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História Into The Dead - Capítulo 5


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Desculpem a demora. Mas depois da notícia da saída da Camila eu precisei de um tempinho pra me acostumar, sabe... Porém decidi que não vou parar de escrever. Faço isso porque gosto. Só peço que tenham um pouco de paciência com minha demora, ok? Tentarei atualizar com mais rapidez nessas férias.
Não tive tempo para revisar o capítulo, então erros estarão presentes.
Boa leitura!!

Capítulo 5 - Capítulo 5


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 5

Lauren PDV

Sabe... eles dizem que quando você está prestes a morrer você vê a sua vida passar na frente dos seus olhos, certo? Bem... eu posso afirmar que isso é uma porra de uma mentira!

Como uma pessoa poderia ver sua vida passar na frente de seus olhos em milésimos de segundos?

Não, você não vê a sua infância, você não vê seus pais, você nem vê a pessoa que ama. Seu cérebro nem sequer processa essa informação até que seja tarde demais. E o tarde demais significa que você já está morta.

Eu ainda pisava no acelerador para sair das ruas de Miami. As rodas do Nissan há poucos minutos ainda derrapavam no sangue negro da horda. Não sabíamos ao certo para onde íamos, porque eu apenas seguia o carro do meu irmão à frente.

Ainda segurando o volante, com a mão livre massageio minha omoplata esquerda onde aquele filho da puta havia me mordido. A dor física era grande, mas não superava a minha dor emocional.  A dor que agora estava equiparada ao medo de perder minha família.

Olho para o lado e vejo Camila me encarando com os olhos marejados.  

“Por que ela estava chorando? Ela deveria estar feliz por sua irmã estar sã e salva no banco de trás.” Penso.

- Lauren... – o chiado da voz de Chris quebra o silêncio do carro.

Camila respira fundo e me entrega o Walkie Talkie e minha arma.

- Estou aqui. – respondo, apertando o botão. – Todos estão bem aí? Alguém foi mordido ou arranhado?

- Não. Estamos todos inteiros. A mulher loira parece estar pálida por perder sangue, mas acho que ela vai ficar bem. E aí? – ele pergunta. – Estão todos bem?

- Sim. – respondo, olhando ao redor. Camila me olha novamente franzindo o cenho. – Para onde vamos?

- Precisamos nos distanciar da cidade e achar um local. Camila, você está aí? – pergunta Chris. Eu aperto o botão para a mulher responder.

- Sim. Estou. – ela diz, com um pigarreio para que sua voz ficasse um pouco mais firme.

- Você está de acordo com isso? – questiona Chris. – Podemos deixar vocês onde quiserem.

A morena olha para trás e vê que a irmã ainda chorava abraçada ao homem. Austin estava pálido de medo e eu, por breves segundos, quis rir daquilo. Até parecia que tinha sido ele quem havia sido mordido.

Olho para o banco de trás através do retrovisor. Dinah me encarava como se eu fosse um monstro enquanto sua mão descansava em seu machado. Às vezes ela revirava os olhos quando os resmungos de Normani ao seu lado ficavam mais altos que meros sussurros.

Se caso as duas um dia vivessem juntas... seriam um grande problema.

Regina estava abraçada à irmã como um bebê coala. Dinah, com a mão livre, alisava seus cabelos um pouco arrepiados e colocava uma sequência lenta de beijos em sua testa.

É cliché dizer, mas é a mais pura verdade: você só dá valor às pessoas quando está prestes a perdê-las. E perder pessoas é tudo o que significava o mundo atualmente. Claro que os bens materiais agora são muito mais que valiosos, eles são, na verdade, motivos de morte. Mas, se você ainda não se transformou em um assassino psicótico ou um morto ambulante, provavelmente seu grande objetivo é manter as pessoas que ama por perto e procurar sobreviver em meio ao terror que era a Terra.

Você só dá valor as suas coisas quando as perde. Você só dá valor a sua casa quando se torna um nômade. Você só dá valor a suas roupas quando precisa de mais tecido para se proteger do frio. Você só dá valor a sua comida quando passa dias sem comer. Você só dá valor as suas pessoas quando se vê sozinho.

Olhando Dinah beijar a testa da irmã me fez perceber que brigas, momentos fúteis, guerras, perseguições... de nada valeram à pena.

A grande questão agora eram os momentos. Beijar a testa da irmã, dizer um “eu te amo” ou “eu senti sua falta” ou “tome mais cuidado da próxima vez”, cuidar de quem está ao seu redor. Era isso que o agora significava. Cuidar de quem está perto.

- Elas parecem estar cansadas. – digo, virando uma esquina atrás do Nissan de meu irmão. Olho para Camila e vejo sua testa franzida. – As crianças precisam de um lugar seguro e a noite já está quase chegando para que só vocês três limpem um local para dormir.

- Ela tem razão. – murmura Dinah. A mulher enxuga o excesso de suor em sua testa e solta um suspiro cansado. – Eu acho que não tenho mais forças para lutar contra qualquer horda. – fala ao ver a irmã descansar a cabeça em seu ombro.

- Hãm... – Camila hesita por alguns segundos, pensando.

Nervosamente, ela brinca com seus dedos ponderando tudo o que aconteceu e poderia acontecer. Virou-se então para trás e viu os olhos de Sofia avermelhados por causa de seu choro. Camila balançou a cabeça como se desistisse de tudo o que estava pensando e suspirou também.

- Tudo bem. Mas vamos ajudar vocês a limpar uma casa. – falou a latina.

Eu solto o botão para ouvir a resposta do meu irmão.

- Certo. – responde Chris. – Lauren, apenas me siga. Se algo acontecer buzine!

- Certo. – digo. – Desligando.

Coloco o Walkie Talkie no bolso interno da minha jaqueta. Camila continuou em silêncio e eu podia ver que Austin e Dinah estavam desconfortáveis no banco de trás. Eles sussurravam algo e olhavam para mim através do retrovisor.

Eu sabia do que falavam, mas preferia ignorar. Tentava também ignorar a dor nas minhas costas, mas era quase impossível.

Os minutos passavam enquanto percorríamos as ruas secundárias da cidade. Zumbis ao escutarem os barulhos dos motores surgiam entre as escadas e becos, mas, sequer passavam perto dos veículos por causa da velocidade estável que dirigíamos.

Olhei pelo retrovisor quando saímos da grande e tenebrosa Miami. A maioria dos prédios já tinham suas janelas trincadas ou quebradas. Pássaros faziam os arranha-céus como moradia. Os grunhidos fracos ecoavam como uma música mórbida de despedida do centro.

Diminuo a velocidade talvez quase uma hora depois – já que ninguém tinha relógio e o mundo não dependia mais de ponteiros – quando Chris saiu da rodovia e pegou uma estrada adjacente de cascalho. As rodas do carro entravam em atrito fazendo o barulho típico.

Flórida era estava em uma grane planície e Miami era rodeada por inúmeras outras cidades, o que é um grande problema. Grandes cidades são sinônimos de grandes hordas. A porção ocidental poderia ser a solução, já que era menos habitada e com florestas coníferas, cheias de frutos, madeira para nos aquecermos e quem sabe alguns chalés abandonados.

Bem... era o que esperávamos.

Olho a quantidade de gasolina e suspiro ao ver que tínhamos menos que a metade de um tanque.  Chris buzina e aponta para uma casa no alto de um morro. Poucos minutos foram gastos dirigindo até lá.

Parecia uma casa de campo. Um caminho de pedras brancas guiava até a porta principal e ao grande jardim que envolvia o local. Ela tinha detalhes perfeitos e rústicos. Pinheiros decoravam o jardim e também davam início à mata densa da floresta ao redor. Feita de tijolos amarelados – talvez pela poeira ou talvez por já estarem desbotados – tinha um telhado também da mesma cor. Continha uma varanda na parte frontal e janelas de madeira escura. Claramente uma propriedade de um ricaço de Miami.

Estaciono o carro atrás do Nissan de meu irmão e pego minha Beretta. Saio do carro e inspiro fundo o ar frio do morro. Pelo menos ali o cheiro de morte não estava impregnado.

Com a intenção de vasculhar o lugar, sinalizo com a mão para que Chris e Troy fossem pela lateral esquerda e que Normani viesse comigo pela direita.

Vi também Camila e Austin começarem a vasculhar a casa pelas janelas, procurando algum inquilino indesejado em seu interior.

- Devemos confiar neles? – Normani sussurra ao meu lado.

Dou de ombros enquanto observava a mata ao redor. Caminhamos até a parte de trás da área e vejo uma piscina abandonada, sua água estava verde e suja de folhas que provavelmente caíram ali por causa de algum vento.

- Lauren... eu estou falando sério!

- Eu não sei... – sussurro de volta numa espécie de muxoxo. – Mas meu irmão parece confiar, então eu acredito nele.

- Mas a tal Camila... não foi a que lhe roubou? – rosna Normani. Eu olho para ela e vejo o medo em seus olhos, sua insegurança. – E se ela nos roubar de novo? Se eles nos matarem?

- Normani... eu sei! – digo, mais firme.

Paro de andar ao ver que tudo aparentava estar limpo. Nem zumbi estava por perto e eu finalmente pude relaxar por alguns segundos.

– Mas eles estão com duas crianças! O que poderíamos fazer? – rosno, passando a mão por meus cabelos oleosos tanto de suor quanto de gosmas negras. Faço uma cara de nojo ao ver que precisava rapidamente lavá-los.  – Não vamos fazer juras de amizades eternas! É apenas uma noite!

- Mesmo assim... – ela tenta novamente, mas eu a interrompo.

- A única pessoa que me incomoda ali, realmente, é aquele cara! – murmuro, lançando um olhar por cima do ombro para o tal Austin. Ele naquele instante vasculhava um cômodo na lateral direita e por isso pude ver sua silhueta através da janela de madeira.

- E ela não? – retruca Normani, apontando com a cabeça para Camila que estava ao lado do homem. – Ela lhe roubou!

- Mas salvou a minha vida! – retruco, já começando a perder a paciência com aquela discussão. Meus músculos doíam, minha cabeça latejava e eu me sentia extremamente suja, ansiando que ali tivesse um pouco de água para tomar um mísero banho, por mais que soubesse que isso não aconteceria. – Por que você está insistindo tanto nisso? Estou cansada e...

- E você acha deve algo a ela? – a morena replica me ignorando e interrompendo minha fala. – Você salvou a vida dela mais de uma vez hoje! É ela quem está em dívida com você!

- Por que diabos você está contando a quantidade de vezes que salvo a vida de alguém? Isso nem é da sua conta, Normani!

- Eu só quero me manter viva, porra! Não confio em ninguém que não seja do nosso grupo! – rosnou entredentes.

Suas sobrancelhas estavam unidas mostrando sua expressão inconformada.

- Sério? Sério mesmo?! – digo, evitando gritar, mas mantendo minha voz firme. – Porque parece que você não sabe agir em grupo! – rosno, apontando o dedo para ela. Seus olhos arregalam, assustada.  – Você quase nos matou hoje, sabia? Quando está com um grupo... não se corre apenas por estar com medo! Quer fazer algo que preste? Crie coragem! Camila?! Ela ficou e me ajudou a empurrar a porra da cerca! Você?! Você correu como uma covarde!

- Mas... mas... eu... – ela gagueja, tentando se justificar.

- Não quero ouvir o que você tem a dizer! – murmuro, tentando me manter calma. – Só... só não faça isso de novo! Eles vão passar a noite e assunto encerrado.

Viro-me de costas não deixando que a mulher voltasse a falar. Forço a maçaneta da porta dos fundos e ela estava, felizmente, fechada. Dou a volta na casa e vejo o sol começando a se por no horizonte.

Encontro Chris na varanda procurando por mim.

- Está tudo limpo. – digo, subindo os degraus da varanda.

- Essa casa tem muitos vidros. – ele diz, com uma expressão preocupada. – Por um lado é bom, porque facilmente veremos se tivermos algum problema. Mas... o “problema”... pode entrar muito facilmente também.

- Vamos ficar em silêncio, não se preocupe. – dou um tapinha no seu ombro e tento colocar um sorriso meio verdadeiro no rosto.

Talvez cerca de uma hora depois todos já haviam recolhido seus pertences nos carros e adentrado na casa. Como havia mais pessoas agora não conseguíamos nos agrupar todos em um único cômodo da casa.

O piso era de madeira e cortinas empoeiradas – assim como tudo ao redor. Os móveis, cor caramelo, ainda continham recordações. Isso significava que ninguém fora ali depois do início do Apocalipse.

Havia o quarto principal e três outros. Decidimos deixar as três crianças na cama de casal no quarto principal, sob a supervisão de Dinah e Ally. Austin e Troy decidiram dividir um quarto para evitar problemas com as mulheres. Normani e Taylor o segundo. E Chris, Camila e eu o terceiro. Ficariam duas pessoas de vigia simultaneamente pelo fato da casa ser muito grande.

A noite já englobava tudo do lado de fora. Todos estavam reunidos na sala de estar depois de arrumarmos os lugares. O grupo de Camila dividia entre si o que haviam conseguido pegar graças à loucura da morena em resgatar sua mochila.

Entretanto, meu grupo tinha pouco. Não havia muita coisa dentro da geladeira e no estoque da casa de campo apenas achamos alguns feijões enlatados e pães embolorados.

Troy manuseava o fogão de uma boca portátil que tínhamos. As luzes eram provindas do fogo e de um lampião perto do grupo de Camila. Viam-se através das penumbras os rostos cansados de cada um.

Ally já estava acordada e atordoada por estar em meio a tantos estranhos. Pelo que pude ouvir da conversa a loira havia desmaiado por causa de seus pontos terem se rompido após lutar com um andarilho no corredor. Ele pelo visto estava preso dentro de um quarto no último andar e havia conseguido surpreendentemente descer as escadas. Os monstros costumavam ser lesados, burros e desengonçados demais para descerem ou subirem degraus, mas... não mais.

Suspiro imaginando que cada vez mais os mortos estavam famintos e agressivos.

Em pé, perto da janela, eu observava tudo.

Taylor estava sentada contra a outra parede e encarava constantemente o nada. Provavelmente a jovem tentava a todo custo não ter outro ataque de asma ali. Sempre que ela se assustava com algo sua respiração falhava e a tosse crônica vinha. Às vezes tão forte que grandes quantidades de catarro e lâminas de sangue acompanhavam.

Normani estava sentada ao seu lado com os olhos fechados. Eu sabia que a morena não estava dormindo, pois seu pé se remexia constantemente em um claro sinal de nervosismo. Talvez ela ainda estivesse magoada com nossa conversa no começo da noite, mas ela, mais que ninguém, sabia que eu estava correta sobre cada palavra que falei.

Troy cozinhava os feijões e algumas latas de sopas enquanto enfaixava um corte superficial em seu braço esquerdo. Ele vestia um blusão marrom encardido que agora faltava uma manga por tê-la usado para pressionar o corte. Sua jaqueta envolvia sua filha, Claire, que estava abraçada ao meu irmão.

Christopher descansava a cabeça contra uma das paredes. Seu cenho estava franzido denunciando que ele sentia dores musculares ou talvez fome demais. Claire tinha a cabeça repousada em seu ombro e chupava seu dedo enquanto ressonava angelicalmente.

Um sorriso fraco se formou no canto do meu lábio ao ver que meu grupo era de fato uma família.

Meu olhar segue para o extremo da sala, mais precisamente para as outras figuras também encostadas contra os móveis e paredes.

Austin recarregava o pente de sua arma retirando as balas restantes do interior de uma caixinha. Ele tinha uma carranca enorme e constantemente me lançava olhares raivosos. Eu tentava ignorá-los, mas já estava me dando nos nervos.

Dinah, pelo contrário, já se sentia bem à vontade e remexia em sua bolsa enquanto cantarolava alguma canção para a irmã que tinha a cabeça repousada na coxa esquerda de Camila. Tanto Regina quanto Sofia dormiam calmamente, cada uma em uma lateral do colo da latina. Mesmo com a pouca luz, eu podia ver que Camila dava um sorriso bobo enquanto acariciava os cabelos das crianças.

Franzo cenho, tentando lembrar-me da raiva que eu sentia por ela ter me abandonado dentro da cabine ou da raiva de mais cedo quando puxou o freio de mão. Mas, eu não conseguia senti-la agora enquanto a observava alheia a tudo.

O sorriso dela... era... lindo. Era algo sincero. O tipo de sorriso que raramente era visto nos dias atuais.

Balanço a cabeça me negando a pensar aquilo. Sem sentimentalismo, Jauregui...

Dinah se levantou com cuidado para não acordar quem já dormia e caminhou até mim.

- Tome. – ela diz me oferecendo quatro garrafas com água e três latas de carne enlatada. – Vocês precisam mais que a gente.

- Dinah... não! – eu sussurro, ainda surpresa. – Eu... eu não posso aceitar!

- Vocês só tinham aquelas latas, Lauren. Além do mais, você salvou a vida de Camila e Austin hoje. Você voltou para pegar minha irmã. É o mínimo que posso fazer.

A loira tinha de fato um sorriso gentil no rosto. Dinah era grande, cabelos volumosos, mas tinha uma áurea bondosa que facilmente era notada.

- Por isso mesmo.  – retruco, com um suspiro. – Vocês têm duas crianças e uma mulher doente...

- Vocês também têm, ok?! – retruca Dinah, fingindo um olhar duro. – E, não querendo ser intrometida, mas eu sei que Taylor não está bem. E Claire, por mais que tente, não está conseguindo controlar muito mais a sua tosse.

Eu olho para garotinha loira que tinha a mão na frente da boca. A criança tossia baixinho e logo tentava retornar ao seu sono nos braços do meu irmão que a olhava preocupado.

- Hãm... – gaguejo, sem graça. – Você tem certeza mesmo? Nem um outro integrante do seu grupo vai se irritar? – pergunto erguendo uma sobrancelha.

Dinah semicerra os olhos, mas não demora muito para entender de quem eu estava falando.

- Ele não tem que se irritar por nada, ok? Eu estou dando para vocês e pronto. Ele que se resolva comigo depois. – a loira grande bufou.

- Já que insiste... – dou de ombros e ela abre um sorriso grande ao ver que eu tinha aceitado.

Eu pego as quatro garrafas e as três latas e as coloco no chão. Jogo uma lata para o Troy que comemora baixinho ao ver que teríamos mais comida. Ele pega a faca e o posiciona a ponta sobre o metal, aplicando força para abri-lo.

- Me desculpe, mas eu não aguento mais! – a voz alterada de Austin alarmam todos ali, quebrando o silêncio.

Em questão de segundos ele se levanta agitado. Eu faço o mesmo e me coloco a frente de minha irmã, já que ela mal conseguia ficar de pé. Dinah também se levantou para encarar o amigo.

- Tio Austin? – Sofia pergunta assustada, acordando. A criança tinha o cenho franzido. – O que foi?

- Como vocês estão conseguindo estar nessa mesma sala com ela?! – ele pergunta, olhando tanto para Dinah quanto para Camila, que ainda continuava sentada no chão, mas agora tinha duas crianças abraçadas a ela. – Ela não tem mais muito tempo!

- Fale baixo, Austin! – diz meu irmão, já se colocando de pé para enfrentá-lo se necessário. – Mas que porra você está falando?

- ELA FOI MORDIDA! – responde Austin apontando para mim.

Todos os que estavam no Nissan de Christopher me encararam com os olhos arregalados. Meu coração acelerou tão rapidamente que repercutiu em uma dor aguda em meu peito. Meu irmão me encarava atordoado. Taylor já tinha as mãos na frente da boca e estava prestes a chorar.

- O que? – gaguejo, atordoada. – Não! Você se enganou!

- Pare de se fazer de tonta! – grita Austin, colocando a mão no cinto onde sua arma estava. – Você foi mordida e deve estar próxima a se transformar! Já se passaram horas! Chequem se ela está com febre!

- Tira a porra da sua mão da arma, Austin! – retruca Troy, perdendo a paciente que ele tanto aparentava ter.

- Lauren, isso é verdade? – pergunta Taylor, já com dificuldades para respirar. – Você está com A Febre?

Normani era a única que se mantinha neutra por saber a verdade, mas o ressentimento de ter sido chamada atenção falava mais alto e ela continuava em silêncio, sem me defender.

- Eu estou bem! – digo, tentando me justificar, mas fui interrompida novamente. – Ele tentou me pegar nas costas e vocês sabem que eu us...

- Mostre a mordida! – ordena Austin, sem tirar a mão do cinto. Sua voz estava trêmula e o rapaz piscava constantemente, nervoso.

Eu reviro os olhos desistindo de ser boazinha. Retiro a jaqueta que de fato havia se rasgado e a blusa azul por baixo. Abro os braços e viro-me lentamente de costas onde aparentemente uma mordida deveria estar.

Um suspiro de alívio saiu pelos lábios dos integrantes do meu grupo ao ver nada ali.

Viro-me novamente para o grupo e lanço um olhar cheio de raiva para Austin que encarava o meu colete à prova de balas sobre minha regata branca sem entender.

- Sério, seu desgraçado?! – eu rosno, já andando em sua direção com o punho fechado. – Acha mesmo que eu colocaria todos em perigo assim? Acha mesmo que continuaria em um grupo mesmo estando infectada?

- Lauren! – Troy tenta me segurar, mas eu me esquivo rapidamente.

Austin arregala os olhos retirando sua arma do cinto e a apontando para mim. As crianças, já totalmente acordadas, começam a chorar e a se distanciar. Claire correu rapidamente para os braços de Taylor que estava acanhada ao lado de Normani.

- Austin, para! – rosna Camila, abraçando Sofia e Regina que choravam em seu ombro.

Troy e Chris rapidamente se colocam ao meu lado encarando Austin. Dinah coloca a mão no braço do homem do seu grupo e tenta aos poucos escorregá-la até seu punho para retirar a arma dali.

- Abaixa isso! – implora Dinah, perto de seu ouvido.

Austin hesita ainda me encarando. Eu não me intimidava e continuava na sua frente alternando meu olhar de seus olhos para o cano longo e frio de sua arma de policial.  

Austin relaxou os músculos e Dinah finalmente conseguiu pegar a arma de sua mão.

Ele não deveria ter feito isso...

Não perco tempo e empurro o homem contra a parede fazendo todos arregalarem os olhos com o baque.

- Já é a segunda vez que você aponta essa sua arma para mim... – rosno perto do seu rosto, enquanto o segurava pela gola da jaqueta. – Se fizer isso uma terceira vez é melhor você puxar o maldito gatilho, porque se não puxar, não vai sair vivo para contar história. – pronuncio palavra por palavra.

Austin rosna alto e por ser mais forte, me empurra para trás com um supetão. Cambaleio para trás e me apoio em uma poltrona velha.

- Você me escutou?! – ameaço de novo, apontando o dedo para ele.

- Lauren, já chega! – ordena Chris, dando um passo longo e ficando entre eu e o homem. – Os dois! Austin, Já chega! Tem três crianças aqui nesse maldito quarto! Qual parte de ficarmos em silêncio vocês não entenderam, huh?

Troy continuou me guiando à força para o extremo do quarto onde estava inicialmente. Passo minhas mãos por minhas têmporas doloridas e me agacho contra a parede.

Quem aquele desgraçado pensava que era?

Demorou longos minutos até que todos estivessem calmos novamente. Taylor conseguiu recuperar a respiração branda e as crianças haviam parado de chorar.

Apenas um bom tempo depois todos já estavam alimentados e em seus devidos lugares para dormir.

- Você não vai comer? – pergunta Chris, se aproximando de mim. Eu continuava a olhar pela janela enquanto o pequeno prato estava na minha mão ainda intocado. – Ou dormir?

- Pode ir, Chris. – digo, tentando esboçar um sorriso, mas sem sucesso. – Eu pego o primeiro turno. Ainda tenho que terminar de comer.

- Tem certeza? – pergunta, receoso. Mas seus olhos já estavam pesados entregando seu sono

- Sim. Pode ir. Acordo você quando for minha vez de dormir. – minto. Eu não o chamaria tão cedo já que ele merecia descansar e meu sono não aparecia.

- Tudo bem... – ele sussurra, caminhando em direção de seu quarto.

Volto a encarar o escuro, arriscando comer um pouco. Eu não aguentaria outro dia se não repusesse as forças daquele exaustivo. Se quando eu saí do apartamento hoje eu planejava quase morrer duas vezes? Claro que não.

Termino de comer e o cansaço de fato me abate. Eu apenas percebi que estava chorando quando uma lágrima fria escorreu por minha bochecha. A dor muscular era tanta que eu não me importei de secá-la ou impedir que outras a seguisse.

Eu estava tão cansada! Não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. Eu poderia estar morta... ou melhor, eu deveria estar morta.

Às vezes eu me questionava o propósito daquilo tudo. Por que sobreviver? Por que continuar tentando? Meses se passaram e nenhuma ajuda que o governo tinha prometido havia sido feita. Se é que ainda existia algum governo... Se é que havia algo do lado de fora além da morte em seus mais literais sentidos. Continuar viva por meus irmãos e amigos? Sim, era isso que eu matinha em mente quando me pegava sozinha assim. Mas, era tão cansativo tentar manter-me em pé e sã!

Continuo a chorar em silêncio por mais alguns minutos até que me viro para colocar o prato em cima de algum móvel abandonado. Estremeço ao ver um vulto no escuro.

- Quem está aí? – minha voz sai fraca por causa do meu estado. Eu rapidamente enxugo as lágrimas, não querendo me mostrar fraca.

- Não quis lhe assustar. – a voz de Camila ecoa na sala.

A luz da lua finalmente chega à fisionomia dela e eu vejo seu rosto através da claridade da janela. Também havia marcas de lágrimas em suas bochechas.

- Posso me juntar a você? – a morena pergunta, receosa. – Chris aparentemente já foi dormir.

Afirmo com a cabeça e dou um passo para o lado para que ela pudesse olhar também pela janela.

 – Alguma coisa lá fora? – ela pergunta, depois de alguns segundos em silêncio.

- Não.

O silêncio reinou novamente. Os únicos sons que vinham era dos grilos do lado de fora. Agora mais que nunca a conversa com Normani martelava na minha cabeça.

Eles eram mesmo confiáveis? Camila me viu chorando?

- Eu... hãm... – ela gagueja limpando a garganta. – Eu queria agradecer você.

- Pelo o quê? – ergo uma sobrancelha.

- Por ter salvado a minha vida hoje. – responde Camila. Ela levanta o olhar e ele se cruza com o meu. – Você voltou para dentro do supermercado e nos ajudou...

- Não... olha... você também voltou por mim aquele dia no hospital e...– tento falar, mas ela me interrompe.

- Queria pedir perdão também por ter lhe abandonado dentro da camionete. – Camila acrescenta. A morena abaixa a cabeça, envergonhada. – Eu... eu apenas não podia arriscar. Você poderia me matar ou me seguir até onde estávamos. Milhares de suposições passaram por minha cabeça. Eu não sabia quantos havia no seu grupo e...

- Eu também pensei isso. – digo.

Eu estava mesmo tentando diminuir a culpa dela? Que merda é essa, Jauregui?!

- O que? – Camila questiona.

- Quando estávamos dentro daquele quarto. Eu também pensei que você poderia me seguir ou me matar.

- Oh... – ela sussurra, com um sorriso sem graça, mas que morre segundos depois. – Mesmo assim. Eu fiz aquilo com você e você ainda voltou para me salvar no supermercado. Depois me ajudou com a cerca e me levantou quando...

- Você contou quantas vezes lhe salvei? – pergunto, erguendo uma sobrancelha convidativa.

Seus olhos arregalam e sua bochecha cora tanto que mesmo com a pouca luz eu pude ver. Seguro uma risada com todas as forças.

- Eu... hãm... não... é que foi meio impossível de não contar e... – ela gagueja, balançando a cabeça quando as palavras embolaram.

 Volto a olhar através da janela e cruzo os braços na frente do corpo para evitar rir de sua situação.

- Ok. – murmuro por fim.

- Ok...?  – ela questiona, confusa. Viro o rosto para Camila novamente. – O que isso sign...

- Digamos que parcela da sua “filha da putagem” foi descontada com as inúmeras vezes que eu salvei sua vida hoje... diretamente ou indiretamente. Então...  – digo, agora olhando em seus olhos castanhos. – Ok significa ok, Camila.

Camila hesita por alguns segundos ainda olhando para mim. Ela simplesmente assente com a cabeça e se distancia, caminhando até uma almofada velha que estava jogada no chão. A morena se senta nela e encosta sua cabeça na parede, podendo então suspirar em alívio pelo momento de descanso.

Pouco depois quando minhas pernas reclamaram do tempo em pé eu caminhei até uma cadeira, a peguei e a levei até perto da janela. Eu evitava olhar para Camila, mas eu sabia que ela encarava o nada pensando em tudo. Era isso que todos faziam com o silêncio ensurdecedor.

Era quase uma... maldição.

Eu apenas percebi que havia cochilado quando eu escorreguei do batente da janela que eu estava escorada. Ainda não era dia e a lua estava longe de desaparecer. Meio atordoada, eu olho para os lados e percebo que Camila não estava mais em sua almofada. Passo a mão por meus olhos na tentativa de sumir com a sonolência.

Levanto-me e caminho pelo corredor principal da casa de campo apenas para ter certeza que tudo estava bem. Com meus olhos já acostumados com o escuro eu conseguia ver a silhuetas dos objetos. Todos os quartos estavam devidamente fechados exceto o que eu partilharia com Chris e Camila.

Quando chego perto da porta vejo a silhueta da mulher saindo de fininho.

- Deus! – ela sussurra, colocando a mão no peito por causa do susto.

- O que você estava fazendo? – pergunto. Rapidamente minha expressão se fecha e meu instinto protetor se aflora.

Passo ao seu lado bruscamente e bato meu ombro no seu. Empurro a porta para checar se meu irmão estava bem e o vejo dormindo na cama de solteiro com a sua arma na mão direita, como proteção.  Solto o ar que estava preso em meus pulmões e lentamente volto, fechando a porta atrás de mim.

Procuro por Camila e a vejo caminhar para a sala. Sigo a jovem até perto da janela.

- Eu... eu fui pegar isso. – sussurra a mulher, virando-se à luz da lua. Em sua mão direita estavam duas caixinhas brancas. – Tome!

Ela me entrega as embalagens e eu com certa dificuldade consigo ler: BEROTEC. Meus olhos arregalam surpresos. Eram bombinhas de ar para asma. Eram as duas bombinhas que eu havia encontrado no hospital e ela roubara de mim!

- Eu não imaginava que alguém do seu grupo precisaria tanto... – ela sussurra. Camila estava cabisbaixa e envergonhada. – Taylor... ela... não está nada bem. E... isso é minha culpa!

- Eu sei disso! – digo e minha voz saiu mais áspera que imaginei.

Os ombros de Camila caíram por causa da culpa. Ela caminha de volta até sua almofada e eu a observo ainda tentando absorver tudo. Decido ignorá-la e caminho até o quarto onde Taylor estava. Abro a porta com cuidado para não alarmar ela ou Normani. Chego até perto de sua cama e acaricio seus cabelos.

- Ei... – sussurro perto de seu rosto. – Tay...

Aos poucos ela abre os olhos, sonolenta. Um sorriso fraco nasce em seus lábios ao me reconhecer na escuridão. Abro uma das embalagens e retiro a bombinha de ar.

Taylor me estuda, confusa.

- Como você conseguiu isso? – pergunta minha irmã se sentando na cama.

- Não importa. – digo, posicionando a bombinha em seus lábios e a apertei. – Apenas inspire profundamente.

Taylor prontamente obedeceu e eu vi a mistura de alívio e alegria quando o ar tão precioso entrou por seus pulmões. Automaticamente eu me vi feliz também com um sorriso fraco. Retiro a bombinha de seus lábios e ela se deita novamente. Continuei ao seu lado até que dormisse usufruindo do melhor sono em semanas.

Levanto devagar e saio do quarto, fechando a porta. Guardo a bombinha em sua caixa e a coloco dentro da minha mochila no meu quarto. Caminho pelo corredor e vejo que Camila estava sentada na minha cadeira. Ela olha para mim e sinaliza com a cabeça para que eu me sentasse na almofada, cedendo assim para mim alguns momentos de alívio também.

Não falo nada e apenas me sento encarando a parede na minha frente até que Chris acordou horas depois reclamando do fato de eu não ter lhe acordado.


Notas Finais


Não tem como ter ação em todos os capítulos, não é pessoal? Eles precisam se conhecer um pouco mais, porque não irá demorar muito para que uma nova personagem entre na história...
Prometo responder os comentários anteriores e posteriores depois! Obrigada também por todos que divulgaram a fic! Amo vocês!


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