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História Into The Dead - Capítulo 4


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Queria agradecer por todos os favoritos, todos os comentários e especialmente por todos que divulgaram a fic de algum modo. Não sabem como estou feliz com as respostas de vocês!
Queria também pedir perdão pela demora. Foi uma semana corrida, porque tenho vestibular no final de semana. E esse capítulo foi um pouco grande, por isso demorou.
Boa leitura e por favor, ignorem os erros!

Capítulo 4 - Capítulo 4


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 4

Camila PDV

Meu estômago revirava por causa da adrenalina na minha corrente sanguínea. Eu tentava controlar a minha respiração enquanto via Lauren caminhar em direção de seu irmão na rua fria de Miami.

Se eu estava grata por ela ter voltado e salvado a minha vida? Sim, eu estava. Mas isso durou apenas meros segundos quando eu percebi que ela não voltaria por minha irmã. E, por isso, não pensei duas vezes em puxar aquele freio de mão.

Só então, pela primeira vez, eu estremeci interiormente com o grito que ela deu, descontando sua raiva contra o volante. Mesmo que por dentro eu estivesse de fato intimidada pela brutalidade de Lauren eu nunca deixaria isso transparecer.

Não por uma estranha. Eu não seria fraca.

Eu não sou fraca!

Não existe lugar para fracos no mundo atual!

Christopher agora analisava o nariz da irmã e tentava secar as gotas de sangue que escorriam. Lauren, porém, claramente estava irritada e a todo tempo tentava tirar as mãos do irmão de seu rosto resmungando algo parecido com “Eu estou bem!”.

Dinah e Austin olhavam em todas as direções através dos vidros do carro, preocupados se algum zumbi pareceria pelos becos entre as casas. Eu segurava minha mochila contra meu corpo em uma tentativa de me manter segura. Com Lauren longe eu poderia transparecer pelo menos uma pequena parcela do enorme medo que eu estava sentindo naquele momento. Meu pulso latejava de dor por causa do impacto contra o vidro, eu suava excessivamente, meu coração apertava de preocupação por minha irmã e, para completar, Normani não parava de resmungar como seu grupo estava fodido.

Lauren e Chris discutiam visivelmente. A mulher abria os braços como se não aceitasse o rumo que a conversava estava tomando, mas o homem a repreendia, apontando para seu rosto. E de repente eu vi Christopher me chamar.

Eu respiro fundo e saio do carro fechando a porta com força e caminhando até eles. O frio da tarde bateu contra meu corpo, fazendo-me cruzar os braços em uma tentativa de me aquecer.

- Em qual apartamento elas estão? – pergunta Chris, com um tom calmo.

Lauren ainda evitava olhar para mim, mas eu notava seus punhos fechados.

- Estamos no fim da rua, do lado oposto ao do supermercado.

- Droga... – ele suspira, coçando a barba no queixo. – A rua deve estar bloqueada neste momento.

- Eu disse que é suicídio, Christopher! – Lauren alfinetou.

- Não vamos deixar duas crianças para trás, Lauren! – Christopher rosnou. – Simplesmente não vamos!

- Eu também não quero fazer isso, ok?! – Lauren suspirou, passando as mãos pelas madeixas negras. – Mas olhe! – ela falou e apontou para alguns zumbis que perambulavam longe. – Eles estão vindo para cá mesmo que aos poucos. Temos pouco tempo!

Ficamos em silêncio por alguns segundos tentando pensar.

- Tem alguma outra saída? – o tom de voz dela estava rude. – Alguma saída de emergência ou algo do tipo? Algo para entrarmos a não ser pela porta da frente?

- Hãm... eu não sei... – gaguejo, começando a tremer levemente. "Maldita sensação pós-adrenalina". – Nós estamos lá há apenas três dias! Não procuramos por possíveis saídas de emergência no outro lado do prédio. Pegamos um quarto na parte frontal. Nosso plano era pegar tudo em silêncio e sair calmamente.

- Que ótimo! – rosna Lauren, revirando os olhos.  – Ótimo plano arquitetado. Aposto que foram você e os cachinhos quem o criaram!

- Vá a m... – eu já estava pronta para xingá-la quando escutei o barulho de uma porta se abrindo.

O homem loiro que vi no supermercado, que rapidamente lembrei que se chamava Troy, caminhou até nós segurando uma menininha linda em seus braços. Ela também tinha cachinhos loiros e rosto parecido com o do homem. Seu olhar denunciava seu medo enquanto chupava o polegar da mão direita.

– Qual é o problema, pessoal? – pergunta Troy, embalando a menina nos braços. – Por que paramos?

– As duas loucas e aquele homem estão dizendo que tem duas crianças para trás. – responde Lauren.

Eu engulo novamente um xingamento ao ouvi-la me chamar de louca.

- Dentro do supermercado?! – pergunta o loiro, assustado.

- Não. Quase pior. Dentro de um apartamento do outro lado da rua! Seria o mesmo se fosse lá dentro! – Lauren resmunga.

- Há também uma adulta no apartamento. – acrescento. – Ally está machucada, por isso ficou para cuidar das crianças.

- É grave? – Troy pergunta. A garotinha choraminga então alguma coisa para o pai e ele apenas acaricia seus cabelos, fazendo com que deitasse a cabeça em seu ombro. – Está tudo bem, Claire... daqui a pouco continuamos. Eu sei que está com fome. – ele sussurra no ouvido da filha. – Desculpe... hãm... é grave o machucado dessa tal Ally?

- Já conseguimos tratar um pouco com remédios, mas ainda está bem feio. – respondo, com um suspiro triste.

- Gente... – Christopher chama nossas atenções. 

Rapidamente levantamos a cabeça e avistamos dois zumbis, cada qual se aproximando de lados opostos. Ele faz um sinal com a cabeça para Lauren e ela assente, indo em direção do zumbi da esquerda enquanto o homem ia ao encontro do da direita.

Lauren rapidamente retira a faca do cós de sua calça e enfia na cabeça do zumbi que foi um dia uma senhora de aproximadamente sessenta anos. Sua pele estava pálida, roupa suja de sangue seco e olhos acinzentados.

Christopher caminhou até um homem moreno alto, provavelmente que trabalhava na área industrial da cidade por ainda estar vestindo os farrapos de seu uniforme azul. Ele faltava um braço e tinha um corte nojento em seu abdômen que deixava suas entranhas à mostra.  Christopher fez o mesmo e enfiou seu canivete no cerebelo do zumbi.

Os dois em movimentos quase sincronizados retiraram suas armas brancas dos crânios e as balançaram, livrando-se dos restos encefálicos e sangue das lâminas. Mais zumbis se aproximavam pelos cantos da rua, mas esses pareciam mais urubus preguiçosos.

- Então estamos cogitando a ideia de voltar, certo? – Troy pergunta, embalando Claire que tinha uma careta tristonha de choro ao ver os monstros se aproximando. Ela parecia saber que não poderia chorar, mas isso não fazia a cena menos medonha.

Lauren coçou a cabeça, irritada.

- Nós vamos voltar, não é mesmo Lauren? – Troy perguntou novamente, com um olhar duro para a mulher. – Não acredito que você...

- Não me venha com sermões também, ok?! – Lauren revira os olhos. – Nós vamos voltar, satisfeitos? Nós vamos! Só precisamos de um plano praticamente perfeito para que isso não termine com a morte de todos nós!

- Não temos muito tempo para isso... – Christopher anuncia o óbvio.

- O problema é que essa aí não sabe se existe uma saída de emergência. – retruca Lauren, apontando para mim e me lançando um olhar sarcástico. – Não há outro jeito a não ser por alguma escada ou algo do tipo.

Fecho os punhos, já irritada com as provocações da jovem. Mas, sabia também, que ela estava certa. Devíamos ter procurado saídas de emergência... porque... emergências nunca são previstas.

- Há pelo menos algum beco perto? – pergunta Troy, olhando para mim.

- Sim. Existe um do lado. – respondo prontamente. – Há também uma cerca que está em pedaços, mas acho que serve para afastar alguns andarilhos.

- Esses prédios são antigos. Eu tenho absoluta certeza que há escadas de incêndio. Alguma provavelmente deve dar nesse beco. – Troy explica para todos. – Elas geralmente passam por todos os andares assim como aquelas dos filmes.

- Como você sabe disso? – pergunta Lauren, franzindo o cenho.

- Fui motorista particular de um arquiteto por um bom tempo. – responde o loiro, fazendo um cafuné no cabelo de Claire que havia voltado a deitar no seu ombro. – Uma vez ele estava em uma reunião e pediu que eu limpasse o carro e eu achei algumas plantas de prédios de Miami. Eu sempre tive vontade de estudar isso, então eu sabia mais ou menos como lê-las. Prédios antigos dessa zona sempre têm escadas de incêndio.

- Ok... – murmura Chris, respirando fundo. – Vamos dar a volta e ir do lado oposto do quarteirão. Entramos por esse beco e tentamos fazer uma barricada com o restante da cerca para que caso algo dê errado atrase um pouco de andarilhos. Eu, Troy vamos subir pela escada de incêndio e Austin vai nos acompanhar, porque ele sabe o caminho. Vamos entrar e pegar as crianças e a mulher. Você... – ele diz, apontando para mim. – E Lauren vão permanecer e cuidar da barricada. Dinah e Normani ficarão perto dos carros. Taylor cuidará de Claire. E se tudo der certo, estaremos saindo de lá antes de o sol morrer.

Eu afirmo com a cabeça e voltamos cada qual para o Nissan que estávamos antes. Lauren bate a porta do motorista novamente apenas para deixar clara a sua raiva ainda eminente. Eu poderia pensar em pedi-la perdão por seu nariz, mas a tamanha raiva, por suas provocações e o simples fato de ter cogitado a ideia de não voltar por Sofia, não deixava.

Explico o plano para os outros três no banco de trás enquanto Lauren dava a volta e seguia o carro de Chris. Normani obviamente resmungou e isso fez Dinah revirar os olhos, provavelmente praguejando mentalmente para que algo calasse a boca da morena.

- Eu deveria ficar com você na barricada, Mila. – Austin reclama, com a sua mão esquerda no meu ombro.

- Não. – Lauren simplesmente respondeu por mim.

- O que? – Austin ergueu uma sobrancelha. – Eu estou falando com a Cam...

- Não! – Lauren rosnou mais alto e encarou o homem sem parar de dirigir o Nissan.

“A idiota adorava se gabar.” Penso, revirando os olhos.

- Você vai com meu irmão, porque simplesmente não posso deixar você querer bancar o herói e foder com o plano todo. Foi tentar salvar sua amiguinha aí e quase acabou morto. Então me faça o maldito favor de seguir o plano! – ela diz entre os dentes, apertando o volante com as mãos.

Seu olhar estava focado e lançava ao jovem policial uma clara mensagem de afrontamento. E pela quantidade de vezes que via Austin engolir seco eu podia dizer que ele também estava se remoendo de ódio.

- Só me falta vocês erguerem as armas aqui de novo. – Dinah se mete no meio da situação. – Nos faça um favor então, dona Lauren, e OLHE PARA A PORRA DA ESTRADA! – a loira berra, mas logo volta a ter um sorriso terno. – Obrigada.

Lauren ergue uma sobrancelha com a mudança de humor da loira e assente com a cabeça voltando a olhar para a estrada. Austin se joga contra o estofado do carro, como uma típica criança emburrada.

Adentramos em alguns quarteirões de Miami e viramos em uma esquina, sempre tentando manter silêncio nas ruas da grande cidade. Corpos estavam espalhados em meio ao lixo nas ruas, carros abandonados, e o cheiro de morte bailava misturado com borracha queimada.

Eu sempre fui acostumada com a movimentação da cidade, admirava os arranha-céus e a selva de concreto, mas agora o silêncio total era quase ensurdecedor.

Esta área de Miami era regada de becos sem saída cheios de destroços, lojas saqueadas e abandonadas, apartamentos com suas janelas quebradas e com avisos e pedidos de socorros estampados. Era como se aquilo fosse um cemitério.

E então como um flash de memória irônico, os comunicados nos canais de TV voltaram. Eles diziam que nas grandes cidades haveriam campos de refugiados defendidos pelo exército. Mas não existiam sinais de postos de resgate, polícia, placas ou indicações. E o pior, aquilo nem era o centro da metrópole – o que significava que as maiores hordas ainda estavam por vir.

Paramos os carros em uma avenida dois blocos atrás do beco que dava acesso à lateral do prédio. Deixamos o carro em posições favoráveis para que fugíssemos rapidamente. Todos exceto Claire e uma jovem – que avistei pelo vidro – desceram dos carros. A jovem restante só poderia logicamente se chamar Taylor, porque me lembrava de esse nome ser dito dentro do supermercado.

Alguns zumbis que perambulavam naquela avenida foram alarmados com nossos barulhos. Mas, facilmente, e evitando chamar mais atenção, os abatemos.

Vejo Chris com a mão no ombro de Taylor, que tinha dificuldades para respirar dentro do Nissan. O homem pedia para que ela se acalmasse e inclinava seu corpo para frente, colocando os cotovelos da jovem contra seus joelhos para que inspirasse melhor.

- Ela tem asma? – pergunto para Lauren que também observava a cena ao meu lado.

Porém o olhar que recebo como resposta me faz estremecer. Era cheio de repulsa.  Lauren me ignora totalmente e abre o porta-malas para retirar um pente de balas para sua arma. Ela enfia o carregado em sua Beretta 92 – que Dinah havia lhe devolvido dentro do carro – e puxa o ferrolho, colocando uma bala da câmara.

Dinah caminha até ao meu lado segurando fortemente seu machado em mãos.

- Vamos tirar nossas garotinhas de lá, não se preocupe. – a loira maior fala e deixa um beijo terno em minha testa.

Meu coração pôde se encher, mesmo que pouco, de esperança naquele momento. Não que eu acreditasse que Sofia ficaria para trás. Eu nunca deixaria isso acontecer. Nem chegava a cogitar. Daria minha vida se necessário para salvar aquela pequena parte de mim que sobrou. Mas o medo era algo impossível de se conter.

A mente humana trabalha dessa maneira: se lhe ordenam “Não pense em um elefante cor de rosa” não adianta tentar fazer o contrário, porque você já automaticamente pensou nele.

Sua mente não aceita um “Não”. Ela aceita apenas afirmações.

Seu cérebro dará ênfase a “Pense em um elefante cor de rosa” e só depois a palavra “Não”.

Portanto não adianta gritar consigo mesmo “Não tenha medo”. “Não pense no pior”. “Não pense isso”. “Não pense aquilo”. Você irá pensar porque seu cérebro simplesmente não entende.  Não é culpa sua. O culpado é seu cérebro.

Christopher finalmente havia conseguido acalmar a hiperventilação de Taylor. A jovem estava fraca e com olheiras advindas do grande esforço de voltar a respirar normalmente. O homem caminhou até mim desenrolando um pedaço de arame farpado.

- Tome. – ele sussurra, me dando rolo de arame. – Use isso na cerca para mantê-la mais resistente.

Eu mal tive tempo de agradecê-lo quando Lauren passou por nós.

- Vamos. – ela diz, começando a caminhar na frente. – Os grunhidos deles estão mais próximos e a luz do dia não deve durar por muito mais tempo. Não temos o dia todo!

A verdade era que o silêncio doentio fazia com que pudéssemos escutar os grunhidos ao longe. Aquela parte da rua estava livre de uma grande quantidade de zumbis, mas alguns já davam seus passos característicos em nossa direção, como carniceiros.

Atentamente começamos a andar até chegarmos ao beco. O cheiro de bolor fazia meu estômago revirar. Rapidamente nós avistamos a escada de incêndio e eu soltei um suspiro de alívio. Se ela não estivesse ali certamente faria daquilo quase um plano impossível.

Entretanto, o único problema era a cerca que estava com um buraco enorme em seu centro.

Caminhamos pelo beco e todos guardaram as armas de munição, usando apenas as silenciosas, no caso as facas. Perambulando no espaço pequeno estavam cinco andarilhos. Eu puxo um zumbi que grunhe algo e enfio minha faca na sua cabeça, com o som aquoso ecoando.

Pouco depois todos os zumbis no beco foram abatidos e Chris, Troy e Austin subiram pelos degraus da escada de incêndio enferrujada até desaparecerem na parte superior do prédio.

Eu e Lauren ficamos em silêncio, observando por de trás de algumas caixas secas e abandonadas uma horda massiva de zumbis grunhirem na parte da frente do prédio. Precisávamos ser rápidas para fechar o buraco na cerca antes que eles farejassem nossos cheiros.

Encaro Lauren e ela responde ao olhar. Não podíamos falar muito. Sequer podíamos pronunciar algo sem que fossemos notadas.

Ela semicerra os olhos e aponta com a cabeça para a cerca. E como se eu entendesse muito bem suas feições eu compreendi seu plano: Ela tinha a arma, então... Ela me cobriria.

Idiota.

 Mordo a língua para não retrucar, pois não tínhamos muito tempo. Levanto-me rapidamente e agachada percorro a distância até a cerca. Passo o arame farpado nas extremidades da abertura. E o pequeno, mas audível, barulho que o ato fazia alarmou alguns zumbis que estavam na calçada. Mal tenho tempo de fechar por completo o buraco quando um morto-vivo sem um pedaço da bochecha esquerda se chocou contra a cerca.

Eu me assusto, dando uns passos para trás. Lauren então me puxa pelo colarinho da blusa para detrás das caixas abandonadas. Porém, a morena não havia pensado na forma que iria se agachar por causa de seu pé machucado.

Um suspiro de dor sai por seus lábios quando ela colocou seu peso sobre o tornozelo de um modo errado no chão. Lauren cambaleou para um lado e chocou suas costas contra a parede. Mas, por ainda estar segurando meu braço, ela me fez tropeçar nos próprios pés e cair contra seu corpo, pressionando-a ainda mais nos tijolos alaranjados.  

E com um movimento rápido para que nossas cabeças não se colidissem eu coloco minhas mãos na parede, cada uma ao redor de seu corpo. Seu rosto estava a centímetros do meu. Sua respiração acelerada que escapulia por seus lábios entreabertos batia contra meu queixo. Engulo seco, encarando os lábios de Lauren. Levanto o olhar e vejo as esmeraldas verdes me estudando intensamente. Ela umedece os lábios e eu novamente volto a encará-los.

Por que eu estava com uma maldita vontade de prová-los?

Lauren pigarreia e solta meu braço depois de longos segundos. Eu balanço a cabeça voltando à realidade e me impulsiono para trás, distanciando-me de seu corpo. Encosto-me, ainda agachada, à parede.  Olho para os tijolos à frente apenas para não encará-la.

Nosso silêncio apenas é quebrado quando outro zumbi choca-se contra a cerca, provavelmente querendo descobrir o que o outro tanto rosnava. Lauren já se levantava para matá-los, mas eu a seguro pelo braço, mantendo-a quieta no lugar.

- O quê? – ela pergunta, franzindo o cenho.

- A rua está cheia demais. Por mais que o vento esteja fraco está contra nós, levando nosso cheiro diretamente para eles. – sussurro, quase inaudível. Levanto a cabeça meros centímetros para olhar por cima das caixas. – Se você se levantar e matá-los os outros vão lhe ouvir e sentir seu cheiro.

- Os rapazes não podem demorar muito mais... – ela também sussurra, olhando para cima na escada. – Esses filhos da puta vão chamar a atenção dos outros e essa cerca não vai durar para sempre.

O chiado de alguma coisa me faz olhar para a jaqueta de couro de Lauren. Ela enfia a mão dentro dela novamente e retira o Walkie Talkie.

- Lauren... – a voz de Chris ressoa baixo. Lauren aperta o botão e responde.

- Estou aqui na barricada. Onde vocês estão? – pergunta, soltando o botão em seguida.

- Tinha... um zumbi... no... corredor do prédio. – a voz do homem saía partida.

Eu entro em desespero. Não penso duas vezes em querer me levantar, mas Lauren me empurra contra a parede de novo e tampa minha boca com a sua mão. Com repulsa, eu a retiro imediatamente do meu rosto e ela me lança um olhar de reprovação, apontando com a cabeça para a cerca.

Meus olhos já começavam a lagrimejar pensando no pior.

- Alguém foi mordido ou arranhado? – pergunta Lauren, apertando o botão para falar.

 “Não pense no pior”.

 “Não pense no pior”.

“Pense no pior” era tudo o que meu maldito cérebro processava.

- Não... – responde Chris e eu solto o ar preso em meus pulmões. – Mas Troy levou um belo susto ao achar o andarilho no corredor. Olhe para cima agora!

Nós duas rapidamente olhamos e avistamos a cabeça de Chris há quase vinte metros de distância.

- Preciso que você suba para me ajudar com a mulher. – a voz de Chris estava mais nítida agora. – Ela está inconsciente e com a ferida sangrando.

Meu coração apertou. O que havia acontecido com Ally?

- Tudo bem. – responde Lauren, me entregando o Walkie Talkie e sua pistola. Olho para ela, confusa. – Vê se me devolve essa quando eu voltar, ok?! – ela esboça um pequeno sorriso. – Caso contrário precisarei encontrar mais uma dúzia de armas a cada vez que você pegar uma minha...  – resmungou. Se fosse outra ocasião eu iria rir daquilo.

Lauren se levanta e, mesmo fazendo isso com cuidado, alarmou ainda mais os zumbis contra a cerca.

Lauren não perde tempo e começa a subir os degraus o mais rápido possível, tentando ignorar a altura de vinte metros.  Se ela caísse, pelo menos a queda a mataria e ela não sofreria tanto.

Sou bem otimista, acreditem.

Levanto-me ignorando meu plano inicial de “Ficar abaixada” e enfio minha faca na cabeça de ambos os zumbis. Outros cinco ouvem os barulhos e começam a caminhar lentamente em minha direção. Eles se arrastam até a cerca e esticam os braços através dos buracos para tentar me alcançar.

Merda.

- Rápido, pessoal... – eu imploro, baixo.

Olho para Normani e Dinah e as vejo lutando contra três zumbis. Dinah tentava de qualquer maneira se livrar das mãos de uma andarilha gorda que tinha o rosto desfigurado e o abdômen estraçalhado. Em suas costas estava um homem baixinho, mas faltando um dos braços. Normani lutava contra um zumbi que tinha a mandíbula quebrada e pingava uma gosma negra que mesmo de longe era perceptível.

Pelos olhares assustados de ambas eu sabia aqueles três desgraçados não estavam sozinhos. Cogito a ideia de correr até elas para ajudar, mas isso acabaria com o plano caso a cerca não suportasse a quantidade de zumbis.

Dinah em um movimento rápido enfia seu machado na cabeça da andarilha gorda e dá um chute para afastar o homem baixinho de perto de si. Normani empurra o zumbi com a mandíbula quebrada até a parede do beco e o prensa com força ali.

- Dinah! – Normani clamou por ajuda. Era notável que a morena não tinha a mínima agilidade para matar zumbis. Sua respiração estava acelerada, sua pupila dilatada por causa do medo, suas mãos tremiam e ela quase chorava.

Dinah grunhe um “segure mais um pouco” e tenta com todas as forças retirar o machado de dentro do crânio da andarilha gorda. Ao retirar a lâmina um jato de gosma voa em seu rosto e ela fecha os olhos para não entrar em contato com o líquido tóxico. E, com um giro quase perfeito, corta a cabeça do zumbi baixinho que ia novamente para cima dela.

Olho para cima e vejo Troy segurando Regina e Austin abraçado a Sofia.  Atrás deles estavam Chris e Lauren, tentando carregar Ally. Estremeço quando Chris escorrega em um degrau, mas consegue retomar o equilíbrio com a ajuda de Lauren. Eles jogam novamente os braços de Ally em seus ombros e continuam a descer o metal enferrujado.

Sofia e Regina choravam audivelmente por estarem vendo aquela cena tão “privilegiada” de zumbis para todos os lados. E os seus barulhos ainda pioraram ainda mais a situação. Ao ouvir os sons de luta no final do corredor, os choros das crianças e o ranger do metal enferrujado – além claro de sentir nossos cheiros – os zumbis da rua atrás da cerca começaram a grunhir ferozmente.

Todos na rua viraram totalmente assim como um exército se prontifica ao descobrirem um novo alvo. Começaram então a correr em direção da cerca, chocando-se nela com toda a força que seus corpos podres lhe proporcionavam.  Os rosnados dos zumbis chamavam atenção dos outros ao redor e a horda cada vez ia tomando uma proporção maior.

Meu coração batia tão rapidamente que latejava de dor. Eu nunca havia visto tantos zumbis me encararem de uma só vez.  Suas orbitas cinzas eram no mínimo tenebrosas. Suas mandíbulas batiam e os dentes rangiam com um som penetrante e fino ecoando.

- Rápido! – eu sinalizo para os que desciam as escadas.

Olho para o final do corredor e vejo Dinah batendo a cabeça do zumbi com a mandíbula estraçalhada contra a parede, fazendo o líquido encefálico explodir nos tijolos alaranjados. Normani, ao seu lado, sinalizava para que nos apressássemos porque mais companhia estava chegando do outro lado.

Volto meu olhar para a escada de incêndio. Troy já terminava de descê-la e Austin vinha logo atrás. Ao colocar os pés no chão do beco, Troy não perde tempo e começa a correr com Regina abraçada a ele como um coala.

E então como se um instinto me avisasse eu olho para trás, exatamente para uma parte da cerca que estava prestes a ceder.

- MERDA! – rosno, correndo até o arame farpado que estava se afrouxando.

Seguro suas extremidades e tento uni-las novamente, me tornando então o elo que fechava o buraco. A todo momento eu precisava desviar meu  corpo das mãos que de qualquer maneira queriam me puxar contra a cerca.

- Camila! – ouço Austin me chamar.

Viro meu rosto rapidamente fazendo algumas gotas de suor respingar. Ele me olhava com os olhos arregalados e Sofia chorava compulsivamente enquanto esticava suas mãozinhas em minha direção querendo colo. Meu coração se despedaçou ao ver as lágrimas no rosto do meu pequeno anjinho.

- Vá com ela! – eu grito, ainda segurando o arame.

- Mas... – ele reluta. – Não!

- Kaki! – Sofia grita, balançando os braços para mim.

- Agora, Austin! – grito, implorando com o olhar. – Agora!

Ele suspira contrariado e começa a correr o máximo que conseguia pelo beco. Olho para cima e vejo que Lauren e Chris ainda estavam no meio do caminho. Ally poderia ser pequena e leve para duas pessoas carregarem, mas era extremamente difícil fazer isso em uma escada de incêndio.

Ouço barulho de passos e vejo então Dinah ao meu lado, acertando a cabeça de um dos zumbis com sua faca. O odor podre me fazia ter náuseas. Eles grunhiam, se acumulando cada vez mais e me obrigando a usar toda a minha força. Normani logo apareceu também segurando uma caixa de madeira. A morena a usava como escudo enquanto a empurrava contra a cerca para fazer peso para o outro lado, pois os ferros já começavam a dobrar por causa do acúmulo de carne morta.

- ANDEM LOGO! – grita Normani.  – Não vamos aguentar muito tempo!

*BANG*

 O barulho de um disparo no lado extremo do beco alarmou ainda mais os zumbis a nossa frente. Arrisco olhar para trás, mas não vejo nada além do beco vazio.

Onde estava o resto do grupo?

Sofia? Regina?

Meu coração apertava em imaginar as piores cenas.

*BANG*

O disparo estridente irritava ainda mais os zumbis.

Lauren e Chris já estavam no fim da escada. Chris pula na frente e pega Ally pelas pernas, a colocando em seu ombro. Lauren termina de descer a escada de incêndio e não pensa duas vezes antes de se juntar a mim para segurar os extremos do buraco. Ela sobrepôs suas mãos nas minhas para aumentar nossa força.

- Vamos embora! – implora Chris, correndo com Ally em cima de seu ombro ainda desacordada.

Normani, sem avisar ninguém, solta a cerca e começa a correr. A ausência de sua força fez com que eu e Lauren escorregássemos com o peso aumentando subitamente sobre nós. Lauren respira fundo e consegue se levantar, envolvendo um braço na minha cintura e me abraçando por trás para me colocar de pé de novo.

Se eu não estivesse prestes a ser devorada por uma horda de zumbis provavelmente estaria envergonhada pelo jeito como eu estava encaixada entre as pernas dela.

- Dinah, vai! – grita Lauren, fazendo força. – Já estamos indo. Vai!

Eu olho para Dinah e imploro que ela fosse junto com Chris para ajudá-lo com Ally. Ela reluta no início, mas acaba cedendo. Lauren toma o lugar de Normani e começa a empurrar a cerca com a caixa. Era quase impossível ter mais forças. Zumbis e zumbis se acumulavam: velhos e jovens, brancos e negros, homens e mulheres.

Os gritos de Troy no extremo do beco avisavam que tínhamos companhia no lado sul também.

Eu e Lauren nos entreolhamos, temerosas. Sabíamos que tínhamos que soltar juntas e correr como nunca em nossas vidas. A jovem olha para trás apenas para ter certeza que Chris e Dinah já estavam quase no final do beco.

- No três... – eu sussurro e ela assente, pegando um bom fôlego. – Um... dois... três!

Eu solto o arame e Lauren solta a caixa. Viramos em questão de segundos e começamos a correr já escutando a cerca ceder. Os grunhidos ferozes ficavam mais altos e eu forço meus joelhos como nunca na minha vida. Eu não me arriscaria a olhar para trás porque o medo me paralisaria. Lauren ainda mancava levemente, mas isso não a impedia de correr dessa vez.

- Puta que pariu! – grita Troy olhando para a horda atrás de nós. Ele não pensa duas vezes e vira a esquina correndo em direção do carro.

Meu ar estava preso no meu pulmão. Minhas pernas tremiam. E eu me arrependia amargamente pela minha falta de condicionamento físico antes do Apocalipse.

Tudo se movia em câmera lenta, exceto meu coração que batia descompassado.

E então meus pés se embolaram um no outro quando viramos a esquina do quarteirão. Engulo um choramingo, porque já me via caindo no chão.

Porém, sinto um par de mãos fortes em minha blusa me puxando para cima. Lauren me segurava pelo colarinho sem parar de correr, praticamente me arrastando junto a si. Ela, com um impulso, me jogou par cima novamente e eu consegui de volta o equilíbrio. Engulo o ar e mantenho meus olhos mais abertos recomeçando a correr.

Mais uma vez Lauren salvou a minha vida... eu definitivamente precisava agradecê-la agora.

Dinah abriu a porta do passageiro para mim e rapidamente se enfiou no banco de trás, abraçando Regina e Sofia no colo de Austin. Normani gritava com Lauren para que ela se apressasse. Chris já dava partida em seu Nissan e acelerava para abrir caminho para nós entre os zumbis que se aproximavam.

Eu me jogo dentro do carro e fecho a porta com força. Lauren dá a volta no Nissan e só então eu percebo como a horda estava próxima de nós. De todos os tipos e tamanhos e em todos os estágios de decomposição, eles saíam de janelas, portas, becos e praças cobertas de árvores. Seria eufemismo dizer que os zumbis saíam de todos os lugares possíveis.

Lauren perde alguns segundos de tempo para abrir a porta e então a cena que vejo faz meu coração parar de bater.

Um grito de espanto saiu pelos lábios de Lauren quando um zumbi, que estava à frente do bando, mordeu as suas costas arrancando um pedaço significativo de sua jaqueta de couro.

- NÃO! – grito, paralisada.

Lauren joga seu corpo contra o carro, batendo o zumbi na lataria e se livrando dos dentes dele. Ela enfia sua faca na parte superior da cabeça do morto e não perde tempo em retirá-la de lá, com a gosma escorrendo.

Lauren entra no carro ainda banhada pela adrenalina e liga o motor, pisando no acelerador. A mulher aumenta a velocidade para abrir caminho entre um monte de zumbis no meio da rua, chocando o para-choque neles. Os jatos de bile e tecido mórbido se esparramam no vidro enquanto os corpos rolavam pelo capô. Ela coloca os limpadores de para-brisa para trabalhar enquanto derrapava em mais uma esquina.

E então Lauren olha para mim e eu vejo a dor em seus olhos verdes.

Ela havia sido mordida.


Notas Finais


NÃO PODE C

Avisando que fic também está sendo postada no Wattpad.
Até a próxima e bjs de luz!


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