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História Into The Dead - Capítulo 51


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Vocês acharam que eu não ia rebolar minha bunda hoje, né? Horário de Verão tá aí pra isso, só pra acabar com a gente.
Aqui está mais um famigerado capítulo recheado de Camren. Sim, Camren! Isso mostra que mamãe ama vocês e tá voltando com o casal mais ilusório.
Obrigada pelos comentários, pelos favoritos, pelas curtidas, por tudo!

Boa leitura, me perdoem pelos erros e ouçam as músicas!

Capítulo 51 - Capítulo 51


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 51

LAUREN PDV

*Music On* (Touch My Body – Mariah Carey)

Viver com Camila Cabello na mesma casa estava se tornando insuportável de um jeito cômico, por ser semelhante aos momentos que passamos juntas quando nos conhecemos na casa de campo, no começo de tudo.

Não bastava eu precisar lidar com problemas de vida ou morte... Eu precisava lidar com o desejo, todas as horas do dia, me atazanando.

Eu ainda parecia sentir o gosto de sua boca, a maciez de seus lábios, o seu corpo contra o meu. Foi maravilhoso? Sim, os melhores segundos da minha vida há muito tempo. Mas uma estúpida decisão? Sim, porque aquela mulher agora havia se tornado o meu demônio.

Aparentemente ver a minha recaída fora um fator decisivo para que Camila continuasse seu estúpido jogo. Poderia ser para me reconquistar ou até mesmo para ter sua ascensão na comunidade – como ela incitou –, mas agora ela estava mais terrível do que nunca.

Onde eu estava com a cabeça quando decidi corresponder ao beijo?

Eu simplesmente não tinha mais paz.

Aquele beijo pareceu ter sido o estralar de dedos para Camila Cabello ativar seu lado mais provocador.

Para onde eu ia... aquela maldita estava.

Próximo do fim da tarde, eu decidi ir até o escritório da Rainha para ter certeza que ela não precisava de algo. A serviçal que vigiava por vinte quatro horas o lugar já era familiarizada comigo, portanto, sequer expressava qualquer reação quando eu chegava batendo à porta.

Entretanto, percebi que havia algo errado quando houve uma demora em me atender e, principalmente, ao ouvir risadinhas do interior do cômodo.

Ao receber um “Entre”, eu abri a porta e vi, nada menos, que Camila Cabello e Lucia Vives rindo sobre um assunto não trivial enquanto estavam sentadas em poltronas e tomando chá. As duas pareciam bem à vontade, com as pernas cruzadas e com bom humor.

Imagine essa cena: ambas as mulheres pararam de falar e viraram os rostos para mim, as duas me encarando com as íris castanhas.

Aquela foi a primeira vez que me assustei de fato com a proporção das coisas.

Lucia foi cordial e me convidou para se juntar a conversa, que basicamente era sobre coisas que já haviam feito durante o Apocalipse. Mas, ainda com a mão na maçaneta, eu apenas soube negar com a cabeça, pois estava embasbacada demais para tal.  E Camila, percebendo minhas reações, abriu um sorriso delinquente à medida que colocava a xícara perto dos lábios e me encarava com segundas intenções.

Oh, merda... esse sorriso.

Ela estava aprontando.

E, como um maldito Karma, depois disso as coisas apenas pioraram.

Camila Cabello parecia estar decidida a me afrontar, usando apenas roupas apertadas que moldavam o seu corpo escultural. Por ter entrado para a elite, ela ganhava muitos créditos a cada vez que fazia pequenos trabalhos para a Rainha, que se resumiam a escoltá-la durante suas caminhadas pelo campus, fazer-lhe companhia durante o tédio, manter-se imparcial quando precisava confrontar alguém. Com isso, Camila havia incrementado seu guarda-roupa, adotando o estilo bem semelhante ao meu, com tons escuros.

Só porque sabia que eu ficava louca quando ela usava preto.

Eu me perguntava, em minhas viagens enquanto a encarava de longe, se era possível uma pessoa ficar cada dia mais atraente.

Os jeans justos, as camisetas cavadas, as botas marcantes, a Dan Wesson – recebida de volta – em sua coxa torneada.

Mas o sorriso acompanhado dos olhares sugestivos... esses eram os piores.

E eu ficava cada vez em uma situação precária.

No outro dia, decidi dar uma volta no pátio principal e aproveitar um pouco da brisa fresca do Verão. Lucy estava resolvendo alguns assuntos com Vero – que resumiam a gemidos no quarto ao lado – e eu não queria ficar lá para ouvir. Mas quando cheguei perto das árvores verdes, lá estava ela sentada em um banco e conversando com algumas mulheres aleatórias da comunidade.

Como se não bastassem as encaradas que Camila me dava, os sorrisinhos e as piscadelas maliciosas, eu precisava aturar as mulheres comentando entre si o quão bonita a novata era. Algumas ainda estavam inseguras, por causa das consequências do mundo atual, mas mesmo assim não ignoravam o fato de a latina ser praticamente irresistível. E esses comentários vinham até de mulheres héteros, que eram a grande maioria de Lésvos.

Eu apenas revirava os olhos e as deixava falando sozinhas.

Depois foi quando decidi ir treinar um pouco no ginásio e usar os sacos de areia para descontar toda a tensão que estava se acumulando em meu corpo. Mas lá estava ela usando shorts apertados que marcavam aquela bunda e toppers que deixavam a barriguinha lisa de fora.

Ela me olhava, ria e piscava.

*Music On* (Havana – Camila Cabello)

Se eu decidisse ir até a área de agricultura, no Sul do campus, para checar se tudo estava indo conforme as ordens da Rainha... lá estava ela vasculhando o lugar e alegando que estava “conhecendo as redondezas”.

Se eu decidisse ir à cozinha da mansão comer, lá estava ela remexendo na geladeira e com a bunda empinada para cima.

Se eu decidisse ir até sala de estar, para não ficar no interior do quarto, lá estava ela praticamente debruçada sobre o sofá.

Se eu decidisse ir até os muros para conversar com as guardas, ou até com as mulheres que eram responsáveis pelas buscas, lá estava ela tagarelando com Ariana Grande e cheia de olhares, sorrisinhos e mãos tocando sem necessidade.

Eu estava perdendo a sagrada paciência.

Mas a pior foi naquela madrugada, quatorze dias após Camila se tornar oficialmente a terceira guarda-costas da Rainha e duas semanas após meus dias e noites terem se tornado um inferno.

Naquela noite, a nova chefe da cozinha – uma que possuía língua dessa vez – havia errado na hora de temperar as comidas para o jantar. O excesso de sal me fizera acordar no meio da madrugada com a boca e garganta secas. Inocentemente, eu decidi me levantar e sair do quarto com o intuito de ir até a cozinha pegar um pouco de água, pois, por obra ou não do acaso, meu frigobar estava sem uma mísera gota.

E, ao passar em frente à porta do banheiro, no corredor leste, meu corpo travou por completo ao perceber a fresta aberta.

Eu estava tão grogue de sono que não notei o barulho da água corrente vinda do chuveiro ligado antes de chegar até ali. Mas agora eu estava totalmente acordada e com o corpo em alerta ao ver a silhueta completamente molhada no interior do banheiro.

Camila estava de costas e com as mãos entre as madeixas do cabelo cheio de shampoo, o lavando. Estava quente e eu, particularmente, estava suando antes de decidir ir até cozinha, o que justificava o seu banho durante a madrugada.

Certo?!

A água escorria por suas costas e sumia por entre suas nádegas expostas. A pele latina praticamente brilhava por causa da umidade e por causa da luz do banheiro. A cintura parecia ser desenhada e à medida que ela ia girando o corpo, de olhos fechados por causa do shampoo no rosto, meu queixo foi caindo cada vez mais ao deparar-me com o seu busto nu.

Deus, aquilo era errado.

Mas eu simplesmente não conseguia mover um músculo do meu corpo e só encarava os seios firmes, a barriga lisa e a virilha exposta.

Sim, Camila Cabello havia se tornado uma mulher.

Entretanto, o pior aconteceu quando ela abriu os olhos e percebeu a minha presença, lhe encarando pela fresta.

Meu coração disparou e eu esperei gritos, xingamentos e até tiros na minha direção.

Mas ela não fez isso.

Camila Cabello apenas sorriu de lado e mordeu o lábio inferior devagar.

Um arrepio cruzou todo o meu corpo e sem perceber um gemido arranhou minha garganta. Isso fez com que seu sorriso aumentasse enquanto ladeava a cabeça, sugestivamente, e erguia as sobrancelhas como se esperasse algo.

- Me desculpe... – ela ronronou, caminhando até a porta com as gotas caindo de seu corpo nu. – Eu esqueci a porta aberta.

Ela, ainda com um sorriso cafajeste, simplesmente empurrou a madeira lentamente até que a porta se fechasse bem próxima do meu rosto.

Eu simplesmente soube sussurrar um “Oh meu Deus...” tardio.

 

E agora, nesse exato momento, faltavam famigerados dez minutos para o meio dia da manhã seguinte. O Sol já estava quente e no centro do céu, iluminando todo o dia calmo de Nebraska e a comunidade de Lésvos.

Eu? Encontrava-me sentada em um banco, no pátio, com as imagens da madrugada passada sendo rebobinadas na minha cabeça.

As mulheres caminhavam em direção da cantina para terem seus almoços atrasados, outras estavam voltando para seus trabalhos, algumas crianças brincavam na grama, Victoria latia ao longe com elas.

Tudo estava calmo.

E eu? Pensando em sexo e como eu precisava disso urgentemente.

- Preciso de chocolate! – eu autocorrijo meus pensamentos, balançando a cabeça.

Levanto-me do banco e vou até a pequena mercearia que possuíamos perto da área D do campus. Eu estava decidida a comprar alguns doces para passar a tarde toda assistindo DVD’s velhos na TV e comê-los até que meu cérebro tivesse um AVC de açúcar, mas nem isso fui capaz de fazer, pois, quando cheguei ao estabelecimento Camila estava lá.

- Ah, não... – eu quase giro o corpo para sair pela porta ainda aberta, mas paro no meio do movimento ao perceber com quem estava conversando.

A latina estava debruçada sobre o balcão chupando um pirulito sabor morango e conversava animadamente com ninguém menos que Kristen Stewart. A bunda estava arrebitada, apertada por uma calça jeans, e a arma pousada no coldre na coxa.

Kristen tinha um sorrisinho nos lábios e, enquanto Camila conversava com a balconista, a policial aproveitava para checar suas curvas de forma nada sutil.

Travo o maxilar e inspiro profundamente o ar quando a onda de raiva quase sopitou dentro de mim.

Empurro a porta com força, fazendo-a fechar com um baque tão forte que balançou um quadro pendurado na parede.

Minha paciência havia chegado ao fim.

- Lauren! – Kristen exasperou, com o susto pelo barulho.

Camila também havia se assustado e agora tinha o corpo completamente virado para mim, com uma expressão que aos poucos foi se tornando maliciosa.

Ela via a raiva brilhando nos meus olhos e narinas infladas. Ela se lembrava do nosso pequeno encontro horas atrás.

- Tudo bem aí? – a policial ergueu uma sobrancelha ao perceber que eu não parava de encarar a latina.

- Apenas não estou em um bom dia, Kristen! – rosno, me aproximando do balcão com passos rápidos.

Camila deu um passo para o lado, cedendo-me espaço. Mas, nem por isso, parou de me olhar dos pés à cabeça como se fosse um animal checando sua presa.

Maldita.

Kristen apenas deu de ombros, erguendo as mãos em sinal de rendição por saber do meu humor instável.

- No que posso te ajudar, Jauregui? – Jessica, a balconista loira, me perguntou com um sorriso.

- Me dê qualquer coisa com açúcar. – respondo, sentindo dois pesos diferentes de olhares sobre mim.

Jessica fez um afirmativo com a cabeça e sumiu para o interior da mercearia. Vejo, por cima do ombro, Kristen abrir a boca para falar algo, fazendo-me suspirar em antecedência.

- Sinto uma tensão aqui... – Kristen provocou, olhando para Camila e para mim. – Tudo por causa da luta? Do empate? Eu disse que ela era boa, Jauregui!

- Você disse, Kris? – Camila cantarolou o nome da policial, de um jeito exagerado. – Oh, você é mesmo uma fofa por me elogiar!

A mulher de cabelos curtos e loiros pigarreou, devidamente afetada.

Mordo o interior da minha bochecha para não soltar um xingamento por causa dos ciúmes que estava me queimando e apenas giro o rosto em direção de Camila, que me encarava como um demônio sorridente.

Eu praticamente lhe assassinei três vezes apenas com o olhar.

- O quê é bom tem de ser elogiado, querida!

Bufo, sem acreditar que havia escutado aquilo. Faço o mesmo movimento com a cabeça e agora encaro Kristen, com a raiva duplicada.

Felizmente Jessica chegou há tempo, antes de eu cometer um homicídio ali dentro daquela mercearia.

- Aqui está uma barra fresquinha de chocolate caseiro, Jauregui. – a loira me entrega a embalagem de plástico, pegando um caderno grande que estava escrito todos os nomes das moradoras de Lésvos e quantidade de créditos que possuíam. – Isso custa dez créditos, sabe como é difícil achar produtos para fazer.

- Não me importa! – rosno, sabendo que estava sendo rude com quem não merecia.

Pego a barra de chocolate em cima do balcão com brutalidade e giro meu corpo, dando passos rápidos em direção da porta e saindo dali do mesmo jeito.

Camila Cabello estava me tirando do sério.

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O campus, na maioria das vezes, era um lugar pacífico. As mulheres não costumavam brigar entre si, pois continham paciência o suficiente para discutir de modo civilizado as discordâncias. Cada uma possuía o seu papel, cada uma possuía o seu trabalho. E mesmo com a existência dos Créditos e toda a ascensão que envolvia o acúmulo deles, as mulheres guardavam para si seus almejos. Até porque, para conseguir crescer de cargo, o que você precisava fazer basicamente era trabalhar.

Aquelas que davam a vida por isso conseguiam.

E eu determinei, como meu dever, transformar esse caminho menos torturante, sendo essa a exata razão de eu escolher os trabalhos. Eu buscava encontrar um ramo ou departamento da comunidade onde a pessoa se encaixasse bem e não sofresse enquanto buscava sua ascensão ali dentro. Eu buscava encontrar um trabalho onde a pessoa, no mínimo, se encontrasse confortável em fazê-lo.

Era como o meu ato de bondade, único que poderia passar despercebido ali.

Grande exemplo disso foi Ashley Benson e Shay Mitchell. Quando as duas chegaram à comunidade eu percebi como ambas estavam afetadas pelo mundo lá fora. Mas cada qual de um jeito diferente, por mais que estivessem juntas. Ashley tinha uma alma livre e gostava da adrenalina, além também de ser calma, tornando-se perfeita para controlar Kristen e Halsey que eram as únicas policiais da época. Shay Mitchell estava visivelmente transtornada, fato que foi diagnosticado por nossa psicóloga bem cedo. E, por isso, mesmo sabendo de suas habilidades lá fora, eu escolhi lhe dar o trabalho na lavanderia para tentar diminuir o desconforto existente em já precisar viver com o passado.

Esse era o meu maior problema.

Eu ainda me importo com as pessoas.

Para tentar livrar minha mente e voltar a ser a Lauren ranzinza, eu decidi caminhar logo cedo naquela manhã. Uma calça jeans rasgada e uma regata velha de uma banda aleatória pareceram perfeitas para a temperatura alta daquele dia, que se aproximava lentamente das dez horas. Apenas uma Desert Eagles estava às minhas costas, presa no cós da calça.

De braços cruzados, eu olhava ao redor do pátio central. A maioria das mulheres estava ativa em seus trabalhos e poucas, as que foram atribuídas como babás, estavam de olho nas crianças que brincavam sobre a grama verde.

Caminho sorrateiramente até próximo de duas, sentadas sobre um pano quadricular vermelho e branco. Uma das meninas não deveria passar dos dez anos de idade e a outra deveria ter os seus sete anos. Ambas brincavam com soldadinhos de plásticos, bonecas de pano e outras bugigangas espalhadas sobre o pano.

Buscando ver a cena mais de perto, vou até elas que, automaticamente ao sentirem a minha presença, pararam de brincar e ergueram suas órbitas curiosas para mim.

- Do que vocês estão brincando? – eu pergunto, dando um breve sorriso para não parecer intimidadora.

- De guerra. – a de sete anos respondeu.

- De guerra?! – pergunto, surpresa pela resposta.

- Sim... – a de dez anos respondeu, concordando com a amiguinha. – Esse soldado está encarregado de exterminar todas as outras bonecas porque elas foram contra as ordens de sua comandante. Isso não é legal?!

Um arrepio cruzou minha coluna e destrinchou-se pelo meu corpo. Estar emersa em uma realidade tão caótica e violenta não era, para mim, uma novidade. Pessoas morriam, pessoas eram mortas, pessoas faziam o que era necessário para sobreviver.

Na maioria das vezes isso não me incomodava.

Mas, agora, olhando para aquelas duas crianças que brincavam de assassinar bonecas, isso havia chegado a uma espécie de limite em meu inconsciente, trazendo à tona uma carga de culpa que eu não sentia com facilidade.

Continuei calada, as observando, o que deu chance para a outra falar.

- Esse é o meu sonho, sabia?! – a de dez anos murmurou, segurando o soldado de plástico. – Eu quero ser uma atiradora e uma boa soldado para a Rainha Lucy.

Suspirei pesadamente à medida que a culpa ia correndo e crescendo no meu peito.

Era esse o sonho da criança? Ser uma soldado de alguém? Matar? Exterminar?

- Isso não está certo... – eu sussurro sem perceber, baixo, apenas para mim.

- O que não está certo? – a de sete anos escutou e então perguntou, olhando-me confusa.

- Isso! – eu retruco, com a expressão séria. – Isso não é o seu sonho! Isso não é um sonho! Seu sonho deveria crescer e ser uma boa pessoa, uma pessoa independente!

Durante alguns segundos enquanto o silêncio reinava, as duas crianças apenas se entreolharam bastante confusas. Não era exatamente isso que todo aquele ambiente transmitia. Era completamente o contrário. E eu entendia a inocência delas.

Agacho-me na frente de ambas e coloco uma mão no ombro de cada uma, obrigando-as a me encarar com seus olhinhos de crianças curiosos.

- Me prometam uma coisa, ouviram?! – pergunto e elas rapidamente concordam com a cabeça.  – Não se tornem soldados!

- Mas... você é uma. – a de dez anos me retrucou, astuta.

Meu coração apertou, dolorido com a constatação da criança. E eu apenas consegui sorrir tristemente, concordando.

- É porque eu não tenho outra escolha, minhas pequenas. – respondo, com um suspiro. – Mas vocês duas ainda tem!

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Tudo o que tentava fazer era manter minha atenção focada na maçã intacta que eu jogava para cima a cada vez que caía na palma da minha mão. O fruto estava bonito, com a cor vermelho vivo. Em nossa comunidade possuíamos um pequeno pomar ao lado de uma área de mais ou menos trinta metros quadrados onde plantávamos alguns legumes e verduras. Os nossos planos era expandi-lo, pois a demanda estava crescendo. Mas, para isso, precisaríamos expandir os muros primeiro, porque a área de alojamentos também estava evoluindo.

Em suma: precisávamos crescer.

Quero dizer, pelo menos aqueles eram os meus pensamentos. Eu sabia que esse não era o meu departamento e que essas questões eram apenas de responsabilidade de Lucy, mas a Rainha estava focada em outras questões agora. Questões que precisava ter certeza que poucas mulheres da comunidade ficassem sabendo.

Segredos.

E, certamente, essa era razão pela qual a Rainha veio ao meu encontro após o almoço dizendo que precisava de meus serviços.

*Toc Toc Toc*

- Entre... – Lucy pediu com a voz abafada.

Eu abro a porta creme e a fecho atrás de mim, caminhando pelo escritório intimidador. A Rainha estava sentada à sua mesa de carvalho negro, completamente focada nas contabilidades que fazia em relação ao controle da comunidade.

- Você me chamou? – pergunto, arrumando o meu coldre axial no corpo enquanto mordia na maçã.

- Eu preciso que você faça dois trabalhos para mim. – ela respondeu sem ao menos levantar o rosto, ainda escrevendo na folha de papel.

- Diga.

- O primeiro é checar as redondezas, indo além da zona segura para saber se há aglomerações de zumbis. Eu quero fazer o baile.

Aproveito que ela não me analisava e reviro os olhos, descontente. Lucia possuía esse desejo estranho de fazer um baile na comunidade para comemorar o 1 ano que “as mulheres tiveram sua ascensão”. Na verdade, o aniversário havia acontecido em Junho, mas desde então a Rainha precisou continuar adiando a festividade por motivos óbvios: zumbis e mais zumbis que pareciam se aproximar apenas nos momentos errados.

- O grupo de buscas já não fez isso há dois dias? – pergunto, mastigando a maçã.

- Eles foram ao Oeste. Quero que vá ao Leste, o que se entrelaça com o seu outro trabalho. Você e Camila irão continuar as buscas que você fazia antes com a Vero.

- Espera... o quê? – gaguejo, arregalando os olhos por duas razões diferentes. – Por quê?

Lucy parou e soltou um suspiro enquanto largava a caneta em cima da folha de papel. Visivelmente a mulher não estava com um bom humor naquele dia, já que isso era expresso por seus olhos castanhos frios.

- Um grupo de buscas que voltou hoje disse que viu indícios dos dois fugitivos ao Leste.  – ela respondeu, com o maxilar travado pela raiva.

Meu corpo congelou e eu mal consegui engolir a maçã em minha boca.

Não poderia ser.

- Então eu quero que você e a Camila, fazendo o papel da Vero, continuem a buscar pelos fugitivos. – Lucy completou, me analisando.

- Hãm... – gaguejo, sem saber o que fazer. – Você acha que a Camila vai conseguir?

- Olha... – Lucy torceu os lábios, procurando se manter calma com meus questionamentos. – Eu sou uma mulher gente boa. Camila não fez nada de suspeito nestas duas semanas em que está aqui, então eu penso que ela tem o direito de ganhar um voto de confiança. Então este é o seu problema, você não confia nela?

- Eu apenas não sou muito fã. – minto, com um sorriso sem graça. – Mas confio nela.

Então a Rainha apenas deu de ombros, sem se importar.

- Bem... essa será uma ótima oportunidade para se tornarem amigas, até porque ela agora faz parte da elite. – murmurou, voltando a pegar a caneta sobre o papel.

Apenas um grunhido saiu por minha garganta à medida que me distanciava da mesa da Rainha, deixando o quarto.

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CAMILA PDV

Ok... talvez eu realmente estivesse me divertindo com o fato de provocar Lauren Jauregui.

Só um pouquinho... um pouquinho muito.

Entretanto, mesmo com todo o meu divertimento com a situação, eu sabia que tinha deveres a cumprir. Havia um plano e eu precisava segui-lo, pois o tempo continuava passando e pessoas continuavam a ser injustiçadas naquela comunidade.

E essa certeza apenas aumentou após as dúvidas implantadas por Ariana, que, aliás, estavam certas. Durante aqueles dias eu conversei com bastantes mulheres de Lésvos. Claro que, a principal razão desse contato foi para causar ciúmes em Lauren e isso, obviamente, foi cumprido. Mas em segundo plano, eu descobri que realmente nenhuma “civil” trabalhava na fábrica e que, na verdade, poucas já haviam entrado lá. E, para completar, as mulheres que eram responsáveis pela contabilidade da cozinha, da área de plantação e todo o departamento alimentício estavam estritamente relacionadas à Lucy.

O que isso significa? Que todas eram amiguinhas da Rainha.

Exceto por Brenda, coitada, que agora estava em uma calma de hospital conversando através de caneta e papel.

Lucia aparentemente fazia com que as chefes dos departamentos se tornassem suas melhores amigas.

As reuniões da “Assembleia”, como Dinah havia denominado, deveriam englobar as chefes de todos os departamentos, pois, teoricamente, elas discutiriam as melhores ações e fatores que precisariam ser melhorados na comunidade.

Entretanto, de acordo com as fofoqueiras de Lésvos, apenas algumas chefes foram convocadas para as reuniões das últimas três semanas.

Adivinhem? Apenas as responsáveis pelo departamento alimentício.

E as teorias de Ariana realmente faziam sentido, ainda mais agora.

Nem mesmo Lauren, nem mesmo eu éramos convocadas para tais reuniões. Mas eu tinha noção que a dona dos olhos verdes sabia de algo.

Então eu iria pressioná-la até que abrisse o bico, de um jeito ou de outro.

Terminando de arrumar minha mochila com mantimentos e outras coisas não triviais, eu fecho o zíper e passo uma alça pelo ombro. Enquanto andava pelos corredores da Biblioteca eu checava a quantidade de balas no tambor da minha Dan Wesson, mesmo sabendo que ela estava totalmente carregada. Coloco a arma de novo no coldre em minha coxa e viro em uma interseção de corredores, saindo em um pátio no lado esquerdo do prédio. Ele havia sido adaptado e coberto por telhas, modificado em uma garagem que guardava o Camaro 69 de Lauren, o SUV de Vero e, nada menos extravagante que sua própria personalidade: a Maserati prateada de Lucy.

- Até que enfim! – escuto o resmungo rouco ao fundo. – Estava levando a casa na mochila?

- Cala boca, Lauren! – resmungo, passando pela mulher que estava no centro da garagem, ao lado do carro e jogo minha mochila pela janela detrás.

Lauren bufa com minha audácia e caminha até a porta da garagem, que era de metal sanfonado. Ela a levanta, com o barulho metálico arranhando as dobradiças laterais e claridade do dia externo me fez piscar para acostumar.

Ao mesmo tempo em que Lauren adentrava no lado do motorista, eu me sentava no acolchoado do carona e fechava a porta com um baque. Eu não estava me sentindo bem em sair por aí, obedecendo ordens da Rainha como uma marionete. Mas, agora, eu não possuía muitas escolhas.

Até porque eu nem sabia para onde estava indo e a razão daquela saída.

- Você vai me explicar o que vamos fazer? Ou terei de pagar para ver? – pergunto, encarando a mulher colocar a chave na ignição.

- Vou te explicar no caminho. – ela falou baixinho, quase sem forças.

Franzo o cenho, de fato agora me dando a oportunidade de estudar a expressão de Lauren. Ela estava visivelmente cansada e com um ar de derrotada, assim como se lutasse intensamente contra algo. Talvez eu realmente estivesse lhe atingindo como queria atingir, mas saber que sofria por isso me deixou com um incômodo no estômago.

O motor do Camaro 69 roncou, potente, quando ela pisou no acelerador, o aquecendo. A jovem engata a ré e começa a sair da garagem, dando um cavalo-de-pau sem necessidade no meio do asfalto. Reviro os olhos por causa do ato ranzinza e principalmente pelo fato de todas as mulheres terem parado e nos encarado.

Lauren engata a primeira e segue a rua de Lésvos, chegando logo em seguida no portão principal.

E como um fantasma, Halsey surgiu do nada na frente do Camaro, obrigando a jovem a frear o carro bruscamente para não atropelá-la.

- Que porra... – eu murmuro, assustada com a figura imponente vestindo jeans velhos, uma camiseta branca simples e nada menos que um fuzil passado nos ombros.

A mulher, que estava cuidando do portão, abriu um sorriso ameaçador e caminhou calma até perto da janela de Lauren.

- Vai passar por cima, Jauregui? – a mulher de cabelos azuis provocou, debruçando-se na janela.

- É uma ideia tentadora... – Lauren sorriu, lançando um olhar irônico enquanto segurava o volante com força.

- Você poderia abrir o portão para nós? – eu peço, interrompendo a motorista antes que começasse uma discussão.

- A Rainha não comunicou nenhuma saída para mim. – Halsey respondeu, agora me olhando.

A motorista torceu os lábios, visivelmente perdendo a paciência.

- Só abra o portão, Ashley... – eu peço, ainda mantendo a educação. – A Lucia nos comunicou e pediu que saíssemos.

- Poder eu posso, mas não vou deixar vocês duas saírem sem um motivo. Eu mando nos portões e... – ela arfou, superior.

- Vai à merda, Halsey! Você não manda em merda nenhuma aqui dentro! – Lauren vocifera, perdendo totalmente a paciência e apertando o volante com mais força. – Você sabe muito bem que esses carros possuem GPS. Além que, não há razões para que irmos embora, existem?! Nós, ao contrário de você, temos tudo! Nós temos permissão para sair quando quisermos e para onde quisermos. Então abra esse maldito portão! AGORA!

A mulher de cabelos azuis praticamente fuzilou Lauren com os olhos e narinas infladas. Ela, bufando, deu passos para trás à medida que percebia as mulheres ao redor cochichando sobre o que havia acabado de acontecer. E isso apenas deixou Halsey ainda mais irritada, por ser humilhada outra vez.

Ela caminhou até o portão e puxou as cordas dos mesmos, fazendo o barulho ríspido e metálico das grades ressurgirem enquanto que ele era arrastado para o lado.

Lauren mal esperou uma distância segura e já pisou no acelerador, urrando o motor do Camaro 69. Ela passou pelo portão aberto ganhando cada vez mais velocidade à medida que transitava pelas ruas do jardim amplo e passava pelos outros portões dos paredões de árvores, sem guardas.

Seu maxilar estava travado e olhar verde focado no horizonte à frente. Ela estava visivelmente irritada e eu sabia que era pelo fato de precisar sair da proteção da comunidade para liberdade aqui fora comigo.

Quando chegou à rodovia principal, que passava perto dali depois de uma interseção, ela virou na esquina com tamanha velocidade que o carro cantou pneu no asfalto. Entretanto, mesmo sabendo que estava dirigindo como uma louca, eu decidi deixá-la extravasar toda aquela energia, pois, a cada vez que ela passava a marcha e forçava o motor, ela se sentia indo contra a onda de sentimentos corrosivos que lhe atormentavam.

Parecia que a cada quilômetro que a mulher se distanciava da comunidade, mais ela conseguia respirar.

Nós não havíamos contornado ou virado em qualquer interseção, indicando que nem sequer a motorista sabia para onde estava indo. Lauren apenas sabia colocar mais peso sobre o pé fazendo com que o ponteiro do velocímetro subisse cada vez mais.

O motor urrava, potente.

Giro então meu corpo totalmente para ela e encaro seu perfil bonito e irritado.

- Já que não vai me dizer para onde estamos indo... você poderia pelo menos diminuir a velocidade? – pergunto, vendo apenas vultos e mais vultos de árvores passarem por nós através da janela.

- Por quê? – ela zomba, com uma risadinha. – Não é como se fosse acontecer um acidente de carro no meio de uma rodovia deserta.

- Por que não tem necessidade de você tentar alçar voo com um carro, Lauren. Então dá pra diminuir essa porcaria de velocidade?!

A jovem revirou os olhos e diminuiu o peso do pé sobre o pedal do acelerador, diminuiu a velocidade apenas um pouco, mas o suficiente para não morrermos em uma curva.

- Vai me dizer para onde estamos indo? – questiono, cruzando as pernas estilo índio sobre poltrona.

- Tire os pés daí! – ela resmunga, dando um tapinha de leve na minha coxa. – Não temos aspirador de pó!

- Ai, que chata! – eu bufo, voltando minhas pernas na posição normal. – Lauren! Me responde!

- Argh... – Lauren suspira, para manter a paciência quase nula. – Nós vamos... – ela começa a falar calmamente controlada. – Ir até o limite da zona segura e procurar por possíveis aglomerações de zumbi.

- Por quê?

- Lucia quer fazer um baile para comemorar o 1 ano da comunidade sob seu Governo. Então precisamos ter plena noção se os barulhos irão atrair andarilhos.

- Sério?! – eu ergo uma sobrancelha, irônica. – Ela nos mandou aqui fora para procurar pelos mortos? – balanço a cabeça negativamente. – Ela quem deveria fazer isso, não é a boazuda da comunidade?

Lauren quis segurar, mas não conseguiu controlar a risadinha baixa que escapuliu pelos seus lábios.

Isso fez meu peito aquecer, orgulhosa.

- Nah... para isso que servem os capachos... – a jovem também brinca. – Que no caso somos nós duas.

Seus olhos se mantinham focados no horizonte quente. A tarde estava calma e aqui ou ali se via um zumbi solitário cambaleando pelos galhos das árvores que passávamos na rodovia abandonada.

O silêncio nos envolveu por alguns momentos quando tudo o que escutávamos era o motor do Camaro e o atrito de suas rodas no asfalto.

- Está gostando? – ela murmura, sem me olhar. – De ser um capacho?

- Não é como se eu tivesse alguma escolha ainda... – incito, virando o rosto para encarar a paisagem do lado de fora.

- “Ainda”? – escuto sua voz frisar. – Camila...

Olho para ela e a vejo me encarando com as órbitas semicerradas.

- Não vou te contar até que você me conte os seus segredos. – dou de ombros, tranquila.

Ela inspirou o ar com força e tamborilou os dedos sobre o volante, ponderando.

- Eu tenho a vida toda, sabia?! – torço os lábios, com descaso. – E quanto mais você demorar... mais amiga da Rainha irei ficar... mais ascensão na comunidade eu vou ter... Talvez Kristen queira me contar... Talvez a Vero queira me contar... Não importa se você não falar nada, uma hora ou outra eu irei descobrir... Eu irei ficar por dentro de todos os esquemas que envolvem aquele lugar e...

- PARE! – Lauren vocifera, irritada.

A jovem rosnou e então pisou fundo no pedal do freio, fazendo o Camaro derrapar no asfalto. Por causa da Inércia eu precisei me segurar com força no estofado do banco, quase acertando minha cabeça no vidro durante o processo. Quando finalmente o carro se estabilizou e ficou parado no meio do nada, com o ronco do motor no ponto neutro, eu levanto meu olhar para Lauren e a vejo encarando o horizonte.

Ela me surpreendendo também gira o rosto e suas órbitas verdes me analisam intensamente. Seu peito subia e descia irregular e as mãos apertavam o volante.

Lauren passa então a língua pelos lábios, tomando coragem.

- Tudo bem... EU CANSEI! – ela murmura, batendo de leve no volante. – Você quer saber a verdade? Tudo bem, aqui está verdade: eu realmente traí Dinah e Normani. Eu realmente traí o nosso plano. Por quê? Porque eu sou uma traidora!

- Você pode até me dizer isso, mas algo não encaixa e você não me engana, Lauren! – eu retruco, convicta. – Só me fale a maldita verdade!

A jovem novamente olha para mim, ponderando.

- Por favor... – imploro, tristonha.

Ela suspira e concorda, desistindo finalmente.

- Eu apenas... – ela hesita. – Eu apenas traí a Dinah e a Normani. A Cara... A Cara ainda está viva... ou melhor, eu acho que ela ainda esteja viva.

- Espera... O quê?! – gaguejo, com os olhos arregalados. – Ela é uma escrava? Onde ela está?!

Lauren esfrega o volante com as mãos, diminuindo a ansiedade.

- Não... – ela nega com a cabeça também. – Eu sabia que o plano seria falho. Apenas quatro pessoas não conseguiriam tomar toda uma comunidade compactada. E eu tentei dizer isso para Dinah, mas ela estava completamente obcecada com a esperança que poderia dar certo. Eu sabia que Lucy iria descobrir e iria matar todas. Então... – Lauren hesita novamente. – Eu conversei com a Cara. Ela também sabia que aquilo tinha mais chances de dar errado do que realmente funcionar. Então... nós fizemos um acordo. Só nós duas.

Meus ombros caíram assim como minha boca, surpresa com as palavras que saíam pelos lábios bonitos da jovem.

- Eu realmente entreguei Cara à Lucy. – Lauren acrescentou, me olhando. – Mas, Camila, ela estava totalmente ciente disso. Eu aproveitei isso e fiz uma grande jogada. Eu ganhei a confiança da Rainha e depois... eu ajudei a Cara a fugir. É ela quem eu e Vero perseguimos todas as vezes que vamos lá fora. Estamos tentando localizá-la há meses. E estou tentando, e muito, levar Vero na direção errada, mas nem eu sei para onde Cara foi. Ela com certeza nos deixou e continuou a vida, sendo esperta o suficiente para nunca mais cruzar nossos caminhos.

- Mas... – gaguejo, embasbacada. – Dinah me disse que a Cara morreu!

- Lucy disse às mulheres que ela morreu, Camila. – Lauren explicou, voltando a encarar o horizonte abandonado da rodovia à nossa frente. – É claro que ela nunca iria oficializar o fato que uma mulher conseguiu fugir dela. Na verdade... até hoje ela não entende como Cara fugiu! Ela sabe que alguém de dentro ajudou e por isso ela é tão obcecada com traições!

- E por que você ainda continua ao lado dela?! – eu pergunto, confusa. – Ela é uma completa psicopata!

*Music On* (Flawless – The Neighbourhood)

Lauren, invés de me responder, retornou ao silêncio de antes.

- Você não vai me dizer? – ladeio a cabeça.

- Quanto menos você souber, melhor será. – ela responde, levando a mão até o câmbio e colocando a primeira marcha.

Eu sabia o que ela estava prestes a fazer. Aquela maldita iria acelerar o carro, continuar a viagem em silêncio e fingir que nada daquilo havia acontecido.

Mas eu não deixaria.

Antes de Lauren colocar o pé sobre o pedal do acelerador, eu abro a porta do Camaro 69 e saio de seu interior, fechando a porta atrás de mim com força.

- Camila, mas que merda?! – escuto a mulher gritar, irritada.

Ela dá um soco no volante e rosna, perdendo a paciência comigo. Lauren abre a porta do motorista e também sai do carro, dando a volta na parte da frente praticamente soltando fumaça pelos ouvidos.

- Entre nesse maldito carro para continuarmos essa maldita viagem e possamos voltar para casa! Você queria a verdade? Eu te dei a verdade! Não faça as coisas mais difíceis! – ela praticamente grita, me ameaçando com suas órbitas verdes furiosas. – Pare de ser tão infantil!

- Eu?! – grito de volta, abrindo os braços. – Você quem está sendo infantil, escondendo segredos de mim enquanto deveria compartilhá-los! Isso que é um maldito relacionamento!

- Relacionamento?! – Lauren ergueu uma sobrancelha, surpresa pela palavra.

- Nós não terminamos! – eu retruco, apontando um dedo para ela. – Eu ainda sou a sua Noiva! Nós ainda estamos juntas, Lauren!

- Eu não estou falando disso, Camila... – ela passa as mãos pelo cabelo, irritada. – Eu estou falando disso... – e então aponta para seu corpo e para o meu. – Não sobre a palavra oficial para o que temos... ou tivemos... eu não sei... – diz, se embolando. – Mas isso! Nós duas! Essa relação é tóxica!

 - Mas que merda você está falando?! – digo, piscando por causa da confusão.

- Eu estou tentando te proteger, você está tentando me proteger! Você não está vendo?! Nós não estamos colocando apenas nossas vidas em perigo ficando próximas desse jeito, estamos colocando também as vidas de terceiros!

- É exatamente isso que significa se importar com alguém... – eu tento argumentar, mas ela me interrompe.

- Não! Isso é loucura nos dias atuais! Você está tão compenetrada em me salvar e achar que estou precisando disso... que esqueceu completamente das coisas ruins que fiz! As coisas que deixei Lucy fazer e até participei! Você prefere colocar a culpa nisso!

Eu e a mulher estávamos como duas doidas no meio do nada, gritando uma com a outra.

Inacreditável.

- Você quer que eu te culpe?! – eu grito, dando um passo à frente e lhe empurrando pelos ombros por causa da raiva. – Ok?! Eu culpo você! Você ferrou tudo com o plano louco de se tornar amiga da inimiga ao invés de lutar contra ela!

- Obrigada, me sinto mais aliviada agora! – ela zombou, revirando os olhos.

- Você me colocou em uma posição onde eu preciso deixar de lado os meus ideias e princípios, Lauren! Você me colocou em uma situação onde eu preciso fingir não me importar e fingir ser uma pessoa que não sou... para te resgatar! Por quê?! Porque eu te amo!

Minha voz ecoou pela rodovia abandonada e por entre os galhos secos das árvores ao redor do asfalto quente.

- Então pare de me amar! – Lauren gritou de volta, completamente desesperada. – Esse é o nosso grande problema! Nós nos amamos! E isso vai gerar a nossa morte!

- Eu não me importo com o perigo! Eu parei de me importar com ele há muito tempo! – eu murmuro, decidida.

O desejo parecia me corroer de dentro para fora, misturado com a intensidade da raiva. E antes mesmo que eu pudesse filtrar tudo que minha voz interna gritava, meu corpo já tomava decisões por si próprio.

Quando percebi o que fazia, eu me vi caminhando em direção de Lauren com apenas uma coisa em mente:

Calar a boca daquela idiota que acabou de dizer que me amava.

Lauren se assustou com os movimentos rápidos e deu passos na mesma velocidade para trás. Entretanto, ela apenas soube se encurralar entre o Camaro 69 e eu, chocando as costas contra a lataria negra e ficando presa.

Pressiono seu quadril com o meu, fazendo-a arfar. Antes que ela buscasse sair do encalce, eu afaguei seu rosto e a obriguei a me encarar enquanto pressionava ainda mais seu corpo contra o carro.

- Eu apenas me importo com você... – sussurro, provocativa, à medida que seu cheiro amadeirado entrava por minhas narinas, fazendo-me viajar em memórias antigas. – Eu apenas me importo com você e com as pessoas do nosso grupo.

- Camz... – ela geme, surpresa por minha ações.

Sua respiração quente batia contra meu queixo e o calor do seu corpo me envolvia, fazendo meu lado racional praticamente se desligar. Aquele cheiro, aquela pele faziam as lembranças voltarem como um trilho pesando toneladas e resgatando, do fundo da alma, os mais insanos desejos de tê-la de novo nos meus braços.

Eu sempre fui e sempre seria uma completa viciada em Lauren Jauregui.

- Você pode tentar fugir de mim, Lauren, mas você não pode fugir de nós. – sussurro contra o meu rosto, próxima de seus lábios. – E eu mal posso esperar para que o amor nos destrua.

Meus olhos estavam focados no tom verde que estava a poucos centímetros, esquecendo-me totalmente do mundo ao redor. Desço minhas mãos lentamente para a sua cintura.

Lauren expira o ar, tentando não focar sua atenção em minha boca, mas miseravelmente não conseguindo.

Eu sabia que aquela era uma de suas partes favoritas do meu corpo.

Apoio uma mão na lataria do carro, ao lado de sua cabeça, para sustentar meu peso à medida que aproximava o rosto de seu pescoço. Eu sentia cada partícula do corpo queimando por expectativa, praticamente suspirando o hálito fresco por sua clavícula convidativa.

Lauren ladeia a cabeça, dando-me mais espaço para passar o nariz em seu pescoço.

Ela me fazia ser depravada e eu adorava isso.

*Music On* (Fire Breather – Laurel)

Criando coragem, suas mãos começaram a descer e subir na lateral da minha barriga, acariciando, na medida em que se posicionava entre minhas pernas, deixando o joelho pressionado no meu centro.

Minhas pernas, então, quase bambearam quando seus lábios macios beijaram um ponto em meu pescoço, logo acima da jugular pulsante. Fecho os punhos e os olhos com força, tentando reunir pensamentos coerentes. Mas logo isso foi para o espaço quando ela umidificou os lábios com a língua quente e novamente beijou o mesmo ponto, agora com lentidão.

- Sua pele ainda tem o mesmo gosto... – ela sussurrou, colocando a boca perto do meu ouvido.

- Lauren... – eu gemi, me contraindo.

- Você quem provocou, querida... – a jovem murmurou, trazendo a cabeça para trás com a intenção de me encarar com suas órbitas verdes mais escuras.

Lauren inspirou o ar com força e em um movimento rápido inverteu nossas posições, agarrando minha cintura com as duas mãos ao mesmo tempo em que me colocava sentada sobre o capô do Camaro negro. Um suspiro alerta saiu por meus lábios quando ela abriu minhas pernas e se posicionou ali, abraçando meu quadril e me trazendo para perto da beirada.

Seu rosto parou a centímetros, com os olhos praticamente me devorando.

Eu não perco mais tempo e ataco os lábios macios, afagando seu rosto com vontade. Sua boca já estava entreaberta, facilitando a passagem da minha língua para o interior quente.

Lauren moveu uma mão até minha nuca, agarrando o cabelo para ter a dominância no beijo. Ela parecia tão entregue ao desejo quanto eu, com sua língua se enroscando a minha, seu nariz tocando o meu, seus braços me envolvendo e buscando contato.

Suas mãos desceram até minha bunda, pressionada no capô, e a apertou com força. Lauren, inconscientemente, começou um leve atrito de seu centro coberto pelo jeans no meu, pressionando enquanto eu fechava minhas com mais força ao redor de sua cintura.

Estávamos tão absortas nos gemidos, suspiros e barulhos dos contatos de nossas bocas que mal percebíamos o rosnado típico se aproximando ao longe. O zumbi estava fora do nosso campo de visão, cambaleando sobre a grama seca. Ele possuía poucos fios de cabelo na cabeça e pele totalmente ressecada pelo verão, com a pele podre à mostra em certas partes.

Ele escancarou a boca, esticando os braços, pensando inocentemente que nos pegaria.

Eu paro de beijar Lauren, trazendo minha cabeça para trás o suficiente para levar minha mão até o seu coldre axial e sacar uma Desert Eagles dourada.

A levanto na altura do ombro de Lauren e a disparo, sem ao menos ter problema para mirar.

*BANG*

Um buraco se abriu no centro da testa do zumbi, que desmoronou no chão como um saco de areia.

Coloco a arma em cima do capô ao meu lado e volto a olhar para Lauren, que me encarava com um sorriso pervertido nos lábios.

- Sei que é errado, mas isso foi extremamente sexy... – ela morde o lábio inferior avermelhado, ainda com o desejo gritando em seus olhos.

Descanso meus braços em seus ombros e sorrio do mesmo jeito.

- O quê? Matar um zumbi enquanto dávamos uns amassos? – dou de ombros, ainda sentindo minha boca formigar. – Normal para nós...

Lauren dá uma risadinha fofa e leva as mãos até minhas bochechas, as afagando, e pronta para trazer meu rosto até o seu novamente.

Mas isso não chegou a acontecer, pois, ao fundo, um barulho anormal chegou aos nossos ouvidos.

Tanto eu quanto a jovem olhamos para a direção de onde o ronco do motor vinha, indicando que um carro se aproximava.

- Merda! – escuto Lauren reclamar.

Ela enlaça minha cintura com um braço e rudemente me retira de cima do capô do carro, já me puxando pela mão para que corrêssemos até às árvores próximas. Pulamos as gramas que começavam a invadir a rodovia vazia e nos escondemos atrás dos galhos sinuosos, torcendo para que quem fosse, não parasse para checar o carro abandonado ali.

Logo o Cerato cinza apareceu no horizonte, em alta velocidade. Não demorou muito para que o carro chegasse até onde estávamos e passasse direto.

E meus olhos quase pularam das órbitas ao perceber quem era a motorista loira.

- Aquela é Allyson? – Lauren questiona, também encarando o veículo que sumia ao Norte, pela rodovia.

- Sim... – eu respondo, franzi o cenho.

- Ela vinha de Lésvos!

- Para onde ela está indo?! – encaro Lauren, procurando por respostas.

- Eu realmente não sei!– a jovem me analisa também, de fato sendo sincera.

- Nós precisamos segui-la! – digo.

Mal espero Lauren me impedir e já saio por detrás das árvores laterais da rodovia. Escuto o resmungo dela, mas logo tratou de me seguir, passando pelas gramas e correndo para dar a volta no Camaro 69. Eu entro do lado do carona e ela bate a porta do motorista, aproveitando que a chave continuava na ignição.

Dentro do Cerato, quando a vimos, o perfil da enfermeira estava sério e ela sequer olhou para o lado, mesmo com um carro no meio da rodovia.

Ela reconhecia o carro de Lauren e sequer parou.

Engulo seco, constatando o óbvio.

Allyson Brooke estava tramando alguma coisa.


Notas Finais


AAAAAAAAAAAAAAH QUEM QUER CAMREN? QUEM QUER AÇÃO? QUEM QUER, HEIN, HEIN?
Mamãe quer ouvir as teorias de vocês, ok?!

Até a próxima!


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