxame de abelhas do próprio Demônio.

E tudo, a seguir, que consegui ver foi o vulto de um saco preto vindo em minha direção.

O grito ficou preso em minha garganta quando minha visão escureceu.

Mas isso durou menos que meros três segundos, pois, logo em seguida, uma pancada me atingiu na nuca.

E eu fui entregue a escuridão completa.


Notas Finais


NOSSA SENHORA DA BICICLETINHA (sim, 5hlernjauregui eu roubei sua expressão).

TÔ CORRENDO PRAS COLINAS

até a próxima, beijos de luz


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