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História Into The Dead - Capítulo 47


Escrita por: control5h

Notas do Autor


VOCÊS PENSARAM QUE EU NÃO IRIA REBOLAR MINHA BUNDA HOJE, NÉ?!

Pois é, quase não rebolei, mas aí pensei que já não havia atualizado Domingo passado e a culpa voltou. Então esse capítulo não está corrigido, ato que irei fazer ao decorrer da semana. Aliás, venho cá avisar que vou começar a corrigir a história desde o começo, então não se assustem com as atualizações que não são realmente atualizações. Vou melhorar algumas situações e corrigir algumas partes, mas a essência continuará a mesma.

Estou feliz por ver partes acusando a Lauren e partes defendendo a Lauren.

Cá está outro famigerado capítulo! Aproveitem! Boa leitura e me perdoem pelos erros!

Capítulo 47 - Capítulo 47


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 47

CAMILA PDV

Meu esôfago contraía arduamente fazendo com que a bile amargurasse a minha boca.  Eu estava com a cabeça inclinada para baixo e com as mãos segurando, com força, as laterais do vaso sanitário. Meus olhos lagrimejavam e faltava-me ar a cada ânsia de vômito que rasgava a garganta.

As imagens de Lauren lutando boxe com Halsey ainda martelavam. A euforia das pessoas, a comemoração das mesmas.

Não era uma barbárie como no Acampamento Militar, mas, também não deixava de ser uma derivação menos violenta.

- Camila... – ouço a voz apreensiva de Dinah do outro lado da porta do banheiro. – Você está...

E antes mesmo que ela pudesse terminar sua pergunta, o meu urro proveniente de outro vômito ecoou. Inclino a cabeça para baixo e deixo o líquido amargo sair.

-... bem? – ela terminou, grunhindo.

Vejo a maçaneta da porta de madeira, cor creme, ser forçada.

- Não abra a porcaria dessa porta ou irei vomitar em você! – rosno entredentes.

Outra vez ela grunhe com nojo.

- Vou te esperar plena aqui de fora, minha famigerada amiga. –zombou, com sarcasmo.

Eu choramingo, sentindo minha boca arder. Sento-me no chão frio do banheiro e fico por mais alguns segundos esperando que outra ânsia surgisse. Depois de perceber que meu estômago finalmente havia me proporcionado trégua, eu pego uma quantidade significativa de papel higiênico e limpo a minha boca, levantando-me. Ligo a torneira do lavatório e jogo a água morna no meu rosto, esfregando o líquido até minha nuca. Escovo também os dentes para retirar o amargo da bile.

Quando saio do banheiro do meu quarto esperando ver apenas Dinah e Normani ali, mas, inesperadamente, vejo cinco figuras me encarando como fantasmas.

- Oh, Jesus... – eu suspiro, colocando uma mão no peito por causa do susto.

Mas assim que me recupero da surpresa, meus olhos rapidamente focaram no par de órbitas castanhas iguais às minhas.

- Sofia! – exclamo.

Minha irmã estava em pé, perto da porta, com um sorriso grande nos lábios. A felicidade era visível em seu semblante latino. Logo não hesitou e veio correndo em minha direção com os braços abertos, dando-me pouco tempo para ficar sobre um joelho e recebê-la. A menina praticamente pulou contra o meu corpo, apertando-me com seus braços mais fortes.

Eu piscava, ainda atordoada, por estar sentindo novamente sua fragilidade me abraçando. Aos poucos comecei a sorrir aliviada, passando minhas mãos por suas costas para ter real certeza de que estava ali. O baque de ter seu cheiro, sua presença tão preciosa me deixou desnorteada por alguns segundos.

Afago seu rosto e me distancio o suficiente para lhe olhar nos olhos, ainda desacreditando que estava com Sofia. Seu corpo tremia levemente e as lágrimas marcavam suas bochechas redondas. Ela vestia um jeans surrado e uma camiseta rosa bebê, além de tênis, que mostravam claramente sua semelhança a minha personalidade.

- Kaki! – grunhiu, apertando ainda mais seus braços ao redor da minha cintura, tentando se fundir mais. – Eu senti tanto a sua falta! Tanto! Oh, Deus, eu sabia que você estava viva! Eu sabia! Eu sabia! – ela gaguejava, em meio ao choro compulsivo.

- Oh, meu amor... – choramingo, sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto.

Novamente eu a puxo para outro abraço apertado, inspirando seu cheiro de criança e sentindo a paixão que retribuía ao contato. Só Deus sabia como havia sentido sua falta, da sua língua afiada, das nossas conversas, das nossas discussões. Sofia era a única parte de mim que me mantinha sã e buscando a bondade naquele mundo.

Volto a encarar seu rosto, temendo que aquilo fosse um dos meus inúmeros sonhos que tive durante o tempo em que passamos separadas.

Mas seu calor característico estava ali.

Sua voz estava ali.

Ela estava ali.

- Eu também senti a sua falta! – digo, afagando suas bochechas com meus polegares. – Você cresceu tanto! Meu Deus, o que eu perdi?! Eu preciso que você me conte tudo... eu preciso passar um tempo com voc...

- Você terá tempo para isso depois, Mila... – a voz de Dinah surgiu ao fundo. – Não é seguro estarmos todas juntas assim.

Sofia hesitou, mas deu um passo para o lado dando-me a oportunidade de ver minha melhor amiga de pé e escorada a uma parede lateral. Um sorriso breve estava em seus lábios, mas a testa franzida denunciava uma preocupação.

Ao seu lado estava Demetria, com as mãos dentro dos bolsos frontais da calça jeans e com uma expressão amigável. Agora de mais perto, eu conseguia ver como a cientista estava mais magra e com os cabelos bonitos. Fico de pé de forma correta, e com Sofia ainda meio abraçada à minha cintura vou até a mulher e coloco uma mão em seu ombro, apertando-o como forma de cumprimento.

- Demi! É muito bom te ver! – digo, sorrindo de lado.

- Que bom que sobreviveu, Cabello. – a cientista sorriu, com os olhos marejados. – Estou feliz por você!

- Obrigada... eu acho. – gaguejo, meio pesadora sobre responder.

Giro o rosto ao sentir a presença de outra pessoa e logo vejo Claire Ogletree sentada em uma cadeira, com as pernas cruzadas de forma delicada. A loira aparentemente não havia perdido sua classe ou áurea, tendo no rosto um sorriso gentil. Os cachos loiros caíam nos ombros, contrastando com o vestido floral que usava.

Vou até ela e fico sobre um joelho também, ganhando o mesmo tamanho.

- Olá, minha querida... – murmuro, acariciando seu antebraço direito.

- Olá, tia Mila. – ela me cumprimenta assim que eu a abraço forte. – Como você está?

- Eu estou bem... – digo, rapidamente. – Oh... você também está tão grande e bonita!

- Você também. Estou feliz que esteja bem. – Claire sibilou amistosa.

Meu coração apertava ao ver suas órbitas azuis e lembrar-me de seu pai. Saber que o rapaz havia morrido naquela noite apenas fazia uma carga de culpa inexplicável crescer sobre as minhas costas.

- Nós não podemos ficar aqui muito tempo... – Dinah me retirou, felizmente, dos pensamentos ácidos. – Você já está se sentindo bem, Mila?!

Eu fico de pé outra vez e afirmo com a cabeça, por mais que meu estômago ainda embrulhasse.

- Antes de tudo, precisamos te explicar como a sociedade daqui funciona. – Dinah começou. – Resumidamente... Lésvos é semelhante a sociedade que existiu em Esparta. Não é à toa que o nome é Grego e deriva da ilha de Lesbos, na Grécia. Aqui nós temos a Rainha... – revirou os olhos, enojada. – E ela manda em exatamente tudo. E temos a Assembleia, que parece mais um Parlamento. Quem faz parte dessa Assembleia são as chefes dos departamentos. Por exemplo... Há a chefe das vigias, a chefe da polícia, a chefe das construções, a chefe da fábrica de balas, a chefe do laboratório, a chefe do grupo de buscas...

- Que é a Lauren. – Normani acrescentou, tristonha. Ela estava ao lado da loira, contra a parede. – Demi é a chefe do laboratório.

- As mulheres que não tem cargos ou funções importantes são obrigadas a fazer trabalhos domésticos! Elas ajudam a manter a sociedade compactada.

- Espera... – eu franzo o cenho, encarando agora Demetria com curiosidade. – Como você conseguiu um cargo tão alto?

- Há uma coisa chamada Créditos. – a cientista começou a explicar, com um suspiro. – Se você obedece às ordens e se mostra uma boa submissa você começa a ganhar esses tais créditos. E como o dinheiro daqui, entendeu?! Eles podem ser usados para qualquer coisa: comprar roupas, comida além das refeições que possuímos, coisas que podemos chamar de regalias. E se você acumular muitos créditos, você pode ascender no seu trabalho. Por exemplo, eu comecei como ajudante no laboratório, mas agora sou a chefe do departamento.

- Então, basicamente, é necessário se tornar uma putinha da Rainha para crescer aqui dentro? – rosno, com incredibilidade.

- É... basicamente é isso. – Normani dá de ombros, mas continua. – Porém, é exatamente aí que nossas atuações entram. Apenas fingimos ser fiéis à Rainha, mas buscamos nossa liberdade.

- Espera... – digo, percebendo a ausência de uma pessoa. – E a Ally?

- Ela já deve estar chegando. – Dinah olhou em seu relógio de pulso, checando as horas.

- Ela tem um trabalho?

- Ela é ajudante no pequeno hospital daqui. Ela está buscando subir de cargo para entrar também no Parlamento, mas está difícil porque a chefe do departamento dela é um saco. – Demetria resmungou, revirando os olhos.

- E por que nós estamos todas aqui reunidas?! – pergunto, cruzando os braços na frente do corpo.

Demi, Dinah e Normani se entreolharam por alguns segundos, comunicando-se em silêncio. A cientista deu de ombros e indicou com a mão para que uma das outras duas começassem.

- Você gosta de jogar Xadrez, Camila?! – a loira zombou, com um sorrisinho torto.

- Isso é sério, DJ... – a morena a repreendeu, balançando a cabeça. Normani caminhou até mim, com compaixão nos olhos. – Olha, Camila... Todas nós estamos suportando e aceitando essas ordens insanas, esses comportamentos violentos, a essas práticas inumanas... porque nós temos um plano.

- Essa frase nunca acaba bem... – Sofia resmunga, com humor negro.

Minha irmã fez uma leve careta ao suspirar, caminhando em direção de onde Claire estava e se assentando ao seu lado.

- Eu preciso concordar com ela. – Claire torceu os lábios e deu de ombros, com os braços também cruzados.

Espera... as crianças estavam dando opinião?

Normani apenas revirou os olhos para as provocações.

- A primeira a cair tem que ser a Lauren! – Demetria murmurou, já sem seu tom amigável. – Elas nos conhece, sabe nossos defeitos e qualidades. Ela precisa ser a primeira fora do jogo! A segunda coisa a ser feita é controlar a sua legião de fãs, que fariam qualquer coisa para destruir ou glorificar sua imagem. A terceira e mais difícil parte precisa ser tirar Vero, porque ela é a cachorrinha de Lucy, faz qualquer coisa por ela e é esperta demais para se deixar levar por algo idiota. E então, o último ato, quando a guarda estiver totalmente fora, nós chegaremos à Rainha.

- Espera... – eu ladeio a cabeça, raciocinando. – O que vocês estão querendo dizer com tudo isso?!

Dinah suspirou, como se eu fosse uma pessoa muito lerda, e caminhou até mim colocando uma mão no meu ombro.

- Camila... Eu sei que você simplesmente quer passar um tempo com a sua irmã... mas... nós precisamos da sua ajuda! – ela falou calmamente. – Não é óbvio?! Nós vamos tomar essa comunidade! Para nós! Nós vamos derrubar Lauren, Vero e Lucy... e você é a nossa peça principal para isso acontecer!

Pisco rapidamente com minha boca ficando levemente aberta com o espanto. Meu cérebro parecia uma grande indústria, trabalhando incansavelmente, tentando racionar toda a merda que fora obrigado a ver em apenas um dia.

Agora eu seria a peça principal para tomar uma comunidade inteira?!

*Toc Toc*

Felizmente, ou não, o barulho de alguém batendo à minha porta ecoou e me libertou de precisar responder Dinah, até porque não fazia a mínima ideia de como reagir.

Institivamente, uma tensão se instaurou no quarto, fazendo todas temerem quem estava no corredor.

Com minhas engrenagens mentais ainda trabalhando, eu caminho hesitante até a porta e fico na ponta dos pés para analisar através do olho mágico.

Kristen Stewart possuía um rosto fechado e estava impaciente por minha demora por atendê-la. A mulher de cabelo raspado e loiro tinha uma mão pousada na pistola, no coldre preso à cintura.

Oh, droga!

- É a Kristen! – eu sussurro, girando meu corpo para as mulheres que me olhavam.

- Merda! – Dinah ralhou, já devidamente de pé desde o momento que bateram à porta.

- O que vamos fazer?! – Claire levantou-se em um pulo, assim como Sofia que olhava para todos os lados pensando em algo.

- Nós precisamos nos esconder! – minha irmã rapidamente respondeu, esperando alguma ação por parte das adultas.

- Todas para o banheiro, agora! – Demetria disse, astuta, e apontou para a porta do cômodo.

- Camila... você precisa saber de uma coisa! – Dinah entrou em meu campo de visão, ao perceber que eu me encontrava petrificada no mesmo lugar. – Kristen ama a Lauren e odeia a Halsey! Ela quer de qualquer maneira pegar o cargo de chefe, então ela praticamente beija os pés da Lauren pelo fato de sempre vencer a Halsey nas lutas. Além que a Lauren salvou sua vida uma vez!

- Camila, abra a porta, é a Kristen! Apenas quero checá-la antes de ir dormir! – a loira ralhou do lado de fora, mais impaciente.

- Que merda eu tenho que fazer?! – gaguejo, olhando minha melhor amiga correr para o banheiro onde as outras já estavam escondidas.

- Se livre dela, rápido! – Dinah rosnou, fechando a porta.

Travo o maxilar e inspiro fundo para colocar a melhor feição de desentendida que possuía. Pigarreio, e neutra, giro a maçaneta e abro a porta já contendo um sorriso receptivo nos lábios.

- Olá, Kris... – ronrono, escorando-me casualmente na porta.

- Você está bem?! – a policial pergunta, olhando sem sutileza por cima dos meus ombros à procura de mais alguém no interior do quarto. – Não está com uma cara muito boa...

- Eu não estou passando muito bem... – respondo, fingindo uma careta de mal estar. – Acho que foi da comida... eu não estou acostumada com tudo isso. O tempero não me caiu bem.

- Tem mais alguém aqui com você? Jurei escutar conversas aqui do corredor...

- Eu costumo falar sozinha. – dou uma risadinha. – Ah, aliás... Eu vi que a Lauren ganhou a luta, não é mesmo? – murmuro, usando um tom excessivo de alegria. – Oh, Halsey praticamente apanhou feio dela!

Os olhos de Kristen que antes expressavam irritabilidade, agora se assustaram e começaram a transmitir uma alegria descomunal por encontrar, aparentemente, outra pessoa feliz pela derrota da dona dos cabelos azuis.

Sim, eu sabia como atuar...

- Sim! – ela exclama, sorrindo. – Eu quero dizer... a Lauren deu apenas um murro certeiro e a idiota caiu para trás!

Kristen, entretanto, parou de falar imediatamente ao perceber como chamara sua chefe.

- Eu... hãm... – ela gagueja, sem jeito, provavelmente pensando que eu contaria para alguém.

- Tudo bem... – eu finjo inocência e dou uma piscadela maliciosa. – Eu não vou contar para ela! E, que fique entre nós... – eu sussurro, me aproximando um pouco como se contasse um segredo. – Eu também prefiro mais a Lauren!

Kristen abriu o sorriso outra vez, visivelmente afetada por minha aproximação repentina. Ela pigarreou e melhorou a postura, voltando a pousar a mão sobre o coldre onde sua pistola estava.

- Então... – ela pigarreia tímida. – Espero que tenha uma boa noite, Camila! – diz, fazendo um leve movimento com a cabeça, se despedindo.

Logo ela sumiu no corredor e eu fechei a porta, expirando o ar preso dentro dos meus pulmões.

Não havia sido tão difícil...

Quando eu giro o corpo, seguro um grunhido por causa do susto em ver Dinah e Normani me encarando, ambas já fora do banheiro enquanto as outras saíam.

- Eu acho que invés de Música, você fazia era faculdade de “Artes Cínicas”... – a minha melhor amiga ironizou, embasbacada. – Porque, Camila... que atuação foi essa?

- O quê?! Vocês não vivem de aparências aqui?! – eu murmuro, dando de ombros. – Eu também consigo!

As cinco se entreolharam com as sobrancelhas erguidas em admiração. As crianças e Demetria já se encontravam no centro do quarto, mais calmas.

*Toc Toc*

- Ah, mas que merda é essa?! – Dinah ergueu os braços, já irritada. – Eu disse que não devíamos nos reunir nessa porcaria de quarto! Vou ter que voltar para o banheiro fedendo a vômito de novo?!

Tendo uma reação mais rápida que a minha, Normani, ainda suspirando pelo humor ácido da namorada, caminhou até a porta e ficou na ponta dos pés analisando o olho mágico.

- Oh, é apenas a Ally e o bebê. – suspirou, aliviada.

A morena abriu a porta sorrindo para a enfermeira que tinha uma expressão neutra no rosto. Mesmo segurando o bebê fofo nos braços que parecia um pequeno príncipe, a sua áurea estava diferente e com as órbitas frias e com pouco brilho.

Quase como um tiro, quando ela me avistou no centro do quarto, um breve sorriso nasceu em lábios.

- Você poderia segurá-lo para mim, só um segundo? – Ally girou o corpo e pediu, oferecendo o Taylor que estava chupando um dedo babado.

- Claro, Ally. – Normani aceitou no mesmo instante, pegando bebê que sorria.

Tanto a morena quanto todas ali pensaram que a enfermeira pedira isso para que pudesse vir e me abraçar, como as outras fizeram momentos antes. Admito que até eu pensei que essa fosse a sua intenção ao vê-la caminhar até mim, logo, por isso, tratei de também dar passos a frente para encontrá-la no meio do caminho.

Mas tudo o que veio na minha direção foi um braço erguido. O punho se fechou em um murro extremamente forte que não passou de um vulto cortando o ar.

- Oh, puta merda... – escuto Demi exclamar ao longe.

Totalmente desprevenida, eu apenas percebi que foi atingida pela pancada quando meu queixo latejou em dor e eu cambaleei para trás, esbarrando em uma mesa. Arregalo os olhos, atordoada, e pisco devagar por causa da visão embaçada enquanto sentia o osso da minha face doer como o Inferno.

- Obrigada por segurá-lo. – Ally falou, calmamente, pegando o filho no colo de novo.

Normani, com o queixo caído, simplesmente entregou a criança sem entender nada que havia acabado de acontecer. Dinah já se encontrava ao meu lado e tentava me colocar de pé, talvez pensando que eu estivesse zonza demais para tal.

E eu estava.

 - Por que fez isso, tia Ally?! – Sofia rosnou.

Minha irmã veio até mim e também me amparou, apoiando meu outro braço em seus ombros.

Que porcaria de pancada foi essa?!

- Ela sabe o porquê. – Allyson murmurou, friamente, enquanto olhava o punho trêmulo e vermelho. – E eu sei que estou sendo uma idiota, mas só agora posso a olhar na cara sem ter vontade de esfolá-la.

- Mesmo assim, você não tinha o direito de... – Dinah começou a falar, mas eu levantei uma mão pedindo para que ela parasse.

- Está tudo bem! – digo, massageando meu queixo dolorido com a outra mão. – Ela tem sim esse direito.

Balanço meu maxilar para lá e para cá, ouvindo leves estralos. Isso certamente ficará roxo amanhã. A tensão no quarto era no mínimo palpável quando a minha melhor amiga e a minha irmã me colocaram decentemente de pé.

- Então... o que eu perdi sobre a reunião?! – Ally perguntou, como se nada houvesse acontecido.

- Nós já dissemos tudo para ela... – Normani murmurou, ainda meio assustada com a loira.

- Oh... que pena... então já vou indo... – a enfermeira deu de ombros ironicamente e chamou com a mão as duas crianças. – Vamos embora!

Minha irmã ainda tinha um olhar frio para a enfermeira, mas, mesmo relutante, apenas afirmou com a cabeça e foi até Claire. A loirinha rapidamente se juntou a loira mais velha, que esperava ambas perto da porta do quarto.

- Espera... – eu digo, meio temerosa. – Sofia dorme com você?

- Sim... – ela respondeu sem ao menos olhar no meu rosto.

- Ally, não faça isso... – Dinah choramingou ao ver como ela estava me tratando.

- Olhe... – Ally ergueu o olhar, segurando um Taylor curioso no braço esquerdo. Suas orbitas estavam marejadas. – Eu vou ajudar no que for necessário nesse plano. Mas nenhuma de vocês vai me obrigar a ficar no mesmo espaço que ela por mais de cinco minutos. Eu ainda não consigo, ok?! Eu não sei se vou conseguir daqui dois dias, daqui uma semana, daqui um mês, daqui um ano... Mas agora eu não consigo! – murmurou, com a voz embargada pelo choro. – Então simplesmente respeitem!

Abaixo a cabeça, sentindo-me desmerecida de suas órbitas cheias de dor. Meu peito ardia por causa do sentimento intenso de culpa, pois eu sabia que a loira não tinha mais seu amado por minha causa. Era como se alguém ousasse tirar Lauren de mim e depois eu fosse obrigada a conviver com essa pessoa para sempre.

Eu não sei se conseguiria.

E o que mais me machucava era saber que eu era essa pessoa para Ally. Logo ela, minha delicada Ally que esteve junto a mim desde praticamente o início de tudo.

Eu havia articulado o plano que resultou na morte de Troy, o rapaz sorridente, que ajudava qualquer um que precisasse.

Eu.

Por causa do meu desespero em salvar a minha amada.

Quando levantei o olhar, Ally já não estava mais ali assim como Sofia e Claire. Jurei escutar minha irmã sussurrar um adeus, mas eu não tinha forças para retribuir por causa da vergonha em que sentia.

Eu me sentia um nada. Uma pessoa extremamente estúpida, culposa.

- Ei... só... tenha paciência com a Ally. – Demi murmurou, colocando uma mão no meu ombro.

- Ela tem todo o direito de me odiar... Ela sabe muito bem que essa não foi minha intenção, mas fui eu quem praticamente os obrigou a participar do plano. Então sim, tenho uma parcela de culpa. – respondo, passando uma mão trêmula nas lágrimas que escorriam por meu rosto.

- Não foi algo que você poderia controlar, Camila. – Normani murmurou, com um braço passado ao de Dinah, me olhando com compaixão. – Não se deixe afundar na culpa!

- Eu vou ficar bem... – sussurro, com um suspiro sôfrego. – Vocês... vocês poderiam... hãm... eu gostaria de dormir um pouco.

- Você vai ficar bem? – Dinah ladeou a cabeça, me analisando.

- Olha... – dou um sorriso tristonho. – Há oito horas eu ainda estava no meio de uma floresta sem saber para onde ir e agora eu já vi a Lauren completamente mudada, vi que minha irmã está viva, que vocês estão vivas, que pessoas do meu antigo grupo estão mortas, vi um cara ter o crânio amassado por um taco e já levei até um soco na boca... Então... acho que o mínimo que posso fazer é dormir para tentar processar toda essa merda.

- É... eu acho que é o melhor que pode fazer. – Normani concordou, com um breve sorriso encorajador.

As três começaram então a andar em direção da porta do meu quarto, que eu cordialmente abri. Mas Dinah, antes de sumir no corredor como Normani e Demi já faziam, ela parou e me olhou com carinho como sempre costumava fazer.

- Você confia naquela mulher que veio com você? – pergunta, torcendo os lábios de forma insegura.

- A Ariana? – franzo o cenho, confusa pela pergunta. – Sim... por que?

- É só que... – hesita, pensando um pouco. – Eu normalmente não confio naqueles que não conheço. Mas se você diz a conhecer, então tudo bem.

- Tenho certeza que ela irá nos ajudar no plano, seja lá qual for.

- A primeira coisa que você precisa fazer é conseguir se aproximar da Lauren de novo, Camila. Você já fez isso uma vez, talvez não seja tão difícil de novo... por mais que eu duvide muito.

- Você realmente acha que ela mudou desse jeito? – pergunto, mexendo em meus dedos de forma ansiosa para tentar disfarçar o medo. – Eu... eu não consigo acreditar nisso.

- Eu não sei... – Dinah rosna, passando a língua nos lábios para tentar não falar coisas que não deveria. – É só que a Lauren que conhecemos não iria se submeter a isso tão facilmente. Ela iria nos procurar pedindo ajuda.

- É aí que você se engana, DJ... – eu a interrompo. – Eu conheço a Lauren melhor que você. Eu sei como ela é orgulhosa. É necessário muito em jogo para fazê-la buscar ajuda de alguém para qualquer coisa.

- Então eu espero que tenha a paciência suficiente para tentar resgatá-la, porque a minha já se esgotou. Eu já tentei conversar com ela, a abordar à força, implorar para que parasse... mas ela simplesmente me ignorou assim como fez hoje mais cedo virando as costas para mim. – a loira alta disse com ressentimento, olhando para o lado com a intenção de fugir do contato visual. – Talvez eu esteja errada e espero estar, mas realmente acho que a Lauren deixou o poder dominar a cabeça dela. Espero que você me prove que estou errada, porque... eu não sei mais o que fazer. Talvez... talvez você seja a nossa última chance.

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Os barulhos dos murmúrios das conversas ao fundo me faziam despertar lentamente. Minha cabeça ainda latejava ao mesmo tempo em que meu queixo, certamente roxo. Deixo que grunhidos saiam da minha boca à medida que me colocava sentada na cama macia, ainda de olhos fechados.

Estico meus braços e estralo meu pescoço, ouvindo os barulhos.

Inspiro com força e finalmente abro os olhos, deparando-me com a parede branca do meu quarto. Analiso ao redor, ainda sem acreditar que estava em uma cama macia, com lençóis limpos, móveis sem um mísero grão de poeira.

Levanto-me e caminho, devagar, até a janela. Puxo a cortina para um lado e, semicerrando as pálpebras por causa da claridade, vejo a movimentação do lado de fora. A comunidade já estava ativa e o Sol se encontrava no meio do céu indicando o começo da tarde. Mulheres caminhavam de um lado para o outro, compenetradas em suas tarefas.

E por eu estar ali, no segundo andar do prédio, pude finalmente ver a dimensão daquele campus.

Pigarreio e reúno coragem. Eu havia descoberto o que iria fazer naquele dia tedioso para evitar que minha mente se afundasse em pensamentos negativos: os quais envolviam Lauren.

Vou até a caixa que Normani havia trazido para mim e pego os utensílios de higiene pessoal. Tomo um banho, que deveras fora demorado, e aproveito para cuidar da minha autoestima, utilizando as giletes para dar um jeito na quantidade de pelos que já estava terrivelmente nojenta em meu corpo.

Saio do banheiro senti-me nova, passo um pouco de maquiagem para tentar disfarçar o roxo no meu queixo e fico finalmente pronta para tentar entender que porcaria acontecia naquele lugar.

Vestindo uma calça Skinning e uma regata preta rasgada nas laterais, eu fecho a porta do meu apartamento atrás de mim. Olho no corredor, que estava momentaneamente vazio, checando apenas se uma Halsey ou uma Kristen não estavam ao meu encalce.

Caminho então até a porta de Ariana e bato duas vezes na madeira.

Alguns segundos se passaram e eu pude ouvir os barulhos dos seus passos no interior do cômodo. E, por causa do tempo em que gastara para abrir, deduzi que ela havia hesitado enquanto olhava pelo olho mágico da porta.

Ariana, agora segurando a maçaneta, me lançava um olhar sério e, por causa do tempo que já passara com ela, sabia que estava incomodada com algo. A menor usava um short jeans, blusa de mangas branca e chinelos. O cabelo estava amarrado em um rabo e a feição limpa, deixando-a tão bonita como era.

- Você está magoada comigo? – pergunto, usando um tom de voz arrependido.

Ariana se surpreendeu um pouco com a minha pergunta direta e hesitou, buscando uma resposta. Mas logo apenas bufou, exausta.

- Eu apenas não gostei do fato de você ter guardado segredos.

- Eu não guardei segredos e só que... – eu gaguejo, tentando buscar uma justificativa, mas não a encontrando. – Olha... me desculpe! Não vou mais fazer isso. É só que... Normani me deixou assustada com todo esse negócio de não poder mostrar que conheço algumas pessoas daqui.

- Você conhece Lauren Jauregui? – Ariana, assim como eu, foi direta dessa vez. – Do seu passado?

Abro a boca, surpresa. Tento falar qualquer coisa, mas nada saia por meus lábios enquanto Ariana me encarava, astuta.

- Não. Minta.

- Sim... – suspiro sofregamente e passo uma mão pelo rosto.

- Então me diga a verdade! – Ariana implorou.

Eu abaixo a cabeça, tentando evitar que seus olhos pidões me chantageassem. Meu coração começava, lentamente, a acelerar por causa das lembranças que voltavam a minha mente... o sentimento... a paixão... o calor...

Engulo o bolo que se formou em minha garganta e, ao invés de respondê-la verbalmente, apenas passo minhas mãos por meu pescoço e busco uma corrente de metal que já estava ali há tanto tempo que nem mais me lembrava.

- É o nome dela na aliança. – digo.

Puxo então o cordão e mostro a aliança pendurada nele. Ariana já havia me questionado milhares de vezes de quem era o nome que estava grafado ali, mas eu nunca dissera.

O queixo de Ariana caiu e ela me encarou embasbacada.

- Espera... O QUE?! – ela vociferou, mas logo abaixou o tom de voz. – Vo-você... você me disse que essa pessoa havia morrido!

- Eu realmente pensei que ela houvesse morrido, Ariana! – eu me defendo.

- Oh... merda... – ela murmura, passando as mãos pelo cabelo bonito. – Agora tudo faz sentido! O porquê de vocês se encararem quando se encontraram de novo... o porquê de você ficar tão mexida com ela... o porquê de você passar mal ao vê-la lutando com a Halsey... Toda aquela merda que a sua amiga mecânica contou!

- Esposa...

- Não! – ela aponta para mim, me acusando. – Não me venha com “Esposa” agora sabendo que sua NOIVA está viva! – Ariana rosna e pela primeira vez eu vi raiva em sua expressão, direcionada a mim. – Eu não estou te julgando por não ter me falado o nome dela antes... eu estou te julgando por não ter me contado que ela estava viva no momento que a viu! Primeiro, você esconde de mim que sua irmã estava aqui, que sua melhor amiga estava aqui, que a namorada da sua melhor amiga estava aqui e todo o restante do seu grupo, que também estava aqui! E agora eu descubro que, a pessoa que você foi intensamente apaixonada, é na verdade uma filha da mãe que agora é a putinha de uma louca que se denomina Rainha!

Eu abro a boca para tentar retrucá-la, mas a menor faz um sinal com a mão para que eu me calasse. Meu peito estava apertado e eu me sentia uma completa estúpida por estar brigando logo com a pessoa que me ajudou por tanto tempo.

- Apenas... não fale nada! – Ariana bufou, fechando os olhos por alguns segundos para tentar se acalmar. – Me dê espaço, Camila. Deixe-me pensar, por favor! Deixe-me absorver toda essa porcaria de realidade em que você nos colocou!

E antes que um mísero ruído saísse da minha boca, o estrondo da porta sendo fechada na minha cara ressurgiu no silêncio do corredor.

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Fecho os olhos, sentindo o vento fresco do Verão batendo contra meu rosto. Eu me encontrava sentada em um banco de madeira no pátio do campus, com árvores vermelhas e laranjas decorando as redondezas. Cheirava às flores e o barulho das pessoas conversando bailava junto ao aroma.

Porém, mesmo com a calmaria do lado de fora, no interior da minha mente existia um tsunami de pensamentos. Eu simplesmente não conseguia entender que a vida era assim agora. Era como se meu cérebro não conseguisse digerir a ideia daquele lugar: pessoas vivendo em comunidade como se o mundo não houvesse chegado ao fim do lado de fora daqueles muros.

As pessoas estavam tão calmas que chegava a me irritar. Eu escutava, ao fundo, mulheres conversando sobre qual seria o almoço, qual seria a programação da próxima semana, como seria bom uma máquina de sorvete para o clima quente, como seria bom coisas... não triviais.

Exatamente como se elas não estivessem no meio de um Apocalipse, onde tanto os mortos quanto os vivos querem nos matar.

Continuo de olhos fechados, tentando me manter calma. Não poderia demostrar sinais de estresse pós-traumático, ainda mais sendo uma novata que recebia olhares estranhos o tempo inteiro.

É que... eu estava acostumada demais com adrenalina de precisar sobreviver cada segundo do dia para simplesmente entender que a vida agora seria falar sobre máquina de sorvete.

E com tudo acontecendo... com a possibilidade de Lauren ter traído seu antigo grupo... com a responsabilidade de me aproximar dela para traí-la... com a necessidade de fingir ser uma boa mulher para ganhar confiança das pessoas... com o medo de me aproximar das pessoas que amava...

Era apenas acumulativo para meu psicológico fodido.

- Preciso que você me siga assim como se eu estivesse lhe dando uma Tour pelo lugar... – uma voz melodiosa surgiu de repente, fazendo-me abrir os olhos assustada.

A sombra da silhueta bonita de Normani tampava o sol no meu rosto. Sua expressão era parcialmente tranquila, mesmo com seus olhos denunciando a expectativa de estar indo contra as regras.

- Por quê? – pergunto, levantando-me devagar.

- Porque vamos fingir que viramos amigas agora pelo fato de eu namorar sua melhor amiga. – Normani explicou, sorrindo de fato calma para mim. – Minha imagem aqui é de uma mulher inocente, que simplesmente sabe fazer coisas relacionadas a salões de beleza e lavanderia. Então você virando minha amiga pode demonstrar, talvez, que esteja de fato abaixando a guarda, ao contrário do que seria se você andasse com a Dinah.

Nós duas andávamos pelos passeios do campus, contornado o pátio principal.

- Dinah não tem uma fama muito boa por aqui, não é mesmo?

- Não. Você sabe como aquela idiota é. Não aceita ordens de ninguém... – Normani balançou a cabeça, com um suspiro.

- Exceto suas... – eu retruco, mordendo os lábios para não rir. – Aliás, poderia me explicar como vocês duas se tornaram namoradas? Da última vez que me lembro... vocês se odiavam! Você terminou com a Cara enquanto estavam aqui?!

Normani, ao ouvir o nome da arquiteta, abaixou a cabeça por alguns segundos. Arrependi no mesmo instante de ter dito isso.

- A Cara me amava, Camila. – a morena respondeu, erguendo o olhar e fitando o horizonte. – Ela me amava o suficiente para me deixar partir. Sabia que eu nunca seria feliz com ela do mesmo jeito que sou feliz com a Dinah. Aquela mecânica é uma idiota que me irrita todos os dias e às vezes penso que irei matá-la com as minhas próprias mãos... mas ela é A Pessoa. E eu sei que ela me magoou profundamente na Fazenda, mas... eu sei também que não foi fácil para ela perder a irmã. Tudo o que ela precisava era de amor, tudo o que precisava era de uma pessoa que aguentasse as pancadas porque ela mesma estava sofrendo essas pancadas dentro de si. E eu não conseguia entender isso na época, mas agora consigo. Amar alguém nesse mundo, Camila, é repartir o peso da dor, da culpa, da saudade, de todos os sentimentos e lembranças que nos assombram. Eu amo a Dinah e ela me ama. Nós duas simplesmente cansamos de lutar contra isso. E a Cara... foi a pessoa mais altruísta que conheci até hoje. Ela desistiu da própria felicidade para eu tivesse a minha.

- É por isso que você não desistiu da Lauren... – constatei em um sussurro.

Normani então parou de andar e girou o corpo para mim, olhando-me com pena.

- Pessoas comentem erros, Camila. E eu realmente espero que a Lauren tenha uma grande razão para ter se tornado quem é agora. Eu sei que tudo o que ela está fazendo contradiz com a Lauren que conhecemos, mas... há algo que não encaixa. Não é possível alguém mudar tão drasticamente assim... não depois de ela ter te amado como te amou.

Meu coração deu um solavanco ao ouvir aquelas palavras e as lágrimas rapidamente brotaram em meus olhos. Eu tentava, de qualquer forma, bloquear aquele sentimento de incompetência que ardia meu peito a cada vez que pensava em Lauren, mas estava se tornando cada vez mais impossível com a saudade sufocante.

Fico em silêncio, absorvendo o peso de suas palavras. Meu coração martelava, pensando em tudo que eu e a jovem de olhos verdes já havíamos vivido. Eu, mais que ninguém, sabia que Lauren continha um bom coração, porque tive o privilégio de tê-lo para mim por meros – mas maravilhosos – momentos.

Eu e a morena começamos então a andar pelo campus, percorrendo toda a sua extensão. Ele era, magicamente, enorme e os muros rondavam todo o perímetro.

Havia prédios antigos – que antes eram a reitoria, salas de estudos, bibliotecas menores, prédios de matérias seletivas – que agora eram escritórios específicos de departamentos. Por exemplo, exista a pequena fábrica de projeteis que produziam suas próprias munições para armas. Existiam escolas para as crianças, com mulheres responsáveis por ensiná-las tanto matérias usuais como de autodefesa. Havia os galpões onde as comidas eram estocadas e estes tinham guardas o tempo todo, evitando uma possível rebelião. Outros galpões serviam para guardar materiais de construção para o muro. Havia um prédio que era uma espécie de atacadão, onde tudo que se encontrava do lado de fora ela posto ali como: roupas, utensílios de limpeza de casa, joias e outras coisas fúteis. 

- Como... como eles conseguiram erguer esses muros ao redor desse lugar tão grande? – pergunto assim que eu e a morena chegamos em frente a um prédio que tinha a placa: Lavanderia.

Normani, antes de responder, empurrou a porta do prédio que abriu com um sino tocando, indicando a entrada.

- Tudo começou porque estavam construindo uma pista de Fórmula 1 há quase 50km daqui. – ela explicou, deixando-me passar primeiro. – Ouvi histórias que algumas pessoas que moravam no campus, estudantes mesmo, foram os primeiros a erguer as primeiras vigas. Muitos já viviam aqui no campus e com os comunicados do Governo, decidiram não sair daqui. Mas ao verem que estavam encurralados, começaram a tentar se proteger e ergueram com a ajuda de mais pessoas que chegavam os primeiros muros.

- Então esse lugar está aqui desde o começo? – questiono, embasbacada. – Há quase três anos?

- Sim... – Normani concordou. – Por isso ele já está tão desenvolvido. Com o tempo, eles foram buscando mais ferragens e mais formas de fortalecer o muro, além de claro, expandi-lo.

Só então olho ao redor e vejo o cômodo em que estava. Ele havia sido adaptado em uma espécie de lavanderia com, no mínimo, umas seis ou sete máquinas de lavar. Todas estavam em funcionamento, tremendo e remexendo os tecidos que estavam embebidos em água e sabão.

Vic, que estava deitada em uma almofada no fundo da lavanderia, assim que avistou deu um latido animado. A cadela tinha os pelos sedosos e brilhantes, denunciando seu banho caprichado. Ela rapidamente veio até mim, com a língua para fora e cheirando meus pés.

- Olá, garota. Está sendo bem cuidada?! – pergunto, sorrindo ao passar minha mão por sua cabeça.

Ela latiu, quase como em uma resposta afirmativa.

Três mulheres estavam tomando conta das máquinas de lavar. Uma era baixinha e tinha os cabelos cortados na altura dos ombros. O rosto era delicado assim como os olhos que me estudavam com curiosidade. A outra era mais alta, os cabelos batiam no meio das costas, magra e rosto fino. E a terceira era a mulher estonteante que conheci na tarde passada.

- Essas são Lucy Hale, Troian Bellisario e Shay Mitchell... – Normani nos apresentou. – Garotas... essa é Camila Cabello, novata aqui.

As duas primeiras, simpáticas, sorriram ao mesmo tempo e logo deram passos ligeiros em minha direção. Shay permaneceu colocando as peças de roupas dentro das máquinas, com uma expressão neutra.

- Tudo bem? – Lucy, a baixinha, me abraçou repentinamente, dando-me um breve susto por sua simpatia exagerada.

 Troian estava logo atrás, rindo da amiga.

- Não a assuste, idiota. – a magra a repreendeu. – Sabe como não gostamos de contato quando passamos muito tempo lá fora.

- Me desculpe... Me chame de Hale. – a baixinha pediu, soltando-me com uma cara de arrependida. – É que sempre bom ver pessoas vivas!

Eu apenas sorrio fracamente, sentindo-me meio incomodada com toda aquela hospitalidade.

- Eu... eu queria poder concordar com isso... Mas nem sempre pessoas vivas é um bom sinal. – digo, torcendo os lábios de leve.

Troian e Hale trocaram rápidos olhares, um pouco surpresas por minha resposta negativa. Normani apenas suspirou, indiretamente concordando comigo depois de tudo que havíamos passado, e colocou uma mão no meu ombro de forma amigável.

- Shay? – a morena chama pela outra, que continuava focada em seu trabalho. – Está tudo bem?

- Sim... – Shay respondeu, virando o rosto o suficiente apenas para me lançar um sorriso meio forçado. – Seja bem-vinda, Camila.

- Obrigada. – retribuo, meio sem graça.

- Hãm... – Normani balbuciou, vendo que o clima havia ficado meio estranho. – Eu só vim para checar como estão as coisas... – a chefe da área falou, ao meu lado. – Se vocês vão conseguir limpar tudo...

- Só vocês três são responsável por lavar todas as roupas? – ergo uma sobrancelha, incrédula.

- Não... – Troian balançou a cabeça, doce. – Nós temos outras mulheres em outros turnos. Geralmente nossa Dona coloca mulheres que não tem muita experiência para batalhar nesses serviços. Então há turnos diferentes.

- Oh... – eu murmuro, sentindo-me cada vez mais incomodada quando usavam aquele termo “Dona”.

- Eles já lhe deram um trabalho? – Hale pergunta, prestativa.

- Não. – balanço a cabeça.

- Mas não devem demorar muito. – Troian acrescentou. – Acho que até amanhã você já deve ter. Vero e Lauren não gostam de deixar as pessoas sem fazer nada... Falando nisso, as duas já chegaram? – perguntou para a morena. – Ouvi dizer que saíram hoje cedo. Estranhei, porque a Lauren nem veio buscar o coldre lavado dela.

- Eu não sei... – Normani deu de ombros. – Bem... já estamos indo... Até mais tarde, garotas.

Despedi-me das duas mulheres simpáticas, vendo que Shay sequer olhou em minha direção. Eu e Normani saímos da lavanderia ouvindo o sino tocar acima de nossas cabeças. O ar fresco novamente bateu contra nossos corpos, assim como o Sol quente que reinava no centro do céu.

- Por que essa mulher, a Shay, é daquele jeito? – pergunto.

- Ela... ela tem Transtorno de Estresse Pós-traumático. – Normani responde, mostrando sua tristeza pela colega de trabalho. – Ela não gosta muito de socializar e a única pessoa que consegue fazê-la efetuar algo além do trabalho é a namorada dela, a Ashley.

- Benson? – ergo uma sobrancelha, surpresa. – A policial loira?

- Sim... elas foram encontradas juntas há mais ou menos quatro meses. A Shay precisou de muitas sessões de terapia com a nossa única psicóloga que temos aqui. As duas são boas pessoas e não querem pisar em ninguém, só viver em paz aqui, o que é raro, na verdade.

Desvio o olhar, tentando não demostrar meu desconforto com a situação. Eu sabia que meu psicológico não estava bom e ouvir aquilo me deixava ainda mais ansiosa, temendo que algo estivesse errado comigo.

- Sabe... eu acho que tudo vai dar certo. – Normani murmurou, repentinamente, fazendo-me olhá-la de forma confusa. – O... plano, sabe? Você é perfeita para isso.

- Perfeita? – acuso, quase ofendida. – Ser obrigada a fingir o tempo todo?

- Você já se olhou no espelho, Camila?! – a voz da morena agora era séria. – Não tente negar, porque é hipocrisia. Você, no fundo, gostou daqui! Se você escolheu ficar é porque sabe que consegue. Camila, a Dinah lhe conhece desde basicamente o começo do Apocalipse e ela me disse você mudou! Mudou drasticamente! Você agora é calculista, você tem pensamentos rápidos sobre sobrevivência, você... – ela hesita alguns segundos. – Você consegue controlar suas expressões e sentimentos de um jeito que nunca vi! Isso é o que te diferencia da Lauren! Eu a odeio agora?! Sim, mas eu sei que ela é mais do que está aparentando! Aquela idiota sente demais, é emotiva demais mesmo que não mostre! E ela não consegue filtrar os sentimentos de uma forma racional como você faz! Você é perfeita para isso, sabe por quê?! Porque você tem uma espécie de alter ego, ou sabe-se lá o quê, que quando é acionado muda completamente o seu jeito. E, não menos importante... você é o ponto fraco da Lauren. Então repito novamente: você é perfeita para isso.

À nossa frente estava um prédio branco, com detalhes italianos. Pela escrita acima das portas de vidro, aquela costumava ser a Enfermaria da Universidade que agora era, de fato, o hospital da comunidade.

Eu já estava prestes a retrucá-la quando murmúrios de conversas foram crescendo subitamente. Olho ao redor, confusa, e vejo então mulheres encarando um carro que vinha em alta velocidade na rua do campus.

O motor urrava por causa da potência.

Era um Mustang 69 negro, que tinha as rodas pratas patinando no asfalto. Os vidros eram escuros, a lataria empoeirada – mas que mostrava que com uma devida limpeza seria impecável. Continha detalhes pratas por todo o exterior bonito e sofisticado.

O carro foi freado com violência bem a nossa frente, com o barulho característico ecoando no silêncio feito por todas as mulheres que encaravam a cena.

Bastaram meros segundos para que a porta do motorista fosse aberta com brutalidade e uma Lauren banhada por sangue negro na roupa rasgada surgisse. Sua pele branca estava suja pela gosma de zumbis, assim como seu cabelo amarrado em um rabo no alto da cabeça. Entranhas ainda estavam agarradas ao tecido da blusa polo e a única Desert Eagles dourada que estava no cós da calça preta também suja.

A jovem, correndo, deu a volta no carro já abrindo a porta do carona com rapidez. Por causa das mulheres que cada vez se acumulavam – e isso incluía Hale e Troian que saíram da lavanderia curiosas – ficava cada vez mais difícil ver a cena a frente, obrigando-me dar passos para o lado e entrar na multidão que se formava.

Lauren agora estava com o braço de uma Veronica desacordada sobre os ombros, suportando o peso da mulher. Vero tinha sangue fresco, humano, escorrendo pela coxa, largos arranhões pelos braços e também suja de terra. O tornozelo direito dela estava em um terrível aspecto, com dois cortes profundos de cada lado expelindo sangue.

- Alguém me ajude! – Lauren gritou irritada, para todas as mulheres que a olhavam. – Façam algo, porra!

Rapidamente Halsey surgiu por entre o público e pegou o outro braço de Veronica, ajudando a carregar seu peso.

- O que aconteceu?! – a de cabelos azuis questionou, assustada com o estado da inconsciente.

- Zumbis surgiram. – Lauren explicou enquanto carregava Veronica com a ajuda até perto da enfermaria, logo em frente. – Tudo estava sobre controle até que Vero, sem ver, pisou em uma armadilha no meio da floresta. O negócio armou e uma espécie de estaca de quase cinquenta centímetros entrou no tornozelo dela.

Estico mais o pescoço para tentar ver acima das cabeças.

- Lauren?! – a voz de Allyson surgiu e logo a figura da enfermeira apareceu, afobada, caminhando pelo corredor vestindo um jaleco branco. – Vero?! O que aconteceu?!

- Ela perdeu muito sangue! – Lauren explicou, retirando o braço de Vero no ombro para sentá-la na cadeira de rodas que outra enfermeira disponibilizou. – E também bateu a cabeça, por isso está desacordada.

- Há quanto tempo ela está perdendo sangue? – Ally, em seu modo médico, perguntou enquanto abria os olhos de Vero e iluminava, com uma lanterna, suas íris procurando certamente por algum trauma na cabeça.

- Hãm... – Lauren, visivelmente nervosa, tentava pensar. – Talvez uns quarenta minutos... Estávamos relativamente longe dessa vez. Eu corri o máximo que pude!

- Tudo bem... Chame a Meredith Grey para uma cirurgia e alguém chame também a Rainha Lucy... – Ally, a chefe da área, ordenou para as outras pessoas que estavam ao seu redor. – Ela não vai gostar nenhum pouco de saber como A Favorita dela está... Lauren, você está bem? – a baixinha olhou então para a jovem de pé.

- Estou sim... Só alguns arranhões, mas nada demais. Vou tomar um banho e depois venho aqui para passar uma pomada neles, sei lá...

- Ok... – Ally suspirou e então fez um sinal com a cabeça.

As mulheres que vestiam jaleco seguiram a enfermeira para o interior do pequeno hospital enquanto Halsey, que acatou a ordem para si, saiu dali à procura da Rainha.

Aos poucos as mulheres começaram a dispersar, cada uma voltando aos seus afazeres. Normani, magicamente, ainda se encontrava ao meu lado e, assim como eu, lançava olhares confusos para jovem que saía do hospital.

Lauren passava as mãos pelos braços tentando retirar os resquícios da gosma que, infelizmente, já estava grudada em sua pele. Ela fazia caretas de nojo, arrumando a roupa rasgada no corpo.

Mas dentro de mim, o sentimento de proteção gritava mais alto. Mesmo com meu lado racional berrando que não deveria fazer isso, antes que eu realmente notasse o que estava fazendo, minhas pernas já iam em sua direção.

- Você está bem?! – as palavras escapuliam por meus lábios. – Você se machucou?!

O medo brilhava em meus olhos por ela estar ferida.

Lauren hesitou alguns segundos, ainda de cabeça baixa. Ela então ergueu o olhar para mim, totalmente confusa por me ver daquele jeito.

O problema era que, ao redor de nós, ainda existiam algumas mulheres curiosas e, principalmente, duas que não poderiam sequer ter noção que nos conhecíamos: Kristen e Ashley. Todas nos olhavam com curiosidade, tentando entender o porquê da minha angustia em ver Lauren Jauregui daquele jeito.

E percebendo exatamente isso, Lauren engoliu seco. Então, de um jeito que eu não esperei, ela simplesmente abriu um sorriso totalmente sarcástico nos lábios bonitos.

- Por que você não cuida das suas coisas?! – ela rosnou, com suas íris verdes frias. – Vá fazer alguma coisa de útil enquanto eu procuro um trabalho para você! Eu estou bem!

Meu queixo caiu à medida que me sentia sendo atingida por um trem depois de tamanha falta de educação. E como se não fosse suficiente, ela ainda abriu mais o sorriso e virou as costas para mim, saindo por entre as mulheres que agora cochichavam e riam da minha cara de desiludida.

Minha incredibilidade era tão grande que eu sequer acreditava que aquilo houvesse acontecido.

As lágrimas vinham sem que eu permitisse.

Eu não queria chorar por aquela filha da mãe.

Eu não queria me mostrar fraca diante daquelas mulheres.

Não queria.

Então, ao ver sua silhueta sumindo, eu tomei uma decisão.

Eu me tornaria um demônio assim como ela, para resgatá-la do Inferno.

E a primeira coisa que eu precisava fazer era resgatar a minha antiga personalidade: a Camila Cabello cheia de confiança.

- Vocês estão bem? – a voz afobada de Dinah surgiu, de repente, trazendo consigo a loira que apareceu atrasada e preocupada ao ver Lauren se distanciando.

Ela vestia seu macacão de mecânica, denunciando que estava trabalhando quando aquele pequeno alvoroço começou. Mas eu a ignorei por completo, voltando minha atenção para Normani.

- Eu vou fazer isso. – respondo, convicta. – Eu vou fazer parte do plano.

Os rostos das duas mulheres ao redor de mim se iluminaram com os sorrisos alegres, quase esperançosos.

- Eu não sei o que a Mani falou para lhe convencer, mas não vamos perder mais tempo. Nós temos que... – Dinah já ficava de pé e pegava o meu braço bruscamente.

- Espere, idiota! – Normani bloqueou a loira alta, fazendo-a soltar o meu braço – Olhe para ela... – a morena apontou a cabeça para mim. – Sem chances de ela conseguir conquistar a Lauren de novo ou até ganhar pontos com a Lucy... assim....

- Assim como? – pergunto, olhando para o meu corpo.

- Querida... – a morena inclinou-se, me encarando com uma sobrancelha erguida. – Você, antes de tudo, precisa transparecer uma imagem de mulher segura, confiante e forte. Mas, tenho minhas dúvidas, se você vai conseguir fazer isso com o cabelo tão ressecado, olheiras terríveis e uma monocelha na testa.

 - Monocelha... – Dinah se contraiu toda para segurar a sua gargalhada exagerada, colocando as duas mãos na frente da boca.

- Ei! – eu me defendo, sentindo minhas bochechas queimarem pela vergonha. – Eu estive lá fora por quase sete meses! Acha que eu tive tempo para parar em um salão de beleza para ver se tinha um horário sobrando?!

- Sua sorte... ninguém mais que euzinha aqui... – Normani se vangloriou, usando um egocentrismo cômico. – Possa dar um jeito nisso.

Dinah me olhava com os olhos gritando sua risada interna e Normani me analisava como uma futura obra de arte a ser feita.

- Vamos dar um jeito em você. O plano para ter Lauren Jauregui de volta começa agora.


Notas Finais


QUEM AÍ TÁ PRONTA PARA PDV DA LAUREN NO PRÓXIMO CAPÍTULO? E MELHOR, QUEM ESTÁ PRONTA PARA PANCADARIA? ~além do murro da Ally na pobrezinha da Camila.

O que acharam?
Até a próxima, Walkers, a autora ama vocês.


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