-chegamos! -margarida comemorou ao ver o sol nascendo no horizonte quando eles entraram na propriedade da avó da Garcia.
Diana coçou os olhos cansada e sorriu aliviada ao ver que agora estavam seguros.
Todos despertaram e desceram dos carros pegando as varias malas e bolsas.
-minha querida, que bom que veio! -a avó de margarida disse sorrindo.
-vovó! -a menina falou sorrindo e abraçando a mais velha. -senti saudades!
-não tanto quanto eu! -a Garcia mais velha disse.
-e como sempre o dani boy fica pro canto! -Daniel falou dramático fazendo as duas garcias rirem.
-eu também senti saudades, meu amor! -vera, a avó dos garotos, falou abraçando o neto.
O momento estava sendo totalmente amigável, todos eram sorrisos e brincadeiras, ate que vera olhou pelo ombro de margarida e viu a pequena garota que vinha abraçada com o irmão.
-achei que essa... Garota... Não viria! -a mulher falou entredentes.
-não vamos dar mais um show, vovó. É meu aniversário e a Diana é minha namorada! -margarida falou brava.
-namorada. Se você fosse um garoto ela seria sua namorada! -e dito isso vera virou as costas fazendo margarida fechar os olhos tentando não chorar. Estava cansada daquele inferno.
-não liga pra ela, marga. Como você disse, hoje é seu aniversário então vamos ficar alegres! -Daniel disse abraçando a menina.
-certo. Bem, meninas me sigam, vou mostrar o quarto de voces, os garotos sigam o dani! -a Garcia Zapata falou pegando na mão da namorada e subindo a escada que havia na residência.
Cada um dos garotos e garotas se acomodaram e trocaram de roupa para aproveitar o dia lá fora. O sol ja reinava com seus raios, iluminando cada canto daquela fazenda que um dia foi a pousada da família.
Tomaram café e logo carregaram as diversas caixas e sacos para o salão de festas médio que havia ali. Enquanto isso Diana estava no quarto que dividia com margarida junto de Alícia que explicava para a menor o que iria fazer.
-gente, isso vai dar trabalho! -Diana disse com um sorriso tímido nos lábios.
-tanto faz, di. Eu vou arrumar tudo, colocar as velas em lugares específicos pra não correr risco da casa ser incendiada. Vai ficar lindo! -a gusman disse sorrindo convencida. A morena começou a arrumar tudo conforme o planejado sempre sob o olhar atento da Ayala. A menina brincava com o laço da blusa leve que vestia e passava em sua cabeça a fala que tanto ensaiou. Estava visivelmente nervosa com o que iria fazer. A noite deveria ser perfeita, ela queria que tudo corresse bem. A festa, a música, o pedido, a noite de amor. A menina despertou dos pensamentos quando Alícia pigarreou a sua frente.
-ta tudo bem? -a morena perguntou amigável.
-ah, tá. Ta sim. Eu so... Estou um pouco nervosa... Tenho treinado cada passo a dias, mas mesmo assim ainda não estou preparada! -Diana confessou bufando cansada.
-é por que nada disso requer uma preparação, Diana. O amor não é um roteiro. A vida não é. Você não precisa fazer desse pedido algo robótico -Alícia sentando no chão perto da amiga. - se na hora der vontade de você chamar ela num cantinho e pedir isso, então faça. Mas se quiser gritar pra todo o mundo ouvir, faça também. Faça o que quiser, o que seu coração pedir. Joga fora esse roteiro que você criou e apenas... Vive! Viva essa noite, viva a musica, o pedido, o momento. A vida é curta demais pra gente perder tempo ensaiando o que vai fazer! -a gusman finalizou suspirando e sorrindo para Diana que também sorria.
-nunca imaginei ouvir essas palavras de você! -a Ayala falou surpresa.
-as vezes vocês esquecem que eu sou uma garota! -Alícia riu pelo nariz e Diana a acompanhou.
-realmente. As vezes me confundo e acho que Paulo ta namorando um garoto! -Diana disse tratando de sair do quarto antes que a almofada que Alícia jogou acerte sua cabeça.
-engraçadinha!
[…]
-salgados e doces pronto, bebida no freezer, bolo encomendado, e decoração quase finalizada. Tudo certo! -margarida comemorou fechando sua pequena agenda amarela. A menina caminhou para dentro da casa e ao passar pela sala viu a avó sentada em sua cadeira de balanço, respirando pesadamente.
-vovó? Esta tudo bem? -margarida perguntou preocupada.
-es... Esta, meu bem. Esta... -vera falou tentando puxar o ar, mas esse lhe faltou. Não demorou muito para ela finalmente conseguir respirar novamente.
-vou pegar um pouco de agua! -a Garcia disse indo ate a geladeira.
-marga? Aconteceu alguma coisa? -Diana perguntou ao descer as escadas e ver a namorada um tanto nervosa ao levar um copo de agua ate sua avó.
-ela so ta com dificuldade pra respirar! -margarida falou entregando o copo a vera que fechou a cara ao ver Diana.
-ela não tem nenhum remédio pra isso? -Diana perguntou preocupada.
-isso não é da sua conta, aberração! -vera falou ríspida fazendo aquelas palavras atingirem em cheio Diana que forçou os olhos para que lágrimas não caíssem.
-já falei para parar de atacar Diana, vovó! -margarida falou brava.
-a culpa não é minha se ela tem essa doença. É uma pena saber que ela vai te levar pro inferno também! -a mais velha disse fazendo Diana derramar lágrimas e caminhar para fora da casa. Margarida perdeu qualquer controle e disparou o que veio a mente.
-a Diana não é doente, e eu também não. A gente não é nenhum tipo de vírus, somos pessoas. Igual a você. Pessoas que sorriem, que choram e amam. So por que amamos de uma forma diferente da sua não significa que sejamos um monstro! -a menina literalmente explodiu. Seu rosto estava vermelho, e suas mãos estavam fechadas de forma tão apertada que as unhas médias cortavam a pele branca.
-isso é uma falta de vergonha, margarida. Eu odeio essa doença, isso é abominação, eu odeio essa ga... -vera não conseguiu terminar a frase, pois uma falta de ar se fez presente. A mulher puxava o ar, mas não conseguia respirar. Tudo estava ficando escuro e ela ja estava inconsciente. O médico disse que enquanto o tratamento com remédios não terminasse não seria possível ele decretar que a asma tivesse controlada e pediu para a mesma manter repouso e até agora tudo estava bem, mas foi so ver Diana novamente e tudo foi por agua abaixo. Vera odiava a menina, apenas pelo simples fato de que ela namorava sua neta. Odiava qualquer pessoa daquele tipo.
-ai meu Deus, Daniel! -margarida gritou fazendo os mais próximos da casa ouvirem e correrem ate a casa. O desespero era evidente na voz da garota.
-o que foi? -Daniel perguntou afoito.
-a vovo...a asma.. -a menina disse chorando enquanto a avo ainda lutava por tentar conseguir ar.
-ela não tem nenhuma bombinha?-Diana perguntou ajudando Daniel a revirar as gavetas da estante da sala.
-tem, mas eu não sei onde ta. Meu Deus, ela vai morrer! -margarida gritou desesperada.
Diana teve um lampejo de memória, memorias de quando era criança e tinha o mesmo problema respiratório. Se lembrou da vez que sua mãe tinha perdido a bombinha de ar e apelou para um remédio caseiro.
-peguem um lenço e mel puro, rápido! -a Ayala disse se ajoelhando junto a vera e margarida. A mulher ja estava parcialmente desmaiada. Daniel veio da cozinha com um lenço branco e um vidro de mel, como Diana pediu. A menina despejou o liquido doce no pano branco e imediatamente colocou contra o nariz e boca de vera. Não demorou um minuto para todos suspirarem aliviados ao ouvir o som da respiração de vera. Ela estava bem afinal.
-graças a Deus! -margarida falou abraçando a avó.
Daniel abraçou a irma e soltou um riso. Achando cômico o próprio desespero. Vera ainda mantinha o lenço sobre o rosto. Tentava agir após ver a garota a qual tanto odiava, salvar sua vida. Diana salvou a vida dela, mesmo que a mais velha não quisesse admitir. A bombinha de ar havia ficado na casa de uma vizinha, e os netos não conviviam com ela o suficiente para saber o que fazer. Ter diana ali fez ela entender que aquele maldito odio, não estava levando ela a lugar nenhum. Mas ela não admtiria isso.
Diana apenas olhava para a Garcia mais velha pensativa. Seu peito subia e descia numa respiração rapida. Nunca imaginou que uma lembrança ruim da infância fosse ajudar ela. Ou melhor, ajudar uma pessoa que odiava ela. Parecia coisa de filme.
-vem vovó, vou levar você pro quarto. Muito obrigado, di. De verdade! -daniel falou levantando a avo com cuidado. Margarida apenas se jogou nos braços da namorada que sorriu.
-eu te amo muito, sua idiota. Obrigado! Como fez isso? -a Garcia falou afundando o rosto no pescoço da menor.
-eu so fiz o que tinha que fazer. Eu te amo também! -diana disse beijando o topo da cabeça da caipira. - bem, o mel quando entra em contato com o muco, alivia e limpa, enfim. Minha mãe fazia isso comigo, sempre dava certo!
-o otp é lindo, gente. Vamos apreciar! -valeria disse batendo palmas enquanto os amigos riram.
-okay, drama queen. Vamos voltar ao trabalho. E as duas pombinhas, lua de mel so mais tarde! -Paulo falou arrastando os amigos dali.
[…]
Vera olhava pela janela as estrelas no céu azul. Incrivelmente tudo estava calmo. A noite dava indícios de que não iria chover, um cenário perfeito pro aniversário de sua neta. Ainda estava decidindo se iria ou não para a comemoração, quando uma batida na porta a fez despertar.
-quem é? -vera perguntou enquanto a cadeira balançava na varanda de seu quarto.
-é a diana, senhora! -ao ouvir aquele nome, vera gelou ,engoliu em seco e respirou fundo. Sabia que se desse permissão para aquela garota entrar, sua vida mudaria para sempre.
-entra! -ela disse de olhos fechados.
Diana abriu a porta e entrou com receio. Caminhou fazendo o saltos dos seus tamancos cor de pele ecoar pelo quarto bem decorado. Ela utrapassol a linha que dividia a varanda do quanto, e mais importante, ela tinha que ultrapassar a barreira que havia entre ela e a avó de margarida.
A menina sentou numa cadeira ao lado de vera e encarou o céu escuro junto com ela.
Nenhuma das duas ousava falar alguma coisa, ambas estavam com medo e totalmente machucadas.
-a senhora não vai pra festa? -diana perguntou olhando para o chão.
-não sei... Acho que sim. -vera falou.
-por que me odeia tanto? -Diana falou olhando nos olhos cinzentos da Garcia mais velha. A mulher a encarou tentando entender o por que odiava ela. Claro que por ter nascido em berço católico, vera considerava homossexualidade pecado, mas isso era mesmo um motivo pelo qual odiar alguém? E todas as coisas que ela havia aprendido em sua vida sobre amar seu próximo?
-não é bem odiar, eu acho que...talvez seja medo. Medo de ver que a felicidade da minha neta é nos braços de uma mulher e a sociedade não aceitar isso. Tenho medo de que vocês sofram, por isso criei esse muro de arrogância e odio, e preconceito! -Vera desabafou. E sorriu enfim, era como tirar um peso enorme das costas.
-eu e a marga ja sofremos tanto. Perdi a conta de quantas vezes fomos atacadas por pessoas ruins. -Diana limpou uma lágrima e encarou a mulher a sua frente. -eu não peço que você nos aceite de braços abertos e me ame agora, eu so peço que você respeite. Assim como eu respeito você, não pela sua idade,mas sim pela mulher guerreira que foi. A marga me contou sua história, você é a mulher mais forte que eu ja conheci!
Vera soltou uma risada acompanhada de diana. A mulher lembrou de seu passado de dor e hoje agradece ao seu Deus por ter uma velhice em paz.
-me perdoe, Diana! Me perdoe por ter ficado cega e não ter visto que o real monstro era eu. Você salvou minha vida, não poderia existir pessoa melhor pra namorar minha neta! -Diana não esperou mais e abraçou a mulher a sua frente, deixando suas lagrimas molharem o pano do vestido de vera que sorria contra o ombro da Ayala. -me perdoe por tudo. Podemos recomeçar?
-claro que sim, dona Vera! -a menina disse sorrindo. -agora vamos limpar nossos rostos e ir compartilhar da felicidade da marga!
-vamos, querida!
Então, segurando nas mãos da Garcia mais velha, Diana guiou a mulher pelo corredor até a festa da neta. E mesmo em meio a tanto caos de seus sentimentos, elas conseguiram encontrar a luz, uma luz que é capaz de tirar a pior das pessoas da escuridão: Amor.
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