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História Into The Dead - Capítulo 6


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Desculpem a demora!!! Tive uma crise de vontade de escrever... Mas voltei. Espero que tenha ficado bom...
Obrigada por quem andou falando da fic no twitter. Fico super feliz!!! E em relação aos comentários, vou tentar responder todos agora, mas acreditem, eu leio cada um e fico feliz com cada um!
Boa leitura e me perdoem por qualquer erro!

Capítulo 6 - Capítulo 6


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 6

Camila PDV

Encarando o nada do lado de fora da janela eu ainda questionava a montanha russa de emoções que havia sido aquele dia. Após Chris ter acordado ele chamou Troy e ambos ficaram de vigia pelo resto da noite para que eu e Lauren finalmente pudéssemos dormir.

- Fique com a cama.

Essa foi a única fala da mulher antes de se sentar em uma poltrona do lado da cama. Ela se acomodou de um jeito que não sentisse tanto desconforto e retirou a arma do cós da calça, fazendo-a descansar em cima de sua perna esquerda. Lauren fechou os olhos e dormiu. Ou fingiu adormecer.

Não quis questioná-la por motivos óbvios. Se ela estava cedendo o conforto de uma cama eu não iria dizer o contrário.

Deite-me e continuei sem sono. Meu corpo ainda não entendia que eu finalmente poderia descansar e apenas reproduzia, sem o meu consentimento, a cena de Lauren chorando. As poucas horas que eu estivesse perto dela a única imagem que ela deixou transparecer foi de uma mulher rude e agressiva.

Por que eu me sentia mal em tê-la roubado? É claro que eu não era sem escrúpulos em achar que foi certo, mas... olhe o mundo atual! Era necessário! E foi isso que eu usei como argumento contra Ally quando cheguei ao apartamento com a mochila nas costas.

- Eu salvei sua vida! – eu disse. Eu me agachei e retirei a gaze e outros medicamentos de dentro da mochila. – Eu consegui os remédios e você está preocupada com uma estranha?

- Eu agradeço por você ter arriscado a sua vida, Camila... – Ally retrucou, acendendo o lampião por causa da noite. Ela estica o braço para que eu pudesse cuidar dele, mas sua expressão ainda era de reprovação. – Porém... ela disse que tinha um povo! Se ela fez aquela viagem é porque eles também estão precisando de remédios!

- Eu não quero saber, Allyson! – rosnei, jogando a culpa dentro de uma gaveta e a trancando. - Tudo o que me importa é esse grupo. Mais ninguém!

- Você não pode se fechar assim! – ela continuou. Eu lancei um olhar de soslaio para ela, mas Ally facilmente ignorou. – Existem pessoas saudáveis e pessoas doentes. E existem pessoas mortas. Não podemos nos fechar para o mundo, porque se o fizermos... ele se fechará para nós! Estamos em uma situação que quanto mais pessoas saudáveis tivermos ao nosso lado, mais seguros estamos.

- Ally... – eu tentei repreendê-la para que ela não começasse com seus discursos, mas foi em vão.

- Antes guerras eram travadas por causa de religião, raça e etc. E agora? Do que adiantou, huh? – ela perguntou, me encarando. – Não importa mais se você é judeu, cristão, negro ou branco. Só existe carne viva e carne morta! Pessoas, Camila... as pessoas ainda podem ser melhores. Pessoas pode ser a solução de tudo no final!

E pensando nisso eu adormeci.

 

No dia seguinte tudo correu normalmente. Os grupos mal se interagiam, pois geralmente o de Chris ficava dentro da casa e o meu ficava na varanda.

A manhã estava fria assim como as outras. O cheiro da relva nos dava alguns minutos de tranquilidade e descanso. Pássaros cantarolavam ao fundo e isso quase me fazia sentir em casa.

Eu estava sentada em uma cadeira antiga de madeira escura na varanda da casa. Sofia estava sentada entre minhas pernas e eu acariciava seus cabelos enquanto a menina descansava sua cabeça em meu ombro. Já havíamos comido cada uma barra de cereal e alguns amêndoas que estavam no fundo de minha mochila.

- Quando vamos tomar banho? – Sofia pergunta, brincando com um botão azul escuro do meu blusão.

- Precisamos achar água limpa primeiro, querida. – murmuro, colocando um beijo em sua têmpora. – Logo logo vamos atrás de um pouco, ok?

- Eu ainda estou com fome. – ela sussurrou, em um muxoxo.

- Eu também. – Regina concordou, ao lado da amiguinha.

Dinah suspira ao meu lado e acaricia os cabelos de Regina que também estava sentada no seu colo. Era difícil cuidar de duas crianças, porque, por mais que Sofia e Regina fossem espertas para a idade ambas ainda eram jovens demais. Não mereciam estar passando por isso.

- Vamos procurar mais coisas para comermos, ok? – Ally se pronuncia, fazendo as duas crianças olharem para ela.

A enfermeira estava encostada em uma pilastra. Havia acordado há poucos minutos depois de passar a noite toda dormindo por causa dos remédios para sua infecção. Sua pele estava menos pálida, mas abaixo de seus olhos grandes olheiras ainda estavam presentes.

Ao longe eu podia ver Austin caminhando pelo gramado desregular da casa de campo. Ele analisava por entre as árvores, provavelmente preocupado por estarmos tão à mercê de qualquer horda. Os grandes pinheiros não nos dava grande visibilidade do que poderia estar subindo no morro.

Perdida em pensamentos mal percebo quando Chris se aproximou de nós. O homem usava as mesmas vestimentas do dia anterior, mas pelo menos sua expressão parecia um pouco mais tranquila.

- Vamos aproveitar que os outros estão comendo dentro da casa. – ele fala, se encostando contra a mesma pilastra que Ally se encontrava sentada. – Precisamos conversar.

Eu já imaginava o que ele queria falar. Ele queria que fôssemos embora.

- Eu quero ter essa conversa com vocês duas, pois me parecem as mais sensatas de seu grupo. – murmura Chris, provavelmente falando sobre Austin.

Austin nos olhava de longe, franzindo o cenho por estarmos conversando com alguém do outro grupo. Mas ele se manteve no mesmo lugar com os braços cruzados.

- Eu já sei o que vai dizer. – digo, tirando Sofia delicadamente de minhas pernas e colocando-me de pé. – Eu já ia pedir para que as crianças arrumassem as coisas delas e...

- Não. Não é isso! – retruca Chris, arregalando os olhos. Ele coloca-se ereto rapidamente. – Não é isso.

- Como assim?

- Olha... – o jovem diz, passando as mãos pelos cabelos negros. – Não estou dizendo para unirmos nossos grupos ou algo do tipo. Eu... eu apenas percebi que vocês são... hãm... como dizer? Pessoas decentes?

- Eu entendi... – cantarola Dinah, com uma risadinha. – Não somos psicopatas, assassinos ou estupradores... é isso que quer dizer?

- Hãm... é. É isso sim! – responde o homem, também sorrindo. – Vocês têm duas crianças e uma mulher machucada. Não entendo muito disso, mas eu sei que o corte dela não é superficial. Ela não pode se esforçar e vocês não tem um carro.

- Qual é o seu ponto? – pergunto, cruzando os braços na frente do corpo.

- Meu ponto é que vocês fiquem aqui por mais uns dias. Nós vamos ficar até que Taylor e Claire melhorem. – responde Chris e eu ergo as sobrancelhas, surpresa. – Eu conversei com Lauren mais cedo e ela está de acordo com isso. Quanto mais pessoas... melhor.

- Sério? – Dinah retruca, sendo um pouco sarcástica. – Porque sua maninha não parecer ser muito amigável.

- Lauren apenas tem o gênio forte... – Chris diz, dando de ombros. O jovem coloca as mãos nos bolsos de seu jeans meio sujo. – No fundo ela só quer proteger todos nós. Por isso tenta intimidar a maioria que chega perto.

- Com aquela cara de quem chupou limão o dia inteiro, quem não fica intimidado? – Dinah cantarola novamente. Eu cutuco a mulher na costela e ela choraminga de dor. – Ai! O que? Eu estou mentindo?!

- Os outros estão de acordo com isso?! – pergunto, ignorando Dinah.

- Não sou um ditador, mas eles confiam em quem eu confio. – responde Chris. – Além que também não podemos parar nossa viagem, então não vamos ficar aqui por muito tempo.

Franzo o cenho querendo questioná-lo qual seria a sua viagem ou destino. Mas não era da minha conta. Chris confiava em mim e em Dinah e já estavam sendo muito hospitaleiro em nos deixar ficar na casa.

- Tudo bem. – confirmo, finalmente. – Mas como eu disse ontem... vamos ajudá-los a vigiá-la e a buscar suplementos se preciso.

- Ok. – ele diz, dando um sorriso largo. Chris estende a mão como se fechasse um acordo. Sorrio e aceito o cumprimento.

Chris volta para o interior da casa e, ao mover-se, pude perceber ao fundo que Austin continuava a nos encarar. O rapaz esperou Chris sumir e começou a caminhar em nossa direção. Dinah já murmurou baixinho um “Lá vem a TPM ambulante” enquanto amarrava novamente os cabelos da irmã, mas eu preferi nem me pronunciar sobre.

Ainda com os braços cruzados e uma expressão séria Austin parou de andar apenas quando estava na varanda.

- Sobre o que vocês tanta conversavam? – ele ralhou.

- Ei... abaixa o tom. – Dinah o repreende, mas ele apenas revira os olhos e continua a me encarar com seus olhos claros.

Eu fico em silêncio para esperar que sua respiração um pouco forte diminuísse e que suas narinas não inflassem mais, porém isso apenas o fez constatar o óbvio.

- Não! Nem fodendo! – Austin rosna, dando um passo para trás. – Não me venham dizer que é o que estou pensando...

- Não temos outra escolha, Austin. – replica Dinah, colocando-se de pé. – Eles vão nos oferecer abrigo enquanto Ally melhora.

- Podemos achar outra casa! – Austin diz, abrindo os braços e deixando clara a sua indignação.

- Com o quê, huh? – dessa vez eu o contraponho. – Não temos muita munição e nem um carro. Olhe ao redor Austin! Estamos no meio do nada!

- Só estamos no meio do nada porque eles nos trouxeram para cá! – Austin retruca, se controlando para não gritar. Ele olha para os lados devidamente perturbado. – Olha... eu não vou ficar aqui com aquela mulher!

- Não se esqueça de que Lauren salvou sua vida... – Dinah sibilou, sem perder a chance de alfinetá-lo. – Se não fosse por ela, você e Camila estariam mortos. E provavelmente eu também.

- Não fui eu quem gritou por ajuda! – Austin revida, com o orgulho agora ferido. Ergo uma sobrancelha sem acreditar que ele estava sendo tão infantil. – Não me dê esse olhar, Camila, ok?! – ele rosna. – É ela quem vive me ameaçando!

- Foi você quem começou tudo... – Ally comenta baixinho, mas é ouvida.

O homem lança um olhar duro para ela.

- Sério, Allyson? – rosna. – Até você vai ficar do lado deles?

- Austin... – a loirinha suspira, encostando sua cabeça à pilastra. Ela inspira profundamente por causa de seu cansaço.  – Não faça as coisas ficarem mais difíceis.

- Olha... – eu falo, colocando amigavelmente uma mão em seu ombro esquerdo. Isso faz o rapaz voltar a me olhar rapidamente. – Eu e Dinah viemos falar com você que vamos ficar, ok? – minha voz estava mais branda em uma tentativa de manter tudo em paz. – Eu preciso pensar na minha irmã e ela na dela. Elas estão fracas e com medo!

- Com medo elas vão ficar até que cheguemos ao CDC! – Austin se livra da minha mão, com raiva.

- Quer saber? Ninguém está lhe obrigando a ficar! – rosno, perdendo a paciência por completo.

Eu sabia que Austin tinha um humor sensível, mas estar se opondo a momentos de descanso por causa de seu orgulho ferido? Não, isso eu não aceitaria.

A expressão do rapaz se fecha totalmente e suas sobrancelhas tremiam de tamanha raiva que sentia.

- Eu e Sofia vamos ficar! – digo, mantendo minha posição.

- Eu e Regina também. – acrescenta Dinah, caminhando até ficar ao meu lado.

Nós duas olhamos para Ally que arregala os olhos por causa da atenção.

- Oh... bem... eu não tenho muitas opções, não é? – responde a loira, com um sorriso amarelo.

- Que droga! – rosna Austin, passando a mão pelos cabelos encaracolados. – Vocês já viram como eles olham para nós? – ele tenta a última vez, enquanto caminhava em círculos pela varanda. – Eles olham para nós como se estivéssemos infectados! Como se fossemos insetos intrusos.

- Não vamos nos tornar melhores amigos, Austin! – Dinah murmura, colocando a mão no ombro do homem para tentar acalmá-lo. – São apenas alguns dias! Aí nós vamos conseguir um carro e vamos embora!

Austin expira bruscamente e balança a cabeça ainda não aceitando a situação. Mas se manteve em silêncio, não contrapondo.

Ergo uma sobrancelha o questionando sobre sua decisão e ele bufa, revirando olhos.

- Vocês que sabem... Só depois não venham correndo pedir ajuda. – essa foi a última frase dele antes de caminhar para longe de nós.

Dinah e eu nos entreolhamos ainda preocupadas com as ações do homem. Ele não era assim.

Decidimos tentar ignorar o acontecido e ajudamos Ally a voltar para dentro da casa para que tomasse um anti-inflamatório. Pelos olhares que Normani e Taylor nos lançavam Chris já havia conversado com elas dentro da casa.

- Não vou com a cara daquela Normani. – Dinah sussurra perto do meu ouvido ao abrir a porta do quarto de Ally.

- “Não vamos nos tornar melhores amigos”. – respondo usando a mesma frase que ela.

- Eu sei o que eu disse, ok?! – ela replica, fazendo uma careta zombeteira. – Mas que minha mão está coçando para dar uns tapas na cara dela... oh se está!

- Por favor, DJ... já não basta o Austin e Lauren. – Ally pede, com sua voz denunciando seu tom cansado. – Sem mais brigas, ok?!

A loira maior assentiu com a cabeça e ajudou a enfermeira a se deitar novamente. Saímos de seu quarto e caminhamos pelo corredor até estarmos do lado de fora da casa. Sento-me na varanda com Sofia no meu colo e Regina no de Dinah.

- Por quanto tempo vamos ficar aqui? – minha irmã pergunta.

- Eu não sei, Sofi. – respondo, beijando o alto da sua cabeça. – Mas não vai ser muito tempo, ok? Então não se acostume.

- Tudo bem.

Sofia se aconchegou no meu colo e encostou a cabeça no meu ombro. Abraço-a contra meu corpo tentando ficar mais tranquila.

 

Talvez uma hora depois, aproximadamente, Lauren caminhou até a varanda onde nós quatro estávamos.

- Nós vamos sair para colher frutos ou caçar. – murmura a morena terminando de vestir sua jaqueta e com uma mochila nas mãos. Eu podia ver que o buraco da mordida do zumbi já havia sido costurado. – Vocês vão querer vir?

Observo por cima do ombro Austin caminhando ao lado de Troy para dentro da floresta. Ele me lançou um olhar duro antes de sumir entre as árvores. Respiro fundo, sabendo que o homem estava magoado com o meu “Ninguém está lhe obrigando a ficar”. É claro eu era grata a ele por tudo o que havia feito por mim e minha irmã, mas eu sabia que aquele beijo forçado de um dia antes havia piorado tudo.

- Eu vou. – respondo, colocando-me de pé.

- Não, Kaki! – Sofia choraminga, me abraçando minhas pernas com força. – Por favor! Não vá de novo!

- Eu vou ir buscar alguns frutos gostosos para a gente comer, querida. – digo, com tranquilidade na voz. Mesmo com o meu coração apertando eu tentava retirar seus bracinhos de ao redor das minhas pernas. – A tia Dinah vai ficar aqui com vocês, ok? Daqui a pouco eu já estou de volta.

- Você promete? – pergunta Sofia, enxugando as lágrimas com as costas de suas mãos.

Eu não queria prometer nada para ela. Não sobre algo que eu não tinha certeza.

- Sim, eu prometo. – sussurro, dando um beijo em sua testa.

Dinah me lança um sorriso amigo e eu retribuo virando-me para descer os degraus da varanda.

Na frente da casa estava Chris com as capotas dos carros levantadas enquanto mexia em alguma coisa no motor. Ele sinaliza com a cab           eça que fôssemos e que ficaria de olho na casa.

- Vamos para o outro lado. – Lauren ordenou, caminhando na direção contrária de Troy e Austin.

Concordo com a cabeça e adentramos na floresta conífera, pulando por alguns arbustos que eram obstáculos. As plantas lutavam arduamente contra o inverno, não acostumadas com temperaturas tão baixas. Deveria estar uns 10° ou menos. Miami se encontrava em uma ampla planície e seu lado ocidental se estendia para os Everglades, um terreno pantanoso que meu pai antes do Apocalipse insistia em dizer que levaria eu e Sofia para que pudéssemos ver de perto os jacarés que ali habitavam.

Eu e a mulher seguimos uma trilha um pouco apagada. Retiro minha arma do cós da calça por precaução e só então percebo a arma que Lauren carregava. Era uma espingarda.

- Achei debaixo de uma das camas hoje cedo. – Lauren diz, como se houvesse sentido o peso do meu olhar em sua mão. – Com uma caixa de balas intacta. O dono daquela casa de campo não parecia ser do tipo que caçava já que ela está novinha.

- Você sabe como usar esse negócio? – pergunto, insegura. Eu apenas sabia atirar com uma pistola, isso porque precisei aprender sob a necessidade.

- Hãm... mais ou menos. Eu acho... – ela responde, apontando a espingarda para uma direção aleatória e analisando sua mira. Eu ergo uma sobrancelha, nem um pouco satisfeita com a sua resposta. – Meu pai sabia atirar e... – Lauren começou a falar, mas parou imediatamente ao ver o que dissera. Ela engoliu seco e hesitou por alguns segundos. – Eu o via atirando... então...

Percebi imediatamente que a mulher não queria conversar sobre aquilo e nem eu queria compartilhar sobre meu passado. Continuamos então em um silêncio mútuo, apenas observando a mata.

- Olhe... – ela murmura, apontando para alguns cogumelos perto de uma árvore. Lauren abre a mochila e se agacha perto deles.

- Não existem espécies venenosas? – pergunto, olhando ela retirá-los do chão e os colocar dentro da mochila. – Como você sabe diferenciar?

- Eu não sei. – ela responde, dando de ombros.

 - Ótimo! - eu bufo, olhando ao redor apenas checando se tínhamos algum visitante inoportuno.  - Vamos todos morrer por comer cogumelos venenosos ou, na melhor das hipóteses, ficarmos doidões com os alucinógenos...

Uma risadinha baixa ecoa e eu volto a olhá-la, vendo um sorriso debochado, entretanto, sem ser irônico, aparecer no canto de seus lábios.

- Não pire, Camila... – Lauren diz, levantando o olhar. Sua expressão estava mais calma do que a do dia anterior. – Você só se tem certeza que um cogumelo é comestível, venenoso ou alucinógeno com um exame de laboratório. E bem, não vi nenhum aberto no centro em Miami, você viu?!

Lanço um olhar de “Sério que você está brincando com a minha cara?” para a mulher e ela ri novamente ao recomeçar a colocar os cogumelos na mochila.

Ver Lauren com bom humor era praticamente assustador para mim.

- Vou levar isso como um “não”. – ela continua, com o sorrisinho ainda pairando no canto de sua boca. – Porém, existem algumas espécies que são reconhecíveis a olho nu. E essa aqui eu conheço. É uma Amanita Caesarea. Não é tóxica.

- Como você conhece?

- Bem... – Lauren ficou desconfortável por alguns segundos novamente. Ela se levantou, fechando a mochila e a colocando nas costas. – Como eu disse, meu pai sabia atirar. Às vezes íamos caçar também e ele sabia um pouco disso.

- Sinto-me mais tranquila em saber que não vou ficar doidona após comer isso. – digo, tentando desviar o foco da conversa.

- É... não seria uma coisa boa. – ela murmura, amigavelmente.

Recomeçamos a caminhada parando às vezes em algumas árvores frutíferas para recolher os frutos. Felizmente não nos deparamos com nenhum zumbi, o que deixava claro que eles ainda tinham comida suficiente nas cidades.

Talvez essa fosse a solução. Procurar um local bem afastado e viver como antes... em meio à natureza.

Eu e Lauren apenas paramos de andar quando nos deparamos com uma falésia. Olhamos a frente e vimos um pequeno lago, alguns metros abaixo. Uma sensação boa se apoderou de mim quando eu me permiti admirar aquela bela vista.

O vento calmo vindo ao leste fazia com que pequenas ondas se formassem na água cristalina. Era um azul tão penetrante que a luz solar ao se refletir fazia a retina reclamar de tamanho clarão.

- Acha que podemos pescar aqui? – a voz de Lauren corta meus pensamentos. Olho para ela e vejo que também observava a cena.

- A água não parece contaminada. – respondo. – Podemos voltar com mais pessoas para que possamos levar água para a casa de campo.

Lauren observou tudo, ponderando por alguns segundos.

- Venha. – ela ordenou.

Ergui o olhar e a vi caminhar por uma trilha de pedras irregulares. Suspirei ao ver que aquilo seria um desafio e tanto para meus pés desengonçados. Guardei minha arma no cós da calça e comecei a transitar entre as rochas em busca de lugares de estabilidade. Com minha faca eu abria caminho por entre os galhos que às vezes apareciam na frente.

Lauren caminhava na frente e parecia ter uma coordenação graciosa ao contrário da minha pessoa que escorregava a cada vinte segundos.

Piso em uma pedra solta e novamente me vejo caindo para o lado. Dessa vez sem nenhum apoio para me manter de pé.

- Ah! – eu choramingo, já esperando meu corpo cambalear para o lado e eu rolar pelas pedras, parando no chão há sete metros de altura.

Sinto então um par de mãos me segurar pela cintura, mantendo-me ereta com certa dificuldade. Ela me puxa pelo tecido da blusa xadrez, voltando-me a posição de antes. Olho para frente e vejo Lauren me encarando com os olhos arregalados, também temendo que eu caísse.

- Você e seus pés esquerdos... – ela provoca, com um suspiro de alívio.

Dou um sorriso amarelo sem graça ao ver que ela continuava me encarando mesmo depois de eu já estar ereta. Suas mãos continuavam na minha cintura, como se gostassem de ficar ali.

- Oh... – ela pigarreou, ao perceber a situação. Rapidamente Lauren retirou suas mãos de mim e virou-se para frente. – Vamos.

Hesito por alguns segundos, observando-a caminhar à frente. Balanço a cabeça negativamente e recuso-me a ter pensamentos sobre aquilo. Ela apenas me ajudou a não cair. Nada demais...

Continuamos a andar até chegarmos à borda do lago. Seguíamos o caminho calmamente até que eu senti Lauren segurar o meu braço.

- Olhe! – ela aponta.

Sigo seu dedo e vejo uma barraca montada contra a falésia metros à frente. Damos passos temerosos até estarmos perto o suficiente para ouvir o grunhido fraco dentro da lona. Lauren me lança um olhar e com a mão sinaliza que eu ficasse do lado de fora, como segurança.

Ela se agacha e pega sua faca no cós da calça para evitar disparar uma arma por causa do som. Lauren coloca a espingarda do lado de fora e com a mão trêmula segura o zíper da barraca. O zumbi não se debatia contra a mesma, então ele provavelmente estava preso em algo.

A morena desce o zíper e olha para o interior.

- Oh Deus... – ela choraminga, colocando o rosto para fora com uma ânsia de vômito.

O cheiro rapidamente vem às minhas narinas e eu coloco a mão na frente por causa do fedor. Lauren ainda olhava para dentro da barraca sem nenhuma reação em seu rosto. Com minha curiosidade falando mais alto, eu caminho até seu lado e me agacho, olhando também para dentro.

E meu coração aperta completamente

O pequeno corpo se debatia preso à cadeirinha. Meus olhos lagrimejam rapidamente ao ver o bebê de aproximadamente dois anos com os braços esticados, grunhido típico e olhos brancos querendo nos alcançar. Ao seu lado estava um cadáver com um buraco no meio da testa e eu podia ver a marca da mordida em seu braço. Pela posição que o homem se encontrava, ele havia se suicidado, pois a arma ainda estava presa a sua mão.

Enxugo minhas lágrimas e vejo a escrita no chão de terra: “Por favor, leve o bebê com você”. O homem esperava que alguém achasse o bebê a tempo de salvá-lo. Mas tempo era relativo naquele mundo. Procuro superficialmente por marcas de mordida ou arranhões no bebê zumbi que ainda se debatia, mas não acho.

Franzo o cenho, confusa.

Lauren passa a mão por sua bochecha para esconder que chorava. A morena dá um passo para o interior da barraca e reúne coragem para fazer o necessário. Ela funga e enfia a faca na lateral da cabeça do bebê, fazendo-o ficar inerte segundos depois.

Lauren saiu da barraca imediatamente e eu ouço o som de seus vômitos do lado de fora. Fecho os olhos em desgosto, dando tempo à mulher. Ignoro o fedor e dou um passo para o interior da barraca. Pego a mão pegajosa do homem e tento retirar seus dedos de ao redor da arma. Duros, por causa dos meses, eu precisei usar força para retirá-la. Saio da barraca e vejo Lauren ainda agachada respirando com dificuldade.

Quando a mulher ouve o barulho dos meus passos em sua direção ela se levanta bruscamente e começa a caminhar para mais longe de mim. Paro e a observo ir até perto do lago. Meu estômago também revirava, mas eu mantive o pouco que comi ainda dentro de mim. Caminho até perto de Lauren novamente que limpava a boca com a água do lago que deveria estar muito fria por causa do clima.

- Sabe... – sua voz ainda estava embargada pelo choro. Lauren estava agachada, olhando para o lago. – Eu queria saber o porquê de tudo isso.

- Não é a única procurando essa resposta. – sussurro, ao seu lado.

- Às vezes acho que Deus tem um senso de humor bem estranho. – Lauren murmura, levantando-se novamente. Ela respira fundo enxugando as lágrimas e tentando se estabilizar. – Por que dar isso? – pergunta, apontando para a natureza. – Para trazer aquilo? – acrescenta, apontando para a barraca.

- Nunca fui muito religiosa. – respondo. Seus olhos marejados se cruzaram com o meu. – Mas acho que Deus não teve a ver com isso.

- Você é daquelas que acreditaram no que o Governo disse? – retruca Lauren, com o olhar sério. – Você realmente acreditou no que eles falaram antes de cortarem os sinais das televisões e rádios? Acha que tem uma cura?

- Não acreditei em tudo que o Governo disse. – murmuro, balançando a cabeça negativamente. – Mas eu realmente espero que estejam trabalhando em uma cura.

- É... – ouço uma risada nasal fraca. – É o que todos esperam. – Lauren sussurra.

Ela não continuou a conversa e voltou a caminhar lentamente pelas pedras perto do rio. “O que ela quis dizer com isso?” penso, intrigada. Começo a caminhar também, mas dessa vez não aperto o passo para continuar ao seu lado.

Se ela queria ficar sozinha, eu daria esse espaço. Até porque não éramos amigas. Não nos conhecíamos. Éramos apenas estranhas com o mesmo objetivo: sobreviver.

Continuamos com a distância entre nós até que a mulher voltou para a trilha. Voltamos para a casa e colocamos o que havíamos recolhido em cima da mesa de jantar.

- Oh... parece que conseguiram muito. – Chris comenta, com um sorriso feliz.

- Achamos um lago também. – Lauren anuncia. – Podemos buscar a água e fervê-la aqui. Talvez até tomarmos alguma espécie de banho. O sol ainda está longe de se por e ele é aqui perto. Acho que podemos ir todos lá antes da noite cair.

- Não. – o homem contrapõe, limpando uma chave de fenda com um pano. – Não é seguro irmos todos de uma vez. É melhor fazermos trios. Cada vai ter mais ou menos meia hora para ir e voltar. O que você acha, Camila?

Fico surpresa por alguns segundos ao ver que Chris estava pedindo minha opinião. Ele realmente achava que era eu a líder do meu grupo?

- A-acho que é um bom plano. – gaguejo.

- Então vamos lá. – ele diz, dando um tapinha no meu ombro. Eu sorrio, um pouco sem graça.

Rapidamente cada grupo montou seus trios. Eu havia ficado com Ally e Dinah, já que Austin ainda insistia em se manter longe de mim. Não poderia ser menos infantil, claro. Ally já conseguia caminhar longas distâncias sem sentir vertigens e era muito bom.

Taylor, Lauren e Troy fizeram parte de outro. Podia-se ver a preocupação no rosto do loiro por causa da pneumonia de sua filha, Claire. Não pensei duas vezes em procurar algum remédio que eu tinha entre o nosso estoque para ajudá-lo. Dei algumas cápsulas de um antibiótico. Mas todos sabiam que precisariam achar uma farmácia rapidamente.

Usamos tudo o que tínhamos para transportar a água: baldes, vasilhas, tambores achados em uma despensa. Chris e Dinah ficaram responsáveis em ferver a água para além de matar qualquer germe, esquentá-la para que pudéssemos nos limpar.

Existiam dois banheiros na casa e cada grupo pegou um. Todos haviam ganhado dois baldes e um pedaço – quase insignificante – de uma barra de sabão. Sofia estava junto a mim e primeiro dei banho na menina. Ela reclamava de frio, mas no fundo sabia que aquilo era um luxo já que não tomávamos banho há dias. Depois de terminar com ela, eu a enxuguei com a minha toalha – já que não encontramos muitas na casa. Dinah se prontificou e pegou a menina para vesti-la do lado de fora em seu quarto.

Retiro minhas roupas e entro no box. Não pude deixar de agradecer quando a água quente entrou em contato com a minha pele. Usando um pedaço de pano, eu ensaboava meu corpo querendo ao máximo limpar qualquer sujeira daquele mundo imundo. Fechei meus olhos e derrubei metade de um balde em meus cabelos sentindo a água morna percorrer os fios.

Ao terminar eu saio do box e caminho até a parte seca do banheiro. Passo a mão no grande espelho a frente que estava um pouco sujo de poeira e vejo meu reflexo no vidro. Eu não parecia mais Camila Cabello, a jovem cheia de vida aos 18 anos. Não parecia a quase mulher que finalmente estava terminando o Ensino Médio e decidida a entrar na Universidade de Columbia. Não parecia mais preocupada se acharia ou não o grande amor da minha vida – sim, eu costumava ser mais romântica do que realmente admitia.

Meus cabelos castanhos não tinham o mesmo brilho de antes. As olheiras em meu rosto consumiam minha pele latina. Continuo a descer o olhar e vejo que pelo menos meu corpo estava mais... digamos... atlético e mais magro.

Eu era agora apenas uma casca. Uma casca que apenas tinha uma preocupação: cuidar de Sofia Cabello.

Pego minhas roupas e coisas no chão e enrolo-me na toalha para passar em disparada para o meu quarto. Não que eu achasse que Chris ou Troy pudessem fazer algo comigo, mas... era impossível não temer. Abro a porta do banheiro e dou passos rápidos pelo corredor e ao virar a esquina do meu quarto, meu corpo se choca com outro.

- Oh, merda... – a voz feminina de Lauren entra por meus ouvidos.

- Ai! – eu choramingo.

Passo minha mão na minha testa que ainda estava dolorida por causa do impacto de nossas cabeças. Levanto o olhar e vejo a mulher com os olhos arregalados enquanto me analisava enrolada na toalha. Sinto minhas bochechas corarem arduamente com seus olhos em meu corpo.

- Eu... hãm... – ela gagueja, desordenada. A mulher muda o foco do olhar para minha testa. – Droga, você se machucou?

- Não. – respondo, engolindo seco. – Eu estou bem.

- Oh... – ela suspira. Era visível a luta interna dela em não abaixar o olhar para meu corpo novamente. “Espera... isso significa que...” meu cérebro já começava a fazer milhões de suposições. – Eu... hãm... já vou indo.

E então Lauren saiu em uma rapidez surpreendente do quarto fechando a porta atrás de si. Continuo parada e tentando entender o que havia acabado de acontecer. Lauren me encarou mesmo daquele jeito ou foi tudo imaginação? Eu, honestamente, preferia pensar que era fruto da minha mente, mas, o calor que ainda alastrava por meu corpo não era fruto do banho.

Pigarreio alto para desviar os pensamentos. Não. Isso tudo era apenas falta de sexo. Não tive muitas experiências no Ensino Médio, mas eu não era virgem. Fato que eu tentava esquecer, claro, porque fora constrangedor demais com e como eu perdi. Mas, era isso. Falta de sexo e tensão demais me haviam feito imaginar que Lauren estava mesmo me comendo com o olhar.

“Ela nem deve gostar de mulheres, pelo amor de Deus!” grito comigo mesma enquanto vestia minhas roupas limpas. Se eu gostava? Na verdade, ter beijado uma garota em um jogo de verdade ou consequência não contava muito. Mas nunca pude evitar em sentir coisas diferentes ao observar as minhas amigas de biquíni quando costumávamos ir à praia. E foram essas mesmas coisas que eu senti minutos atrás ao dar de cara com aqueles olhos verdes... o cabelo jogado para o lado depois do banho... roupas escuras e uma blusa de gola alta preta, que completava seu visual de “bad girl”...

- Já terminou? – a voz de Dinah do lado de fora do quarto me fez dar um pulo de susto. – Sofia quer você!

- Sim! – respondo, respirando fundo. Que merda eu estava pensando?

Ao abrir a porta deparo-me com Dinah sorrindo maliciosamente.

- O quê? – pergunto, franzindo o cenho.

- Nada... – responde a mulher segurando uma risadinha. Oh, merda, ela havia visto. Dinah Jane devia ter olhos em todos os lugares, por Deus! – Sofia está lá no jardim.

- Olha... eu não sei o que você viu, mas... – sussurro, sentindo minhas bochechas arderem como brasa.

- Eu não vi nada e nem sei de nada, querida. – Dinah me interrompe, erguendo as mãos em sinal de rendição.

Eu já estava pronta para retrucá-la quando um grito feminino me fez estremecer.

- Socorro! Socorro! Kaki! –a voz de Sofia vinha do lado de fora da casa. – SOCORRO!

Meu coração apertou tanto que eu perdi os movimentos das pernas por alguns segundos. E então um tiro de adrenalina percorreu meu corpo e eu não pensei duas vezes começar a correr em disparada pela porta principal com Dinah, Chris e Troy logo atrás de mim.

E então eu ouvi os rosnados típicos ao longe...


Notas Finais


Sinto cheiro de zumbis vindo... quero dizer, de problemas vindo.
Comentem, me xinguem por demorar, deem ideias - sim, sou muito receptiva à ideias novas -, só não me deixem no vácuo! kkkkkkkk
Até a próxima!


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