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História Into The Dead - Capítulo 42


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá, meus famigerados leitores!
Não vou enrolar, porque nem tenho emocional para isso. O esquema é o mesmo daquela vez no Acampamento: o “#” significa que as coisas estão acontecendo ao mesmo tempo.
Quero agradecer pelo carinho, pelos favoritos e pelos comentários! Infelizmente não consegui dividir esse capítulo em dois, então sim, ele está ENORME.
Tem muitas músicas e eu acho que elas vão dar um clima MUITO MELHOR para as cenas. Então, peço que ouçam.

Boa leitura e me perdoem pelos erros, as lágrimas não me deixaram corrigir direito...

Capítulo 42 - Capítulo 42


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 42

NARRADOR PDV

*Flashback*

Aproximadamente cinco meses atrás

Allyson estava de olhos fechados e cabeça repousada sobre o peitoral de Troy. A enfermeira descansava enquanto ouvia as batidas calmas do coração do amado que, gentilmente, acariciava seus cabelos loiros. Os dois sabiam que o turno de vigia do ex-motorista começaria dali alguns minutos e tentavam, deitados em sua cama, usufruir daqueles últimos momentos antes que ele fosse para a varanda em meio à madrugada.

Ally abriu os olhos assim que alguns pensamentos lhe passaram pela cabeça. Ela pigarreou, um pouco insegura. Logo Troy percebeu que algo a incomodava e inclinou a cabeça para olhá-la.

- Tudo bem? Está com enjoo? – perguntou, totalmente prestativo, pois sabia que nos primeiros meses de gravidez a mulher sentia esses sintomas. – Quer algo para vomitar?

Ally não conseguiu resistir em sorrir ao ver a expressão toda preocupada do rapaz.

- Eu estou bem, meu amor. – ela respondeu, suspirando. – É que... eu estou pensando em umas coisas...

- O quê?

- Eu sei que já te perguntei isso e irei com certeza perguntar mais outras vezes... – ela falou, hesitante. – Mas... por que você me escolheu?

Troy franziu o cenho um pouco confuso e um pouco surpreso por aquela pergunta. Ele mexeu os lábios tentando formar palavras, mas nada saiu enquanto pensava.

- Hãm... – ele então começou. – Não acho que haja um porquê. Eu acho... eu acho que quando certas coisas tem que acontecer... elas simplesmente acontecem. É algo mais complexo que Destino... – sibilou, engasgado com as palavras. – Até porque eu não acho que a vida foi feita simplesmente para que cheguemos ao seu fim já premeditado. Qual seria a graça disso? Eu apenas acredito que estamos na Terra para deixar nossas marcas. E isso sim, quando tem que acontecer, vai acontecer.

- Nosso filho seria essa marca? – Allyson perguntou olhando diretamente nos olhos do amado.

Troy sorriu, assentindo feliz.

- Eu fui marcado por você. – o rapaz completou passando de leve aponta do dedo na testa da enfermeira. – Foi intenso e repentino. E não consigo explicar as sensações que você me causa. Mas eu daria a vida por você, Allyson Brooke. Por você e por nossa família. Você me fez ver a razão de estar na Terra. Você me fez querer marcá-la.

*Flashback off*

Dias atuais

Aquela lembrança fizera Ally inspirar e expirar devagar para jogar coragem em seus pulmões. Ela estava de pé em frente ao manicômio, encarando o prédio que estava caindo aos pedaços.

Em sua mente a voz interna repetia incansavelmente que ela precisava deixar sua marca no mundo.

Ela precisava fazer a sua parte.

Ally fechou os olhos e deixou que seu alter ego, aquele responsável por sua áurea mais selvagem, viesse à tona.

E ela começou a gritar e chorar como uma louca. Bagunçou o próprio cabelo com as mãos descontroladas e apertou o crucifixo, colocando-se de joelhos sobre as gramas mortas.

Bastaram então meros segundos para que vultos surgissem por detrás das cortinas, nas janelas, e começassem a analisar a figura descontrolada do lado de fora.

- Quem é ela? – Luis Felipe perguntou, deslocando o tecido da cortina para o lado.

Ele usava apenas a sua única mão, a esquerda, já que o outro punho havia sido arrancado na Fazenda. O rapaz – que era de descendência brasileira, mas vivia nos EUA desde pequeno – não via a hora de colocar as mãos no culpado por seu aleijamento. Luis havia sido diagnosticado com Esquizofrenia quando tinha apenas doze anos, logo após de ter um ataque dentro da sala de aula, este que gerou uma briga deixando vários colegas machucados. Mesmo sendo violento, o estrangeiro tinha uma personalidade muito instável e, na maioria das vezes, se portava como uma criança de meros dez anos.

- É a grávida. – Zayn Malik respondeu, com seu tom de voz neutro.

O rapaz de topete e tatuagens espalhadas pelo corpo fora diagnosticado com TPAS com apenas cinco anos. TPAS é a sigla para Transtorno de Personalidade Anti-Social, mais conhecido também como psicopatia. Zayn sempre foi perigoso para sua família e amigos, principalmente por causa de seus pensamentos psicóticos.

- ME AJUDEM! – Allyson gritava com todos os seus pulmões. – EU PRECISO QUE ME GUIEM ATÉ O NOSSO SENHOR. EU SOU COMO VOCÊS! EU PRECISO DISSO! EU PRECISO ACHAR UMA RAZÃO! PRECISO DA MISERICÓRDIA!

Alexia Ferrer logo se aproximou dos dois, que se mantinham perto da janela.

Sua expressão medrosa denunciava sua dúvida perante aquela situação peculiar. A mulher de cabelos caramelizados – que preferia ser chamada só de Alexa – sofria de TPB, conhecido como Transtorno Personalidade Borderline. Era uma doença caracterizada pela personalidade fraca do individuo, que muda constantemente e duvida tudo que lhe é dito.

- Será que ela perdeu realmente o filho? – Alexia questionou assim que ouviu Allyson gritar que o bebê havia morrido por uma infecção.

Zayn não respondeu de imediato, mantendo seu foco nas expressões da enfermeira. O rapaz era frio, calculista e estava analisando muito bem a face de Allyson buscando qualquer indício de armadilha.

Do lado de fora, Ally mantinha suas emoções sobre controle. Ela estava vendo os vultos a encarando, esperando e tomando decisões. Sabia que já não conseguiria fugir e que era obrigada a continuar com o plano.

Porém, ela estava fazendo muito bem o seu papel. Seu olhar estava morteiro, as íris sem brilho. Tremia constantemente, deixando clara a fraqueza em que seu corpo se encontrava.

- Ela não estaria aqui caso ele estivesse vivo. – Zayn respondeu finalmente.

- Talvez ele tenha se tornado uma alma... – Luis comentou, com sua personalidade de criança vindo à tona. Os olhos dos estrangeiros brilhavam por causa da imaginação fértil. – E esteja a perseguindo, guiando-a para nós! Podemos salvá-la!

Zayn, com as emoções quase inexistentes, simplesmente revirou os olhos mediante a infantilidade do brasileiro. Luis era insuportável na maioria das vezes e, para completar, havia se tornado um inútil. Antes ele era ótimo com facas e tinha um bom porte físico, mas agora, sem uma mão, não conseguia fazer nada além de falar demais.

- Você acha que ela terá coragem de matar? – Alexa perguntou para Zayn.

- Mesmo que não tenha... nós podemos fazê-la ter.

O rapaz com as tatuagens sorriu ao ladear a cabeça, calmamente.

A única coisa que Zayn e Luis tinham em comum, além da loucura, era o amor pelo brinquedo favorito deles: a cadeira elétrica.

Durante os anos impiedosos em que sofreram torturas, a cadeira elétrica havia sido a mais leve punição. Os choques que levaram, de forma desumana, apenas pioraram ainda mais seus transtornos. E, desde então, eles faziam exatamente a mesma coisa com as pessoas: davam-lhe choques no cérebro até que estivesse tão fora do controle como eles.

- Então vamos aceitá-la?! – Alexia questionou novamente, duvidosa. – Ela é religiosa, então isso a fazer perfeita... não é mesmo?!

- Nós precisamos de mais pessoas, já que cinco de nós morreram naquela maldita fazenda. – Zayn completou, com o olhar se tornando mais duro.

- Além que ela pode nos dizer para onde os outros foram, não é mesmo? – Alexa continuou.

- Sim! – ele bufou, quase perdendo a paciência com aqueles dois.

Zayn não era o líder daquele manicômio, mas era quem ficava mais próximo dos seus “semelhantes”. Quem comandava e tomava as decisões ali, geralmente, não aparecia em público, pois se intitulava como um Enviado do Senhor, portanto, Zayn era o responsável por cuidar das coisas, sendo o braço direito dele.

Zayn então, já entediado, começou a andar pelo corredor com o intuito de ir até a porta principal. Tanto Alexa quanto Luis o seguiu. Assim como aqueles dois, que era a sua sombra, todos os habitantes do manicômio mantinham-se entre as penumbras daquele lugar o observando.

Eles eram sujos, magros pela ausência de comida, mas extremamente ágeis. Tinham as órbitas apagadas, porém em expectativa, prontos para atacar. Todos eram marcados por transtornos e doenças mentais, estas dos mais diversos níveis. Eram medrosos, principalmente por temerem que Zayn ou o Grande Líder, os castigassem. Até porque bastava um mísero erro para que isso acontecesse.

E assim que viram Zayn, em sua vestimenta negra e olhar gelado, passar pelos corredores, todos começaram a segui-lo como cãezinhos. O amor e idolatria que continham para com aquele rapaz era incompreensível e estavam dispostos a fazer qualquer coisa. E quando viram que ele estava prestes a tomar uma decisão, perante os gritos que vinham do lado de fora, nenhum ali cogitou em protegê-lo se necessário.

Allyson já estava tão compenetrada em sua pequena loucura que sequer expressou reações quando viu a porta frontal do manicômio ser aberta. A enfermeira estava selvagem, bufando e com o alter ego a consumindo.

O crucifixo tremia em suas mãos sujas.

Zayn, com seus cãezinhos ao encalce, se aproximou da loira de joelhos. Ele a estudou com curiosidade, ladeando a cabeça levemente.

- Levante-se! – ele ordenou.

Com as órbitas tão geladas quanto as dele, Allyson obedeceu. Ela então ergueu o rosto, deixando que as lágrimas grossas escorrendo por sua bochecha suja ficassem visíveis.

- Você quer Misericórdia? – Zayn questionou, sério.

Ally apenas afirmou com a cabeça, olhando os telespectadores macabros que a encarava. Todo o grupo estava ali, lhe lançando olhares assassinos.

Zayn deixou então que um breve sorriso surgisse.

- Luis Felipe... – o psicótico chamou pelo esquizofrênico. – Ela e o nosso brinquedinho são todos seus...

Por causa da expressão diabólica que se abriu no rosto de Zayn, Ally imediatamente tencionou. Ela grunhiu, assustada, ao sentir Alexa e Luis agarrarem-lhe pelos ombros e começaram, de forma brusca, a puxá-la para o interior do manicômio.

Mas antes de realmente passar pela porta, Zayn entrou em seu campo de visão sorrindo gentilmente.

- Não tenha medo, minha irmã... – ele disse, afagando o rosto úmido pelas lágrimas da enfermeira. – Logo você fará parte do nosso grupo!

Porém, o que eles não imaginavam, era que no interior do manicômio, mais especificamente no Prédio C, uma Lauren completamente assustada fugia pelos corredores.

A jovem aproveitava, sem saber, que todos estavam focados na chegada de Allyson ao grupo.

E, infelizmente, sabemos muito bem que a felicidade de Lauren Jauregui não durou por muito tempo.

Assim que os telespectadores voltaram para o interior do manicômio eles escutaram os barulhos dos passos de Lauren. Por conterem uma audição e uma visão muito apurada – por viverem naquela escuridão há anos – eles rapidamente localizaram a fugitiva.

A jovem de olhos verdes tentou se esconder, mas não conseguiu.

*Music On* (Fever Ray – The Wolf)

Zayn já conduzia Alexa e Luis, com Ally, pelos corredores do Prédio B quando escutou barulho de passos vindo em sua direção. Raramente o psicótico demonstrava emoções, ainda mais medo.

Mas, assim que ele avistou o Grande Líder caminhando até ele com uma expressão enraivecida, Zayn sentiu o coração acelerar.

O homem quase nunca saía de seu quarto na área D do manicômio. Cômodo esse que parecia mais uma suíte luxuosa, já que os habitantes dali eram obrigados a levar até ele qualquer coisa de valor que encontrassem por aí.

Alexa, Luis e os outros que vinham atrás de Zayn também se surpreenderam e, temerosos, logo ficaram de joelhos. Allyson ficou por meros segundos confusa até que foi forçada para baixo, ajoelhando-se também.

- Levante-se, Malik! – o líder rosnou.

Os olhos de Zayn já gritavam o medo que sentia.

O líder, aproveitando que seu braço direito estava de pé, simplesmente deu um passo para o lado deixando visível o seu capanga que segurava uma Lauren desacordada nos ombros. Um pouco de clorofórmio e pronto... ela estava quieta outra vez.

E, ao avistá-la, tanto Zayn e Allyson se surpreenderam, mas por razões diferentes.

A enfermeira por estar feliz em saber que sua amiga estava viva.

O psicótico por medo, já que havia sido estúpido o suficiente de deixar logo o Sacrifício fugir.

- Senhor, não foi minha culpa... – Zayn choramingou. – Estes idiotas que me seguiram! – ele apontou para os pacientes que olhavam tudo. – Eles deveriam ter ficado nos corredores, deveriam ter ficado nas alas! Eles me seguiram quando fui até lá fora checar mais uma nova integrante com potencial.

O líder, sereno como sempre, semicerrou os olhos enquanto observava a expressão aterrorizada de seu braço direito.

Colson Baker era um jovem portador de uma doença peculiar: Transtorno de Personalidade Múltipla. Mesmo com casos mais simples, o transtorno do homem de aproximadamente vinte oito anos era grave, tornando sua vivência na sociedade quase impossível. E, como se não bastasse, Colson também sofria de uma leve esquizofrenia, fato que apenas piorou seu quadro.

Loiro alto, magrelo, com tatuagens espalhadas por todo o seu corpo. Ele, com apenas quatorze anos, havia sido apelidado pelo nome Machine Gun Kelly quando, com uma AK-47, metralhou um supermercado inteiro simplesmente porque uma das vozes mandou – dentre as sete personalidades que habitavam no interior de sua mente na época.

Quando fora internado ali ele tinha meros quinze anos. Tanto ele quanto Zayn, Alexia e Luis Felipe foram as vítimas preferidas dos médicos inescrupulosos.

Entretanto Colson, ou simplesmente MGK, foi o que mais sofreu. Seus transtornos pioraram e acrescentaram mais personalidades em seu consciente, tornando quase insuportável viver dentro da própria cabeça.

Atualmente onze personalidades habitavam o corpo de Machine Gun Kelly.

E a décima primeira era a mais perigosa. Colson pensava ser um homem de 33 anos – comicamente a mesma idade de Jesus. Essa personalidade se desenvolveu intensamente depois que os habitantes da vila vizinha – os lunáticos religiosos – o encontraram:

Colson acreditava que Deus falava com ele. Acreditava que havia morrido durante as torturas e que seu corpo renascera como uma Fênix, enviada pelo próprio Criador. Seu dever era levar as pessoas à purificação.

E depois que o Apocalipse Zumbi teve seu início, o rapaz magrelo apenas teve certeza de seu Destino: ele era o Enviado para guiar a Terra à Misericórdia.

- Você está tentando colocar a culpa em seus irmãos e irmãs? – Colson perguntou com a voz ácida. – Além de ser um estúpido que deixou a nossa oferenda quase fugir, queres ainda colocar a culpa em minhas crianças?

Zayn automaticamente abaixou a cabeça, submisso.

- Sabes o que vai acontecer, não é? – Colson continuou encarando o rapaz cabisbaixo. – Já te livrei da última, porque deixastes aqueles Impuros fugirem na fazenda. Mas, agora, não serei mais misericordioso!

Alexa e Luis se entreolharam, temerosos.

- Levem-no para a crucificação! Preparem o fogo e o metal! – MGK ordenou para seus capangas que estavam atrás de si e ainda seguravam Lauren desacordada. – E levem também a nossa oferenda. Não a prendam mais na área C! Deixem-na em meu quarto!

Os capangas assentiram e saíram rapidamente dali, sumindo na escuridão dos corredores.

Zayn já tinha uma expressão desolada, pois sabia que seu Destino estava traçado. Seria crucificado, torturado e, se sobrevivesse, preso em um dos quartos até que sua alma estivesse pura outra vez.

Ele, por causa disso, sequer relutou quando mãos obedientes lhe agarraram os ombros.

- Levem a novata para a cadeira elétrica. Se ela sobreviver, poderá se juntar ao grupo após a cerimônia do Sacrifício de hoje à noite. Se ela morrer, a queimem na fogueira.

Allyson engoliu um grunhido de desespero assim que Alexa e Luis a colocaram de pé outra vez. Eles assentiram e, seguindo o caminho oposto que o líder fazia com seus capangas, levaram a enfermeira para dois corredores a oeste.

Escancaram a porta e praticamente jogaram Ally na cadeira com o estofado furado, com espuma vazando pelas laterais. Ela tentava lutar contra a jovem e contra o rapaz com apenas um braço, mas eles eram incrivelmente mais fortes.

Enquanto eles prendiam seus pulsos e tornozelos com fivelas negras e geladas, a enfermeira, chorando, olhava para os lados vendo a sala imunda em que se encontrava. As paredes continham manchas escuras, os cantos do cômodo eram banhados por penumbras macabras e a única luz dali vinha de um lampião aceso em cima de uma mesa.

- Vocês não precisam fazer isso! Eu entendo a Misericórdia de vocês! – ela implorava enquanto Alexa afivelava o seu último tornozelo. – Eu sou como vocês! Não há necessidade disso!

- VOCÊ NÃO É COMO NÓS! – Luis praticamente rosnou perto do rosto da enfermeira, a assustando. – Você não tem a mínima ideia do quê passamos aqui dentro!

- Por favor, não! – ela implorou ao ver o homem, com a única mão, agarrar um pedaço de pano. – Por favor, nã...

A sua voz morreu quando o pano foi enfiado em sua boca, sufocando-a. Sabia que aquilo iria servir para que, quando a intensidade da corrente elétrica que atravessasse seu corpo, o seu maxilar não tremesse e quebrasse seus dentes.

Luis pegou as pás de metal que estavam ligados a um desfibrilador, alimentado por uma bateria, e as estendeu para Alexa.

- Nós temos que ajudar o Zayn... – a jovem de cabelos caramelos se martirizou, ignorando as pás estendidas pelo esquizofrênico. – Ao mesmo tempo em que seja certo, eu acho que é errado deixarmos Zayn ser crucificado! Ele é o nosso amigo! Nós três éramos amigos antes disso tudo acontecer! E agora ele vai ter o abdômen perfurado por um metal derretido! Você não acha isso?!

- Eu apenas acho que o nosso Senhor tem plena e absoluta certeza do que faz. Se Zayn merece isso, se Deus acha que Zayn merece isso, ele terá! – Luis retrucou e estendeu outra vez as pás para ela.

- Nós temos que fazer alguma coisa! É o Zayn! – Alexa choramingou dolorosamente. – Lembra quando ele te ajudou?! Ele te salvou dos médicos! Ele nos deu comida até que o nosso Senhor nos ajudou! Eles nos salvou milhares de vezes dos mortos! Talvez... talvez... – ela colocou as mãos na cabeça. – Talvez possamos pedir ao nosso Senhor para que ele diminuísse a pena. Apenas marcá-lo como fizera conosco várias vezes!

Luis piscava com força, sentindo-se confuso com as milhares de vozes gritando dentro de sua cabeça. Ele começou a balançar seu corpo para frente e para trás, assim como uma criança emburrada.

- E ela? – ele perguntou, infantilmente. – Eu quero brincar com ela! – choramingou, apontando para Allyson.

- Podemos brincar depois, não podemos? – Alexa perguntou meio duvidosa.

- Eu acho que sim... – ele deu de ombros.

- Vamos deixá-la presa aqui! Eles devem estar na capela! Vamos!

Alexa praticamente puxou Luis Felipe pelo colarinho, obrigando o esquizofrênico a soltar as pás de metal. Eles saíram afobados da sala de tortura deixando a porta entreaberta assim como duas crianças inocentes.

Allyson, ainda como o pano na boca, piscava devagar e tentava entender o que acabara de acontecer.

Que porcaria fora aquela?!

Eles pareciam crianças, mas com mentes diabólicas.

E ao lembrar-se do perigo que corria a enfermeira decidiu aproveitar a milagrosa chance que ganhara, começando então a se debater na cadeira elétrica.

#

*Music On* (Into The Darkness – The Phantoms)

Não tão longe dali, de uma forma perigosamente perto, Dinah e Normani tinham os corações disparados pelo medo da inconsequência que faziam.

Elas passaram os últimos dias fazendo algo que nunca imaginariam fazer na vida: atrair zumbis por livre e espontânea vontade.

Normani, com sua Besta, acertou diversos esquilos, veados e roedores de médio e pequeno porte. Com eles mortos e com cortes grotescos para que o cheiro do sangue exalasse pelos ares, ela e a loira os espalharam por lugares estratégicos de forma que os zumbis famintos fossem meros ratinhos indo em direção à ratoeira.

Elas fizeram uma espécie de trilha usando os galhos grossos que caíram durante a tempestade, servindo como um trilho para que os zumbis não se dispersassem durante o caminho.

Ambas continham arranhões nos braços, machucados nos joelhos, sujeira acumulada, fome corrosiva.

Mas não paravam.

Elas conseguiram, surpreendentemente, reunir uma horda de mais de quatrocentos zumbis. Mais que nunca, a teoria sobre os mortos se reunirem estava comprovada.

Porém, não bastavam apenas os grunhidos característicos e nem a carniça para mantê-los compactados na estrada de terra.

Eles precisavam ser “atraídos”.

E Dinah era responsável por isso.

A loira tinha a respiração ofegante enquanto corria por entre os galhos sinuosos da floresta à beira da estrada, cheia de penumbras por causa da Lua Cheia.

Seus pulmões imploravam por oxigênio, mas ela não tinha tempo para supri-los. Em uma mão o seu machado número 1 estava sendo segurado firmemente enquanto, na outra, um saco plástico cheio de entranhas de animais chocalhava para lá e para cá.

Sua responsabilidade era ir pelas laterais e tentar evitar que os zumbis saíssem da estrada. A loira então corria há frente e jogava pedaços de vísceras servindo como o “queijo” na ratoeira.

Sobre uma motocicleta Yamaha modelo 2012 azul marinho, Normani pilotava no centro da estrada. O rangido do motor fazia com que os primeiros mortos, que lideravam a horda imensa atrás da morena, a seguissem como filhotinhos obedientes. A Besta na jovem estava presa às suas costas e o olhar focado no horizonte.

Dinah parou então de correr e girou seu corpo, tentando avistar ao longe algum sinal de Normani. A loira tinha dificuldades para ver algo em meio à escuridão da noite, mas, logo ao ver a morena sã e salva sobre a motocicleta, um suspiro de alívio escapuliu por seus lábios.

Ela, sem hesitar, começou a derramar o sangue misturado com entranhas na terra.

Assim que terminou jogou o saquinho vazio para o lado e esperou no centro da estrada. Normani já havia a avistado de longe, mas manteve focada no corpo bonito que era iluminado pela luz do farol da sua motocicleta.

Ela então desacelerou o suficiente para que Dinah pudesse passar um braço por sua cintura e montar na parte de trás da moto. Assim que a loira estava devidamente sentada, Normani girou o manete outra vez e a motocicleta urrou, chamando a atenção dos zumbis como deveria fazer.

E as duas então começaram a guiar os zumbis, esperando o cronometro zerasse.

#

Harry e Louis estavam, cada um, de um lado do manicômio. O jovem de cabelos longos se encontrava no lado esquerdo e o cientista no lado direito, mas, ambos estavam abaixados por entre moitas atrás das primeiras árvores próximas.

O jovem maior havia prendido seus cachos em um coque mal feito, evitando que qualquer fio o atrapalhasse. O franzino estava ansioso demais, por causa do medo que sempre o atrapalhava, mas sabia que, mais do que nunca, precisava ser corajoso por seus amigos.

Ambos seguravam em mão pistolas semiautomáticas com silenciadores na ponta.

Analisavam, cuidadosamente, os movimentos pelas janelas. Estavam ali já há um bom tempo tentando achar qualquer padrão entre os vultos que passavam pelas persianas.

Sabiam exatamente, agora, quantos desgraçados passavam pelos corredores e com qual frequência surgiam nas janelas.

Harry, focado, foi o primeiro a dar um passo em direção do manicômio. Mantendo-se por entre as penumbras que a Lua Cheia causava, ele fechou um olho e mirou na primeira silhueta que estava em pé em uma varanda na parte superior do prédio.

Assim que o jovem apertou o gatilho e o som do tiro – abafado pelo silenciador – rasgou o ar, a vítima grunhiu baixinho e caiu para trás morta.

Harry esperou por qualquer consequência. E assim que percebeu que deveria continuar, ele começou a se deslocar nas penumbras procurando pelos outros vigias.

Louis fazia o mesmo do outro lado. Ele mirava em uma silhueta na janela entreaberta e, após também apertar o gatilho, a vítima caiu para trás no corredor com o seu sangue esparrando na parede atrás dela.

E, logo após terem eliminado os possíveis e mais estratégicos vigias, ambos colocaram os dedos na boca e assoviaram alto.

#

Camila, Christopher e Cara esperavam, nervosos, na parte frontal do manicômio. E assim que a latina escutou os assovios, ela sentiu seu corpo congelar. Ela respirou fundo e, após uma troca de olhares com o irmão de sua garota, levantou-se e saiu detrás das moitas.

Seguindo o plano, Camila caminhou meio agachada até perto do prédio, aproveitando que a escuridão da noite cobria seus rastros. Moveu-se contra a parede e passou abaixada para que não fosse vista através das janelas.

Quando escolheu qual janela iria entrar, a latina pegou um impulso para cima e implorou mentalmente para que seus modos desajeitados não a condenassem agora. Devagar, ela subiu o vidro e colocou uma perna atrás da outra, adentrando no interior do quarto fedido, gelado e escuro. Rapidamente Camila pegou a lanterna que estava no cós de sua calça e iluminou o lugar, sentindo seu coração acelerar ao deparar-se com as paredes manchadas e o cheiro de morte.

Mesmo com medo, ela continuou a andar em silêncio. Tinha em mente precisava continuar para salvar sua garota e nem o próprio Demônio a impediria disso.

*Music On* (Devil Inside – J2 – Feat. Casey Hensley)

Camila guardou a lanterna no cós da calça jeans suja e colocou a mão na maçaneta da porta, hesitando por alguns segundos. Ela engoliu seco, apertando involuntariamente sua Dan Wesson na mão direita, que estava suada.

Camila girou o metal e abriu meros centímetros a porta. A escuridão, medonha, banhava todo o corredor comprido.

Com mais uma onda de coragem louca, ela abriu a porta devagar praguejando o barulho que as dobradiças enferrujadas faziam.

A latina então colocou o capuz negro na cabeça e se infiltrou na escuridão.

O plano até aquele momento estava dando certo, pois, por causa da chegada inesperada de Allyson, os habitantes do manicômio encontravam-se ansiosos. Eles cochichavam uns com os outros e estavam desatentos, tentando compreender a novidade e enxergar além da cortina que seus transtornos e doenças bloqueavam.

Camila seguia sua rápida caminhada pelos corredores, de cabeça baixa para não chamar a atenção. Mas então, ao avistar uma silhueta virar uma interseção, ela sentiu seu coração acelerar como um louco. Ela hesitou por alguns segundos, mas logo persistiu no plano.

A habitante era uma mulher baixinha e magrela, com marcas de queimadura nos braços. Os cabelos eram secos e ela tinha uma expressão desolada no rosto, mais parecendo uma assombração. Ela, assim que passou por Camila no corredor, franziu o cenho ao perceber que ela era uma novata. Mas por sofrer do transtorno de Prosopagnosia, a mulher tinha deficiência de percepção e simplesmente conseguia reconhecer os rostos das pessoas. Ela não reconhecia nem o próprio rosto no espelho.

A mulher, mesmo confusa, continuou seu caminho.

Mas Camila não.

A latina parou de andar assim que a mulher inocente passou por ela, tendo, dentro de si, uma luta interna sobre o que fazer agora: matá-la ou deixá-la viver?!

Ela então tomou uma decisão.

Camila enfiou a mão no bolso do moletom e retirou um fio de nylon grosso. Mesmo com uma expressão de arrependimento no rosto, ela girou o corpo e deu passos rápidos até a mulher que caminhava na outra direção.

Camila passou o fio de nylon pelo pescoço da habitante que se assustou, mas não pôde gritar, pois, em questões de segundos, suas vias áreas estavam sendo pressionadas.

Lágrimas se acumulavam nos olhos de Camila então ela segurava a mulher que se debatia em seus braços, procurando por ar. A louca grunhia, tentando retirar o fio da garganta. Mas em questões de segundos o oxigênio terminou no interior de seus pulmões e Camila então sentiu, logo em seguida, o corpo alheio ficar mole.

A latina a soltou e a mulher caiu morta, de olhos abertos, no chão.

Camila demorou alguns segundos para tentar absorver o que acabara de fazer.

Seu estomago revirava e as lágrimas queimavam seus olhos, mas ela não chorou.

A latina então inspirou fundo, ignorando os gritos de arrependimento dentro de si, e puxou o corpo inerte da mulher para dentro de um quarto abandonado. Ela retirou um canivete do bolso e com a lâmina afiada penetrou a lateral da cabeça da mulher, evitando que ela voltasse como zumbi.

Camila saiu outra vez do quarto e continuou sua caminhada silenciosa pelo corredor.

Logo avistou mais duas pessoas em um corredor adjacente. Era um homem e uma mulher e ambos usavam vestimentas hospitalares sujas, caminhando em sua direção enquanto conversavam coisas sem nexo.

Camila jogou o arrependimento, de uma vez por todas dentro de uma gaveta, e ergueu o braço já apertando o gatilho duas vezes.

O brilho dos disparos feitos pelo silenciador iluminaram o lugar e logo os dois caíram mortos com buracos na testa.

A jovem sequer se deu o trabalho de olhar suas duas vítimas. Ela apenas arrumou o capuz na cabeça e continuou sua caminhada pelo corredor do prédio A.

Ela, finalmente, chegou até uma porta que dava para o lado de fora do casarão. A destrancou e a escancarou. Enquanto Christopher e Cara adentravam, Camila já mirava e atirava em um individuo que surgia no alto da escada que levava ao segundo andar do lugar.

Christopher portava um fuzil e tinha em suas costas o seu escudo. Cara segurava uma pistola com silenciador, com o seu escudo na mão esquerda.

Os três, encapuzados, logo começaram as suas partes do plano: escancaravam as portas à procura de Lauren e Niall.

Quando alguns pacientes surgiram nos caminho... eles os abatiam.

E aquela foi a primeira vez que Cara Delevingne matou humanos.

#

Troy e Demi percorriam o outro extremo do manicômio. O loiro com sua esperteza pulara uma janela e ajudara a cientista no processo, evitando que Camila precisasse abrir passagem para eles também.

Os dois agora estavam afoitos e tentavam se esconder dos habitantes que às vezes surgiam nas interseções.

Eles não os matariam.

Não estavam ali para assassinar.

Estavam ali para salvar a família.

Os dois então percorriam os corredores meio agachados, com o loiro segurando um facão e a cientista uma pistola com silenciador.

Abriam sala por sala, procurando por Ally.

No interior de uma sala não tão longe dali, Allyson segurava os grunhidos de dor por causa da tamanha força que fazia para esticar seus dedos. A enfermeira já havia conseguido cuspir o maldito pano da boca, portanto, respirava profundamente para manter-se calma.

Ela tentava pegar um maldito bisturi que estava disposto em cima de uma mesa metálica ao lado da cadeira elétrica. Seus pulsos estavam presos por fivelas de couro e as pontas dos dedos da enfermeira apenas alisavam a lateral da bandeja de metal, tentando a puxar.

Ally já estava naquela luta há mais de dez minutos e o suor do nervosismo brotava em sua testa.

Mas assim que ela ouviu passos no corredor o seu corpo congelou. Ela encarou a porta e parou de tentar chegar ao bisturi.

A porta foi escancarada e a primeira imagem que ela viu foi a do seu amado segurando um facão com as duas mãos. Assim que seus olhares se cruzaram, em ambos, uma onda inexplicável de alívio percorreu os corpos.

- Oh, Troy... – Ally choramingou, ao avistar o anjo que vinha em sua direção.

- Meu amor... – ele suspirou, prendendo o facão no cós da calça.

O rapaz alto não hesitou duas vezes e em meros segundos cruzou toda a sala, já afoito para salvar sua mulher. Ele tinha um sorriso aberto nos lábios enquanto desfivelava o couro que prendia os pulsos e tornozelos, já vermelhos, de Allyson à cadeira elétrica.

Demetria permanecia na porta, olhando se alguém se aproximava pelos corredores.

Assim que se viu livre, Allyson pulou nos braços do amado e ele, imediatamente, retribuiu ao abraço. Troy apertou sua loirinha contra o corpo, sentindo o seu calor tão característico que apenas ela tinha. Ambos fecharam os olhos, agradecendo a quem estivesse lá em cima por terem se encontrado outra vez.

Mas logo Allyson, mesmo contra sua vontade interior, soltou o loiro alto e afagou o rosto dele, obrigando-o a encará-la.

- Nós precisamos sair daqui!

Troy assentiu e entrelaçando seus dedos ao de Ally, a puxou pela sala de tortura. Demetria abriu mais a porta para eles e assim que passaram a cientista a fechou, fingindo que nada houvesse acontecido.

#

- Eles estão indo para a capela... – Cara murmurou, olhando através das persianas de uma janela.

A arquiteta olhava para dois indivíduos vestidos de negro que caminhavam pelo pátio. Eles subiram os degraus da capela, cabisbaixos, e depois de fazer uma referência às portas de madeira do lugar, a abriram e adentraram.

- Não temos a mínima noção de quantos existem lá! – Camila falou, logo atrás. - Devemos ir até o arsenal primeiro! Este é era o plano!

- Mas não esperávamos que todos estariam reunidos em um só lugar! – Cara retrucou a latina. – Não podemos perder essa oportunidade, Camila! Podemos encurralá-los lá!

- Eu preciso concorda com ela... – Christopher murmurou, olhando apreensivo para Camila. – Há apenas um jeito de descobrir... Lauren e Niall com certeza estão lá!

Camila não estava feliz com uma mudança no plano tão em cima da hora. Ela não deixou que emoções transparecessem, mas, uma parte de si não estava nem um pouco de acordo com as coisas que estavam acontecendo.

Suas mãos continham agora sangue de pessoas vivas.

Porém, ignorando sua consciência, a latina assentiu e começou a seguir os dois pelo corredor escuro.

*Music On* (Breath of Life – Florence + The Machine – Snow White and the Huntsman)

E, naquele exato momento, tudo no plano começou a dar errado.

O primeiro fato foi que, ao contrário do que esperavam, os habitantes do manicômio encontraram os mortos no chão muito rápido. Por morarem em um lugar onde não há luz, institivamente, o olfato estava meramente mais aguçado e, de longe, sentiram o cheiro do sangue no ar.

Assim como zumbis.

Os mais fracos e perturbados já choravam descontrolados ao verem os colegas mortos, e os mais fortes e mais perigosos já pegavam suas lâminas preparando-se para a batalha.

Eles então colocaram dois dedos na boca e reproduziram os sons característicos.

Camila, Christopher e Cara não se encontravam nem na metade do pátio, que era rodeado por árvores mortas e grama baixa, quando escutaram os assovios metálicos.

Os três sentiram os corpos congelarem e os corações virem até a garganta.

Os três pararam imediatamente de correr e olharam para os lados, assustados e já ofegantes. Tentavam ver qualquer coisa além dos paredões de penumbras que encobriam os prédios e deixavam apenas que silhuetas medonhas ficassem expostas atrás dos vidros das janelas.

Os habitantes dali os encaravam, assim como almas penadas, por detrás das janelas com expressões enraivecidas.

E então eles abriram as janelas e ergueram suas facas, já as lançando com velocidades extraordinárias. As lâminas refletiam o brilho da Lua Cheia, no centro do céu.

Cara e Christopher tiveram tempo apenas de ofegar, surpresos. Eles levantaram os escudos a tempo de evitar que as primeiras facas os atingissem. As lâminas ficavam fincadas na madeira, com as pontas completamente afiadas encrostadas ali. Os dois se aproximaram de Camila e colocaram a menor entre seus corpos, protegendo-a.

Tudo se movia em câmera lenta para eles.

Camila não acreditava que o plano dera errado e tinha os olhos arregalados, sentindo um medo que nunca sentira em sua vida. Christopher tinha o coração disparado e apertava o gatilho de seu fuzil, tentando acertar qualquer desgraçado nas janelas. Cara Delevingne tinha os olhos fechados e implorava para que seu braço se mantivesse firme, aguentando as pancadas das lâminas que vinham com uma força incrível.

- CORRAM! – Christopher gritou, acordando ambas da entorpecência.

Os três começaram a dar passos para o lado, ainda mantendo a formação com os escudos.

Camila aproveitou as duas mãos livres e começou a disparar com sua pistola. Ela jurava ouvir o coração batendo nos ouvidos, mas tentava manter-se focada nos indivíduos que lançavam as facas. De cinco tiros, errou três. Um acertou no ombro de uma velha raivosa. Outro acertou no peito de um jovem de meros vinte e um anos.

O que eles não esperavam era que a formação iria quebrar no momento que um grito de dor rasgou a garganta de Christopher. O corpo do rapaz se contraiu assim que a dor lacerante da faca penetrando sua panturrilha esquerda rasgou seu músculo. Ele grunhiu, perdendo as forças totalmente.

Camila, em um movimento de puro reflexo, conseguiu passar os braços pela cintura do Jauregui, tentando o manter de pé. Mas, por ambos agora estarem expostos às facas que vinham incansavelmente, logo um grunhido de dor saiu por entre os dentes de Camila, que fechou os olhos com força ao sentir sua barriga ganhar um corte de dez centímetros.

Mesmo com o corpo contraindo e rosto vermelho pela força que fazia, Camila conseguiu erguer outra vez o corpo debilitado do Jauregui. Christopher engoliu então a dor e, sentindo como se milhares de agulhas entrassem em sua perna, a apoiou novamente no chão. Ele puxou a faca pelo cabo de madeira, a retirando da panturrilha com uma rajada de sangue espirrando. Ficou ereto novamente e ergueu outra vez o escudo, voltando a tentar proteger a garota da sua irmã.

Ele devia isso à Lauren.

E então, repentinamente, as portas da capela foram escancaradas com um estrondo.

Os três olharam para frente assustados e viram a figura alta e magrela de Colson. Ele estava sem blusa, deixando suas infinitas tatuagens pela barriga e braços expostas.

Machine Gun Kelly tinha um sorriso doce nos lábios e os braços abertos assim como a figura de Jesus Cristo.

- PAREM! – ele gritou.

Quando os habitantes dali o viram e escutaram sua voz, eles surpreendentemente pararam no mesmo instante os lançamentos e os assovios ríspidos.

O silêncio então reinou no lugar penumbroso, com apenas as respirações ofegantes dos três ressurgindo.

Christopher tinha um braço passado sobre os ombros de Camila, que o ajudava a ficar de pé. Cara possuía os olhos arregalados, temerosos.

Estava errado. Tudo errado.

- Para mostrar misericórdia... – MGK gritou abertamente, ainda de braços abertos. – Vou dar a vocês duas opções: se entreguem ou morram!

Enquanto Colson abria um sorriso medonho, mostrando sua superioridade, Camila devagar deslizava a mão até o cós detrás de sua calça. A latina mantinha um olhar frio sobre a figura magrela à sua frente, tocando de leve a arma de plástico às suas costas.

Camila então, calma de um modo que nunca esperaria estar, apenas deu uma risada nasal debochada.

- Não importa qual escolhamos... – a latina murmurou, retirando o sinalizador das costas. – Nos vamos morrer de qualquer jeito... Então... Eu prefiro encontrar todos vocês no Inferno!

E em um movimento rápido, Camila ergueu o braço e apertou o gatilho do sinalizador, o disparado. A chama amarela foi lançada para cima, brilhando no céu escuro.

Machine Gun Kelly e os habitantes do manicômio apenas tiveram meros segundos para ficarem confusos com a ação da latina, pois, rapidamente garrafas começaram a cair sobre os prédios, dentro dos corredores e, principalmente, no pátio. As garrafas de vidro estavam embebidas por gasolina, com pedaços de pano que servia de pavio para a chama que queimava na ponta das mesmas.

Elas explodiam, jogando o líquido inflamável em todas as direções e fazendo com que as chamas engolissem os prédios em uma rapidez incrível.

#

- Merda! – Dinah rosnou, abraçando sem perceber a cintura de Normani, que ainda segurava firmemente o guidão da motocicleta.

Os barulhos dos tiros, gritos e explosões ecoavam por toda a floresta negra, com o brilho dos mesmos parecendo fogos de artifícios no horizonte. Os zumbis, assim como farejadores, começavam a se deslocar para a direita adentrando por entre os galhos sinuosos e seguindo a fonte dos sons.

- Já passaram dez minutos?! – Normani arfou aterrorizada.

- Não! – Dinah vociferou, olhando em seu relógio de pulso. – Alguma coisa deu errado! Muito errado! Apenas cinco minutos se passaram!

- Nós precisamos manter os zumbis aqui! – Normani grunhiu, girando manete e fazendo o motor urrar. – Não podemos deixar que eles sigam até o manicômio antes que o tempo extrapole!

Dinah assentiu e começou a gritar, derramando ao mesmo tempo mais vísceras de animais na estrada de terra. Normani enquanto isso fazia o motor urrar, também vociferava coisas desconexas.

Alguns zumbis giraram os corpos em decomposição, voltando a marchar em direção da passeata que seguia pela estrada de terra.

- Eles precisam ser rápidos! Não vamos conseguir segurá-los por muito mais tempo! – a loira suspirou ao ver que toda a carne animal que levava havia acabado.

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Momentos antes das explosões, Troy, Ally e Demi percorriam os corredores escuros e frios que interligavam o prédio D. Demetria, sem escolha, precisava matar aqueles que surgiam pelo caminho. Eles já sabiam que haviam sido descobertos, portanto, corriam agora para tentarem sair dali antes que fosse tarde demais.

Os três estavam ofegantes, com os corações disparados. Por causa da ausência de luz, as pupilas estavam dilatadas para tentar ver alguma coisa.

Troy mantinha os dedos da mão direita entrelaçados com os de Ally, querendo que ela ficasse perto de si.

- ALGUÉM ME AJUDE! POR FAVOR! – eles ouviram os gritos no final de um corredor não muito distante dali.

Eles pararam de correr no mesmo instante, assustados com o tom desesperado.

- POR FAVOR! – a pessoa continuou a chorar, implorando.

Allyson olhou para Troy e Demi, sem saber o que realmente fazer.

- Não podemos o deixar aqui!

- Ally, nós não temos tempo! – Demi tentou impedir, mas logo e enfermeira balançou a cabeça em negação. – Nós precisamos seguir o plano!

- Sempre há tempo para salvar pessoas! – Ally retrucou, com o bolo de choro apertando sua garganta. – Você não tem ideia do que isso aqui é, Demetria! Isso é o Inferno! Ele será torturado e morto!

Demi fechou os olhos, suspirando pesadamente por causa da teimosia da enfermeira. Troy passou as mãos geladas pelo rosto, acalmando-se para tentar pensar.

- Merda... – o homem rosnou, sabendo que estava prestes a tomar uma decisão errada.

Ele continuou e então pegou outra vez a mão de Ally, começando a puxá-la pelo corredor. Demetria simplesmente balançou a cabeça sem acreditar que estavam fazendo mesmo aquilo, mas não se opôs, e segui os dois em busca da origem dos gritos por socorro.

Troy rapidamente achou a porta certa. Os gritos atrás dela estavam mais intensos, denunciando que a vítima estava presa ali. O loiro então pediu distância para as duas mulheres e deu passos para trás. Inspirou fundo e correu em direção da porta, chocando seu ombro contra a madeira diversas vezes até que fechadura quebrou.

Shaun se assustou quando viu o loiro alto cair todo estabanado para dentro do quarto após a última pancada. Troy logo colocou-se de pé e começou a retirar os resquícios de madeira dos braços enquanto Ally e Demi corriam até Shaun para soltá-lo da cadeira em que estava amarrado.

Ele havia sido descoberto tentando retirar Niall da cruz e preso ali para ser torturado ao fim do sacrifício.

Ally e Demetria soltaram o rapaz que, meio desengonçado, praticamente pulou da cadeira.

- Quem são vocês?! – ele perguntou, passando as mãos pelos pulsos.

- Não importa! Não temos tempo! Precisamos sair daqui! – Demetria vociferou.

- Merda! Rápido! – Troy rosnou e, portando a arma de Demetria, começou a disparar em direção dos dois loucos que corriam até ele.

O ex-motorista acertou um no ombro, que caiu gritando no chão. E acertou o outro no meio da testa, com seu sangue e cérebro espirrando por todos os lados.

Entretanto, antes mesmo que os quatro conseguissem chegar até a metade daquele corredor, as primeiras explosões provenientes dos Coquetéis Molotov começaram a eclodir.

Uma garrafa foi jogada perigosamente perto deles, fazendo com que as chamas pulassem nas cortinas e nas madeiras das janelas, alimentando-se rapidamente das paredes.

O loiro, institivamente, jogou-se sobre o corpo de Allyson protegendo-a contra os cacos de vidro que explodiram. Demi abaixou-se, cobrindo a cabeça com as mãos, e Shaun fez o mesmo.

Infelizmente Harry e Louis, os quais jogavam as bombas caseiras, não tinham a mínima ideia que eles se encontravam ainda no interior dos prédios.

O fogo logo se alastrou pelo papel de parede branco, queimando os móveis velhos. Todas as árvores ao redor, as moitas, as paredes externamente, estavam embebidas por gasolina jogada mais cedo.

Em questões de momentos os quatro prédios e capela estariam tomados pelas chamas.

#

Camila jurava conseguir sentir suas pupilas contraídas por causa do medo. O pulmão queimava, as pernas tremiam e o coração parecia pular de sua boca.

Tudo estava errado.

A latina se encontrava abaixada atrás de uma pilastra do pátio, tentando se proteger dos cacos de vidros que voavam.

Antes que o fogo tomasse conta das árvores secas, Camila, Christopher e Cara conseguiram sair correndo do pátio. Quando as explosões começaram os três aproveitaram os segundos de vantagem e correram, jogando-se por detrás de uma beira da de cimento, ofegantes e trêmulos.

Machine Gun Kelly ao perceber que havia algo extremamente errado voltou correndo para o interior da igreja, escondendo-se ali. Boa parte dos habitantes do manicômio se encontrava na nave da igreja. Eles estavam assustados e por causa de seus transtornos, os mais fracos pensavam que – literalmente – Inferno estava dominando o lugar. Rezavam pensando que aquele fosse o Fim dos Tempos já que, de acordo com eles, estava chovendo fogo.

Colson gritava de raiva. Ele era louco, continha distúrbios, mas não era estúpido. Sabia que era um grupo com um relativo número de integrantes e, sabia também, que se eles conseguiram adentrar no manicômio e agora ter livre caminho para lançar bombas, era por que seus vigias e guardas frontais já haviam sido mortos.

*Music On* (Don’t Let Me Go – RAING)

- Quanto de munição vocês ainda tem? – Christopher perguntou para ambas enquanto recarregava o seu fuzil, puxando o ferrolho. – Eu tenho apenas mais um pente.

- Eu tenho oito balas. – Cara respondeu, checando sua pistola.

Camila olhou a sua Dan Wesson e viu que restava-lhe apenas mais duas balas no tambor.

Ela fechou os olhos para tentar respirar e não entrar em pânico.

E, quando se sentiu preparada, ameaçou ficar de pé para correr até aquela igreja... se fosse preciso.

Mas Christopher, ao ver vultos acima da barragem de cimento, agarrou Camila pela cintura e colocou uma mão sobre sua boca, fazendo-a não grunhir.

- Onde está o sacrifício?! – um paciente, que pelo tom de voz parecia ser um mandante, questionou outro que estava desesperado pelas explosões.

Os dois estavam atrás das pilastras, sem ter noção que os três estavam ali.

- Ela morreu! – o submisso berrou. – Todo o bloco D está caindo aos pedaços, tomado pelo fogo. Lauren e todos que estavam naquele bloco morreram! Ela estava presa no escritório do nosso Senhor, mas as chamas chegaram primeiro. Eu vi com os meus próprios olhos o corpo em chamas! Estamos sendo castigados pelo próprio Pecado por termos deixado a nossa oferenda morrer. Estamos condenados à morte pelas chamas do Inferno!

Naquele momento Camila sentiu todo o chão abaixo de seus pés desmoronar.

Seu olhar fixou no nada, com as lágrimas nascendo lentamente, mas de forma ácida em suas órbitas sem brilho. Seu peito estava sendo triturado como uma máquina moedora.

Camila não conseguia respirar.

O ar não entrava em seus pulmões dopados por toda a entorpecência que consumiu seus músculos.

Christopher não estava muito diferente. O Jauregui segurava um grito de dor na garganta com tanta intensidade que as veias em seu rosto estavam dilatadas.

As lágrimas nasciam, seu coração doía por sentir aquilo pela segunda vez em sua vida.

Havia perdido outra irmã.

Cara tentou segurar o rapaz, mas não conseguiu.

Guiado pelo desejo de vingança e pela dor que transbordava seu peito, Christopher soltou Camila de qualquer jeito e colocou-se de pé um só movimento. Antes mesmo que os dois loucos pudessem ter qualquer reação, o Jauregui já apertava o gatilho e metralhava os dois corpos que se chocalharam com os impactos das balas.

- NÃO, POR FAVOR! DEUS, NÃO! – Camila gritava dolorosamente enquanto soluços e lágrimas quase a afogavam, impedindo-a de respirar. – MINHA LAUREN, NÃO!

 “Ela estava presa no escritório do nosso Senhor, mas as chamas chegaram primeiro. Eu vi, com os meus próprios olhos, o corpo em chamas!”

Ela não acreditava que aquilo estava de fato acontecendo.

A latina se rastejou humilhantemente pelo chão, saindo da proteção da barragem.

Ela tremia, desesperada e tentava olhar em direção do prédio onde supostamente o corpo de sua amada estava sendo tomado pelas chamas.

Gritos de dor rasgaram sua garganta quando viu todo o prédio consumido fogo avermelhado.

- LAUREN! – Camila gritou com todos os seus pulmões, sentindo seu coração quebrando em trilhões de pedaços.

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- Amor... você está bem?! – Troy chamou por Allyson que tossia, com uma mão cobrindo o rosto.

O loiro a ajudou ficar de pé, assim como Demi.

Allyson fez um afirmativo com a cabeça e olhou para o lado, procurando por Demi. Ao ver que a amiga estava bem, checou Shaun e o viu também tossindo pela quantidade de fumaça que crescia rapidamente.

- Não vamos conseguir! – Demetria choramingou com lágrimas escorrendo por suas bochechas sujas de fuligem.

Seus olhos ardiam como o inferno por causa da quantidade preocupante de óxido de carbono presente no ar. Os quatro tossiam intensamente tentando achar qualquer saída por entre os corredores que pareciam não acabar mais. As chamas já subiam pelas paredes, com o estralar da madeira queimando.

Pacientes passavam correndo com as chamas consumindo suas vestimentas e chegando até suas peles, queimando-os vivos.

Os gritos eram desesperadores. O cheiro de carne humana queimada era terrível.

- Nós precisamos cont...

Antes mesmo que Troy pudesse dar final a sua fala um estrondo o interrompeu.

O loiro mal teve tempo de olhar para cima antes de ver uma parte do teto desabando, com tábuas de quase doze metros despencando pelas chamas.

O rapaz institivamente conseguiu puxar Allyson e Demetria pelos braços, pulando junto a elas para o lado direito.

Shaun também teve a mesma reação, porém, o albino pulou para o lado contrário.

E assim que abriu os olhos viu, em meio fumaça, o paredão de tábuas e fogo que o separava dos outros três.

Troy, Ally e Demi assim que ficaram de pé começaram a chamar pelo desconhecido, mas Shaun estava se sentindo sufocado demais pelo gás emitido na combustão das chamas para responder.

- Ele morreu? – Demi choramingou.

- Nós precisamos continuar! – Troy grunhiu, já zonzo pela fumaça.

O ex-motorista começou a puxar a amada pelo braço outra vez, sendo seguido pela cientista enquanto driblava as chamas do corredor.

Do outro lado do paredão de fogo, Shaun se encolhia para que as chamas não lhe atingissem. Ao perceber que havia sido deixado para trás, o albino começou a correr na única direção livre, voltando para onde estava antes.

Decidiu pegar outro corredor, um com menos fogo, esperando que conseguisse achar uma saída.

Ele entrava em interseções sem ao menos saber onde estava.

Exasperado e com os olhos ardendo, Shaun sequer percebeu que, ao chocar-se contra a porta e entrar em um cômodo abruptamente, aquele lugar era um dos últimos quartos da ala D.

Entrara, por acidente, no escritório de Colson.

Olhou ao redor, tentando enxergar qualquer coisa além da parede de fumaça.  O escritório de MGK era luxuoso ao extremo.

- Lauren?! – o jornalista gaguejou ao ver o corpo desacordado sobre uma cadeira vermelha e fofa.

Mas antes mesmo que pudesse ir até ela, um grito o fez olhar para o lado e ver uma louca psicótica correndo em sua direção.

Shaun se assustou e agarrou o primeiro objeto que lhe veio em mãos. O jornalista pegou um troféu que estava disposto em cima da mesa de centro e golpeou com força a lateral do rosto da louca, que era a vigia daquele lugar. A mulher cambaleou para o lado e o jornalista não hesitou em jogar-se em cima dela, golpeando-o repetidas vezes sua cabeça.

Shaun, ofegante, jogou o troféu coberto de sangue para o lado e não perdeu tempo em correr até Lauren, começando a desamarrar os fortes nós que prendiam seus pulsos a cadeira.

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- Isso não vai funcionar! – Dinah ralhou ao ver que os zumbis, outra vez, começavam a marchar em direção do manicômio. – Ainda faltam dois minutos e meio!

- Eu tenho uma ideia... – Normani praticamente gritou para que sua voz soasse mais alto que o barulho dos zumbis e do motor. – Vamos passar pela floresta, na estrada de cascalho, e vamos tentar chamar a atenção deles novamente. Não adianta mais tentar mantê-los aqui. Precisamos pará-los antes que saiam de entre as árvores!

- Então vamos! – Dinah concordou, abraçando-se a cintura da morena.

Normani acelerou a moto e pegou um impulso, ganhando velocidade ao entrar em uma estrada de cascalho que daria diretamente no manicômio. Aquele era o caminho usual para chegar até lá, antes do Apocalipse.

A motocicleta tinha dificuldades em transitar por causa do trepidar, com o farol brilhante iluminando o horizonte distante marcado por chamas, zumbis e tiros.

Dinah estava com um braço passado na cintura da morena, procurando não cair enquanto que, com uma mão, acertava com o machado nos andarilhos que ousavam se aproximar de ambas.

Com uma velocidade relativamente baixa mediante a aproximação dos mortos, Normani continuava a lutar contra o guidom que tremia.

*BANG*

Porém, sem que ambas esperassem, um barulho de tiro rasgou o ar. O pneu dianteiro da motocicleta praticamente explodiu, fazendo toda a moto desestabilizar e os dois corpos serem jogados para frente bruscamente.

Ambas caíram estabanadas no chão cheio, sentindo as peles dos braços expostos serem arranhadas por causa das pontas dos cascalhos e de galhos.

Elas rolaram e tentaram, com as mãos, proteger a cabeça.

Alguns segundos se passaram enquanto as mulheres grunhiam, esticadas na estrada escura.

Normani suspirava em dor e segurava o braço direito contra o peito. O ombro havia se chocado com o chão em uma força surpreendente, causando o deslocamento do osso. A morena olhava a protuberância causada pela posição anormal de seu ombro enquanto tentava segurar seus gritos.

Dinah tinha as roupas imundas pela poeira e arranhões no rosto, com pequenos filetes de sangue escorrendo. Felizmente, a loira não havia quebrado nada mesmo sentindo seu corpo latejar. Devagar ela ficou de pé, já olhando para os lados à procura de Normani.

Seus machados e Besta de Normani estava há metros dali, assim como a motocicleta tombada.

- Normani?! – Dinah exasperou ao ver a morena esticada no chão.

Ela correu até a morena e agachou-se ao seu lado, desesperada.

- Você está bem?! Por favor, me diga que você está bem! – a loira choramingou, tentando de qualquer maneira ajudar.

O simples pensamento de Normani estar gravemente ferida a fazia enlouquecer.

Mesmo com caretas de desconforto e olhos marejados, a morena fez um afirmativo com a cabeça.

Dinah suspirou aliviada. Ela então, lentamente, passou um braço pela cintura de Normani e tentou ajudá-la a ficar sentada no cascalho, tomando cuidado para não tocar no ombro visivelmente deslocado.

Mas, antes mesmo que a loira alta pudesse efetuar qualquer outra ração, ela sentiu um cano gelado de pistola pressionar bruscamente a sua nuca.

Seu coração parou de bater por alguns segundos. Ela então olhou para o rosto de Normani e viu a morena encarando, com medo, alguém atrás dela.

- Ora, ora, o que temos aqui...

A pessoa desconhecida deu alguns passos para o lado, ainda mantendo a cabeça da loira na mira.

Dinah então ergueu o olhar e sentiu seu queixo cair ao encarar o sorriso delinquente de Halsey.

A jovem de cabelos azuis longos assoviou levemente, como se fosse um aviso. E, pouco depois, mais duas mulheres devidamente armadas surgiram por entre os galhos. Tanto Halsey quanto as outras sequer se importavam com o que estava acontecendo há poucos metros: elas apenas cuidavam dos próprios negócios.

- Eu disse que você não fugiria de mim... – Halsey ameaçou Dinah, que ainda a encarava surpresa.

As duas capangas agarraram Normani bruscamente, fazendo-a gritar em dor por causa do ombro deslocado. Dinah tentou fazer algo para proteger sua garota, mas, antes mesmo de conseguir ficar de pé, ela recebeu um golpe do cano da pistola de Halsey na lateral da cabeça, apagando.

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A horda agora marchava ritmada em direção do manicômio, descontrolada e sem ninguém para impedi-la. Os zumbis grunhiam alto e ficavam cada vez mais irritados .

Harry e Louis eram aqueles que se encontravam mais expostos, por estarem do lado de fora. Os dois já estavam um do lado do outro, entre as moitas, e continuavam a atirar em qualquer paciente que passava pelas janelas ou que tentava sair pelas portas.

Sabiam que algo havia dado errado, porque os gritos e a demora de seus amigos só indicavam isso.

O cientista olhou para o jovem de cabelos presos com uma expressão chorosa. Mas o maior sequer teve tempo de responder, pois os grunhidos característicos dos zumbis ecoaram por entre os galhos da floresta.

A horda já estava ali.

Os zumbis que lideravam o mutirão estavam em graus de decomposição avançados. As roupas estavam aos pedaços, sujas de barro e sangue seco. As peles enrugadas, outras com pus, outras até com vermes expostos.

- Não vamos conseguir esperar mais! – Harry gaguejou assustado pela rapidez dos mortos-vivos.

- Mas ninguém apareceu! – Louis chorou. – Dinah e Normani estavam responsáveis por segurá-los! O que aconteceu?!

O cientista ergueu a pistola e disparou no primeiro morto-vivo que estava relativamente perto. Ele era velho e tinha o rosto desfigurado com a mandíbula pendurada. Ao receber a bala no crânio ele caiu para trás, levando consigo mais dois.

- Eu não sei, Louis! Mas se não corrermos agora, vamos morrer! – Harry gritou com o homem franzino, agarrando-lhe pelos ombros.

Louis estava longe de ser burro. Ele sabia, matematicamente falando, que as balas restantes nos pentes não dariam nem para um terço dos zumbis que chegavam.

O cientista, presando por sua sobrevivência, apenas assentiu com a cabeça. Harry então agarrou a mão de Louis e começou a puxá-lo por entre os galhos das árvores, correndo no sentido oposto da horda que chegava destruindo tudo.

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*Music On* (One Way Or Another – Until The Ribbon Breaks – Stalker Episode)

Troy, com um movimento abrupto, abriu finalmente a última porta do corredor longo. O rapaz parou de correr imediatamente, sentindo seu corpo ser lançado para frente por causa da velocidade em que se encontrava assim que escancarou a porta.

Os três percorreram diversos corredores banhados pelo fogo e, finalmente, haviam achado uma saída daquele inferno.

Mas mal sabiam que haviam entrado em outro.

Troy, Ally e Demi pararam de respirar por instantes ao verem as órbitas cinzas os encarando do lado de fora. Os zumbis pareciam uma plateia grande e sinistra de telespectadores famintos, rosnando e grunhindo. O fedor da morte e carne pútrida bailava pelo ar fresco da noite de Lua Cheia e, durante aqueles segundos que pareceram uma eternidade, os três apenas souberam olhar para a multidão de mortos-vivos que estava há poucos metros deles.

Os ombros de Troy pesaram e sua expressão se tornou uma desolada, porque, desde o início, ele sabia que aquilo tudo iria dar errado.

Ele sabia que alguém iria morrer.

Demetria foi a primeira a ter alguma reação racional. Ela sabia que não tinham outro caminho, então, a cientista ergueu as mãos e começou a descarregar o restante do pente nos primeiros zumbis que já vinham na direção dos três.

Troy seguiu o exemplo da mulher e inspirou fundo, com um grito rasgando sua garganta assim como um guerreiro prestes a ir para luta. Protegendo Allyson com o seu corpo, o rapaz alto e loiro começou a correr com o facão erguido na mão direita.

Enquanto a cientista acertava os crânios podres com projéteis, o ex-motorista rachava as cabeças com golpes fortes.

Meninges espirravam, sangue negro escorria por todos os lados: nos rostos do homem, no da enfermeira, no da cientista.

Mas, o que mais chamava a atenção, era expressão no rosto jovial de Troy. A pele estava suja por fuligem, as marcas da idade impregnadas por sangue negro. Seus olhos bonitos estavam focados nos mortos, mas sua mente só conseguia gritar que:

Allyson precisava viver, porque Taylor e Claire precisavam de uma mãe.

Ele precisava de Allyson Brooke viva, mesmo que isso significasse sua morte.

E como um karma, os olhos de Demi se arregalaram ao apertar o gatilho e nenhuma outra bala sair pelo cano de sua pistola.

Os zumbis continuavam a esticar os braços e desferir mordidas no nada, tentando chegar até eles de qualquer jeito.

Os três, literalmente, estavam passando no meio da horda.

E então o pior aconteceu.

Mesmo com Demi e Ally chutando os corpos dos mortos-vivos para longe, a força dos andarilhos ainda era superior. E, sem ter sua retaguarda coberta, um deles se tornou alvo fácil.

Bem no segundo em que Ally girou o rosto procurando por seu amado, ela viu o seu mundo parar de girar.

Um zumbi que não estava no campo de visão de Troy, agarrou o tecido da camiseta do loiro. O morto-vivo era alto e, assim que segurou sua refeição, escancarou a boca mostrando os seus dentes podres que logo estavam rasgando o músculo da omoplata do ex-motorista.

Troy Ogletree fechou os olhos por causa da dor insuportável e gritou ao sentir sua pele ser mastigada e arrancada à força.

A acidez da dor consumiu seu corpo travado pela adrenalina. E, mesmo com o morto-vivo ainda puxando fibras musculares de suas costas, Troy conseguiu girar a alma penada e acertar o facão no centro do crânio dele.

Allyson estava petrificada com os olhos arregalados, sem saber o que fazer.

Troy havia sido mordido.

Ele havia sido mordido!

As coisas começaram a se mover em câmera lenta na frente de seus olhos.

Troy expirou, exausto, e buscou as órbitas de Allyson que já o encarava.

O tempo pareceu parar quando o casal apaixonado trocou olhares pela última vez.

A última vez que Troy veria a mulher da sua vida, a mãe de seus filhos, a pessoa que havia lhe dado uma razão para viver em meio ao caos. Seria a última vez que Allyson veria o homem da sua vida, aquele que a protegeu e amou quando não tinha nada naquela realidade medonha.

Os dois então se despediram em silêncio.

Eles se despediram porque Troy tomara sua decisão.

- Vão! – ele falou, ordenando para Demi que ainda tentava empurrar os zumbis que não paravam de contra-atacar. – Vão! Eu vou segurá-los!

- Não! – Allyson berrou. – Por favor!

- Eu estou morto de qualquer jeito, meu amor... – Troy sibilou e abriu um leve sorriso para tentar acalmar sua mulher. – Vão! – ele então puxou as duas pelos ombros, as empurrando para uma brecha momentânea sem zumbis. – Demi, segure! – o loiro entregou o facão para a cientista ao mesmo tempo em que empurrava três zumbis para o lado, usando o ombro sangrando. – Vão! Agora!

- Troy! – Allyson começou a gritar quando Demi começou puxá-la, acertando zumbis com a mão livre.

A baixinha encarava o amado segurando, com os braços abertos, uma quantidade significativa de zumbis que já começavam a arranhar e desferir mordidas nele.

Ele grunhia em dor, fechando os olhos.

- Eu amo você, Allyson! Não se esqueça! Cuide de nossos filhos!

Assim que o loiro dissera suas últimas palavras ele começou a empurrar com seus braços fortes, assim como um quaterback, uma boa quantidade de zumbis para o lado oposto em que as duas mulheres corriam.

Ally gritava, assistindo as mordidas arrancando a pele do amado. As vísceras sendo puxadas quando abdômen foi rasgado, o sangue espirrando, os gritos ecoando.

Troy gritava sentindo a pior dor de sua vida enquanto tentava a atenção de todos os zumbis que cada vez mais se reuniam nele.

Seus berros se misturavam com os de desesperos vindos de Ally que assistia tudo de modo torturante. Ela era praticamente carregada por Demi que continuava a abrir espaço com o facão.

A cientista tinha os olhos arregalados, chorava, mas continuava firme, pois sabia que esse era o desejo de Troy: Que Allyson Brooke vivesse.

#

No interior da nave da igreja, as chamas se movimentavam como um grande bailar fantasmagórico. Os bancos de madeira, as imagens dos Santos, as esculturas religiosas, a cruz pesada de Jesus Cristo no altar... tudo era consumido pelo fogo.

E no centro do altar, Machine Gun Kelly encontrava de braços como se aceitasse o seu Destino.

Ele sabia que estava tudo perdido, que o ritual nunca seria feito.

*Music On* (Losing Your Memory – Ryan Star)

Guiados por seu Grande Líder, os habitantes do manicômio encontravam-se de joelhos e cabisbaixos, implorando Misericórdia aos seus pés. Zayn estava preso em uma cruz ao lado do corpo morto de Niall, que havia falecido pela perda de sangue. Alexa e Luis Felipe, assim como os outros pacientes, choramingavam enquanto escutavam os gritos de Colson que pregava passagens da bíblia.

Todos esperavam ser absorvidos de seus pecados, esperavam ser perdoados por terem falhado em terminar com o Apocalipse. A oferenda estava morta assim como a Salvação. 

Todos apenas pararam e esperaram o Inferno chegar até eles. E quando o fogo finalmente chegou, todos começaram a gritar sentindo a pele queimar viva. A dor rasgava seus corpos debilitados, entregando-se às suas sinas.

Colson continuou de braços abertos, como Jesus Cristo e gritou sentindo o fogo chegar até si: “Isso é apenas o começo, minhas crianças!”.

#

Do lado de fora do manicômio, já por entre os galhos de árvores distantes, Camila observava os quatro prédios e principalmente a capela serem consumidos pelo incêndio.

O olhar da latina estava morteiro, sem nenhum brilho. O rosto estava sujo por fuligem e as mãos tremiam, fracas. O corpo debilitado dava leves espasmos provenientes do choque psicológico em que se encontrava.

Ela simplesmente não sabia onde Cara e Christopher estavam.

Cara Delevingne, a mais sã entre os três, foi a única que começou a puxar a latina e o homem pelos ombros, guiando-os para fora do prédio em chamas. Os dois estavam traumatizados demais para sequer cogitar a ideia de fugir dali, ambos chorando pela morte de Lauren.

Christopher mancava e perdia muito sangue de sua panturrilha perfurada. Cara rapidamente apoiou um braço do homem em seus ombros e tentou deslocá-lo até a saída do manicômio, com uma Camila traumatizada os seguindo.

A saída do prédio 2 estava com uma quantidade menor de zumbis a cercando, pois os mortos estavam ocupados demais se alimentando dos habitantes carbonizados do manicômio. Camila, tendo um lapso de consciência, começou a abrir caminho por entre os zumbis utilizando o cabo do fuzil, sem balas, de Christopher.

 Mas quando latina olhou para trás... ela não viu mais nenhum dos dois.

Camila procurou ao redor, desesperada, mas não achou sequer um sinal de Cara ou Christopher. Sua mente, já psicologicamente afetada demais pelo medo e por todas as desgraças que haviam acontecido em uma só noite, começou a reproduzir as mais brutais cenas em que ambos foram arrastados pelos mortos e devorados vivos.

Sua respiração ficou cada vez mais acelerada com os mortos fechando um círculo ao redor dela novamente. E então Camila não teve outra opção a não ser sair correndo dali, golpeando-os com o fuzil e escondendo-se por entre os galhos da floresta.

E agora, completamente sozinha e encarando a horda massiva de zumbis que marchava em sua direção, Camila encontrava-se parada sem saber o que fazer.

Até que a imagem de Sofia Cabello cruzou sua mente turbulenta e fodida.

A latina, em um supetão, girou seu corpo e começou a correr por entre as árvores, fugindo dos mortos-vivos que estavam perigosamente perto dela e implorando para que chegasse a tempo de resgatar as três crianças.

Camila não sabia de onde conseguia resgatar mais forças para suas pernas e corpo fracos. Tudo doía, tudo latejava, especialmente seu coração partido.

Mas, mesmo pensando que iria morrer em meio à escuridão daquela floresta banhada apenas pela Lua Cheia, Camila continuou a correr com toda a sua vida.

Ela se desviava dos mortos, pulava galhos, driblava árvores. As pupilas estavam dilatadas, o suor pingando de seu rosto sujo, o diafragma trabalhando como nunca.

O tempo pareceu lhe torturar enquanto ela corria por sua vida, ouvindo os rosnados dos mortos-vivos logo atrás de si.

As pernas da jovem já ameaçavam tremer quando ela finalmente se aproximou da cabana de madeira onde ela e seu grupo estava horas antes. Porém, sua expressão se tornou uma mais horrorizada e o coração bateu mais disparado quando, de longe, já avisou a porta dos fundos arrombada.

E então ela parou bruscamente quando chegou à porta aberta, no corredor.

Seu corpo tremeu mais ainda, as lágrimas ganharam e começaram a cair em fluxos grossos por suas bochechas, suas pernas perderam as forças e ela caiu sobre os joelhos no chão.

O olhar morteiro de Camila Cabello encarava o quarto totalmente vazio, sem nenhum sinal de Sofia Cabello, Claire Ogletree e Taylor Brooke Ogletree.

- Não... não... não... – ela gaguejou, com o queixo tremendo. – Por favor, não...

O ar não entrava por seus pulmões debilitados, deixando-a impossível de raciocinar toda a merda que havia acontecido.

Não havia nenhuma mochila ali, nenhuma comida, nem um rastro.

Como se elas e o bebê houvesse simplesmente desaparecido.

Ela então se entregou ao choro doloroso, que queimava seus olhos e ardia sua garganta.

Os barulhos de seus soluços se misturavam com os grunhidos característicos dos mortos-vivos que se aproximavam da cabana de madeira, em sua horda, prontos para devorar qualquer um que aparecesse em seu caminho.

Camila percebeu que estava sozinha no mundo.

Completamente sozinha.

 

You're losing your memory now...
          Você está perdendo sua memória agora...

You're losing your memory now...
        Você está perdendo sua memória agora...

You're losing your memory now.
            Você está perdendo sua memória agora.


Notas Finais


Preciso admitir uma coisa: em todos esses anos de indústria vital, hoje foi a primeira vez que chorei corrigindo um capítulo.

Antes que me matem ou me xinguem, ou qualquer outra coisa, quero que saibam que: tudo, exatamente tudo, que aconteceu foi necessário para o desenrolar da história. Into The Dead vai entrar em uma nova Era e eu estou super animada com isso! Então, não desistam só porque deu merda agora!

A autora ama vocês, walkers! E até a próxima!


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