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História Into The Dead - Capítulo 46


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá, meus famigerados leitores. Caindo do palco com a surpresa?!
Sim, a autora voltou mais cedo, porque tem tempos que estou prometendo um capítulo extra, mas sempre deixo vocês na mão. Hoje rolou. Antes de tudo, quero deixar claro que as coisas vão demorar um pouquinho, só um pouquinho, para desenrolarem. Tenham paciência. Daqui uns três capítulos, no máximo, as coisas já vão estar resolvidas.

E vocês me conhecem, depois de quase um ano lendo minha história. Eu não corro com nada! Eu gosto de fazer coisas que tem sentido! Não gosto de simplesmente jogar uma coisa e pronto, sem explicação nem nada.

Ouçam as músicas, boa leitura e me perdoem pelos erros.

Capítulo 46 - Capítulo 46


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 46

CAMILA PDV

 

- Você poderia, por favor, me explicar por que caralhos aceitou isso? – Ariana começou com a voz branda, mas logo rosnou.

- Não conte para ninguém, mas minha irmã está aqui! – respondo, baixinho.

- Sério?! – ela arfou, surpresa. – Mas por que eu não posso contar a ninguém?!

- Eu irei te explicar mais tarde. Eu preciso vê-la, Ariana. Estamos fracas e não vamos conseguir fazer nada contra uma comunidade inteira. Por isso aceitei essa proposta.

- Mas nós não somos assim! – ela suspira, contrariada.

- Teremos que ser! – digo, convicta.

A baixinha hesitou por alguns segundos, cabisbaixa, enquanto pensava.

- Você sabe que só vou fazer isso por sua causa, certo?!

- Obrigada, esposa! – murmuro, com um sorriso de lado.

Ariana torceu os lábios, meio tímida. Recompomos nossa postura e caminhamos de volta às poltronas em frente à mesa negra de Lucy. Estávamos mais distantes, cogitando nossa decisão de permanecer ali.

Assentamo-nos, com as expressões neutras.

- Já conversaram sobre?! – Lucy ergueu o olhar.

- Sim... e mantemos a decisão de Camila. – Ariana respondeu, mais convicta dessa vez. – Aceitamos fazer parte da comunidade.

- Oh, isso é ótimo! – a líder comemorou, inclinando-se na cadeira confortável. – Até porque seria um grande desperdício caso não concordassem...

Mordo o interior da bochecha ao notar mais uma ameaça.

- Jauregui... elas são todas suas... – Lucy disse, sorrindo.

Lauren então pigarreou e caminhou até estar de frente à mesa. Ela se escorou nela e cruzou os braços na frente do corpo, com suas órbitas verdes nos estudando.

Por Deus, por que essa desgraçada parecia mais linda ainda?

- Então... – começou, séria. – Quais são as habilidades mais marcantes de cada uma?

Ergo uma sobrancelha, sem acreditar que ela estava realmente fazendo-se tão bem de desentendida.

- Hãm... – Ariana murmurou, meio insegura. – E-eu sou boa com a espada...

- Oh, não me diga... Estranho seria se fosse ruim e continuasse a carregando para lá e para cá, não acha? – Lauren retrucou, revirando os olhos impaciente.

Veronica grunhiu ao morder os lábios, para conter uma risada tentando não ofender ainda mais Ariana.

- Diga-me algo que é de real importância...

Ariana praticamente assassinou Lauren apenas com o olhar, engolindo seco para não dizer nada estúpido.

- Eu sou silenciosa, mas não gosto de cercar as pessoas que não conheço. Eu sou rápida.

- Tem alguma experiência com caçadas ou com busca por suprimentos? Como você sobrevivia?

- Depende do ponto de vista. Eu preferia estocar comida e manter-me lá até que acabasse. Depois eu saía em busca de mais até achar outro lugar relativamente seguro.

- O quão boa você é com armas de fogo?

O jeito que Lauren fazia o interrogatório me deixava atordoada. A jovem possuía uma postura séria, cética, concentrada.

- Eu sei atirar. – Ariana respondeu. – Mas sou boa com armas de pequeno porte e melhor ainda com lâminas. É por isso que uso minha espada. Gosto de contato corpo a corpo, porque sou pequena e ágil, o que ajuda em muita coisa.

- E você?

Pisco rapidamente ao ver que agora Lauren me encarava do mesmo jeito.

Como se estivesse me conhecendo bem ali.

Tento buscar algo em seus olhos que demonstrasse que estava incomodada com precisar fingir daquele jeito, mas não encontro nada além de um verde gélido.

- Eu... – pigarreio. – Eu sou boa com armas. Já usei tanto metralhadoras, quanto espingardas. Porém, sou mais ágil com pistolas. Sou rápida, tenho experiência do lado de fora... Sei confrontar zumbis corpo a corpo, e com humanos, aparento não ter força, mas sei me virar. Eu sou boa em busca por suprimentos... até porque costumava fazer isso no meu antigo grupo...

Lauren quase engasgou ao ouvir minhas palavras. Ela torceu os lábios com força, me lançando fogo pelas íris por ter dito isso.

- Antigo grupo? – Veronica ergueu uma sobrancelha para mim. – Vocês duas faziam parte dele?

- Não. – balanço a cabeça, mantendo a calma de uma forma surpreendente. – Nos conhecemos depois. Ariana me ajudou, eu estava passando fome. Todo o meu antigo grupo... morreu.

- Como?

- Zumbis... – sussurro, lembrando-me dos flashes daquela noite no manicômio. – Eles... cercaram a cabana que estávamos em uma floresta... eu... eu não consegui ajudar ninguém... então eu corri.

- Como você sabe que todos morreram se você correu? – Veronica acusou de forma inteligente.

Não era mais fácil enganá-la.

- Porque eu ouvi os gritos. Eu vi os zumbis os cercando. Eu procurei por pistas durante semanas, mas não achei nada. Então apenas segui em frente, porque quando as pessoas somem nos dias atuais... você pode as considerar mortas.

Lucy então parou de escrever no papel e ergueu a cabeça, me olhando como se estivesse realmente surpreendida.

- Você não se sente mal por isso? – ela questiona, curiosa.

- É claro que eu sinto. – respondo, torcendo de leve os lábios. – Mas chega um ponto nessa vida em que você apenas continua seguindo em frente. Se você está viva e consegue andar... apenas continua em frente.

Lucy, completamente atenta à conversa agora, soltou a caneta que segurava e se assentou melhor na cadeira.

- Você se considera uma pessoa má, Camila?

Fico em silêncio com aquele questionamento rondando minha cabeça. Como uma maldição, as piores lembranças começaram a passar na frente dos meus olhos: os tiros eu já efetuei, o sangue que já derramei, as vidas que já tirei.

Eu era uma má pessoa?

Eu já havia matado, roubado e fugido.

Isso fazia de mim uma má pessoa?

Não sei quanto tempo se passou, mas as quatro pessoas ali no interior daquela biblioteca me encaravam com atenção, esperando a resposta.

- Eu... – digo então, após expirar com força. – Apenas acho que não existe mais essa diferenciação nos dias de hoje. As pessoas fazem aquilo que é necessário para sobreviver e... e nem sempre o que é certo vai te manter viva.

Vejo, por cima do ombro, a posta de Lauren mudar. Ela fechou a expressão, quase irritada por minha resposta.

- Então uma assassina e uma sobrevivente são as mesmas coisas para você? – sua voz rouca ressurgiu, me acusando.

- Claro que não! – eu franzo o cenho, sentindo-me ofendida por ter sido questionada logo por ela. – Qual é, Lauren?! – zombo, sendo irônica. – Uma assassina mata por diversão. Uma sobrevivente mata para continuar viva!

Fecho os punhos, tentando controlar minha raiva que aumentava cada vez mais. Já estava ficando de saco cheio da postura de Lauren, me acusando, despertando em mim sensações que não conseguia explicar.

- Camila... – ouço a voz doce de Ariana me chamando. – Se calme...

Logo o toque quente de Ariana, acariciando meu joelho, me fez inspirar fundo e me tranquilizar aos poucos.

Mas, isso pareceu ser apenas gasolina para a raiva de Lauren que rapidamente encarou a mão da baixinha em minha perna. A chefe dos grupos de busca fechou os olhos, como se estivesse buscando controle no fundo da alma.

- Já tenho minhas respostas. – ela murmura, umedecendo os lábios com a língua ao abrir os olhos.

- E você já tem trabalhos para elas? – Lucy questiona, novamente focada nos papeis em cima da mesa.

- Eu ainda preciso analisá-las melhor, minha Dona. – Lauren respondeu, escorando-se novamente à mesa central.

- Tudo bem então... – Lucy sorriu gentil, ao elevar o olhar para nós. – Vocês estão liberadas! Vocês já têm seus quartos e certamente esse exato momento Kordei está disponibilizando roupas. – ela fica de pé, subitamente. – As regras são simples: não furtem, não mintam, não fujam, não desobedeçam às ordens por mais simples que forem. Há toda uma hierarquia aqui e com o passar do tempo vocês ficarão cientes.

Lucy olha para os lados, como se checasse se algo estivesse faltando, mas eu sabia que tudo isso fazia parte de sua áurea dramática.

Ela então olha para nós duas e sorri.

- Bem... eu acho que é só isso... – ela fala, simples. – Bem-vindas à Lésvos!

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- Mila, você está mais calma?

Apenas afirmo com a cabeça, ainda de olhos fechados. Minhas entranhas ardiam de forma estranha por causa da sensação que raspava meus ossos. Era como se eu soubesse que aquela comunidade só iria trazer mais problemas. Inspiro e expiro, tentando diminuir o mal estar no meu estômago.

Estávamos do lado de fora da biblioteca, com os últimos raios do Sol morrendo no horizonte. A noite estava fresca por causa da estação e uma leve brisa bailava. Mulheres caminhavam ao longe, seguindo suas rotinas, e sequer se importavam em parar para saber se eu estava bem ou não.

 Até porque eu ainda era uma desconhecida.

- Está mais calma? – Ariana me questiona novamente, com a preocupação gritando em seus olhos.

Apenas faço um afirmativo com a cabeça outra vez.

- Sou eu o alvo de implicâncias da Lauren e é você quem tem o ataque de raiva? – ela tenta brincar.

Eu tento dar uma risada nasal para não deixá-la sem uma resposta, mas nem isso consigo.

- Deve ser falta de comida... – murmuro, já recobrando a postura. – Devemos ir jantar, já que não temos mais o que fazer aqui, pois, aparentemente, ainda não precisamos trabalhar como escravas.

- Podemos fugir. – Ariana deu de ombros. – Não é isso que fazemos de melhor, esposa?

Eu sorrio de lado, concordando.

- Mas, antes de arquitetarmos uma possível fuga, precisamos colocar comidas nesses estômagos que mais parecem buracos negros. – Ariana falou, visivelmente tentando me fazer rir. – E, obviamente e não menos importante, achar sua irmã.

- Oh, clar...

- Ei... – um tom meio rouco ecoou, fazendo nós duas olharmos para o lado.

A mulher de cabelos azuis sorria gentilmente, com duas colegas atrás. Elas vestiam roupas limpas, frescas e com as armas em coldres na cintura, em fácil acesso.

- Eu já me apresentei antes, mas... por causa do pouco tempo, não pude ser mais hospitaleira. – Halsey falou, se aproximando de forma amigável. – Eu sou uma espécie de policial aqui dentro. Cuido da segurança, mantenho os humores frios... Sabe... para apenas manter as mulheres controladas.

Ela deu uma risadinha e eu quase, quase, achei que fosse de fato simpática. Mas as coisas que Dinah dissera sobre ela ainda martelavam na minha cabeça.

Com certeza ela e suas colegas não estavam ali simplesmente para dizer um “olá”. Lucy havia ordenado que nos seguissem, possivelmente temendo que eu e Ariana fizéssemos algo nessas primeiras horas.

Porém, eu precisava começar a criar aparências assim como Normani dissera.

- Me chamo Camila Cabello e essa é Ariana Grande. – eu nos apresento, cordialmente.

- Oh... o que aconteceu com o seu nariz? – a loira, que era a terceira mulher, perguntou apontando para o rosto de Ariana.

- Foi uma cortesia de Lauren Jauregui... – Ariana dedurou, obviamente amargurada.

Halsey revirou os olhos de forma repulsiva pelo simples fato de ouvir aquele nome. Mas, diferente dela, a segunda mulher atrás de si fechou a expressão como se houvesse se sentido extremamente ofendida. Ela era mediana, possuía os cabelos raspados na tonalidade amarelo vivo.

- Conselho de “amiga”? – seu tom de voz era irônico. – Não fale mal da Lauren se quiser manter seus dentes! Você não tem a mínima ideia de quem ela é!

- Ei... ei... – Halsey se surpreendeu com a resposta da colega, erguendo um braço para impedir uma possível briga. – Se acalme, Kris! Não é assim que recepcionamos as novatas!

- Apenas não faça isso perto de mim, ouviu?! – a loira de cabelos raspados rosnou, ainda matando Ariana com as órbitas claras.

Halsey encarou a colega, a lançando um olhar repreensivo.

- Me desculpem por isso... – ela então suspirou, ao ver a colega calma e quieta novamente. – Kristen Stewart não é muito amigável, não é mesmo? – rosnou.

- Meu nome é Ashley Benson... – a terceira mulher, loira, corpo com belas curvas e rosto redondo, esticou a mão para mim. – É por isso que a chamam de Halsey, para não confundirem nós duas pelo mesmo nome...

Essa, por mais quieta que fosse, realmente parecia ser simpática.

Aperto sua mão, mesmo ainda desconfiada por Kristen estar fuzilando Ariana.

- Então... – eu pergunto, assim que as apresentações terminaram. – O que faremos agora, já que ninguém aparentemente gosta de novatas?

Halsey sorri levemente, gostando do meu humor negro.

- Vamos levá-las até o refeitório onde o jantar já está sendo servido. – a de cabelos azuis anunciou, abrindo espaço cordialmente para que passássemos.

Caminhamos então pelos passeios bem desenhados do campus. Havia, logo na entrada, chafarizes jorrando água para cima de forma graciosa. Detalhes, que quando cheguei ali passaram despercebidos, começaram a surgir. Existam mais árvores que eu imaginei, dando ao campus um aspecto bonito de natureza e um ar fresco, diferente da carniça que muitas vezes sentíamos do lado de fora. Pilastras brancas e bem esculpidas estavam espalhadas por todo o pátio assim como as árvores, coloridas por suas flores.

- Quantas pessoas vivem aqui? – pergunto, enquanto analisava os prédios com tonalidades laranja e vermelho. – Como vocês conseguem manter os zumbis longes com tanto barulho aqui dentro?

- Bem... atualmente vivem 95 mulheres aqui... contando com vocês duas. – Halsey respondeu, caminhando. – Hãm... e sobre o barulho... nós temos guardas por toda a extensão dos muros com Snipes silenciadores. Além que, pelo fato de termos várias outras barreirais que vocês certamente viram ao entrar, nós temos grupos especializados apenas para ir lá fora e checar o quão longe possíveis hordas de zumbis podem estar. Gostamos de chamar isso de “Caçar o inimigo antes que ele nos cace”.

- E nada sai errado? – Ariana questiona, do meu outro lado.

- Não... – a de cabelos azuis balança a cabeça. – Todas aquelas que são escolhidas para trabalhar lá fora são muito experientes. Além que nós também confiamos umas nas outras. Tudo aqui é na base da confiança.

Desvio o olhar de seu rosto ao sentir uma leve culpa nos ombros.

Eu já havia começado ali do jeito errado.

Porém, não demos continuidade no assunto, pois logo nos aproximamos do refeitório. Ele era grande, com vidraças transparentes que davam uma ampla visão do que estava acontecendo lá dentro. Mulheres andavam em fila, diante às bandejas, colocando os alimentos no interior de seus pratos.

Pisco, ainda atordoada por ver tantas pessoas do sexo feminino, de todas as idades, reunidas.

Halsey – tentando até demais ser cordial, porque eu via que isso não aparentava ser da sua personalidade, o que apenas confirmava minha teoria que a Rainha Lucy a obrigou a se portar desse jeito – abriu a porta para nós duas e nos deixou passar primeiro.

Os murmúrios das conversas logo me atingiram, fazendo meus olhos curiosos analisarem todo aquele largo espaço com mesas longas e cadeiras de plástico duro.

Eu me sentia como um inseto intruso à medida que caminhava entre as mesas e me direcionada até onde a comida estava sendo servida. Por estarmos em um espaço tão pequeno comparado com o campus, as mulheres agora, de fato, nos encaravam dos pés a cabeça.

Talvez eu estivesse sendo paranoica, mas poderia jurar que as via cochichando umas com as outras.

Após passar tanto tempo sozinha, ou, no máximo, com Ariana, ver tanta gente reunida estava me deixando zonza.

Tento ignorar as vertigens e caminho até as bandejas. Pego uma e sigo a fila, com Ariana atrás de mim. Halsey, Ashley e Kristen permaneceram mais longe, assentando-se com outras mulheres desconhecidas.

À medida que a fila andava, mulheres com toucas brancas e luvas colocavam comida nas bandejas.

Meus olhos, realmente, brilhavam ao encarar aquela diversidade de alimentos: saladas, carne, grãos, massas.

Após tanto tempo comendo apenas restos... eu tinha alimento de verdade.

Assim que minha bandeja estava cheia e Ariana já se encontrava ao meu lado, tão emocionada quanto, nós duas andamos até avistarmos uma mesa vazia o mais distante possível.

Assentamo-nos e abaixamos nossas cabeças, logo atacando a comida.

Eu reviro os meus olhos pelo prazer de estar comendo aquilo. As paredes de meu estômago pareciam grudadas por tão faminta que estava.

- Eu te ensinei modos melhores, Cabello, não me envergonhe assim... – aquele tom de voz brincalhão surgiu à minha frente, fazendo-me erguer a cabeça assustada e com a boca cheia de massa de tomate. – Credo, limpa essa boca!

Dinah Jane puxava uma cadeira enquanto segurava na mão direita a sua bandeja. Ela tinha seu típico semblante, olhando-me com suas órbitas cheias de graça.

Normani, que também puxava uma cadeira ao seu lado, não tinha lá uma das melhores expressões. Ela parecia bastante contrariada, como sempre fora.

- Olá! Meu nome é Normani Kordei... – ela falou alto, esticando a mão se apresentando.

Desde o momento que ela e a loira se assentaram ali repentinamente, eu ainda me encontrava petrificada com a massa de tomate espalhada pelo meu queixo.

- Que merd...

- “Só finja!” – a morena rosnou entredentes, não deixando que o sorriso falso se desmanchasse do rosto. – “Elas estão olhando para nós!”.

Olho por cima do ombro de Dinah e vejo que Halsey e Kristen nos encaravam atentamente, do outro lado do refeitório.

- Prazer em te conhecer... – eu rapidamente entrei na cena. – Meu nome é Camila Cabello!

- Ariana Grande... – a minha amiga também se apresentou, completamente confusa pelo quê estava acontecendo.

E, fingindo que estávamos conversando normalmente, eu coloco a mão na frente dos lábios para que eles não pudessem ser lidos à distância.

- E o plano que eu deveria fingir que não conheço vocês? – rosno. – Foi para o espaço?

- Qual plano?! – Ariana me perguntou, confusa.

- Eu te explico depois... – sussurro para a minha amiga, que, mesmo ressentida, fez um afirmativo.

- A estúpida aqui... – Normani falou no mesmo tom e lançou um olhar frio para Dinah que apenas deu de ombros, comendo tranquilamente. – Disse que não dava a mínima para os perigos que poderíamos enfrentar. Então... para qualquer situação... nós duas acabamos de nos conhecer, além daquela vez à sua porta.

- E por que você está fazendo isso? Por que não continuou fingindo que não me conhecia? – questiono, confusa.

Dinah parou, abrupta, de mastigar e me encarou como se eu houvesse feito a pergunta mais estúpida do século. A loira ergue as sobrancelhas, ainda esperando que eu raciocinasse, mas bufou logo em seguida ao ver que eu continuava sem entender do mesmo jeito.

- Porque ela é a minha namorada, Camila! E minha namorada deve conhecer uma antiga amiga minha, não acha? – Dinah murmura, tranquila.

Meus olhos arregalam e o ar entrou sem querer por meus pulmões, fazendo-me engasgar. Começo a tossir cronicamente com o macarrão.

Dinah apenas ria enquanto Ariana, por estar ao meu lado, dava tapinhas em minhas costas para me ajudar a desengasgar.

- O quê?! – eu gaguejo, com o rosto meio avermelhado. – Quando isso aconteceu? O quê?! Como assim?!

- Muita coisa aconteceu, mas isso é o menos importante agora... – Normani revirou os olhos, sem paciência.

A loira alta ainda ria de modo fofo, mas ao ouvir aquilo parou imediatamente.

- Ei! – rosnou, ofendida. – “Menos importante”?!

- Sim! – a morena repreendeu as brincadeiras, fazendo Dinah soltar apenas um muxoxo triste. – Você sabe muito bem que não podemos mais perder tempo!

Eu largo os talheres de plástico e as encaro, impaciente.

- Perder mais tempo para o quê?! Alguém pode, por favor, me explicar o que está acontecendo?!

Dinah e Normani se entreolharam e hesitam alguns segundos, ponderando.

A loira olha por cima do ombro, apenas checando se éramos vigiadas. Quando voltou sua atenção para mim eu percebi a mudança em seu semblante. Dinah sempre teve a imagem de uma pessoa engraçada, que prefere fazer piadas do que realmente mostrar o que estava sentindo. Fazer comentários sarcásticos parecia ser o seu hobby e, com isso, o bom o humor geralmente vazava por seus poros.

Mas não agora.

Suas órbitas castanhas-escuro estavam focadas, com o cenho franzido transmitindo a ausência total de bom humor.

- Não teremos outra oportunidade tão cedo com o trio te seguindo... – ela sussurrou. – Então, me escute atentamente, ok?!

- Dinah... – Normani tentou impedir.

- Não confie na Lauren!

Sua boca bonita formou uma linha tênue e as mãos apertaram de leve o tecido do forro que cobria a mesa, como se estivesse tentando se controlar para não transparecer exaltação. O seu tom rude apenas significava o intenso ressentimento que nutria pela dona dos olhos verdes.

- Ela está longe de ser aquela que conhecíamos! Coisas aconteceram! – ela continuou, fechando os punhos com força. – Aquelas vadias desgraçadas fizeram, praticamente, uma lavagem cerebral nela...

Se eu pudesse usar um exemplo para descrever o amontoado de sensações dentro de mim a cada vez que descobria mais coisas sobre aquele lugar e sobre as pessoas que estavam nele era: montanha-russa.

Minhas emoções estavam descontroladas como uma montanha-russa.

- Quem? Quem fez uma lavagem cerebral nela? – eu questiono, tentando engolir o mal estar que começava, outra vez, a subir por minha garganta.

- Lucy e Vero. Olhe... Esse lugar tem tudo para ser perfeito! Tem tudo para ser o início da civilização nesse novo mundo, mas... aquelas duas... elas são completamente loucas! E Lauren agora fecha o trio, sendo uma louca também!

A cada batida meu coração latejava. Saber que a mulher que eu amava havia sofrido mais, mais do que ela conseguia ao ponto de precisar mudar a personalidade, me machucava de uma forma inexplicável.

Eu só queria a minha Lauren de volta.

- Dinah... não faça isso, ok?! Não coloque a Lauren como a vilã da história! – Normani suspirou, decepcionada.

A morena passou as mãos pelas bochechas, demostrando o cansaço que parecia pesar seus ombros.

- Eu não estou colocando! – Dinah empurrou o prato, como se houvesse perdido o apetite. – Ela é! Ela é a traidora!

A loira fez uma careta, mostrando a indigestão que agora lhe incomodava por estar falando sobre aquele assunto.

- Espera... o quê?! – gaguejo, sem saber mais o quê falar ou o quê pensar. – Vocês apenas estão me deixando mais confusa! Vocês podem explicar essa merda toda do início?! Lauren traiu quem?!

Outra vez Normani suspirou, deixando claro o seu total descontentamento com o andar da conversa. Ela também largou de remexer na comida, ato que fazia com seu garfo de plástico, e apenas lançou um olhar assassino para a mulher ao seu lado.

Dinah bufou, ao ver o jeito como a morena lhe encarava.

- Não começa, Normani! Não tínhamos combinado que isso só ia surgir após uns dois ou três dias que ela estivesse aqui?! Ela chegou hoje! Ela está cansada!

- Agora a culpa é minha?! – Normani rosnou, erguendo as sobrancelhas de forma sarcástica. – Foi você quem começou a atacar a Jauregui! Foi você quem começou o assunto!

- Oh, Deus... – eu resmungo já sem paciência, batendo de leve a mão na mesa e chamando a atenção das duas. – Vocês podem parar de brigar, nem que seja por cinco minutos?! Parece que só sabem fazer isso! Eu estou aqui, ok?! Parem de conversar entre si como se eu não estivesse ouvindo tudo!

Ao notarem a dor em minha voz e o embargo que trazia, denunciando o quase choro que a qualquer momento rasgaria minha garganta e escorreria por minhas bochechas, as duas se calaram. Logo suas órbitas amorosas me analisaram, e depois se entreolharam como se ainda estivessem inseguras sobre trazer isso à tona.

*Music On* (The Neighbourhood – $TING)

A loira então expirou, como sempre desistindo primeiro quando se tratava de nossa amizade.

- Ok... foi o seguinte... – Dinah se inclinou, aproximando o máximo possível para que ninguém mais ouvisse. – Há dois meses e meio, Lauren estava completando um mês de estadia na comunidade. Eu e Normani estamos aqui desde a noite do manicômio, foi exatamente por isso que o plano deu errado e a horda de zumbi ficou descontrolada. Camila, nós estamos aqui há quase sete meses! Quando a Lauren chegou aqui ela estava... – hesitou, procurando a palavra certa. – Irreconhecível. Tudo o que ela pedia era a morte! Ela queria que qualquer pessoa a matasse, porque... ela pensou que você estava morta. Eu não sei o que Vero e Lucy fizeram com ela...

- Elas a levaram para a sala T... – Normani a interrompeu, com a voz embargada pela dor de lembrar-se disso. – Ou mais conhecida como sala da Tortura. E... quando ela saiu de lá... estava completamente mudada.

- Mas... mas nós tentamos falar com ela! Ela... ela estava respondendo à gente, entende? Ela ainda tinha um resquício da antiga Lauren... – Dinah continuou, passando uma mão trêmula pelos cabelos loiros. – Nós então planejamos uma coisa: nós planejamos tentar pegar o poder da Lucy! Nós não queríamos mais ser praticamente escravas! Não conseguíamos aceitar o fato de ela sumir com todos os homens que acha na estrada...

- Sumir? – pergunto, atordoada.

- Sim... ela some com todos os homens que acha! Provavelmente os mata e joga os corpos por aí! – Dinah rosnou, contrariada. – E nós não queríamos mais isso! Cara Delevingne estava aqui também e...

- Ela estava aqui?! – eu a interrompo, surpresa. – E o Chris...? E...

- Me desculpe terminar, caralho! – Dinah repreendeu, me fazendo acuar. – Cara também havia sido capturada e trazida para cá. E é assim que a Lucy faz o seu Reino crescer! Ela obriga as mulheres a virem para cá! E então, Lauren, Cara, Normani e eu estávamos planejando roubar a chave do arsenal. Estava tudo devidamente calculado. Cara, por ser rápida, iria até o escritório da Lucy e iria roubar as chaves. Poucas pessoas tem noção de onde fica o arsenal, mas eu sei por estar aqui há mais tempo: ele fica no prédio que é a casa da Rainha. No porão.

- Apenas um segundo... – Ariana interrompeu, mostrando que também estava atenta à conversa. – Como ninguém sabe onde fica o arsenal? E quando o grupo de busca sai? Eles não levam armas?!

- Há pessoas encarregadas apenas para trazer e levar as armas! Ninguém além dessas mulheres e Lauren, Vero e Lucy podem entrar no arsenal. – Normani explicou para a minha amiga.

- Continuando... – Dinah resmungou, odiando ter sido interrompida outra vez. – Normani e eu estávamos responsáveis por manter vigia no prédio da Rainha, esperando a chave. A responsabilidade de Lauren era distrair Lucy e Vero para que Cara pudesse roubar. Mas... – a loira então fechou os punhos outra vez, com raiva. – Lauren fez o contrário... ela dedurou a Cara! Cara foi capturada no flagra dentro do escritório por ninguém menos que a própria Lucy. Eu e Normani conseguimos fugir e ninguém nunca soube que estivemos envolvidas nisso, porque não fomos vistas! Mas... depois dessa noite... nós nunca mais vimos a arquiteta.

Fecho os olhos, sentindo todo o alimento no interior do meu estômago se remexer bruscamente. Um arrepio incômodo atravessou meu corpo à medida que eu imaginava a minha Lauren, a mulher que daria o próprio sangue para proteger seu grupo, dedurando uma integrante dele.

- Dinah... não distorça a história apenas porque está com raiva da Lauren! – Normani novamente a repreendeu. – Nós não temos cem por cento de certeza se Lauren entregou o plano, ok?! Não sabemos o que aconteceu lá dentro!

Eu abro os olhos e vejo a morena outra vez defendendo a dona dos olhos verdes.

- Mani... ela confessou para a Rainha! Não se lembra?! Lucy disse na frente da comunidade inteira que Lauren havia sido a heroína, impedindo que o poder fosse tomado por uma mercenária! – Dinah rosnou, tentando se controlar para não brigar com a morena. – É exatamente por isso que a Lucy ama tanto ela! Ela entregou uma pessoa para ganhar a confiança da Rainha! Cara morreu por causa dela!

Dinah abaixou a cabeça, em uma tentativa desesperada de não mostrar sua respiração irregular. Halsey e Kristen ainda nos olhavam, mas pareciam não perceber as emoções descontroladas da mecânica graças às mulheres que constantemente passavam para lá e para cá entre as mesas.

Olho para o meu prato e não sinto nem um resquício de vontade de continuar comendo.

 Ariana apenas me olhava, com suas órbitas me julgando silenciosamente.

- Quem mais está aqui...? – minha voz não passou de um mero sussurro.

Ergo meu olhar cheio de lágrimas para a minha melhor amiga, que ainda tentava voltar ao humor neutro.

- Demi, Ally, Sofia, Claire e o Taylor. – Normani respondeu no lugar da namorada. – Lucy apenas o aceitou porque ainda é um bebê. Fato que nos preocupa ainda mais, porque futuramente quando tiver idade suficiente ele será exilado.

- E o Christopher e o Troy?! – choramingo, sentindo já meu coração apertar. – Harry e o Louis? Niall?!

Dinah abaixou o rosto por alguns segundos, com a dor lhe incomodando.

- Niall sequer sobreviveu ao manicômio, Mila! E o Troy... o Troy também não. Ele morreu salvando as vidas de Ally e Demi. E... Christopher veio junto com Cara para cá, mas ele não sobreviveu. Ele estava com uma infecção muito feia na perna e aparentemente ela chegou ao osso, o matando. E... nós nunca tivemos notícias de Harry e Louis. Eu acho que eles ainda não foram encontrados.

Coloco uma mão na frente da boca, com uma intenção estúpida de segurar o soluço do choro.

Aquela maldita dor voltou. A dor que já era tão conhecida e que parecia um demônio me perseguindo.

A dor da morte de pessoas que eu me importava.

Aos poucos minha visão começou a ficar embaçada por causa das lágrimas quentes que vinham subitamente, como um tsunami.

Troy... o tão gentil e amável loiro que acabara de ter um filho... Nial... tão doce e prestativo...

Christopher... essa era a perda que mais me doía.

Eu e o rapaz havíamos nos conectado de uma forma além de amizade, por termos passado por tanta coisas juntos. Ele havia sido o meu ponto de referência quando pensei não ter mais forças ou coragem para encontrar Lauren.

- Camila, eu sei que não posso te pedir isso, mas não chore aqui... – Normani me olhou, com dor.

Mesmo ouvindo isso foi quase impossível controlar o choro. Então o máximo que consegui fazer foi abaixar a cabeça e cobrir meu rosto com as mãos.

Eu estava tão cansada! Tão cansada de perder as pessoas!

Engulo os soluços sôfregos que vinham, tentando me acalmar por mais que uma pressão houvesse se instalado nas laterais da minha cabeça, fisgando como uma agulha longa que penetrava em minha pele.

- Camila... me escute... você não pode expressar nenhuma reação agora, ok...? – a voz de Dinah estava angustiada. – Olhe para frente...

Levanto a cabeça, ainda com os olhos avermelhados, e sigo a direção na qual a loira ordenava.

Sofia Cabello me encarava com a bandeja nas mãos, bem na ponta da fila. Suas órbitas castanhas, tão parecidas com as minhas, estavam surpresas e brilhantes como se estivesse vendo um fantasma.

Por mais que houvessem sido apenas centímetros, a minha irmã parecia tão grande!

O rosto continuava redondo, cada vez perdendo mais as feições infantis. O cabelo estava longo ao ponto de bater para abaixo de sua cintura, com cachos delicados no final. O nariz permanecia delicado, o semblante sério.

Porém seus olhos e sua postura... estavam diferentes.

Alguma coisa em sua áurea demonstrava um amadurecimento que não estava ali antes. Não sabia explicar como eu via isso, mas sabia que estava ali.

Minha atenção apenas mudou de foco quando um vulto de cabeleira loira surgiu atrás de Sofia.

O coração conseguiu bater ainda mais rápido ao reconhecer Allyson Brooke. A enfermeira estava bonita, com feições cuidadas, cachos loiros e segurando, ninguém menos, que seu filho Taylor no braço esquerdo. O rapazinho já estava ereto no braço da mãe, com os fios tão claros quanto o dela. As bochechas eram redondas, o nariz arrebitado e olhos azuis curiosos para o mundo.

Mas o inesperado foi o fato de ela colocar o braço livre à frente do corpo de Sofia, como se estivesse a impedindo de vir até mim. Allyson não demonstrava nem surpresa, nem alívio, nem alegria por estar me vendo. Na verdade, eu mal conseguia ler qualquer sentimento em seu rosto.

- Você está encarando demais, pare! – Dinah grunhiu, certamente se referindo ao fato de Halsey estar nos vigiando ao longe.

Deus, como eu queria correr até Sofia e abraçá-la!

A saudade de sentir seu corpo familiar me abraçando fazia o choro se tornar quase impossível de controlar. Pisco, ainda embasbacada, minha irmãzinha estar há tão poucos metros.

E eu via, no modo com ela andava com pesar, que queria vir até mim também.

Mas Ally continuou a conduzindo para o outro lado do refeitório, sentando-se uma mesa que só agora eu percebi quem já estava nela. Demetria Lovato também me lançava olhares curiosos, surpresa por me ver viva. Ao seu lado, na cadeira à direita, estava Claire Ogletree. A loirinha, assim como minha irmã, também estava maior e com feições mais desenvolvidas.

Mesmo sentindo a euforia eu precisei abaixar o olhar para a bandeja novamente, pois, jurava sentir Halsey me encarando.

E ela estava.

Normani torceu os lábios, pesarosa, ao ver meu semblante desolado.

- Acho que podemos fazer a reunião hoje à noite... – a morena sussurrou no ouvido da loira.

Dinah, que havia voltado a comer para manter as aparências, soltou o garfo de plástico outra vez.

- Logo hoje à noite?! – Dinah suspirou, desistindo de vez de comer e empurrando a bandeja para o lado.

- O que vai acontecer hoje à noite...? – Ariana semicerrou os olhos, mais ignorada que bula de remédio.

- Sim, só vamos ter uma boa chance hoje! – Normani continuou. – Halsey estará ocupada e as outras também! Podemos nos reunir depois...

- Não vai funcionar, querida... É muito arriscado! – Dinah resmungou.

- Não podemos mais perder tempo! Podemos usar a Camila... aproveitar que ela acabou de entrar e...

- Me usar para o quê?! – rosno, irritada de novo com as duas. – Vocês estão falando como se eu não estivesse aqui outra vez! Para o quê vocês vão me usar e que merda vai acontecer hoje à noite?!

Normani e Dinah ficaram em silêncio alguns segundos, analisando com cautela a minha reação irritadiça.

*Music On* (Wicked Ones – DOROTHY)

E a minha melhor amiga já estava prestes a abrir a boca para me explicar quando a porta do refeitório foi escancarada com violência. Todas as mulheres, as mais desatentas, se alarmaram com o estrondo.

Olho para porta e então meu coração acelerou, mais ainda se possível.

Lucy Vives vestia a sua calça legging colada às pernas, bota de cano alto, topper cruzado e jaqueta de couro. Aquele estilo parecia ser o seu marco, já que meros detalhes mostravam que eram peças diferentes das anteriores. Além da áurea que parecia explodir confiança e egocentrismo exagerado, o mais marcante era o sorriso torto e galanteador nos lábios bonitos. Suas órbitas castanhas momentaneamente analisaram todo o público, como se estivesse extremamente satisfeita com os olhares amedrontados que recebia.

Ela não portava nenhuma arma, nem mesmo seu tão amado taco – utensílio que parecia ser usado apenas para castigar as pessoas. Na verdade, a Rainha não precisaria disso, pois suas duas sombras estavam cada qual ao seu lado, fazendo muito bem seus papeis de guarda-costas.

À direita, Veronica mascava um chiclete rosa, que era visível por causa das bolas que insistia fazer e estourar logo em seguida. Suas peças eram tão negras quanto às da Rainha, mas sua camiseta era vinho e a jaqueta era curta, terminando no meio de sua barriga e deixando sua pistola negra na cintura à mostra.

Lauren estava do lado esquerdo, com o seu coldre axilar negro se destacando por causa da regata branca que usava. A camiseta era justa, dando uma bela visão de seus seios apertados no sutiã azul marinho que usava por baixo. As Desert Eagles estavam pousadas nos suportes no coldre, de forma que as percebessem ao longe. E, ao invés de estar de jeans e calçada, como todas ali, a jovem estava com uma calça de moletom cinza e descalça.

- Merda! – escuto, ao fundo, Dinah ralhar.

Assim como uma sinfonia, os barulhos das cadeiras sendo arrastadas ecoaram no refeitório. E as mulheres, mesmo com a comida ainda na boca ou os pratos cheios, ficaram de pé rapidamente.

E em segundos, todas se inclinaram para baixo e ficaram sobre um joelho, visivelmente fazendo uma reverência.

As cabeças estavam abaixadas, extravagantemente submissas para a Rainha que as encaravam.

Até Dinah e Normani.

- Ande logo, fique sobre um joelho! – Dinah rosnou comigo ao perceber que eu continuava no mesmo lugar, petrificada e sentada na cadeira.

Normani estava visivelmente preocupada com minha reação, alternando o olhar entre eu e o trio que, com passos firmes, começava a adentrar no refeitório usando o caminho entre as mesas.

A mecânica logo bufou, ao ver que eu não iria fazer nada. E em um movimento rápido, ficou de pé e contornou a mesa de plástico, aparecendo ao meu lado em segundos. Quando realmente percebi, a loira alta já puxava tanto Ariana quanto eu pelos braços e nos obrigava a ficar de joelhos, empurrando nossos ombros para baixo.

Eu estava embasbacada demais para ir contra ela.

Dinah Jane estava tão amedrontada assim?!

Levanto a cabeça, mesmo zonza, e analiso aquela cena peculiar.

Todas faziam reverência e sequer erguiam o olhar para Lucy enquanto ela passava em meio ao povo e caminhava, calmamente, até onde a comida estava sendo servida. Procuro pelas pessoas que conhecia e surpreendo-me ao ver que Sofia, Claire, Ally segurando Taylor, e Demi também estavam sobre um joelho e cabisbaixas.

Lauren então, como se nada daquilo estivesse acontecendo ao seu redor, pegou uma bandeja e foi até onde estavam as comidas. Eu juro poder ver um breve sorriso, o seu tão típico sorriso amigável, surgir ao esticar o utensílio para que as serviçais colocassem o alimento ali.

Mas ela só fez isso porque Vero e Lucy estavam de costas e agora encaravam todo o refeitório cabisbaixo.

Olhando aquele casal ali, em pé, com as órbitas frias encarando todas nós, eu percebi o quão perigosa ambas eram.

Isso era a liberdade que ela tanto falava? Precisar abaixar a cabeça quando ela passava?!

A Rainha então pigarreou alto, indicando que iniciaria sua fala.

- Minhas amadas mulheres... – Lucy falou em alto e bom tom. – Eu estou aqui, pessoalmente, para convidar todas vocês para o evento de hoje à noite! Eu sei que até semana passada ele era apenas para mulheres exclusivas que possuíam créditos, mas, para mostrar minha compaixão pelas noites vazias que sei que todas têm, eu decidi fazê-lo hoje um evento aberto.

Algumas mulheres tiveram a audácia de levantar o rosto por causa da surpresa pela fala da jovem, mas logo trataram de abaixá-los novamente.

- Hoje, às 22 horas, no ginásio da área oeste de Lésvos, vai acontecer a luta que todas vocês estavam esperando... – ela termina, com o seu típico sorriso perverso. - Quero todas vocês lá, minhas amadas mulheres.

E assim que Lucy terminou de falar, Lauren se aproximou novamente segurando a bandeja cheia em mãos. As três então caminharam outra vez por entre as mesas e saíram, assim como entraram, pela porta do refeitório que continuou escancarada.

Suspiros de alívio saíram pelos lábios das mulheres e elas, lentamente, começaram a ficar de pé outra vez e a se assentarem nas cadeiras, retornando ao jantar.

Dinah e Normani fizeram o mesmo, mais tranquilas.

Ariana estava tão embasbacada quanto eu, escorando-se às cadeiras para ficar de pé.

- Que merda é essa de precisar ficar de joelhos?! – a minha amiga mais recente rosnou.

Dinah apenas deu uma risada nasal enquanto batia as mãos nos joelhos para retirar a poeira deles.

- As coisas são muito mais fodidas do que aparentam ser...

Mesmo com o bolo na minha garganta e o meu estômago indicando que eu possivelmente vomitaria após receber a resposta que ansiava, eu me virei para Dinah.

- Não me diga que essa é a mesma luta que estou pensando que é... – eu grunhi, com uma careta de enjoo.

Dinah passou a língua pelos lábios devagar ao mesmo tempo em que seu semblante se tornou um de “Me desculpe, mas é exatamente essa!”.

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Personalidade, psicologicamente falando, é um conjunto de características que exercem uma espécie de força interna capaz de determinar a forma como um sujeito se comporta. Ela ajuda a prever como ele irá reagir diante determinada situação.

Costumava-se dizer que 40% da personalidade são de origem genética enquanto os 60% restante são moldados pelo ambiente em que se vive.

O que esperar da personalidade de uma pessoa se tudo que a rondou, por quase três anos, foi a morte?

É possível que a personalidade de alguém mude? Parcialmente ou completamente?

 

*Music On* (Monsters – Meg & Dia – DotEXE Dubstep Remix)

Enquanto esses pensamentos martelavam a minha mente, eu tentava apenas me focar no semblante amoroso de Dinah Jane à minha frente. A loira afagou o meu rosto e segurou minhas bochechas com as mãos, obrigando-me a encará-la.

- Não se desespere, ok?! – ela praticamente implorou. – Não é tão ruim quanto parece... Eu acho.

Eu apenas fiz um afirmativo com a cabeça. Dinah me soltou e meus olhos angustiados, então, observaram tudo o que acontecia ao meu redor.

O remix da música eletrônica gritava nas caixas de som que estavam presas na parte superior das pilastras. O ginásio era relativamente grande, o que fazia as mulheres que estavam ali dentro ficarem apertadas na arquibancada de cimento, nos cantos do espaço retangular.

De acordo com Normani, que estava ao lado de Ariana e Dinah, a Veronica era completamente apaixonada por músicas eletrônicas que ela mesma fazia.

Quase como o perfeito oposto de sua amada.

Fecho os olhos e mantenho-os assim por longos segundos, com o remix ecoando por meus ouvidos.

No centro daquele ginásio lotado por mulheres alvoraçadas, com copos de bebidas nas mãos, olhos brilhantes de êxtase e ansiosas, havia um ringue.

O ringue estava elevado a quase um metro do chão e era cercado por quatro cordas de cor vermelha. Os postes nos vértices eram negros e neles estava amarradas, cada uma de um lado oposto, as luvas das lutadoras.

Era uma maldita luta de boxe.

Tudo o que minha mente conseguia associar era aos terríveis momentos que passei no Acampamento Militar.

E que era tão semelhante que me deixava enojada.

Como se não bastasse, sem estar preparada para tal, logo sinto as energias ficarem ainda mais intensas e as mulheres gritando mais alto. Abro os olhos e fico de pé, sentindo o medo me corroer, enquanto buscava algo acima das cabeças e braços erguidos.

E logo as vejo.

As duas vinham de direções opostas. Algumas mulheres ao redor as empurravam como talvez uma provocação ou para simplesmente aumentarem seus batimentos cardíacos, as motivando ainda mais.

Ambas estavam elétricas e davam pulinhos para cima, batendo as mãos umas nas outras.

Halsey foi a primeira a surgir em meio à multidão e passar por entre as cordas vermelhas, adentrando no ringue. Ela rapidamente cumprimentou a plateia e, por mais que algumas mulheres houvessem gritado, poucas estavam realmente lhe respondendo à altura.

E isso ficou extremamente visível quando sua adversária surgiu no canto oposto.

A mulher tinha uma blusa de capuz azul marinho cobrindo sua cabeça, deixando seu rosto impossível de reconhecer ao longe. Ela também vestia um short curto grudado às coxas torneadas e estava descalça, segurando na mão direita o protetor bucal que rapidamente colocou na boca.

Ela adentrou no ringue, passando por entre as cordas do outro lado, e então retirou o capuz.

Meus olhos quase saltaram de minhas órbitas, ao mesmo tempo em que os gritos ficaram quase ensurdecedores, contemplando a outra lutadora.

Lauren Jauregui tinha um sorriso largo e os braços abertos de forma confiante, como se saldasse de volta a sua legião de fãs.

Pisco vendo tudo aquilo, mas meu cérebro negava-se a raciocinar o que estava bem claro.

- Será que hoje a nossa chefe de policia irá vencer a nossa chefe dos grupos de busca?– a voz de Veronica surgiu em meio aos gritos. – A nossa querida Lauren, que nunca perdeu uma luta sequer, irá ser finalmente vencida?!

Procuro pela jovem de cabelos negros e a encontro à esquerda do ringue, em pé bem ao lado de um trono vermelho sangue.

Ninguém menos que a Rainha, Lucia Vives, estava sentada nas almofadas vermelhas e observava tudo com seus olhos assassinos, como uma telespectadora VIP.

- Continuarei sendo invicta, minha cara... – ouço o tom rouco de Lauren surgir.

Volto a olhar para o ringue e vejo a dona das órbitas verdes sorrindo perversamente para Halsey, colocando suas luvas brancas. A mulher de cabelos azuis colava os velcros do seu par de luvas negras no pulso enquanto revirava os olhos para a provocação.

Veronica rapidamente se encaminhou até o ringue e adentrou na mesma velocidade, passando pelas cordas com maestria. A jovem bonita abriu os braços fazendo um movimento com a mão direita para alguém, que estava fora do meu campo de visão, abaixasse o som da música.

- Vocês estão prontas?! – ela gritou com todos os pulmões, fazendo as mulheres ao meu redor irem à loucura.

Ainda esperando que tudo não passasse de uma brincadeira, eu tento pela última vez direcionar o meu olhar para Lauren, buscando vê-la desistir dessa porcaria.

Isso não podia estar acontecendo.

Mas estava. E Lauren parecia totalmente à vontade, dando pulinhos para se aquecer e erguendo os punhos à frente do rosto, em posição de defesa.

Halsey, também, já estava à espera do sinal do mesmo jeito.

Ao notar ambas prontas, Veronica se distanciou do centro do ringue e manteve-se em um canto seguro, sendo a juíza.

E então um sino tocou, indicando o começo da luta.

Coloco a mão sobre a boca assim que senti o quase refluxo me atingindo. Meus olhos estavam arregalados, com as lágrimas queimando para escapulir. Eu segurava com todas as forças o soluço ácido na minha garganta, fazendo meu corpo tremer.

Dinah e Normani me olhavam apreensivas, certamente tendo o mesmo pensamento que eu:

Lauren Jauregui havia se tornado um Shawn Mendes.


Notas Finais


Não me matem, ok???????! ABAIXEM AS FACAS, PELO AMOR DE ALLY!
Lauren é ou não é uma traidora?

ESPEREM O DESENROLAR! SE ME MATAREM VÃO FICAR SEM!

Até o próximo! Beijos de luz da autora! Amo vocês!


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