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História Into The Dead - Capítulo 48


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá, meus amados leitores! Numa escala de caindo do palco e tudo beleza pra ir ler fic sapatão em apocalipse zumbi, em qual vocês estão?
A autora aqui está banhada no humor negro hoje, então se preparem para o capítulo. O tão famigerado PDV da Lauren chegou.

Eu sempre esqueço o que tenho que falar nessas notas, então vamos só seguir o baile. Boa leitura, me perdoem pelos erros e escutem as músicas!

Obs: Ah, e uma dica? Prestem atenção nos pequenos detalhes.

Capítulo 48 - Capítulo 48


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 48

LAUREN PDV

*Music On* (River – Bishop Briggs)

A fumaça do meu cigarro aceso bailava pelo ar fresco da noite, subindo pela escuridão e sumindo acima da minha cabeça. Eu me encontrava de olhos fechados massageando com a mão livre o centro da testa em uma tentativa fútil de diminuir a dor de cabeça que me castigava. O incômodo parecia nascer nas laterais e terminar acima das minhas sobrancelhas, tornando-se irritante.

Ao fundo tudo o que eu escutava eram pequenos barulhos de grilos e outros animais noturnos nas árvores do pátio principal. O vento da madrugada refrescava a minha pele que, momentos atrás, estava molhada por suor.

Eu realmente esperava que a nicotina de um bom cigarro me acalmasse após mais um pesadelo, que, por mais que houvesse se tornado normal, não havia se tornado menos atormentador.

Levo o cigarro até meus lábios e trago com força. Assim que expiro com um suspiro sôfrego a fumaça pelo canto da boca, eu sinto o meu corpo ficar menos tencionado.

Abro os olhos e vejo a comunidade dormindo.

Apenas luzes fracas de lampiões presos em postes medianos – que não pudessem ser vistos além dos muros – iluminavam as ruas vazias. Dali, ao longe, eu podia ver as mulheres que trabalhavam como guardas nos muros caminhando para lá e para cá, nunca perdendo, nem por um mero minuto, a atenção para o que acontecia lá do lado de fora.

Meu quarto, assim como o de Veronica, também ficava no prédio principal de Lésvos: a mansão da Rainha. Costumava ser a biblioteca da Universidade, mas fora completamente ajustada para acomodar as pessoas que ela gostava de dizer “elite”.

Eu era a sua guarda-costas, então nada mais lógico que dormir no quarto ao lado do seu.

Baixo a cabeça por alguns segundos buscando diminuir a tensão em meus ombros. Os pensamentos me atormentavam e eu tentava desviar meu foco, pois sabia que quanto mais os ouvisse mais paranoica ficaria.

Procuro então chamar minha atenção para minhas pernas nuas. Com o Verão se aproximando Nebraska nos castigava com os dias e noites quentes. E em uma tentativa de dormir melhor, eu gostava de me deitar apenas com a lingerie.

Eu não dava à mínima se existia a possibilidade alguém me ver seminua na varada do meu quarto, no segundo andar.

Ter apenas mulheres na comunidade havia seus privilégios.

Seguro o cigarro por entre os lábios enquanto amarrava meu cabelo, com madeixas mais curtas, em um coque desajeitado.

O sol sequer dava indícios de que iria nascer por ainda ser meras quatro horas da manhã. Todas estavam descansando para logo cedo irem para seus respectivos trabalhos.

Mas não eu.

Por quê?

Porque eu estava pensando nela.

Aquela maldita Camila Cabello.

Aproveitando o cigarro entre os lábios, eu trago com ainda mais vontade até que terminasse de vez com ele. Ainda soltando a quantidade significativa de fumaça pelo canto da boca, eu amasso a sua ponta no metal da varanda ampla, o apagando abruptamente.

Ela era a culpada pelos pensamentos estarem me perseguindo outra vez. Durante um tempo eu mantive certos sentimentos guardados no interior de uma gaveta, juntos às minhas emoções que na maioria das vezes apenas me fizeram tomar decisões estúpidas. Decisões que se eu houvesse sido fria o suficiente para pensar com clareza, poderia ter evitado várias mortes.

Mas desde o momento que coloquei meus olhos naquele corpo latino e rosto angelical... tudo começou a desandar por dentro. Foi como se uma pequena batalha houvesse começado, onde a presença de Camila Cabello fosse uma parte pura de mim que quisesse vir à tona.

Eu simplesmente não conseguia mais segurar a intensa vontade que tinha de expressar minha felicidade por saber que ela estava viva e bem.

Por Deus... eu pensei que a mulher que tanto amei estivesse morta.

Eu acreditei fielmente nisso por mais de sete meses.

Meses atrás, quando Dinah e Normani ainda não me odiavam, as duas haviam me contado sobre a noite do manicômio. Só de imaginar tudo acontecendo, com todas as “coincidências” explicadas e se encaixando, o meu estômago revirava. Camila e eles me procuraram por dias e me acharam. Eles tentaram me salvar, eles causaram o incêndio que deu a oportunidade para que eu e Shaun fugíssemos.

E eu fui a culpada por tudo aquilo desandar, porque se tivesse ficado quieta dentro da minha maldita sala onde estava presa... eles teriam me achado. O plano teria dado certo. Troy não estaria morto. Shaun não estaria morto. Camila não teria passado tanto tempo longe da irmã e o grupo não teria quebrado.

Cara Delevingne nunca soube me dizer se Camila saíra ou não viva do manicômio, pois apenas vira sua silhueta sumir por entre os mortos e nunca mais voltar. Dissera que ela e meu irmão procuraram por dias os rastros da latina nas redondezas, mas eles simplesmente não existiam.

Eu logo pensei na pior possibilidade.

Camila estava morta.

E era por minha causa.

Porque fora me resgatar.

Eu, mais uma vez, era a culpada por toda a merda.

Fecho os olhos, tentando me livrar daqueles sentimentos corrosivos que haviam voltado com uma intensidade gritante depois que Camila Cabello apareceu viva magicamente no meu caminho, no meio de uma floresta.

Quando eu a vi foi como se a Terra houvesse parado de girar por alguns segundos. Foi como se eu voltasse à vida e encontrasse um anjo para me guiar.

Mas então a realidade voltou à tona. Tudo o que eu havia feito, todas as decisões que havia tomado, tudo o que eu havia me tornado vieram como um meteoro destruindo a emoção genuína que pairou por alguns segundos.

E, nesse exato momento enquanto eu voltava para o interior do meu quarto, o pesadelo que me atormentou há menos de dez minutos voltava como uma punição, se reproduzindo em minha mente.

Parte de mim sabia que aquilo era um sonho.

É sempre assim, certo? Quando estamos em um sonho, uma pequena – mas existente – parte de nós sabe que aquilo não é verdade, mas, as coisas que estão acontecendo ao nosso redor são tão vívidas e tão presentes que fica quase impossível ter total certeza que não é real.

Olho ao redor e magicamente estava no interior daquela sala desgraçada. A mesma sala que fiquei durante horas, sentindo fracas descargas elétricas percorrerem o meu corpo de forma torturante. Não era choques fortes o suficiente para me machucar, mas os fios estavam dispostos estrategicamente em pontos da minha cabeça para tornar aquilo algo tortuoso.

Pela umidade gélida, pelo cheiro de mofo, pelas baterias conectadas a fios desfibriladores em cima de uma mesa lateral, eu sabia que me encontrava na sala T, ou mais conhecida como Sala da Tortura. Ela não era usada com muita frequência, porque, todas mulheres mostravam-se muito adeptas a entrar para nossa comunidade. Talvez elas só estivessem cansadas demais de sofrer abusos lá fora e quando recebiam a proposta de morar em um lugar onde poderiam ser quem quisessem em troca de um trabalho... elas aceitavam.

Então a Sala de Tortura só ficava para aqueles que se mostravam rebeldes...

Mas isso é outra parte da história.

Eu me encontrava atordoada, quase assustada por estar ali outra vez. Por isso soube que era um sonho. Não havia feito exatamente nada errado para acabar ali. Eu fazia minhas obrigações, cumpria as ordens...

O meu olhar desceu para os meus punhos e eu me vi, magicamente, presa a cadeira fofa. Eles estavam amarrados aos braços da cadeira com elásticos grossos e resistentes, assim como meus tornozelos. Minha boca estava obstruída por alguma coisa, certamente um pedaço de pano.

Continuei quieta até o barulho enferrujado das dobradiças ecoaram no silêncio, denunciando que a porta do cômodo estava sendo aberta. Amedrontada, olho a figura se aproximando devagar de onde eu estava amarrada.

Lucy afagou meu rosto lentamente, apertando minhas bochechas com as palmas das mãos macias. Ela sorriu, tristonha, como se sentisse uma culpa.

- Eu não acredito que você nos traiu outra vez, Lauren! – sua voz era aveludada, quente, assim como um sibilo. – Eu realmente tentei ter compaixão por você... Eu te dei a chance de se tornar parte da elite, você se tornou meu braço esquerdo! Mas você a desperdiçou me traindo outra vez!

O ar no interior dos meus pulmões já começava a ficar escasso por causa do desespero que devagar surgia. Pisco rapidamente, tentando manter-me focada em sua expressão que a cada segundo ia endurecendo e transmitindo a raiva que aparecia.

- Você escolheu ajudar a eles! – ela grunhiu, como se sentisse extremamente ofendida por isso. – Você acha que eu não descobriria? Que isso seria um segredo para sempre?! Que a culpa cairia sobre o acaso?! Não, minha amada Lauren, eu sempre descubro! Não acredito que você pensou que eu nunca iria descobrir isso!

Sua voz agora não era mais aveludada e seus olhos não eram mais calmos. O tom era ríspido, quase grave, semelhante ao de um rosnado irritado.

Seu aperto em minha bochecha aumentou, chegando a doer.

Eu começo a grunhir, choramingando em desespero enquanto tentava me livrar da cadeira.

- Sabe muito bem o que vai acontecer agora... – Lucy falou, encarando-me intensamente. – Eu vou castigar você! Eu vou te punir do mesmo jeito de quando você chegou aqui, lembra?! Quando você se negava a me dizer qual era o seu antigo grupo, quando você se negava a me dizer quem era a pessoa que você amava e que era a única lembrança que te mantinha sã, longe dos pensamentos psicóticos... lembra?! Lembra quando você estava morta por dentro, mas útil por fora? LEMBRA?! LEMBRA-SE DA PESSOA FRACA E DESTRUÍDA QUE ERA E AGORA SE TORNOU UMA SOLDADO EFICAZ?! LEMBRA?!

Ela gritava alto, com o seu hálito batendo contra o meu rosto.

- Eu refiz você, Lauren! – Lucy rosnou, ainda segurando firmemente minhas bochechas. – Eu te dei razões para continuar vivendo! E você fez o quê?! Você me traiu! Eu confiei em você e você mentiu para mim! – ela parou por alguns segundos e me encarou com a respiração ofegante. – Você... você me passou para trás!

Grunhidos abafados ficavam presos em minha garganta. Eu tentava gritar com os meus olhos, implorando para que ela não ligasse aquela maldita máquina e me fizesse passar pelas mesmas sensações de meses atrás.

- E, agora, você teve a audácia de pensar que iria me enganar uma terceira vez, não é mesmo Lauren?! – Lucy continuou após alguns segundos.

Ela soltou bruscamente as minhas bochechas e começou a caminhar em direção das baterias em cima da mesa.

“Não!” eu tento gritar, mas o pano no interior da minha boca impedia.

- Você acha que eu não sei que a pessoa que você amou está aqui... no meu Reino?! – a Rainha falava ao mesmo tempo em que girava os botões das baterias, as ligando e colocando em uma alta tensão. – Você não acha que eu descobri que Camila Cabello foi a mulher da sua vida?! Achou mesmo que eu não iria descobrir?!

“Não, por favor, não!” os grunhidos ficavam parados na minha garganta seca. Eu me debatia na cadeira, tentando me livrar desesperadamente dos elásticos presos aos braços. O meu coração já estava descontrolado, a respiração errada.

Lucia Vives então girou o corpo para mim, segurando os fios de alta tensão. Seu semblante era tão delicado que poderia muito bem ser confundida com um anjo enquanto todos sabiam que era um demônio.

- Você, mais que ninguém, sabe que eu não sou uma má pessoa! Eu gosto de matar, você sabe disso, mas eu gosto de matar quando me dão razões! E eu não gosto quando me dão razões, porque eu não gosto do fato de gostar de matar! É confuso, mas real! – elas resmungou, completamente contrariada. – Mas você não me deu outra opção! Primeiro, me engana e esconde o erro por meses! Segundo, traz a mulher que é o amor da sua vida para o meu Reino!

Lucy, sem hesitar, coloca os fios sobre as minhas mãos fazendo com que a descarga elétrica começasse, assim como ácido, a percorrer todo o meu corpo.

Eu começo a berrar alto, sentindo aquela dor desesperadora correndo cada partícula do meu corpo, sentindo como se meu cérebro estivesse sendo fritado ao mesmo tempo em que meus ossos se tornavam nada.

- Você é totalmente minha, Lauren! VOCÊ É MINHA PROPRIEDADE!

 

E foi nesse momento que acordei, tremendo, exatamente do mesmo jeito em que eu me encontrava agora encarando o meu quarto vazio.

Quando despertei, momentos atrás, me sentei em um supetão na cama já afagando e apalpando meus braços à procura daquela maldita descarga elétrica atrás atravessava o meu corpo. Uma camada nojenta de suor brotava em minha testa e meu peito subia e descia por causa da respiração irregular.

Suspiro, quase me tentando a acender outro cigarro. Aquela porcaria havia se tornado o meu vício, sendo a única coisa que me acalmava depois dos pesadelos que tinha todas as noites.

Devagar, me arrasto pelo colchão até estar devidamente deitada outra vez sobre o lençol branco. Meu quarto era quase o triplo do tamanho dos quartos das outras habitantes da comunidade, com direito a micro-ondas, água gelada.

Minha cama era uma king case de casal, com lençóis que eram trocados todos os santos dias por mais limpos que ainda estivessem. Meu pequeno frigobar, que ficava estrategicamente perto do micro-ondas na pequena cozinha, estava sempre cheio com produtos que eu raramente comia. Meu guarda-roupa era completo, mesmo eu usando sempre os mesmos trapos que gostava.

Aquele maldito sonho ainda fazia minhas entranhas apertarem.

Era praticamente impossível que Lucy houvesse descoberto o meu segredo e, ainda mais impossível, que ela houvesse descoberto que Camila era a pessoa que eu negava dizer nas sessões de tortura quando cheguei naquele lugar.

Balanço a cabeça negativamente, tentando me livrar das paranoias. Viro para o lado, com a cabeça pousada no travesseiro macio, e encaro a parede oposta. O sentimento de solidão me atormentava por mais que, na maior parte do dia, eu estivesse cercada de pessoas.

Mas o que mais me corroía era saber que, as pessoas com quem me importava, me rotulavam como traidora.

E o pior era: elas tinham razão.

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Já era próximo das dez horas da manhã quando desisti de vez de tentar dormir.

Giro as pernas e pulo da cama em um único movimento. Uma calça jeans estava jogada sobre uma cadeira próxima, assim como a minha camiseta cinza. Puxo ambas as peças e rapidamente as coloco sobre a minha lingerie branca. Vou até o banheiro, faço minha higiene – já não mais matinal – e volto até a mesa central do cômodo.

Alongo meu pescoço ao mesmo tempo em que vestia meu coldre nas costas, fazendo com que minhas Desert Eagles douradas ficassem dispostas abaixo das minhas axilas.

Ambas foram presentes de Lucy.

A mulher dissera que era uma recompensa por meu me mostrar tão fiel.

Meu corpo estava dolorido por causa da luta de dois dias atrás. Halsey estava ficando extremamente boa, o que significava certamente que sua vontade de tomar o meu lugar crescia cada vez mais. Eu tinha plena noção que a mulher de cabelos azuis não gostava de mim e que estava prestes a fazer qualquer coisa para ter para si o meu cargo, portanto, eu vivia atenta. Ela, mais que ninguém, sempre tentou me derrotar nas lutas de boxe, mas nunca conseguiu.

E nem conseguiria tão cedo, porque ela nunca teve a experiência traumatizante de lutar em meio a zumbis tentando a devorar enquanto soldados desgraçados zombavam.

Veronica também sabia lutar, porém dizia que não via graça em fazer aquilo como esporte. Fora ela quem me ensinara e quem me incentivou a entrar nas lutas que aconteciam todos os domingos. No passado, quando fui submetida a isso no Acampamento Militar, eu não consegui entender o significado. Mas agora eu entendia. A violência, a adrenalina, o público focado em algo derivado disso mantinha todas sobre controle.

Não era brutal ou assassino como no Acampamento, mas servia muito bem para liberar a minha raiva, a raiva das outras participantes e a adrenalina das mulheres que assistiam.

É... talvez Thomas Hobbes estivesse realmente certo.

Novamente, ao ver que eu estava divagando, eu pigarreio balançando a cabeça. Pego minhas Desert Eagles que estavam em cima de uma cômoda ao lado da cama e coloco as armas douradas em seus devidos coldres. Pego a chave do meu apartamento e as chaves do meu carro, as colocando no bolso do jeans assim que tranquei a porta do lugar.

- Senhorita Jauregui... – ouço a voz de Zooey Deschanel assim que girei meu corpo no corredor.

Seus olhos azuis claros demonstravam o medo por me abordar. Baixinha, com uma franja no meio da testa e cabelos ondulados, Zooey era uma simples habitante de Lésvos. Ela não tinha cargo ou outro trabalho importante, apenas era obrigada a limpar os corredores do prédio principal como... hãm... uma empregada.

Ela abaixou a cabeça, fazendo uma reverência.

Na maioria das vezes não gostava quando os habitantes dali faziam reverências a mim como se eu fosse uma líder.

A dona daquele lugar era Lucia Vives e não Lauren Jauregui.

- Olá, Zooey. – murmuro, sem muito humor na voz.

- V-você quer que eu limpe seu quarto? – ela gaguejou e jurei ver a vassoura que segurava tremer em sua mão direita. – A governanta me deu permissão.

Eu fecho os olhos, suspirando para não ser sem educação.

- Você sabe as regras, não sabe?! Então... – rosno, já abrindo os olhos e lançando um olhar frio. – Não. Entre. No. Meu. Quarto!

- M-me d-esculpe, Senhorita J-jauregui! – sua gagueira piorou ainda mais por causa do medo corroendo seu corpo. – N-não irei perguntar mais! C-caso precise de meus serviços, me chame!

A mulher baixinha praticamente saiu correndo pelo corredor, segurando a vassoura em uma mão e o balde – que antes estava no chão – na outra. Ela virou uma interseção e sumiu segundos depois, ainda temendo algo que eu não entendia.

Eu havia sido rude?

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Pouco depois eu já abria as portas de vidro do pequeno hospital em um movimento brusco, vendo duas mulheres usando jalecos brancos debruçadas sobre o balcão conversando.  Assim que ambas me avistaram, elas congelaram e trataram de calar as bocas ficando eretas e com expressões neutras como se estivessem trabalhando o tempo todo.

Eu apenas bufo. Caminho pelos corredores limpos e que cheirava a desinfetante, olhando os números acima das portas. Aquele hospital não era muito grande, mas conseguia muito bem suprir a nossa cota de acidentes. Allyson fazia um ótimo trabalho como subchefe dali e eu tinha certeza que a loirinha logo subiria de cargo, ainda mais que Meredith Grey parecia estar irritando Lucy com assuntos não triviais.

Ao encontrar o número 27, eu empurro a porta branca sem nenhuma cerimônia.

- Ih, alguém acordou azeda hoje... – Veronica cantarolou assim que me viu fechar a porta com um baque.

- Como você está, idiota?! – pergunto, me aproximando de seu leito.

- Me sinto como em um SPA... – ela zombou, colocando os braços abaixo da cabeça como se estivesse relaxando.

Vero tinha o seu característico sorriso malicioso nos lábios e uma cara de sono, como se realmente estivesse aproveitando aquele tempo longe de suas obrigações. A pele bonita e bronzeada continha algumas escoriações, principalmente na lateral do rosto, nos braços e nas pernas. O tornozelo estava envolvido por gaze grossa e seu punho continha um esparadrapo que segurava uma intravenosa, certamente por causa da sua perda de sangue.

Nós duas havíamos saído no dia anterior para continuarmos nossa busca por determinados fugitivos, já que a penúltima busca vez fora interrompida ao nos depararmos com Camila e a Voldemort.

As regras eram simples: uma vez submissa a Lucy, sempre submissa a Lucy. Caso tentasse fugir, seria seguida pelo resto da vida, e se achada, morta.

E, dessa vez, uma horda de zumbis nos surpreendeu. Os desgraçados estavam amontoados e presos atrás de árvores que estavam caídas no meio da floresta. Magicamente haviam se soltado e transitado até a estrada, nos bloqueado por todos os lados possíveis. Por não estarmos na SUV de Vero, que era totalmente equipada para situações assim, nós tivemos certo trabalho para nos livrar dos mortos-vivos.

Mas no fim, conseguimos voltar vivas, não sem machucados.

- Quem vê até acha que você se importa comigo, Jauregui... – Veronica completou, erguendo uma sobrancelha sugestiva.

- Se você tivesse morrido eu não ia aguentar o monte de problema que isso acarretaria, então aquieta a bunda enorme que você tem aí! – eu reviro os olhos, puxando uma cadeira para me sentar.

Veronica deu uma risadinha, balançando a cabeça negativamente.

Eu e a mulher vivíamos em um pé de guerra interminável. Mas a verdade era que, depois que Vero me achou praticamente morta no meio daquele asfalto e me trouxera para o Reino de sua amada, ela ficou encarregada de cuidar de mim.

Nós odiávamos? Sim, com todas as nossas forças!

Veronica ainda queria se vingar de mim? Certamente!

Ela utilizaria qualquer chance que surgisse para acabar comigo? Com certeza!

Mas nesse meio tempo, uma espécie de amizade estranha nasceu ali. Ela não me contava nada, eu não contava nada para ela. Mas quando os mortos surgiam ou alguém ousava nos desafiar... sempre defendíamos uma a outra.

Nossa relação era... estranha e complicada.

Veronica Iglesias era o mais próximo de “amiga” que eu tinha ali dentro, depois que todas as pessoas que conhecia me odiavam.

- O que está atormentando essa sua mente fodida? – ela me caçoou. – Você não veio aqui apenas para me ver. No mínimo, veio para colocar ácido no lugar do meu soro.

Levanto o olhar morteiro e vejo a chefe da guarda com os braços cruzados na frente do corpo, como se estivesse me confrontando.

- Olha... você acabou de me dar uma ótima ideia. – eu retruco sorrindo ironicamente.

- Desembucha, Jauregui... – Veronica praticamente rosnou, tão sem paciência quanto eu.

Meu breve sorriso morreu e eu passo minhas mãos pelo rosto para tentar disfarçar minha expressão cansada. Não poderia nem sonhar em contar para ela sobre Camila ou sobre o fato que meu antigo grupo estava embutido no Reino há meses.

- Só quero saber quem vai pegar o seu lugar como guarda da nossa Dona. – respondo, tirando as mãos do rosto já com uma expressão neutra.

- Está com medo de ser uma pessoa tapada?! – Vero, como sempre, zombou ladeando a cabeça. – Awnt... a insignificante se acostumou com a minha companhia...

- Não se ache, Iglesias! – solto um grunhido irritado.

- Não consigo... – ela deu de ombros. – Faz parte do meu charme...

Dou uma risada nasal, meio irônica.

- Não se preocupe... – Vero se acomodou melhor no leito. – Eu não vou perder meu lugar de qualquer jeito, acho que a Rainha apenas irá convocar mais uma temporariamente.

- Como você acha que ela irá fazer isso?

Dessa vez foi Veronica quem deu uma risada nasal, me olhando como se eu realmente fosse muito idiota por perguntar isso.

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*Music On* (Seven Nation Army – The Glitch Mob – Remix)

 

- Bata à porta para mim, Lauren. – a voz autoritária ordenou.

Ladeio meu pescoço, sentindo o estralar antes de inspirar o ar fresco para criar coragem. Ergo uma mão e bato à porta de madeira creme.

*Toc Toc Toc*

Ouço Lucy Vives, ao meu lado, pigarrear enquanto esperava a resposta.

Ela tinha o nariz empinado e mãos no interior do bolso da calça jeans negra com rasgados nos joelhos. Raramente mudava a tonalidade de suas roupas, assim como eu ou Vero, trocando apenas o estilo. Ela usava uma regata transparente branca com o desenho de uma caveira no centro, deixando visível seu sutiã negro por baixo.

Quando usava essas peças, Lucia parecia mais uma adolescente rebelde do que uma Rainha.

Mas só Deus sabia o que passava no interior daquela cabeça.

Ou melhor, nem Deus...

Ergo a mão novamente ao perceber a demora.

*Toc Toc Toc*

Ela simplesmente odiava esperar e isso ficava cada vez mais notável com o passar dos segundos, sem resposta.

Lucy trocou o peso das pernas, impaciente.

- Quando a porta abrir... faça o seu trabalho. – o seu tom de voz transmitia o quão irritada já estava.

Faço um afirmativo com a cabeça de leve e coloco uma das minhas Desert Eagles no interior do coldre, para deixar assim minhas mãos livres.

O meu olhar morteiro caiu sobre a porta cor creme e apenas espero o momento certo.

Em momentos assim eu simplesmente jogava a culpa para dentro da gaveta e a trancava ali.

Quando o barulho da trinca sendo aberta ecoou, mal esperei que a porta em si fosse totalmente aberta. Usando as palmas das mãos bem abertas, eu desferi uma pancada abrupta na madeira e escancarei a porta levando para trás, com violência, a mulher que morava ali.

A mulher cambaleou e caiu no chão toda estabanada, trombando primeiro em um móvel da sala. Exasperada, ela rapidamente começou a engatinhar para longe de mim à medida que, com os olhos arregalados, me via caminhar em sua direção.

- Não, por favor, não! – ela choramingou, aterrorizada.

Ela não deveria ter mais que trinta e poucos anos, era baixinha, fraca e só tinha utilidade para a Rainha porque sabia cozinhar muito bem.

Mas eu ignorei seu pedido, sabendo que Lucia Vives adentrava no quarto calmamente atrás de mim.

A mulher se apoiou em uma poltrona para ficar de pé e tentou se defender com os braços, os balançando de qualquer maneira para evitar que eu a agarrasse. Ela sabia que havíamos vindo atrás de informações e o seu desespero evidente apenas denunciava que sabia de algo.

Agarro seus punhos, a imobilizando com força. As lágrimas escorriam por suas bochechas sinuosas em grossos filetes quentes terminando sobre os lábios trêmulos. Com um movimento rápido e usando meu quadril para empurrá-la para frente, eu a prendo entre meu corpo e a parede, batendo suas costas no processo.

Ela grunhiu por causa da dor e, utilizando da sua fraqueza, eu aperto meu antebraço em seu pescoço, a imobilizando de vez enquanto lutava para respirar.

Mantenho-a presa com meu braço pressionando seu pescoço, esperando que Lucy se aproximasse e assim o fez, parando ao meu lado.

A Rainha possuía um leve sorriso dominador nos lábios e analisava o choro doloroso da mulher de cabelos negros.

- Eu estou realmente cheia de coisas para fazer hoje... – Lucia murmurou, com os olhos castanhos encarando com avidez.  – Então eu não tenho tempo e nem paciência...

- Eu juro que não fiz nada, minha Rainha! – a mulher choramingou, mal conseguindo pronunciar as palavras por causa do sufocamento.

Eu forço mais o meu braço, rosnando para indicar que não mentisse. A mulher grunhiu e algumas gotas de cuspe escapuliram por seus lábios, indicando que sua traqueia certamente queimava por causa da força que eu aplicava.

- Eu não sei de na-nada que a-acontece na cozinha, m-minha Rainha... – a mulher já estava vermelha pela falta de ar. – Mas a chefe sabe! Ela sabe de exatamente tudo o que acontece lá dentro! E... – ela alternou o olhar medroso entre eu e a Rainha. – E... e eu acho que ela está envolvida com algo!

O sorriso lentamente foi crescendo no rosto de Lucy, que ladeou a cabeça. Eu a conhecia o suficiente para saber que adorava as pessoas fracas, porque eram sempre elas quem forneciam as melhores informações.

Tudo por causa do medo. O medo da morte.

- Muito obrigada, Margareth.

Lucia estrala os dedos para mim e eu no mesmo instante retiro o meu braço do pescoço da mulher, deixando que voltasse a respirar normal.

Ela gira o rosto e começa a tossir cronicamente.

 - Continue assim e ganhará créditos. – a Rainha murmurou, girando corpo e indo em direção da saída do quarto.

Eu faço o mesmo, mas, antes, lanço um olhar gelado para a mulher de cabelos negros. Ela engole seco, entendendo muito bem o meu recado: “Não se meta em mais confusões”.

Quando eu fecho a porta do quarto, Lucy também se encontrava no corredor. Estávamos na ala de dormitório D e apenas eu era sua guarda-costas, já que Vero estava no hospital.

Porém, antes que eu a escoltasse para fora dali, eu sinto sua mão quente no meu ombro impedindo que eu andasse.

A áurea de Lucia Vives sempre foi muito intensa. Ou melhor, a sua pessoa era muito intensa. A confiança era como um feromônio que saía por seus poros, fazendo qualquer pessoa ao redor sentir-se, no mínimo, intimidada.

- Olhe para mim, Jauregui. – Lucy ordenou, com sua voz firme.

Engolindo seco, eu rapidamente obedeci, girando o rosto para ela. A mulher estava com um coque mal feito no alto da cabeça e suas inseparáveis botas de cano alto.

- Eu tenho mais um trabalho para você essa tarde. – a Rainha murmurou, com seu sorriso torto aumentando cada vez mais.

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- Aha! Você me deve dez barras de chocolate! – Veronica gargalhou enquanto usava uma muleta e, magicamente, conseguia se equilibrar e comer uma gelatina de hospital ao mesmo tempo.

- Não te devo nada! – retruco, arrumando em meu corpo o short apertado. – Eu nem apostei com você! E tome cuidado para quando voltar à ativa... não esteja rolando sobre os zumbis.

- Olha aqui, sua ridícula, você me respeita! – a jovem rosnou, com a boca cheia de gelatina. – Eu larguei minha formidável cama de hospital apenas para ver você perder para a nova guarda-costas.

Eu dou uma risadinha.

- Acha mesmo que vou perder para uma tapada, como você mesmo disse? – zombo, revirando os olhos. – Por favor, Vero...

A verdade era que Lucy, com sua sede por adrenalina e um bom show, anunciou para toda a comunidade que uma série de lutas aconteceria para determinar quem seria sua nova guarda-costas. Esse cargo era, no mínimo, almejado por noventa por cento das mulheres em Lésvos. Mas a Rainha havia sido bem seletiva e escolheu apenas vinte para lutar. Elas iriam duelar entre si e a melhor teria eu, a melhor da comunidade, como o último “obstáculo”.

E agora me encontrava no vestiário do ginásio, após entrar pelas portas dos fundos, evitando passar por entre as mulheres que gritavam com as lutas que aconteciam desde após o almoço. A decisão da Rainha havia sido anunciada bem de manhã e bastaram minutos para que tivesse várias implorando pela chance.

- Eu não olhei todas as candidatas. – continuo falando, enquanto arrumava o topper. – Apenas sei que tenho que entrar lá e lutar com a tal ganhadora. Se ela aguentar até o sino tocar, será a escolhida.

Vero parou de lamber o copo plástico onde a gelatina não tinha nem mais um resquício e me lançou um olhar de soslaio.

- E depois fala do meu ego... – retrucou, rindo. – “Se ela aguentar até o sino tocar...”. Ai meu saco, que não existe. O que te faz pensar que ela não pode lhe vencer?

Dou de ombros, simplesmente.

- Você é a única que pode, talvez, me vencer, pois foi quem me ensinou a lutar.

- Lauren, Lauren... – ela cantarolou, como se estivesse me dando um sermão. – Sou egocêntrica também, mas aceito o fato que existem pessoas mais fortes e melhores que eu. Sempre existe. Além que... todo mundo tem um ponto fraco.

Engulo seco sentindo minha garganta fechar por alguns segundos. O meu ponto fraco, possivelmente, estava no interior de seu quarto como deveria estar, longe de problemas.

- Eu não tenho um ponto fraco. – cantarolo, mentindo.

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- Cara... você precisava ver... – o tom de Kristen denunciava sua exaltação. – A vencedora é muito foda!

- Uhum... – murmuro, sem prestar atenção no que ela falava.

Eu estava em um corredor lateral, do lado externo ao ginásio. Aquele era a passagem que usávamos para adentrar ali, indo diretamente para o ringue e evitar entrar em contato com as mulheres bêbadas e extasiadas que assistam às lutas.

Kristen nunca escondeu de Halsey que ela era minha “amiga”. Ela poderia até ser uma boa pessoa, que era eternamente grata por eu ter salvado sua vida uma vez em uma missão aleatória, mas o fato de ela sempre tentar chamar demais a minha atenção buscando derrubar a mulher de cabelos azuis me dava nos nervos.

Então eu simplesmente fazia o que estava fazendo: a ignorava.

- Ninguém dava nada por ela! Tipo, ela é meio franzina, mas tem uns movimentos muito rápidos. Mano, ela é muito determinada! E tem uma expressão de dar medo às vezes, quando a vi pela primeira vez não esperava que fosse tão boa! Sempre acerta na garganta da adversária, então tome cuidado! Ela usa muito o corpo a corpo e principalmente o antebraço para desferir os golpes. Ah, e cuidado com os pés dela! Como disse, ela é bem rápida por causa do tamanho! Mas acho que aquela bunda enorme dela a faz ter estabilidade para não cair... – zombou, dando uma risadinha no final de seu discurso.

- Uhum... – cantarolo outra vez, abrindo a boca para derrabar água da minha garrafinha de plástico.

Tudo o que eu sabia pensar era na minha cama e como eu queria acabar com aquilo rápido, simplesmente para ir tomar um banho e dormir.

- Ela levou umas pancadas boas nas últimas lutas e quase não conseguiu passar na penúltima fase contra a Halsey, por já estar extremamente cansada. Então você pode usar isso a seu favor.

- A Halsey perdeu?! – eu, pela primeira vez, presto atenção na alegria de Kristen. – Ela era a penúltima fase?

- Sim! – a mulher de cabelos raspados concordou freneticamente. – Levou um murro na garganta e caiu sem ar no chão. E foi bem no momento que o sino tocou, a desclassificando.

As regras eram bem simples. A luta exercida naquele ringue era uma mistura louca de KickBoxing com outras artes, mas, que basicamente seguiam algumas regras básicas:

As lutadoras vestiam um topper, ficavam descalças, usavam somente um short apertado e luvas no estilo boxe cobriam os punhos. Todos os tipos de golpes, acima ou abaixo da cintura, eram permitidos tanto com as mãos ou com as pernas. Nossas únicas proteções eram os protetores bucais, que evitavam perdas de dentes e mordidas na língua.

Poucas coisas não eram permitidas: morder ou arranhar, sair do combate sem o fim da luta e golpear com intensão de matar ou deixar grandes sequelas.

- Lhe disse que era boa. Eu não dava nada por ela! – Kristen repetiu outra vez.

Eu já estava pronta para questioná-la o nome da lutadora, mas logo a porta do ginásio para o corredor foi aberta bruscamente e uma Vero, mancando e usando a sua muleta, apareceu.

- Tá na sua hora, ridícula. – a jovem me provocou, sorrindo.

Entrego minha garrafa de água para Kristen e pego minhas luvas brancas. Coloco os velcros nos lugares certos, prendendo a luva em meu punho firmemente.

Caminho em direção de Vero, batendo uma luva à outra para tentar aumentar a adrenalina em meu corpo. Começo a dar leves pulinhos, acelerando meus batimentos para me concentrar e alongar. Como era intervalo entre as lutas, a música eletrônica gritava nas caixas de som.

- Tente não perder igual a Halsey, ok?! A novata é melhor do que esperávamos! – ela murmurou, abrindo a porta para mim.

Paro de andar já no interior do ginásio, sentindo meu corpo tencionar por completo ao ouvir a aquela palavra.

“Novata?”

*Music On* (Candy Shop – BigJerr Trap Remix)

Um arrepio cruzou minha coluna.

Ariana não tinha perfil que sabia lutar.

Então...

Eu apenas soube encarar atordoada a expressão confusa de Vero, que não entendia o porquê de eu estar assim.

Devagar eu giro o rosto e meus olhos institivamente acharam o seu corpo bonito e cheio de curvas no centro do ringue, me esperando.

Não...

Não pode ser.

Meus braços, que estavam levantados e protegendo meu rosto, caíram como se meus ossos fossem feitos de gelatina. O peso nos ombros aumentou, deixando-me petrificada enquanto encarava a figura confiante de Camila Cabello vestindo shorts curtos, topper e luvas vermelhas.

Agora eu entendia o porquê de Lucy selecionar as pessoas que queria e certamente havia a selecionado apenas para analisar suas habilidades. E o sorriso satisfeito nos lábios da Rainha, que estava sentada devidamente em seu trono em frente ao ringue, denunciava sua felicidade com o que via.

Mas o me surpreendia e me deixava embasbacada à medida que me aproximava do ringue era a postura de Camila.

A latina estava coberta por uma fina camada de suor, contendo algumas marcas vermelhas possivelmente de golpes anteriores levados. O cabelo estava um pouco bagunçado e amarrado em um rabo alto.

O diferencial era seu semblante: olhos castanho-chocolate focados, sorriso torto no canto dos lábios e uma áurea de superioridade inacreditável.

Como se ela estivesse plena em saber que iria me enfrentar.

E eu apenas saí do meu transe quando percebi os olhares confusos do público. As mulheres não estavam entendendo o porquê de eu não entrar elétrica como sempre fui, já intimidando a minha oponente.

- Você precisa entrar no ringue para lutar, Jauregui! – escuto a voz autoritária de Lucy.

Olho para ela e vejo que a Rainha me encarava séria, quase como uma ordem silenciosa para que eu me apressasse.

“Merda...” eu resmungo mentalmente, não conseguindo ouvir a própria voz por causa da neblina nas engrenagens do meu raciocínio.

Eu iria lutar com Camila?!

Mas o meu lado racional, aquele que sabia que deveria obedecer à Rainha, começou a falar mais alto. Mesmo engolindo seco e com os olhos assustados, eu me aproximo do ringue e passo por entre as cordas hesitante.

Aproximo-me de Camila, que continuava no centro do ringue.

Surpreendendo-a, eu me aproximo ao ponto de estar meros centímetros do seu rosto para que ninguém mais me escutasse. Tanto o meu corpo quanto o dela tencionaram, pois sabíamos que inconscientemente nos tratávamos de dois imãs.

- Mas que merda é essa, Camila?! – eu sussurro, lhe lançando um olhar raivoso. – Que merda você está fazendo?!

A latina, mesmo meio desconcertada, voltou a ter a expressão galanteadora.

- O que foi, bebê?! – ronronou, ladeando a cabeça. – Não esperava que eu fosse forte o suficiente para bater nessas mulheres?! Pensou, assim como todos que me veem em primeira instância, que eu era fraca?! Eu ganhei todas as etapas, Jauregui, então terei que enfrentá-la agora!

Procuro por Veronica em meio à plateia, esperando que aquilo fosse uma piada. Mas vejo a mulher de cabelos negros em pé ao lado de Lucy, nos analisando com a mesma curiosidade.

- Eu não vou lutar com você... – eu sussurro outra vez, voltando a ficar de frente para ela.

- Se você não lutar... – Camila provoca diabolicamente. – Irá perder por W.O. De qualquer jeito, irei sair como uma ganhadora.

Uma risada saiu por meu nariz, sem realmente acreditar que a latina estava se portando daquele jeito.

Dou um passo para trás e analiso outra vez sua postura, ponderando se ela havia de fato mudado tanto. Eu, na verdade, pouco me importava de não ter mais a invencibilidade, mas isso, implicitamente, significava que Camila se tornaria a nova guarda-costas e isso faria com ela ficasse à mercê de situações perigosas.

- Está com medo da derrota, Jauregui? É isso?! – ela sibilou palavra por palavra em alto e bom tom, abrindo um sorrisinho.

As mulheres urraram no mesmo instante, colocando mais fogo no incêndio que acontecia no meio do ringue.

Aquela mulher sempre dominou uma linha tênue minha entre o ódio e o amor.

- Medo? De você? – eu zombo, rindo descaradamente. – Eu nunca tive medo de você, Cabello!

- Então... está com medo da humilhação que vai passar?!

Mais urros da plateia e mais aberto ficou o sorriso latino. Mordo o interior da minha bochecha tentando diminuir a raiva que ia sopitando dentro de mim. Camila estava suada e visivelmente cansada, mas ver seu corpo tão belo e definido, além da áurea inexplicável de confiança, que estava me deixando... quase excitada.

E se ela queria jogar aquele jogo... tudo bem.

Seus olhos estavam conectados aos meus, tentando intimidar.

Um castanho no verde que gritava inúmeros sentimentos.

- Então vamos fazer isso! – eu digo, ainda sem quebrar o nosso contato visual. – Estamos prontas!

Assim que me virei para Veronica, indicando que estava tudo certo, a plateia foi à loucura. Vejo, por cima do ombro, Dinah e Normani se aproximando da lateral do ringue onde Camila estava, e passando algumas instruções enquanto colocavam o protetor bucal em seus dentes e umedecia sua boca com um pouco de água.

Semicerro os olhos enquanto me aproximava de Vero, que segurava o meu protetor bucal. Abro a boca o suficiente para que a mulher o colocasse em meus dentes.

- Tente não ter a sua bunda chutada... – Veronica murmurou.

- Tente não ter o seu lugar tomado. – retruco, brincando levemente.

Mas a expressão, que logo se fechou, indicou que Veronica ficara pensativa sobre minha fala.

Entretanto, não tive como dizer mais nada, pois a luta estava prestes a começar.

Torci meu pescoço e alonguei meus braços para me aquecer esperando apenas o sinal definitivo.

E ele logo veio com o sino tocando.

*Music On* (Express Yourself – Charles Wright – Advert Remix)

Ao escutá-lo eu precisei, com muita dificuldade, jogar a voz interna que gritava como aquilo era uma loucura para dentro de uma gaveta e trancá-la. Meu coração batia acelerado por causa da adrenalina e, principalmente, por causa da latina que estava no centro do ringue com as mãos erguidas na frente dos olhos, me analisando.

Flexiono meus joelhos e pisco com rapidez para tentar me concentrar.

Mas o maldito problema era que eu estava pensando demais. Ponderando demais.

E se seu a machucasse?!

Camila, me surpreendendo, foi a primeira a dar um rápido pulo para frente e esticar o braço, quase acertando em cheio o murro no meu rosto.

Expirei, assustada, e girei o corpo segundos antes de sentir a pancada.

Mas que merda?!

A latina deu uma risadinha, ao ver minha incredibilidade. Ela não perde tempo e tenta, dessa vez, uma série de socos alternando seus punhos. Ainda atordoada eu começo a me defender usando meus ombros para bloquear cada pancada que vinha, obrigando-me a dar passos para trás e grunhir necessitando de rapidez.

Onde ela havia aprendido a lutar?!

Rapidamente as lembranças vieram a minha mente, onde um amoroso Simon ensinava todo o grupo a lutar. Tardes e tardes foram gastas em frente à Fazenda, aprendendo dos mais diversos golpes.

Não sabia se ficava feliz ou irritada com isso agora.

Giro minha cintura e empurro seus braços para cima, livrando-me deles e conseguindo escapar de seu abafe. Dou passos para o lado, controlando a minha respiração ofegante enquanto via seus olhos castanhos me seguindo e luvas erguidas à altura do rosto.

Eu podia ver como as mulheres estavam assustadas comigo. Geralmente, viam uma Lauren abafando e não sendo abafada.

Meu inconsciente estava me torturando. Mas eu não iria ser traída por mim mesma.

Inspiro fundo e dou um cruzado de direita assustando Camila, que ergueu o braço para se defender. Mas antes que ela se recompusesse, eu ergui meu joelho e o acertei bem na lateral de sua barriga fazendo seu corpo automaticamente se contrair.

A latina grunhiu, com a dor na costela, mas não se distanciou como as maiorias das lutadoras fazem. Ela, com o rosto bonito vermelho, aproveitou minha perna esquerda desprotegida e desferiu um chute em cheio no meu fêmur.

Rosno por causa do latejar.

Oh, ela sabia dar golpes baixos...

Isso apenas aumentou consideravelmente a minha raiva. Camila bufava, perdendo também a paciência comigo.

Tento abafar outra vez, alternando para um cruzado de esquerda enquanto erguia o joelho do outro lado em sua barriga. Camila teve a boa intenção de tentar bloquear meu golpe usando o cotovelo, mas eu fui mais rápida, e aproveitei sua inexperiência ao deixar uma brecha por entre as mãos. Acerto um murro forte em seu plexo solar, gerando uma crise de tosse crônica na latina que deu passos cambaleantes para trás em busca de ar.

Continuei com os meus joelhos flexionados e usufruí de sua posição para desferir uma série de socos em seu rosto desprotegido. O rosto de Camila girava a cada pancada que recebia do meu punho direito, o que deixava plateia completamente louca.

Mas eu hesitei, ao perceber que ela já começava a ficar tonta. Dou alguns passos para trás para deixá-la respirar em um ato de misericórdia.

- Oh, querida... você está bem? – eu a provoco, com uma risadinha. – Vem cá com a mamãe! Prometo não ser tão má com você, bebê.

Eu juro que, dali, escutei o rosnado saindo de sua boca à medida que sua expressão ficou ainda mais enraivecida.

E então, eu um movimento que eu nem vi acontecendo por ser tão rápido, Camila ficou de pé já girando por completo a cintura com a perna levantada. Quando vi, o seu pé acertava em cheio o meu rosto desprotegido por minha ignorância.

Meu rosto virou literalmente girou, comicamente semelhante aos desenhos animados, e eu perdi as forçar caindo estabanada.

Um grunhido arranhou minha garganta enquanto senti como se trilhões de sinos tocassem no interior do meu crânio, latejando com a intensidade da pancada. Ao fundo eu via a plateia gritando, surpresa, por ver a melhor lutadora da comunidade caída no centro do ringue enquanto a adversária dava pulinhos e ria.

- Quem é a mamãe agora?! – Camila agachou perto do meu rosto e murmurou com sorriso vitorioso.

Balanço a cabeça, tentando me livrar da zonzeira. Meu maxilar estava travado pela raiva que me corroía de dentro para fora.

Assim que eu fiquei devidamente de pé, corri em direção de seu corpo a pegando desprevenida. Abraço sua cintura e dou-lhe uma rasteira no pé de base, fazendo com que nós duas caíssemos no ringue, comigo pressionando o seu corpo no chão.

A latina grunhiu, com a pancada nas costas, perdendo por meros momentos a vantagem na luta.

Nós duas estavam suadas e levemente vermelhas e irritadas, fato que era visível em nossas órbitas que se encaravam, a qualquer momento gerando uma explosão ali dentro.

Apenas consigo desferir um murro firme em seu rosto, pois logo em seguida ela foi mais rápida e desferiu outro na minha cara, fazendo meu pescoço girar com a força.

Eu rosno, sentando-me em sua cintura por completo e tentando segurar suas pernas que insistiam em dar trancos para se livrar.

Outra vez recebo um murro no rosto.

Camila aproveitou minha zonzeira, que fazia minha visão ficar completamente embaçada por causa da pancada, e passou um braço sobre a minha cabeça prendendo minha nuca debaixo de suas axilas. Nossos corpos estavam enroscados, as respirações completamente irregulares e grunhíamos tentando cada uma dominar a outra. A latina aproveitou minhas costelas expostas e começou dar socos ali.

Já com a paciência esgotada, eu começo a rosnar enquanto apoiava meus pés no chão e abraçava por completo o seu corpo. Pude sentir Camila grunhir, assustada, ao perder o chão abaixo de seus pés à medida que eu a erguia, ainda com as pernas entrelaçadas ao redor da minha cintura.

Escuto as mulheres urrarem, a me verem de pé no centro do ringue, segurando por completo o corpo da minha adversária dependurada.

- Você, como sempre, é precoce demais e não aguenta ficar por cima na brincadeira... – escuto o seu sussurro no meu ouvido, parecendo mais um demônio me atazanado.

Uma risada maliciosa saiu por seus lábios, provocando. Eu agarro suas pernas e começo a girar bruscamente nós duas, tentando de tudo para que ela se desprendesse de mim.

O suor escorria no meu rosto e eu nem lembrava mais que várias mulheres nos encaravam, embasbacadas sem entender se aquilo era ou não era mais uma luta de boxe.

- Desculpe, mas na maioria das vezes era eu quem mandava na brincadeira, querida... – eu sussurro de volta, no seu ouvido, e ela rosna irritada.

Com um tranco forte, eu faço seus braços se soltarem de ao redor do meu pescoço e ela caiu para trás rolando no chão do ringue.

Em uma situação normal, o sino eletrônico da luta já teria apitado indicando anormalidades. Mas a Rainha tinha um braço levantado, impedindo que Vero o fizesse.

Lucia Vives tinha um sorriso divertido no rosto, adorando ver a cena peculiar.

Quando volto minha atenção para Camila, com o intuito de ir até ela para aproveitar sua posição desprotegida, eu apenas vejo outra vez seu pé vindo em minha direção.

- Merda... – eu choramingo, ao sentir a pancada no meio da barriga.

As veias no meu rosto saltaram por causa da dor e eu, institivamente, coloquei as mãos cobertas pela luva no abdômen. Dou passos cambaleantes para o lado, oferecendo tempo suficiente para Camila ficar de pé e respirar.

Ficamos nos entreolhando por alguns segundos, ofegantes e descabeladas.

Mas então Camila cometeu um erro de principiante: ela se precipitou.

A latina, possivelmente já cansada e sem pensar, ergueu o punho direito à meia altura e tentou me acertar de qualquer jeito, mas eu fui mais rápida e o bloqueei, já passando meu outro braço por seus ombros e invertendo as posições, de modo que agora eu a imobilizava de costas.

Outra vez lhe dou uma rasteira e a faço cair sentada em cima de mim, totalmente sem bases agora. Abraço sua cintura, por trás, entrelaçando minhas pernas para imobilizar também as suas. Coloco então meu antebraço contra o seu pescoço, pressionando sua traqueia com força e aplicando uma chave-de-braço.

Eu ofegava à medida que via a latina em meus braços ficar sem oxigênio. Camila tentava se debater e sair, mas isso apenas a fazia ter menos ar dentro dos pulmões.

Seu rosto foi ficando mais vermelho e as veias saltadas, indicando que não iria desistir do golpe a não ser que apagasse.

- Não me faça fazer isso, Camila! – eu sussurro na parte de trás de seu ouvido, praticamente implorando com os olhos lagrimejados. – Por favor! Desista! Por favor!

A latina, ao invés de me responder, apenas girou o rosto o suficiente para que me encarar. Suas pupilas estavam alarmadas e dilatadas por causa do sufocamento, mas eu vi uma grande determinação quando sua imensidão chocolate entrou em contato com as minhas.

Ela não iria soltar. Ela não iria me soltar. Ela não iria me deixar ser escrava!

Ao redor, como um coro no fundo, as mulheres gritavam com todas as forças “Faça! Faça! Faça!”, ansiando por meu golpe final que me daria a vitória.

Bastava um movimento brusco em seu pescoço e eu a faria desmaiar.

Mas tudo o que eu conseguia fazer era olhar nos olhos de Camila, os mesmos que encarei quando precisei de ajuda, quando me declarei abertamente, os mesmos que me apaixonei quando... fiz amor com ela.

E, como se as forças houvessem esvaído de meus músculos, eu simplesmente retirei o antebraço de seu pescoço e deixei o ar passar novamente.

Eu piscava atordoada, tentando aguentar a onda de sentimentos e lembranças ácidas que voltavam, as quais foram tão bem escondidas por meu inconsciente que agora pareciam me arrastar para a dor que consegui evitar por meses.

Em meio às lágrimas, eu via Camila rolando para o lado enquanto tossia pelo precioso ar.

Ela então parou, e ainda deitada no ringue, me procurou. Seus olhos outra vez encararam os meus e, ofegante, eu vi um breve sorriso amoroso nascer em seus lábios como se estivesse orgulhosa de mim.

O sino eletrônico, por ordem do Destino ou não, tocou logo em seguida indicando o fim da luta.

Ninguém ganhara.

As mulheres na arquibancada estavam meio surpresas por eu ter empatado uma luta e ainda mais por ter hesitado no último golpe.

Levanto-me devagar do chão do ringue, vendo Dinah praticamente correndo por entre as cordas e indo até Camila que continuava tossindo mais ao longe.

Eu fazia uma leve careta por causa do desconforto das dores, mas logo meu rosto se tornou neutro ao ver a expressão gelada que Lucia Vives me lançava do outro lado do ginásio, sentada em seu trono.

Os olhos castanhos gritavam que ela não havia gostado nem um pouco do resultado.

Abaixo a cabeça automaticamente, sentindo um arrepio frio cortar minha coluna.

- Tivemos um empate! – ouço a voz de Vero ao fundo, gritando o óbvio para a plateia. – A novata conseguiu passar de fase, mesmo não sendo vencedora! Logo, apresento a vocês, a ganhadora do torneio!

Passo por entre cordas elásticas do ringue, com as atenções julgadoras das mulheres sobre mim. E apenas quando meus pés tocam o chão gelado, eu olho para trás e vejo Veronica erguendo o braço de Camila anunciando-a como vencedora.

- Camila Cabelo é a nova terceira guarda-costas da Rainha Lucy!


Notas Finais


QUE DELÍCIA DE LUTA...
QUE DELÍCIA DE GUARDA-COSTAS...
QUE DELÍCIA DE CAMREN (o tão amado casal e não o taco kakaka) CHEIO DE FOGO QUE TÁ CHEGANDO...

O que vocês acharam? A autora está esperando as teorias e opiniões de vocês!

Até a próxima, walkers!


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